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O TRABALHO INDUSTRIAL FEMININO: UMA ANÁLISE DO IMPACTO DA DESINDUSTRIALIZAÇÃO NO EMPREGO DAS MULHERES 1

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O TRABALHO INDUSTRIAL FEMININO: UMA ANÁLISE DO IMPACTO DA

DESINDUSTRIALIZAÇÃO NO EMPREGO DAS MULHERES1

Iriana Lima Cadó2 Luciana de Oliveira Silva3 Ana Paula Ribeiro Moreira4

INTRODUÇÃO

A recente crise econômica trouxe à tona um processo que muito se discute nos últimos anos, a desindustrialização. É fato que muitos postos de trabalho deste setor foram extintos, bem como empresas fechadas, isso traz um impacto na composição do trabalho formal no Brasil, e muitas vezes acaba por impactar mais diretamente sujeitos que têm sua inserção historicamente vulnerabilizada, como as mulheres. Portanto, o presente artigo tem como objetivo a investigação dos impactos da crise no setor industrial em função da empregabilidade feminina no setor, olhando para a composição do emprego como um todo e identificando se há segmentação por gênero e, se, estes setores são mais vulneráveis no desmonte da indústria no Brasil.

A mais recente crise econômica vivenciada no Brasil a partir do ano de 2014, foi responsável não somente pela maior e mais prolongada queda do PIB mas, também, pelo acelerado crescimento do desemprego no país (ROSSI; MELO, 2017).

A indústria de transformação vem perdendo participação no mercado de trabalho brasileiro, em janeiro de 2013, do total de pessoas empregadas no mercado formal, 21% estavam alocadas no setor industrial, já em outubro de 2018, esta proporção recuou para 18%. Não obstante ao fato de que, mesmo antes da recessão, a indústria já vinha perdendo espaço na composição do emprego, com a crise este processo degradou-se ainda mais. De fato, juntamente com a construção civil, o setor industrial foi o mais penalizado, com destruição de vagas em diversos meses entre 2015 e 2016. Mais recentemente, nota-se que, embora em recuperação, o ritmo de crescimento do emprego industrial vem perdendo intensidade. Na desagregação por subsetores, os dados mostram que, na margem, todos os segmentos da indústria de transformação apontam desaceleração nos seus saldos de criação de vagas em doze meses, com destaque negativo para o subgrupo “têxtil, vestuário e calçados”, com uma destruição de 37 mil postos de trabalho [...]. Todavia, o setor “mecânica, material elétrico, de

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Trabalho apresentado no Encontro Nacional sobre População, Trabalho, Gênero e Políticas Públicas, realizado na Universidade Estadual de Campinas, em Campinas, SP, entre os dias 27 a 29 de novembro de 2019.

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Mestranda em Desenvolvimento econômico pela UNICAMP. E-mail: iriana.cado@gmail.com

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Mestranda em Desenvolvimento econômico pela UNICAMP. E-mail: lucianadeosilva@gmail.com

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comunicação e transporte” é o que apresenta maior ritmo de recuperação. No acumulado em doze meses, verifica-se que, após registrar uma perda superior a 200 mil vagas de trabalho no início de 2016, este segmento vem retomando seu dinamismo, de modo que, em outubro de 2018, já apresentou um saldo de 20 mil novos empregos (IPEA, 2018, p. 13-14).

Historicamente, o emprego industrial é conhecido por possibilitar melhores condições em termos de direitos aos trabalhadores, isto porque, o nível de formalização dos postos de trabalho neste setor é alto, o percentual de empregados com carteira na indústria de transformação alcançou no 1o trimestre de 2019 o percentual de 63,3%, patamar acima da média do setor privado como um todo (40,6%), colocando os sujeitos sob o guarda-chuva da legislação trabalhista. Além disso, são categorias que costumam estar subsidiadas pela organização sindical, que acaba por garantir a promoção e ampliação dos interesses das categorias, assim o emprego industrial é conhecido por seu maior potencial organizativo em comparação com os demais setores.

