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A Queda de Gondolin - J. R. R. Tolkien

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Academic year: 2021

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A Queda de Gondolin

A Queda de Gondolin

Um dos textos mais antigos do Legendárium Um dos textos mais antigos do Legendárium

Nota do Tradutor:

Nota do Tradutor: O texto abaixo foi traduzido da série HoME (history O texto abaixo foi traduzido da série HoME (history

of middle earth), publicada e editada por Cristopher Tolkien, filho do of middle earth), publicada e editada por Cristopher Tolkien, filho do professor Tolkien. Os contos desta série são, na verdade, um grande professor Tolkien. Os contos desta série são, na verdade, um grande apanhado de textos e histórias que Tolkien desenvolveu ao longo dos apanhado de textos e histórias que Tolkien desenvolveu ao longo dos anos, mas que nunca teve oportunidade (ou mesmo vontade) de anos, mas que nunca teve oportunidade (ou mesmo vontade) de publicar. Algumas destas informações são arcaicas, e podem entrar publicar. Algumas destas informações são arcaicas, e podem entrar em conflito com as histórias publicadas em suas edições oficiais. em conflito com as histórias publicadas em suas edições oficiais. Saibam, então, que Tuor era um homem que vivia em dias muito Saibam, então, que Tuor era um homem que vivia em dias muito antigos nas terras que ficam ao norte, chamadas Dor Lómin, ou a antigos nas terras que ficam ao norte, chamadas Dor Lómin, ou a Terra das Sombras, e a qual os Noldor dentre os Eldar melhor Terra das Sombras, e a qual os Noldor dentre os Eldar melhor conhecem. O povo de onde vinha Tuor vagava pelas florestas e conhecem. O povo de onde vinha Tuor vagava pelas florestas e campos e não fazia canções sobre o mar, nem o conhecia; mas Tuor campos e não fazia canções sobre o mar, nem o conhecia; mas Tuor

não morava entre eles. Ele vivia sozinho próximo ao lago que era chamado Mithrim, ora caçando não morava entre eles. Ele vivia sozinho próximo ao lago que era chamado Mithrim, ora caçando em seus bosques, ora fazendo música ao lado de suas costas com sua harpa rústica feita de em seus bosques, ora fazendo música ao lado de suas costas com sua harpa rústica feita de madeira e tendões de ursos. Muitos, ouvindo do poder das canções de Tuor, vinham para escutar madeira e tendões de ursos. Muitos, ouvindo do poder das canções de Tuor, vinham para escutar sua harpa, mas Tuor deixou seu canto e foi-se para lugares solitários. Ali ele aprendeu muitas sua harpa, mas Tuor deixou seu canto e foi-se para lugares solitários. Ali ele aprendeu muitas coisas estranhas e adquiriu conhecimento sobre os Noldor errantes, que ensinaram-lhe muito da coisas estranhas e adquiriu conhecimento sobre os Noldor errantes, que ensinaram-lhe muito da sua linguagem e tradições; mas ele não estava destinado a morar para sempre naqueles bosques. sua linguagem e tradições; mas ele não estava destinado a morar para sempre naqueles bosques. Conta-se que a magia e o destino conduziram-no certo dia a uma abertura cavernosa na qual um Conta-se que a magia e o destino conduziram-no certo dia a uma abertura cavernosa na qual um rio escondido fluía a partir do Mithrim. E Tuor entrou naquela caverna buscando aprender seu rio escondido fluía a partir do Mithrim. E Tuor entrou naquela caverna buscando aprender seu segredo, mas as águas do Mithrim conduziram-no adiante para dentro do coração da rocha e ele segredo, mas as águas do Mithrim conduziram-no adiante para dentro do coração da rocha e ele não pôde mais voltar para a luz. E isto, conta-se, era a vontade de Ulmo, o Senhor das Águas, pela não pôde mais voltar para a luz. E isto, conta-se, era a vontade de Ulmo, o Senhor das Águas, pela sugestão de quem os Noldor haviam feito aquele caminho oculto. Então vieram os Noldor a Tuor e sugestão de quem os Noldor haviam feito aquele caminho oculto. Então vieram os Noldor a Tuor e guiaram-no ao longo de passagens escuras entre as montanhas até que ele chegasse à luz mais guiaram-no ao longo de passagens escuras entre as montanhas até que ele chegasse à luz mais uma vez, e visse que o rio fluía velozmente em um desfiladeiro de grande profundidade com lados uma vez, e visse que o rio fluía velozmente em um desfiladeiro de grande profundidade com lados impossíveis de serem escalados. Agora Tuor não desejava mais retornar e seguiu adiante, e o rio impossíveis de serem escalados. Agora Tuor não desejava mais retornar e seguiu adiante, e o rio o conduzia em direção ao oeste.

o conduzia em direção ao oeste.

