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FOLHA INFORMATIVA Nº

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Academic year: 2021

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Editor: Instituto Politécnico de Santarém Coordenação: Gabinete coordenador do projecto

Ano 5; N.º 214; Periodicidade média semanal; ISSN:2182-5297; [N.40]

FOLHA INFORMATIVA Nº47-2012

A Falcoaria Real de Salvaterra de Magos

Nos finais do século XVIII era constante a família real e a corte ocuparem grande parte do ano em jornadas de caça, que aconteciam, na maior parte dos casos, em Salvaterra, Samora Correia, Queluz, Mafra, Óbidos ou Vila Viçosa. Em relatos da Gazeta de Lisboa, entre 1778 e 1800 era normal ler-se: “El Rei N. Senhor se emprega frequentemente no exercício da caça em Salvaterra”. Esta frequente atividade era levada a efeito em zonas privilegiadas apelidadas de coutadas reais de caça.

As coutadas de caça existiam enquanto espaço régio particular dedicado àquela atividade. Se, por um lado, o regime de coutada e toda a legislação a ele ligada constituíram, desde a Idade Média até ao século XIX, um sistema de proteção e conservação dos recursos naturais, cinegéticos e florestais, em amplas áreas geográficas do país, por outro, resultaram num privilégio dos monarcas e da alta nobreza que entrava, frequentemente, em conflito com os interesses das comunidades locais.

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Apreciada como a mais nobre das artes cinegéticas, a falcoaria foi privilégio de imperadores, reis e príncipes de todo o mundo. Com fortes influências das falcoarias holandesas setecentistas, particularmente as da Vila de Valkenswaard, a Falcoaria Real de Salvaterra de Magos constitui um exemplar único no estilo, na Península Ibérica.

A história da Falcoaria Real de Salvaterra de Magos está estreitamente associada à história do Paço Real, que com o passar do tempo, transformou a vila ribatejana num importante centro da vida social e artística da corte portuguesa.

A história do concelho de Salvaterra está ligada à vida da corte e dos reis portugueses, especialmente aos seus tempos de lazer. Sendo abundante em caça de todo o género, especialmente de javalis, ali se estabeleceram diversas coutadas reais. Fundado em 1295 por foral de D. Dinis que o mandou povoar, o concelho de Salvaterra observou desde logo, pelo seu clima, solo e caça, a preferência dos reis. De Lisboa para Salvaterra, de Salvaterra para Almeirim, de Almeirim para Lisboa, ali passaram fazendo doações, coutando terrenos, caçando, fugindo a epidemias.

O Palácio Real de Salvaterra foi mandado edificar pelo Infante D. Luís, filho de D. Manuel, em 1514: "(...) em cujas tapadas se fizeram grandes e movimentadas caçadas, fazendo passar por Salvaterra os vultos mais eminentes de Portugal e do Estrangeiro, até em resolução de grandes negócios do Estado”.

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Cronologia da Falcoaria Real

1383 - Assinatura do contrato de casamento da infanta D. Beatriz com D. João I de Castela, realizada no Paço Real de Salvaterra de Magos;

Séc. 16, primeira metade - Reedificação do Paço por ordem do Infante D. Luís, Duque de Beja, para quem transita o senhorio da Vila de Salvaterra;

1514 - Fundação da Capela pelo Infante D. Luís;

Séc. 16 - Por ordem do Cardeal D. Henrique, o senhorio de Salvaterra, herdado por D. António Prior do Crato, é integrado com todas as suas propriedades na casa real;

Séc. 16, finais - Filipe II atribui um orçamento anual de 80 mil reis para ampliação e conservação do Paço;

1657 - O programa decorativo da capela foi renovado, com a execução de um retábulo de talha dourada em estilo nacional e de uma erudita campanha de pinturas a fresco, cobrindo as abóbadas com uma sequência de anjos, enrolamentos, grinaldas e motivos concheados rodeando medalhões onde foram pintados os símbolos da Paixão de Cristo;

1689, 15 de Dezembro - Manuel do Couto é nomeado Mestre-de-obras do Paço;

1690 - Ampliação e renovação do Paço por ordem de D. Pedro I, ficando a existir um palácio "novo" e um palácio "velho" interligados;

Séc. 18, Inícios - Retomada em Portugal a atividade da Altanaria, com instalações próprias em Salvaterra de Magos;

1734 / 1747 - Obra do Paço é dirigida por Custódio Vieira;

1745, 24 de Junho - Chegam a Lisboa falcões com destino a Salvaterra, oferecidos ao Rei pelo Grão-Mestre da Ordem de Malta;

1747 - Carlos Mardel sucede a Custódio Vieira na direção da obra do Paço;

1752 - Fixam-se em Salvaterra 10 falcoeiros holandeses oriundos de Valkenswaard, onde existia uma importante escola de Altanaria;

1780 - A Falcoaria de Salvaterra tem cerca de 30 falcões e é constituída por três repartições, com mestres e oficiais, quase todos de origem holandesa e dependentes do Monteiro-Mor; 1754, 9 de Outubro - Chegam a Salvaterra 60 falcões, presente do Rei da Dinamarca;

Séc. 18, meados - Ampliação e remodelação dos edifícios do Paço e construção de uma casa da Ópera por ordem de D. José;

1755 - O Paço é gravemente danificado pelo terramoto, sendo nos anos seguintes, objeto de profundas obras de restauro e reconstrução, que incluíram a casa da Ópera e a Falcoaria; Séc. 18, segunda metade – São numerosas as deslocações da família real a Salvaterra; 1775 - Construção de um novo picadeiro, junto do Paço;

