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Ana Paula GOMES (PG-USP/ DL-FFCHL / bolsista FAPESP )

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“TODO” MARCA O ARGUMENTO QUE SOFRE TRANSFORMAÇÃO — O “INCREMENTAL THEME’"

Ana Paula GOMES (PG-USP/

DL-FFCHL / bolsista FAPESP )

ABSTRACT: The nominal quantifier “todo” of PB selects cumulativity and minimal parts for both its

restriction and its nuclear scope. One of its three possible forms is “todo” + a singular DP, wich is called

TDPs, p.e. “todo o navio”. TDPs selects for its resctriciton a collective noun, with accessible atoms in its

denotation. Similarly, for its nuclear scope, TDPs selects bound predicates that present phases or subevents. This particular configuration of both the noun and verbal denotations makes of the sentence with TDPs a correlation between the minimal parts in both. TDPs makes it possible to map the extension of the nominal’s material into the extension of the material of eventuality. The effect is very similar to the one described by Krifka (1992) as the Map obtained from the Incrementhal Theme.

KEYWORDS. “todo”; quantification; denotation; Degree Quantifier; theta-selection.

0. Introdução: O operador “todo” seleciona denotação cumulativa nas três diferentes formas de sintagmas quantificados que pode assumir em PB:

(i) em “todo homem é mortal”, vemos TN (“todo” + nome comum, como em “todo homem”), que seleciona a denotação incontável para a sua restrição;

(ii) em “todos os alunos vieram”, vemos TDPp (“todo” + DP plural, como em “todos os alunos”), que seleciona a denotação contável plural para a sua restrição;

(iii) em “todo o navio afundou”, vemos TDPs (“todo” + DP singular, como em “todo o navio”), que seleciona a denotação contável singular, com partes mínimas, para a sua restrição.

Vamos nos concentrar na forma em (iii), que tem exigências selecionais muito peculiares.

1. Perspectiva Teórica: Segundo Partee (1991), uma sentença quantificada, seja por um advérbio sentencial como “sempre” ou por um quantificador nominal como “todo”, apresenta uma estrutura tripartite, em que o operador toma dois argumentos, como vemos na representação abaixo:

(1) [S Operador [Restrição] [Escopo Nuclear]] [S Todo [DPs] [VP]]

De acordo com essa teoria, primeiramente, o operador, no caso, “todo”, se compõe com um sintagma de determinante singular (por brevidade, DPs); depois, o composto resultante, TDPs (“todo” com a restrição preenchida por um DPs), seleciona um predicado. A mesma exigência selecional se aplica tanto para a restrição quanto para o escopo nuclear do operador.

2. A forma denotacional selecionada por TDPs : Um TDPs seleciona os nomes ditos ‘coletivos’ para a sua restrição. Esses nomes constituem um indivíduo quanticizado, ou seja, são um nome contável singular (por ex., “o time”), mas suas partes mínimas são também indivíduos quanticizados de outra natureza (por ex.: “os jogadores” que formam “o time”). Portanto, um nome na restrição de um TDPs é um indivíduo mas não é atômico. A denotação do nome na restrição de um TDPs é estruturada em forma de semi-reticulado, em partes mínimas atômicas acessíveis. Os nomes coletivos, curiosamente, são quanticizados e cumulativos ao mesmo tempo. O predicado cujo sujeito é um DPs pode aplicar-se tanto ao indivíduo coletivo como aos átomos que o compõem, como vemos nos exemplos abaixo:

(2) a. O time é campeão.

b. O time deixou o estádio reclamando muito do árbitro.

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Em (2a), o predicado se aplica ao indivíduo coletivo como um inteiro, e “o time” é o Cruzeiro. Em (2b), o predicado se aplica aos indivíduos componentes do coletivo como um inteiro, e “o time” são os jogadores do Cruzeiro, individualmente.

Mas , se em vez do DPs tivermos TDPs, há diferenças, como vemos em (3): (3) a. *?O time é todo campeão.

b. O time todo deixou o estádio reclamando muito do árbitro.

Os dados em (3) mostram que, com a inserção de “todo”, a leitura coletiva do predicado fica agramatical (cf. 3a), e a leitura distributiva tem novas condições de verdade. A sentença (2b) pode ser verdadeira se apenas três ou quatro jogadores efetivamente reclamarem do juiz; mas a versão com “todo”, a (3b),exige que cada jogador tenha feito a sua reclamação. “Todo” exige que o predicado seja verdadeiro de cada parte mínima na denotação de sua restrição, à semelhança do que Taub (1989), Dowty (1986) e Link (1983) já haviam apontado para all + DPp (all mais um sintagma de determinante plural em sua restrição, como em “all the

boys”).

