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Esclerose múltipla? Um caso de histeria na enfermaria de adolescentes

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Academic year: 2021

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Esclerose múltipla? Um caso de histeria na enfermaria de adolescentes

Luisa Motta Corrêa,Luiza de Sá Quirino Câmara

Desde a proposição de Descartes do cogito ergo sum, na qual se fundamentou a ciência moderna, testemunhamos a formação de um abismo entre corpo e pensamento. Enquanto o primeiro é identificado à res extensa, estando sujeito às variações perceptivas próprias aos sentidos, o segundo corresponde à res cogitans, que por estar livre das oscilações inerentes ao tempo e espaço, poderia garantir o acesso à verdade através da razão. Em meio a este abismo entre a substância pensante e a corporeidade, não sobra lugar para o sujeito e seu mal-estar. Aquilo que se manifesta no corpo devido à sua articulação com o mundo subjetivo não tem espaço na lógica científica. Logo, o que a ciência teoriza sobre o corpo se distancia cada vez mais das manifestações que este é capaz de apresentar (RIBEIRO 2004), ao que Lacan deu o nome de falha epistemo-somática (LACAN 2001).

As dimensões do desejo e do gozo, excluídas pela dicotomia científica entre corpo e mente, não deixam de manifestar efeitos, apontando aquilo que escapa à operação cartesiana. Assim compreendemos os sintomas histéricos, signos de um corpo que longe de ser fonte do engano, é o lugar no qual irrompe a verdade do sujeito, verdade esta referida a sua história singular. Ao longo deste trabalho, discutiremos o caso de uma paciente internada em uma enfermaria de adolescentes, para a qual supomos o diagnóstico de histeria. Nessa estrutura clínica, a operação científica que não prevê resto algum é justamente o alvo do questionamento.

Trabalho desenvolvido no Núcleo de Estudo da Saúde do Adolescente – NESA/HUPE, sob supervisão da Profa. Dra. Sonia Alberti e apresentado no XVI Fórum de Residência em Psicologia Clínica Institucional, em outubro de 2012.

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Natalia é uma adolescente de quinze anos que chegou ao hospital apresentando um quadro de paresias e paralisias nos membros superiores e inferiores, bem como uma perda no campo visual. Ao longo da internação, a investigação médica - que compreendeu o exame da clínica, as neuro-imagens e a análise do líquido cefalorraquidiano - revelou uma lesão orgânica importante, indicativa de uma doença desmielinizante, altamente sugestiva de esclerose múltipla1, o que foi informado à adolescente. No entanto, esse diagnóstico não foi fechado, e continuou sendo investigado enquanto a própria paciente o questionava, apontando um furo no saber.

Nesse ponto é importante observar que para a equipe médica, a dúvida do diagnóstico de Natalia dizia respeito mais a um preciosismo acadêmico entre dois diagnósticos possíveis: esclerose múltipla, ou neuromielite óptica, não havendo alteração no tratamento ou curso da doença independentemente do diagnóstico diferencial. Esse questionamento, porém, era relembrado a todo instante pela paciente que insistia em trazer à baila a pergunta: “Afinal, o que é que eu tenho?”.

Além disso, outra questão que era sempre trazida por Natalia dizia respeito à movimentação de sua perna esquerda, que no início da internação encontrava-se paralisada. Sua pergunta – “Eu vou voltar a andar?” – trazia embaraço entre os médicos, que talvez sentissem esbarrar com um limite da própria ciência, já que nesse caso, há uma considerável imprevisibilidade dos efeitos da doença sobre o sujeito. Qualquer tipo de resposta dos médicos, como “possivelmente sim”, ou ainda, “estão sendo realizados exames” trazia grande angústia para a adolescente que retrucava, não sem certa irritação, que “cada um fala uma coisa diferente aqui”.

Enquanto Natalia permaneceu internada, sob investigação e tratamento, foi possível recolher sua história e supor um diagnóstico de histeria, partindo de sua posição subjetiva.

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Como nos mostra Soler de acordo com a teoria de Lacan, a histérica é o próprio inconsciente em exercício, assumindo a sua divisão e se servindo da mesma em forma de semblante para fazer aparecer a verdade inconsciente (1985). Tal verdade diz respeito à castração, que marca um vazio no Outro.