Diversos estudos têm discutido a inserção da mulher no mercado de trabalho, procurando demonstrar, identificar, investigar e interpretar as diferenciações que permeiam as condições de inserção entre os gêneros na esfera produtiva. A desigualdade de gênero na sociedade e consequentemente no mercado de trabalho, começa a ser fortemente questionada a partir dos estudos de Danièle Kergoat e Helena Hirata (2007), o qual concretizam a noção de “divisão sexual do trabalho”, este conceito explica que as relações econômicas e sociais se fundamentam na articulação de duas esferas: a da produção e a da reprodução. Assim, muitas vezes, as justificativas para a discriminação na contratação e os diferenciais de rendimento residem – sobretudo – na forma sexualmente segregada com a qual homens e mulheres participam das esferas produtivas e reprodutivas da sociedade.

É possível observar, portanto, que o mercado de trabalho acaba por se conformar também em função da divisão sexual do trabalho, havendo então trabalho de homem e trabalho de mulher. O emprego industrial também é segmentado em torno do sexo, de acordo com as pesquisas como as de Leite (2003) e de Abramo (2005) evidenciam que as mulheres são minoritárias nas grandes indústrias e sua presença cresce nas pontas das cadeias produtivas, nas atividades “labour-

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De acordo com os dados da PNAD é possível observar que no início da crise em 2015 há uma aproximação nas taxas de desocupação entre homens e mulheres, isto porque, setores que são historicamente hegemonizados pela mão de obra masculina é que foram os mais afetados, os três grandes grupos de atividade econômica (Agropecuário, Indústria e Construção) sofreram forte retração, a agropecuária sofreu uma variação de -11,1% entre 2012- 2016, e a Indústria e a Construção de -10,2% e -0,8% respectivamente. Tendo assim a segmentação por gênero de mercado de trabalho “protegido‟ o emprego feminino neste primeiro momento.

A proposta deste artigo é olhar para dentro do setor industrial para caracterizar o movimento do emprego feminino mediante à retração do emprego deste setor frente ao movimento de desindustrialização o qual o país perpassa entre 2014-2018. A primeira parte trata da caracterização da recente crise econômica e seus desdobramentos para a atividade industrial. A segunda discute o processo de segmentação do mercado de trabalho por gênero tendo como pano de fundo a discussão acerca da divisão sexual do trabalho. A terceira lançaremos mão dos dados da pesquisa nacional de amostras de domicílio (PNAD) para verificarmos o movimento do trabalho industrial em função do gênero entre 2014-2019. E por fim, as considerações finais do que foi apresentado.

CRISE ECONÔMICA E NÍVEL DE ATIVIDADE INDUSTRIAL NO BRASIL (2014-2018)

Sempre que se fala em desenvolvimento econômico, é necessário tocar na questão do nível de industrialização, principalmente quando se trata de um contexto de crise econômica, que é quando se observa a elevação do nível de desemprego (HIRATUKA; SARTI, 2015).

A partir dos anos 2011/2012, o Brasil incorpora uma série de políticas denominada de Nova Matriz Econômica, que abrangia a redução da taxa de juros, controle dos investimentos, aumento de gastos, concessões de subsídios e intervenção nos preços (BARBOSA FILHO, 2017). Essa combinação entre política monetária e política fiscal foi, na visão de Barbosa-Filho (2017) o que desencadeou o período de recessão que se seguiu, proporcionando choques de oferta e demanda na economia brasileira.

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Nesse sentido, a situação de crise econômica enfrentada pelo Brasil, a partir do ano de 2014, não pode ser analisada de forma simplista, tampouco é permitido se desviar das áreas mais complexas exploradas pelos economistas. As sucessivas quedas do PIB, a desaceleração econômica e a perda do seu dinamismo, o conjunto de medidas de austeridade adotadas pelo governo, etc.: tudo isso deve compor a presente pesquisa.