Essa exigência distributiva de “todo” explica porque os nomes da descrição definida singular em sua restrição necessariamente são interpretados como nomes coletivos: esses são os únicos nomes contáveis singulares não atômicos, ou seja, com composição interna acessível. Introduzido por “todo”, “o time” forma “todo o time”, e a denotação de “todo o time” é cumulativa, Istoé, uma pluralidade atômica contável (11 jogadores), como vemos em (3b), e não pode mais ter leitura atômica , de um indivíduo sem átomos internos á sua denotação, como mostra a agramaticalidade de (3a). “Todo” seleciona denotação cumulativa e partes mínimas para a sua restrição. A mesma seleção vale para o escopo nuclear de TDPs , como prevê a teoria de Partee (1991): o predicado precisa ser contável singular com partes mínimas acessíveis, isto é, ser um evento único já concluído, com certa duração, e que tenha subeventos em sua denotação. Podemos verificar o efeito dessas exigências selecionais em:

(4) a. A ovelha (*toda) foi vacinada. b. A avó ama a sua neta (*toda). c. A colega (*toda) está grávida.

Vemos que, sem “todo”, as sentenças em (4) são boas. Porém, com TDPs, elas são agramaticais. Isso porque a relação entre o predicado e o sujeito não permite partes mínimas nem na restrição nem no escopo nuclear, contrariando as exigências selecionais do operador “todo”. Os predicados em (4) se aplicam aos indivíduos em sua inteireza, e não às suas partes mínimas. E esses predicados são ou instantâneos, sem duração (4a), ou atélicos (4b) ou são predicados de estado que marcam estágio (SLP) sem mudança gradual ou se está grávida ou não se está (4c). Nenhum desses predicados sentencias pode constituir um evento com início e fim determinados e subeventos ou fases. Verifiquemos o resultado da alteração dos predicados:

(5) a. A ovelha toda foi tosquiada. b. A avó perfumou a sua neta toda.

c. A colega toda está escondida pela pilastra.

Todas as sentenças em (5) são boas porque os novos predicados se aplicam às partes mínimas do sujeito e esses novos predicados são eventos unitários, concluídos, cuja duração é subdividida em fases ou subeventos. Entendemos que cada parte da ovelha foi tosquiada, que cada centímetro da neta foi perfumado, e que cada pedaço da colega ficou escondido pela pilastra. O mesmo efeito pode ser obtido com os predicados de (4), mas um outro sujeito, entre o qual possa se estabelecer uma relação com o predicado tal que ambos tenham partes mínimas, como se vê em:

(6) a. O rebanho todo foi vacinado. b. A avó ama a netalhada toda. c. A mulherada toda está grávida.

Em (6), as exigências selecionais de “todo” também são satisfeitas, pois, como uma vacina é aplicada individualmente a cada ovelha do rebanho, o predicado se aplica às pa rtes mínimas do sujeito e tem subeventos (cada vacina é uma etapa da vacinação do rebanho). Do mesmo modo, o amor da avó a cada neto

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é uma parte de seu amor pela netalhada. E a gravidez de cada mulher é uma parcela da gravidez da mulherada.

Vimos que TDPs seleciona tanto um nome contável singular com partes mínimas para a sua restrição quanto um predicado com partes mínimas para o seu escopo nuclear. É preciso haver partes mínimas em ambos.

3. A relação entre TDPs e o Incremental Theme de Krifka (1992): A exigência selecional do TDPs o aproxima de um tipo de relação predicativa descrita na literatura como “contexto de medição”, e cujo expoente é o argumento afetado ou Incremental Theme, um objeto que muda gradualmente de estado em decorrência do evento, como dizem as fórmulas de Krifka (1992):

(7) a. ∀R[MAP-E(R) ↔∀e, x,x’,[R (e,x) x’x → ∃e’[e’e R(e’,x’)]]]

b. ∀R[MAP-O (R) ↔∀e,e ’,x[R(e,x ) e’e→ ∃x’[x ’x R(e ’,x ’)]]]

As fórmulas em (7) representam um mapeamento (MAP) que relaciona a entidade e o evento — R(e,x) — por meio de uma correlação entre suas partes mínimas (e ’, um subevento, e x’, uma parte mínima da entidade). Cada subevento do evento maior terá como participante uma parte mínima da entidade inteira. O evento maior, que congrega os subeventos, tem sua duração relacionada à extensão física da entidade modificada nesse evento.

