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Revolução silenciosa, agroecologia e segurança alimentar com o uso da caderneta agroecológica nos quintais.

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Academic year: 2021

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Revolução silenciosa, agroecologia e segurança alimentar com o uso da

caderneta agroecológica nos quintais.

Silent revolution, agroecology and food security with the use of agroecological

booklet in backyards.

BORGES, Rogério Santos1; SANTANA LIMA DE JESUS, Atila2 MARQUES, delcides3 1- Coordenador das atividades de Assessoria Técnica Continuada - ATC da ARESOL,

Mestrando da Universidade Federal Rural do Vale do São Francisco (UNIVASF), borges_roger@yahoo.com.br; (ARESOL), aresol99@bol.com.br; (ARESOL); 1- Técnica de assessoramento técnico da ARESOL. 3- Professor da Univasf

Eixo temático: Feminismo; Agroecologia e Soberania Alimentar, renda não monetária.

Resumo

O

objetivo do artigo foi analisar o andamento e o impacto da metodologia da caderneta agroecológica e seus resultados na vida das mulheres agricultoras atendidas pelo projeto de assessoramento técnico continuada da ARESOL/Pró Semiarido da CAR. A pesquisa de campo avaliou a contribuição da ferramenta na geração de renda e na segurança alimentar das mulheres, no debate de gênero e agroecologia e geração de renda apartir das diferentes relações econômicas da mulher, fazendo uma crítica ao modelo econômico patriarcal que não considera o trabalho das mulheres nas trocas, consumo e doações dos produtos do quintal. As mais diversas formas e relações econômicas das mulheres nos quintais mostram a dinamicidade da atividade para a geração de renda, bem como o empoderamento e autonomia da mulher em seu espaço.

Abstract The objective of the article was to analyze the progress and impact of the agroecological booklet methodology and its results in the lives of women farmers assisted by the continuing technical advisory project of ARESOL/Pró Semiarido da CAR. The field research evaluated the contribution of the tool in the generation of income and food security of women, in the debate on gender and agroecology and income generation from the different economic relations of women, ma king a criticism of the patriarchal economic model that does not consider women's work in exchanges, consumption and donations of products from the backyard. The most diverse forms and economic relations of women in backyards show the dynamicity of the act ivity for

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income generation, as well as the empowerment and autonomy of women in their space.

Palavras-chave : Agroecologia; Mulher; Gênero; segurança alimentar.

Keywords

:

Agroecology; Woman; Gender; food security.

Contexto

O modelo hegemônico da economia não coloca em suas discussões o trabalho (re) produtivo das mulheres rurais para o autoconsumo, vendas, trocas e as doações de suas produções, além das atividades domésticas e de cuidados. Se forem contabilizados todas essas atividades “subjetivas” representam uma complexa rede de relações econômicas com grande poder de influência, infelizmente, essas práticas são marginalizadas e invisibilizadas. Segundo Silveira, 2007 na sociedade, o trabalho das mulheres é utilizado como fonte inesgotável para amortecer os impactos da violência do sistema capitalista sobre as condições de vida. Ao analisarmos os quintais , percebemos que esses representam, para as mulheres, um local de grande diversidade ecológica e também de auto reconhecimento como pessoa, como mulher, o quintal é mais que um lugar simbólico. O trabalho da mulher sempre foi visto pelo homem como ajuda e não como parte que gera renda no empreendimento, as relações econômica de troca, doação e consumo de forma equivocada n ão entram na contabilidade da renda família. Sem compreender o trabalho da mulher no quintal é impossível transformar a realidade do ponto de vista do paradigma produtivo e ambiental, sem mudar as relações dominantes entre os homens e mulheres, sem considerar a desigual distribuição dos recursos produtivos, sem visualizar a injusta divisão sexual do trabalho, e sem o reconhecimento da contribuição que as mulheres trazem aos conhecimentos tradicionais sobre a gestão ambiental e para a reprodução da vida.

A divisão sexual do trabalho é a forma de divisão do trabalho social decorrente das relações sociais do sexo onde existe trabalho para mulheres e homens especificamente, essa forma é historicamente adaptada a cada sociedade. É na divisão sexual do trabalho que se confirma que as divisões de gênero são construídas a partir de uma realidade sexuada, que legitima a dominação dos homens sobre as mulheres, uma vez que “o princípio masculino é tomado como medida de todas as coisas” (BOURDIEU, 2005, p. 23).

