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PRODUÇÃO DE BIODIESEL NO RIO GRANDE DO SUL: ASPECTOS ECONÔMICOS DAS ETAPAS DE PRODUÇÃO

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PRODUÇÃO DE BIODIESEL NO RIO GRANDE DO SUL: ASPECTOS

ECONÔMICOS DAS ETAPAS DE PRODUÇÃO

* Preferência por apresentação na forma de pôster

Michel Brondani1, Jonas Schmidt Kleinert2, Jacson Douglas Rodrigues Trindade2, Ronaldo Hoffmann3

1

Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos (PPGEPro) - UFSM (mbbrondani@gmail.com, Telefone: (55) 96461144)

2

Acadêmico do curso de graduação em Engenharia Química - UFSM

3

Professor do Departamento de Engenharia Química e do PPGEPro - UFSM

Resumo

Um dos critérios pelos quais a produção de biodiesel foi estimulada, no Brasil, induz a fatores econômicos, visto que sua adição ao diesel contribui para redução da importação de petróleo e o elevado potencial brasileiro de produção possibilita sua exportação. A análise da viabilidade econômica e conhecimento das etapas mais dispendiosas da produção de biodiesel foi realizada, principalmente, sob aspectos de aquisição de matérias-primas e se torna atrativa para ações de mercado. Resultados mostraram que na etapa agrícola os maiores custos referem-se à adubação, aquisição de sementes, consumo de diesel e aplicação de fungicida. Na etapa de extração do óleo o maior custo se deve a aquisição da soja (92,74%), enquanto que na etapa de refino do óleo a depreciação de máquinas e maquinários representa maior custo. Na etapa de transesterificação, o consumo de água representa maior parcela de gasto (30,86%). Os resultados finais indicam que a etapa de extração do óleo foi responsável pela maior parcela do custo final de produção por litro de biodiesel, pois foi demasiadamente influenciada pela aquisição dos grãos de soja que representam, analisando individualmente cada matéria-prima em termos do custo total, mais da metade dos gastos no processo de produção de biodiesel.

Palavras-chave: Produção de biodiesel, aquisição de matérias-primas, custos econômicos.

1. Introdução

A produção de biodiesel e sua inserção na matriz energética brasileira estão dispostas na Lei n° 11.097, de 13 de Janeiro de 2005, segundo MDA (2013) e MME (2013), sendo importante economicamente para a diminuição da importação de petróleo. Tal fato

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pode ser corroborado a partir da obrigatoriedade de adição da porcentagem de 5% de biodiesel ao diesel.

O Brasil também tem potencial para tornar-se um dos maiores produtores de biodiesel do mundo por dispor de solo e clima apropriados ao cultivo de vários tipos de oleaginosas. Esse potencial poderá assegurar o suprimento da demanda interna como também a exportação para outros mercados consumidores, segundo Portela (2008). No entanto, é importante frisar que, em conjunto, devem ser realizados estudos e desenvolvimentos tecnológicos referentes aos processos industriais, pois se fazem oportunamente necessários para viabilizar a produção de biodiesel com novas matérias-primas.

Não menos importante, um estudo econômico do processo produtivo de biodiesel visando identificar e alocar os principais custos da produção referente à etapa agrícola e industrial (extração, refino e transesterificação do óleo de soja) contribui para viabilizar a produção desse biocombustível. Ao mesmo tempo, pode fornecer informações para otimização do custo produtivo e introdução de novas matérias-primas menos custosas.

2. Metodologia

O estudo se baseia na busca, qualificação e quantificação das matérias-primas necessárias em cada etapa do processo de produção de biodiesel no estado do Rio Grande do Sul (RS), a partir do conhecimento das etapas de produção (com base em literatura específica e visitas técnicas à indústrias produtoras).

A produção de biodiesel foi dividida em etapa agrícola e etapa industrial (etapa de extração do óleo de soja, etapa de refino do óleo de soja e etapa de transesterificação).

