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ANÁLISE DAS CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA DOENÇA DE CROHN RESUMO

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¹ Alunas de graduação (4º período) do Curso Medicina da Faculdade Integral Diferencial – FACID | DeVry – Rua Veterinário Bugyia Brito, 1354 – Teresina/PI. Emails: almcamiilaaraujo@gmail.com,iaraasantos@icloud.com, illomaa@hotmail.com, leticiacneves@gmail.com, , vitorianeivac@gmail.com

² Professora do Curso de Medicina da FACID | DeVry, Doutora em Ciências e Mestre em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de São Paulo. Email:deuzuitasantos@globo.com

ANÁLISE DAS CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA DOENÇA DE CROHN

Camila de Sousa Almeida Araújo ¹, Iara Santos Silva¹, Illoma Rossany Lima Leite¹, Letícia Maria de Carvalho Neves¹, Vitoria Neiva Pinheiro Correia¹, Deuzuíta dos Santos Oliveira²

RESUMO

A Doença de Crohn (DC) é um processo inflamatório crônico de etiologia desconhecida, incurável que acomete o trato gastrointestinal de intensidade variável. Diante do exposto, os objetivos são analisar as causas e consequências da DC, bem como identificar os seus sintomas, diagnóstico e tratamento. Para a realização deste trabalho, foi feita uma análise bibliográfica utilizando as bases de dados Scielo, Bireme, Pubmed, revistas científicas e livros. Como critérios de inclusão foram selecionados artigos publicados de 2002 a 2015. Embora a doença tenha etiologia ainda inconclusiva, estudos afirmam seu caráter autoimune e multifatorial, que envolve fatores genéticos, imunitários, ambientais. É comum que haja, durante os surtos de atividade da doença, desnutrição, anemia, hipoalbunemia e manifestações extra-intestinais, como fístulas, celulites, plicomas anais edemaciados e abscessos. Os sintomas mais comuns da doença são diarreia e dor abdominal, podendo ser associados a um quadro de deficiências nutricionais múltiplas e, em crianças, problemas de crescimento. Além disso, é comum que aja astenia, perda de peso, anorexia e melena. O diagnóstico ocorre por meio da observação de dados clínicos, como anamnese, exame físico e proctológico, além de exames endoscópicos, radiológicos, laboratoriais e histológicos. As alternativas de tratamento dependem da gravidade do quadro e da localização predominante das lesões, envolvendo terapia cirúrgica ou fármacos. Apesar dos grandes avanços científicos nos últimos anos, ainda existe um longo caminho a ser percorrido para melhorar a qualidade de vida dos portadores dessa doença crônica, que têm seu modo de vida alterado de forma efetiva após o descobrimento da mesma.

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INTRODUÇÃO

A doença de Crohn (DC) é uma doença inflamatória crônica do trato gastrointestinal, de etiologia ainda desconhecida, entretanto, pensa-se que resulta de uma interação entre fatores genéticos, imunológicos e ambientais. Além disso, a doença não é curável por tratamento clínico ou cirúrgico e que acomete o trato gastrointestinal de forma uni ou multifocal, de intensidade variável e transmural, sendo o intestino delgado (íleo) e o grosso (cólon) os locais de acometimento mais frequentes. Além disso, manifestações perianais podem ocorrer em mais de 50% dos pacientes, assim como manifestações extras intestinais associadas ou isoladas atingindo mais frequentemente pele, articulações, olhos, fígado e trato urinário (MAGRO et al., 2011; ARAÚJO et al.,2008).

Essa patologia não é uma afecção nova, pois relatos sobre ela são encontrados desde a Grécia Antiga e Alexandria, com relato de doenças muito semelhantes. No entanto, ela demorou um longo tempo até se tornar uma enfermidade clínica reconhecida. Em 1882, N. Moore foi um dos primeiros a escrever e publicar achados microscópicos e macroscópicos da DC. Após vários estudos sobre a DC, um trabalho publicado em 1932 por Burrill Crohn, Oppenheimer e Ginzburg constituiu um marco importante do conhecimento sobre essa patologia, como uma patologia caracterizada por um processo inflamatório crônico, transmural, que atinge todo o tubo digestivo, sendo o íleo distal e o cólon as áreas mais afetadas (CARDOZO; SOBRADO, 2015).

