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Palavras-chave: Adolescente; Saúde pública; Atividade física

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Academic year: 2021

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RESUMO

O objetivo do presente estudo foi verificar a associação entre a percepção das características da praça/parque (estrutura, conservação, estética, segurança, distância da residência e acesso) e atividade física em escolares do ensino médio da rede pública. Trata-se de um estudo transversal, com abordagem quantitativa, envolvendo amostra aleatória de 168 adolescentes (40,3% adolescentes do sexo masculino), de 14 a 18 anos de idade, do ensino médio da cidade de Passo Fundo, RS, Brasil. A percepção das características da praça/parque foi avaliada através de seis questões referentes ao bairro em que os escolares residiam. A atividade física foi mensurada por meio de uma pergunta adotada no Sistema de Monitoramento de Comportamentos de Risco em Jovens, aqueles que responderam que realizavam atividade física cinco vezes semanais ou mais, foram classificados como suficientemente ativos. Na análise dos dados foram aplicados procedimentos de estatística descritiva, teste de qui-quadrado de Pearson e regressão de Poisson, com matriz de covariância robusta. Os resultados da análise ajustada indicaram que os adolescentes que responderam que a praça/parque não é longe de sua casa apresentaram uma razão de prevalência 2,82 (IC95%: 1,31-11,22). Conclui-se que perceber a presença de praça/parque próximas do local de residência aumenta a probabilidade de prática de atividade física.

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INTRODUÇÃO

A atividade física (AF) é importante para diversos aspectos do desenvolvimento humano, como os de aprendizagem, de locomoção e principalmente aqueles relacionados a saúde1. Adicionalmente, o não cumprimento dos padrões de AF recomendados à saúde (OMS) está relacionado a ocorrências de doenças crônicas não transmissíveis, como obesidade, diabetes tipo II e hipertensão arterial2–4. Todavia, vem aumentando o número de pessoas com baixos níveis de AF, variando entre 40% a 80% em adolescentes5.

A crescente conscientização mundial a respeito do significativo impacto da AF na saúde tem despertado grande interesse acerca de como as características do ambiente, como praças e parques, influenciam na prática de AF em adolescentes6. Sobre isso, estudo de revisão demonstrou que instalações de caminhada ou bicicleta, velocidade e volume de tráfego, segurança no transito e acesso a instalações, são questões referentes a percepção do ambiente em adolescentes associados com a AF reportada7. No Brasil, a abordagem desse tema vem aumentando mais recentemente e as referências são escassas. Ainda assim, indicam que algumas características ambientais que tornam o bairro mais atraente, além da distância e quantidade das instalações de lazer, interferem na prática de AF8-10.

Acerca desses aspectos, é necessário reconhecer ainda que são muitos os fatores intervenientes11,12. Não se trata de um fenômeno de simples abordagem. Não basta exclusivamente responsabilizar os sujeitos por não frequentarem os espaços públicos e por não praticarem atividades físicas. Da mesma forma, não é sensato responsabilizar exclusivamente os avanços tecnológicos. As políticas públicas também assumem responsabilidades significativas neste contexto e devem ser formuladas na perspectiva de fornecer meios de promoção de AF, sendo que a utilização dos espaços públicos pode contribuir para o alcance desse objetivo13. Isso porque caracterizam-se como espaços não dispendiosos, possibilitando o

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acesso às pessoas de diferentes níveis socioeconômicos6,14. Além disso, os ambientes públicos, como praças e parques são apontados como locais propícios para o lazer ativo.

Justifica-se a relevância desse estudo, pois é importante conhecer a percepção das pessoas acerca do ambiente onde vivem levando em conta as especificidades de cada cidade. Dessa forma, pretende-se trazer novas contribuições sobre a AF e percepção do ambiente em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, já que os estudo de maior destaque nessa área foram desenvolvidos em cidades de grande porte. A partir disso, poderão ser desenvolvidas ações públicas que melhorem as condições desses ambientes e que estimulem sua utilização, aumentando assim o nível de AF e consequentemente acarretando benefícios à saúde dos adolescentes. Dessa forma, o objetivo do presente estudo é verificar a associação entre a percepção das características da praça/parque (estrutura, conservação, estética, segurança, distância da residência e acesso) e atividade física em escolares do ensino médio da rede pública.

