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Pobreza e (re)organização urbana nas metrópoles brasileiras do Nordeste: o que nos dizem os últimos dois Censos? *

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Pobreza e (re)organização urbana nas metrópoles brasileiras do Nordeste: o que

nos dizem os últimos dois Censos?

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Pier Francesco De Maria† Luiz Antonio Chaves de Farias‡

RESUMO

A região Nordeste tem passado por um intenso processo dual, combinando a queda dos níveis de vulnerabilidade com a reorganização do espaço urbano-metropolitano. Neste contexto, se observam, especialmente nas regiões metropolitanas, alterações em termos de geração, apropriação e distribuição do PIB, combinadas a menores níveis de vulnerabilidade social e maior acesso ao mercado de trabalho e à escola. Este trabalho objetiva analisar o que aconteceu nas três principais regiões metropolitanas do Nordeste (Fortaleza, Recife e Salvador), com o intuito de: estudar as mudanças que se sucederam (entre 2000 e 2010), em termos de vulnerabilidade e pobreza; e de associar estas mudanças ao processo de reorganização do espaço urbano-metropolitano dessas regiões. Para tal, lançou-se mão dos microdados da Amostra dos Censos Demográficos de 2000 e 2010, agregando-os a nível municipal. Com o objetivo de mensurar e mapear a pobreza, usou-se como proxy o Índice de Vulnerabilidade Familiar (IVF). Por sua vez, para medir e dimensionar espacialmente a desconcentração da riqueza nas regiões metropolitanas, usaram-se duas medidas: a relação entre o PIB e a renda (ambos per capita); e a porcentagem de apropriação municipal do PIB metropolitano. Os resultados apontam para dois processos concomitantes. O primeiro, de redução da vulnerabilidade familiar, em todas as regiões metropolitanas, entre 15 e 20%. O segundo, de descentralização da riqueza, a qual aconteceu (nas regiões estudadas) de duas formas distintas, embora concomitantes: aquela contígua ao núcleo metropolitano; e aquela difusa. Todavia, estes resultados não apontaram para mudanças significativas na distribuição espacial da pobreza, podendo-se concluir que, apesar da redução do IVF, manteve-se nítida a distinção entre o nível de vulnerabilidade do núcleo metropolitano e de sua periferia.

Palavras-chave: Polinucleação; Vulnerabilidade; Pobreza; Nordeste; Regiões Metropolitanas

Classificação JEL: I32 – R12

* Trabalho apresentado no XIX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em São Pedro/SP –

Brasil, de 24 a 28 de novembro de 2014.

Mestrando em Demografia pela Universidade Estadual de Campinas. Endereço eletrônico: pier@nepo.unicamp.br. Doutorando em Demografia pela Universidade Estadual de Campinas. Endereço eletrônico: fariasax@uol.com.br.

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Pobreza e (re)organização urbana nas metrópoles brasileiras do Nordeste: o que

nos dizem os últimos dois Censos?

Pier Francesco De Maria*

Luiz Antonio Chaves de Farias†

INTRODUÇÃO

Nos fins do século XX, o processo de polinucleação metropolitano se torna mais claro e visível nas regiões metropolitanas dos países em desenvolvimento – como o Brasil –, fenômeno este bem conceituado por teóricos como Mark Gottdiener, que o identificaram desde os anos 1970 nos países desenvolvidos. Mais recentemente, o Nordeste tem passado por um processo de crescimento econômico, com desdobramentos na organização do espaço urbano das grandes metrópoles da região. De forma concomitante, o Nordeste passou por um período de redução do nível e da profundidade da pobreza, seguindo a tendência nacional descrita por autores como Sônia Rocha.

A interação dos fenômenos de redução da pobreza e de polinucleação – nas cidades periféricas das regiões metropolitanas (RMs) do Nordeste – tende a desconstruir o padrão de organização urbana centro-periferia, com esta última não sendo mais o lócus homogêneo da pobreza. Neste trabalho, portanto, se objetiva analisar o que aconteceu entre os anos 2000 e 2010 nas cidades que compõem as regiões metropolitanas de Salvador (BA), Fortaleza (CE) e Recife (PE) – as três maiores do Nordeste por população – em termos de vulnerabilidade dos domicílios e de desenvolvimento econômico. Com isto, busca-se analisar três movimentos, a saber: 1) o processo de polinucleação das cidades da periferia das três RMs; 2) a realocação dos pobres entre as cidades das diversas RMs; e 3) as relações entre polinucleação e vulnerabilidade nas cidades.

Este estudo busca respostas para as seguintes perguntas: “Nessa nova fase do processo de urbanização do Nordeste, novos polos emergem no que era, até então, apenas periferia?”; e “Quais os efeitos do processo de (re)organização urbana na pobreza das RMs e de suas periferias?”. Para o estudo, serão utilizados dois índices: um de polinucleação, que relaciona a renda e o Produto Interno Bruto; e um de vulnerabilidade socioeconômica, que se vale de medidas de renda, habitação, escolaridade, emprego e desenvolvimento. Os dados para a elaboração dos índices e para a caracterização das RMs serão obtidos a partir dos microdados da amostra dos Censos Demográficos de 2000 e 2010. As unidades espaciais de análise de resultados serão o município (sendo assim incluídos todos os que compuserem as três RMs escolhidas) e as RMs em seu agregado, estudando as medidas de polinucleação e vulnerabilidade socioeconômica de maneira conjunta, em busca de resultados para a década.

* Mestrando em Demografia pela Universidade Estadual de Campinas. Endereço eletrônico: pier@nepo.unicamp.br. Doutorando em Demografia pela Universidade Estadual de Campinas. Endereço eletrônico: fariasax@uol.com.br.

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Este artigo se apresenta nesta em outras quatro seções. Na próxima seção, faremos um breve panorama da dinâmica recente das três metrópoles nordestinas, em termos de expansão territorial, desenvolvimento econômico e condições socioeconômicas. Tendo em vista este panorama, a seção subsequente trará a formulação dos indicadores que serão utilizados para a análise da reorganização urbano-metropolitana e da vulnerabilidade, em nível municipal e de região metropolitana. Tendo adquirido os métodos, serão apresentados os resultados alcançados para que, na última sessão, sejam tecidas as conclusões às quais se chegou neste ensaio.