A Doença de Crohn é de natureza sistêmica, com períodos de atividade e remissão. Diversos estudos realizados no mundo e no Brasil têm demonstrado aumento significativo de sua incidência, principalmente na segunda metade do século XX. O tratamento da DC visa induzir ou manter sua remissão, evitar ou reduzir as complicações e melhorar a qualidade de vida dos pacientes afetados (CORNÉLIO et al., 2009).

A relevância do tema está relacionada com a incidência dessa patologia que vem aumentando mundialmente e, assim, torna-se necessária à extensão dos estudos da mesma, tendo em vista a sua causa que ainda é idiopática e a necessidade de melhorar o tratamento e, principalmente, alcançar a cura. Além disso, amplia e unifica os conhecimentos sobre a doença, a fim de tornar seus sintomas mais conhecidos, e, dessa forma, evitar a progressão da enfermidade com suas possíveis complicações. Ademais, é notório que a Doença de Crohn precisa ser mais conhecida, uma vez que seus sintomas acarretam muitos problemas na vida dos portadores, além de haver uma mudança brusca no estilo de vida dos acometidos.

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Diante do exposto, o objetivo geral é analisar as causas e consequências da doença de Crohn e os objetivos específicos são identificar os sintomas, o diagnóstico e o tratamento dessa patologia.

MÉTODO UTILIZADO

Esse trabalho é um artigo de revisão em que foram coletados as referências em livros-texto e nas bases eletrônicas Bireme, Scielo, Pubmed e Medline. Os artigos utilizados para pesquisa foram publicados de 2002 a 2015.

RESULTADOS/DISCUSSÕES

A doença de Crohn é caracterizada como uma DII (doença inflamatória intestinal) e definida como uma inflamação crônica inespecífica dos intestinos, com eventual comprometimento sistêmico. Ela caracteriza-se por um processo inflamatório complexo e heterogêneo. Tudo indica que ocorre uma irregularidade entre agente agressor e sistema agredido, tanto a nível intestinal, como nos tegumentos extraintestinais. Aspectos isolados ou de conjunto, que denotam irregularidade nesse equilíbrio, dão-nos a noção de que as DII, sobretudo a doença de Crohn, podem ser originadas pela estimulação de uma resposta imune, provocada por agentes agressores, mas mediadas de forma inadequada por fatores genéticos, cujas expressões determinam diferentes susceptibilidades individuais (SANTOS JUNIOR, 2011).

A etiologia da doença de Crohn (DC) é ainda inconclusiva. Entretanto, constata-se que possui características multifatoriais, envolvendo fatores genéticos, imunitários (que desencadeiam situações inflamatórias) e ambientais (FRANCES et al., 2010).

Embora as causas ainda sejam desconhecidas, sabe-se que a inflamação gastrointestinal tem caráter autoimune: em vez de identificar e destruir substâncias estranhas e prejudiciais ao organismo, o sistema imunológico ataca células do intestino (BOGLIOLO, 2006).

Foram descobertos fatores que podem contribuir para o seu aparecimento, como algumas espécies de bactérias (Pseudomonas e Micobactérias atípicas) ou vírus. Outros estudos demonstram o compromisso do estado imunológico dos pacientes com DC mediado por células. Muitos autores defendem o aumento da atividade supressora das células T e

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outros a alteração da função fagocitária. Entretanto, nenhuma ideia foi confirmada. Outros autores ainda têm sugerido a existência de alterações das respostas imunitárias humorais ou de complexos imunes circundantes em doentes com esta patologia. Não obstante, também existem estudos que focam no papel citotóxico mediado por células, onde muitos defendem a hipótese que as células citotóxicas, sensibilizadas por certos antígenos, desencadeiam o processo inflamatório da parede intestinal (RUBIN; PALAZZA, 2006).

Pesquisas sobre a genética da DC realçam a importância da interação patológica entre hospedeiro e bactéria, subsidiados por uma região genômica que contém genes produtores de proteínas (proteína de dois domínios de oligomerização de nucleotídeos - NOD2), com participação na resposta de defesa tecidual pela sinalização da ativação do sistema de resposta imune; por genes autofágicos e por vias de reações com componentes de interleucinas-23 com a concorrência de linfócitos-T (Th-17). Supõe- se, assim, que a susceptibilidade (decorrente de alterações gênicas), esteja ligada a uma exagerada resposta na fase pró-inflamatória, decorrente de uma disfunção do sistema imune intestinal. A identificação do fator de necrose tumoral (TNF-α) como o elemento ativo na resposta pró-inflamatório inadequado e exacerbado ensejou a produção de substâncias biológicas que fossem capazes de bloquear o TNF-α, em diferentes níveis, abrindo um campo grande de perspectiva para novo tipo de tratamento das DII (SANTOS JÚNIOR, 2011).