MÉTODOS

Local e participantes do estudo

Estudo realizado na cidade de Passo Fundo, localizada no Planalto Médio, ao norte do estado do Rio Grande do Sul. A cidade conta com uma população de 184.826 habitantes (ano 2010), área de unidade territorial é de 783,421 km² e 235,92 habitantes/km² de densidade demográfica15. Conforme, dados da Secretaria de Planejamento do município de Passo Fundo, a cidade possui em torno de 44 espaços públicos de lazer sendo identificados 43 praças e um parque público.

O presente estudo é de associação com abordagem quantitativa. A população foi composta por aproximadamente 4.599 estudantes (conforme 7˚ Coordenadoria Regional de Educação) de um total de 15 escolas públicas de ensino médio da cidade de Passo Fundo.

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A seleção da amostra do tipo aleatória ocorreu da seguinte forma: Inicialmente, a cidade foi dividida em cinco regiões (norte, sul, leste, oeste e centro), a partir disso foram selecionadas duas escolas por região através de sorteio. Desse modo, foram obtidas dez escolas. Posteriormente, foi sorteada uma turma de ensino médio em cada escola (podendo ser primeiro, segundo ou terceiro ano), sendo que todas as turmas das escolas selecionadas participaram do sorteio. Portanto, os alunos que apresentaram o termo de consentimento livre e esclarecido foram incluídos na pesquisa.

O número mínimo de sujeitos da amostra foi calculada através do software G*Power versão 3.1. Para o cálculo amostral recorreu-se a um tamanho de efeito F de 0,15 (efeito médio correspondente a 1,7 em razão de prevalência), nível de significância 0,05, poder estatístico de 0,95, considerando o nível de atividade física como variável dependente, onde os modelos de regressão de Poisson Log foram trabalhados com aproximadamente 5 preditores e um acréscimo de 20% para suprir possíveis perdas e recusas. Com base nesses critérios, chegou-se a um tamanho amostral mínimo de 168 adolescentes.

Os alunos da turma sorteada, foram convidados a participar do estudo, sendo que os critérios de inclusão foram: a) estar dentro da faixa etária de 14 a 18 anos; b) apresentar o termo de consentimento livre e esclarecido assinado por um responsável; e c) assinar o termo de assentimento manifestando vontade de participar. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob número 888.090.

Instrumentos de pesquisa

O instrumento de pesquisa utilizado foi um questionário semiestruturado. A variável dependente AF foi avaliada através da pergunta, traduzida para o português e adotada no Sistema de Monitoramento de Comportamentos de Risco em Jovens16. Essa medida apresenta

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validade concorrente aceitável e altos valores de reprodutibilidade17. “Em uma semana normal, quantos dias você realiza atividade física em seu tempo livre por pelo menos 60 minutos? (Apenas considere as atividades físicas que aumentem sua frequência cardíaca e que fazem você respirar mais rápido que o normal)” Essa questão tinha como possibilidade de resposta, 0 até 7 vezes por semana, sendo classificados como insuficientemente ativos aqueles que responderam entre 0 e 4 vezes e como suficientemente ativos igual ou superior a 5, correspondendo as recomendações de AF entre os jovens18.

As características da praça/parque (variáveis independentes) foram avaliadas através de seis questões referentes ao bairro em que os escolares residem, baseadas nos itens do instrumento Neighborhood Environment Walkability Scale for Youth (NEWS-Y)19. Estas se referem respectivamente à: estrutura, conservação, estética, segurança, distância da residência e acesso. 1) “Na praça/parque mais perto de sua casa tem estrutura para fazer aquilo que você gosta?” 2) “A praça/parque mais perto de sua casa é mal cuidado?” 3) “A praça/parque mais perto de sua casa é feia?” 4) “A praça/parque mais perto de sua casa é perigosa no horário que você vai?” 5) “A praça/parque é longe de sua casa?” 6) “A praça/parque é difícil de chegar?”. Essas perguntas tinham como possibilidade de resposta a forma dicotômica, sim e não.

