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EDUCAÇÃO SEXUAL PARA A TERCEIRA IDADE: RETRATO DA CONTEMPORANEIDADE

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Academic year: 2021

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EDUCAÇÃO SEXUAL PARA A TERCEIRA IDADE: RETRATO DA

CONTEMPORANEIDADE

LOLLI, Maria Carolina Gobbi dos Santos MAIO, Eliane Rose

RESUMO

Com o aumento da população de idosos(as) verificamos a importância da produção de conhecimento e profissionais na área. Trata-se de um estudo qualitativo que teve por objetivo analisar as representações de idosos(as) frequentadores(as) da UNATI/UEM sobre Sexualidade e a necessidade de discussão sobre temas relacionados à Educação Sexual para a Terceira Idade, por meio de grupos focais com 9 idosos(as). Percebemos que existe deficiência de informações sobre o envelhecimento e as mudanças que acontecem na velhice a respeito da sexualidade e que isto tem contribuído para a sustentação de preconceitos. Fica clara a importância de se ter profissionais que dialoguem com os(as) idosos(as) sobre temas relacionados à sexualidade.

Palavras-chave: Envelhecimento; Educação Sexual; Sexualidade.

INTRODUÇÃO

O envelhecimento da população é um fenômeno mundial que teve início no século XX e que vem se instalando rapidamente dia a dia (CAMARANO, 2013). A partir disso, fica clara a importância de produzir cada vez mais ensinamentos que se propõem educar sujeitos a envelhecer com saúde e principalmente, qualidade de vida (RISMAN, 2005).

Camarano (2013) assegura que apesar de existirem indivíduos com mais de 60 anos fragilizados e dependentes que realmente necessitam de mais atenção, podemos observar muitas pessoas nesta faixa etária que apesar de envelhecerem preservam suas capacidades, permanecem ativas e produtivas. Nesse sentido, Freitas (2006) ensina que

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refere ao fato deste processo ser pouco conhecido entre aqueles(as) que o vivenciam e que apresenta características diferentes de acordo com a cultura, o tempo e o espaço.

Na opinião de Maio (2011), é notório o fato de sermos envolvidos(as) por uma tradição cultural passada por meio das gerações, na qual o corpo e a sexualidade ainda sofrem repressões por preconceitos e normas sociais. A autora ainda complementa afirmamos que a sexualidade humana está intimamente ligada a fatores culturais e sociais herdados e passados de geração em geração. A partir disto, explicitamos que a sexualidade é expressa de várias maneiras e que não se restringe apenas à relação sexual (coito) e reforçamos que ela pode ser vivenciada por todos(as), independente da idade (MAIO, 2011).

Na última década, tanto a Gerontologia brasileira e pesquisas internacionais, defendem a legitimação da sexualidade na velhice. Isto porque gerontólogos(as) incluem a sexualidade como um dos pilares do envelhecimento ativo (ASSIS, 2002). Assim, torna-se necessário e plausível falarmos de sexualidade na velhice. Não que este seja um tema atual e inédito, mas porque entendemos que a sexualidade passa também nos dias de hoje, a determinar uma das formas de construção da identidade das pessoas mais velhas (RISMAN, 2005).

OBJETIVO

Este trabalho teve por objetivo analisar as representações de idosos(as) frequentadores(as) da UNATI/UEM sobre Sexualidade e a necessidade de discussão sobre temas relacionados à Educação Sexual para a Terceira Idade.

MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa centrada nos Estudos Culturais. A pesquisa foi feita por meio de entrevista semiestruturada e da técnica dos grupos focais. Foram realizados 4 encontros nas dependências da Universidade Estadual de Maringá que aconteceram entre os meses de maio e junho de 2014, com idosos(as)

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regularmente matriculados(as) na disciplina “Sexualidade em Multimeios” oferecida pela Universidade Aberta à Terceira Idade da UEM.

DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Participaram deste estudo 9 idosos(as) regularmente matriculados(as) na UNATI/UEM no ano 2014. Eles(as) demonstraram ter muitas dúvidas sobre a temática “sexualidade no envelhecimento” o que corresponde aos achados de Moura (2008), Risman (2005) e Assis (2002) que garantem que um dos aspectos menos compreendidos da velhice é a sua sexualidade. No entanto, os estudos de Ferriancic (2003) salientam que dentre os temas abordados nos grupos de Terceira Idade, o que mais desperta interesse são aqueles relacionados à sua sexualidade. Neste aspecto, o autor ressalta a necessidade de construir projetos que incluam o tema da sexualidade na Terceira Idade e que forneçam ferramentas para auxiliá-los(as) a refletir, conhecer e entender melhor a sua sexualidade.

Percebemos que as pessoas da Terceira Idade ainda têm muitas dúvidas relacionadas à sexualidade já que tiveram uma educação sexual deficiente quando mais jovens.

Maio (2011, p.200) nos alerta para a urgência e a necessidade do debate sobre temas relacionados à sexualidade humana no ambiente escolar seja ele formal ou não e recomenda “que não seja desvinculado de aspectos culturais, sociais, históricos e pedagógicos”.

Temas como: mudanças no corpo durante o processo do envelhecimento, aspectos fisiológicos e psicológicos; medicamentos estimulantes da sexualidade; doenças sexualmente transmissíveis; tabus da sexualidade na Terceira Idade; desejo sexual e afetividade na Terceira Idade, foram citados pelos(as) participantes como sendo de interesse para o debate com professores(as) no ambiente da UNATI. Temas como estes apesar de serem tidos como corriqueiros na realidade da sociedade em que vivemos, eles são tratados muitas vezes de maneira equivocada, e ainda mais, quando consideramos como público ouvinte os(as) idosos(as).

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comportamento, que resultam em causas psicológicas ou fisiológicas ou ambas. Além dos aspectos históricos e culturais marcantes acerca da sexualidade humana e, especialmente da sexualidade na velhice, a abordagem biológica sobre tal item, faz-se muito importante para compreensão das mudanças ocorridas no corpo com o passar dos anos e das limitações impostas pela idade, principalmente no que se refere à sexualidade (ASSIS, 2002)

Neste momento, acreditamos ser viável repetir o início deste texto que comentava sobre um fato importante percebido mundialmente que é o aumento da população de idosos(as). Isto nos faz (re)pensar muitas atitudes, principalmente quando o assunto é Educação.

Ao fazermos nesta pesquisa uma memorização dos fatos acontecidos na infância e juventude dos(as) nosso(as) entrevistados(as), sentimos que eles(as) trouxeram para o presente lembranças positivas e negativas de suas vivências relacionadas à Sexualidade e à Educação. Isto nos levou mais longe: poder reconhecer o peso do passado repressor que tiveram e identificar algumas cicatrizes. Tal exercício nos fez reavaliar o papel da escola no que tange à Terceira Idade.

Se considerarmos a importância da Educação para os(as) idosos(as), perceberemos que ela tem o potencial de transformar suas vidas já que sua função é garantir a integração de todos(as) na sociedade, vencendo obstáculos como os pré-conceitos e tabus, garantindo a transmissão de conhecimentos significativos para todas as pessoas, independentemente de sua idade, gênero, raça, credo (ASSIS, 2002).

Nossas análises encaminharam para o entendimento de que o processo do envelhecimento pelo qual todos(as) já estamos passando, desde o nosso nascimento, é carregado de um contexto cultural bem amplo amparado por teses socialmente criadas e arduamente cultivadas, nas quais a juventude e o corpo jovem, viril e ativo, em todos os sentidos, é tido como referência e como modelo, como já supúnhamos.

Nas discussões propostas, prevaleceram discursos heterossexuais e machistas nos quais notamos nitidamente a inferioridade da mulher e sua preocupação com o corpo, idade, as mudanças e a própria sexualidade. É importante ressaltar que estas discussões privilegiaram somente as experiências dos(as) participantes e, acima de tudo, o seu pensamento sobre os temas discutidos. Ao lançarmos os questionamentos, eles(as)

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falavam, riam, suspiravam, mexiam com a caneta em um papel para desviar o olhar, e seus relatos demonstravam um misto de vergonha e interesse pelo tema, tanto que estavam presentes em todos os encontros considerando muitos empecilhos, e sempre comentando que haviam transmitido o teor das discussões em casa ou em outros grupos. Faz-se necessário ponderar o aumento do número de casos notificados de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) em pessoas idosas, em especial do HIV o que reforça a necessidade de mais informações e conhecimentos sobre DST no envelhecimento. Pottes (2007) apresenta que o problema principal está no imaginário da existência de uma dessexualização nesta fase da vida.

