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O mito da existência do corpo perfeito moldado para a dança, somos corpos e

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Academic year: 2021

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O mito da existência do corpo perfeito moldado para a dança, somos corpos e

todos os corpos podem dançar por meio do Sistema Laban

Carolina Senek Alves (UNIPAR) Resumo

O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica e tem por objetivo apresentar o Sistema Laban, por meio de seus conceitos e fatores de movimento, visando demonstrar que todos os corpos podem dançar, buscando a desmistificação do corpo perfeito e a inclusão de todos os biótipos na prática da dança.

Palavras chave: corpos, sistema Laban, inclusão.

Abstract

This paper aims like a bibliographic research whose purpose is to present Laban System, by your ideas and movement factors, demonstrating that all the bodies can dance, demystifying the perfect body and including all the biotypes to dance

Keywords: bodies, Laban system, inclusion.

Introdução

A dança está ligada ao ser humano por meio da arte e não somente pela estética ou à técnica de movimentos repetitivos realizados para se alcançar a perfeição.

Segundo Laban, sobre corpo e movimento:

A extraordinária estrutura do corpo, bem como as surpreendentes ações que é capaz de executar,são alguns dos maiores milagres da Existência. Cada fase do movimento, cada mínima transferência de peso,cada simples gesto de qualquer parte do corpo revela um aspecto de nossa vida interior. (LABAN, 1978, p.48)

O Sistema Laban oportuniza todos os corpos dançarem, mesmo não apresentando alguma técnica específica de dança, podendo ser trabalhado até chegar a uma qualidade de movimento mais elaborado. Fazendo o corpo pensar o movimento, refletindo uma pesquisa de experiência pré adquirida do cotidiano, sem se preocupar com o certo ou o errado, mas para atingir a dança arte.

Miranda em seu livro apresenta que:

Durante a primeira metade do século XX, o arquiteto, filósofo e coreógrafo Rudolf Laban formulou um sistema de observação, experimentação e análise do movimento teoricamente complexo e poético, posteriormente chamado de Sistema Laban, onde o corpo é visto como parte de uma relação estrutural em movimento que inclui Corpo, Esforço, Forma e Espaço, categorias inter-relacionadas que se informam mútua e continuamente. (MIRANDA, 2008, p. 17)

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Partindo do pressuposto que para se dançar utilizando-se do Sistema Laban, o corpo apresenta suas experiências adquiridas individualmente, seja interior ou exteriormente, possibilitando assim ao praticante pensar e realizar a dança como uma forma artística, é de extrema importância para os profissionais da área a pesquisa dos conceitos deste sistema, na medida em que se considera mais importante preocupar-se com o corpo no que se refere ao movimento do que com o biótipo dos praticantes de dança.

Podemos assim perceber que os corpos muitas vezes são limitados para o trabalho da prática da dança, pelo fato de existir uma imagem corporal perfeita para a dança. Se baseando no Sistema Laban como se pode desmitificar esse arquétipo?

Atualmente, com as mudanças ocasionadas pelos estilos e hábitos do cotidiano, existe uma diversidade de biótipos que aparentemente não condizem com o paradigma construído em torno do corpo apto para a dança. Entretanto, esses mesmos corpos anseiam por esta prática corporal tornando-se imperativo incluir qualquer físico na dança. Neste sentido, independente do biótipo, Laban propõe um Sistema capaz de incluir esses corpos, uma vez que neste método o corpo é considerado como um todo que deve ser respeitado em suas diversidades.

Metodologia

O trabalho caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica abordando a Teoria do Sistema Laban e a inserção dos corpos na dança e os fatores de movimento propostos por Rudolf Laban: Fluência, Peso, Espaço e Tempo.

A teoria do sistema Laban e o corpo dançante

Para haver dança deve haver movimento, mas não somente movimento pelo movimento, repetitivos, deve haver uma consciência e busca de autoconhecimento e objetivo da proposta desse movimento.

