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Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa:

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Cópias da sentença do 8.° Juízo Cível da Comarca de Lisboa e dos acórdãos do Tribunal da Relação de Lisboa e do Supremo Tribunal de Justiça proferidos no processo de registo de marca nacional n.° 285 939. Fortuna - Comunicação Social, S. A., com sede na Rua de José Estêvão, 87, em Lisboa, interpôs o presente recurso do despacho do director do Serviço de Marcas do INPI de 7 de Novembro de 1995, proferido no processo apenso, pelo qual lhe foi indeferido o pedido de registo de marca. Pede que seja revogado tal despacho, ordenando-se o registo da marca pretendida.

Alega, em síntese, que:

Requereu o registo da marca Fortuna junto da Direcção de Serviços de Economia de Macau, pretendendo assinalar uma revista de economia e negócios;

Que tal pretensão lhe foi indeferida com fundamento de semelhança com o registo prioritário em Por- tugal da marca Fortune, semelhança que não existe, embora também esta marca se destina a assinalar o mesmo tipo de produto;

O despacho recorrido não se encontra devidamente fundamentado.

(2)

Juntou documentos.

O Ex.mo Vice-Presidente do INPI pronunciou-se pela manutenção do despacho recorrido.

Foi notificada a parte contrária, a qual respondeu, sustentando a manutenção do despacho em causa.

Cumpre decidir. Importa considerar que:

A recorrente requereu junto do director do Serviço de Marcas do INPI o registo da marca Fortuna, conforme requerimento junto no processo apenso; Esta se destinava a assinalar produtos da classe 16.ª,

«revista de economia e negócios»;

A Time, Inc., melhor identificada nos autos, reclamou alegando que já detinha registo prioritário em Por- tugal da marca Fortune, com o n.° 226 815, destinada ao mesmo tipo de produto.

Foram apresentadas contestação, réplica e tréplica. Foi proferido parecer, que aqui se dá por reproduzido, que concluiu pela recusa do pedido de registo da recorrente.

Este parecer mereceu despacho concordante, indeferindo o requerido.

A questão a decidir traduz-se em determinar se existe semelhança entre as duas marcas em confronto susceptível de gerar confusão entre ambas.

Nos termos do artigo 189.°, n.° 1, alínea m), do Código da Propriedade Industrial, o registo de marca será recusado se se verificar reprodução ou imitação, no todo ou em parte, de marca anteriormente registada por outrem para o mesmo produto ou serviço, ou produto ou serviço similar ou semelhante, que possa induzir em erro ou confusão o consumidor.

Do mesmo modo, o artigo 193.°, n.° 1, do mesmo di- ploma vem esclarecer que existe imitação ou usurpação de marca quando, cumulativamente:

a) A marca registada tiver prioridade;

b) Sejam ambas destinadas a assinalar produtos ou serviços idênticos ou de afinidade manifesta; c) Tenham tal semelhança gráfica, figurativa ou

fonética que induza facilmente o consumidor em erro ou confusão, ou que compreenda um risco de associação com a marca anteriormente registada de forma que o consumidor não possa distinguir as duas marcas senão depois de exame atento ou confronto.

Relativamente aos dois primeiros requisitos, não se verifica qualquer dúvida quanto à sua verificação, o que, aliás, nem foi posto em causa pela recorrente.

Assim, o litígio circunscreve-se a determinar se se verifica ou não a assinalada semelhança gráfica e fonética entre as marcas, que terá determinado a rejeição do registo pretendido.

Antes de mais, importa salientar a prioridade do registo anterior, consagrada também nos artigos 5.°, n.° 3, e 167.°, ainda do Código da Propriedade Industrial. V. os Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 22 de Julho de 1986, da Relação de Lisboa de 7 de Novembro de 1985, da Relação do Porto de 5 de Dezembro de 1985 e da Relação de Coimbra de 13 de Novembro de 1990, respectivamente

no Boletim do Ministério da Justiça, n.° 359, p. 751, e na Colectânea, ano x, t. v, pp. 80 e 187, e ano xv, t. v, p. 46. Como é evidente, a análise a fazer não pode deixar de revestir algum subjectivismo dentro dos parâmetros legais definidos.