Para que a falta advenha, a histérica coloca o desejo em questão. No mesmo movimento em que se oferece ao Outro, também se recusa a ele. Nas palavras de Soler, “o sujeito se representa como um objeto que se subtrai. É um sujeito enganador, o sujeito histérico [...] Esquivando-se, [ele] provoca [...] a falta no Outro” (1985, p. 52). Desse modo, o histérico mantém o desejo insatisfeito, sustentando o circuito desejante, que por ter como base a falta, só pode se movimentar a partir da insatisfação. A posição do histérico é a de agente provocador, que através do desejo do Outro e do vazio que o movimenta, encontra seu lugar. Por meio do “não” dado aos significantes que proporcionariam a sua identificação, ele faz advir o vazio no qual irá se alojar (Ibidem).

No caso relatado, isso se mostrou nos inúmeros questionamentos que a adolescente fazia à hipótese diagnóstica médica. Desse modo, ela negava a nomeação que a equipe buscava dar aos seus sintomas, mantendo sempre um vazio de sentido. Numa posição tipicamente histérica, Natalia questiona o mestre e exige a verdade deste, que é a da castração, o colocando contra a parede para a produção de um saber. Nesse processo recusa o saber médico, que, assim como o discurso do mestre, se impõe de modo absoluto, tentando não deixar lugar para a falta. Ela diz “não” ao significante que a equipe utiliza para definir o que se passa com seu corpo e, dessa forma, se apresenta como desafio. Ao mesmo tempo em que põe os médicos a trabalho, os faz fracassar, tal como se pôde ver nos impasses e discussões travados em torno no diagnóstico da paciente.

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paciente que tivera alta: um cachorro de pelúcia. Em atendimento, revela que ele ainda não tem nome, a despeito da tentativa de alguns funcionários de nomeá-lo. “Cada um que vem aqui dá um nome diferente para ele, a enfermeira, as médicas... e eu mesmo não sei qual é o seu nome”. Novamente, Natalia revela um mecanismo típico da histeria, pois enquanto mantém seu animal de pelúcia sem nome - que aqui podemos pensar como uma alegoria de sua doença - deixa uma abertura para o outro nomeá-lo. Essa nomeação, todavia, nunca se conclui, pois apesar de todos o nomearem, Natalia diz que ela mesma não sabe qual é o seu nome.

A partir da teoria dos quatro discursos de Lacan, podemos observar como a dinâmica própria à histeria se dá do ponto de vista do laço social. No Seminário “O avesso da psicanálise” (1969 - 1970), Lacan propõe quatro formas de laço social que se estabelecem por meio de quatro discursos distintos: discurso do mestre, da histérica, do analista e do universitário (ALBERTI 2009). Sua estrutura básica é a seguinte:

O agente é aquele que faz o discurso funcionar, sustentado numa verdade, enquanto o Outro está no lugar do trabalho, gerando um produto ou resto. No discurso da histeria, há no lugar do agente o sujeito barrado, visto que a histérica opera a partir da divisão fundada pelo inconsciente. Desse modo, ela se dirige ao mestre (S1) e o faz trabalhar produzindo seus significantes (S2). A verdade da histérica é a do objeto a, que assinala um furo no significante.

A histérica questiona o mestre, negando os significantes que este tenta lhe imputar e, assim, o coloca a trabalho e, ao mesmo tempo, o leva a fracassar. Lacan indica ainda que há uma lacuna entre o produto do discurso histérico e sua verdade. Explica Soler: “o que o sujeito

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histérico quereria – indico-o no condicional para marcar a impossibilidade – que houvesse um saber do objeto [...] Daí a insatisfação que tropeça no impossível de dizer e se alimenta de todos os saberes possíveis (2003, p. 53).

Sobre sua história, Natalia relata que sempre morou com a mãe, e que há oito anos mora também com o padrasto e dois irmãos, frutos da relação entre sua mãe e seu padrasto. Há pouco menos de um ano, este lhe fez uma proposta para que mostrasse partes de seu corpo em troca de dinheiro. Além disso, Natalia descobriu que ele a observava pelo buraco da fechadura do banheiro, enquanto a adolescente tomava banho. A partir desse cenário, Natalia relata ter ficado muito nervosa e chorado bastante, logo contando à sua mãe o episódio. Esta teria, então, se separado do padrasto, mas alegando dificuldades financeiras, teria permanecido na mesma casa, o que trazia grande desconforto à Natalia.

