1 PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA – 1o TRIMESTRE 2010
PROF. MARCUS
NOME_________________________________________________________No_____8a ANO ____
A compreensão do enunciado faz parte da questão. Não faça perguntas ao examinador. A prova deve ser feita com caneta azul ou preta.
É terminantemente proibido o uso de corretor. Respostas com corretor serão anuladas. Esta prova é composta por OITO questões dissertativas dispostas em CINCO páginas. Meus amores: leiam os textos abaixo, com muito amor e muita atenção antes de
responder as questões. Fiquem tranquilos, o tempo é super adequado. Se vocês fizerem certinho tudo o que se pede, tudo dará certo e, no final, vale um super
sorriso do professor!!! Boa Prova!! Marcus. TEXTO 1 O MEU GURI Chico Buarque/1981 Quando, seu moço, nasceu meu rebento
Não era o momento dele rebentar Já foi nascendo com cara de fome E eu não tinha nem nome pra lhe dar Como fui levando, não sei lhe explicar Fui assim levando, ele a me levar E na sua meninice ele um dia me disse Que chegava lá, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí Olha aí, é o meu guri
E ele chega
Chega suado e veloz do batente
E traz sempre um presente pra me encabular Tanta corrente de ouro, seu moço
Que haja pescoço pra enfiar
Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro Chave, caderneta, terço e patuá
Um lenço e uma penca de documentos Pra finalmente eu me identificar, olha aí
[...]
Chega no morro com o carregamento Pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador Rezo até ele chegar cá no alto
Essa onda de assaltos tá um horror Eu consolo ele, ele me consola Boto ele no colo pra ele me ninar De repente acordo, olho pro lado E o danado já foi trabalhar, olha aí [...]
Chega estampado, manchete, retrato Com venda nos olhos, legenda e as iniciais Eu não entendo essa gente, seu moço Fazendo alvoroço demais
O guri no mato, acho que tá rindo Acho que tá lindo de papo pro ar
Desde o começo, eu não disse, seu moço Ele disse que chegava lá, olha aí
[...] TEXTO 2
GAROTO ENTROU NO CRIME AOS 10 ANOS
DA SUCURSAL DO RIO O envolvimento com o tráfico na comunidade em que vivia, na zona norte carioca, começou aos dez anos, como olheiro. Três anos depois, ele já era segurança da boca-de-fumo, armado com pistola. Hoje, aos 14, está em um abrigo para menores infratores.
No fim do ano passado, foi detido em flagrante durante um assalto. Seus colegas, também adolescentes, conseguiram fugir.
No abrigo, o menino logo se desentendeu com internos de morros dominados por uma facção criminosa diferente da que atua na sua favela. Agora, teme ser morto pelos inimigos, que já o espancaram.
Em conversa em um corredor do juizado, onde seria ouvido na semana passada, ele disse à Folha que deseja estudar e ter profissão. E espera não se envolver com o crime quando sair do internato.
2 muitos anos. Desempregada, a mãe vive de bicos e da caridade alheia.
"O dinheiro não dá para comprar comida todo dia", disse. Além do envolvimento com tráfico de drogas e assaltos, admitiu já ter roubado de carros.
Afirma, porém, que nunca matou ninguém. "Não matei, não, mas se tiver que matar eu mato", disse em voz baixa, antes de ser levado para a audiência por funcionários da 2ª Vara da Infância. (ST)
(Folha de São Paulo, domingo, 11 de março de 2007)
TEXTO 3
CHEGA DE FAZ-DE-CONTA: CRIANÇA É PRIORIDADE
Maurício Correia De Mello Fafá, 11 anos, devia estar brincando de casinha, de roda, de amarelinha. Devia estar terminando o dever de casa, conversando com as amiguinhas. Devia estar vendo nuvens e imaginando nelas um castelo, um rosto, um urso e tudo o que a imaginação infantil é capaz de fazer ver. Devia estar recebendo em sua face corada um beijo de boa noite dos pais. Mas o passado ficou imperfeito.
E o dever-ser se transformou em um tempo verbal lamentável, o futuro inalcançável, o deveria-ser-mas-não-é. Fafá não estava brincando, não estava estudando, não estava recebendo amor de seus pais. Não estava sendo tratada como criança. Fafá estava sendo usada como objeto sexual. Seus pais, em vez de lhe desejarem boa noite, cobravam, no fim do dia, os trocados recebidos pela intimidade infantil raptada.
Dedé tem 13 anos e devia estar fazendo molequices, jogando bola, subindo em árvores. Devia estar na escola, devia estar andando de bicicleta. Mas, assim como Fafá, Dedé também é vítima da imperfeição pretérita. Devia estar, mas não está. Em vez disso, é explorado pelo tráfico de drogas. Faz papelotes de maconha e espera ser promovido a "gerente da boca". Sabe, porém, que a chance maior é a de ser preso ou morrer antes de que isso aconteça. Não tem medo do destino, já que lhe tiraram tudo – inclusive sua dignidade.