A DINÂMICA RECENTE DAS METRÓPOLES NORDESTINAS

Para trabalharmos os resultados deste ensaio, faz-se necessária uma breve contextualização do objeto de estudo. Foram escolhidas as três regiões metropolitanas (RMs) mais importantes do Nordeste – Salvador (BA), Recife (PE) e Fortaleza (CE) – por dois motivos: primeiramente, são as RMs constituídas há mais tempo1; em segundo lugar, as capitais destes estados têm os três maiores PIB municipais do Nordeste ao longo da década de 2000.

A evolução da pobreza e da vulnerabilidade no Nordeste

O Nordeste é uma das regiões mais atrasadas do Brasil, em termos de desenvolvimento socioeconômico e de erradicação da pobreza. Como Rocha (2003) mostra, a proporção de pobres, ao longo dos anos 90, no Nordeste é de 40 a 50% do total de pobres no Brasil, sendo que (de 1992 a 1999), o número de pobres na região passou de ⅔ para ½ da população total. Na tabela abaixo, mostramos a proporção de pobres e o gap médio de pobreza, para as áreas urbanas, rurais e metropolitanas do Nordeste. Como fica claro, há uma evidente redução da proporção de pobres (P0)

em todas as áreas até 1998 (com exceção das áreas rurais, que têm redução até 1999), enquanto o hiato de renda (P1) oscilou mais na década, estacionando entre 45 e 50% e 1999.

TABELA 1 – Proporção de pobres e hiato de renda (%) no Nordeste por área (1992-1999)

Área 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 Metropolitana P0 61,38 62,29 51,54 51,09 50,85 49,40 52,86 P1 53,21 54,65 48,12 49,67 48,98 50,22 50,04 Urbana P0 62,47 61,44 50,67 51,35 50,91 47,71 49,44 P1 52,51 52,63 46,84 49,01 48,14 46,29 47,14 Rural P0 66,89 67,90 54,05 56,45 56,45 54,27 51,77 P1 54,71 54,76 48,13 49,47 48,39 46,23 45,90

FONTE – Elaboração dos autores a partir de Rocha (2003).

1 A LC 14 de 08/06/1973 “Estabelece as regiões metropolitanas de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife,

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Observando mais de perto as três UF mais importantes do Nordeste (Bahia, Ceará e Pernambuco), vemos que há divergências entre as três capitais (Salvador, Fortaleza e Recife, respectivamente), tanto em termos de proporção de pobres, quanto em hiato de pobreza. Recife sempre esteve em piores condições de pobreza, como os dados da tabela abaixo mostram. Ademais, em termos relativos à macrorregião, o estado de Pernambuco só perde para o da Bahia em termos de participação no total de pobres, muito devido ao maior contingente populacional do último estado. Na década, observa-se redução mais expressiva na proporção de pobres do que no hiato de renda.

TABELA 2 – Proporção de pobres, hiato de renda e participação no total de pobres do Nordeste (%), Bahia, Ceará e Pernambuco (1992 e 1999)

UF Variável 1992 1999

Bahia

Proporção de pobres (P0) 56,1 50,2

Hiato de renda dos pobres (P1) 50,3 49,4

Participação dos pobres no total da região 27,5 27,1

Ceará

Proporção de pobres (P0) 58,1 47,9

Hiato de renda dos pobres (P1) 49,7 46,9

Participação dos pobres no total da região 16,0 16,1

Pernambuco

Proporção de pobres (P0) 68,6 59,6

Hiato de renda dos pobres (P1) 57,7 52,8

Participação dos pobres no total da região 17,4 18,1

FONTE – Elaboração dos autores a partir de Rocha (2003). NOTA – P0 e P1 se referem às capitais destas UF.

Finalmente, observando em termos de vulnerabilidade a situação no limiar dos anos 2000, Rocha (2003) aponta que o Nordeste está muito atrás da média das outras macrorregiões, quando analisadas algumas medidas de acesso a serviços públicos de qualidade. Por exemplo, apenas 82% dos nordestinos tinham acesso à eletricidade em 1999, contra 96% do resto do Brasil; ¾ das pessoas tinha acesso à agua no domicílio, enquanto 90% do resto do Brasil já tinha este serviço. Em termos de coleta de esgoto, menos de 20% da população da região Nordeste tinha acesso à coleta de esgoto (por rede geral ou fossa séptica), proporção abaixo da metade em relação ao resto do país. Por fim, quanto à coleta de lixo apropriada (feita de forma direta ou indireta), metade da população tinha acesso ao serviço em 1999, contra 82% da população do resto do Brasil.

Tendo traçado este breve panorama da situação de pobreza e vulnerabilidade no Nordeste (e, especificamente, na Bahia, no Ceará e em Pernambuco), vamos apresentar brevemente o contexto em que se inserem as regiões metropolitanas destes estados, a partir da análise do processo de reorganização do espaço urbano. Tendo constituído este panorama, teremos condições de avaliar as condições de vulnerabilidade e de reorganização do espaço urbano-metropolitano nos anos 2000.

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O processo de reorganização do espaço urbano metropolitano

A reorganização do espaço urbano é parte componente do processo de urbanização desde seus primórdios, em que as primeiras cidades foram geradas enquanto suas principais formas. No período recente, a reorganização ganha contornos específicos, gerando formas urbano-metropolitanas específicas, em consonância ao que se convencionou a designar de “reestruturação recente”. O que se chama aqui por “reestruturação recente” se refere ao processo de reestruturação produtiva, sendo reflexo, meio e condição da emergência de uma nova fase do padrão de acumulação capitalista em escala global, analisada por Harvey (1993) e Benko (1996) como regime de acumulação flexível, e por Soja (1993) como especialização flexível (SANTOS, 2008). Ribeiro (2009, p. 126) resume esse processo geral de reestruturação do capitalismo segundo três dimensões básicas: “mudanças nas relações de produção e trabalho (reestruturação produtiva); a ampliação e diversificação dos sistemas de modalidade de bens, serviços e pessoas e as mudanças de padrões de consumo com ampliação e densificação dos mercados”.

Gottdiener (1990) ressalta, no entanto, que essa nova conjuntura vivenciada pelo capitalismo vem sendo estudada sob a ótica de diferentes correntes teóricas, sendo as mais importantes: a Teoria da Regulação Econômica, que prioriza a flexibilização dos processos produtivos como um todo; e a Teoria do Sistema Mundial, que enfatiza a emergência de uma nova divisão internacional do trabalho. Ainda segundo o autor, a despeito de suas divergências quanto à natureza do processo em questão, as teorias convergem no sentido de pontuar como um dos seus principais reflexos a reorganização das estruturas espaciais urbanas e do papel das cidades na rede urbana.