1788, 29 de Janeiro - Casamento do Duque de Lafões com D. Henriqueta de Menezes, filha do Marquês de Marialva, realizado na Capela Real de Salvaterra, tendo sido padrinhos a rainha D. Maria I e o príncipe D. José;

Séc. 18, finais - Mantém-se a conservação periódica do Paço, mas as estadias da família real vão sendo progressivamente mais raras;

1815 - O almoxarife do Paço faz insistentes pedidos de obras;

1817 - Incêndio provoca graves danos no Paço, salvando-se apenas a Capela, a Falcoaria e a casa da Ópera e duas das nove chaminés das cozinhas;

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1818 - O Mestre Falcoeiro Henrique Weymans, dá notícia do abandono e degradação das instalações da Falcoaria, pedindo insistentemente a sua recuperação;

1821, 8 de Fevereiro - Cortes Gerais extraordinárias decretam a abolição das Coutadas, extinguindo todos os empregos e ofícios relativos à sua administração e guarda;

1821, 31 de Março – A Regência do Reino determina a extinção de todos os ofícios, incumbências e ordenados das pessoas empregadas na Falcoaria Real, cujas casas se encontravam em muito mau estado;

1833, 30 de Janeiro - O almoxarife do paço participa ao Conde de Basto a necessidade de reparações em parte da Falcoaria, nas coberturas da Ópera que se achavam em ruínas, na galeria das damas e nas cozinhas, das quais restavam apenas duas chaminés; 1835, Abril - O governo é autorizado a vender bens de raiz nacionais, procedendo-se ao inventário de todos os objetos pertencentes à Real Falcoaria;

1849, 10 de Setembro - A rainha D. Maria II autoriza a cedência ao Estado de todos os prédios da Coroa, dependentes do Almoxarifado de Salvaterra, incluindo o que restava do Paço, Capela, cavalariças, pombais e Falcoaria, que se encontravam já bastante arruinados;

1858 - Tremor de terra agrava o estado de ruína do Paço;

1862 - O abandono e degradação das instalações da Real Falcoaria eram evidentes, acabando por ser vendidas em hasta pública;

Séc. XIX – Excetuando a Capela, a ruínas do Paço são em parte demolidas, aproveitando-se a pedra para as ruas e estradas do concelho; os proprietários particulares das construções que ainda restavam vão modificando a sua traça primitiva, com remodelações, substituições de telhados e construção de anexos. O edifício que subsiste é constituído por oito corpos de secções quadrangulares e retangulares, que se agrupam em torno de um pátio quadrangular, um pombal de planta circular e um outro pátio, interno, de menores dimensões. No conjunto destaca-se o pombal, um torreão circular com oito metros de altura e aberturas circulares para entrada e saída de aves. A fachada principal apresenta pano único dividido em dois andares, com portas e janelas de moldura retangular. No interior pode ver-se a disposição dos ninhos dos falcões dispostos ao longo de sete registos.

1999 - Foi já em avançado estado de degradação que a Câmara Municipal de Salvaterra de Magos adquiriu o edifício, conseguindo recuperar, praticamente intacto, o pombal com mais de 300 nichos.

2002 - Projecto de recuperação dos edifícios da Falcoaria, da autoria do gabinete Espaço Cidade.

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História de uma caçada real às lebres, com falcões, em Escaroupim, no dia 23 de Fevereiro de 1755

Saíram primeiro 12 falcoeiros, vestidos de pano carmesim com muitos galões de ouro, véstias azuis e canhões com galões de parta e todos de cabelos atados. Outros falcoeiros, também a cavalo, iam com os falcões na mão e dois levavam duas galgas, atadas pela coleira com cordões de seda.

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Os falcões, que já tinham trabalhado, metiam-se a descansar em magnífica liteira de veludo carmesim com grades e coberta de galões de ouro e prata.

Seguiam-se 4 coros de instrumentos a cavalo, tocando clarins, trompas e trombetas, todos ricamente vestidos de veludo com galões de ouro, bem como os músicos do coro do Monteiro-mor, de veludo verde com galões de prata.

Despois marchavam os monteiros e os couteiros com véstias verdes. O juiz da coutada trajava de pano escarlate., coberto de galões de ouro…

Atrás iam Suas Majestades e Altezas. El-Rei no cavalo ajaezado com seu vestido escarlate e véstia toda lisa, a Rainha de vestido encarnado, forrado de peles de zibelina, botões de pedras finas, encastoadas em ouro, e o cavalo com xairel, coldres e mantas de penas de pássaros do Japão de todas cores.

Fechavam o brilhante cortejo os Infantes D. Pedro e D. António, a Corte, os criados os moços de estribaria e alguns estrangeiros.

No sítio da caçada, formavam ala cerca de 700 pessoas, a família real no centro e os couteiros nos lados, quase todos a cavalo. Suas Altezas puseram-se ao lado da ala, para ver os falcões apanhar lebres e outras rezes e os combates de gralhas com milhafres, espetáculo dirigido por Jacob, o mestre dos falcoeiros.

Como de costume na caçada às lebres a Princesa e as Infantas saiam em seges, seguidas das damas em coches.

Acabada a função, a família real recolheu ao paço. Naquela noite, representou-se uma comédia com danças no fim de cada ato.

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Bibliografia

Anais de Salvaterra de Magos - Dados Históricos desde o séc. XIV - José Estêvão- 1969 Salvaterra de Magos nº203 - Edição Rotep-1953

Diagnóstico sociocultural do distrito de Santarém - Estudo 1, Santarém, 1985

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