Há uma clara superposição entre as partes mínimas de um inteiro, tanto na restrição quanto no escopo nuclear, necessárias ao licenciamento do TDPs, e a necessidade de partes mínimas no objeto afetado e no evento medido, expressada nas fórmulas de Krifka. Dadas as exigências selecionais do TDPs, sempre que a entidade a ele associada for o argumento afetado, estão dadas as condições para o mapeamento entre a inteireza da entidade e a duração do evento, via o mapeamento descrito por Krifka. Podemos observar a produção desse efeito nas sentenças a seguir:

(8) a. A água saiu toda pelo ladrão da caixa. ==> a caixa está vazia b. A água saiu pelo ladrão da caixa. =/=> a caixa está vazia

(9) a. A mulher despiu-se toda (*parcialmente) (# e agora está usando apenas algumas poucas roupas)

b. A mulher se despiu (parcialmente) (e agora está usando apenas algumas poucas roupas) (10) a. Alguém leu o dicionário todo. (*parcialmente) (# e ainda está mo meio da leitura) b. Alguém leu o dicionário. (parcialmente) (e ainda está no meio da leitura)

(11) a. Ele andou pelo Brasil todo em 1978. (*mas faltam 5 estados para ele visitar) (*mas interrompeu a viagem no meio)

b. Ele andou pelo Brasil em 1978. (mas faltam 5 estados para ele visitar) (mas interrompeu a viagem no meio)

(12) a.Os lingüistas dançaram salsa a noite toda1 ==> eles não dançaram outra coisa (valsa, samba, rumba) e eles não interromperam a dança durante a noite

b. Os lingüistas dançaram salsa à noite. =/=> eles não dançaram outra coisa e não pararam de dançar durante a noite

Nos paradigmas de (8) a (12), as sentenças em (a), com TDPs , implicam um evento de certa duração concluído e com fases ou subeventos, e esses subeventos são mapeados às partes mínimas do nome na restrição de “todo”. As sentenças de letra (a), de número (8) a (12), não podem receber continuações por modificadores que indiquem que o evento foi interrompido antes de sua conclusão (e, então, que permanece inconcluso), nem que a entidade referida pela restrição de TDPs não está completamente afetada pelo

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predicado. Os exemplos (b), ao contrário, permitem uma leitura em que a ação tenha sido suspensa antes da conclusão do evento ou em que só parte da entidade referida pela descrição definida tenha sido afetada pelo predicado, como mostra a gramaticalidade das sentenças (b) de (8) a (12), com a continuação sugerida entre parênteses, e que marca exatamente a parcialidade da entidade ou a interrupção do evento antes de seu término.

O contraste entre as sentenças (a) e (b) nos exemplos de (8) a (12) mostra que TDPs, associado ao argumento afetado, pelo fato de mapear as partes mínimas da denotação do nome na restrição de “todo” às partes mínimas do predicado, no escopo nuclear de “todo”, promove uma operação muito semelhante ao mapeamento descrito por Krifka em (7). O efeito percebido é o de que TDPs “mede” a duração do evento através da marcação da inteireza da participação da entidade denotada pelo DPs no evento. Entretanto, para dar conta dos dados mostrados, temos de ampliar a noção de argumento afetado. As fórmulas em (7) podem ser compreendidas como tratando de um objeto no mundo (representado por um O), como a reunião de suas partes mínimas (representadas por x e x’). O comportamento de “todo” demonstrado pelos dados de TDPs induz a compreender a fórmula numa amplificada, mais metafórica. Nessa leitura, o símbolo O não introduz na fórmula um objeto do mundo, mas sim um objeto da língua, uma denotação nominal; e a noção de argumento afetado é estendida a qualquer denotação nominal que marque a duração de uma atividade ou evento. Nessa acepção das fórmulas, a leitura de medição de evento, existente nas sentenças de (8) a (12) com “todo”, mas ausente nas versões das sentenças com apenas a descrição definida singular, é explica pelo mapeamento promovido por “todo” entre as partes mínimas da denotação de sua restrição e as partes mínimas da denotação de seu escopo nuclear.