O sol subia por detrás de suas costas e punha-se diante de sua face, e onde a água fazia espuma O sol subia por detrás de suas costas e punha-se diante de sua face, e onde a água fazia espuma entre as muitas pedras ou caía em quedas d'água havia às vezes arco-íris tecidos através do entre as muitas pedras ou caía em quedas d'água havia às vezes arco-íris tecidos através do desfiladeiro, mas ao anoitecer suas paredes lisas brilhavam ao pôr-do-sol, e por estas razões Tuor desfiladeiro, mas ao anoitecer suas paredes lisas brilhavam ao pôr-do-sol, e por estas razões Tuor o chamou de Fenda Dourada ou Ravina do Teto Colorido, que é na língua dos Elfos Glorfalc ou o chamou de Fenda Dourada ou Ravina do Teto Colorido, que é na língua dos Elfos Glorfalc ou Cris Ilbranteloth. Tuor viajou ali durante três dias, bebendo das águas do rio secreto e Cris Ilbranteloth. Tuor viajou ali durante três dias, bebendo das águas do rio secreto e alimentando-se com alimentando-seus peixes; e estes eram de ouro e prata, e de muitas formas maravilhosas. Finalmente o se com seus peixes; e estes eram de ouro e prata, e de muitas formas maravilhosas. Finalmente o desfiladeiro alargou-se, e conforme este ficava mais aberto, seus lados ficavam mais baixos e mais desfiladeiro alargou-se, e conforme este ficava mais aberto, seus lados ficavam mais baixos e mais acidentados, e o leito do rio ficava entulhado com pedras contra as quais as águas espumavam e acidentados, e o leito do rio ficava entulhado com pedras contra as quais as águas espumavam e borbotavam. Por longos períodos Tuor sentava-se e contemplava a água espirrando e escutava borbotavam. Por longos períodos Tuor sentava-se e contemplava a água espirrando e escutava sua voz, e então erguia-se e saltava para a frente de pedra em pedra cantando enquanto sua voz, e então erguia-se e saltava para a frente de pedra em pedra cantando enquanto prosseguia; ou, conforme as estrelas saíam na faixa estreita de céu acima da ravina, ele levantava prosseguia; ou, conforme as estrelas saíam na faixa estreita de céu acima da ravina, ele levantava ecos para responder à vibração feroz de sua harpa.

ecos para responder à vibração feroz de sua harpa.

Um dia, após uma grande jornada de progresso exaustivo, Tuor ouviu um grito ao anoitecer, e não Um dia, após uma grande jornada de progresso exaustivo, Tuor ouviu um grito ao anoitecer, e não pôde decidir de que criatura vinha. Ora dizia: - É uma criatura mágica -, ora: - é apenas algum pôde decidir de que criatura vinha. Ora dizia: - É uma criatura mágica -, ora: - é apenas algum pequeno animal que geme entre as pedras - e ora lhe parecia que um pássaro desconhecido falara pequeno animal que geme entre as pedras - e ora lhe parecia que um pássaro desconhecido falara com uma voz nova e estranhamente triste aos seus ouvidos. Tuor não havia ouvido a voz de com uma voz nova e estranhamente triste aos seus ouvidos. Tuor não havia ouvido a voz de qualquer pássaro em toda sua perambulação ao longo da Fenda Dourada, e ficou feliz pelo som, qualquer pássaro em toda sua perambulação ao longo da Fenda Dourada, e ficou feliz pelo som, embora este fosse lamuriento. No dia seguinte, em uma dada hora na manhã, ouviu o mesmo grito embora este fosse lamuriento. No dia seguinte, em uma dada hora na manhã, ouviu o mesmo grito

(2)

sobre sua cabeça, e olhando para cima viu três grandes pássaros brancos batendo suas asas sobre sua cabeça, e olhando para cima viu três grandes pássaros brancos batendo suas asas vigorosamente ravina acima e proferindo gritos como aqueles que ouvira entre o crepúsculo. vigorosamente ravina acima e proferindo gritos como aqueles que ouvira entre o crepúsculo.  Aquelas

 Aquelas eram as graeram as grandes gndes gaivotas, oaivotas, os pássas pássaros de Ossëros de Ossë..