Em seu discurso, a situação da investida sexual do padrasto é relacionada com o seu primeiro surto, quando teve perda parcial da visão. Sobre o episódio Natalia diz: “Acho que tem a ver com isso que aconteceu porque eu estava muito nervosa”. Nessa ocasião, Natalia não foi ao hospital e em pouco tempo houve remissão dos sintomas.

A mãe de Natalia, que a acompanhou em sua internação, relatou que seu ex-marido é um homem violento, já tendo sido preso duas vezes, e que inclusive batia nela. A mãe da adolescente relaciona a perda do campo visual da filha com a situação de violência que ocorria em casa. “A madrinha de Natalia veio ver como estava a sua vista e acabou vendo o meu olho roxo”. Essa suposta coincidência, pontuada dessa forma em sua fala, nos chama atenção e leva a pensar que ela estabelece uma associação entre a violência concreta que sofreu e o surto violento que acometeu Natalia, curiosamente no mesmo órgão. Vale destacar que também o olho está em jogo no abuso sexual cometido pelo padrasto. De acordo com a fala de Natalia, este a olhava enquanto ela tomava banho, além de ter proposto observá-la nua.

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Após a primeira crise da doença, Natalia foi morar com sua madrinha, justificando que não dava mais para ficar em casa com o seu padrasto. Na casa de sua madrinha dizia se sentir muito bem. Com sua prima da mesma idade, filha da sua madrinha, ia quase todos os dias à pracinha do bairro, que é freqüentada pelos adolescentes da região. Nesse local conheceu seu primeiro namorado.

Sobre a segunda crise, com manifestações mais graves e razão de sua internação, Natalia é mais enfática: “Nunca mais vou namorar, porque foi o namoro que me deixou assim”, e segue dizendo que namorava um rapaz, mas logo terminou para ficar com seu amigo. Quando descobriu que o primeiro estava namorando, decidiu voltar atrás e retomar o antigo namoro, o que foi aceito pelo rapaz em questão. Pouco depois da retomada do namoro, no entanto, seu então namorado decidiu terminar, alegando que se mudaria da cidade. Natalia ficou muito triste e nervosa com o término, e relacionou o segundo surto a essa situação.

Em outro atendimento na enfermaria do NESA, Natalia retoma a dúvida se voltará ou não a andar, colocando que, antes disso tudo lhe acontecer, gostava muito de andar na praça, principalmente para ver os garotos, e que tem muito medo de não poder mais fazer isso. Quando se refere a namoro, no entanto, Natalia diz: “Tô fora!”, indicando uma ambivalência importante já que voltar a andar pode apontar para a possibilidade de voltar à praça, cenário dos encontros e namoros da cidade e onde circulava seu ex-namorado.

Consideramos que os sintomas corporais de Natalia foram associados por ela a acontecimentos causadores de intensa carga afetiva. Nesse contexto, levantamos algumas reflexões. Retomemos o conceito de conversão histérica: no sintoma conversivo, a libido que não pôde sofrer descarga direta devido à barreira do recalque é transposta pela inervação somática, investindo em uma parte do corpo (FREUD 1896). Vale ressaltar que na concepção psicanalítica, não é o corpo biológico que é investido, mas sua representação. Embora os

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exames médicos tenham averiguado a presença de lesão orgânica, nos interessa aqui refletir sobre os significados que a adolescente atribui a isso que lhe sucede. Chama atenção o quanto a própria Natalia, em seu discurso, nos dá pistas de quais representações poderiam estar em jogo nos seus sintomas. O olho que pouco vê, ou a perna paralisada, apontariam para significantes inconscientes aos quais a libido represada teria se ligado, após ter sido despertada pelos eventos citados na fala da adolescente. Corroborando tal hipótese, está o fato do olhar ter sido um elemento presente na investida sexual do padrasto, ao mesmo tempo em que no sintoma, justamente o olhar é prejudicado. Visto por este prisma, o sintoma se revelaria como símbolo de um conflito inconsciente, tal como descrito por Freud.

Ao pensar a determinação dos sintomas histéricos no caso Dora, Freud chega à conclusão de que todo sintoma histérico requer a participação tanto psíquica quanto somática. Compreende, portanto, que o sintoma não poderia se dar sem um certo grau de complacência somática, estabelecida “por algum processo normal ou patológico num dos órgãos do corpo ou relacionado com um deles” (Freud 1905).