Discutir a sexualidade em grupo idoso pode ser constrangedor devido à ausência de um diálogo franco e aberto sobre o tema que essas pessoas conheceram ao longo da vida, mas é certamente desafiador e necessário para muitos(as) que anseiam por um espaço onde possam tirar dúvidas e refletirem sobre sua própria sexualidade (ASSIS, 2002).

Identificamos pontos positivos e negativos nos encontros. Como pontos positivos desta pesquisa, podemos citar a promoção do diálogo franco baseado na confiança e no respeito que os(as) fizeram refletir sobre o conceito de sexualidade construído na sua história de vida; a oportunidade da integração de opiniões entre pessoas diferentes; a possibilidade da (re)construção de conceitos em relação à sexualidade no envelhecimento; o interesse dos(as) participantes pela temática e sua participação na contribuição de opiniões consideráveis para a melhoria no trato desta temática dentro da Universidade Aberta à Terceira Idade da UEM. Já um ponto negativo, foi a existência ainda de conflitos relacionados à compreensão da orientação sexual homoafetiva.

Posto isto, fazemos referência às palavras de Ferriancic (2003) ao propor que a Educação deve auxiliar o indivíduo na remodelação de sua maneira de pensar e sentir o mundo, enfatizando suas experiências e a importância das novas descobertas no processo do aprendizado, cabendo ao(à) professor(a) aconselhar, orientar e conduzir o alunado ao saber. Assim, compreendemos ser fundamental a valorização dos pensamentos e das experiências dos(as) idosos(as) bem como suas expectativas para a

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interesses. Esta máxima se torna ainda mais importante se considerarmos a educação não formal permanente.

Parafraseando Assis (2002), a sexualidade humana ainda traz muitas dificuldades e desafios aos(às) educadores(as). Percebemos as consequências da falta de informações sobre sexualidade em nossa sociedade. Onde existe liberdade de expressão, no entanto, a sexualidade é tratada de forma fragmentada e deturpada, principalmente quando os sujeitos são idosos. É nesse sentido que Maio (2011) recomenda a importância de professores(as) preparados(as) e que reconheçam a importância de trazer assuntos relativos à sexualidade, produzindo então informações e conhecimentos válidos sobre o tema, influenciando mentes e corações e, acima de tudo, tratando estes conteúdos de maneira emancipatória. A escola precisa urgentemente se tornar um lugar seguro e educativo para todas as pessoas, inclusive para a Terceira Idade.

Faz sentido que a escola seja formal ou informal e a docência dar maior atenção às necessidades dos(as) alunos(as), já que segundo Foucault (2009), a escola, os cursos e até mesmo professores e professoras surgiram historicamente como dispositivos sociais para atender as demandas sociais e culturais. Com as frases ditas, fica claro que os(as) professores(as) têm muito a repensar em sua conduta docente, já que

na nova relação com os alunos fica instalada uma nova relação com nós mesmos. Aprendemos e nos aprendemos. As tensões e medos são legítimos. Tensões que partem do choque com as condutas dos alunos, mas que tocam nas raízes mais fortes de nossa própria existência (ARROYO, 2004, p. 37).

Além disto, precisamos conhecer nossos(as) alunos(as). Acreditamos que ao mudarmos nosso jeito de olhar os(as) discentes, perceberemos as mudanças também nos conteúdos trabalhados e na didática aplicada para cada um(a) deles(as). Toda inovação educativa deve partir do nosso olhar enquanto professores(as) para cada um(a) de nossos(as) alunos(as). “Inclusive o repensar de nossa autoimagem docente tem tudo a ver com o repensar da imagem que deles nós fazemos” (ARROYO, 2004, p. 56).