Etapa agrícola

Maior ênfase foi aplicada em relação aos custos de aquisição de matérias-primas e, de forma mais superficial, aos custos relacionados à mão-de-obra direta no processo. No entanto, os custos referentes à depreciação de equipamentos e máquinas, serviços administrativos e remuneração do investimento, para todas as etapas abordadas, foram obtidos a partir da comparação de outros estudos, posteriormente indicados.

A definição dos custos agrícolas envolve todos os insumos primordiais de produção, depreciação de maquinários, operações manuais e mecânicas necessárias no plantio da soja (adotado como sendo direto, ainda que necessite de maior estímulo para sua completa adoção por parte dos agricultores).

Não fez parte do estudo o custo de arrendamento da terra e a assistência técnica, visto que o caráter da produção de soja em grande propriedade é caracterizado por propriedades próprias, no Rio Grande do Sul.

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Além disso, todas as matérias-primas foram imputadas a preço de mercado levando-se em consideração que para produtor rural o cenário torna-levando-se mais oneroso em termos de impostos.

O critério de análise econômica utilizado foi o Custo Operacional Total, onde são calculados os custos variáveis (insumos, combustíveis e manutenção de equipamentos) e a depreciação de máquinas e equipamentos. Salienta-se que não foram computados a remuneração dos fatores fixos e semi fixos, ou seja, a depreciação das instalações e custos administrativos.

Os valores referentes à quantidade e custo dos insumos foram baseados a partir da Emater/Condor-RS (Planejamento Técnico de Custeio Agropecuário de 30/07/2012), adquirido in loco, para cultura da soja e de consultas informais a Engenheiros Agrônomos, enquanto que os valores de depreciação de máquinas e equipamentos foram adaptados do Comunicado Técnico 168 (Viabilidade Econômica da Cultura da Soja na Safra 2011/2012, em Mato Grosso do Sul) devido à semelhança na forma de plantio da soja com o estado do Rio Grande do Sul.

Etapa de extração do óleo de soja

As considerações pertinentes à etapa agrícola focando nos custos de aquisição de matérias-primas e também em utilidades foram aplicadas à etapa industrial.

A extração do óleo bruto de soja foi assumida como totalmente destinada à produção de biodiesel e a estrutura industrial tomada para estudo é integrada, melhor dizendo, reúne na mesma planta industrial as etapas de extração e refino do óleo e a etapa de produção efetiva do biodiesel (transesterificação com rota metílica). Portanto, a indústria adquire soja em grão.

Para uma análise econômica completa faz-se necessário a realização de um orçamento de capital no que diz respeito aos investimentos a serem realizados em longo prazo. Para seu cálculo é necessário a obtenção de todos os custos de implantação e concretização das operações das plantas de biodiesel (investimento e custos operacionais) bem como as receitas que serão geradas.

Em relação aos investimentos, o mesmo pode ser calculado pelo somatório dos custos de investimento fixo (custos requeridos para construir e operar uma planta, desde a aquisição até a instalação de todos os equipamentos, incluindo as unidades auxiliares), custos de partida da planta (investimento em capacitação de funcionários e reserva de capital para possíveis perdas de rendimento durante adaptações do processo) e capital de giro (recursos monetários indispensáveis à operação, produção e comercialização da empresa). No entanto, o presente estudo tem por objetivo principal a avaliação econômica da produção de biodiesel com a indústria efetivamente instalada e operando, portanto, para

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a abordagem econômica tais avaliações serão desconsideradas, focando somente em custos de operação e não em custos de implantação.

Os custos operacionais dividem-se em custos variáveis e custos fixos, onde os custos variáveis referem-se aos gastos proporcionais à produção e compreendem os custos de matérias-primas (grãos de soja, hexano e lenha, por exemplo) e utilidades (óleo combustível, eletricidade e vapor, por exemplo), enquanto que os custos fixos referem-se aos gastos que não variam com o nível de produção (engloba os custos administrativos, entre outros).

