INCIDÊNCIA FUNGICA EM SEMENTES DE ALELUEIRO (Senna
multijuga) EM DIFERENTES EXTRATOS AQUOSOS.
Santos, M.A.C
1, Ferreira, C.J
1, Parreira, F.R.K
1,
Penna, G.L
1, Reis, M.I
1, Pasin,
P.A.A.L
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Universidade do Vale do Paraíba/Graduanda em Ciências Biológicas, Av. Shishima Hifumi, 2911 – Urbanova – São Jose dos Campos – SP, carol.analia@ig.com
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Universidade do Vale do Paraíba/Profª Dra Engenheira Agrônoma , Av. Shishima Hifumi, 2911 – Urbanova – São Jose dos Campos – SP, lpasin@univap.br
Resumo- A incidência fúngica em sementes devido à infecção por armazenamento, temperatura e
umidade, é um fator de grande influência na germinação, este trabalho teve por objetivo avaliar o efeito fungistático do extrato fresco aquoso de quaresmeira, em diferentes estádios fenológicos, na incidência fúngica em sementes de alelueiro. As sementes foram colocadas em placas de petri, forradas com três folhas de papel filtro, umedecidas com água destilada (grupo controle), extrato fresco aquoso de quaresmeira com flor (EFAQ c/Flor) e extrato fresco aquoso de quaresmeira sem flor (EFAQ s/Flor). O delineamento experimental foi o totalmente casualizado, constando de 3 tratamentos, com 25 sementes por placa e 4 repetições por tratamento, totalizando 300 sementes. Após 15 dias de incubação a temperatura ambiente e iluminação natural, as sementes foram analisadas individualmente. As análises revelaram a presença de 5 gêneros de fungos associados as sementes de alelueiro: Fusarium sp., Alternaria sp., Penicillium sp., Cladosporium sp. e Rhizopus sp. Os extratos utilizados não apresentaram eficácia na redução da incidência fúngica dos gêneros observados, além de um aumento na incidência do gênero Rhizopus sp.
Palavras-chave:Alelueiro, incidência fúngica, extratos vegetais.
Área do Conhecimento: Ciências Biológicas Introdução
Senna multijuga (Rich.) Irwin et Barn., conhecida popularmente como alelueiro ou pau-cigarra, ocorre em quase todo o país, principalmente na mata pluvial da encosta atlântica (OLIVEIRA et al., 2003). A espécie é haliófita, pioneira, própria para arborização urbana e revegetação de matas ciliares (LORENZI, 1992).
Em geral, as espécies Leguminosae como o alelueiro, apresentam problemas na germinação, em conseqüência da dormência de sementes (BEWLEY e BLACK, 1994).
No entanto, um outro fator de grande influencia na germinação é a incidência fúngica, devido à infecção por armazenamento, temperatura e umidade. Sales (1996), em estudo constatou que Alternaria alternata e Phomopsis sp. reduziram a germinação e o desenvolvimento das plântulas de ipê-amarelo.
Mendes et al. (2005), realizando trabalhos com sementes de sabiá detectaram que os gêneros fúngicos Fusarium sp. e Pestalotiopsis sp., associados às sementes e, posteriormente quando inoculados artificialmente foram patogênicos às plântulas.
Segundo Machado (2000), os organismos fitopatogênicos de uma forma geral podem ser
transportados pelas sementes, embora a transmissão não seja totalmente conhecida.
No entanto, até o presente momento o que se sabe é que estas contaminações podem ocorrer em diferentes situações, desde o campo até o armazenamento (FERREIRA, 1989; MEDEIROS et al., 1992).
Atualmente, uma das alternativas pesquisadas envolve o uso de extratos vegetais, buscando explorar suas propriedades fungitóxicas (FRANÇA et al., 2008). Entretanto, por se tratar de uma metodologia nova, há a necessidade de se diagnosticar plantas que exerçam efeitos benéficos sob a qualidade fisiológica e tenham a capacidade de controlar ou paralisar o desenvolvimento dos patógenos (INÁCIO et al, 2008).