4. Como são obtidas as leituras típicas das sentenças com TDPs : Filip (1999:225) diz que “as leituras do

incremental theme são obtidas tipicamente por quantificadores que não fazem diferença entre nomes

incontáveis e nomes contáveis plurais”. É o caso de todo, de “muito”, de beaucoup e dos demais quantificadores de grau (DegQs), que, nos termos de Doetjes (1977), são quantificadores que theta-selecionam cumulatividade. TDPs impõe, por sua seleção de uma denotação cumulativa, a leitura de graus e de partes mínimas propícia `a medição do evento pela integralização do argumento afetado; por argumento afetado entendemos denotações nominais que estão ligadas à duração do evento ou atividade. Essa definição engloba mesmo adjuntos como “a noite toda”, em (12a), que marca a duração de uma atividade (dançar); sintagmas como “por o Brasil todo”, em (11a), que marca a extensão do percurso; e “o dicionário todo” em (10a), que marca a extensão da leitura. O pronome reflexivo “se”, co-referencial com “a mulher toda”, em (9a), que marca a extensão da entidade que começa vestida e termina despida; e “a água toda” , em (8a), que marca o volume de água que vazou e a duração do vazamento.

A leitura de medição de evento, pela extensão desse argumento afetado de concepção mais ampla, pode ser explicado pela seguinte estrutura, seguindo Doetjes (1997):

(13) Ele comeu a geladeira toda.

TP < e

i

*> <*q+><g>.

ey

T VP < e

i

><g>

comeu ey

past VP < e

i

> <g>

ey

<e>V DP <*q+,*g>

ey

DP < q+ > DegP

ty !

Det NP toda

a !

N’

geladeira

(5)

Na estrutura acima, o símbolo q marca um traço da projeção de denotações nominais ou verbais com potencial de referência. Nessa sentença, o DPs “a geladeira” introduz o traço q+, que é saturado no DP resultante da adjunção com “todo”, como mostra a notação <*q+>. O símbolo g é de grau, e está associado a adjetivos, modificadores (DegQs) e denotações nominais e verbais cumulativas, isto é, não pode ser projetado por denotações atômicas, que não tenham estrutura interna de semi-reticulado, bem como não podem ser projetados por adjetivos sem grau (vide Doetjes 1977 para uma explicação mais detalhada). Esse traço é introduzido por “todo”, que o repassa, por theta-saturação, à denotação do DPs; na projeção fechada, após a adjunção (TDPs), o grau está saturado, como mostra a notação <* g>. Esse traço no complemento verbal é transferido ao predicado inteiro, e carregado de projeção a projeção, como mostra o índice g que aparece em todos os nós, até TP. O símbolo e significa evento. Nessa análise, é uma contribuição de “todo” que tanto a denotação do DPs “a geladeira” quanto o evento de comer sejam vistos como gradativos, ou seja, divididos em partes mínimas mapeadas. Isso é consistente com o fato de a sentença em (13) ser entendida como uma limpeza da geladeira, que ficou vazia após a comilança. Sem todo, as sentenças nem sempre têm essa leitura. Por exemplo, (8a) significa que não há mais água na casa, mas (8b) é compatível com a afirmação de que ainda há água até a metade da caixa. Os dados reiteram que é “todo” quem introduz essa leitura em que a completude do evento maior é atrelada à inteireza da denotação de uma entidade ligada a esse evento, já que não se obtém a mesma leitura na ausência de “todo”. Vejamos o que esse operador pode fazer, na configuração de um TDPs:

(14) a. A turma toda saiu. / Maria (*toda) saiu.

b. A criançada toda dormiu. / Jo ão (*todo) dormiu.

Ao quantificar um DPs experienciador ou agente, como em (14), “todo” reúne as ações ou experiências de cada parte mínima da denotação, formando com a reunião delas a ação ou experiência do indivíduo coletivo inteiro. A saída da turma se completa quando o último componente da turma saiu; e o cair no sono da criançada só é fato quando cada uma das crianças já adormeceu. Observe-se que, sem partes mínimas na denotação da restrição, às quais o predicado possa se aplicar, as sentenças com “todo” são agramaticais. Examinemos o efeito de “todo” modificando o DPs em posição de complemento nominal:

(15) a. Eu comprei a coleção toda. / Eu comprei a camisa (*toda) b. Ele leu todo o texto. Ele leu (*toda) a primeira letra.