As mulheres são destinadas às atividades de cuidados com os filho(a)s e maridos, além das atividades que realizam nos quintais ao redor de casa e na roça, podendo

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ser divididas em produtivas, reprodutivas e domésticas, Segundo Siliprandi essas atividades ao decorrer do tempo se tornaram naturalizadas como de responsabili dade estrita das mulheres, tornando seu trabalho (re)produtivo como ajuda das atividades realizadas pelos homens, obtendo uma menor remuneração, em comparação às atividades masculinas. Com uma dupla jornada de trabalho, muitas mulheres rurais não conseguem participar de eventos que são realizados pelos sindicatos rurais, reuniões, sendo excluídas de espaços de participação política e dificultando ao acesso a direitos sociais e político. Neste sentido, Hildete Melo alerta para a importância de se contabilizar o valor das atividades domésticas, reprodutivas e produtivas realizadas pelas mulheres dentro e fora de sua casa como nos quintais e roçados uma vez que a teoria econômica desconsidera a economia reprodutiva, voltando -se exclusivamente para o viés mercantil.

No campo da sociologia econômica e antropologia as relações econômicas vão além de uma economia mercantil, visando as relações sociais e históricas como fatores para a construção de uma novo modelo de economia. A economia feminista ampara as atividades reprodutivas e de produção das mulheres que pela a economia neoclássica não são mercantis, colocando-as na análise do sistema socioeconômico como parte da noção de economia, contribuindo para dar visibilidade ao aporte econômico das mulheres. Segundo (Farias, 2009) não analisar essas atividades não remuneradas (doméstico, cuidados e reprodução da vida) em que as mulheres realizam, como parte da economia, é resultado de um histórico de opressão e exploração. Entretanto, reconhecer o trabalho reprodutivo, produtivo e doméstico como econômico não significa buscar características que o tornem comparável ao trabalho mercantil, é necessário reconhecer que o trabalho realizado pelas mulheres que tem características próprias não comparáveis com as de mercado, seu sentido não é de ganhar benefícios e está fortemente marcado pela dimensão subjetiva.

O presente trabalho tem o objetivo de avaliar os impactos do trabalho de pesquisa com a ferramenta caderneta agroecológica com as mulheres que recebem assessoramento técnico continuado da ARESOL no projeto Pró Semiarido em Territórios Rurais de Queimadas, avaliando os aspectos de autonomia das mulheres, gênero, geração de renda e agroecologia e segurança alimentar nos quintais. As mulheres em questão são assessoradas pela Associação regional dos Grupos Solidários de Geração de Renda (ARESOL) como apoio do Projeto Pró-Semiárido, executado pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), do governo do Estado da Bahia, através de uma parceria com o Fundo Internacio nal de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) da Organização das Nações Unidas (ONU).

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Descrição da Experiencia

A pesquisa foi desenvolvida com um numero reduzido de agricultoras nos quintais agroecológicos dos agroecossistemas das comunidades de Tiririca, Riacho da Onça, Varzea do Curral e Gentil no município de Queimadas - Bahia.

O monitoramento e acompanhamento da pesquisa foi como atividades através do projeto Pró Semiárido realizando visitas à família, identificou – se as mulheres, ocorreu a apresentação da proposta com dialogo sobre as cadernetas agroecológicas, ocorreram três encontros de sensibilização e logo após a distribuição das cadernetas, as mulheres realizaram anotações diárias sobre as relações econômicas de consumo, trocas, venda e doação dos produtos dos quintais ou do agroecossistema. Além do monitoramento para apoio na tomada dos dados a equipe de assessoria técnica apoiou as mulheres na construção dos mapas do agroecossistema com o objetivo de identificar o trabalho das mulheres, como: onde ela mais atua, de que forma se dá essa prática e como acontece a tomada de decisão.