Os territórios, desse modo, são (re)configurados segundo novas lógicas que garantem a velocidade da reprodução e as diferentes operacionalizações capitalistas. No mesmo âmbito, o território das cidades é modificado e modifica tais lógicas (RIBEIRO, 2009). As cidades assumem então novas estruturações, entre elas:

“(...) incremento e adensamento de elementos, como o automóvel e os meios de comunicação e informação; novas tecnologias de comunicação e transporte modificam as localizações das atividades produtivas, redefinem a estruturação das redes urbanas; novas dinâmicas e práticas de consumo, sendo o auto-serviço (hipermercados e supermercados) e os shopping centers, os maiores expoentes; novos embates políticos e econômicos entre os diferentes agentes produtores do espaço urbano; novas estratégias de incorporações urbanas; e maior complexidade da divisão social e territorial do trabalho, produzem novas necessidades de fluxos, com direções, sentidos e intensidades modificados, alterando a circulação nas cidades e entre as cidades.” (RIBEIRO, 2009: 131-132).

A erosão dos padrões tradicionais de configuração dos espaços urbano-metropolitanos, especialmente no que é relativo à modificação da lógica dos padrões centro-periferia, exaustivamente estudados por Sposito (2004), expõem-se como o cerne espacial dos processos acima enumerados por Ribeiro (2009). Gottdiener (1993) evoca como eixo explicativo dessas

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mudanças um processo geral de desconcentração, o qual foi ostensivamente identificado já na década de 70 no âmbito das metrópoles americanas.

Uma abordagem, todavia, contraposta ao que se vê comumente na literatura é a empreendida também por Gottdiener (1990). O mesmo defende um caráter não paradigmático das mudanças advindas do processo de reestruturação recente, perspectiva compartilhada por Sassen (1990). O primeiro autor não descarta o importante papel das mudanças provocadas pela crise na produção social do espaço, porém ressalta que as novas formas espaciais existentes nos Estados Unidos estão relacionadas a fatores que vêm operando há mais tempo; são eles: racismo, tecnologia e conhecimento como forças produtivas, intervenção estatal, reorganização e diferenciação empresarial, busca de fonte de mão-de-obra e os efeitos do circuito secundário do capital.

“Em síntese, nos Estados Unidos, as mudanças pós-fordistas não significarão novas formas espaciais, porque essa reestruturação já vinha ocorrendo desde os anos 50. As profundas mudanças no modo de produção associadas com os desdobramentos contemporâneos terão seu maior impacto sobre o tecido social” (GOTTDIENER, 1990: 75).

Completando tal raciocínio, o maior impacto do processo de reestruturação recente sobre o espaço intra-urbano seria a fragmentação ao extremo de seu tecido sócio-espacial (SOUZA, 2000).

Como efeito, os padrões clássicos de segregação residencial, especialmente aqueles advindos da “Escola de Chicago”, não dão mais conta de explicar totalmente a disposição das classes sociais no espaço intra-urbano. Isso porque a estruturação urbana se complexifica, sobretudo por meio do aparecimento de “periferias” dentro do centro e de “centralidades” dentro da periferia (SPOSITO, 2004). O caráter não paradigmático, atribuído por Gottdiener (1990) ao chamado processo de desconcentração, não anula os efeitos específicos da reestruturação recente sobre a centralidade no espaço urbano. De fato, há a emergência de novas centralidades na periferia, destronando o centro tradicional de sua posição até então quase que absoluta sobre determinados aspectos e funções, num processo a que se convencionou a chamar de polinucleação metropolitana, (DAVANZO et al., 2011).

No entanto, para além de se questionar para onde estão indo essas novas centralidades, conforme recorrentemente se faz através de variáveis estritamente econômicas (número de empresas instaladas, repartições públicas, etc.), se pergunta quais são seus desdobramentos sobre a população das áreas onde as mesmas emergem. De fato, a população é um dos componentes do processo de descentralização e polinucleação urbano-metropolitana, estando sempre presente em sua conceituação. No entanto esta é lembrada, normalmente, sobre o ponto de vista de sua redistribuição espacial vinculada aos processos de segregação residencial. Os efeitos do processo em questão na vida das pessoas residentes no que, em termos teóricos, se chama núcleo ou periferia ainda carecem de explicação. Traduzindo tal efeito nas vidas das pessoas em uma medida

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quantitativa se lançou mão do IVF – Índice de Vulnerabilidade Familiar –, a ser desdobrado, em sua constituição e significado, nas próximas seções.

A “reestruturação recente” e seus efeitos sobre a organização do urbano-metropolitano já é uma realidade em algumas áreas metropolitanas do mundo em desenvolvimento. Segundo Davanzo et al. (2011), nos países desenvolvidos, tal processo ocorre a partir dos anos 80 e, no final desta década, já se verifica esta tendência em cidades dos países em desenvolvimento que se integram aos mercados mundiais. Contudo, Meyer et al. (2004) (apud DAVANZO et al., 2011) destacam que as características das transformações de metrópoles localizadas fora dos países centrais do capitalismo têm apresentado um caráter dual, uma vez que as dinâmicas modernas de reestruturação do ambiente construído ocorrem concomitantemente (temporal e espacialmente) com a permanência de elevados graus de precariedade urbana, relacionados com o período de industrialização intensa.

Por esse contexto de mudanças, ainda mais recentemente conforme apontado por Dias e Araujo (2011), têm passado também algumas metrópoles do Nordeste. Segundo as mesmas autoras, as quais estudaram especificamente a Região Metropolitana de Salvador, tal processo resguarda as dualidades relatadas acima, que em maior ou menor grau foram observadas com os resultados do presente trabalho a serem apresentados nos itens posteriores.

METODOLOGIA

Para a realização deste trabalho, foram utilizados os microdados da amostra dos Censos Demográficos de 2000 e 2010, selecionando-se as informações para os municípios que pertencem às regiões metropolitanas de Fortaleza (CE), Recife (PE), e Salvador (BA). As bases de dados (junto aos dados disponíveis no IBGE) foram utilizadas para calcular os indicadores a seguir: o Índice de Vulnerabilidade das Famílias (IVF); e a relação PIB/Renda (P|R).

