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OPINIÃO JURÍDICA PAGAMENTO OBRIGATÓRIO DE PROPINAS. Por: João Pires

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PAGAMENTO OBRIGATÓRIO DE PROPINAS

Por: João Pires

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Por: João Pires

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25 de Abril de 2020 | 18h:30

Caríssimos,

Neste processo, há CONFLITOS de INTERESSES, a saber: do empregador (Instituição de ensino) VS trabalhador (Professor) e o da Instituição VS Estudante/aluno, ou seja:

1. Trabalhador e o empregador:

O Professor almeja a REMUNERAÇÃO. E o Empregador diz: - eu dependo, principalmente, de PROPINAS e como não as recebi, não tenho como pagar a V/ remuneração.

Ou diria ainda o seguinte: se os Professores não prestaram serviços não podem ter o direito à REMUNERAÇÃO referente ao mês em causa.

Se assim é, estaríamos diante de faltas injustificadas?

A resposta é NÃO porque a causa da não prestação de serviço é o EE – a Covid-19.

1Advogado Estagiário, Docente Universitário, Mestrando em Ciências Jurídico-Empresariais.

OPINIÃO JURÍDICA

O PAGAMENTO OBRIGATÓRIO DE PROPINAS

Reflexões: Razões da Convocação da Associação da Defesa dos Direitos do Consumidor

Fundamento: artigo 28/b) da Lei da n.° 15/03, de 22 de Julho – Lei de Defesa do Consumidor (adiante

LDC).

Usaremos também a Lei n.° 17/16, de 7 de Abril – Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino (adiante LBSEE)

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E agora?

Certos especialistas de Direito de trabalho diriam que os trabalhadores teriam o direito à remuneração por força da SINALAGMA IMPERFEITA que ocorre nas situações em que o trabalhador recebe a REMUNERAÇÃO mesmo não prestando serviços, por ex.: nas férias, situações de doenças, etc.

Será que a "sinalagma imperfeita" se enquadra no âmbito do EE – Covid-19?

Penso que não, porque é uma situação que INDEPENDE tanto o empregador como o trabalhador.

Alguém poderia contra-argumentar que a doença também independe as PARTES. É verdade, mas o trabalhador não está com a Covid-19, logo não está doente. As férias também não aqui chamadas por causa da sua finalidade: recuperação de energias.

Se admitirmos que a remuneração deve ser paga. Até quando se pagaria? O pagamento de salários:

a) Potencia a FALÊNCIA da empresa se for mais de três meses? b) Potencia o DESPEDIMENTO COLECTIVO por razões objectivas?

Estas questões devem ser ponderadas para evitar parcialidades!

Ademais, o artigo 98/3, da LBSEE impõe que as Instituições privadas2 devem diversificar as fontes de receitas, de financiamento.

Se assim é, as instituições não podem invocar que as propinas sejam a ÚNICA fonte de receitas, mas uma das fontes mais consistente.

2 Deve-se referenciar ainda que as Instituições privadas de ensino são verdadeiros estabelecimentos comerciais, i.e. são

empresa em sentido objectivo.

Ora, a empresa e a sociedade não se confunde. Aliás Abreu, Jorge Manuel Coutinho de, Curso de Direito Comercial, Vol. II, 5ª ed., 2016, Almedina, Reimpressão, págs. 36 e ss estabelece uma excelente distinção nos seguintes termos: A sociedade é uma das formas de organização da empresa quando ela exista porque a sociedade pode existir sem a empresa.

A empresa é a organização ou estrutura do negócio, isto é, organização patrimonial, sem sujeitos, sócios.

A sociedade é a pessoa jurídica (com personalidade jurídica), a empresa é a organização patrimonial (sem sujeitos, sem personalidade jurídica).

A sociedade pode ser constituída e existir sem a empresa. A empresa pode existir sem a sociedade, por isso, admite a entrada na sociedade através de uma empresa.

A empresa sendo organização patrimonial pode ser objecto de negócio jurídico, a saber: trespasse ou cessão de exploração. Logo a empresa e sociedade são separáveis.

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Se essa medida já resulta da lei não se percebe as razões que estiveram na base para o EXECUTIVO impor por força do Decreto Executivo Conjunto n.º 157/20, 22 de Abril (adiante DEC) o pagamento de 60%, 25% de propinas, sabendo que a própria lei prevê e impõe a diversificação de financiamento.

Então, a obrigação não seria dos estudantes, mas sim das instituições pagarem 60% ou 50% da Remuneração dos Professores, de que forma?

Recorrendo-se ao empréstimo bancário, abertura de linha de crédito ou até mesmo ao contrato de suprimento.