O nível socioeconômico, considerado como covariável, foi avaliado pela quantidade de posse de itens em suas residências e escolaridade do pai ou responsável. Através dos critérios estabelecidos pela Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa20, foi considerado a posse de itens no ambiente doméstico e o grau de instrução do chefe de família para classificar as seguintes classes econômicas: A1, A2, B1, B2, C1, C2, D, E. Para as análises as classes foram agrupadas em: baixo (C1+C2+D+E), médio (B1+B2) e alto (A1+A2).

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Análise estatística

A análise estatística foi realizada através de descrição das características da amostra, no que se refere a idade, sexo, nível socioeconômico, prática de AF e as variáveis da percepção das praças/parques. A partir de então, verificou-se de forma exploratória a associação entre essas variáveis com a AF, utilizando o teste de Qui-quadrado de Pearson, foram calculadas as razões de prevalência nas respostas das variáveis de percepção e AF, para tais análises adotou-se um alfa <0,05. O nível sócio econômico foi transformado em resposta dicotômica (baixo/médio e alto), sua associação também foi testada através do Qui-quadrado. A idade dos escolares foi associada à variável dicotômica da AF pela correlação de Spearman. Aquelas variáveis que se associaram significativamente com a AF, foram incluídas como variáveis independentes em uma regressão de Poisson, de forma isolada (valor bruto). Diferentes modelos foram testados afim de verificar, através dos critérios Aikake Information Criterion (AIC) e Bayesiano Information Criterion (BIC), o modelo mais adequado. Além disso, foram apresentados os valores de alfa e intervalos de confiança (95%). Todas a análises foram realizadas no software IBM SPSS versão 20.0.

RESULTADOS

Foram avaliados 176 escolares com idades entre 14 a 18 anos. Na tabela 1 são apresentadas as características da amostra, assim como a percepção sobre o parque/praça. Observa-se que a grande maioria dos escolares são de nível socioeconômico baixo e médio e 23,2% dos alunos foram considerados como suficientemente ativos. Ademais, a maioria dos adolescentes percebem que as praças/parques não tem estruturas, são mal cuidados, não são feias, não são perigosos, não são longe de casa e não são difíceis de chegar.

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Tabela 1. Descrição das características da amostra e da percepção da praça/parque de 176

escolares do município de Passo Fundo-RS, 2014.

N % (IC 95%) Características da amostra Sexo Masculino 71 40,3 (33,5 – 48,3) Feminino 105 59,7 (51,7 – 66,5) Idade (anos) 14 6 3,4 (1,1 – 6,3) 15 59 33,5 (26,7 – 40,3) 16 74 42,0 (34,7 – 48,9) 17 33 18,8 (13,1 – 25,0) 18 4 2,3 (0,6 – 5,1) Nível Socioeconômico* Baixo 58 37,2 (30,1 – 44,9) Médio 90 57,7 (50,0 – 65,4) Alto 8 5,1 (1,9 – 9,0) Atividade Física** Suficientemente ativos 35 23,2 (16,2 – 29,8) Insuficientemente ativos 116 76,8 (70,2 – 83,4) Percepção do ambiente Tem estrutura Sim 67 48,6 (40,6 – 57,2) Não 71 51,4 (42,8 – 59,4) É mal cuidado Sim 70 52,6 (44,4 – 60,9) Não 63 47,4 (39,1 – 55,6) É feio Sim 58 42,3 (34,3 – 50,4) Não 79 57,7 (49,6 – 65,7) É perigoso Sim 28 23,1 (15,7 – 30,6) Não 93 76,9 (69,4 – 84,3) É longe de casa Sim 56 38,9 (30,6 – 47,2) Não 88 61,1 (52,8 – 69,4) É difícil de chegar Sim 15 10,3 (6,2 – 15,9) Não 130 89,7 (84,1 – 93,8)

n: valor absoluto; %: valor relativo; IC95%: intervalo de confiança de 95%; *Nível Socioeconômico: Baixo (C1+C2+D+E), Médio (B1+B2), Alto (A1+A2); **Atividade física: Suficientemente ativos (≥300 minutos/semana) Insuficientemente ativos (<300 minutos/semana).