A ideia central da confusão das marcas reside na semelhança capaz de fazer assentar a suposição de que uma delas se trata de outra já conhecida e usada, quando analisadas no seu conjunto. V. os Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 13 de Fevereiro de 1979 e de 12 de Março de 1991 e da Relação de Lisboa de 23 de Abril de 1985 e de 18 de Abril de 1991, respectivamente no Boletim do Ministério da Justiça n.° 248, p. 238, e n.° 405, p. 496, e na Colectânea, ano x, t. II, p. 142, e ano XVI, t. II, p. 189.

No caso vertente, não obstante a brilhante argumentação da recorrente, afigura-se que existe efectiva possibilidade de confusão entre as marcas.

Efectivamente, não obstante as duas revistas se destinarem a público seleccionado e com instrução, não se pode ignorar o facto de a marca que se pretende ver registada se traduzir na tradução para português da marca com preferência. Assim, é mesmo natural que os consumidores sejam levados a pensar que se trata da mesma revista, em versão nacional.

Assim sendo, entende-se que, não obstante as diferenças assinaladas pela recorrente, as semelhanças são de ordem a permitirem que o consumidor facilmente entre em erro ou confusão, não podendo distinguir as duas marcas senão depois de exame atento ou confronto.

Relativamente à fundamentação do despacho recorrido, ela consta do parecer técnico que mereceu a concordância expressa do Ex.mo Director recorrido, pelo que faz parte integrante de tal despacho, e que se afigura como suficiente.

Entende-se, pois, que o despacho recorrido fez correcta aplicação dos normativos legais em questão.

Pelo exposto, nega-se provimento ao recurso, confirmando-se o despacho recorrido..

Custas pela recorrente.

Notifique, registe e, oportunamente, cumpra-se o disposto no artigo 44.° do Código da Propriedade Indus- trial.

Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa:

Fortuna - Comunicação Social, S. A., interpôs na comarca de Lisboa recurso do despacho de 7 de Novembro de 1995 do director do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), proferido no processo apenso, que recusou o registo da marca nacional n.° 285 939, Fortuna, pedindo a sua revogação e a concessão do registo dessa marca, alegando ter requerido o registo da mesma junto da Direcção do Serviço de Marcas, pretendendo assinalar uma revista de economia e negócios, mas que tal pretensão lhe foi indeferida com fundamento na semelhança com o registo prioritário, em Portugal, da marca Fortune, semelhança que segundo afirma não existe, embora esta marca se destine a assinalar o mesmo tipo de produto.

(3)

Cumprido o disposto no artigo 40.°, n.° 1, do CPI, o vice-presidente do INPI pronunciou-se pela manutenção do despacho recorrido.

Notificada a parte contrária - Time Inc. -, na resposta defendeu que deveria ser negado provimento ao recurso.

O M.mo Juiz negou provimento ao recurso, confirmando o despacho recorrido.

Inconformada, a requerente apelou para esta Relação, pedindo fosse declarada nula ou revogada aquela decisão e ordenado o registo da marca n.° 285 939, e nas alegações de recurso formulou as seguintes conclusões:

1) A sentença recorrida é nula por violação das obrigações constantes dos artigos 156.° e 668.°, n.° 1, alínea d), do CPC;

2) Assim não se entendendo, será nula por violação das obrigações constantes dos artigos 158.° e 668.°, n.° 1, alínea b), do CPC;

3) A sentença recorrida violou os artigos 165.°, 167.°, 189.°, n.° 1, alínea m), e 193.°, todos do CPI, porquanto o sinal escolhido pela recorrente para constituir a sua marca se reveste de todas as características legais para ser aceite e concedido, porquanto é distintivo face ao produto que designa e a marcas da concorrência, nem constituiu imitação de marca anteriormente registada por outrem para o mesmo produto ou produto semelhante que possa induzir em erro ou confusão o consumidor;

4) Não estão cumulativamente verificados todos os requisitos do conceito legal de imitação de marca, constantes do artigo 193.° do CPI, pelo que em consequência não existe imitação.

Nas contra-alegações, pede-se a confirmação da sentença.

O M.mo Juiz sustentou a sua decisão. Colhidos os vistos legais, cumpre decidir.