Segundo Vianna, sobre a técnica:

De qualquer forma, técnica não é estética. Apesar de ter um sentido utilitário na dança, a essência da técnica constitui apenas uma forma de organizar e difundir um determinado conhecimento a respeito do próprio corpo e das possibilidades de movimento. (VIANA, 2008, p. 112)

Sendo assim, o movimento corporal é realizado de dentro para fora, fazendo com que se torne natural, descartando movimentos mecânicos e artificiais. O corpo que dança, não

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dança somente pelos movimentos pré estabelecidos, é uma maneira natural de expressar a energia corporal. “Todos os movimentos humanos estão indissoluvelmente ligados a um esforço o qual, na realidade, é seu ponto de origem e aspecto interior”, (LABAN, 1978, p.51)

De acordo com Petrella e Mommensohn:

Laban foi um visionário que, propondo-se a estudar o movimento humano em vez de estipular modelos e estilos de dança, e esboçando uma linguagem estruturada nessa natureza paradoxal do movimento, provocou uma mudança radical de paradigma. Aliás, questionou o estabelecimento de paradigmas, pois seu Sistema é assim denominado por ser aberto e inclusivo. Esta revolução da dança libertou o corpo para organizar histórias como sua própria linguagem, à sua maneira. (PETRELLA e MOMMENSOHN, 2006, p.193)

Por meio do Sistema Laban a dança pode ser praticada por qualquer corpo, porque seu sistema estuda o movimento humano não estipulando técnicas, mas o movimento humano estruturado.

O corpo já possui experiências pré adquiridas de movimentos, e devemos aproveitá-las ao máximo e trabalhá-las, não se podem transmitir informações ao corpo do movimento sem antes apresentar uma conscientização corporal cinestésica.

Percebe-se que, para que haja movimento não é necessária uma beleza estética, mas sim estar receptivo ao novo, quebrar paradigmas, estudar o movimento, não falamos em movimento somente pelo movimento, mas uma busca pelo movimento-sentimento, com algo para dizer.

Se a dança torna-se adulta em mim, se levantar o braço é um processo que conheço intimamente, que conheço como meu, posso então criar um gesto maduro, individual. À medida que trabalhamos, é preciso buscar a origem, a essência, a história dos gestos – fugindo da repetição mecânica de formas vazias e pré-fabricadas. Só assim o trabalho resultará em uma criação original, em uma técnica que é meio e não fim, pois a técnica só tem utilidade quando se transforma em uma segunda natureza do artista. (VIANNA, 2008, p.73)

A prática do movimento pré existente nos leva a um movimento mais elaborado, devido ao corpo possuir algo natural, possibilitando assim ao indivíduo fazer de suas atividades cotidianas a realização de vários movimentos criativos.

Usando Laban como referência Miranda diz:

Na criação de seu sistema, Laban presumiu o corpo como mídia primária da cultura, ou seja, como primeiro meio de comunicação do homem em seu processo e contexto evolutivo, e propôs que, como tal, este corpo possui uma linguagem, que pode ser articulada de diversas maneiras e assim produzir diversos significados, sempre reunidos sob a hegemonia do movimento. (MIRANDA, 2008, p.17)

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Fazer um corpo dançar, é trazer esse corpo à sua essência, a uma consciência corporal, e que nos remetem a algumas perguntas como: que elementos do corpo estão se movendo, para onde estou indo? Que espaço meu corpo está ocupando num determinado ambiente? Um corpo que pensa é essencial, se fazendo comunicar, fazer a arte por meio da comunicação corporal, de cada expressão corporal, respeitando a concepção corporal de cada um. Esta é uma experiência vasta, e cabe ao pesquisador aproveitar ao máximo de cada ser humano, possuindo uma identidade de movimento criativa.

Não se podem rotular modelos específicos de corpos para a dança no século XXI, pois esta passa por transformações visíveis no mundo contemporâneo, a dança da atualidade deve ser praticada por corpos reais, não idealizados, como as bailarinas clássicas do período romântico.

O corpo cria por meio de seus experimentos de movimentos vivenciados, sabendo que há particularidade do ser, mas a pluralidade dos corpos, pensar e sentir a dança, transmitindo informações por meio do corpo, usando este como uma ferramenta de diálogo.

Os fatores de movimento de Rudolf Laban

Os fatores de movimento de Rudolf Laban são: Fluência, Espaço, Peso e Tempo.

Caracteriza- se a fluência por meio dos movimentos que são manifestados pela emoção, feitos com precisão, e que estes podem ter variáveis de fluxo como livre: movimento que não para de acontecer num ritmo constante, ou contido: movimentos interrompidos, com pausas.

Espaço pode-se dizer que é o lugar onde ocupamos, onde estamos “presentes”, podendo ser em movimento ou não, através do espaço sabemos a direção do movimento.