Maior atenção foi despendida na busca e análise dos custos operacionais variáveis. É importante relatar que o custo referente ao transporte dos grãos da etapa agrícola até a unidade industrial foi considerado nulo em termos de custos diretamente presentes no processo de extração, pois foi assumido que os grãos se destinam à cooperativas de armazenamento que os comercializam, estando este custo incorporado ao preço de aquisição dos grãos.

Os valores, em termos de quantidade, se basearam em fatores encontrados em outros estudos e adaptados para a situação estudada, e em termos de custo, multiplicados pelo custo de mercado buscado em sites de pesquisa, consultoria e bibliografia adequada.

Etapa de refino do óleo de soja

As mesmas considerações referentes à abordagem econômica da extração do óleo bruto de soja se aplicam ao processo de refino. Como as unidades são integradas, não há custo em aquisição de óleo, já que este será oriundo da etapa de extração.

Etapa de transesterificação

Nessa etapa consideraram-se os custos referentes à depreciação, materiais e despesas de manutenção, remuneração do investimento e serviços administrativos como os mesmos designados na etapa de refino por estar diretamente ligada a unidade de transesterificação.

Fatores de custo e quantidade foram buscados em referências e sites propícios e adequados para a situação abordada, quando necessário.

3. Resultados e Discussões

Referente à Etapa Agrícola

Os resultados da Tabela 1 e da Tabela 2 estão todos baseados na ideia de produção de 1 tonelada (1.000 kg) de biodiesel. Para a produção de 1.000 kg de biodiesel, são necessários 1,75 hectares de área cultivável de soja que produzirá 5.600 kg de grãos de soja.

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Ressalta-se que a energia solar é de suma importância para a etapa agrícola, entretanto não acarreta em custos econômicos.

Tabela 1 - Matérias-primas, serviços e custos de produção para o cultivo de 5.600 kg de soja: Etapa Agrícola.

Matérias-primas e serviços Quantidade Custo (R$)

Adubo (fertilizante N, P e K) 525 kg 624,75 Fungicida Opera 2,63 L 175,31 Fungicida Standak 0,18 L 90,00 Fungida Talstar 0,88 L 70,40 Herbicida Glifosato 5,25 L 42,00 Inseticida Dimilin 0,21 kg 12,49 Inseticida Permitrina 0,44 L 13,06 Calcário Dolomítico 2.625 kg 97,13 Água1 2.625 L - Combustível Diesel 87,50 L 166,25 Sementes 87,50 kg 175,00 Operações manuais2 12,54 h 35,49 Aquisição de máquinas, equipamentos, veículos Referente a 1,75 ha 1.253,64

Depreciação de máquinas Referente a 1,75 ha 92,38 Depreciação de equipamentos Referente a 1,75 ha 99,96 Energia elétrica3 59,50 kWh 19,58

Total - 2.967,44

1

Não implica em custos diretos, pois é oriunda de rios, barragens, açudes e da chuva.

2

Para a área considerada foi estimado que apenas 1 pessoa é suficiente (que pode ser o próprio dono da propriedade). Levando-se em conta que esta pessoa seja contratada, implicará em custo. O custo da hora de trabalho foi retirado do site www.trt3.jus.br e o valor usado em todas as etapas.

3

Baseado em CAVALETT, 2008.

Tomando por base que a grande maioria dos produtores de soja já possui os maquinários e equipamentos necessários para o plantio, cultivo e colheita da soja, o custo relacionado à aquisição dos mesmos pode ser desconsiderado, portanto, o custo total fica em R$ 1.713,80 referente a 1,75 ha.

Tabela 2 - Produção de grãos e lucratividade de venda dos grãos da etapa agrícola.