Afirma a apelante que na decisão recorrida ocorre a nulidade de omissão de pronúncia - alínea d) do n.° 1 do artigo 668.° do CPC - porquanto teria submetido à apreciação do tribunal a questão de saber se as duas marcas em confronto se destinavam a assinalar produtos ou serviços idênticos ou produtos diferentes e a primeira instância não se pronunciou sobre essa questão.

Segundo o disposto no artigo 668.°, n.° 1, alínea d), primeira parte, do CPC, a nulidade invocada existe, quando «o juiz deixe de pronunciar-se sobre questões de que devesse pronunciar-se». Na verdade, de harmonia com o disposto no artigo 660.°, n.° 2, do CPC, o juiz deve re- solver todas as questões que as partes tenham submetido à sua apreciação, salvo se estiverem prejudicadas pela solução dada a outras anteriormente resolvidas.

A doutrina e a jurisprudência vêm, uniformemente assinalando que na apreciação desta nulidade importa distinguir entre as questões postas na acção e os argumentos ou razões jurídicas invocadas pelas partes para sustentar a pretensão ou posição processual e que a dita nulidade só existe se o juiz deixar de se pronunciar sobre as questões postas pelas partes, mas não se deixar de apreciar algum ou alguns dos argumentos das partes - Prof. Alberto dos Reis, Código de Processo Civil Anotado, 5.° vol. p. 137, e Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 2 de Julho de 1974, in Boletim do Ministério da Justiça,

n.° 239, p. 168, de 6 de Janeiro de 1977, in Boletim do Ministério da Justiça, n.° 263, p. 187, de 22 de Novembro de 1984, in Boletim do Ministério da Justiça, n.° 341, p. 378, e de 29 de Novembro de 1984, in Boletim do Ministério da Justiça, n.° 341, p. 413.

Ainda que a apelante no recurso tenha defendido estarmos perante «produtos diferentes, embora ambos da espécie publicações periódicas» e, portanto, não haver razão para se afirmar na sentença, a fl. 36, que aquele requisito não havia sido posto em causa por ela, sempre se terá de concluir que a «questão» que se diz não ter sido apreciada o foi, tendo o tribunal pronunciado-se sobre ela, concluindo que ambas as marcas se destinavam a assinalar produtos iguais ou afins, considerando provado o requisito previsto na alínea b) do n.° 1 do artigo 193.° do CPI, pelo que não se verifica a omissão de pronúncia invocada.

Afirma-se também que na decisão recorrida falta a especificação dos fundamentos de facto e de direito que justificaram a decisão, sendo por isso nula, nos termos do disposto no artigo 668.°, n.° 1, alínea b) do CPC, por violação do dever de fundamentação das decisões.

É jurisprudência pacífica, a própria apelante o reco- nhece, que só é nula a sentença quando existe absoluta falta dos seus fundamentos e não quando esses mesmos fundamentos sejam obscuros, pouco claros ou deficientes. Ora, na sentença, de forma deficiente, é certo, foram indicados os fundamentos de facto da decisão nas primeiras 15 linhas da fl. 35 v.°, a seguir à expressão que diz «importa considerar que»; além disso, foram igualmente indicados os fundamentos de direito que motivaram a decisão recorrida. Se os fundamentos invocados, de facto e de direito, justificam a decisão tomada é questão que se pode discutir, mas que não constitui a nulidade invocada. Com o que improcedem as duas primeiras conclusões do recurso.

Os factos que se consideram provados são os seguintes: 1) Fortuna - Comunicação Social, S. A., requereu, em 8 de Setembro de 1992, ao director do Serviço de Marcas do INPI o registo da marca n.° 285 939, Fortuna, conforme requerimento junto ao processo apenso;

2) A referida marca destinava-se a assinalar produtos da classe 16.ª: «revistas de economia e negócios»; 3) Time Inc., reclamou junto do director do Serviço de Marcas do INPI, alegando que já detinha registo prioritário em Portugal da marca Fortune, com o n.° 226 815, registada por despacho de 10 de Outubro de 1989, para assinalar «impressos, periódicos, livros, fotografias, material de instrução (excepto aparelhos)» (classe 16.ª); 4) Em 7 de Novembro de 1995 o técnico do INPI

deu o seguinte parecer: «A meu ver, a oposição [da Time Inc.] é procedente por se apurar que entre as marcas registanda (n.° 285 939, Fortuna) e registada (n.° 226 815, Fortune) se verificam cumulativamente os requisitos do conceito jurí- dico de imitação, previsto no artigo 193.° do CPI, ou seja:

A marca registada tem prioridade;

Ambas se destinam a assinalar produtos ou serviços iguais e afins;

E têm tal semelhança gráfica e fonética que induzem facilmente em erro ou confusão de forma

(4)

que o consumidor não possa distinguir as duas marcas senão depois de exame atento ou confronto.

Assim, e nos termos do artigo 187.°, n.° 4, conjugado com o artigo 189.°, n.° 1, alínea m), ambos do CPI, proponho a recusa do presente pedido de registo.»;

5) Sobre esse parecer recaiu, em 7'de Novembro de 1995, o seguinte despacho do director do Serviço de Marcas do INPI: «Concordo e indefiro»; 6) A decisão recorrida veio publicada no Boletim da

Propriedade Industrial, n.° 11/95, de 29 de Fevereiro de 1996.

Sendo o despacho do INPI de 7 de Novembro de 1995 e tendo o CPI, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 16/95, de 24 de Janeiro, entrado em vigor em 1 de Junho de 1995 (artigo 1.° do referido decreto-lei), aplica-se o mesmo ao caso vertente.

Ora, o artigo 189.°, n.° 1, alínea m), do CPI determina: «Será recusado o registo das marcas que contenham reprodução ou imitação no todo ou em parte de marca anteriormente registada por outrem para o mesmo produto ou serviço, ou produto ou serviço similar ou semelhante, que possa induzir em erro ou confusão o consumidor.» E o n.° 1 do artigo 193.° do CPI, dispõe: «A marca registada considera-se imitada ou usurpada, no todo ou em parte, por outra quando, cumulativamente:

a) A marca registada tiver prioridade;

b) Sejam ambas destinadas a assinalar produtos ou serviços idênticos ou de afinidade manifesta; c) Tenham tal semelhança gráfica, figurativa ou

fonética que induza facilmente o consumidor em erro ou confusão, ou que compreenda um risco de associação com a marca anteriormente registada de forma que o consumidor não possa distinguir as duas marcas senão depois de exame atento ou confronto.»

Está-se perante duas marcas exclusivamente nomi- nativas, compostas por uma única palavra. No caso da marca n.° 285 939, a palavra «Fortuna», no caso da marca n.° 226 815, a palavra «Fortune».

Ora, é inegável que a marca n.° 226 815, Fortune, tendo sido objecto de registo anterior, está protegida e é prioritária face à marca registanda n.° 285 939, Fortuna, face ao disposto nos artigos 5.°, n.° 3, e 167.° do CPI.

Por outro lado, está assente que ambas as marcas se destinam a assinalar e protegem produtos da mesma classe (classe 16.ª) - revistas de economia e negócios.

As duas marcas em confronto apresentam um elevado grau de semelhança gráfica, o que a própria apelante reconhece nas alegações de recurso, já que a única diferença entre elas se resume à letra final, num caso um «a» e no outro um «e», o que não é suficiente para permitir uma destrinça fácil ou evitar o risco de associação entre elas.

Afirma a apelante que ao nível fonético as marcas em confronto são bastante diferentes, sem qualquer ponto de contacto, pois que se trata de palavras pronunciadas e entendidas em línguas diferentes, português e inglês, facto que só por si não poderá deixar de impressionar de forma diferente o consumidor. Assim, enquanto a palavra inglesa

«Fortune» se pronuncia como «Fortchun», a palavra portuguesa «Fortuna» pronuncia-se exactamente como se lê. Importa referir que o juízo do consumidor que é decisivo para se concluir ou não pela confundibilidade das marcas não é o da pessoa especialmente atenta ou perspicaz, especializada, culta, com formação universitária que domina a língua inglesa, mas o público consumidor, ou seja, o cidadão médio interessado pelos produtos que as marcas assinalam.

