• Nenhum resultado encontrado

PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social O ESCRITOR FREUD E A FANTASIA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social O ESCRITOR FREUD E A FANTASIA"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social O ESCRITOR FREUD E A FANTASIA

Eliane Kiyomi Tabuti* (Faculdade Metropolitana de Maringá- FAMMA, Maringá-PR, Brasil); Kelly Cristina Pereira Puertas (Faculdade Metropolitana de Maringá- FAMMA, Maringá-PR, Brasil).

contato:liatabuti@ig.com.br Palavras-chave : Fantasia. Psicanálise. Literatura.

A Literatura é mais que um meio de comunicação, é uma arte que possui como sua principal ferramenta a palavra. Literatura é pluralidade, porque não se limita apenas a palavra escrita. Concebendo que a ferramenta da Literatura é a palavra, e esta pode ser tanto verbal quanto escrita, mais diversificados são os estilos que a literatura pode assumir.

Para que uma obra literária seja considerada Literatura, ela precisa passar pelo crivo de alguns critérios essenciais. É necessário que a obra tenha o parecer de instituição competente reconhecida, como a Academia Brasileira de Letras, ou de uma instituição escolar, assim como passar pela crítica especializada sobre o assunto (Lajolo, 1991). Uma obra literária, antes mesmo de ser avaliada, para que ela exista é necessário que alguém a escreva e que outra pessoa a leia, e por isso, ela é considerada um objeto social. Tratando-se de um objeto social, é por meio do intercâmbio social que temos a sua difusão. No modelo capitalista, uma obra para ser consumida precisa ser comercializada (Lajolo, 1991).

O conceito de literatura nasceu na Grécia Antiga junto com o teatro e os textos de Sóflocles, Eurípedes e Ésquilo. Essas obras deixaram marcas por meio de sua linguagem dramática e pelas representações dos conflitos existenciais. Uma obra literária tem seu valor demarcado por pertencer a uma determinada época e gênero, pois está muito relacionada às vivências sociais e o meio que cerca cada autor (Lajolo, 1991).

Fazendo um salto no tempo da Grécia Antiga ao final do século XVIII e início do século XIX, percebemos que este período inaugura uma nova episteme do homem, abandonando a visão biológica do homem natural vinculada ao reino animal. Surge um homem das ciências humanas, um homem que é “tanto objeto como sujeito dos saberes possíveis” (Kon, 2002, p. 138). Com esse novo homem surge também uma nova linguagem, um discurso de ideias no qual o homem não se difere mais das coisas com as quais se relaciona. Nas palavras de Kon (2002, p. 138):

Como ato deste novo homem da modernidade a literatura passa a ser um espaço de intransitividade radical, pura manifestação de linguagem, que não pretende imitar o mundo,

(2)

PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

senão afirmar – no que difere dos outros discursos – a sua existência, num eterno retorno a si própria, ao seu próprio engendramento como ato de escrita.

É nesse mesmo período que nasce uma nova forma de pensar sobre o humano, nasce uma nova teoria denominada por seu criador de Psicanálise. Sigmund Freud, pai da Psicanálise, sempre teve grande afinidade pela literatura, em especial pelos clássicos como Shakespeare, Sófocles e Goethe. Segundo Henriques (2009), ao criar a Psicanálise Freud cria também uma nova epistemologia discursiva ao usar linguagem literária como recurso científico. Os achados psicanalíticos, descritos sob a forma de estudos de caso, se aproximam, e muito, da literatura. Isto pode ser confirmado pelo próprio Freud, nos primórdios de suas teorizações, no texto Estudos sobre a Histeria.

Nem sempre fui psicoterapeuta. Como outros neuropatologistas, fui preparado para empregar diagnósticos locais e eletroprognósticos, e ainda me causa estranheza que os relatos de casos que escrevo pareçam contos e que, como se poderia dizer, falta-lhes a marca de seriedade da

ciência. (Breuer & Freud, 1895/1996, p. 183, grifos nossos).

O que une Psicanálise e Literatura é a potência criativa, pois ambas possuem a capacidade de criar novas realidades dentro de seus propósitos, a psicanálise por meio da experiência clínica e a literatura por meio da narrativa (Kon, 2011). Freud desenvolveu uma teoria rica em conceitos, cujo princípio norteador é a noção de inconsciente. O acesso ao inconsciente, de acordo com Freud (1915/1996), seria via análise. Para Teixeira e Hashimoto (2007), a psicanálise e a obra de arte se entrelaçam porque a última funciona como fonte reveladora dos processos psíquicos inconscientes. Pautando-se nesses conhecimentos iremos discutir o entrelaçamento do conceito de fantasia e literatura.

Freud não se dedicou a escrever um texto específico sobre o conceito de fantasia, mas essa noção encontra-se disseminada na extensão de sua obra, porém destacamos dois textos que hipotetizam sobre o conceito de forma mais marcada. São eles: Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental, de 1911 e a Os caminhos da formação dos sintomas, a Conferência XXIII das Conferências Introdutórias de Psicanálise, de 1916-1917.

