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Formação do sistema financeiro internacional: o padrão libra-ouro

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA

HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL I PROF. DANIEL BARREIROS

9

Formação do sistema financeiro

internacional: o padrão libra-ouro

(2)

Parte 1. Condições para o surgimento do padrão ouro internacional (1870-1914)

1. Externalidades (em sentido amplo) geraram o padrão-ouro

Arranjos monetário-cambiais raras vezes são fruto de ação diplomática Acabam sendo respostas autônomas de governos a externalidades Dinamismo da economia britânica atrai economias para o ouro

2. Condições excepcionais para funcionamento do padrão-ouro

a. Prioridade na moeda (com impactos recessivos)

Condições institucionais que protegessem autoridades monetárias Clima político em prol do compromisso com a moeda

Prioridades que tranquilizavam o investidor a ponto de haver poucas operações de securitização

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c. Capacidade de minimizar o poder de barganha da classe trabalhadora

Direito de voto limitado

Partidos trabalhistas em consolidação

Risco de desemprego diante de choque recessivo não tinha resposta política

Ajustes que exigissem corte de gastos domésticos podiam ser feitos com retração dos salários

d. Posição singular da Grã-Bretanha na economia mundial

Capilarização da libra esterlina

Em 1914, 44% dos investimentos ultramarinos eram de propriedade britânica

Em 1914, frota naval britânica era 12% maior que as frotas de todas as demais potências combinadas

e. Capacidade de operar de forma estabilizadora em balanços de pagamentos estrangeiros

Países de industrialização tardia produtos primários da periferia

Grã-Bretanha produtos manufaturados dos países de ind. tardia e primários Países periféricos produtos manufaturados britânicos

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f. Período excepcional de paz na Europa entre 1871-1914

Guerras são inflacionárias, e grandes guerras são muito inflacionárias Facilitou ainda a cooperação internacional

3. Livre cambismo como chave para Poder Britânico e padrão-ouro

a. Gera capacidade de pagamento dos saldos da dívida externa dos parceiros b. Facilitado pela falta de pressão camponesa e da agricultura em geral

Afundou agricultura britânica

Mesmo conservadores estavam indispostos a salvar agricultura

Proprietários rurais dependiam tanto de suas carteiras de investimento quanto de seus trigais

Apesar do risco de desindustrialização, interesses dos grupos industriais expressos pelas suas entidades de classe não conflitavam com a prioridade dada aos interesses da City londrina a esta altura

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Parte 2. Mercado de Câmbio internacional até 1870

1. Compensações internacionais até 1870

Compensações internacionais (liquidação de saldos) eram feitas em ouro, prata e cobre até 1870 Desde 1870, ouro passa ganhar cada vez mais relevância

2. Papel estratégico do bimetalismo

a. Sistemas bimetálicos eram muito importantes em meados do século XIX

Somente Grã-Bretanha estava no ouro desde início do século

Estados germânicos, Império Austro-Húngaro, Escandinávia, Rússia e Extremo Oriente empregavam padrão prata

b. França à frente dos países bimetálicos (proporção 15:1)

(6)

3. Condições de funcionamento do bimetalismo

a. Necessário equilíbrio relativo entre preço dos metais e taxa de conversibilidade b. Evitar ganhos de arbitragem excessivos (por meio de contenções)

c. Sistemas bimetálicos absorvem metal barato e equilibram seu preço, permitindo circulação concomitante d. Sinalizam positivamente a atores financeiros, que se antecipam na compra de metal barato

e. Sinalização eficiente minimiza custo do ajuste cambial pelas economias bimetálicas f. Desequilíbrio ouro-prata devia ser controlável, sob pena de colapso do bimetalismo

4. Sistemas bimetálicos eram instáveis, mas, por que persistiam?

Na Inglaterra do século XVIII, colapso ao absorver ouro do Brasil

Ameaças graves surgiram entre 1848 e 1851 (Ouro da Califórnia e da Austrália, prata de Nevada)

a. Questão técnica?

Ausência de cunhagem industrial, falsificação, alto valor do ouro para transações correntes sem moedas representativas Questão técnica não explica porque, depois de sua resolução, padrão ouro não foi adotado imediatamente

(7)

b. Fatores políticos?

Prata monetizada era demandada pelo governo, e isso era do interesse do setor mineiro

Agricultores com dívidas não reajustáveis se beneficiavam com o bimetalismo ou com o monometalismo da prata Diminuição do poder político das aristocracias agrárias converge com padrão-ouro?