Produção Quantidade (kg) Sacas (60 kg)1 Venda (R$)

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Renda líquida (com aquisição de materiais,

equipamentos) 3.154,07

Renda líquida (sem aquisição de materiais,

equipamentos) 4.407,71

1

Preço médio da saca de soja (60 kg) de R$ 65,59, baseado no preço de 17 municípios do RS, em 2012. (Dados em: www.fazendeiro.com.br/Mercado/cotacoes/Cotacoes.asp?produto=12).

Pela análise da Figura 1, pode-se admitir que os maiores custos da etapa agrícola são relativos a adubação, sementes (aquisição), consumo de combustível diesel e aplicação de fungicida do tipo Opera, resultando em quase 67% do custo total.

A necessidade de adubação do solo é imprescindível para repor nutrientes ao solo como nitrogênio (N), potássio (K) e fósforo (F) para aumento de produtividade, bem como a manutenção da plantação contra pragas (aplicação de fungicidas). Tais procedimentos encarem a produção de soja.

A grande parcela de custo referente ao consumo de combustível diesel se dá devido ao plantio, cultivo e colheita mecanizados, caracterizados por grandes propriedades rurais, necessitando de tal combustível para movimento das máquinas e equipamentos.

Figura 1 - Porcentagem de custo, em R$, da etapa agrícola.

A questão da correção do pH por meio da aplicação de calcário é importante, no entanto, seu preço baixo pouco influencia nos custos, apesar da grande quantidade mássica requerida.

Referente à etapa de extração do óleo de soja

36,45 10,23 0,73 5,25 4,11 2,45 0,76 5,67 9,70 10,21 2,07 5,39 5,83 1,14

% (R$)

Adubo (fertilizante N,P e K) Fungicida Opera Inseticida Dimilin Fungicida Standak Fungida Talstar Herbicida Glifosato Inseticida Permitrina Calcário Dolomítico Combustível Diesel Sementes Operações manuais Depreciação de máquinas Depreciação de equipamentos Energia elétrica

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A Tabela 3 sumariza os principais custos de extração do óleo bruto, a partir de 5.600 kg de soja produzida.

Tabela 3 - Matérias-primas, serviços e custos de produção: Etapa de extração do óleo de 5.600 kg de soja.

Matéria-prima e serviços Quantidade Custo (R$)

Grãos de soja 5.600 kg 6.121,51 Energia elétrica1 167,44 kWh 27,54

Hexano2 7,62 kg ou 11,17 L 50,49 Mão-de-obra direta3 Operários e operadores 67,49 Materiais e despesas de manutenção4 Subprodutos 19,70 Depreciação4 Equipamentos 36,49 Remuneração do investimento4 - 12,27 Serviços administrativos4 Engenheiros, etc... 8,07

Lenha5 0,70 m3 24,50

Água3 4,03 m3 5,74

Diesel3 119,33 L 226,73

Total - 6.600,53

Total (sem levar em conta a aquisição soja) - 479,02

1

Assumiu-se que 50% é co-gerada por meio da queima das cascas da soja, portanto o custo da energia elétrica é referente a 83,72 kWh.

2

Baseado em EPE - Potencial de Redução de Emissões de CO2 em Projetos de Produção e Uso de

Biocombustíveis, MME, 2005.

3

Baseado em CAVALETT, 2008. Assumiu-se para o caso do consumo de água que 50% é oriunda de poço artificial implicando em um custo para 2,02 m3.

4

Adaptado de MANDARINO e ROESSING, 2001.

5

Baseado em CAPAZ, 2009.

Fica evidente, pela análise da tabela acima, que o maior custo é devido à aquisição dos grãos de soja, custo este que representa 92,74% dos gastos dessa etapa.

Em uma abordagem em que se excluem os custos de aquisição dos grãos, pode-se analisar que outros custos são decisivos na etapa de extração. A Figura 2 apresenta os custos de extração do óleo sem levar em consideração a compra dos grãos.