Na tabela 2 constam as associações entre os escolares considerados suficientemente ativos com as variáveis de percepção da praça/parque e também as covariáveis do estudo (nível socioeconômico, sexo e idade). Ressalta-se que foi encontrada associação entre perceber que a

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praça/parque não é longe de casa aumenta em 2,84 (IC:1,13-7,15) vezes a probabilidade dos alunos serem suficientemente ativos. Adicionalmente, os alunos que são de nível socioeconômico alto têm uma razão de prevalência de 12,2 (IC:2,30-63,70) vezes de estarem na categoria suficientemente ativos em relação aqueles com médio/baixo nível socioeconômico.

Tabela 2. Associação entre a percepção da praça/parque e covariáveis com os escolares

considerados suficientemente ativos do município de Passo Fundo-RS, 2014.

Atividade Física Percepção da praça/parque Escolares suficientemente ativos n (%) Escolares Insuficientemente ativos n (%) Razão de Prevalência (IC:95%) Valor p Tem estrutura 0,56 Sim 15 (51,7) 47 (45,6) 1,21 (0,55-2,90) Não 14 (48,3) 56 (54,4) 1 É mal cuidado 0,72 Sim 13 (50,0) 55 (53,9) 1 Não 13 (50,0) 47 (46,1) 1,17 (0,49-2,77) É feio 0,69 Sim 14 (46,7) 43 (42,6) 1 Não 16 (53,3) 58 (57,4) 0,84 (0,37-1,92) É perigoso 0,48 Sim 4 (16,7) 24 (26,1) 1 Não 20 (83,3) 68 (73,9) 1,76 (0,54-5,60) É longe de casa? 0,02 Sim 7 (21,9) 47 (44,3) 1 Não 25 (78,1) 59 (55,7) 2,84 (1,13-7,15) É difícil de chegar 0,76 Sim 3 (9,4) 12 (11,2) 1 Não 29 (90,6) 95 (88,8) 1,22 (0,32-4,60) Covariaveis Nível socioeconômico Alto 6 (17,6) 2 (1,7) 12,2 (2,30-63,70) 0,01 Médio/baixo 28 (82,4) 114 (99,3) 1 Sexo Masculino 17 (48,6) 41 (35,3) 1,72 (0,80-3,70) 0,15 Feminino 18 (51,4) 75 (64,7) 1 Rô Idade x AF 151 (100%) -0,05 0,54

n: valor absoluto; %: valor relativo; AF: atividade física;

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Os resultados da regressão indicaram que os alunos que responderam que a praça/parque não é longe de sua casa apresentaram entre 2,29 (IC:1,06-4,93) e 2,82 (IC:1,31-6,11) vezes mais chance de serem suficientemente ativos, considerando os 4 modelos de regressão. O melhor modelo foi o ajustado para nível socioeconômico e sexo (RP: 2,82; IC:1,31-6,11).

Tabela 3. Diferentes modelos de regressão entre ser suficientemente ativos e a percepção da

distância da praça/parque até a residência de 137 escolares do município de Passo Fundo-RS, 2014.

Ser Suficientemente Ativos RP IC95% Inferior IC95% Superior P Modelo 1*

O parque/praça é longe de sua casa?

Sim 1

Não 2,29 1,06 4,93 0,03

Modelo 2**

O parque/praça é longe de sua casa? Sim Não 1 2,82 1,31 6,11 0,01 Modelo 3***

O parque/praça é longe de sua casa?