Se o caminho não for este, então, resta apenas a SUSPENSÃO DO VÍNCULO LABORAL em virtude desta calamidade nos termos da alínea b) do artigo 193.º, da Lei n.º 7/15, de 15 de Junho – Lei Geral de Trabalho.

2. Quanto aos Estudante/aluno e a Instituição:

O estudante/aluno diz: - só pago PROPINAS se tiver beneficiado as AULAS, já que a RELAÇÃO com a Instituição tem natureza jurídica de PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS especial (vd. 1154.° e 1156.°, ambos do Código Civil (adiante CC).

Aliás, sabe-que na prestação de serviços, a obrigação é de RESULTADO. Quer dizer, sem o resultado (sem as aulas) não há obrigação de pagamento de PROPINAS.

Acrescenta-se ainda que o ESTADO é DEFENSOR N.° 1 dos direitos do Consumidor de acordo com o artigo 2.°, da LDC.

Além disso, muitos encarregados de educação viram nestes dias os seus VÍNCULOS LABORAIS SUSPENSOS, baixa escoação de produtos: baixa produção (os do sector informal, ex.: as Zungueiras) e estão com dificuldades sérias para gerir esta situação.

Mas, o Executivo teve ousadia de impor o pagamento de 60% das PROPINAS – sem fundamentos bastante, a não ser: o EE – Covid-19.

Ora, eu questiono: esta solução é JUSTA?

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Outra questão: se for prorrogado mais 15 dias, continuarão a pagar PROPINAS sem aulas?

A medida é JUSTA?

Novamente, muitos dirão: NÃO.

A solução possível: - como o ano lectivo tem 10 meses, e normalmente termina em NOVEMBRO, o ano lectivo de 2020 terminaria em JANEIRO ou FEVEREIRO de 2021.

Esta solução acautelaria todos os interesses, i.e., dos Professores, da Instituição e dos alunos, pois todos sairiam PREJUDICADOS.

Então, o EXECUTIVO “deve” RECUAR com essas medidas já que o EE não é um meio de violação de leis, mas sim de limitação de certos direitos FUNDAMENTAIS.

Curiosamente, o DEC diz claramente no artigo 4.º do DEC que o não pagamento de propinas nesta fase não gera “multa” nem “juros de mora”, isto significa que o pagamento de propinas nesta fase não é obrigatório.

Neste caso, a obrigação de pagamento de propinas é “pura” significa que os estudantes para pagarão com multa ou com juros de mora quanto forem interpelados após o levantamento do estado de emergência de acordo com o n.º 1 do artigo 805.º, do Código Civil.

Outra nota, o DEC só entra em vigor na data da sua publicação, 21 de Abril de 2020. Quer dizer que este diploma não se aplica ao mês de Março.

Estamos com sérias dúvidas com o processo de aplicação de criação de leis em Angola, pois temos estado a verificar incongruências e erro inadmissíveis.

O que Estado angolano, para além de se imiscuir sem medida na vida privada, violando o princípio da igualdade e liberdade contratual, alterou de forma drástica as circunstâncias que fundamentaram a celebração de contrato de prestação de serviço entre as Instituições e os estudantes nos termos do artigo 437.º, do Código Civil.

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Nestes termos convoco a ASSOCIAÇÃO DA DEFESA DOS DIREITOS DO CONSUMIDOR para defender os alunos/estudantes por serem verdadeiros CONSUMIDORES e mobilizar os encarregados de educação, em nome dos estudantes/alunos, para uma DESOBEDIÊNCIA NACIONAL, por força do n.º 2 do artigo 52, interpretação a contrario sensu de modo que não paguem as propinas.

MINHA OPINIÃO.

Referências Bibliográficas

Abreu, Jorge Manuel Coutinho de, Curso de Direito Comercial, Vol. II, 5ª ed., 2016, Almedina, Reimpressão

Capeça, Norberto Moisés Moma, Os Despedimentos: À Luz da Nova Lei Geral do Trabalho.

Legislação

Código Civil

Decreto Executivo Conjunto n.º 157/20, 22 de Abril

Lei da n.° 15/03, de 22 de Julho – Lei de Defesa do Consumidor

Lei n.° 17/16, de 7 de Abril – Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino Lei n.º 7/15, de 15 de Junho – Lei Geral de Trabalho.

Sobre o autor:

Advogado Estagiário

Mestrando em Ciências Jurídico-Empresariais

Docente na Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto

Melhor estudante de Direito do ano lectivo 2019, da Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto. LinkedIn: linkedin.com/in/joão-pires-ab668b198

Contacto: joaopires-@outlook.com

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