Naquela parte do leito do rio havia ilhotas rochosas entre a corrente, e rochas caídas cobertas de Naquela parte do leito do rio havia ilhotas rochosas entre a corrente, e rochas caídas cobertas de areia branca ao pé da parede lateral da ravina, de tal forma que era difícil caminhar por ali; areia branca ao pé da parede lateral da ravina, de tal forma que era difícil caminhar por ali; procurando por alguns instantes, Tuor finalmente encontrou um lugar por onde, com algum procurando por alguns instantes, Tuor finalmente encontrou um lugar por onde, com algum trabalho, ele podia escalar a parede da ravina. Então um vento fresco soprou contra o seu rosto, e trabalho, ele podia escalar a parede da ravina. Então um vento fresco soprou contra o seu rosto, e ele disse: - Isto é bom como um gole de vinho! - mas ele não sabia que estava perto dos confins do ele disse: - Isto é bom como um gole de vinho! - mas ele não sabia que estava perto dos confins do Grande Mar.

Grande Mar.

Conforme Tuor prosseguia acima das águas, as paredes do desfiladeiro aproximavam-se Conforme Tuor prosseguia acima das águas, as paredes do desfiladeiro aproximavam-se novamente e elevavam-se a uma altura maior, de forma que ele caminhava agora sobre o topo novamente e elevavam-se a uma altura maior, de forma que ele caminhava agora sobre o topo elevado de um precipício; e ele chegou a um estreitamento cheio de ruídos na ravina. Então Tuor elevado de um precipício; e ele chegou a um estreitamento cheio de ruídos na ravina. Então Tuor olhando para baixo viu a maior das maravilhas, pois parecia que uma enchente de água furiosa olhando para baixo viu a maior das maravilhas, pois parecia que uma enchente de água furiosa subia o caminho estreito e fluía de volta contra a corrente do rio até a sua fonte, mas aquela água subia o caminho estreito e fluía de volta contra a corrente do rio até a sua fonte, mas aquela água que descera do Mithrim distante ainda avançava, e uma parede de água levantou-se até perto do que descera do Mithrim distante ainda avançava, e uma parede de água levantou-se até perto do topo do precipício, coroada com espuma e deformada pelos ventos. Então as águas do Mithrim topo do precipício, coroada com espuma e deformada pelos ventos. Então as águas do Mithrim foram subvertidas e a inundação que se aproximava varreu o canal acima com um rugido e foram subvertidas e a inundação que se aproximava varreu o canal acima com um rugido e submergiu as ilhotas rochosas e varreu a areia branca, de forma que Tuor fugiu e ficou temeroso, submergiu as ilhotas rochosas e varreu a areia branca, de forma que Tuor fugiu e ficou temeroso, pois não conhecia os movimentos do mar; mas os Ainur haviam posto em seu coração o desejo de pois não conhecia os movimentos do mar; mas os Ainur haviam posto em seu coração o desejo de escalar o canal naquele momento, do contrário teria sido afogado na maré que se aproximava; e escalar o canal naquele momento, do contrário teria sido afogado na maré que se aproximava; e aquela maré estava forte por causa de um vento do oeste. Então Tuor encontrou-se em uma terra aquela maré estava forte por causa de um vento do oeste. Então Tuor encontrou-se em uma terra rústica e despida de árvores, varrida por um vento vindo do pôr-do-sol, e todos os arbustos e rústica e despida de árvores, varrida por um vento vindo do pôr-do-sol, e todos os arbustos e moitas inclinavam-se para o alvorecer por causa daquele vento. E durante algum tempo vagou ali, moitas inclinavam-se para o alvorecer por causa daquele vento. E durante algum tempo vagou ali, até que chegasse aos negros precipícios junto ao mar e visse o oceano e suas ondas pela primeira até que chegasse aos negros precipícios junto ao mar e visse o oceano e suas ondas pela primeira vez, e àquela hora o sol mergulhava além da borda do mundo, e ele ficou ereto no topo do vez, e àquela hora o sol mergulhava além da borda do mundo, e ele ficou ereto no topo do precipício com os braços abertos, e seu coração foi preenchido com um desejo de fato grande. precipício com os braços abertos, e seu coração foi preenchido com um desejo de fato grande.  Alguns dizem

 Alguns dizem que ele fque ele foi o oi o primeirprimeiro o dos Homens dos Homens a a chegchegar ar ao Mar ao Mar e e conhececonhecer r o o desedesejo jo que esteque este traz; mas não sei se o dizem acertadamente.

traz; mas não sei se o dizem acertadamente.