Devido a extração do óleo ser feita por prensagem mecânica seguida de uma extração com solvente, ocorre consumo de óleo combustível e hexano, respectivamente, implicando em mais da metade do custo (57,87%), onde o óleo combustível também é usado em outras máquinas e também na geração de vapor, juntamente com a lenha. Os custos com mão-de-obra direta (representado por operadores de máquinas e operários em geral) incluídos no processo apresentam parcela significativa.

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A Tabela 4 apresenta as saídas do processo de extração do óleo de soja, cabendo mencionar que o processo de extração se torna viável devido a extração do farelo de soja, que compõe em cerca de 79% o grão de soja.

Figura 2 - Custos da etapa industrial de extração do óleo de soja, excluindo o custo de aquisição dos grãos.

O farelo de soja possui mercado amplo, que vai desde a alimentação humana até uso como ração animal. A venda do farelo de soja implica na redução do custo de extração do óleo em 82,97%.

Tabela 4 - Produtividade da etapa industrial de extração de 1.006,87 kg de óleo bruto de soja.

Produção Quantidade (kg) Venda (R$) Teor no grão (%)

Óleo de soja bruto 1.006,87 - 18 Farelo de soja 4.424,00 4.645,20 79 Cascas 168,00 Geração de vapor 3

Total 5.598,87 - 100

Erro (arredondamento de cálculos) 1,13 kg ou 0,02%

Referente à Etapa de refino do óleo de soja

A Tabela 5 exibe os custos com o refino do óleo bruto, extraído de 5.600 kg de soja.

Tabela 5 - Matérias-primas, serviços e custos de produção: Etapa de refino de 1.006,87 kg de óleo de soja.

Matéria-prima e serviços Quantidade Custo (R$)

Óleo de soja bruto 1.006,87 kg - Energia elétrica1 12,67 kWh 2,08 5,75 10,54 14,09 4,11 7,62 2,56 1,68 5,11 1,20 47,33

% (R$)

Energia elétrica Hexano Mão-de-obra direta Materiais e despesas de manutenção Depreciação Remuneração do investimento Serviços administrativos Lenha Água Óleo combustível

(9)

Óleo diesel2 4,32 L 8,20

Lenha3 0,70 m3 24,50

Mão-de-obra direta2 Operários e

operadores 63,94 Materiais e despesas de manutenção4 Subprodutos 25,85 Depreciação4 Equipamentos 261,25 Remuneração do investimento4 - 12,65

Serviços administrativos4 Engenheiros, etc... 21,97

Água2 0,82 m3 2,33

Ácido fosfórico (H3PO4) 2

0,50 kg 0,42 Hidróxido de sódio (NaOH)2 4,51 1,13 Terra clarificante2 3,52 6,86

Total - 431,18

1

Idem a etapa de extração do óleo. Assumiu-se que 50% é co-gerada por meio da queima das cascas da soja, portanto o custo da energia elétrica é referente a 6,34 kWh.

2

Baseado em CAVALETT, 2008. O custo com a água foi considerado oriundo de redes distribuidoras.

3

Baseado em CAPAZ, 2009.

4

Adaptado de MANDARINO e ROESSING, 2001.

Pela Figura 3, nota-se que a depreciação é responsável pelo maior custo. Cogita-se este fato devido à grande quantidade de equipamentos utilizados nas etapas presentes no refino do óleo bruto (degomagem, neutralização e branqueamento) e que são dispendiosos.

Mão-de-obra direta também possui parcela significativa pelo fato da grande quantidade de processos envolvidos no refino do óleo.

Figura 3 - Porcentagem de custo, em R$, da etapa industrial de refino do óleo de soja. 1,90 0,10 5,68 14,83 0,48 6,00 60,59 2,93 5,10 0,54 0,26 1,59

% (R$)

Óleo combustível Ácido fosfórico (H3PO4) Lenha Mão-de-obra direta Energia elétrica Materiais e despesas de manutenção Depreciação Remuneração do investimento Serviços administrativos Água Hidróxido de sódio Terra clarificante

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É interessante abordar o fato do consumo de água ser relativamente alto (geração de vapor e nas etapas de degomagem e neutralização do óleo bruto), no entanto, implica em um custo menos elevado (0,54%) em comparação com outros insumos como terra clarificante (1,59%), lenha (5,68%) e óleo combustível (1,90%).