O Gráfico 1 apresenta a taxa de variação do índice de volume trimestral do PIB a preços de mercado e do setor da indústria de transformação, pegando os primeiros trimestres desde 2010 até 2018, observando a queda dos níveis a partir de 2014, quando a situação de crise econômica começa a tomar forma:

GRÁFICO 1 – Taxa de variação do índice de volume trimestral (2010-2018)

Fonte: IBGE. Elaboração própria.

Ainda sobre as mudanças com relação ao período anterior à crise, a indústria brasileira presenciou uma retração considerável da demanda doméstica. O cenário recessivo se agrava particularmente a partir de 2014 com a queda dos preços das commodities, especialmente do petróleo, alimentos e minério de ferro, e com a parcial interrupção do fluxo de investimentos da Petrobrás em decorrência da “Operação Lava Jato”. A crise da indústria de transformação, entretanto, mostrou-se mais aguda e anterior a dos demais setores. O crescimento do valor adicionado pela indústria de transformação, que já vinha crescendo a taxas inferiores, apresentou também a retração mais acentuada no período recente (ALMEIDA; NOVAIS; ROCHA, 2016, p. 3).

Apesar de uma reversão da queda do PIB no último trimestre de 2013 – que registrou um aumento de 0,7% ante ao período anterior – esse resultado não alterou a situação geral da atividade econômica no começo de 2014. Além disso, a elevada

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volatilidade dos indicadores persistiu, principalmente daqueles relacionados à indústria:

Essa volatilidade indica que o comportamento da atividade tem sido bastante sensível a fatores pontuais, entre os quais é possível citar o excepcional crescimento da safra agrícola; os incentivos à aquisição de bens de capital em condições especiais – como aqueles relacionados ao Programa de Sustentação do Investimento (PSI); e as idas e vindas do mercado automobilístico – em virtude, por exemplo, da expectativa do fim da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Esses fatores acabaram por ter grande influência sobre o crescimento, em virtude da desaceleração dos componentes tradicionalmente mais estáveis do PIB, a saber, o consumo das famílias e o consumo do governo. Ambos fecharam o ano com as menores taxas de crescimento dos últimos dez anos: 2,3% e 1,9%, respectivamente (IPEA, 2014a, p. 7).

O consumo das famílias, no primeiro trimestre de 2014, também vem perdendo o seu fôlego, seja pela desaceleração da concessão de crédito para o consumo, seja pelas taxas inflacionárias acima da meta. Apesar disso, este ainda representa o principal sustentáculo da atividade econômica (IPEA, 2014a).

A perda de dinamismo continua crescente, entre abril e maio de 2014 há uma queda da produção industrial (IPEA, 2014b), o que abaixa as expectativas de retomada do crescimento do PIB e, em meio a isso, o mercado de trabalho permanece apresentando bons indicadores, sob baixas taxas de desemprego (IPEA, 2014b).

O ano de 2014 se encerra, portanto, com um quadro preocupante, onde a atividade econômica encontra-se estagnada, sofrendo pressões inflacionárias – impactando sobre o consumo das famílias e enfraquecendo o desempenho da demanda – somado à elevação do déficit externo e ao crescimento do PIB menor do que o projetado por analistas no início do ano (IPEA, 2014b).

A Carta de Conjuntura, trimestralmente publicada pelo IPEA, já apontava, no segundo trimestre de 2015, que a economia brasileira passava por momentos complicados. A queda dos principais indicadores, solidificando mais uma queda do PIB, endossa a fragilização da economia brasileira (IPEA, 2015), a contrapartida encontrada pelo governo foi adotar um conjunto de políticas de austeridade econômica (ROSSI; MELO, 2017).

Esse conjunto de medidas, segundo Rossi e Mello (2017), buscava minar “desequilíbrios” presentes na economia brasileira tanto no âmbito das contas públicas quanto com relação à preços administrados, os autores ainda reforçam que,

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para alguns analistas, o fato do mercado de trabalho ainda operar sob bons indicadores, fomentava tais “desequilíbrios” e que, portanto, o aumento do desemprego e redução dos salários reais eram cogitados como uma forma de solução.