Os estudos sobre as causas genéticas da DC descreveram uma associação entre mutações no gene CARD15, o qual codifica a proteína NOD-2, com a ocorrência de doenças inflamatórias intestinais, mais especificamente a Doença de Crohn. Neste contexto, estima-se que 20-30% dos portadores de Doença de Crohn apresentam alguma mutação no gene NOD-2/CARD15. Além disso, outros estudos apontam que indivíduos com mutação em apenas um alelo do gene NOD-2/CARD15 (heterozigóticos) apresentam um risco 2.3 vezes maior de apresentar a Doença de Crohn, sendo que este risco se amplia para 17.1 vezes (10-27) em portadores de mutações nos dois alelos (homozigóticos) (PINHO, 2008).

Além disso, estes achados demonstram ainda, a possível origem do desequilíbrio bactérias/hospedeiro observado nas doenças inflamatórias intestinais, uma vez que a proteína NOD-2 tem por função a ativação de uma resposta inflamatória moderada a partir do reconhecimento de um produto bacteriano específico, denominado como MDP. A partir destes achados, suspeita-se, entre outras hipóteses, que esta deficiência na resposta imunológica inata facilitaria uma infecção da lâmina própria, desencadeando um quadro inflamatório crônico de maiores proporções (PINHO, 2008).

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As principais consequências e complicações na DC são caracterizadas por hemorragias, estenoses (que consistem no estreitamento excessivo do lúmen intestinal, principalmente no íleo terminal, levando à obstrução intestinal nos casos iniciais e por uma combinação de edema e fibrose em casos mais avançados). O aspeto “pedra de calçada” é originário da tumefação nodular, da fibrose e ulceração da mucosa e as famosas “lesões em corda” resultam das estenoses bastante características desta doença (VAN ASSCHE et al., 2010).

Além disso, podem ocorrer também aderências fibrosas que podem levar a obstrução intestinal, a perfurações intestinais (por úlceras que quando estão presentes, são longas e serpiginosas, e muitas vezes estreitas e escondidas entre as pregas da mucosa, conferindo-lhe o aspecto de estrada "calçada por paralelepípedo profundo fissurado” e essas podem acarretar em abscessos intra-abdominais); a megacólon tóxico, fístulas, fissuras, abcessos perianais, e, por fim, displasia celular que pode evoluir a carcinoma colorretal (RUBIN; PALAZZA, 2006).

O desenvolvimento de displasia celular e futuro adenocarcinoma colorretal é bem mais frequente em doentes com DII, do que em indivíduos saudáveis. Além do risco está aumentado de quatro a sete vezes em doentes com DC (RUBIN; PALAZZA, 2006). O risco aumenta com o passar do tempo, desde o começo da doença e quanto for maior o envolvimento do cólon. Os enfermos que sofrem da DC há oito, dez ou mais anos têm que fazer exames de rotina, como colonoscopia e biópsias, a cada dois anos (FRANCES et al., 2010).

Outro tipo de complicação comum da DC, são as fístulas que caracterizam-se por comunicação anômala de órgãos ou estruturas através de um percurso anormal. O resultado destas fístulas são a construção de abcessos dentro da cavidade peritoneal, no mesentério ou nas estruturas retroperitoneais. As deteriorações no reto distal e no ânus, comuns na DC, podem causar fístulas perianais. Entretanto, o reto é caracteristicamente poupado (VAN ASSCHE et al., 2010).

Nos indivíduos do sexo feminino com DC anorretal, a inflamação pode alastrar-se na Doença de Crohn até alcançar a genitália externa. Nas crianças os sintomas característicos são: atraso do crescimento e do desenvolvimento físico (RUBIN; PALAZZA, 2006).

Dentre as complicações da DC destacam-se as manifestações extra-intestinais, as quais as mais comuns correlacionam-se de forma direta com a veemência do processo inflamatório intestinal além de poderem ser cutâneas (eritema nodoso e pioderma

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gangrenoso), articulares periféricas (artrites) ou axiais (espondilite anquilosante e sacroileíte), oculares (conjuntivite e uveíte) e hepáticas (colangite esclerosante primária). Colecistolitíase e nefrolitíase podem levar à má absorção (ARAÚJO et al., 2008).