Estudaremos, em primeiro lugar, o Índice de Vulnerabilidade das Famílias (IVF), um indicador proposto por Furtado (2012, 2013)2, que objetiva estudar o nível e a caracterização da

vulnerabilidade das famílias, partindo de uma série de variáveis que abordam questões como renda, escolaridade, emprego e habitação. Para o autor (2012, p. 7), dado que “a vulnerabilidade das famílias é fenômeno que circunscreve a família de forma ampla e pode restringir seu acesso a oportunidades de maneiras diversas”, a análise das várias dimensões do IVF permite captar tais carências. A ideia do indicador é apontar a pobreza definida por Soares (2009), caracterizada pela “falta de oportunidades para viver uma vida plena” (p. 10).

O índice é composto por seis dimensões, quais sejam: vulnerabilidade social; acesso ao conhecimento; acesso ao trabalho; escassez de recursos; desenvolvimento infanto-juvenil; e

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condições habitacionais. Cada uma destas dimensões comporta uma série de indicadores3, os quais têm resposta binária, atribuindo-se valor 1 toda vez que o indicador apontar vulnerabilidade, e 0 caso contrário. As seis dimensões contribuem, individualmente, para 1/6 do resultado total, não havendo assim ponderação; ademais, os indicadores de cada dimensão são ponderados, como mostramos no quadro abaixo.

QUADRO 1 – Variáveis utilizadas para as dimensões do IVF (2000 e 2010)

Dimensão Agregação Vulnerabilidade Social 𝑉𝑆 ≔1 6× ( 𝑉1+ 𝑉2 2 + 𝑉3+ 𝑉4+ 𝑉5 3 + 𝑉6+ 𝑉7+ 𝑉8 2 + 𝑉9+ 𝑉10) Acesso ao Conhecimento 𝐴𝐶 ≔1 3× ( 𝐶1+ 𝐶2 2 + 𝐶3+ 𝐶4+ 𝐶5 3 + 𝐶6) Acesso ao Trabalho 𝐴𝑇 ≔1 3× (𝑇1+ 𝑇3+ 𝑇4 2 + 𝑇5+ 𝑇6 2 ) Escassez de Recursos 𝐸𝑅 ≔1 3× (𝑅1+ 𝑅2+ 𝑅3) Desenvolvimento Infanto-juvenil 𝐷𝐼 ≔ 1 3× ( 𝐷1+ 𝐷2 2 + 𝐷3+ 𝐷4+ 𝐷5 3 + 𝐷6+ 𝐷7+ 𝐷8+ 𝐷9+ 𝐷10+ 𝐷11 6 ) Condições Habitacionais 𝐶𝐻 ≔1 9× ( 𝐻1+ 𝐻2 2 + 𝐻3+ 𝐻5+ 𝐻6+ 𝐻7+ 𝐻8+ 𝐻9+ 𝐻10+ 𝐻11+ 𝐻12 4 + 𝐻13+ 𝐻14)

FONTE – Elaboração dos autores a partir de Furtado (2013).

Tendo o resultado de cada indicador, a agregação é feita conforme a fórmula abaixo, na qual valores mais próximos de 1,0 indicam maior vulnerabilidade familiar.

IVF =𝑉𝑆 + 𝐴𝐶 + 𝐴𝑇 + 𝐸𝑅 + 𝐷𝐼 + 𝐶𝐻

6 , 0 ≤ 𝐼𝑉𝐹 ≤ 1 (1)

No caso do Censo Demográfico, os seguintes recortes geográficos são possíveis: macrorregiões, UF, mesorregiões, microrregiões, regiões metropolitanas (RM), municípios e áreas de ponderação. Para cada um destes recortes é possível calcular, com precisão, o IVF. No caso deste trabalho, calcularemos os indicadores para as regiões metropolitanas indicadas (Fortaleza, Recife e Salvador) e para as cidades que compõem as RM.

As informações sobre a composição das regiões metropolitanas foram obtidas junto aos dados dos Censos, e são apresentadas no quadro abaixo. Como pode-se ver, houve expansão das áreas metropolitanas das RM de Fortaleza e Salvador, as quais “ganharam” 2 e 3 municípios, respectivamente; enquanto isso, a RM de Recife manteve o mesmo núcleo. Ademais, nenhuma das RM analisadas teve perda de município.

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QUADRO 2 – Geocódigos dos municípios das Regiões Metropolitanas selecionadas (2000 e 2010) RM Municípios em 2000 Municípios em 2010 Fortaleza (UF = 23) 2301000, 2303709, 2303956, 2304285, 2304400, 2304954, 2305233, 2306256, 2307650, 2307700, 2309607, 2309706, 2312403 2301000, 2303501, 2303709, 2303956, 2304285, 2304400, 2304954, 2305233, 2306256, 2307650, 2307700, 2309607, 2309706, 2310852, 2312403 Recife (UF = 26) 2600054, 2601052, 2602902, 2603454, 2606804, 2607208, 2607604, 2607752, 2607901, 2609402, 2609600, 2610707, 2611606, 2613701 2600054, 2601052, 2602902, 2603454, 2606804, 2607208, 2607604, 2607752, 2607901, 2609402, 2609600, 2610707, 2611606, 2613701 Salvador (UF = 29) 2905701, 2906501, 2910057, 2916104, 2919207, 2919926, 2927408, 2929206, 2930709, 2933208 2905701, 2906501, 2910057, 2916104, 2919207, 2919926, 2921005, 2925204, 2927408, 2929206, 2929503, 2930709, 2933208

FONTE – Elaboração dos autores a partir dos dados dos Censos Demográficos 2000 e 2010.

Após a apresentação do IVF, vamos analisar as medidas de polinucleação que vamos utilizar. Uma medida muito utilizada relaciona o volume per capita do PIB com a renda per capita4.