Naquelas regiões ele montou sua habitação, morando em um esconderijo abrigado por grandes Naquelas regiões ele montou sua habitação, morando em um esconderijo abrigado por grandes rochas negras, cujo chão era de areia branca, salvo onde a maré alta o cobria parcialmente com rochas negras, cujo chão era de areia branca, salvo onde a maré alta o cobria parcialmente com água azul; nem a espuma chegava lá salvo em ocasiões da tempestade mais forte. Lá por muito água azul; nem a espuma chegava lá salvo em ocasiões da tempestade mais forte. Lá por muito tempo permaneceu sozinho e vagou na beira da praia ou caminhou sobre as rochas à maré baixa, tempo permaneceu sozinho e vagou na beira da praia ou caminhou sobre as rochas à maré baixa, maravilhando-se com os lagos e as grandes algas, as cavernas gotejantes e a estranha ave do maravilhando-se com os lagos e as grandes algas, as cavernas gotejantes e a estranha ave do mar que viu e veio a conhecer; mas a subida e a vazante das águas e a voz das ondas sempre mar que viu e veio a conhecer; mas a subida e a vazante das águas e a voz das ondas sempre foram para ele a maior das maravilhas e sempre lhe pareciam uma coisa nova e inimaginável. foram para ele a maior das maravilhas e sempre lhe pareciam uma coisa nova e inimaginável. Ora, nas águas quietas do Mithrim, sobre a qual a voz do pato selvagem ou do lagópode Ora, nas águas quietas do Mithrim, sobre a qual a voz do pato selvagem ou do lagópode chegavam longe, ele viajara em um barco pequeno com a proa esculpida como o pescoço de um chegavam longe, ele viajara em um barco pequeno com a proa esculpida como o pescoço de um cisne, e este ele perdera no dia da descoberta do rio oculto. No mar não se aventurara ainda, cisne, e este ele perdera no dia da descoberta do rio oculto. No mar não se aventurara ainda, embora seu coração estivesse sempre incitando-o com um desejo ardente por suas águas, e em embora seu coração estivesse sempre incitando-o com um desejo ardente por suas águas, e em noites tranqüilas quando o sol sumia além da extremidade do mar esse desejo crescia de forma noites tranqüilas quando o sol sumia além da extremidade do mar esse desejo crescia de forma voraz. Madeira ele possuía que chegava até ele descendo o rio oculto; uma boa madeira era esta, voraz. Madeira ele possuía que chegava até ele descendo o rio oculto; uma boa madeira era esta, pois os Noldor a cortavam nas florestas de Dor-Lómin e mandavam-na para ele flutuando. Mas não pois os Noldor a cortavam nas florestas de Dor-Lómin e mandavam-na para ele flutuando. Mas não construíra nada ainda salvo uma habitação em um lugar abrigado em seu esconderijo, cujos construíra nada ainda salvo uma habitação em um lugar abrigado em seu esconderijo, cujos contos entre os Eldar desde então chamam Falasquil. Este, por trabalho lento, Tuor adornou com contos entre os Eldar desde então chamam Falasquil. Este, por trabalho lento, Tuor adornou com belas esculturas dos animais, árvores, flores e pássaros que conhecera perto das águas do belas esculturas dos animais, árvores, flores e pássaros que conhecera perto das águas do Mithrim, e sempre entre estas estava o Cisne, o principal, pois Tuor amava este emblema, que Mithrim, e sempre entre estas estava o Cisne, o principal, pois Tuor amava este emblema, que tornou-se um símbolo para si mesmo, sua família e seu povo mais tarde. Lá passou um período tornou-se um símbolo para si mesmo, sua família e seu povo mais tarde. Lá passou um período muito longo até que a solidão do mar vazio entrasse em seu coração, e mesmo Tuor, o solitário, muito longo até que a solidão do mar vazio entrasse em seu coração, e mesmo Tuor, o solitário, ansiou pela voz dos Homens. Com isto os Ainur tinham algo a haver; pois Ulmo amava Tuor.

