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A QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO: DIMENSÕES E REPERCUSSÕES NA SAÚDE DO TRABALHADOR DE ENFERMAGEM DE TERAPIA INTENSIVA

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Academic year: 2021

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A QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO: DIMENSÕES E REPERCUSSÕES NA SAÚDE DO TRABALHADOR DE ENFERMAGEM DE TERAPIA INTENSIVA

Érica Lima Ramos 1 Norma Valéria Dantas de Oliveira Souza 2 Ariane Silva Pires3 Francisco Gleidson de Azevedo Gonçalves4

INTRODUÇÃO: O estudo teve como objeto a qualidade de vida no trabalho e suas repercussões na saúde do trabalhador de enfermagem da terapia intensiva. Esse objeto se configura num recorte de uma dissertação de mestrado defendida na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, no ano 2009(1). A Qualidade de Vida é a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações(2). Por conseguinte, infere-se que a Qualidade de Vida no Trabalho é o maior determinante da Qualidade de Vida Total, pois passamos no ambiente de trabalho mais de oito horas por dia, durante pelo menos trinta e cinco anos de nossas vidas(3). No seu cotidiano, o trabalhador de enfermagem enfrenta dificuldades de toda ordem, sendo obrigado a dar conta de uma série de atividades, acumulando diversas funções, transformando-se em verdadeiras máquinas na prestação da assistência aos clientes. Nesta perspectiva, esse coletivo profissional, em sua maioria, trabalha em ambientes insalubres e penosos, que não oferecem condições adequadas à sua saúde, o que proporciona a precarização do trabalho, seja pelo excesso de trabalho físico e mental, pelo acúmulo de horas trabalhadas, pela má remuneração ou pelo vínculo empregatício que lhe acarreta instabilidade. Essa realidade de condições de trabalho precárias acaba trazendo baixa qualidade de vida no trabalho, o que repercute negativamente na saúde, levando ao adoecimento físico e mental(4). Fora a sobrecarga de trabalho, acontece também o acúmulo de funções

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Enfermeira, Mestre em Enfermagem pelo Programa de Pós Graduação da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, ENF/UERJ.

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Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (ENF/UERJ). Coordenadora de Ensino de Graduação da ENF/UERJ; Procientista da UERJ. Professora Permanente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da ENF/UERJ. Endereço eletrônico: E-mail: norval_souza@yahoo.com.br.

3 Acadêmica do 7° período do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro ENF/UERJ. Bolsista PIBIC/CNPq do Projeto de Pesquisa “Riscos Ocupacionais no Trabalho de Enfermagem da Policlínica Piquet Carneiro”.

4 Interno de Enfermagem do 8º período do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro ENF/UERJ, Bolsista PIBIC/CNPq do Projeto de Pesquisa “Riscos Ocupacionais no Trabalho de Enfermagem da Policlínica Piquet Carneiro”.

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referentes ao ambiente doméstico, já que a enfermagem é uma profissão essencialmente feminina. Para as mulheres, a vivência do trabalho implica sempre na combinação do trabalho fora de casa e com os afazeres domésticos, seja pelo entrosamento, seja pela superposição(5). Buscando ampliar um pouco mais a contextualização acerca da relação trabalho de enfermagem e qualidade de vida, é relevante levantar questões que envolvem a economia capitalista e os ideais neoliberais da livre concorrência. Esse modelo produtivo induz o mercado da saúde a expandir horizontes na busca pelo cliente, porque este é sinônimo de lucro, razão de ser do sistema. Nesse sentido, as empresas procuram “conquistá-lo” com discurso da qualidade, sendo esta entendida como sinônimo de instalações modernas, principalmente com o uso de tecnologias arrojadas(6). Essa utilização de tecnologia, introduzidas no processo produtivo, possibilitaram às empresas o aumento da produtividade e, conseqüentemente, dos lucros, e trouxeram impactos à saúde do trabalhador, com manifestações tanto na dimensão física quanto na psíquica(6). Nesse sentido, com o aumento do número de clientes que necessitam de tratamento especializado e o desenvolvimento tecnológico da medicina, houve a exigência de uma assistência mais eficaz. E, quanto mais a ciência e a tecnologia avançam, mais complexos se tornam os processos de trabalho, o que exige dos trabalhadores “cada vez mais elevados níveis de instrução, adestramento, emprego da inteligência e do esforço mental geral”(7:27). Acrescidas a toda essa problemática verificam-se dificuldades sócio-econômicas enfrentadas por quase todos os seguimentos da classe trabalhadora, ou seja, baixos salários, acesso restrito a bens e serviços. Essa situação encontra-se em consonância com o coletivo profissional da Enfermagem. Assim, os trabalhadores de enfermagem a fim de assegurarem patamares de ganho compatíveis com suas expectativas materiais, submetem-se a enorme sobrecarga de trabalho e, muitas vezes, a dupla ou a tripla jornada de trabalho. Como resultado, os trabalhadores acabam utilizando o tempo que deveria ser dedicado ao repouso e à família trabalhando ou dormindo a fim de restaurar a energia vital e reiniciarem o ciclo laboral, eliminando inclusive, o tempo livre para o lazer(8). A partir do que foi discutido, observa-se que este coletivo profissional tem sofrido um grande desgaste físico e psicológico. Nesta perspectiva e considerando a natureza do objeto, selecionaram-se como objetivos do estudo: caracterizar as situações que favorecem ou interferem na Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) de enfermagem em terapia intensiva; e analisar as repercussões da QVT na saúde do trabalhador de enfermagem da terapia intensiva. METODOLOGIA: Pesquisa descritiva com abordagem qualitativa, desenvolvida em um Centro de Terapia Intensiva, de um hospital privado, na cidade do Rio de Janeiro. O critério para a escolha do cenário, e também dos sujeitos, fundamentou-se no fato de ser uma unidade em que se encontram clientes de alta complexidade e que necessitam da atuação de profissionais especializados e uso de grande aporte