O consumo das famílias, no segundo trimestre de 2015, teve o seu pior desempenho desde 2003, acompanhando as quedas de gastos do governo, devido às incertezas do quadro político, tendem a baixar os níveis de confiança dos empresários, contraindo os investimentos (IPEA, 2015, p. 5):

A situação tornou-se mais difícil diante da eclosão de uma crise política de rara gravidade, aumentando a incerteza dos mercados sobre a capacidade de o governo aprovar medidas necessárias de política econômica. Esse complexo cenário político-econômico reflete-se diretamente nos diversos indicadores de confiança dos consumidores e dos empresários, que alcançam níveis historicamente baixos e sem sinais concretos de reversão, e ganha concretude no desempenho da atividade econômica, que deverá sofrer, neste ano, a maior retração dos últimos 25 anos.

No ano de 2016, com a mudança de governo, as estratégias econômicas tomam uma forma diferente, adquirindo caráter neoliberal, priorizando reformas estruturais e que buscam soluções no longo prazo (ROSSI; MELLO, 2017). Os referidos autores ainda reiteram que, os choques recessivos, em conjunto com as reformas, têm se provado medidas frustradas e incapazes de promover a retomada de crescimento econômico pelos próximos anos: “Para além do custo social, essa

estratégia econômica também estabelece novos parâmetros econômicos, a partir dos quais o crescimento econômico, quando vier, deve assumir um caráter mais concentrador de renda” (ROSSI; MELLO, 2017, p. 5).

Dessa forma, é em 2016 que as expectativas de melhora no quadro econômico se tornam ainda menores. Segundo o IPEA (2016), é nesta recessão que vemos o maior índice de endividamento das famílias e das empresas e, em decorrência disso, a maior parte da renda é comprometida, impactando na demanda, no consumo e no investimento.

Nesse sentido, os resultados do PIB reforçam e confirmam o fato de esta ser a crise econômica mais profunda e prolongada do país, o indicador citado, no último trimestre de 2016, apresenta queda em todos os setores da economia, mesmo na indústria, que vinha apresentando crescimento nos últimos dois trimestres (IPEA, 2016).

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O ano de 2017 entra e a economia brasileira consegue dar seus primeiros suspiros de retomada, apontando para um leve crescimento do PIB após oito trimestres de queda (IPEA, 2017). Isso, segundo o Instituto de Pesquisa em Economia Aplicada (2017), se deve às retomadas de confiança dos agentes econômicos devido: primeiro, à agenda de reformas levada adiante pelo Governo Federal; segundo, à queda da inflação, que promove a retomada dos gastos e do consumo das famílias; e terceiro, à elevação no preço das principais commodities no mercado internacional.

Nesse sentido, a retomada do crescimento é também facilitada pela atual capacidade ociosa da economia, que fomenta a esperança de crescimento no curto prazo sem que isso cause pressões inflacionárias (IPEA, 2017).

Entretanto, esse momento de “recuperação” deve ser visto com cautela, uma vez que está ancorado na PEC do teto e na esperança pela reforma da previdência em conjunto com uma taxa de juros neutra, para Barbosa-Filho (2017, p. 57):

A atual flexibilização da política monetária combinada com a redução do juro real de longo prazo fornece mais espaço para a redução de juros do Banco Central, iniciando uma recuperação cíclica com base na capacidade ociosa de nossa economia nos anos 2017 e 2018. No entanto, essa recuperação será um "voo de galinha" caso o país não eleve a taxa de crescimento de seu produto potencial.

Segundo o autor supracitado, uma vez que finalizada a capacidade ociosa, a economia brasileira estará refém do seu baixo potencial produtivo, o autor ainda ressalta algumas medidas que poderiam proporcionar o aumento da capacidade produtiva no país, tais como: menor intervenção do Estado na economia e a flexibilização das leis trabalhistas, com enfoque à terceirização das ocupações. Além disso, também para o IPEA (2015; 2017; 2018), tais reformas estruturais são imprescindíveis para a retomada do crescimento econômico no Brasil.