Referente à etapa de transesterificação

A Tabela 6 apresenta os valores do custo de produção de 1.000 kg de biodiesel.

Tabela 6 - Custos de transesterificação de 1.006,87 kg de óleo de soja degomado (refinado).

Entradas Quantidade Custo (R$)

Óleo combustível1 64,37 L 122,30 Metanol1 188,28 L 131,80 Metilato de sódio1 16,70 kg 51,44 Eletricidade1 0,89 kWh 0,29 Água1 514,51 m3 293,27 Mão-de-obra1 0,68 h 1,92 HCl2 8 kg 1,84 NaOH2 4,21 kg 1,05 Lenha 0,70 m3 24,50

Materiais e despesas de manutenção3 Subprodutos 25,85 Depreciação3 Equipamentos 261,25 Remuneração do investimento3 - 12,65

Serviços administrativos3 Engenheiros, etc... 21,97

Total - 950,13

1 Baseado em CAVALETT, 2008. Assumiu-se para o caso do consumo de água que 80% é oriunda de poço artificial implicando em um custo referente a 102,9 m3.

2 Adaptado de ENCARNAÇÃO, 2008.

3

Adaptado de MANDARINO e ROESSING, 2001.

Analisando a Figura 4 percebe-se que o custo com o consumo de água é responsável pela maior parcela de gasto (30,86%), seguido da depreciação de máquinas e equipamentos. O elevado custo com consumo de água nessa etapa não era esperado, mas pode ser elucidado pelo seu uso na geração de vapor, uso na lavagem da glicerina e do biodiesel, unidades de resfriamento do processo geral, lavagem industrial (equipamentos e pisos), refeitórios e banheiros.

A parcela referente ao consumo de óleo combustível é atribuída ao uso em máquinas, equipamentos e geração de vapor.

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Metanol e metilato de sódio, respectivamente o álcool e o catalisador necessários na reação de transesterificação, representam juntos 19,06% do custo total. Dessa porcentagem metanol possui 13,71%, pois é usado em excesso no processo para deslocamento do equilíbrio químico da reação no sentido de formação dos produtos.

Figura 4 - Porcentagem de custo, em R$, da etapa industrial de transesterificação do óleo de soja.

A Tabela 7 mostra os valores referentes à produção de biodiesel e glicerina e o preço de venda dos mesmos, em média.

Tabela 7 - Produção de biodiesel e glicerina e lucratividade de venda dos mesmos.

Produção Quantidade Preço

Biodiesel 1.000 kg ou 1.136,36 L 2,3488 (1) - 2,5510 (2) R$/L Glicerina 113,64 kg 0,35 (3) R$/kg 1 Fonte: www.biodieselnobrasil.com 2 Fonte: www.biodieselbr.com 3 Fonte: www.solostocks.com.br

O custo de produção de biodiesel, em R$/L, para as etapas industriais e para os dados obtidos para o ano de 2012 é mostrado na Tabela 8. O custo foi obtido descontando

12,87 0,11 13,87 5,41 0,03 30,86 0,20 27,49 0,19 2,59 2,72 1,33 2,31

% (R$)

Óleo combustível NaOH Metanol Metilato de sódio Eletricidade Água Mão-de-obra Depreciação HCl Lenha Materiais e despesas de manutenção Remuneração do investimento Serviços administrativos

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os valores referentes à venda dos subprodutos considerados principais, como farelo de soja (oriundo da etapa de extração do óleo) e a glicerina (oriunda da etapa de transesterificação). Como resultado final e para melhor visualização dos resultados foi estimado o custo de produção, em R$, para cada litro de biodiesel de acordo com cada etapa de produção industrial.