Carvalho et al. (2002), citam que a utilização de extratos de plantas medicinais com propriedades antifúngicas destacá-se como uma alternativa ecológica para substituir a proteção tradicional de fungicidas químicos.
O efeito fungistático que alguns extratos vegetais podem exercer são provenientes de metabólitos secundários, cuja concentração e efeito pode ser variável em função de diversos fatores. Dentre os fatores que influenciam a produção de metabólitos secundários,
destacam-se a altitude, temperatura, sazonalidade, poluição atmosférica, oferta de nutrientes, radiação ultravioleta, disponibilidade hídrica e, indução por estímulo mecânico ou por ataque de patógenos, assim como as fenofases da planta (GOBBO-NETO; LOPES, 2007).
Desta forma, este estudo teve por objetivo, avaliar o efeito fungistático do extrato fresco aquoso de Tibouchina granulosa (quaresmeira), em diferentes estádios fenológicos, na incidência fúngica em sementes de Senna multijuga (Rich.) Irwin et Barn.
Metodologia
O presente trabalho foi realizado no CEN – Centro de Estudos da Natureza, no Laboratório de Microscopia da Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP, campus Urbanova, na cidade de São José dos Campos, SP. As sementes de alelueiro foram coletadas na área de reflorestamento, situadas em uma área de extração de areia entre os Municípios de São José dos Campos e Jacareí. Os extratos preparados a partir dos exemplares de quaresmeira(Tibouchina granulosa), em diferentes estádios fenológicos e a testemunha apenas com água destilada, constituíram os tratamentos.
Para a preparação dos extratos aquosos, as folhas foram trituradas em um liquidificador, com 25g de folha em 250m/l de água destilada e esterilizada, obtendo-se a solução na concentração de 10 p x v -1. O extrato obtido foi armazenado em um recipiente de vidro em condições de câmara fria a uma temperatura de 4°C durante 7 dias. Após trituração os extratos aquosos foram filtrados em um papel filtro. Cada extrato foi avaliado individualmente quanto ao pH.
As sementes foram plaqueadas imediatamente após a colheita, o delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, sendo quatro repetições por tratamento e 25 sementes por placa, cada placa constituiu uma repetição.
Após o plaqueamento, as sementes foram incubadas em temperatura ambiente e iluminação natural durante 15 dias até exteriorização e desenvolvimento dos fungos. As análises das sementes foram realizadas individualmente. A identificação dos fungos foi fundamentada na observação das colônias em microscópio estereoscópico e no estudo dos órgãos
vegetativos e de frutificação do fungo em microscopia óptica (tape mount technique). Não foi realizado a desinfectação superficial das sementes permitindo assim, conhecer a população externa, a qual representa uma fonte de inóculo em potencial durante o período de transporte e armazenamento das sementes.
Os dados foram submetidos à análise da variância pelo sistema estatístico Instat e as médias foram comparadas pelo teste Tukey (p≤0,05).
Resultados
A incidência fúngica, verificada nas sementes de alelueiro em diferentes extratos podem ser observados na tabela 1e figura 1.
Observou-se que o gênero Fusarium sp. apresentou maior incidência em todos os extratos analisados, sendo que as incidência fúngica das sementes expostas aos extratos não diferiu estatisticamente do tratamento controle(p≤0,05) Observou-se ainda que, os extratos aquosos de quaresmeira não foram efetivos na redução da incidência fúngica dos gêneros observados associados às sementes de Senna multijuga, entretanto observou-se que para o gênero Alternaria sp., fungo patogênico em diversas espécies de plantas, houve uma tendência a redução quando se utilizou o extrato fresco aquoso de folhas provenientes de plantas que não apresentavam flores, já que a incidência fúngica foi de 38% nas sementes submetidas ao extrato e 57 % nas sementes expostas apenas em água (controle). No entanto, esta diferença não foi detectada pelo teste Tukey a 5% de probabilidade de erro
.
Esta redução também foi verificada para o gênero Cladosporium.Observou-se também que, os extratos utilizados aumentaram a incidência de Rhizopus sp.