Sim 1

Não 2,46 1,10 5,53 0,02

Modelo 4****

O parque/praça é longe de sua casa?

Sim Não

1

2,74 1,25 6,02 0,01

Modelo 1*: valor bruto, AIC: 157,2 BIC: 163,05; Modelo 2: ajustado para o nível socioeconômico e sexo, AIC: 148,4 BIC: 160,13; Modelo 3: ajustado para nível socioeconômico e idade, AIC: 150,3 BIC: 162,0; Modelo 4: ajustado para nível socioeconômico, sexo e idade, AIC: 149,6 BIC: 164,2; RP: Razão de prevalência.

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DISCUSSÃO

O resultado de maior relevância desse estudo foi que a percepção de distância do parque ou praça com relação a residência do adolescente se associou com a AF. Ou seja, o indivíduo que não percebe a praça/parque longe de sua casa apresentou chance média de 2,29 (IC:1,06-4,93) vezes de ser suficientemente ativo em relação aos que reportaram perceber a praça/parque como longe de sua casa. Além disso, quando ajustado para sexo e nível socioeconômico, a chance de ser suficientemente ativo aumentou em média 2,82 (IC:1,31-6,11) vezes.

Sendo assim, o adolescente que constata a disponibilidade de praças/parques próximos a sua residência, pode atingir maiores níveis de AF, considerando sexo e nível socioeconômico essa associação aumenta. Nessa perspectiva, pesquisa realizada nos Estados Unidos, corroborou com os achados do presente estudo, indicando que as meninas que percebiam a proximidade da distância a um parque, trilha de caminhada ou corrida e centro recreativo foram associadas com a recente utilização desses recursos21. Outro estudo realizado na Holanda, identificou que os adolescentes que percebem a existência de um parque no seu bairro foram associados com a prática de esporte e com a AF de lazer22. No Brasil, os dados disponíveis a esse respeito são escassos, entretanto no estado do Paraná existem algumas investigações nessa linha, apontando que além das praças, a distância até outras instalações como ginásio e ciclovia se associam com a prática de AF8.

Por outro lado, pesquisas desenvolvidas no Canadá23 e em Portugal24, não encontraram associação entre a distância dos espaços públicos até a residência dos adolescentes com a AF. Essas discrepâncias podem ser decorrentes dos diferentes métodos de avaliação utilizados e das diferentes características dos países. Entretanto, cabe salientar que a presente investigação foi ao encontro do único estudo brasileiro que se têm conhecimento, sendo que ambos possuem características culturais e de avaliação dos sujeitos semelhantes8.

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O melhor modelo de regressão encontrado, ajustado para sexo e nível socioeconômico, aumentou a associação entre a distância da residência e a prática de AF. De fato, a literatura parece demonstrar que os meninos são mais ativos que as meninas e que os adolescentes de maior nível socioeconômicos são mais ativos25. Ressalta-se ainda, que o presente estudo demonstra que os alunos de nível socioeconômico alto têm uma razão de prevalência de 12,2 (IC:2,30-63,70) vezes de estarem na categoria suficientemente ativos. Denota-se que apenas seis escolares estavam nessa categoria, e que a grande maioria dos alunos era de nível socioeconômico médio/baixo, portanto essa razão de prevalência pode ter sido superestimada. Todavia, um estudo demonstra que crianças (10 a 15 anos) de nível socioeconômico alto registraram encontrar menor número de barreiras com relação a participação em esportes26, fato que corrobora a presente pesquisa.

Ainda, se verificou que as outras formas de percepção dos ambientes avaliados (estética, estrutura, segurança e acesso) não se associaram com a AF. Entretanto, algumas pesquisas apontam a influência desses aspectos sobre a AF7. Foi encontrada associação entre a percepção positiva do ambiente no bairro com a AF de adolescentes Ingleses, quando consideradas as instalações dos locais, estética do bairro, tráfego, crime, acessibilidade para caminhada e ciclismo e tipos de habitação27. Adicionalmente, a percepção positiva dos adolescentes sobre o ambiente teve associação com maior AF10. De acordo com Janssen et al.,28 aqueles adolescentes que percebiam maior insegurança no ambiente da vizinhança tinham menor chance de realizar AF. Outros estudos também concluíram que a percepção de insegurança é um fator interveniente para a prática de AF em espaços públicos29,30.