A Lei de Teto de Gastos (Emenda constitucional nº 95/2016 – EC95), aprovada em Outubro de 2016, corre o risco de não ser cumprida em 2018, ou seja, há o indício de que os gastos ultrapassem o valor estipulado como teto, como alerta o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2018) e, por tanto, a alternativa encontrada pelo instituto para que tal Lei seja cumprida nos próximos anos, é a imediata aprovação da reforma da previdência social e do controle na correção do salário mínimo nacional: “Para os próximos anos, a dificuldade para o cumprimento

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do teto de gastos tende a crescer na ausência de reformas que reduzam a velocidade de crescimento destes, pois o espaço para cortes de gastos não obrigatórios está se estreitando cada vez mais” (IPEA, 2018, p. 8).

Sobre a EC95, alguns pontos são importantes destacar. O primeiro deles é compreender que esse tipo de emenda prevê corte em gastos primários, tais como: saúde, educação, previdência, assistência social, cultura, defesa nacional etc. (ROCHA; MACÁRIO, 2016). Nesse sentido, pode-se compreender de quem esta lei serve aos interesses, uma vez que os gastos com juros e amortização da dívida pública não sofrerão quaisquer interferências ou controles.

Destinada a impor um limite nas despesas primárias, esta emenda tem como propósito garrotear as verbas destinadas aos serviços de interesse das camadas mais vulneráveis da população com o propósito de garantir recursos para o pagamento de juros da dívida, que, por sinal, é a verdadeira origem do déficit orçamentário brasileiro. Esta medida caminha de par com a manutenção de uma das maiores taxas de juros do mundo – que favorece ao setor financeiro e, principalmente, aos detentores de títulos da dívida pública (ROCHA; MACÁRIO, 2016, p. 447).

Um outro ponto importante, é a reflexão sobre como as camadas mais vulneráveis são colocadas na “linha de frente” quando o assunto envolve corte de gastos. Sacrificar e precarizar direitos básicos de todo cidadão é, sim, uma das principais formas de aumentar as desigualdades e cavar ainda mais profundo os abismos sociais que não têm sido enfrentados e combatidos nas suas estruturas.

Mais um ponto relevante é o que afirmam Rocha e Macário (2016) sobre o contínuo preterimento do fundo público em prol da valorização do capital, reforçando padrões de acumulação e a dominação financeira, e isso, dentro das questões sociais já tão enfrentadas no Brasil, terá um “efeito rebote” completamente negativo.

No seu último trimestre, 2018 apresenta um quadro macroeconomicamente volátil, e isso se deve, principalmente, pelas incertezas políticas e o instituto reforça, mais uma vez, a importância de uma reforma fiscal através da aprovação da reforma da previdência (IPEA, 2018).

A SEGMENTAÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO POR GÊNERO

A preocupação em torno das questões sobre as desigualdades de gênero no mercado de trabalho dá corpo ao arcabouço teórico da economia feminista, que se colocando contra a economia dominante, enfatiza o processo e as interações sociais

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como estruturantes da esfera material. Partem da premissa de que as relações econômicas se dão na articulação de duas esferas: a produtiva e a reprodutiva, aspectos subsidiados pelo conceito de “Divisão Sexual do Trabalho”.

O conceito de “divisão sexual do trabalho”, que chega ao Brasil com notável influência da Sociologia Francesa, se debruça na tentativa de romper com os paradigmas dominantes de análise das relações sociais incorporando a dimensão gênero à interpretação da sociedade, especialmente na esfera do trabalho. Segundo Hirata e Kergoat (2007) o sentido deste conceito tem por objetivo procurar as nascentes das desigualdades de gênero e, portanto, compreender a natureza do sistema.

[...] a forma de divisão do trabalho social decorrente das relações sociais entre os sexos; mais do que isso, é um fator prioritário para a sobrevivência da relação social entre os sexos. Essa forma é modulada histórica e socialmente. Tem como características a designação prioritária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva e, simultaneamente, a apropriação pelos homens das funções com maior valor social adicionado (políticos, religiosos, militares etc.). (...) Essa forma particular da divisão social do trabalho tem dois princípios organizadores: o princípio de separação (existem trabalhos de homens e trabalhos de mulheres) e o princípio hierárquico (um trabalho de homem “vale” mais que um trabalho de mulher) (HIRATA; KERGOAT, 2007, p. 599).