Não há evidências de uma polarização agrário x industrial na questão, nem frente política unificada

c. Bimetalismo e externalidades em rede

Vantagem na adoção de arranjos monetários compartilhados por parceiros Simplificava comércio e finanças (Argentina é exemplo)

5. Colapso do bimetalismo e conflito internacional

Era preciso que “solidariedade” do bloco bimetálico se desfizesse antes de ele ser rejeitado

a. Ruptura da solidariedade

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b. Liberalização das transações comercial-financeiras no continente liderada pela França

Década de 1860, revolução dos transportes

c. Circulação de moedas de prata estrangeiras aumenta no Continente

Moedas em sua maioria representativas

d. “Guerra cambial” no Continente europeu, baseada em sucessivas reduções de pureza

Reforma monetária italiana (1862) reduz teor de pureza a 83,5% do valor de face Moedas francesas a 100% passam a ser entesouradas

“Guerra cambial” no Continente baseada em sucessivas reduções de pureza

e. Conferência Monetária de 1865

França, Suíça, Bélgica e Itália formam a União Monetária Latina Padronização da pureza em 83,5%

Adesão posterior da Grécia

Estados Unidos passam resolução no Congresso, alinhando-se com a União Monetária Latina

(9)

f. Rivalidades no continente culminam na Guerra Franco-Prussiana (1870-1871)

Impacto decisivo sobre bimetalismo

Decisões tomadas na Conferência de 1865 são abandonadas

França decreta inconversibilidade, seguida pela Rússia, Itália e Império Austro-Húngaro Prata seria expulsa da França, e buscaria mercados bimetálicos

Prata chegaria barata por ter sido desmonetizada Pressionaria reservas de ouro de países bimetálicos

Com Guerra Franco-Prussiana, Grã-Bretanha se torna ilha de estabilidade

g. Formação do Império Alemão e a crise do bimetalismo

Governo alemão não viu qualquer vantagem em manter prata monetizada

Rússia e Império Austro-Húngaro, parceiros importantes, operando com papel inconversível Relações anglo-germânicas muito mais fortes

Comércio alemão amplamente financiado por capital londrino Tratado de Frankfurt e dívida de guerra francesa

Remessas em francos-ouro foram usadas para cunhagem do novo marco alemão Remessas em prata foram revendidas para obtenção de ouro

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6. Processo de disseminação do padrão-ouro internacional

a. Externalidades geradas por Grã-Bretanha e Alemanha

Libra esterlina seguia estável após turbulências continentais

Alemanha era segunda potência industrial da Europa àquela época

Junto com a Grã-Bretanha, gerava ampla externalidade

b. Oferta de prata

Prata de Nevada ampliava oferta de prata nos mercados de câmbio

Liquidação dos estoques de prata alemães aumenta ainda mais oferta de prata Países bimetálicos sofrem intensamente com ganhos de arbitragem

Países operando na prata sofrem imediatamente com pressões inflacionárias Reação em cadeia em prol do padrão-ouro

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c. Desmonetização da prata

Dinamarca, Holanda, Noruega, Suécia e nos países da União Monetária Latina

Áustria-Hungria e Itália com moedas inconversíveis, mas atreladas a moedas chave no padrão-ouro Estados Unidos voltam à conversibilidade em 1879 e omitem a prata da Lei de Cunhagem de 1873

Estavam formalmente no ouro

Rússia e Japão aderem ao final do século XIX Índia atrela a rúpia à libra

Argentina, México, Peru e Uruguai aderem ao padrão-ouro mesmo com fortes pressão dos mineradores de prata China e países da América Central permanecem na prata

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7. Contestação ao padrão-ouro

a. Seria o bimetalismo menos deflacionário que o padrão-ouro?

Deflação gerada pela indústria ou pela moeda?

Deflacionismo do ouro foi opinião comum ao final do século XIX

Percepção dos governos de que deflação era gerada por padrão-ouro não levou a reações contrárias Externalidades impediam que país, de forma unilateral, retomasse o bimetalismo

b. Reação dos EUA ao padrão-ouro

EUA promovem conferência monetária internacional em 1878 para retomar o bimetalismo Alemanha não tem interesse em submeter suas vendas de prata a decisões internacionais Grã-Bretanha participa da conferência para obstaculizar iniciativas

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8. Funcionamento do padrão-ouro

a. Centros-ouro

Libra esterlina, o marco, o franco e o dólar

Predomínio da libra nas reservas mundiais (40%) Dólar só relevante no Canadá e Filipinas

Circulavam como moedas metálicas de ouro

Tinham montante adicional de papel-moeda e moedas representativas lastreadas França, Suíça e Bélgica ainda davam curso legal (restrito) à prata

c. Conversibilidade em divisas-ouro

Índia, Filipinas, América Latina em geral

Rússia, Japão, Império Austro-Húngaro, Holanda e Escandinávia aderiam em parte

c. Saldos no exterior

10% do total de reservas em 1880, 20% em 1913

Reservas cambiais na forma de saldos no exterior rendiam juros

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d. Limitações no funcionamento do padrão-ouro (Estados Unidos)

Nos EUA, padrão ouro foi limitado até 1900, por normas que obrigavam o Tesouro a adquirir prata Bland-Allison Act de 1878

Aprovado por pressão dos Estados do Meio-Oeste, mesmo com veto do presidente Hayes Sherman Silver Purchase Act de 1890

