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MELO, José Marques. História do pensamento comunicacional: cenários e personagens. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2007.

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A comunicação a partir

do olhar latino-americano

MELO, José Marques. História do pensamento comunicacional: cená-rios e personagens. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2007.

Em um mundo globalizado e permeado pela comunicação, as teorias e teses oriundas do meio científico nos mais diversos campos do conhecimento afloram cada vez mais e, ao mesmo tempo, estão mais visíveis. São em tão grande quantidade que se pode dizer metaforicamente que vivemos em uma “maré de lua cheia”: volumosa, com muitas ondas e turbulenta.

Na área dos estudos da Comunicação, muitos trabalhos são publicados a cada ano, seja em papel ou na web. Vivemos uma fase altamente produtiva, o que é muito positivo não apenas para a Academia, mas também para o mercado, que bebe do conheci-mento construído a partir das universidades, centros de estudos e outras instituições reconhecidas cientificamente. O perigo reside em nos afogarmos nesse mar que se agiganta aos nossos olhos. É preciso saber navegar conhecendo as ondas. Mais do que isso: é preciso conhecer os afluentes históricos que abastecem esse “mar” e as novas nascentes dos “rios” que correm para ele. Como um “velho capitão do mar” dos estudos comunicacionais, José Mar-ques de Melo é o timoneiro indicado para guiar os interessados em conhecer melhor o campo da comunicação. O livro pode ser con-siderado uma “carta náutica do pensamento científico da comuni-cação”, essencial para estudantes, professores, profissionais da comunicação ou mesmo os curiosos da área.

A obra de José Marques é de leitura fluida, conduzindo o leitor às diversas paisagens históricas e contextos do pensamento comunicacional de forma harmoniosa. Para compreender como se

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deram as passagens e a evolução do pensamento comunicacional é imprescindível saber a historicidade, cenários e contexto social de cada época. Destarte, o livro se faz necessário e útil. Nele é narrada e refletida a história e as controvérsias comunicacionais presentes até hoje no cenário dos estudos da Comunicação.

Muito do que está na obra é transcrição dos escritos em datas distintas e falas do autor em eventos da comunicação ocor-ridos no Brasil e exterior, o que obriga o leitor a estar atento ao contexto da época em que foram publicados os textos ou reali-zadas as conferências. Essa característica, no entanto, tem a van-tagem de oportunizar a quem não participou dos eventos o co-nhecimento do que foi proferido na ocasião.

O que motivou José Marques a publicar a coletânea foi a intenção de reforçar a auto-estima dos pensadores latino-ameri-canos que não se intimidam nem se deixam diminuir pelas idéias de pensadores “forâneos” (termo cunhado pelo autor para se referir ao pensamento construído a partir de bases européias e norte-americanas). Entretanto o livro faz bem mais do que isso. Ele mapeia os caminhos trilhados pelos estudos da comunicação que, por serem alvo das mais diversas áreas do conhecimento, sempre estiveram sujeitos a “ataques” e enfrentam problemas históricos no que tange à legitimação acadêmica e científica.

Para José Marques de Melo, o desafio neste século tem sido o de manter a identidade cultural e, ao mesmo tempo, ousar como forma de garantir a inserção na aldeia global. Marques nos assegura de que a pesquisa da comunicação na América Latina vem mesclando com sucesso os paradigmas norte-americanos e os postulados europeus, fazendo ao mesmo tempo adaptações às realidades regionais, sobrepujando a dicotomia entre a pesquisa crítica e a administrativa, e as metodologias quantitativa e quali-tativa. “Construímos uma via latino-americana para estudar e interpretar os processos comunicacionais antecipando-nos talvez à superação dos tabus impostos pela Guerra Fria e pelas barrei-ras criadas entre as humanidades e as ciências sociais” (p. 81).

Como se situa, no entanto, o pensamento comunicacional brasileiro em relação ao latino-americano? A resposta a essa per-gunta está situada no livro, que explica não apenas como “estamos

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na foto”, mas como se deu a construção desse espaço enfrentando e superando problemas, inclusive os relacionados com o período de repressão política. É delineado também o papel dos grupos denominados pioneiros, inovadores e renovadores nessa constru-ção. A expectativa agora é de que os caminhos abertos por eles sejam instigadores e inspirem as novas gerações a avançar no conhecimento de problemáticas comunicacionais.

José Marques de Melo leva-nos a refletir sobre a responsa-bilidade ética e a importância dos pesquisadores da comunicação na construção de uma sociedade mais justa e solidária. Esse caráter humanista é essencial para que os estudos à luz da ciência possam ser aplicados, principalmente na área do jornalismo, que passa por momentos de muita incerteza e quebra de paradigmas. O livro revela que as idéias pouco ortodoxas dos pioneiros depararam-se com a resistência no campo governamental e empresarial em seus próprios países de origem que não aceita-vam a neutralização do monopólio da comunicação. Marques aborda também os problemas com o modelo de ensino europeu e norte-americano que foi transplantado para os cursos de comu-nicação e que contemplavam a interdisciplinaridade; característica que fugia e ainda foge da tradição acadêmica brasileira, questão ainda inquietante para a academia.