Ou seja, a divisão sexual do trabalho tem como princípio a separação – existe o trabalho reprodutivo que é o trabalho de cuidados e prioritariamente exercido na esfera doméstica e o produtivo aquele que resulta na produção de bens ou serviços com valor econômico no mercado, destinado às mulheres e homens respectivamente – e a hierarquização no qual as atividades exercidas pelos homens possuem maior valor do que o exercido pelas mulheres. É sob este espectro que mulheres e homens são socializados na estrutura familiar e nas outras instituições como igreja, escola, entre outros, constituindo o prisma da desigualdade sob o qual as mulheres são inseridas no mercado de trabalho. Este entendimento permite a análise mais profunda das relações de gênero na economia.

Dessa forma, as mulheres tendem a ocupar na esfera produtiva tarefas que se caracterizam por dois componentes: o primeiro deles é que estarem em atividades associadas às habilidades ditas “naturais” das mulheres, para Kergoat (2014, p. 15) “as mulheres são socializadas para acreditar que suas qualificações e

suas competências (destreza, habilidade, competência em matéria de cuidar...) são fatos da natureza e não da cultura”. O segundo componente reside na

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particularidade de serem esses trabalhos – não inconscientemente – os mais desvalorizados socialmente e os de menor remuneração. Nesse sentido, para Bruschini (1978, p. 8):

Enquanto isso o processo de socialização pelo qual passam os elementos do sexo feminino se encarrega de reforçar uma suposta tendência, na mulher, de se encaminhar para o trabalho em ocupações consideradas „femininas‟ o que também contribui para garantir a continuidade da participação da mulher em pequeno número de ocupações.

A divisão sexual do trabalho acaba por se desdobrar para mercado de trabalho, segmentando-o de forma que há trabalho de homem e trabalho de mulher associado a qualidades atribuídas ao sexo, ou seja, há trabalho de homens os que estão associados a força, inteligência, capacidade física, e trabalho de mulheres associados aos cuidados, ensino, minuciosidade de execução. Para Hirata (2002), a determinação do emprego masculino e feminino em função de habilidades ditas “naturais” de cada sexo, pode até se tornar uma certa proteção às tarefas executadas pelas mulheres. Para a autora “a especialização sexual do trabalho” ou em outros termos a segmentação do mercado de trabalho, previne da concorrência masculina o emprego das mulheres, pelo fato de demandar qualidades “femininas”. Em contrapartida estes postos são os mais desvalorizados nos indicadores de rendimentos, segundo Krein e Castro (2015, p. 7):

Ao naturalizar as habilidades necessárias para desempenhar uma determinada tarefa, acaba-se por desqualificar quem as realiza. A tendência que resulta dessa dinâmica é a massificação do uso da força de obra de mulheres em funções com tarefas repetitivas, baixa remuneração e condições precárias.

Atualmente, as justificativas para a discriminação na contratação e os diferenciais de rendimento residem – sobretudo – na forma sexualmente segregada com a qual homens e mulheres participam das esferas produtivas e reprodutivas da sociedade. Para Saffioti (1976), a condição inferior das mulheres na esfera produtiva é benéfica para o capitalismo, pois promove a extração do “máximo de mais-valia

absoluta através, simultaneamente, da intensificação do trabalho e da extensão da jornada de trabalho e de salários mais baixos que o masculino” (SAFFROTI, 1976, p.

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De acordo com Karamessini e Rubery (2014), o uso da mão de obra feminina muitas vezes é usado como artimanha no processo de redução dos custos do trabalho, estudos apontam que há um comportamento cíclico na incorporação de mão de obra feminina, sobretudo na indústria. Isto porque, se olharmos de perto a mão de obra feminina se concentra em setores denominados “labour-intensive”, ou seja, setores de menor tecnologia, pouco valor agregado e com menor remuneração, como a indústria têxtil. Em momento de crise, a autora aponta que há a tendência da incorporação da mão de obra feminina para os demais setores, justamente visando a redução dos custos com a deterioração dos termos de contratação, termos de trabalho ocupados historicamente pelas mulheres.