A partir da distribuição da caderneta, monitoramento dos dados e sistematização, bem como a travessia e a construção do mapa foi possível identificar (como os quintais produtivos as formações e práticas realizadas nesses espaços contribuíram para o empoderamento das mulheres). É possível perceber que as mulheres aumentaram sua autoestima, ampliaram sua visão a respeito de seu papel que não é mais de “ajudante”. Muitas não conheciam a diversidades e a riqueza que está presente em seus quintais, principalmente das espécies animais e vegetais: plantas medicinais, vegetais e ornamentais ingressando então numa caminhada de inovação orientada pela noção de segurança e soberania alimentar, convivência com o semiárido e pelos princípios da Agroecologia.

Esse trabalho de sistematização da caderneta agroecológica foi coletado os dados de 04 mulheres como média das anotações mensais durante o período de um ano de acompanhamento da pesquisa de campo, na avaliação dos dados observou –se a produção mensal no quintal, as quantidades de produtos vendidos, consumidos, doados e trocados, bem como a diversidade, incluindo os produtos medicinais e do extrativismo.

Resultados e Discussão

A pesquisa foi desenvolvida pela equipe técnica da ARESOL de forma direta em campo para as 04 mulheres das comunidades de Limpo dos Bois, Riacho da Onça e Várzea do curral em Queimadas, as mulheres dos agroecossistemas e quintais

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visitados foram Vera Regina de Oliveira da Silva Sant`Ana, Maria dos Santos, Ediania dos Santos Borges, Joanice Batista dos Santos Silva.

Com o desenvolvimento da pesquisa partimos do pressuposto que com os resultados dos dados analisados as mulheres façam um redesenho dos agroecossistemas, ressignifiquem os espaços por elas ocupados a partir de um olhar feminista contribuindo com o combater as diferentes formas de opressão, como de gênero, raça e classe, e como uma forma de disputas por políticas públicas que facilite a vida das mulheres rurais, reafirmando as mulheres como potência para a soberania alimentar, para além do mercado, da preservação da agrobiodiversidade, sendo um c ampo de disputas, em todas as regiões do Brasil, tendo objetivo também de colocar luz nas relações econômicas por elas geradas seja na venda, troca, consumo e doações, mostrando a diversidade naturais de seus quintais, o cuidado com a família, pois a mulher muitas vezes se coloca como meras ajudantes ou seu esforço, trabalho é visto como “ajuda”. Os dados coletados, foram sistematizados a partir de 4 cadernetas, 4 mapas da agrobiodiversidade no município de Queimadas. A metodologia da construção do mapa da agrobiodiversidade é uma ação das mulheres, feito por elas do seu agroecossistema e a sua principal área de atuação, no mapa ficou identificado onde a mulher atua sozinha e onde atua com ajuda com homem, ou não atua de maneira nenhuma.

Ao observamos os mapas produzidos pelas agricultoras Ediania e Regina percebemos a diversidade presente no seu quintal produtivo, com uma importante variedade de plantas de uso agrícola, como as plantas medicinais tipo arruda, erva cedreira, ca pim santo, espírito de alevanca e manjericão. Como foi destacado no desenho do mapa, o instrumento se torna uma ferramenta visual que permite desvelar as desigualdades de gênero.

No quintal da agricultora Ediania em Queimadas percebemos que tem diversidade de produtos com destaque para o consumo, como feijão e corda, andu, melão e alface e laranja. Com relação a doação a agricultora doou quantidades significativa s de produtos, tipo sabão caseiro, hortaliças e laranjas. As plantas medicinais, hortícolas, ornamentais e frutíferas bem como suas utilidades identificadas, de modo geral, em todos os quintais e com maior frequência para Ediania de Limpo dos Bois e Vanda da comunidade Varzea do Curral foram: Erva doce que serve para gases, alfa vaca para tratar rinite e gripe, Mangericão que serve para queda de cabelo, boldo para tratar o estomago preso, mastruço para vermífugo, carro santo para inflamação Erva cedreira, capim santo, limão, araticum, moringa, graviola, laranja, pitanga utilizada para febre o chá, água de melissa, umbuzeiro, pinha, mamão, espírito de alevanca utilizada para hipertensão e coração grande, maracujá do mato, siriguela, Licurizeiro, conde, jambo,

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groselha, coarana considerada uma planta abortiva, mangueira, coentro, folha da costa utilizada para inflamação, hortelã, quiabada, sabugueiro, tuntiça, arruda, losna que serve para controlar diabetes, poejo que serve para gripe, tangerina, tamarindo, fruta roman usado para tratar gastrite e inflamação na garganta, melindro que serve para coração grande, feijão de porco para adu bação do solo, tomate cerejinha, pimentão, bambu, mongolô, abóbora, feijão fava, maxixe e acerola.