Os sinais articulares constituem a manifestação extra-intestinal mais frequente em pacientes com doença de Crohn e com retocolite ulcerativa. Denominada como artrite colítica, e mais recentemente, artrite enteropática, é classificada como algumas das doenças do grupo das espondiloartropatias. Reconheceram-na como artrite colítica e assim foi descrita: sinovite aguda, recorrente, usualmente monoarticular e assimétrica, de pequena duração, a qual não produz deformidade ou deterioriação articular (LANNA et al., 2006).

À nível microscópio, são visualizadas alterações mucosas (ulcerações), edema mucoso e submuco e aumento do número de linfócitos, plasmócitos e macrófagos. Há a incidência de granulomas, agregados de células epitelióides , principalmente na camada submucosa. Predominam, a nível histológico, agregados linfoides nodulares transmurais e alterações proliferativas nas mucosas e nos nervos do plexo submucoso e so plexo mioentério. (FRANCES et al., 2010; RUBIN; PALAZZA, 2006; VAN ASSCHE et al., 2010). Quando não há inflamação na mucosa, não é possível afirmar que o paciente está em fase de remissão da doença, pois é possível que a parte retirada para biópsia não possuir a parte lesada do tecido. (VAN ASSCHE et al., 2010).

À nível endoscópico, o intestino e o mesentério adjacente apresentam-se espessos e edemaciados. Os gânglios mesentéricos são, tipicamente, duros e unidos entre si (FRANCES et al., 2010; RUBIN; PALAZZA, 2006; VAN ASSCHE et al., 2010).

O lúmen intestinal pode diminuir, e isso ocorre, nos casos iniciais, por causa do edema e, nos casos mais avançados, por conta de edema e de fibrose. Dessa forma, a mucosa intestinal pode sofrer graus variáveis de ulceração e de descamação, e as camadas anatômicas intestinais podem apresentar-se separadas devido ao aparecimento de tecido fibroso entre elas. As fístulas podem, como resultado final, causar abcessos na cavidade peritoneal, no mesentério ou nas estruturas retroperitoneais. Lesões recorrentes na DC são as no reto distal e no ânus, que podem evoluir para fístulas perianais (FRANCES et al., 2010; RUBIN; PALAZZA, 2006; VAN ASSCHE et al., 2010).

A modificação no projeto de vida constitui-se como a situação na qual as pessoas acometidas pela doença veem-se forçados a mudar seus costumes, comportamentos, hábitos e rotina a grande, médio e pequeno prazo, graças à enfermidade. Isso culmina em enormes alterações em seus jeitos de pensar e agir, relacionado à alimentação, ao fator emocional, e

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devido ao fato de ser uma doença crônica, as mudanças físicas, alterações, também, positivas e engrandecedoras em suas atitudes (SARLO; BARRETO; DOMINGUES, 2008).

No discurso dos pacientes foram encontrados dois modos distintos de enfrentar a nova situação da saúde. Um deles mais voltado às consequências negativas advindas da doença que, como em qualquer outra, existem e muitas vezes são mais determinantes em suas vidas. Essas determinações estão relacionadas, principalmente, com a alimentação, que devido ao medo de sentir mais dores alterou-se, com o medo de transmitir a doença para os filhos, e com as alterações no relacionamento com os familiares, companheiros e filhos, além do fato de a doença ser crônica, ademais da falta de liberdade que essa patologia causa. (SARLO; BARRETO; DOMINGUES, 2008).

A outra vertente, contudo, foi positiva, em que o paciente começa a se alimentar de uma forma mais saudável, a praticar esportes, e tentar fazer com que não haja o aparecimento de complicações, além de ter uma perspectiva otimista da enfermidade e de seu futuro, ademais de cultivar a esperança de um dia curar-se. O detalhe de que a DC é crônica constiui-se como uma das primeiras notícias que o paciente escuta de seu médico. A informação de que a doença não tem cura faz com que o doente preoucupe-se muito com o diagnóstico, uma vez que muitos nunca apresentaram nenhuma outra patologia, e a partir de então terão que ter um médico acompanhando, tomar medicamentos, fazer exames periódicos além de frequentar ambientes hospitalares e consultórios. (SARLO; BARRETO; DOMINGUES, 2008).

A Doença de Crohn possui duas fases: a ativada e a silenciosa. A fase ativa é aquela em que o paciente apresenta náuseas, cólicas, podendo desenvolver a anorexia. Nessa fase, é comum o aparecimento de fístulas, a diarreia e a fadiga, fatores que comprometem o dia a dia do paciente. A fase silenciosa compreende a época em que a doença encontra-se em remissão ou controlada farmacologicamente (VAN ASSCHE et al., 2010).