É possível observar, portanto, que a divisão sexual do trabalho tem a capacidade de se transformar em função da valorização do capital, e que ela assume outras modalidades, que variam grandemente no tempo e no espaço “o que

é estável não são as situações (que evoluem sempre), e sim a distância entre os grupos de sexo” (HIRATA; KERGOAT, 2007, p. 600). Nesse sentido, a divisão

sexual do trabalho não é neutra (NOGUEIRA, 2006), ela tem uma dimensão intencional que serve para que a discriminação de sexo possa ser melhor explorada no ambiente doméstico e do trabalho.

AS MULHERES NA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO NA CRISE

De acordo com o Gráfico 2, o total da força de trabalho ocupada no Brasil no período entre 2014-2019 se manteve por volta de 90 milhões de pessoas, sendo que em torno de 10 milhões de pessoas estiveram ocupadas na indústria de transformação.

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GRÁFICO 2 – Pessoas ocupadas no total da força de trabalho e na indústria de transformação entre 2014-2019- Brasil

Fonte: PNAD/IBGE. Elaboração própria.

No Gráfico 3 podemos observar a oscilação do emprego industrial, que desde 2015 vem caindo drasticamente a incorporação de força de trabalho, consequência direta do processo de crescimento negativo das taxas de industrialização, compondo o fenômeno de desindustrialização. O emprego industrial é caracterizado pelas melhores condições de inserção – formalização e remuneração – a deterioração dos postos de trabalho neste setor também contribuiu para a deterioração dos termos gerais do emprego que vivenciamos no último período, de 2012 para 2016 a oferta de postos de trabalho na indústria sofreu uma retração de aproximadamente 10%.

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GRÁFICO 3 – Percentual de pessoas ocupadas na indústria de transformação em relação à força de trabalho ocupada total entre 2014-2019 (1º trimestre) – Brasil

Fonte: PNAD/IBGE. Elaboração própria.

O Gráfico 4 nos permite ver a composição do setor em função do gênero, é possível constatar, como mencionado acima, uma forte segmentação do setor em função do sexo. Os homens são praticamente o dobro da mão de obra empregada na indústria durante toda a série histórica, isto porque, para o imaginário social as habilidades requeridas para o emprego industrial dialogam com o que é relacionado ao masculino.

GRÁFICO 4 – Pessoas ocupadas na indústria de transformação por sexo entre 2014-2019 (1º trimestre) – Brasil

Fonte: PNAD/IBGE. Elaboração própria.

A distribuição percentual das pessoas por sexo na indústria de transformação, conforme Gráfico 5, mostra que as mulheres mantiveram entre 2014 e 2017 a taxa de 35%, já a participação feminina aumentou para o patamar de 36%

10,50 11,00 11,50 12,00 12,50 13,00 13,50 1º trimestre 2014 1º trimestre 2015 1º trimestre 2016 1º trimestre 2017 1º trimestre 2018 1º trimestre 2019

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em 2018 e 2019. Esse dado aponta para a tendência de feminização da contratação no período da crise, em consonância com o momento em que há uma deterioração dos indicadores do mercado de trabalho, como rebaixamento geral dos níveis de rendimento.

GRÁFICO 5 – Distribuição percentual das mulheres ocupadas na indústria de transformação - 2014 a 2019

Fonte: PNAD/IBGE. Elaboração própria.

O Gráfico 6, portanto, nos permite ver que há uma menor variação na empregabilidade feminina no setor, o que mostra que o impacto em termos de perda de ocupação se deu mais fortemente entre os homens. É necessário levar em consideração que em termos proporcionais, os homens ainda se mantêm como sendo os mais ocupados.

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GRÁFICO 6 – Variação absoluta população ocupada na indústria de transformação, segundo sexo – 2014 a 2019

Fonte: PNAD/IBGE. Elaboração própria.