O Fator de Movimento Espaço pode ser classificado como direto, onde há um único foco, uma única direção, sendo o corpo ou suas partes que se encaminham a este foco e/ ou flexível, que classifica como vários focos, e o corpo e suas partes que se encaminham a estes focos, a idéia de movimento flexível nos remete a impressão de maior liberdade. Quando se conceitua o fator de movimento peso, pode se dizer que este, está associado com a intensidade do movimento, sendo observado por meio da percepção do próprio corpo, proporcionando à pessoa maior sensação de equilíbrio.

O peso pode ser classificado como leve: sensação suave; e /ou firme: sensação de peso forte, com uma resistência forte.

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Este fator de movimento tempo, diz respeito à decisão do movimento. Existe a qualidade de tempo rápido: um curto espaço de tempo, sensação e tomada de decisão súbita, e também a qualidade de tempo lenta: movimentos com um maior tempo de duração e sensação vagarosa.

Ainda relacionando o tempo ao ritmo do nosso próprio metabolismo, nossas funções vitais, observa-se o ritmo não métrico, aquele no qual cada indivíduo faz sua movimentação de acordo com seu ritmo interno, e o ritmo métrico, que pode ser classificado como o uso do acompanhamento de algum som, ou um estímulo externo.

Conclusão

Ao analisar as reflexões relatadas no decorrer deste trabalho é possível perceber como a teoria do Sistema Laban nos remete para um trabalho com a dança que não se preocupa com o corpo ideal.

Faz- se necessário ressaltar nesse sentido que o corpo contemporâneo está em constante processo de transformação não cabendo, portanto, estereotipar um biótipo perfeito para a dança contemporânea.

No trabalho do corpo que dança por meio do Sistema Laban é possível almejar a qualificação de dança, mesmo que esta em questão não seja a dança comercial, com a finalidade de apresentações em palcos, mas somente prazerosa, podendo ser praticada por qualquer indivíduo.

Enfim, pode-se compreender por meio desta pesquisa que todos os corpos podem dançar por meio do Sistema Laban, visto que deve se desmitificar o corpo perfeito, pois nesta sociedade contemporânea, há várias formas de corpos a procura da dança.

O Sistema Laban oportuniza todos os corpos a dançarem porque se utiliza desse corpo como uma forma de manifestar a arte, fazendo desta sua expressão, sem impor regras, mas conceituando a dança da melhor forma possível, demonstrando assim, para cada indivíduo seu potencial, não existindo uma maneira errônea de dançar, possibilitando a dança ser classificada de uma forma libertadora e não presa às regras e técnicas.

Creio ser relevante assinalar a importância dessa experiência de pesquisa, para meu desenvolvimento profissional como docente e pesquisadora. Desta forma também despertou meu interesse em contribuir com novos trabalhos para o meio acadêmico.

É necessário aprofundar a pesquisa nos conceitos sobre a inclusão de todos os corpos na dança por meio do Sistema Laban.

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Fica a expectativa de que as reflexões aqui iniciadas possam provocar outras que contribuam para o aperfeiçoamento acadêmico.

Referências

LABAN, Rudolf. Dança Educativa Moderna. São Paulo: Ícone, 1990. LABAN, Rudolf. Domínio do Movimento. 5.ed. São Paulo: Summus, 1978.

MIRANDA, Regina. Corpo-Espaço: Aspectos de uma geofilosofia do corpo em movimento. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2008.

MOMMENSOHN, Maria & PETRELLA, Paulo (Orgs). Reflexões sobre Laban, o mestre do movimento. São Paulo: Summus, 2006.

RENGEL, Lenira. Os temas de movimento de Rudolf Laban. São Paulo: Annablume, 2008.

_____________. Dicionário Laban. 2.ed. São Paulo: Annablume, 2005. VIANNA, Klauss. A dança. 5.ed. São Paulo: Summus, 2008

Carolina Senek Alves, especialista em Dança (Unipar, Toledo, 2011), professora de ballet clássico

na Escola Educare em Campo Mourão, no Centro Cultural da Cidade de Terra Boa, e no projeto Viver Melhor na Cidade de Juranda. E-mail: carolsenek@hotmail.com

Carolina Senek Alves, Dance especialist (Unipar, Toledo, 2011), classical ballet teacher at Educare

School in Campo Mourão, at Culture Center in Terra Boa City, and Viver Melhor project in Juranda City. E-mail: carolsenek@hotmail.com

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