Os sintomas mais comuns à Doença de Crohn são diarreia e dor abdominal (FLORA; DICHI, 2005). Além desses, a DC também caracteriza-se por causar fadiga, perda de peso e de massa abdominal, anorexia, melena e, em crianças, problemas de crescimento (SANTOS, 2013).

Devido ao seu desenvolvimento no trato gastrointestinal e seus efeitos sobre a ingestão alimentar, é comum que haja, durante os surtos de atividade da doença, desnutrição aguda, anemia e hipoalbunemia. A elas, pode se associar uma desnutrição crônica, estado de

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desnutrição mais comum à DC, e os resultados disso são a caquexia, as deficiências nutricionais múltiplas e, em crianças, o retardo do crescimento (FLORA; DICHI, 2005).

O diagnóstico da doença de Crohn, para Araújo et al. (2008), se dá por meio da observação de dados clínicos (de anamnese, exame físico e proctológico completo), endoscópicos, radiológicos, laboratoriais e histológicos. Além disso, as manifestações extra-intestinais, assim como plicomas anais edemaciados, fístulas e celulite ou abscesso podem ocorrer inicialmente. Os dados clínicos mais frequentes são de natureza inflamatória, obstrutiva e fistulizante. A diarreia crônica, dor abdominal e sangramento retal direcionam a anamnese. Quando positivo, o exame proctológico é o diagnóstico de uma ou mais fissuras anais.

A realização de exames contrastados (trânsito intestinal e enema opaco e com duplo contraste) é necessária para a localização e a confirmação extensão, bem como para o diagnóstico de complicações. Exames contrastados com a utilização de contraste baritado não devem ser realizados em pacientes agudamente doentes ou que necessitem de internação hospitalar. A dilatação aguda e tóxica do cólon (megacólon tóxico) pode representar uma apresentação incomum, porém aguda e de elevada gravidade (HABR-GAMA et al.,2011).

Para Santos (2011) a endoscopia e a biópsia são consideradas exames diferenciais, nos quais é possível determinar o diagnóstico, na maioria dos casos, entre a DC e RCU. Além do mais, a endoscopia exibe características simulares aos achados na RCU, apesar do envolvimento preponderante do íleo terminal e cólon ascendente, a presença de lesões salteadas, pedra de calçamento, fístula, estenoses e ausência de comprometimento retal sejam características mais marcantes da DC. Durante o procedimento da endoscopia, pode-se realizar uma biópsia, retirando uma pequena amostra da parede do intestino para análise laboratorial.

Para Araújo et al. (2008, p.4):

A ressonância magnética de alta resolução é precisa quanto à detecção de fístulas anais da doença de Crohn e fornece importantes informações no planejamento pré-operatório. Radiografias abdominais simples devem ser realizadas para a avaliação de pacientes com quadro de abdome agudo ou com suspeita de megacólon tóxico. A colonoscopia é utilizada para confirmar a suspeita clínica de doença de Crohn e para a obtenção de biópsias. A endoscopia é mais sensível do que os exames contrastados no que se refere à extensão da doença, sendo a endoscopia gastrointestinal alta indicada em caso de sintomas gastrointestinais altos (náuseas, vômitos, dor epigástrico). Como a patologia gastrointestinal alta é mais comum na DC pediátrica, este é o exame mais rotineiramente usado em crianças.

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O exame da região anal é importante para detecção de lesão perianal para diagnóstico de fístulas ou outras lesões, podendo ser o único achado para diagnosticar a DC. (SANTOS, 2011).

Quando há forte suspeita de colite e os achados à sigmoidoscopia ou ao enema opaco são negativos, a colonoscopia com múltiplas biópsias pode determinar presença e intensidade da inflamação no cólon, bem como possibilitar a visualização da mucosa do íleo terminal. A colonoscopia nos casos severos ou fulminantes pode ser de alcance limitado, pois aumenta o risco de perfurações. O estudo histológico das biópsias obtidas por colonoscopia propicia a comprovação diagnóstica, o diagnóstico diferencial entre colite de Crohn e retocolite ulcerativa, além de diagnosticar displasia e câncer nos casos de colite de longa evolução (HABR-GAMA et al.,2011; BERNSTEIN et al.,2009).