Por este indicador sintético (ao qual damos o nome de P|R), temos a relação entre produto gerado (PIB) e produto apropriado (renda): indicadores muito acima de 1,0 apontam para a baixa apropriação da riqueza gerada no município, enquanto indicadores mais próximos de 1,0 são um sinal claro de que a geração e a apropriação do produto acontecem no mesmo município. Vejamos esquematicamente na equação abaixo, onde 𝑌 é o PIB per capita e 𝑦 é a renda per capita.:

P|R =𝑌

𝑦, 0 ≤ P|R (2)

Em municípios-núcleo (por exemplo, nos municípios centrais de uma região metropolitana), a razão P/R é muito próxima de 1,0, sendo um claro sinal de que a maior parte da atividade econômica acontece nestes municípios. Se, em uma região metropolitana, temos apenas um ou outro município com razão P/R próxima de 1,0, a região metropolitana se caracteriza pelo modelo centro-periferia, amplamente conhecido por economistas e geógrafos. Todavia, quando há vários municípios na região metropolitana com P|R ao redor de 1,0, é preciso verificar a distribuição espacial da riqueza destes municípios. Isto pode ser feito analisando quanto cada município apropria do PIB total, conforme a medida abaixo:

𝑌𝑖′ = (𝑌𝑖∗ 𝑁𝑖) ÷ (∑ 𝑌𝑖∗ 𝑁𝑖 𝑛 𝑖=1 ) ⟹ ∑ 𝑌𝑖′ 𝑛 𝑖=1 = 1 (3)

No caso, acima reportado, de várias cidades terem índice P|R próximo de 1,0, um indício de polinucleação apareceria se a proporção de PIB apropriado pelos municípios for próxima (no caso de uma análise estática) ou se aproximar ao longo do tempo (no caso de uma análise dinâmica).

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RESULTADOS ALCANÇADOS

Vamos apresentar os resultados em termos de IVF e razão P|R. Em primeiro lugar, discutiremos a evolução dos índices em termos temporais, em busca de motivos para reduções ou aumentos no IVF e na razão P|R; em segundo lugar, analisaremos a evolução em termos espaciais, procurando indícios para a redistribuição espacial da pobreza e da riqueza nas RMs do Nordeste.

Evolução temporal: vulnerabilidade e geração de riqueza entre 2000 e 2010

Em primeiro lugar, vamos analisar as medidas de vulnerabilidade para as três RMs em 2000 e 2010, apresentando os índices completos e suas componentes. Começamos apresentando os resultados do IVF e de suas seis componentes para os agregados das três RMs: Fortaleza (CE); Recife (PE); e Salvador (BA). A tabela abaixo mostra que todas as componentes de vulnerabilidade tiveram redução na década, exceção feita à componente ER (Escassez de Recursos), que aumentou de 20 a 30% na década.

TABELA 3 – Resultados do IVF e de suas componentes e variação no período para as RMs de Salvador, Recife e Fortaleza (2000 e 2010) RM Ano VS AC AT ER DI CH IVF Salvador 2000 0,222 0,551 0,348 0,211 0,007 0,225 0,2603 2010 0,154 0,431 0,299 0,268 0,004 0,123 0,2132 Variação -28,8% -20,1% -15,5% 17,5% -50,2% -40,3% -18,1% Recife 2000 0,220 0,566 0,395 0,231 0,009 0,275 0,2828 2010 0,156 0,451 0,343 0,309 0,005 0,179 0,2405 Variação -29,2% -20,3% -13,3% 33,7% -42,3% -34,9% -14,9% Fortaleza 2000 0,216 0,568 0,360 0,249 0,010 0,271 0,2792 2010 0,154 0,454 0,304 0,293 0,005 0,162 0,2287 Variação -30,5% -21,8% -13,9% 27,5% -41,3% -45,4% -18,1%

FONTE – Elaboração dos autores a partir dos microdados da amostra dos Censos Demográficos 2000 e 2010.

Como podemos ver na tabela, a RM de Salvador está sempre em melhor condição frente às de Recife e Fortaleza, em termos de IVF. Todavia, analisando-se por componente, vê-se que Fortaleza está em melhores condições em termos de vulnerabilidade social (VS) em relação a Salvador. Comparando as RMs de Recife e Fortaleza, há um quadro de relativa estabilidade, com índices próximos: a RM pernambucana tem melhores condições de acesso ao conhecimento (AC) e desenvolvimento infanto-juvenil (DI); já a RM cearense se encontra em melhores condições de vulnerabilidade social (VS), acesso ao trabalho (AT) e condições habitacionais (CH).

Já a escassez de recursos – para todas as três RMs – é uma questão delicada, pois foi feita a opção de não deflacionar as séries de rendimento das componentes AT e ER. Considerando que os

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dados de rendimento não foram deflacionados para o período 2000-2010 (isto é, foram utilizados dados nominais de renda, levando em conta salário mínimo de R$ 510 para 2010 e de R$ 151 para 2000), estamos aqui captando o efeito da inflação sobre a renda per capita. O gráfico abaixo justifica este resultado, mostrando que, de agosto/2000 a agosto/2010, o salário mínimo real (em R$ constantes de abril/2014, corrigido pelo IPCA) cresceu 74% no período, enquanto o IPCA cresceu 87%, o INPC 94%, e o IGP-DI 124%.

GRÁFICO 1 – Evolução dos índices de inflação e do salário mínimo, Brasil (agosto/2000 a agosto/2010) FONTE – Elaboração dos autores a partir dos dados do IPEAData.

NOTA – Todas as séries tem base em agosto/2000, com valor-base igual a 100.

Feita esta ponderação sobre a categoria ER, vamos analisar, por RM, a distribuição do IVF. Apresentamos, a seguir, um gráfico com a distribuição proporcional dos municípios das três RMs, por nível do IVF; ao olhar os gráficos, alguns padrões surgem. Primeiramente, vê-se que a RM de Salvador está em uma constante melhor condição perante as de Fortaleza e Recife, tanto em termos de IVF para a região metropolitana, quanto por distribuição do índice por município. Já em 2000, não havia município da RM de Salvador com IVF acima de 0,35, ao contrário das outras duas; além disto, em 2010, a RM em questão já não tinha municípios com IVF acima de 0,30, enquanto a RM de Recife ainda contava com um município de IVF superior a 0,35 no mesmo ano.

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GRÁFICO 2 – Distribuição proporcional dos municípios das RMs do Nordeste por nível do IVF (2000 e 2010) FONTE – Elaboração dos autores a partir dos microdados da amostra dos Censos Demográficos 2000 e 2010.

Em segundo lugar, fica clara a redução contínua do IVF na década, com quedas semelhantes entre as três regiões, variando de 15% (para a RM de Recife) a 18% (para a RM de Salvador). Entretanto, ao serem analisados os diversos municípios das RMs, a heterogeneidade da queda é muito maior, variando de –0,05% para o município de Itapissuma (PE) a –25,2% para o município de Eusébio (CE). Finalmente, em terceiro lugar, é visível uma leve ampliação da variabilidade no IVF dos municípios das RMs, de 2000 para 2010: na Bahia, a variabilidade aumentou 13,1%, em Pernambuco, elevou-se 20,5%, e no Ceará, 5,6%. Cabe ressaltar que a menor variabilidade está associada ao menor IVF encontrado. Estes resultados estão resumidos na tabela abaixo.