No texto Os caminhos da formação dos sintomas Freud apresenta a situação clínica na qual os pacientes discorrem seus casos ao analista.

Somos tentados a nos sentir ofendidos com o fato de o paciente haver tomado nosso tempo com histórias inventadas. [...] Quando apresenta o material que conduz desde os sintomas às situações de desejo modeladas em suas experiências infantis, ficamos em dúvida, no início, se estamos lidando com a realidade ou com fantasias (Freud, 1916/1996, p. 370).

Ao final desse texto Freud conclui que a formação do sintoma decorre do fato das fantasias conterem realidade psíquica, e por isso ele abandonou a teoria da sedução e passou a

(3)

PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

se amparar na teoria da fantasia, segundo a qual a “fantasia passa a ser sinônimo de realidade psíquica e também objeto de investigação de análise” (Fochesatto, 2011, p. 2). No texto Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental, Freud (1911/1996) aponta a fantasia como uma via de satisfação do desejo, de desejos instintivos que foram frustrados. Em outros termos, “as fantasias derivam de impulsos inconscientes, os instintos básicos sexuais e agressivos” (Fochesatto, 2011, p. 2).

Assim, podemos dizer que a fantasia é um mecanismo psíquico utilizado para realizar a satisfação parcial de um desejo inconsciente que foi frustrado. De acordo com Freud (1915/1996, p.191), o núcleo do inconsciente é formado por “impulsos carregados de desejo” que para obtenção de satisfação precisam ser descarregados, o que ocorre por meio de investimento libidinal em objetos. Este investimento está relacionado às primeiras vivências de satisfação do bebê, onde este ao saciar sua fome por meio da amamentação vincula-se com sua mãe formando uma relação objetal, na qual a mãe fica demarcada como objeto de desejo primordial por proporcionar satisfação neste período tão arcaico do desenvolvimento da criança.

Segundo as teses da Psicanálise, há dois princípios no funcionamento mental: o princípio de prazer e o princípio de realidade. A origem do princípio de prazer situa-se na primeira fase de desenvolvimento do bebê quando este estabelece com a mãe a relação objetal, e a meta desse princípio é alcançar o prazer e eliminar qualquer evento que cause desprazer. Freud conclui que o bebê não pode viver para sempre nesse processo alucinatório promovido pela saciedade causada pela amamentação, em razão de concorrer para a aniquilação da criança. Deste modo, faz-se necessário pensar o princípio de realidade, segundo o qual o aparelho psíquico abandona “a tentativa de satisfação por meio da alucinação” (Freud, 1911/1996, p. 238), e passa a presentificar-se no psíquico não apenas o que é agradável, mas também o que é real/concreto mesmo sendo desagradável.

Embora algumas fantasias permaneçam inconscientes, a origem destas encontram-se nos processos secundários que são regidos pelo princípio de realidade. Posteriormente as fantasias são reprimidas e passariam a funcionar via processo primário, que é o modo de funcionamento do inconsciente. Assim, as fantasias poderiam se expressar sob a forma de sonhos, atos falhos e sintomas (Fochesatto, 2011, p. 2). Concluímos, amparados nos autores, que as fantasias originam-se dos processos secundários (princípio de realidade) e que são

(4)

PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

“expressão disfarçada da satisfação parcial de um desejo inconsciente que não pôde ser realizado” (Fochesatto, 2011, p. 2).

Freud (1908/1996), em seu texto intitulado Escritores criativos e devaneios, discute sobre o conceito de fantasia. O autor faz uma analogia entre o brincar da criança e a criação do escritor criativo. Ao brincar a criança cria um mundo de fantasias que nitidamente é diferente da realidade. Porém, à medida que cresce a criança abandona o brincar. Assim, o adulto renuncia ao prazer de brincar e passa a fantasiar, no entanto,

nada é tão difícil para o homem quanto abdicar de um prazer que já experimentou. Na realidade, nunca renunciamos a nada; apenas trocamos uma coisa por outra. O que parece ser uma renúncia é, na verdade, a formação de um substituto ou sub-rogado” (Freud, 1908/1996, p. 136).

Enquanto a criança não tem vergonha de brincar, o adulto sente vergonha de suas fantasias e as oculta das outras pessoas. Freud afirma que apenas as pessoas insatisfeitas fantasiam, pois “as forças motivadoras das fantasias são os desejos insatisfeitos, e toda fantasia é a realização de um desejo insatisfeito, uma correção da realidade insatisfatória” (1908/1996, p.137).