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negativamente na QVT. Os sujeitos do estudo foram 15 profissionais de enfermagem, sendo 04 enfermeiros e 11 técnicos de enfermagem. A coleta de dados ocorreu no mês de Julho de 2008. Os instrumentos de coleta foram: um roteiro de observação, de caráter não participante, e a entrevista semi-estruturada individual. Antes da fase de coleta, o projeto foi submetido à avaliação e posterior aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da própria instituição, sob o número de protocolo 176/08. A análise dos dados deu-se através do método de análise temática de conteúdo, o qual fez emergir duas categorias: A percepção dos trabalhadores de enfermagem sobre Qualidade de Vida no Trabalho: alienação e conscientização; e Repercussões da baixa Qualidade de Vida no Trabalho em saúde. RESULTADOS: Foi apreendido que muitos sujeitos apresentavam-se alheios quanto ao significado de QVT, pois não conseguiam caracterizá-la, ou dizer se tinham ou não tinham Qualidade de Vida no seu trabalho. Além disso, quando conseguiam caracterizá-la, o faziam de forma parcial, empobrecida, lembrando um ou outro componente que resulta em QVT. Sendo assim, eles aludiram à importância de um quantitativo adequado de recursos materiais e humanos para se trabalhar com qualidade; referiram à relevância de salários dignos; e relataram a necessidade de se ter relações interpessoais amistosas a fim de se conquistar QVT, porém todos estes fatores foram lembrados de forma pouco articulado e isoladamente por um ou outro sujeito. Desta forma, foi possível verificar certo desconhecimento ou certa alienação apresentada por muitos sujeitos sobre o tema, apontando que talvez esta alienação possa ser um tipo de mecanismo de defesa ou de estratégia coletiva de defesa diante de um contexto de grande sofrimento psíquico(9). Constatou-se também que o trabalhador sofre psiquicamente e fisicamente, e tem sua qualidade de vida no trabalho seriamente comprometida. Verificou-se um elenco de repercussões psicofísicas que aponta claramente para gravidade da situação em que se encontra a qualidade de vida dos trabalhadores: hipertensão arterial, dores lombares, cansaço nas pernas, cefaléia, ansiedade, irritabilidade, nervosismo, enfim uma multiplicidade de repercussões que se faz urgente e necessário estudar a situação laboral dos trabalhadores de enfermagem a fim de garantir ou mesmo minimizar os impactos negativos no processo saúde-doença dos mesmos. CONCLUSÃO: Considera-se que os sujeitos do estudo não possuem uma QVT almejada, embora alguns dos mesmos considerem que tenham o que é justificado pelo processo de alienação a que possam estar submetido. Essa baixa QVT provoca danos à saúde do trabalhador, levando ao desgaste físico e mental destes, os quais foram identificados pelo estresse e dores no corpo. Com isso, os sujeitos se sentem desestimulados ou incapacitados de prestar uma assistência de qualidade, levando assim, ao sofrimento psíquico por não conseguirem realizar adequadamente suas tarefas. Ao atingir os objetivos propostos, o estudo mostra relevância científica, pois constitui um acréscimo ao conhecimento

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existente, além de contribuir socialmente ao partilhar a compreensão sobre os problemas que envolvem a relação entre a organização do trabalho, a saúde e a vida dos trabalhadores de Enfermagem.

DESCRITORES: Enfermagem do trabalho; Qualidade de Vida; Saúde do Trabalhador.

REFERÊNCIAS:

1. Ramos EL. A Qualidade de Vida no Trabalho: dimensões e repercussões na saúde do trabalhador de enfermagem de terapia intensiva. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Enfermagem, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2009.

2. Seild MF, Zannon CML. Qualidade de vida e saúde: aspectos conceituais e metodológicos. Cad. Saúde Pública. 2004 mar/abr; 20(2): 580-88.

3. França ACL. Qualidade de Vida no trabalho: conceitos, abordagens, inovações e desafios nas empresas brasileiras. Revista Brasileira de Medicina Psicossomática. 1997 abr/mai/jun; 1(2): 79-83.

4. Farias SNP, Zeitoune RCG. A Qualidade de Vida no Trabalho de Enfermagem. Rev. Anna Nery. 2007 jan/abr; 11(1): 66-85.

5. Netto LFS, Ramos FRS. Considerações sobre o processo de construção da identidade do enfermeiro no cotidiano de trabalho. Rev. Latino-Am. Enfermagem, 2004 jan/fev; 12(1): 50-57.

6. Murofuse NT, Abranches SS, Napoleao AA. Reflexões sobre estresse e Burnout e a relação com a enfermagem. Rev. Latino-am. Enferm. 2005 mar/abr; 13(2): 255-61.

7. Lopes V. O trabalho noturno do profissional de enfermagem: o sofrimento do trabalho na visão de ergonomia Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Florianopólis, 2000.

8. Czapski CA. Qualidade em estabelecimentos de saúde. São Paulo (SP): Editora Senac; (Série Apontamentos Saúde). 1999.

9. Dejours C. Da Psicopatologia à Psicodinâmica do Trabalho. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, Brasília: Editora Paralelo; 2004.

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