No que se refere aos desafios das escolas de comunicação, o trabalho de José Marques de Melo é importante para compre-ender o fosso criado entre a pragmática – valorizada pelas em-presas – e a reflexão – pela academia. Entre as problemáticas e os desafios vividos no campo da academia está o da legitimação da pesquisa latino-americana, que só no final do século passado começou a ganhar reconhecimento nas instituições.

Uma boa notícia chama a atenção na obra de José Marques de Melo. Em suas jornadas acadêmicas por eventos em várias partes do mundo, ele percebeu que muitos alunos de Comunica-ção estão decididos a resgatar o trabalho de pensadores que não foram explorados a contento. Marques de Melo conta-nos o exemplo de estudantes mexicanos que resolveram resgatar as idéias de Marshall McLuhan (pensador canadense) realizando “um tipo de operação arqueológica, desencavando-as nos

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docu-mentos disponíveis e atualizando-as para uso numa conjuntura em que a ‘aldeia global’ se converte em realidade palpável” (p. 75). A iniciativa dos alunos não se restringe apenas ao resgate reparador. Eles estão usando a internet (que pode ser conside-rada um ícone da aldeia global) para disseminar e fortalecer cul-turas regionais que se encontram ameaçadas de homogeneização e empastelamento pela própria globalização.

No campo do conhecimento midiático brasileiro, José Marques de Melo revela que seu leitmotiv tem sido o de inventariar criticamente o conhecimento construído ao longo dos anos, desenhando os contornos das identidades, cultura e con-juntura histórica, relacionando esses fatores com os processos globais. Esse não é um projeto solitário. Pelo contrário, tem recebido a colaboração de muitos universitários. Daí a importân-cia de conhecer as metas e instrumentos de trabalho descritos no subitem 5 do capítulo 3. A nova investida de José Marques pro-porciona um duplo acréscimo ao conhecimento no campo dos estudos comunicacionais ao resgatar, evidenciar e refletir sobre as linhas históricas do pensamento comunicacional desenvolvido por brasileiros, excitando, ao mesmo tempo, a construção de novos conhecimentos sobre os fenômenos midiáticos.

No que se refere à compreensão de como as empresas de comunicação produtoras de bens simbólicos articulam identi-dades globais/nacionais e regionais, Melo trabalha com a hipó-tese de que o

sistema midiático brasileiro tem sido hábil na recepção de forma-tos e gêneros comunicacionais importados, aculturando-os ade-quadamente para a difusão no mercado interno, mas ao mesmo tempo tem sido capaz de universalizar os nossos regionalismos culturais, potencializando a inserção das multinacionais brasileiras no mercado internacional (p. 210).

É interessante perceber que a hipótese de Marques de Melo nos remete aos estudos da cultura na contemporaneidade relaci-onados aos fenômenos da desterritorialização (perda da relação natural da cultura delimitada social e geograficamente) que pode

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acontecer concomitantemente com a reterritorialização (quando se relocaliza territorialmente de forma parcial as produções sim-bólicas), realizando, assim, a hibridação, uma mistura de culturas. No caso a que José Marques se refere – o sistema midiático do Brasil – ocorre uma indigenização que proporciona aos pro-dutos simbólicos assumirem características locais. Hodier-namente, na construção de bens simbólicos da comunicação jornalística, talvez o exemplo mais marcante seja o webjor-nalismo, ou jornalismo digital, que, em uma determinada locali-dade, segue em alguns pontos os padrões técnicos do cibermundo, mas ao mesmo tempo reflete a cultura endógena e o que é absorvido a partir dos movimentos de transculturação. O resgate da memória do pensamento comunicacional feito por José Marques de Melo, relatando o contexto e a trajetória inte-lectual dos pensadores brasileiros, propicia o conhecimento para as novas gerações sobre quem são esses estudiosos, onde atuam, seus modelos paradigmáticos, interesse de pesquisa e como estão inseri-dos na comunidade científica em nível internacional. Desta forma, oferece subsídio para que, por meio desse conhecimento, sejam abertos novos caminhos a partir de um olhar original.

Os estudos na América Latina têm tido avanços considerá-veis. As concepções dos estudiosos do campo são reverberadas. No entanto, critica-se a falta de feedback dos pares. Neste sentido, o trabalho exercido por José Marques de Melo colabora no esfor-ço – que deve ser coletivo – para que o debate sobre os fenôme-nos midiáticos avance do ponto de vista acadêmico, superando os desafios de pesquisa e dicotomias teóricas próprios do campo.

Sônia Padilha

Doutoranda em Ciências da Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo. Mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP). Pesquisadora do Comtec - Grupo de Pesquisa em Comunicação e Tecnologias Digitais. Professora da Universidade Federal de Roraima.

Referências

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