Como supracitado, se a fantasia é sinônimo de realidade psíquica e, portanto um objeto de investigação da análise. Consideramos que fantasia é a realização de um desejo insatisfeito, isto é, uma expressão disfarçada de um desejo parcial do inconsciente que foi frustrado. Nas palavras de Portilho (2011, p. 145), “o escritor criativo através de sua arte, adentra as veredas do inconsciente, sensibilizando seu leitor de fora da lógica racional, podemos ousar dizer, dentro da lógica do sujeito, a lógica do desejo ”. Isto é, em outras palavras o escritor criativo consegue colocar no papel aquilo que é indizível, expressando seus conteúdos inconscientes que foram reprimidos, mas que ganharam vida ao serem escritos. Pois, “aquilo que é impossível de ser dito em palavras, não é impossível de ser expresso na arte” (Portilho, 2011, p. 145).

A Psicanálise “permite, se tivermos sorte, que trajetos sejam feitos e refeitos, numa relação de intimidade, reinaugurando, a cada momento, significações inéditas para o enredo que passamos a construir para nós mesmos” (Kon, 2002, p. 154). E a Literatura faz algo análogo a Psicanálise não apenas pelos laços epistemológicos que a unem, mas sim por conseguir revelar segredos do psiquismo de seu criador. A psicanálise busca deslindar o inconsciente, o desejo subjacente à fantasia, a qual está escondida dos demais. A obra literária também desnuda e socializa a fantasia. Fazendo uma comparação, se a literatura coloca a céu

(5)

PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

aberto as fantasias de seu autor, fantasias estas compartilhadas pelos leitores que fruem de sua leitura, a psicanálise, por seu lado, põe a descoberto a origem inconscientes das fantasias.

Referências

Kon, N. M. (2011). Psicanálise e literatura: ambiguidades e confluências. In: PASSOS, C. R. P.; ROSENBAUM, Y. Escritas do desejo: crítica literária e psicanálise (orgs). Cotia: Ateliê Editorial, pp. 61-78.

Breuer, J. Freud, S. (1996). Estudos sobre a histeria. In: Freud, S. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, Volume II, pp.161-202. (Trabalho originalmente publicado em 1895).

Freud, S. (1996) Escritores criativos e devaneio. In: Freud. Obras psicológicas completas de

Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, Volume IX, pp.131-143

(Trabalho originalmente publicado em 1908).

Freud, S. (1996). Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental. In: Freud. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago Editora. 1996. Volume XII, pp.231-244 (Trabalho originalmente publicado em 1911). Freud, S. (1996). O inconsciente. In: Freud. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago Editora. Volume XIV, pp.163-181 (Trabalho originalmente publicado em 1915).

Freud, S. (1996). Conferências introdutórias sobre psicanálise. In: Freud. Obras psicológicas

completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago. Volume

XVI, pp.361-378. (Trabalho originalmente publicado em 1916).

Fochesatto, W. P. F. (2015). Algumas considerações sobre o conceito de fantasia em Freud e

Melanie Klein. Recuperado em 05 de março, 2015, de,

http://www.cbp.org.br/cprs/conceitodefantasia.pdf.

Henriques, R. P. (2009). Dos textos de Freud ou da psicanálise como potência criativa. Psicanálise & Barroco em revista 7(1), 144-162.

Kon, N. M. (2002). Literatura fantástica e psicanálise. Jornal de Psicanálise. São Paulo, 35 (64/65), pp. 135-156.

Lajolo, M. (1991). O que é literatura (13ª ed.). São Paulo: Brasiliense.

Portilho, J. L. (2011). O desejo do sujeito e a relação com a fantasia e a criação artística. Revista Digital AdVerbum, 6 (2), pp. 137-147.

Teixeira, M. A. R.; Hashimoto, F. (2007) A trágica história de Iefimov: um encontro entre psicanálise e literatura. In: Constantino, E. P. Percursos da pesquisa qualitativa em psicologia (org). São Paulo: Arte & Ciência, pp. 163-202.

Referências

Documentos relacionados

Iniciar a gestação com excesso de peso ou obesidade ou ganhar peso excessivamente durante o período gestacional são fatores de risco importantes para

•   O  material  a  seguir  consiste  de  adaptações  e  extensões  dos  originais  gentilmente  cedidos  pelo 

Com base no trabalho desenvolvido, o Laboratório Antidoping do Jockey Club Brasileiro (LAD/JCB) passou a ter acesso a um método validado para detecção da substância cafeína, à

Poderá ser de truque de algumas das locos cativas em Alagoinhas (U8B ou U10B), porém, não temos manuais aqui que possibilita tal visão e afirmação.. 14 95013771 SUPORTE

Trata-se mais da possibilidade de política discricionária limitada, menos rígida à desvios da meta face à choques adversos ou do comportamento do produto; nesse sentido,

No final de sua fabricação, para melhorar a sua qualidade e trabalhabilidade, tanto na pré-tração como na pós-tração, os aços para Concreto Protendido são submetidos a um

A solução, inicialmente vermelha tornou-se gradativamente marrom, e o sólido marrom escuro obtido foi filtrado, lavado várias vezes com etanol, éter etílico anidro e

Para o espaçamento entre fileiras de 0,4 m, além da maior produção de grãos por planta, observaram-se também os maiores valores para o número de vagens por planta,