Fafá e Dedé são vítimas de duas das piores formas de exploração do trabalho infantil, conforme a Convenção 182 da Organização Internacional do Trabalho – a exploração sexual comercial e a utilização de crianças na produção e tráfico de drogas. Infelizmente, existem milhares de Fafás e de Dedés entregues aos próprios destinos, em afronta ao artigo 227 da Constituição Federal, que diz ser dever de todos – da família, da sociedade e do Estado – proteger crianças e adolescentes.
[...]
Maurício Correia de Mello, 38, procurador-chefe da Procuradoria Regional do Trabalho da 10ª Região (Distrito Federal e Tocantins), é vice-coordenador nacional de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente. (Folha de São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2005)
VOCABULÁRIO (Fonte: Dicionário Houaiss) Rebento: filho, descendente / Guri: menino, criança /
Encabular: provocar ou sentir vergonha ou encabulação; acanhar(-se), vexar(-se). Patuá: grande cesto de palha, bambu etc.; balaio.
Alvoroço: agitação, alteração de ânimo; inquietação, sobressalto; manifestação ruidosa e confusa; gritaria, balbúrdia.
SOBRE OS TEXTOS
01. (1,0) Com relação ao Texto 1, identifique o eu lírico da canção. Podemos considerar o eu lírico como o narrador do texto? Justifique.
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02. (1,0) Releia a segunda e a terceira estrofe do Texto 1. Levando em conta a leitura dos dois outros textos, identifique o provável trabalho do filho do eu lírico. Justifique sua resposta.
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03. “Sabe, porém, que a chance maior é a de ser preso ou morrer antes de que isso aconteça. Não tem medo
do destino, já que lhe tiraram tudo – inclusive sua dignidade.” A partir do trecho acima, retirado do Texto 3:
a) (1,0) Podemos dizer que a quarta estrofe do texto 1 reflete uma das consequências do modo de vida do garoto. Interprete a quarta estrofe, explicitando essa consequência.
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“Desde o começo, eu não disse, seu moço Ele disse que chegava lá, olha aí”
A canção “Meu Guri”, de Chico Buarque é repleta de ironias e duplos sentidos. Isso permite entendermos certa ingenuidade no discurso do eu lírico. Explique as possibilidades de sentido presentes na expressão “chegava lá”, deixando clara a postura ingênua do eu lírico.
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4 05. (0,5) Classifique os predicados e os verbos das orações usando as siglas:
PV + VI = Predicado verbal com verbo intransitivo PV + VT = Predicado verbal com verbo transitivo PN VL = Predicado nominal, verbo de ligação a) [ ] Essa onda de assaltos está um horror.
b) [ ] O envolvimento com o tráfico na comunidade começou aos dez anos, como olheiro. c) [ ] O pai morreu há muitos anos.
d) [ ] Não tem medo do destino.
e) [ ] Fafá e Dedé são vítimas de duas das piores formas de exploração do trabalho infantil. 06. (2,0) Nas orações a seguir, estão destacados os verbos transitivos. Identifique o tipo de objeto a eles
associados. No caso de objeto indireto não representado por pronome, circule a preposição. a) Eu não entendo essa gente, seu moço
___________________________________________________________________________ b) Seus pais, em vez de lhe desejarem boa noite, cobravam, no fim do dia, os trocados recebidos pela
intimidade infantil raptada.
___________________________________________________________________________ c) Desempregada, a mãe vive de bicos e da caridade alheia.
___________________________________________________________________________ d) Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro
___________________________________________________________________________ 07. (1,0) Observe os versos:
“E eu não tinha nem nome pra lhe dar Como fui levando, não sei lhe explicar” a) A quem o pronome “lhe” se refere?
___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ b) Por que o uso do pronome “lhe”, nos versos acima, é adequado à norma culta?
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08. (1,5) Releia o trecho abaixo, retirado do Texto 1:
“Eu consolo ele, ele me consola Boto ele no colo pra ele me ninar”
Os pronomes em destaque estão em desacordo com a norma culta. Sabendo disso: a) Explique por que o uso dos pronomes pessoais em destaque é inadequado à norma.
___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ b) Reescreva os versos, utilizando os pronomes adequados à norma.
___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ c) Explique o motivo pelo qual Chico Buarque provavelmente optou por utilizar esse tipo de linguagem.
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DESAFIO (0,5)
Na segunda estrofe da canção “Meu guri” há um pronome oblíquo átono cuja colocação está em desacordo com a norma culta. Identifique o verso em que esse pronome aparece, e reescreva-o colocando-o no lugar adequado à norma. ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ BOA SORTE!!! _________________________________________________________________________________ RASCUNHO