9. Diferentes estatutos monetários

a. Sistema fiduciário

Grã-Bretanha, Noruega, Finlândia, Rússia, Japão

BC emite limitado volume de moeda sem contraparte em ouro, tendo bônus governamentais como colateral Permitia injetar liquidez sem romper compromisso com a moeda

b. Sistema proporcional

Reservas em ouro e divisas precisava representar uma determinada proporção ou mais do meio circulante Possibilidade de emissão acima do limite, sob autorização ou pagamento de prêmio pelo BC

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10. Instrumentos de gestão do padrão-ouro

1.Taxa de redesconto (interfere no volume de crédito)

Equilibrar balanço de pagamentos / lucratividade do BC

Se for muito elevada, BC pode perder clientes e taxa de redesconto perde eficácia

2. Operações de mercado aberto

Ambos restringem a liquidez e pressionam preços para baixo, aumentando competitividade externa

3. Jogar “fora das regras”

Gerenciar padrão-ouro e jogar fora das regras: competências conflitantes?

Quanto maior compromisso político e prioridade na moeda, maior a capacidade de jogar fora das regras sem ameaçar conversibilidade

Jogar “fora das regras” é a principal vantagem do padrão-ouro

4. Cláusulas de exceção

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5. Fluxos estabilizadores

Investidores percebiam flutuações nas moedas e reagiam comprando a moeda em desvalorização Confiança quanto a ação estabilizadora futura por parte das autoridades monetárias

Minimiza custo do ajuste, permitindo aos BCs jogarem “fora das regras” com maior frequência Naturalmente, tudo isso tinha um limite

6. Operações salva-vidas interbancárias

Bancos suspendem a conversibilidade de depósitos em espécie em solidariedade a outro banco em dificuldades Minimiza necessidade de socorro por parte dos Bancos Centrais

Ação gera um prêmio sobre a moeda (dinheiro na mão vale mais que dinheiro depositado), estimulando entradas de divisas-ouro mesmo com crise bancária em curso (exemplo, Crise financeira de 1893 nos EUA)

7. Compromisso de ajustamento entre Bancos Centrais

Um Banco Central, diante de uma crise, pode ser obrigado a uma elevação drástica de juros Essa elevação pode atrair capitais e desestabilizar outros países, levando a uma guerra de juros Bancos Centrais podiam acenar em sentido contrário, diminuindo o tempo de ajuste

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8. Liderança do Banco da Inglaterra

Não se tratava de algo formal, mas posição financeira da Grã-Bretanha propiciava essa liderança Coordenação dos ajustes na liquidez mundial segundo as medidas tomadas pelo Banco da Inglaterra

11. O Padrão-Ouro na periferia

1.Cooperação internacional não se estendia a ela

Suas moedas não eram capazes de pressionar efetivamente o padrão-ouro

2.Muitos dos países periféricos sequer possuíam Bancos Centrais

Perdas de reservas nestes países não contavam com quaisquer instrumentos de esterilização (taxa de redesconto, operações de mercado aberto, etc.)

3. Produtores de commodities estavam sujeitos aos abalos nos preços internacionais

Menores receitas de exportação colocavam em xeque a capacidade de pagamento internacional desses países

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5. Fatores políticos

Brasil, Argentina, Chile, Itália, Portugal Pressão política por desvalorização da moeda

Interesse de proprietários de terras e agroexportadores

12. Declínio das Condições de funcionamento do padrão-ouro

1. Reserva bancária fracionada ampliava a ação do padrão-ouro, mas a colocava em risco

Papel de emprestador de última instância dos BCs era contraditório com padrão-ouro

2. Protecionismo

3. Economia britânica, por mais forte que fosse, já dava sinais de desgaste

Surgimento de outros centros industriais e financeiros

4. Relações entre economias industriais e primário-exportadoras se tornam mais complexas

Primazia da Grã-Bretanha como importadora de primários e destino de depósitos em ouro se perde

Comércio externo das economias periféricas se torna mais complexo, com maior número de destinos para exportações Por isso, após 1890, parcela cada vez menor de empréstimos voltava a Londres como depósitos

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5. Atritos entre interesses industriais e da

City

londrina

6. Ampliação dos direitos de cidadania e do poder dos partidos operários

Contestação às medidas recessivas próprias do padrão-ouro

7. Estados Unidos, grande fonte de abalos financeiros, ganhava dimensão

País ainda acentuadamente agrícola

Tinha sistema bancário muito rudimentar

Agricultura, sem instrumentos de financiamento capazes, pressionava demanda por dinheiro, especialmente em época de colheita e plantio

Demanda por dinheiro pressionava mercado londrino, jogando juros para cima

Temendo pela solvência de seus bancos, investidores norte-americanos demandavam ouro da Grã-Bretanha e do Canadá, pressionando os dois sistemas financeiros a tomar medidas de ajuste

8. Tensões militares entre Alemanha, França e Grã-Bretanha após a Partilha da África

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Bibliografia da Unidade

EICHENGREEN, Barry. “O padrão-ouro”. In: A Globalização do Capital: uma história do sistema financeiro

Referências

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