Ora, apesar de o público a que os produtos assinalados pelas marcas em confronto se destinam ser relativamente restrito, não se nos afigura linear, nem de todo em todo evidente, que o cidadão médio pronuncie a palavra «For- tune» como «Fortchun». A pronúncia em inglês dessa palavra só estará ao alcance de uma minoria, já que a esmagadora maioria do público consumidor, ou seja, o cidadão médio, pronunciará a palavra «Fortune» à portuguesa, e pronunciada desta forma essa palavra não evidencia qualquer distinção prática relativamente à palavra «Fortuna», sendo dessa maneira as marcas facilmente confundíveis e podendo induzir em erro ou confusão o consumidor menos prevenido.

Afirma ainda a apelante que as marcas em confronto assinalam duas revistas de economia e negócios, sendo uma, Fortune, de origem norte-americana, tratando de assuntos americanos e internacionais e escrita em língua inglesa, enquanto a outra, Fortuna, é de origem portuguesa, trata de assuntos nacionais e é publicada em língua portuguesa, logo são produtos que se destinam a consu- midores diferentes.

Conforme se refere no Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 4 de Fevereiro de 1982, in Boletim do Ministério da Justiça, n.° 314, p. 337; para saber se se verifica uma situação de facto que induza facilmente em erro o consumidor não pode considerar-se isoladamente um elemento de semelhança entre as duas marcas mas tem de atender-se ao todo de uma e de outra para concluir pela possibilidade da ocorrência daquele erro por parte do consumidor que não tenha as duas marcas em presença. Ora, colocando-nos no ponto de vista da clientela à qual são endereçadas aquelas duas revistas, desde logo e na perspectiva da apelante, a distinção entre elas só seria possível através do respectivo exame, que é o que habitualmente ninguém faz, ou confronto, que não há usualmente condições para realizar. Assim, afigura-se-nos que existe o risco de confusão, ou seja, o risco de associação pelo público consumidor que pode ser levado a pensar que a revista Fortuna é a versão nacional da revista já anteriormente existente Fortune. Ora, podendo os produtos ser atribuídos à mesma origem, há que concluir que são semelhantes.

Assim, conclui-se que a marca registanda é muito semelhante à marca prioritária, pois que as duas marcas pronunciadas à portuguesa contêm a mesma sequência de sons, apresentam a mesma estrutura e similares carac- terísticas gráfico-fonéticas, não sendo relevante a diferença da letra final, que não permite uma destrinça fácil e não evita que entre elas possa haver confusão, sendo o consumidor levado a pensar e associar as duas marcas.

Mostrando-se preenchidos todos os requisitos exigidos pelos artigos 189.°, n.° 1, alínea m), e 193.° do CPI, o registo da marca formulado pela apelante não pode ser concedido.

(5)

Nestes termos e pelo exposto, acorda-se em negar provimento ao recurso e confirma-se a decisão recorrida.

Custas pela apelante.

Lisboa, 18 de Janeiro de 2000. - (Assinaturas ilegíveis.)

Acordam no Supremo Tribunal de Justiça:

I - 1 - Em 29 de Maio de 1996, no Tribunal da Comarca de Lisboa, Fortuna - Comunicação Social, S. A., interpôs recurso do despacho de 7 de Novembro de 1995 do director do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) que recusou o registo da marca nacional n.° 285 939, Fortuna, pedindo a revogação do despacho e a concessão do registo desta marca.

Alega, em síntese, ter sido indeferido o seu pedido de registo com fundamento na semelhança com o registo prioritário, em Portugal, da marca Fortune, semelhança que, em seu entender, não existe.

O INPI pronunciou-se pela manutenção do despacho recorrido (artigo 40.°, n.° 1, do CPI).

Manutenção também defendida pela parte contrária - Time Inc.

2 - Por sentença de 4 de Junho de 1998 foi negado provimento ao recurso e confirmado o despacho recorrido (fl. 36).

Sentença confirmada pelo Tribunal da Relação de Lisboa, que negou provimento ao recurso interposto (Acórdão de 18 de Janeiro de 2000 - fl. 77).