Quais seriam os requisitos para tratar de assuntos referentes à sexualidade em salas de aula? E mais que isso, quais seriam esses requisitos quando a população interessada é formada por idosos e idosas? Arroyo (2004) defende que o trabalho deve

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ser feito à luz da ciência e necessita da disposição do(a) professor(a) em estudar muito. Informações sobre o tema e suas várias maneiras de manifestação bem como as particularidades de cada período do desenvolvimento humano são necessárias mas, sobretudo, deve ser valorizada a capacidade de escutar e identificar as aflições e inquietações além de tolerância e respeito para as diferenças em relação às vivências e ideais de cada um(a).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebemos com a realização deste trabalho, que ainda existe deficiência de informações sobre o processo do envelhecimento e as mudanças que acontecem na velhice a respeito da sexualidade e que isto tem contribuído para a sustentação de preconceitos. Ficou claro que a sexualidade é vivenciada pelas pessoas mais velhas das mais diferentes formas e que está associada a valores como amizade, carinho, diálogo, respeito, cuidado e atenção. No entanto, idosos(as) ainda têm muitas dúvidas e curiosidades a serem sanadas, fruto de uma educação repressiva, preconceituosa e de tabus que os(as) acompanharam desde a infância.

Acreditamos que com o novo perfil do(a) idoso(a) brasileiro(a) e a representação da sexualidade cada vez mais presente neste grupo, surge a necessidade de uma nova mentalidade social e política voltada para a educação sexual na Terceira Idade até então voltada somente para o público jovem.

Fomos alertadas que idosos(as) querem atenção e respeito, mas que não precisam de tratamento diferenciado, tão pouco de piedade. Fica claro que professores(as) que trabalham com esta faixa etária, precisam repensar sua conduta docente. Dados relevantes como este nos instigam para novas investigações, inclusive na área da Educação, já que demonstraram a urgência de medidas voltadas para entender e auxiliar os(as) idosos(as) a viverem melhor. Diante deste estudo fica clara a importância e a urgência de termos profissionais que falem abertamente com os(as) idosos(as) sobre

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REFERÊNCIAS

ARROYO, M. G. Imagens quebradas: trajetórias e tempos de alunos e mestres. Petrópolis/RJ: Vozes, 2004.

ASSIS, M. Promoção da saúde e envelhecimento: orientações para o desenvolvimento de saúde com idosos. Rio de Janeiro: UERJ/UnATI, 2002. (Série Livros Eletrônicos). Disponível em: <http:\\unati.uerj.Br>. Acesso em 11 de agosto de 2014.

CAMARANO, A. A. O novo paradigma demográfico. Ciência Saúde Coletiva, v.18, n.12, p.3446-3447, 2013.

FERIANCIC, M. M. Envelhecimento e sexualidade. Rev. Kairós, v. 6, n. 2, p. 133-146, 2003.

FOUCAULT, M. A Ordem do discurso. Rio de Janeiro: Loyola, 2009.

FREITAS, E. V. Demografia e epidemia do envelhecimento. In: PY, L. et al. Tempo de

envelhecer: percursos e dimensões psicossociais. 2. ed. Holambra/SP: Setembro, 2006,

p. 15-38.

MAIO, E. R. O nome da coisa. Maringá: Unicorpore, 2011.

MOURA, I.; LEITE, M. T.; HILDEBRANT, L. M. Idosos e sua percepção acerca da sexualidade na velhice. Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano. v.5, n.2, p. 132-140, 2008.

NEGREIROS, T. C. de G. M. Sexualidade e gênero no envelhecimento. Revista Alceu, v.5, n°.9, 2004.

POTTES, F.A.; BRITO, A.M.; GOUVEIA, G.C.; ARAÚJO, E.C.; CARNEIRO, R.M. AIDS e envelhecimento: características dos casos com idade igual ou maior que 50 anos em Pernambuco, de 1990 a 2000. Rev Bras Epidemiologia, v.10(3), p.338-51, 2007.

RISMAN, A. Sexualidade e Terceira Idade: uma visão histórico-cultural. Textos Sobre

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