A apresentação na forma de diarreia requer diagnóstico diferencial com colites infecciosas (virais ou bacterianas) e com parasitoses intestinais. O emprego da ultrassonografia de abdome e da tomografia computadorizada (TC) deve ocorrer prioritariamente nas circunstâncias de crises ou exacerbações, na presença de massa abdominal ou suspeita de abscesso. Além disso, esses exames são de utilidade na avaliação de complicações abdominais e pélvicas. Servem ao planejamento pré-operatório e também podem ser utilizados para direcionar punções (HABR-GAMA et al., 2011).

Segundo Santos (2011) as alternativas para tratar a DC envolvem geralmente terapia com drogas (medicamentos) ou cirurgia, e os medicamentos disponíveis atualmente não curam a doença, uma vez que são restritos para reduzir a inflamação, controlar os sintomas, induzir a regressão da doença e suas complicações e manter a qualidade de vida. A escolha dos tratamentos depende da gravidade do quadro e da localização predominante das lesões.

Como não há cura definitiva para a DC, os objetivos terapêuticos são reduzir a inflamação, controlar os sintomas, induzir e manter a remissão da doença e suas complicações, de preferência com o mínimo de efeitos colaterais e com o menor custo. O tratamento para DC envolve geralmente terapia com drogas (medicamentos) ou cirurgia. (CORNELIO et al., 2009).

As drogas imunossupressoras também reduzem a inflamação, segundo Santos (2011), mas sua ação será direcionada ao sistema imunológico. Ao suprimir a resposta imunológica a inflamação também é reduzida. Dentre os imunossupressores estão inclusos a azatioprina (Imuran), 6- mercaptopurina (6-MP), que estão entre os mais usados, além de

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ajudar a reduzir os sintomas em geral e poder curarem fístulas causadas pela doença. Outros utilizados são infliximabe, que é uma droga biológica especifica para a DC, e metotrexate e ciclosporina. (MISZPUTEN, 2007)

Segundo Teixeira et al. (2008), o infliximabe é um anticorpomonoclonal que neutraliza a citocina produzida pelo sistema imunológico conhecida como fator de necrose tumoral (TNF-α). O uso desse medicamento pode trazer efeitos colaterais indesejáveis como náuseas, dor de cabeça, febre, mal estar e pode aumentar o risco de infecções graves. A grande preocupação com relação ao uso desse medicamento é que há uma possibilidade de reativação de infecções latentes, como tuberculose. Já o Metotrexate e a ciclosporina são reservados para pessoas que não tem resposta positiva a outros medicamentos e ajudam aliviar os sintomas causados pela doença

O tratamento cirúrgico da doença de Crohn por meio de ressecção ou enteroplastia que, para Araújo et al. (2008), está indicado para as complicações e quando caracterizada ausência de tratamento específico clinico ou doença refratária. Para os pacientes com doença perianal, a drenagem de abscessos está sempre indicada, bem como as operações de fistulotomia ou drenagem por seton, nos casos mais sintomáticos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observa-se que a doença de Crohn é uma doença crônica caracterizada por um processo inflamatório uni ou multifocal do trato gastrointestinal de intensidade variável. Embora a doença tenha etiologia ainda inconclusiva, estudos afirmam seu caráter autoimune e multifatorial, que envolve fatores genéticos, imunitários e ambientais. A DC apresenta duas fases: a fase ativa é definida por alguns sintomas comuns como dor abdominal, diarreia, anorexia, perda de peso, fadiga e menorreia; e a fase silenciosa, na qual a doença está em remissão e controlada por medicamentos. De um modo geral, o diagnóstico da DC é feito a partir do exame clínico associado a exames endoscópicos, radiológicos, histológicos e laboratoriais. Enquanto isso, o tratamento da doença não levará a cura, mas diminuirá a inflamação e induzirá a remissão e o controle da doença. Para isso, o tratamento é baseado na utilização de imunossupressores. Por fim, é necessário ressaltar que algumas complicações da doença podem exigir intervenções cirúrgicas.

Conclui-se que a incidência da DC vem aumentando no Brasil e mundialmente e, dessa forma, torna-se relevante a extensão dos estudos da mesma, tendo em vista a

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necessidade de melhorar o tratamento, a prevenção e, principalmente, alcançar a cura. Apesar dos grandes avanços científicos nos últimos anos, ainda existe um longo caminho a ser percorrido para melhorar a qualidade de vida dos portadores dessa doença crônica, que têm seu modo de vida alterado de forma efetiva após o descobrimento da mesma.

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