3 - Inconformada, a requerente recorreu de revista para este Supremo Tribunal, concluindo ao alegar:

1.ª O douto acórdão recorrido, ao interpretar e aplicar da forma em que o fez as normas do Código da Propriedade Industrial invocadas, violou os arti- gos 165.°, 167.°, 189.°, n.° 1, alínea m), e 193.°, todos do Código da Propriedade Industrial, porquanto o sinal escolhido pela recorrente para constituir a sua marca se reveste de todas as características legais para ser aceite e concedido, porquanto é distintivo face ao produto que designa e a marcas da con- corrência, nem constitui imitação de marca ante- riormente registada por outrem para o mesmo produto ou produto semelhante que possa induzir em erro ou confusão o consumidor.

2.ª Não estão cumulativamente verificados todos os requisitos do conceito legal de imitação de marca, constantes do artigo 193.° do Código da Propriedade Industrial, pelo que, em consequência, não existe imitação.

A recorrida defendeu a manutenção do acórdão. Corridos os vistos legais, cabe decidir.

II - Foram considerados provados os seguintes factos: 1) Fortuna - Comunicação Social, S. A., requereu, em 8 de Setembro de 1992, ao director do Serviço de Marcas do INPI o registo da marca n.° 285 939, Fortuna, conforme requerimento junto ao processo apenso;

2) A referida marca destinava-se a assinalar produtos da classe 16.ª «revistas de economia e negócios»;

3) Time Inc. reclamou junto do director do Serviço de Marcas do INPI, alegando que já detinha registo prioritário em Portugal da marca Fortune, com o n.° 226 815, registada por despacho de 10 de Outubro de 1989, para assinalar «impressos, periódicos, livros, fotografias, material de ins- trução (excepto aparelhos)» (classe 16.ª); 4) Em 7 de Novembro de 1995 o técnico do INPI

deu o seguinte parecer: «A meu ver, a oposição [da Time Inc.] é procedente por se apurar que entre as marcas registanda (n.° 285 939, Fortuna) e registada (n.° 226 815, Fortune), se verificam cumulativamente os requisitos do conceito jurídico de imitação, previsto no artigo 193.° do CPI, ou seja:

A marca registada tem prioridade;

Ambas se destinam a assinalar produtos ou serviços iguais e afins;

E têm tal semelhança gráfica e fonética que induzem facilmente em erro ou confusão de forma que o consumidor não possa distinguir as duas marcas senão depois de exame atento ou confronto.

Assim, e nos termos do artigo 187.°, n.° 4, conjugado com o artigo 189.°, n.° 1, alínea m), ambos do CPI, proponho a recusa do presente pedido de registo.»;

5) Sobre esse parecer recaiu, em 7 de Novembro de 1995, o seguinte despacho do director do Serviço de Marcas do INPI: «Concordo e indefiro.»; 6) A decisão recorrida veio publicada no Boletim da

Propriedade Industrial, n.° 11/95, de 29 de Fevereiro de 1996.

III - É bem singela a questão submetida à nossa apreciação.

Com efeito, resume-se ela em saber se há imitação ou confusão entre as marcas em confronto.

Marcas que são: Fortune; Fortuna.

1 - Constitui fundamento de recusa de registo de marca a «reprodução ou imitação no todo ou em parte de marca anteriormente registada por outrem para o mesmo produto ou serviço, ou produto ou serviço similar ou semelhante, que possa induzir em erro ou confusão o consumidor» [artigo 189.°, n.° 1, alínea m), do CPI].

E uma marca - dispõe o n.° 1 do artigo 193.° - considera-se imitada, no todo ou em parte, quando, cumulativamente:

a) A marca registada tiver prioridade;

b) Sejam ambas destinadas a assinalar produtos ou serviços idênticos ou de afinidade manifesta; c) Tenham tal semelhança gráfica, figurativa ou

fonética que induza facilmente o consumidor em erro ou confusão, ou que compreenda um risco de associação com a marca anteriormente registada de forma que o consumidor não possa distinguir as duas marcas senão depois de exame atento ou confronto.

(6)

1. 1 - Não será despiciendo salientar, nomeadamente tendo em conta a situação em análise, que esta alínea c) contém uma inovação em relação ao correspondente preceito (artigo 94.°) do CPI de 1940.