TABELA 4 – Resultados do IVF e de sua variância para as RMs de Salvador, Recife e Fortaleza (2000 e 2010)

Região metropolitana

IVF por região metropolitana Variância municipal do IVF Variação IVF

2000 2010 Variação 2000 2010 Variação Mínima Máxima

Fortaleza 0,2792 0,2287 -18,1% 0,00098 0,00104 5,6% -5,6% -25,2%

Recife 0,2828 0,2405 -14,9% 0,00124 0,00150 20,5% -0,1% -19,3%

Salvador 0,2603 0,2132 -18,1% 0,00065 0,00073 13,1% -10,9% -22,6%

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Estes dados podem ser analisados também em termos de peso. Embora saibamos, pela formulação do IVF, que cada componente pesa 1/6 no total do índice, o valor de cada índice é uma parte da soma destes. Deste modo, mesmo com ponderações iguais, cada componente pesará diferentemente no resultado final. Isto pode ser visto na tabela abaixo, que resume claramente a alteração na ponderação de cada componente. De 2000 para 2010 há maior distribuição do valor das componentes, com perda importante de peso da componente CH, enquanto a componente ER (pelos motivos já discutidos) ganhou importância. As componentes principais do IVF, em todas as regiões (AC, AT e ER), responderam, em conjunto, por 70% do resultado do IVF, em 2000 e em 2010.

TABELA 5 – Peso (%) do valor de cada componente na soma das componentes do IVF, RMs de Fortaleza, Recife e Salvador (2000 e 2010) RM Ano VS AC AT ER DI CH Fortaleza 2000 12,9 33,9 21,5 14,9 0,6 16,2 2010 11,2 33,1 22,2 21,3 0,4 11,8 Recife 2000 13,0 33,4 23,3 13,6 0,5 16,2 2010 10,8 31,3 23,7 21,4 0,4 12,4 Salvador 2000 14,2 35,3 22,3 13,5 0,4 14,4 2010 12,1 33,7 23,4 21,0 0,3 9,6

FONTE – Elaboração dos autores a partir dos microdados da amostra dos Censos Demográficos 2000 e 2010.

Por fim, vamos verificar as alterações ocorridas na proporção de PIB apropriado por cada município, considerando a distinção entre o núcleo metropolitano5 e os outros municípios. Calculou-se a proporção de PIB total apropriada e a proporção que se esperaria que fosse apropriada (proporção esta calculada como sendo a razão entre o contingente populacional do município e a população total da RM). Os resultados obtidos estão disponíveis nos gráficos abaixo.

GRÁFICO 3 – Proporção do PIB (%) apropriada e esperada, para o núcleo metropolitano e os demais municípios das RMs de Salvador, Fortaleza e Recife (2000 e 2010)

FONTE – Elaboração dos autores a partir dos dados do IPEAData.

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Como os dados apontam, as três RMs têm dinâmicas distintas de apropriação municipal de riqueza gerada. Na Bahia, a apropriação se divide entre o núcleo e os outros municípios, com redução (de 2000 para 2010) da proporção de PIB apropriada por Salvador. No Ceará, a dinâmica de redução é parecida, embora Fortaleza se aproprie de ¾ da riqueza gerada na RM. Já em Pernambuco, encontra-se uma situação intermediária, na qual o núcleo se apropria de mais da metade da riqueza, embora esta tendência seja de queda na década. Em termos de apropriação esperada do PIB, há uma clara tendência de aumento desta fora do núcleo metropolitano, sendo um forte indício de desconcentração da atividade econômica, com claras consequências na redução da vulnerabilidade familiar no período 2000-2010.

Evolução espacial: reorganização da pobreza metropolitana

Analisando a espacialização do IVF pelas RMs, observa-se – para todos os casos e, mais ou menos, para os dois momentos considerados – a vigência de um padrão centro-periferia. Isto é, os municípios-núcleo de cada RM apresentam os melhores índices (isto é, os mais baixos), sendo que, quanto mais afastado o município do núcleo metropolitano, maior a vulnerabilidade familiar, formando-se verdadeiros anéis da pobreza em volta dos mesmos. Atendo-se à evolução do padrão espacial do índice entre 2000 e 2010, verifica-se um espraiamento da menor condição de vulnerabilidade das famílias do centro para as periferias. De acordo com os mapas da coluna direita, as melhores categorias coropléticas para o IVF (de cor amarelo claro e escuro) passam também a figurar nos municípios imediatamente adjacentes ao núcleo. Os municípios mais distantes também melhoram seus IVFs, todavia em menor medida, pelo fato de se localizarem mais longe do centro.

O que fica claro com tais resultados é que, lançando-se mão das palavras de Cunha (2010), o “espaço importa” no contexto metropolitano do Nordeste, e continua importando em uma “nova” conjuntura de reorganização urbano-metropolitana, que, de fato, vem ocorrendo nas grandes aglomerações urbanas do Nordeste. Conforme pode ser percebido nos mapas abaixo, ocorre, nas principais metrópoles do Nordeste, um processo de descentralização econômica. Isto foi bem ilustrado pela apropriação percentual do PIB metropolitano, representada pelos círculos proporcionais nos mapas. Mostra-se, nos mesmos, uma tendência, já corrente em 2000, de perda de “soberania econômica absoluta” do núcleo metropolitano, onde – novamente – municípios adjacentes aos mesmos ganham uma relativa importância econômica no espaço metropolitano, conforme ocorreu nos anos 1970 e 1980 com as periferias metropolitanas do Sudeste.

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FIGURA 1 – IVF e apropriação relativa do PIB metropolitano, RMs de Salvador, Fortaleza e Recife (2000-2010) FONTE – Elaboração dos autores a partir dos microdados da Amostra dos Censos Demográficos 2000 e 2010 e

de dados do Banco Multidimensional de Estatísticas (BME/IBGE).