A dispnéia crônica já havia se apresentado em Dora quando contava oito anos de idade, e mais tarde é também a via respiratória a eleita, na tosse, como palco de seu sintoma, situando-se assim, uma complacência somática.

Também no estudo do caso Elisabeth, ao pensar no sintoma de dor muscular, mais especialmente na coxa direita, Freud indica que “era provável que uma alteração muscular orgânica da espécie indicada estivesse presente, e que a neurose se ligara a ela e fazia-a aparecer de exagerada importância” (1895, p.187). Mais tarde nesse estudo, Freud pondera que havia um reumatismo anterior à manifestação dos sintomas histéricos. Tanto no caso Dora quanto em Elisabeth, há algo orgânico de que a histeria se apropria. Dessa forma, Freud nos dá subsídios para levantar a hipótese de que o fato de haver uma afecção orgânica não impede que

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o sujeito também tenha uma sintomatologia histérica.

No caso de Natalia, a etiologia desconhecida de sua doença neurológica nos faz pensar sobre como a dicotomia mente e corpo traz problemas. Essa divisão de constructos teóricos não dá conta da complexidade da dinâmica subjetiva, na qual, somático e psíquico se encontram imiscuídos. É o próprio sujeito quem faz um casamento desses termos quando associa em palavras o que advém do corpo. O debate acerca da presença ou não de um acometimento orgânico enquanto origem da doença, essencial do ponto de vista médico, não serve como direção para o trabalho analítico. Na realidade, em psicanálise se trata de um discurso que não só difere do discurso médico, como também se diferencia da questão fenomenológica. Entendemos, como Silva (2001) que se “por um lado, o psicanalista não deve deixar de reconhecer a fenomenologia, por outro, não se quer dizer que seja essa a direção a ser seguida em sua prática clínica: sua escuta diz respeito às formações do inconsciente... (p. 58)”. O fenômeno corporal é sempre atravessado pela dinâmica subjetiva e os significantes que lhe são próprios. Não há um corpo fora do registro significante, ou se há, não podemos dizê-lo, já que na condição de sujeitos, a linguagem nos antecede e nos constitui.

Nas últimas semanas de internação, foram feitos atendimentos que revelaram a angústia de Natalia em relação à alta hospitalar, denotando uma postura ambivalente. Inicialmente, disse que gostaria de continuar no hospital, pois lá havia feito amigos, gostava da fisioterapia e das conversas com a psicóloga. No atendimento seguinte, falou que queria muito ir embora, justamente o oposto do que havia dito antes. Não aguentava mais ficar no hospital, pois já estava há muito tempo. Estas duas falas opostas mostram com clareza a divisão própria ao sujeito do inconsciente, evidenciando o modo de operar da histérica, que, como mencionado anteriormente, exerce a divisão na relação com o Outro. Natalia também falou que não conseguia mais comer, porque a comida a estava enjoando, e começou a sentir muita dor de

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cabeça. Os médicos haviam investigado o motivo disto e feito uma tomografia, que não acusou nenhuma alteração, o que nos faz pensar se tal enjoo e dor de cabeça não poderiam ser identificados como sintomas associados à sua histeria, ali onde esta questiona o saber médico.

No último atendimento realizado na enfermaria, a adolescente se queixa de um profissional de saúde da clínica da família próxima a sua casa, que lhe orienta a conversar com a psicóloga sobre sua doença, ao que Natalia responde: “Eu aqui, cheia de coisa na cabeça e ela querendo que eu fale sobre a doença, e eu lá tenho cabeça para isso?”. Quando perguntada sobre que doença seria essa, Natalia responde: “essa doença que os médicos acham que eu tenho, esclerose múltipla”. A partir destas falas, podemos pensar em algumas hipóteses: ao se perguntar se tem cabeça para falar sobre a doença, a adolescente parece apontar que há algo de insuportável nisso. Ao mesmo tempo, quando diz que está cheia de coisa na cabeça, Natalia talvez indique haver trabalho pela frente, que não se restringe a um significante da doença, e que abre espaço para outras trilhas em seu discurso. Na segunda fala, é interessante notar que o diagnóstico de esclerose múltipla parece continuar sendo negado, são os médicos que acham que ela tem essa doença. Mais uma vez retomamos a questão da histeria, que questiona um saber todo, fazendo claudicar qualquer certeza que tamponaria o furo constitutivo do saber.