Inovação que se traduz na referência ao «risco de associação» - a imitação ou usurpação de marca «verifica- -se também naqueles casos em que, embora sabendo que está perante produtos diferentes, o consumidor é levado a pensar que alguma coisa têm eles a ver um com o outro, o que lhe dá uma determinada ideia positiva quanto à origem e às qualidades do produto que assim beneficia da reputação do outro - cf. Ferrer Correia, Lições de Direito Comercial, vol. 1, 1973, p. 329, e Paul Mathély, Le Droit Français des Signes Distinctifs, ambos citados por Carlos Olavo, Propriedade Industrial, pp. 53-54» (Acórdão do STJ de 16 de Maio de 2000, processo n.° 17/00-1).

2 - No caso em apreço, apenas está em causa averiguar da verificação ou não do requisito da alínea c) do n.° 1 do artigo 193.°

Na verdade, no tocante à alínea a), foi concedido, anteriormente, registo à marca Fortune; e quanto à alínea b), está provado que ambas se inscrevem na mesma classe 16.ª Ora, o conceito de imitação visa evitar a fácil indução em erro do consumidor médio e não do consumidor perito ou especializado.

Na valorização da confundibilidade deve atender-se à opinião de um homem médio, de diligência normal, isto é, ao juízo que emitiria o consumidor médio (Ferrer Correia, Lições de Direito Comercial, vol. I, p. 330, e Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 21 de Novembro de 1996, processo n.° 197/96, 28 de Maio de 1997, processo n.° 794/96, 11 de Novembro de 1997, processo n.° 717/97, 6 de Maio de 1998, processo n.° 270/ 98, 15 de Fevereiro de 2000, processo n.° 1078/99, 11 de Abril de 2000, processo n.° 56/2000, e 16 de Maio de 2000, processo n.° 17/2000).

Noutro plano, dir-se-á que a jurisprudência constante deste Supremo vai no sentido de que a imitação de marcas é uma questão que se decompõe em duas: uma, de facto, que consiste na existência das semelhanças e disse- melhanças entre as duas marcas, e outra, de direito, que se traduz em apurar se, em face dessas semelhanças e dissemelhanças, pode afirmar-se a imitação (entre os mais recentes, e além dos já citados, cf. os Acórdãos de 26 de Novembro de 1996. processo n.° 172/96, e de 18 de Novembro de 1997, processo n.° 383/97).

3 - Analisando as marcas em confronto, o acórdão sob recurso conclui que elas apresentam «um elevado grau de semelhança» nos seus vários elementos - figurativo, fonético e gráfico.

E bem.

Ao nível de grafia, a única diferença reconduz-se à última letra - «A» em vez de «E».

O que também vale para o aspecto figurativo.

No tocante à semelhança fonética, ela também é manifesta - quando «lida» por um consumidor médio, a pronúncia («à portuguesa») será muito semelhante.

4 - Com agudeza, e a propósito, já a decisão da primeira instância considerou que, «não obstante as duas revistas se destinarem a público seleccionado e com instrução, não se pode ignorar o facto de a marca que se pretende ver registada se traduzir na tradução para português da marca com preferência. Assim, é mesmo natu-

ral que os consumidores sejam levados a pensar que se trata da mesma revista, em versão nacional» (cf. fl. 36 v.°).

Assim, e sem necessidade de mais considerações, concluímos, acompanhando o acórdão recorrido, «que as duas marcas pronunciadas à portuguesa contêm a mesma sequência de sons, apresentam a mesma estrutura e similares características gráfico-fonéticas, não sendo relevante a diferença da letra final, que não permite uma destrinça fácil e não evita que entre elas possa haver confusão, sendo o consumidor levado a pensar e associar as duas marcas» (cf. fls. 76 e 77).

Segmento este por nós sublinhado intencionalmente, tendo em conta o que escrevemos no antecedente n.° 1. 1 a propósito do «risco de associação» acolhido no CPI de

1995.

Improcedem, pois, as conclusões da recorrente (que reproduzem, aliás, as apresentadas com o recurso de apelação - cf. fls. 50 v.° e 51).

Termos em que se nega a revista e se confirma o acórdão recorrido.

Custas a cargo da recorrente.

Lisboa, 14 de Novembro de 2000. - (Assinaturas ilegíveis.)

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