Essas divergências se explicam porque a maioria dos escolares avaliados reportou não haver perigo nos espaços públicos, possivelmente por se tratar de uma cidade do interior, onde os índices de criminalidade são menores, o que de fato diverge de pesquisa internacional28. Além das discordâncias atribuídas, as diferenças étnicas e regionais também podem interferir

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nas questões estudadas, tais como estética, estrutura, segurança e acesso, pois cada local tem suas especificidades e as pessoas percebem as características avaliadas de maneira diferente.

Dessa forma, a principal contribuição desse estudo é ressaltar a percepção da distância da praça/parque com a sua utilização para a prática de AF, visto que a proximidade aumenta em torno de três vezes a chance de ser fisicamente ativo, quando ajustado para sexo e nível socioeconômico. A partir disso, como aplicações práticas, os gestores públicos terão acesso a dados concretos, que reforçam a importância desses aspectos e poderão direcionar recursos para investir nesses locais. Assim, os adolescentes terão oportunidade de frequentar ambientes agradáveis e com qualidade, que propiciem melhores condições para a prática de AF, contribuindo para a saúde. Corroborando, estudo destaca a importância da avaliação e impacto das políticas de AF, sendo de extrema importância pois podem contribuir ou melhorar as intervenções em AF no Brasil13. Ademais, a prática de AF é dependente de outras variáveis, além de apenas a vontade do sujeito12. Por isso, é necessário que existam planejamentos prévios e mais estudos que investiguem as relações dos adolescentes com os locais onde moram. Afim de que sejam elaboradas estratégias que visem não apenas construir estruturas para a realização de AF, mas que se atribua a esses ambientes características para os indivíduos se identificarem e frequentarem as praças e parques, usufruindo desses se próximos de suas residências.

Apesar da pertinência desses resultados, devem ser levadas em conta algumas limitações. O delineamento transversal utilizado não permite determinar causa e efeito. A AF foi avaliada de forma indireta e não foi mensurada a intensidade, assim como não foram levados em conta os domínios da AF. Além disso, o método de avaliação utilizado para avaliar a percepção da praça/parque trata-se de um questionário que é uma medida subjetiva, entretanto, foi a melhor forma encontrada para responder a questão de pesquisa. Por fim, a limitação no tamanho e características da amostra dificulta extrapolar os resultados para outras populações, já que foram analisados apenas escolares da rede pública de ensino.

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A partir das discussões supracitadas, conclui-se que a percepção da distância entre as praças/parques e as residências dos adolescentes influencia na prática de AF, sendo que aqueles que reportaram que a praça/parque não era longe de casa tiveram maior chance de ser suficientemente ativos. Ainda, o melhor modelo encontrado foi o que considerou sexo e nível socioeconômico. Não foi encontrada associação entre as características de estrutura, conservação, estética e acesso e AF de adolescentes.

Declaração de conflito de interesse: Nada a declarar.

Fonte financiadora: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq). Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Contribuição dos autores

Arieli Fernandes Dias participou da criação do projeto, coleta dos dados, análises dos dados, interpretação dos resultados e escrita do artigo; Caroline Brand participou da análise dos dados, interpretação dos resultados e escrita do artigo; Vanilson Batista Lemes participou da análise dos dados, interpretação dos resultados e escrita do artigo; Anelise Reis Gaya participou da análise dos dados, interpretação dos resultados, escrita do artigo e revisão da versão final; Adroaldo Cezar Araujo Gaya participou da criação do projeto, interpretação dos resultados, análise de cunho epistemológico e metodológico do artigo e revisão da versão final.

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Referências

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