Tabela 8 - Custo de produção de biodiesel por etapa industrial.

Etapa Industrial Caso 1: R$/Lbiodiesel Caso 2: R$/Lbiodiesel

Extração do óleo bruto 1,6095 1,6758 Refino do óleo bruto 0,0624 0,1375 Transesterificação do óleo refinado 0,5391 0,5600

Total 2,2110 2,3722

Caso 1: Excluindo-se a depreciação de equipamentos, remuneração do investimento, mão-de-obra e serviços administrativos.

Caso2: Excluindo-se a depreciação de equipamentos e remuneração do investimento.

As estimativas de preço para o biodiesel podem variar bastante e pelas estimativas da International Energy Agency (IEA), a escala do processo pode afetar em 25% o custo final do biodiesel, enquanto que o preço da matéria-prima pode representar diferenças de até 50% do custo final.

O resultado obtido foi avaliado sob duas maneiras, excluindo-se os custos de mão-de-obra, serviços administrativos, remuneração de investimento e depreciações (Caso 1), visto que são custos que dependem diretamente de variáveis como escala de produção e variam menos significativamente com o mercado e em outra abordagem apenas desconsiderando a depreciação de equipamentos e remuneração de investimentos (Caso 2) que se diluem ao passar dos anos.

O preço de venda por litro de biodiesel foi adotado segundo os valores resultantes em dois leilões ocorridos em 2012 e específico para venda na região Sul, resultando em valores de R$/L 2,3488 e R$/L 2,5510. Portanto, a renda líquida por litro de biodiesel produzido ficou entre R$ 0,2388 e R$ 0,3400 para a hipótese 1 e entre R$ -0,0234 e R$ 0,1788 para a hipótese 2, evidenciando que poderia não haver lucratividade se o preço de venda fosse R$/L 2,3488.

A critério de uma análise específica para as etapas industriais, os resultados finais indicam que a etapa de extração de óleo foi responsável pela maior parcela do custo final de produção por litro de biodiesel (72,8% para o caso 1 e 70,64% para o caso 2), enquanto que a etapa de refino possui parcela, respectivamente para o caso 1 e caso 2, de 2,91% e 5,8% e a etapa de transesterificação de 24,29% e 23,56%. O fato da etapa de extração representar maior parcela do custo por litro de biodiesel é fortemente influenciada pela

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aquisição dos grãos de soja que representam, analisando individualmente cada matéria-prima em termos do custo total, 57,78% para o caso 1 e 53,88% para o caso 2, ou seja, mais da metade dos gastos em um processo de produção de biodiesel com óleo de soja se deve a aquisição da fonte de triglicerídeos (nesse caso, grãos de soja).

A partir disso, pode-se assegurar que as empresas produtoras de biodiesel trabalham em uma margem mínima prévia de lucratividade, o que as torna o mínimo possível “refém” do mercado.

4. Conclusão

A partir dos resultados obtidos é difícil mensurar um custo padrão para o processo produtivo de biodiesel tendo em vista que as matérias-primas e utilidades sofrem influência direta do mercado. A soja, em específico, além de depender fortemente do mercado (por se tratar de uma commodity) também depende de fatores edafoclimáticos e contribuiu em mais da metade do gasto com matérias-primas, o que abre espaço para o estudo e introdução de novas fontes alternativas de triglicerídeos menos custosas.

Fatos ocorridos em 2012, como a elevada estiagem que culminou em decréscimo da produção de soja e baixa produção metanol contribuíram para o encarecimento do processo de produção, já que resultou em redução de oferta de matéria-prima em relação à elevada demanda de biodiesel.

Dentre as etapas industriais, a extração do óleo é a mais onerosa tendo em vista a aquisição dos grãos de soja.