Essa realidade, no entanto, é permeada por contradições socioeconômicas inerentes às especificidades de ocorrência do processo em questão em um país em desenvolvimento como o Brasil. Tais contradições ficaram bem evidentes a partir da construção e aplicação de uma série de medidas que, em seus resultados para as três RMs consideradas, mostraram, em suma, não haver

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relações diretas entre o processo de reorganização urbano-metropolitana (em um incipiente processo, se pode assim ser designado, de polinucleação metropolitana) e a alocação da pobreza, esta também urbano-metropolitana.

Em primeira instância, a partir do binômio geração-apropriação de riqueza produzida (traduzido aqui primeiramente pela razão P|R), chama a atenção a presença dos chamados “municípios-produção” – identificados por Ruiz e Pereira (2009) – nas três periferias das RMs consideradas. O que a priori revelaria a emergência de novos núcleos urbanos na periferia, configurando de fato a vigência da polinucleação metropolitana, revelou descompassos entre a descentralização econômica e condição social da população, evidenciando as contradições do processo. Um caso ilustrativo é o de São Francisco do Conde, na RM de Salvador, que apresentou um razão P|R de 61 em 2000 e de 57 em 2010, valores muito altos se comparados à média da RM (de 9,8). Em contrapartida, esse município:

“(...) conta com uma estrutura urbana bastante simples e, em 2000, apresentava uma expressiva taxa de desemprego e elevada quantidade de funcionários públicos. Em verdade, sua relevância econômica era resultante das dinâmicas ocasionadas pelas atividades de extração e refino de petróleo, mas, de forma geral, seus resultados econômicos não são internalizados pelo município. Estes fatores contribuíram para que, em 2007, tivesse o segundo maior PIB do setor secundário do estado. Nesse mesmo ano, apresentava um porte demográfico reduzido: 29.829 moradores” (DIAS e ARAUJO, 2011: 208).

Por sua vez, Lauro de Freitas, Camaçari e Simões Filho (municípios situados no entorno da capital baiana), segundo os autores acima, além de se destacarem em termos econômicos, revelaram ritmos de crescimento populacional elevado, em função do transbordamento da centralidade de Salvador para além dos seus limites territoriais. Efetivamente, os dois últimos apresentaram reduções significativas da razão P|R (de 2000 para 2010) de cerca de 30%, as mais altas reduções entre todos os municípios metropolitanos que, ao contrário, viram suas P|R crescerem.

Seguindo a mesma lógica do que foi exposto para a RM de Salvador, observa-se o exemplo do processo de descentralização urbano-metropolitana da RM de Fortaleza, estudado por Nogueira (2013), destacando-se como núcleos urbanos periféricos emergentes Horizonte, Pacajus e Eusébio. Novamente, os dois últimos apresentaram a maior redução da razão P|R para o período considerado (em torno de 50% e 40%, respectivamente). Ainda na visão deste autor, as atividades industriais e turísticas têm contribuído para a expansão metropolitana mais difusa, incorporando e fortalecendo núcleos urbanos situados a dezenas de quilômetros de Fortaleza. Essa forma de expansão difere do padrão de crescimento extensivo, do tipo “mancha de óleo”, ainda predominante na RM de Fortaleza e que teve início na década de 1970. Já a expansão das atividades de incorporação imobiliária, não voltadas à demanda turística, permanece nos municípios próximos da metrópole, fortalecendo a expansão da área construída de Fortaleza.

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Tal padrão de urbanização metropolitana verificado para os dois casos anteriores, em termos relativos, pode ser estendido para o contexto metropolitano de Recife, destacando-se, como exemplo da urbanização difusa, os casos dos municípios de Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, onde se localiza o Complexo Industrial-Portuário de Suape. Para o segundo caso, o de urbanização do tipo “mancha de óleo”, observam-se os casos de Jaboatão do Guararapes e Olinda.

Os dois padrões de descentralização urbano-metropolitana, atuando em conjunto nos três espaços metropolitanos em questão, explicam, pois, a não ocorrência de um padrão de correlação (quando comparadas as três RMs) entre a localização da pobreza, que segue a lógica do padrão “mancha de óleo” (centro-periferia), e a apropriação municipal do PIB, que segue a lógica tanto deste último quanto do padrão de descentralização difusa. Desse modo, como é mostrado pela tabela abaixo, não se estabeleceu a correlação esperada (positiva), entre o PIB per capita e a renda per capita, para um cenário de descentralização urbano-metropolitana. Em alguns casos, como o de Salvador, a correlação foi negativa (isto é, PIB per capita maior estaria associado a renda per capita menor). A única RM que se mostrou coerente quanto ao padrão esperado foi Fortaleza, onde se registraram correlações positivas e médias (0,31 para 2000 e 0,47 para 2010).

Atendo-se à relação entre o IVF e o PIB municipal, a condição “lógica” para o contexto em questão é de correlação negativa entre as variáveis, isto é, quanto maior o PIB menor a vulnerabilidade das famílias. Tal condição, novamente, foi satisfeita somente na RM de Fortaleza, onde as correlações foram de –0,34 em 2000 e –0,50 em 2010. Possivelmente, pode-se concluir que o processo de descentralização urbano-metropolitana em Fortaleza é direcionado pelo padrão “mancha de óleo” – o que explica a coerência das relações entre as variáveis consideradas para esta RM – enquanto se verifica a “incoerência” nas outras RMs, onde o padrão de descentralização parece ser mais forte.

TABELA 6 – Relações entre geração e apropriação de riqueza e condições de vida nas principais Regiões Metropolitanas do Nordeste (2000 e 2010)

Correlações RM de Salvador RM de Recife RM de Fortaleza

2000 2010 2000 2010 2000 2010

PIB x Renda –0,2498 –0,1462 –0,0346 0,0138 0,3071 0,4727

IVF x PIB 0,4233 0,0058 0,2710 0,5280 –0,3374 –0,5030

FONTE – Elaboração dos autores a partir dos microdados da amostra do Censo Demográfico.

Estes resultados mudam, todavia, ao selecionar uma componente do IVF estritamente vinculada à integração e hierarquização urbano-metropolitana. A mobilidade pendular – variável H13 do IVF – analisa se, para trabalhar ou estudar, uma pessoa deve se deslocar até outro município.

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apropriada por município; e 3) razão P|R. Vemos tais correlações na tabela abaixo: verifica-se um padrão de correlação inversa nas RMs estudadas. A partir da emergência de novas centralidades urbanas na periferia metropolitana, espera-se que as pessoas tendam a lançar mão, cada vez menos, de deslocamentos para outros municípios para trabalhar, uma das condições de vulnerabilidade na componente “Condições Habitacionais” do IVF. A correlação entre essa variável e as variáveis PIB per capita e apropriação do PIB metropolitano deveria ser, portanto, negativa, assim como se espera que a correlação com a razão P|R também seja inversa.