Os valores de pH observados foram de de 4 para os extratos nos dois estádios fenológicos e 6 para água utilizada como controle .Verificou-se que o pH dos extratos não diferiu nos diferentes estádios fenológicos da planta, entretanto foi inferior ao pH da água utilizada no tratamento controle.
Tabela 1 – Incidência fúngica (%) em sementes de Senna multijuga em extratos de quaresmeira em diferentes estádios fenológicos.
EXTRATOS FUNGOS
Fusarium sp. Alternaria sp. Penicillium sp. Cladosporium sp. Rhizopus sp.
EFAQ s/ Flor 76 a 38 a 1a 41 a 7 b
EFAQ c/ Flor 80 a 72 b 3 a 62 b 56 a
Grupo Controle 69 a 57 a b 16 b 52 ab 0 b
Médias seguidas pela mesma letra, não diferem estatisticamente pelo teste Tukey (p≤ 0,05) de probabilidade de erro.
Figura 1 – Incidência fúngica expressa em porcentagem, em sementes de Senna multijuga
Discussão
Observou-se que o fungo patogênico Alternaria sp. obteve alto índice percentual em sementes expostas somente em água destilada. Já uma análise realizada por Schultz et al. (2003), relata que esse mesmo fungo apresentou incidência máxima de 1% em sementes expostas a água destilada.
Avila et al. (2009), em estudo realizado com sementes de pitanga, analisou uma grande incidência dos gêneros fúngicos Alternaria sp. e Cladosporium sp. em água destilada e observou-se em menor proporção os gêneros Fusarium sp. e Penicillium sp. Observou-se praticamente os mesmos resultados no trabalho em questão diferindo apenas no gênero Fusarium sp., uma vez que sua incidência f foi de 69%.
De forma semelhante aos gêneros encontrados no presente trabalho, Souza et al. (2004), detectaram em sementes de ipê (Tabebuia sp.) os gêneros Alternaria, Rhizopus, Cladosporium, Fusarium e Curvularia, único fungo que difere da presente pesquisa.
Nos resultados acima pode-se observar que, os extratos frescos utilizados não apresentaram uma redução significativa nos fungos analisados. Entretanto verificou-se que houve uma tendência a redução dos gêneros Alternaria e Cladosporium quando se utilizou extrato fresco aquoso extraído deexemplares sem flores, quando
comparados
ao tratamento controle. Esta tendência à redução pode ser devida aos metabólitos presentes nos extratos, os quais não foram identificados. O perfil químico da maioria das espécies testadas em bioensaios é importante para que se possa concluir a respeito dos efeitos biológicos observados. Dentre essas características, a avaliação do pH dos extratos vegetais é fundamental quando se desconhece sua constituição em açúcares, aminoácidos, ácidos orgânicos, íons e outras moléculas, pois valores extremos de pH podem atuar sobre as sementes ou plântulas e micoflora associada(CARMO et al.,2007). No presente estudo o pH dos extratos foi inferior ao pH do controle, entretanto, não foi determinante para a redução na incidência fúngica, já que está tendência à redução, foi
observada apenas para o extrato obtido das folhas dos exemplares em estádio vegetativo e no estádio de floração houve um incremento dos gêneros Alternaria e Cladosporium.
Milanesi et al. (2006), em estudo realizado com extratos frescos de alho, constatou a inibição total do desenvolvimento de Rhizopus sp. e proporcionou uma significativa redução na incidência de Penicillium sp. No mesmo trabalho, os autores analisaram que o tratamento com extrato fresco de pimenta não se apresentou eficiente no controle de Penicillium sp. e Rhizopus sp., mas também não estimulou o desenvolvimento destes fungos.
Conclusão
Conclui-se que, os extratos de quaresmeira não foram eficientes na redução da incidência fúngica dos gêneros observados associados às sementes de Senna multijuga, porém no gênero Alternaria sp., houve uma tendência a redução quando se utilizou extrato fresco de folhas proveniente de plantas não floridas. Constatou-se também que, os extratos utilizados aumentaram a incidência de Rhizopus sp.
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