Por fim, é possível afirmar que, apesar de fortemente influenciado por critérios mercadológicos e ambientais, há viabilidade econômica na produção de biodiesel.

Referências

www.biodieselnobrasil.com. Acesso em: 22 Dez. 2012.

www.biodieselbr.com. Acesso em: 22 Dez. 2012.

www.fazendeiro.com.br/Mercado/cotacoes/Cotacoes.asp?produto=12. Acesso em: 20 Dez. 2012.

www.trt3.jus.br. Acesso em: 20 Dez. 2012.

www.solostocks.com.br. Acesso em: 22 Dez. 2012.

International Energy Agency (IEA). Disponível em : <http://www.iea.org/>. Acesso em 15.dez.2012.

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CAPAZ, R. S. ESTUDO DO DESEMPENHO ENERGÉTICO DA PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTÍVEIS: ASPECTOS METODOLÓGICOS E ESTUDOS DE CASO. 2009. 121 p. Dissertação (Mestrado em Ciências em Engenharia de Energia) - Universidade de Itajubá, Minas Gerais, Brasil.

CAVALETT, O. Análise do Ciclo de Vida da Soja. 2008. 245 p. Tese (Doutorado em Engenharia de Alimentos) - Universidade Estadual de Campinas, São Paulo.

ENCARNAÇÃO, A. P. G. GERAÇÃO DE BIODIESEL PELOS PROCESSOS DE TRANSESTERIFICAÇÃO E HIDROESTERIFICAÇÃO, UMA AVALIAÇÃO ECONÔMICA. 2008. 164 p. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.

EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA (EPE) - POTENCIAL DE REDUÇÃO DE EMISSÕES DE CO2 EM PROJETOS DE PRODUÇÃO E USO DE BIOCOMBUSTÍVEIS. Relatório do Governo Federal - Ministério de Minas e Energia (MME/SPE), Convênio n° 039/2005, 66 p., 2005.

MANDARINO, J. M. G.; ROESSING, A. J. Tecnologia para produção do óleo de soja: descrição das etapas, equipamentos, produtos e subprodutos. Brasil. Documentos 171 Embrapa, ISSN 1516-781X, 2001.

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(15)

Anexo - Quadro de informações extras Matéria-prima,

utilidade, serviço Fatores de custo Fonte

Energia elétrica 329,00 R$/MWh ou 0,329 R$/KWh

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- Média obtida a partir de HIRAKURI et. al. (sem ano)

- Consideração do autor do presente estudo. Hexano - ρ = 0,682 kg/L - 225,50 R$/50L ou 4,51 R$/L - EPE (2005) Em:https://ntgonline.websiteseguro.com /produto.php?v=285. Acesso em 20/12/12. Água 2,85 R$/m³ Em:http://www2.portoalegre.rs.gov.br/d mae/default.php?p_secao=177. Acesso em 22/12/12. Ácido fosfórico (H3PO4) 429,25 U$$/ton ou 837,04 R$/ton Em:http://www.dnpm.gov.br/assets/gale riadocumento/balancomineral2001/fosfa to.pdf. Acesso em 22/12/12.

Terra clarificante Entre 1,90-2,00 R$/kg Consulta a ABOISSA - Óleos Vegetais (http://www.aboissa.com.br/) em 22/12/12.

Hidróxido de sódio

(NaOH)

0,25 R$/kg Baseado em: www.freedom.inf.br

Acesso em 22/12/12.

Metanol 0,70 R$/L Convertido a partir do valor buscado em

www.methanex.com. Acesso em 22/07/2012.

Diesel 1,90 R$/L Consulta informal a Eng. Agrônomo e o

valor foi usado em todas as etapas. Catalisador (metilato de sódio) 3,08 R$/kg, em média Em:http://www.brasilagro.com.br/index. php?notician/detalhes/10/42550. Acesso em 22/07/12. Em:http://www.cesbra.com.br/site/quimi cos.aspa Acesso em 22/07/12.

Referências

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