TABELA 7 – Relação entre mobilidade pendular enquanto medida de vulnerabilidade familiar e descentralização urbano-metropolitana nas principais RMs do Nordeste (2000 e 2010)

Correlações com H13 Ano 2000 2010 RM de Salvador H13 x PIBPC – 0,10517 – 0,25935 H13 x P|R – 0,10576 – 0,26991 H13 x %PIB – 0,46924 – 0,48456 RM de Fortaleza H13 x PIBPC – 0,07169 – 0,17047 H13 x P|R 0,02703 – 0,22743 H13 x %PIB – 0,34708 – 0,38460 RM de Recife H13 x PIBPC – 0,44523 – 0,44224 H13 x P|R – 0,40223 – 0,40701 H13 x %PIB – 0,36585 – 0,39833

FONTE – Elaboração dos autores a partir dos microdados da amostra do Censo Demográfico.

De fato, esse foi o panorama encontrado para todos os contextos temporais e espaciais abrangidos pela pesquisa, mostrando que também o padrão de integração metropolitana muda à medida que se “quebra” a organização urbano-metropolitana centro-periferia. Sob este ponto de vista mais simples, esse processo tem repercussões na melhoria das condições de vida das pessoas.

CONCLUSÕES

Este ensaio objetivou estudar as relações existentes entre os municípios de três regiões metropolitanas do Nordeste (Salvador, Recife e Fortaleza), em termos de pobreza familiar e reorganização do espaço urbano-metropolitano. Para tal, foram estudadas duas temáticas: a questão da vulnerabilidade familiar; e a relação entre geração e apropriação de riquezas. Estas temáticas foram analisadas a partir dos microdados da amostra dos Censos Demográficos de 2000 e 2010.

Em termos de vulnerabilidade familiar, observou-se uma queda média do IVF de 19% para as RMs de Fortaleza e Salvador e de 15% para a RM de Recife. Analisando-se as componentes do IVF, percebeu-se que, ao não deflacionar as séries de renda, foi possível captar a corrosão desta pela inflação no período, o que justificou o aumento da componente “escassez de recursos” do IVF.

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Comparando os resultados por região metropolitana, mostrou-se que as quedas nas componentes do IVF foram uniformes entres elas, embora a RM de Salvador continue tendo o menor nível de vulnerabilidade dentre as três, e tenha a maior proporção de municípios com IVF abaixo de 0,25. Já no que tange a distribuição espacial da vulnerabilidade, observa-se a vigência de um padrão centro-periferia em todas as RMs. A melhora do IVF – como já mencionado acima – seguiu este mesmo padrão, entre 2000 e 2010, tendo em vista que a melhora tenha acontecido no centro e se irradiado para a periferia. Isto prova que o “espaço continua importando”, mesmo em um contexto de descentralização do meio metropolitano.

Quanto a este último processo, verifica-se que as maiores apropriações de riqueza gerada nas RMs se concentraram nos municípios adjacentes ao núcleo metropolitano. Em contrapartida, está ocorrendo um movimento de descentralização da apropriação do PIB, o qual já vem sendo identificado desde os anos 1990. Entre 2000 e 2010, esta tendência continuou, com maior intensidade na RM de Salvador, com a emergência de polos industriais como o de Camaçari. Sob o ponto de vista urbano, constataram-se duas lógicas, complementares entre si, de descentralização: aquela contígua ao núcleo metropolitano, capitaneada pelo setor da incorporação imobiliária desvinculada do turismo; e aquela difusa, associada aos investimentos industriais-produtivos e ao turismo. Estas lógicas explicam o porquê de a razão P|R não apresentar um padrão intra-metropolitano claro, pois a geração do PIB se associa a ambas as lógicas de descentralização, enquanto a apropriação desta riqueza é mais associada à lógica imobiliária.

Para verificar as relações entre vulnerabilidade e geração-apropriação de riqueza, foram analisados os coeficientes de correlação entre IVF e PIB, PIB e mobilidade intra-metropolitana, e entre PIB e renda. Os coeficientes de correlação entre PIB e IVF, para todas as regiões e períodos, não tiveram uma dinâmica conjunta, dificultando as análises dos resultados: somente para a RM de Fortaleza, observou-se uma correlação inversa entre geração de riqueza e vulnerabilidade, que seria o resultado esperado para todas as RMs. Comparando o PIB com a variável de mobilidade intra-metropolitana (H13), os resultados para todas as RMs, em ambos os períodos, apontaram para a

relação inversa entre mobilidade espacial e geração de riqueza, o que era, de fato, esperado para um contexto de descentralização das atividades produtivas e do mercado de trabalho. Em outras palavras, a maior mobilidade espacial implica a geração e a apropriação de riquezas em municípios diferentes, alterando a relação entre PIB e renda.

A partir destes resultados, pôde-se concluir que, de fato, novos polos emergem nas, até então, periferias metropolitanas do Nordeste. Este processo se comprova pela dualidade entre redução da vulnerabilidade e aumento da apropriação municipal da riqueza gerada na RM. Este segundo processo – que aponta para a (re)organização do espaço urbano-metropolitano – pouco teve efeito sobre a alocação espacial da pobreza, já que os municípios mais vulneráveis continuaram

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os mesmos em todas as regiões metropolitanas. Apesar da redução do IVF, manteve-se nítida a distinção entre o nível de vulnerabilidade do núcleo metropolitano e de sua periferia.

É importante, finalmente, ponderar que este ensaio utilizou proxies para a mensuração da pobreza e da descentralização urbano-metropolitana. Ambas as dinâmicas são complexas e levam em conta múltiplas dimensões, as quais, todavia, não podem ser captadas de forma completa, por escassez de dados e limitações no espectro temporal de análise. Cabe ressaltar, todavia, que as proxies utilizadas foram capazes de captar tanto o processo de melhora nas condições de vulnerabilidade das famílias, quanto o processo de descentralização econômica intra-metropolitana. Neste sentido, aponta-se para a necessidade de se avaliarem outras dimensões – sociais, econômicas e demográficas – para tentar explicar as consequências oriundas da reorganização do espaço nas regiões metropolitanas do Nordeste.

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