Ao analisarmos os dados percebemos o poder das mulheres nas relações econômicas, elas a se reconhecer e também começam a reconhecer a importância e o valor de seu trabalho, contribuindo para seu fortalecimento enquanto mulher, autonomia, começando ocupar diferentes espaços sociais e políticos, reivindicando seus direitos e disputas por políticas públicas, se tornado um agente político transformador de sua realidade.

Figura 1. Mapa da Sociobiodiversidade. Figura 2. Quintal agroecológico de

Ediania. .

A partir das análises dos dados percebemos o poder das mulheres nas relações sociais e econômicas. Elas começam a reconhecer a importância e o valor de seu papel no agroecossistema, esse reconhecimento contribui para seu fortalecimento enquanto mulher com autonomia, começando inclusive a ocupar diferentes espaços sociais e políticos, reivindicando seus direitos e disputas por políticas públicas, tornado-se agente político transformador de sua realidade. Este fato reforça a solidez a ser alcançada na autonomia das mulheres ao longo do tempo, onde as atividades agrícolas proporcionam uma renda condizente com as necessidades produtivas e reprodutivas da mulher e a família em geral.

Considerações

A Caderneta Agroecológica como ferramenta pode nortear as ações da assessoria técnica continuada, bem como as práticas agroecológicas de trocas de saber no contexto da mulher do semiárido. A caderneta mostra ser um instrumento fácil que traz informações possibilitando aproximarmos o olhar sobre o repertório de relações econômicas desenvolvidas pelas agricultoras agroecológicas, aportando um conjunto

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de dados que nos possibilitam refletir indicadores, questionar conceitos e refletir sobre a realidade a que muitas mulheres são submetidas diariamente, construindo estratégias, conjuntamente para a transformação da sociedade e das relações sociais, permitindo dar visibilidade para o consumo, doações, trocas, e venda .

Agradecimentos

Agradeço ás agricultoras de Queimadas que semrpe contribuíram diretamente com os dos dados dessa pesquisa de campo, principalmente as 4 (quatro) mulheres que sistematizam mensalmente e as demais que fazem as anotações nas cadernetas, agradeço às associações dos agricultores familiares de Riacho da Onça, Cancelas, Gentil e Limpo dos Bois Varzea da Capoeira e Região que nos apoiam nas ativi dades de campo. Por último, agradeço a equipe da ARESOL pelo apoio nas atividades de ATC.

Referências bibliográficas.

BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. 4. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005;

FARIA, NALU. Economia feminista e agenda de luta das mulheres no meio rural. In:BUTTO, ANDRÉA (org). Estatísticas Rurais e Economia Feminista: um olhar sobre o trabalho das mulheres. Brasília, MDA, 2009;

POLANYI, Karl. 2000. A grande transformação: as origens de nossa época. 2ª. ed. (Wrobel F, trad.). Rio de Janeiro: Compus;

SILIPRANDI, Emma C. 2009. M ulheres e Agroecologia: a construção de novos

sujeitos políticos na agricultura familiar . Brasília: Universidade de Brasília;

SILVEIRA, Maria Lúcia. A mercantilização do corpo e da vida das mulheres:

alinhavando reflexões. In: FREITAS, Taís; SILVEIRA, Maria Lúcia. Trabalho, corpo e

vida das mulheres: crítica à sociedade de mercado. São Paulo: SOF, 2007;

TELLES, Liliam, JALIL Laeticia, CARDOSO Elisabeth, ALVARENGA Camila Rafaela. 2018. Cadernetas Agroecológicas e a contribuição econômica das agricultoras

agroecológicas no Brasil. En Agroecología en femenino: Reflexiones a partir de

nuestras experiencias (Zuluaga Sánchez G, Catacora-Vargas G, Siliprandi E, coord.). La Paz: SOCLA / CLACSO, pp. 141-157;

Referências

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