A partir das discussões desenvolvidas no presente trabalho, podemos observar que ao se ver diante de uma lesão, marcada no real do corpo, o sujeito é convocado ao trabalho, buscando palavras na tentativa de simbolizar aquilo que escapa ao sentido, aquilo para o que Natalia “não tem cabeça”.

No caso em pauta, o trabalho com o significante, suscitado pelo real que emerge no corpo, se mostra com frequência nas falas da adolescente. É a partir de seu grave acometimento físico que ela interroga o Outro e, mesmo quando recebe uma resposta, mantém a interrogação, numa posição própria à histeria.

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Apesar da gravidade de sua condição física, Natalia sustenta importantes investimentos libidinais e coloca o desejo em questão, nos ensinando que, pela via da histeria, ainda é possível afirmar a vida. A adolescente fala sobre seu desejo de encontrar garotos justamente no lugar onde conheceu seu ex-namorado, perguntando-se sobre a possibilidade de isso ocorrer novamente tendo em vista a perda dos movimentos. Já no final da internação, surgem outros questionamentos. Face ao insuportável que se manifesta no corpo prejudicando sua locomoção e visão, Natalia se pergunta sobre os rumos de sua vida pós-alta. Questiona-se sobre a capacidade de sua mãe cuidar dela em casa e diz, mais uma vez, que gostaria de permanecer na enfermaria. Como ainda não recuperou os movimentos, afirma que se fechará e não deixará ninguém vê-la em casa. Prefere, portanto, permanecer no hospital até conseguir andar novamente. Lá, ela estabeleceu laços, foi cuidada pela equipe e também ouvida.

Como se pode ver, a internação suscitou na adolescente um trabalho significante permeado por reflexões e interrogações sobre o seu lugar no desejo do Outro, sobre seu próprio desejo e sobre os limites do saber científico: Será que minha mãe será capaz de me cuidar? Será que o saber médico é capaz de nomear o que atinge meu corpo? O que farei se puder andar novamente, considerando que andar significa também poder ir ao encontro dos garotos da cidade? Como deixar o lugar onde fiz laços, fui assistida e ouvida em minhas angústias, sendo reconhecida como sujeito?

Hoje, Natalia vem recuperando o seu andar. Reconhecemos que a medicina foi fundamental na recuperação da paciente, não só pela eficiência na atuação, como pela abertura à entrada da escuta analítica. Acreditamos que a retomada da movimentação do corpo é fruto também da movimentação desejante da adolescente, indicando a importância da interlocução entre os discursos psicanalítico e médico na enfermaria, em um trabalho partilhado.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ALBERTI, S. Esse sujeito adolescente. Rio de Janeiro: Rios Ambiciosos/Contra Capa, 2009. ___________ Psicanálise: a última flor da medicina, a clínica dos discursos no hospital. In: Clínica e pesquisa em psicanálise. Org: Sonia Alberti e Luciano Elia. Rio de Janeiro: Rios Ambiciosos, 2000.

BREUER, J.; FREUD, S. Estudos sobre a histeria (1895). In: Edição standard brasileira das

Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Vol. II. Rio de Janeiro: Imago. 1976.

FREUD, S. Novos comentários sobre as neuropsicoses de defesa (1896) In: Edição standard

brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud Vol. III. Rio de Janeiro, Brasil:

Imago. 1976

__________ Fragmento da análise de um caso de histeria (1905). In: Edição standard

brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud Vol. VII. Rio de Janeiro,

Brasil: Imago. 1976

LACAN, J. O lugar da psicanálise na medicina. Opção Lacaniana – Revista Brasileira Internacional de Psicanálise, São Paulo, n. 32, 2001.

_________ O seminário, Livro 17: O avesso da psicanálise (1969 - 1970). Rio de Janeiro: Zahar, 1992.

RIBEIRO, M. A. O traço que fere o corpo. In: Retorno do exílio, o corpo entre a psicanálise e a ciência. Org: Sonia Alberti e Maria Anita Carneiro Ribeiro. Rio de Janeiro: Rios Ambiciosos, 2004.

SILVA, S. C. O Sofrimento de Adolescentes Internados: A Escuta Psicanalítica na Clínica do Cuidar. Dissertação de Mestrado em Pesquisa e Clínica em Psicanálise. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ, 2001.

SOLER, C. O que Lacan dizia das mulheres. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.

________ A escolha da neurose. Conferência proferida em Bruxelas (1985), em “Conferências do Campo Freudiano”.

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