A indústria de transformação é caracterizada por ter muitos setores que o compõem, para identificarmos de que modo a segmentação por sexo é estabelecida para dentro do grande grupo industrial é preciso desagregar os setores. A Tabela 1 nos indica onde estão alocadas a mão de obra feminina e masculina na cadeia produtiva.

TABELA 1 – Distribuição percentual do pessoal ocupado segundo o sexo, Brasil – Indústria de Transformação entre 2014- 2019 (1º trimestre)

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A Tabela 1 e o Gráfico 7 nos mostram como a mão de obra feminina está alocada em setores bem específicos, são a maioria na indústria de confecção (têxtil, vestuário e couro) e na indústria de alimentação. A indústria têxtil é mundialmente conhecida por ser um setor que superexplora a força de trabalho, foi palco de diversos escândalos5 de trabalho escravo bem como acidentes graves em ambiente de trabalho. No Brasil, esse cenário não é diferente, é um setor de baixa tecnologia, baixa produtividade, e de baixíssimos rendimentos pela busca de competitividade. É nesse setor que vemos o alto grau de empregabilidade feminina, ou seja, no setor mais precarizado e mais vulnerável da cadeia.

GRÁFICO 7 – Evolução da participação das mulheres ocupadas na indústria de transformação (1º trimestre 2013-2019)

Fonte: PNAD/IBGE. Elaboração própria.

Já na Tabela 2, é possível verificar a variação percentual das mulheres no conjunto dos setores entre 2014 e 2019 foi de -6,9%. O período com os piores resultados, ou seja, com variação negativa em muitos setores da indústria para o trabalho feminino foi 2016 em relação à 2015. Os principais setores de retração da participação de mulheres ocupadas nesse período foram a indústria de mineração, metalurgia e extrativista (borracha), contudo a inserção das mulheres neste setor já

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Ver matéria da revista Galileu que compila diversos escândalos relacionados às condições de

trabalho da indústria têxtil. Disponível em:

https://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2016/06/escravos-da-moda-os-bastidores-nada-bonitos-da-industria-fashion.html.

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era inferior que a dos homens não alterando substancialmente a porcentagem de mulheres empregada no setor industrial.

TABELA 2 – Variação percentual das mulheres na indústria de transformação

Fonte: PNAD/IBGE. Elaboração própria.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da análise da indústria de transformação em função da empregabilidade feminina no período, conclui-se que o número de mulheres ocupadas nesse setor permaneceu estável, chegando a aumentar alguns pontos percentuais, fato que pode ser explicado pela alocação da mão de obra feminina em empregos mais deteriorados da cadeia. Assim, apesar do emprego feminino se manter de forma geral constante, ele ainda está concentrado em algumas – poucas – atividades, sendo essa diferença de proporções evidência da desigualdades entre homens e mulheres no setor industrial.

Considerando os setores da indústria, a distribuição da mão de obra feminina é heterogênea, por um lado, em atividades industriais com alta participação como os setores têxteis, de vestuários e artigos de couro, por outro lado, em atividades com baixa participação como fabricação de móveis e produtos de metal. Portanto, é mantida a tradicional divisão sexual do trabalho.

Conclui-se, portanto, que há uma manutenção do emprego industrial feminino durante o período de crise, o que pode ser explicado justamente pelas

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características dos setores nos quais as mulheres estão alocadas. Estes setores são caracterizados por serem mais intensivos em trabalho e menos intensivos em capital, ou seja, é onde se observa menor produtividade e nível tecnológico, sendo eles: os setores têxteis, de vestuários e artigos de couro, áreas conhecidas por obterem os menores rendimentos, por proporcionarem menor proteção às suas trabalhadores e trabalhadores, contendo um maior nível de informalidade e condições mais precárias de contratação.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, J. S. G.; NOVAIS, L. F.; ROCHA, M. A. A fragilização financeira das empresas não financeiras no Brasil pós-crise. Campinas, SP: IE/Unicamp, 2016. (Texto para Discussão, n. 281).

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