O DPs quantificado por “todo” é o argumento afetado, na nossa definição alargada desse conceito. A leitura que obtemos com “todo”, para (15a), é a de que cada parte da coleção foi adquirida, e, só quando a última foi adquirida, a aquisição da coleção se completou. Para (15b), entendemos que cada parte do texto foi lida, e, só após a leitura da última, temos a leitura do texto inteiro completada. Há subeventos de leitura e de compra nas sentenças em (15). As sentenças após as barras apontam para o fato de que, se a denotação do DPs não apresenta partes mínimas a que o evento possa se aplicar, “todo” é agramatical.

Nos contextos de medição de evento, o comportamento de “todo” é consistente com a nossa análise, como vemos em:

(16) a. Ele serviu toda a peixada. (não re stou peixada & acabou o serviço) b. Nós usamos toda a tinta de casa. (acabou a tinta & o evento de uso) c. Elas pedalaram todo o trajeto. (percurso completo & duração de pedalar) d. Eu limpei toda a casa. (limpeza completa & casa inteira limpa)

e. A cigarra cantou todo o verão. (verão concluído & canto da cigarra concluído)

Vemos, em todos os exemplos de (16), o mapeamento entre as partes mínimas da extensão da denotação nominal na restrição de “todo” e as partes mínimas da denotação do VP, que entra no escopo nuclear de “todo”. Em (16e), a cigarra não cantou uma vez durante o verão, mas cantou continuadamente enquanto durou o verão; em (16d), quanto maior for a casa, mais longa terá de ser a duração do evento de limpá-la; em (16c), o tamanho do trajeto determina a duração da atividade de pedalar; em (16b), a quantidade de tinta existente na casa define a duração do evento em que essa tinta foi utilizada; e, em (16a), da quantidade de peixada que havia depende a duração do evento de servi-la: com um número fixo de comensais, pouca peixada acaba logo e é servida em pouco tempo; muita peixada demora mais a acabar e precisa ser servida durante mais tempo.

(6)

A ligação entre TDPs e leitura de medição do evento decorre da forma da denotação selecionada por “todo” para sua restrição, que é a de um nome singular contável com partes mínimas. A teoria de quantificação sentencial de Partee (1991) prediz que a seleção da escopo nuclear do TDPs siga o mesmo padrão. Realmente, os dados sobre o licenciamento de TDPs em sentenças mostram que, em seu escopo nuclear, os predicados precisam ser contáveis singulares com partes mínimas (subeventos). “Todo” exige que o material em seu escopo nuclear (o predicado) seja verdadeiro de cada parte mínima de sua restrição. Quando “todo” e sua restrição formam um TDPs, essa exigência distributiva é satisfeita mediante a formação de pares entre as partes mínimas da restrição e as aprtes mínimas do material no escopo nuclear. Assim, um TDPs com o argumento afetado na restrição de “todo” promove trivialmente o mapeamento descrito por Krifka.

5. Conclusão: TDPs é o candidato natural do PB a argumento afetado, pois theta-seleciona grau absoluto e partes mínimas tanto para a denotação nominal em sua restrição quanto para o material em seu escopo nuclear. O predicado tem de ter um evento único, com duração e subeventos. Estão excluídos predicados de indivíduo (IL), predicados de estágios atélicos ou sem grau ou com grau relativo e eventos sem duração. As sentenças com TDPs sempre têm leitura de mudança gradual de estado. Associado ao deflagrador da mudança ou ao experienciador, TDPs integraliza o indivíduo coletivo e ‘soma’ as ações individuais. Associado ao argumento afetado (o que sofre a mudança), TDPs mede a duração do evento ao associar cada parte mínima da entidade em sua restrição a cada subevento do predicado em seu escopo nuclear, realizando a operação de mapeamento de Krifka (1992).

RESUMO: “Todo” seleciona denotação cumulativa e partes mínimas, e que, ao associar essa característica à denotação de um DP singular, formando um sintagma do tipo de “todo o navio”, a que chamamos TDPs, “todo” seleciona para seu escopo nuclear um predicado também contável singular e constituído de partes mínimas. Por causa da seleção de um mesmo tipo de denotação para a restrição e o escopo nuclear, a de um indivíduo contável singular com partes mínimas, TDPs é propenso a produzir leituras de medição de evento, atrelando a inteireza da entidade em sua restrição à completude do evento no escopo nuclear de “todo”, pelo mapeamento entre as partes mínimas de um e de outro, em moldes muito próximos dos descritos por Krifka (1992).

PALAVRAS-CHAVE:. “todo”; quantificador; denotação; Degree Quantifier; tetha-seleção. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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