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sobre sua cabeça, e olhando para cima viu três grandes pássaros brancos batendo suas asas sobre sua cabeça, e olhando para cima viu três grandes pássaros brancos batendo suas asas vigorosamente ravina acima e proferindo gritos como aqueles que ouvira entre o crepúsculo. vigorosamente ravina acima e proferindo gritos como aqueles que ouvira entre o crepúsculo.  Aquelas

 Aquelas eram as graeram as grandes gndes gaivotas, oaivotas, os pássas pássaros de Ossëros de Ossë..

Naquela parte do leito do rio havia ilhotas rochosas entre a corrente, e rochas caídas cobertas de Naquela parte do leito do rio havia ilhotas rochosas entre a corrente, e rochas caídas cobertas de areia branca ao pé da parede lateral da ravina, de tal forma que era difícil caminhar por ali; areia branca ao pé da parede lateral da ravina, de tal forma que era difícil caminhar por ali; procurando por alguns instantes, Tuor finalmente encontrou um lugar por onde, com algum procurando por alguns instantes, Tuor finalmente encontrou um lugar por onde, com algum trabalho, ele podia escalar a parede da ravina. Então um vento fresco soprou contra o seu rosto, e trabalho, ele podia escalar a parede da ravina. Então um vento fresco soprou contra o seu rosto, e ele disse: - Isto é bom como um gole de vinho! - mas ele não sabia que estava perto dos confins do ele disse: - Isto é bom como um gole de vinho! - mas ele não sabia que estava perto dos confins do Grande Mar.

Grande Mar.

Conforme Tuor prosseguia acima das águas, as paredes do desfiladeiro aproximavam-se Conforme Tuor prosseguia acima das águas, as paredes do desfiladeiro aproximavam-se novamente e elevavam-se a uma altura maior, de forma que ele caminhava agora sobre o topo novamente e elevavam-se a uma altura maior, de forma que ele caminhava agora sobre o topo elevado de um precipício; e ele chegou a um estreitamento cheio de ruídos na ravina. Então Tuor elevado de um precipício; e ele chegou a um estreitamento cheio de ruídos na ravina. Então Tuor olhando para baixo viu a maior das maravilhas, pois parecia que uma enchente de água furiosa olhando para baixo viu a maior das maravilhas, pois parecia que uma enchente de água furiosa subia o caminho estreito e fluía de volta contra a corrente do rio até a sua fonte, mas aquela água subia o caminho estreito e fluía de volta contra a corrente do rio até a sua fonte, mas aquela água que descera do Mithrim distante ainda avançava, e uma parede de água levantou-se até perto do que descera do Mithrim distante ainda avançava, e uma parede de água levantou-se até perto do topo do precipício, coroada com espuma e deformada pelos ventos. Então as águas do Mithrim topo do precipício, coroada com espuma e deformada pelos ventos. Então as águas do Mithrim foram subvertidas e a inundação que se aproximava varreu o canal acima com um rugido e foram subvertidas e a inundação que se aproximava varreu o canal acima com um rugido e submergiu as ilhotas rochosas e varreu a areia branca, de forma que Tuor fugiu e ficou temeroso, submergiu as ilhotas rochosas e varreu a areia branca, de forma que Tuor fugiu e ficou temeroso, pois não conhecia os movimentos do mar; mas os Ainur haviam posto em seu coração o desejo de pois não conhecia os movimentos do mar; mas os Ainur haviam posto em seu coração o desejo de escalar o canal naquele momento, do contrário teria sido afogado na maré que se aproximava; e escalar o canal naquele momento, do contrário teria sido afogado na maré que se aproximava; e aquela maré estava forte por causa de um vento do oeste. Então Tuor encontrou-se em uma terra aquela maré estava forte por causa de um vento do oeste. Então Tuor encontrou-se em uma terra rústica e despida de árvores, varrida por um vento vindo do pôr-do-sol, e todos os arbustos e rústica e despida de árvores, varrida por um vento vindo do pôr-do-sol, e todos os arbustos e moitas inclinavam-se para o alvorecer por causa daquele vento. E durante algum tempo vagou ali, moitas inclinavam-se para o alvorecer por causa daquele vento. E durante algum tempo vagou ali, até que chegasse aos negros precipícios junto ao mar e visse o oceano e suas ondas pela primeira até que chegasse aos negros precipícios junto ao mar e visse o oceano e suas ondas pela primeira vez, e àquela hora o sol mergulhava além da borda do mundo, e ele ficou ereto no topo do vez, e àquela hora o sol mergulhava além da borda do mundo, e ele ficou ereto no topo do precipício com os braços abertos, e seu coração foi preenchido com um desejo de fato grande. precipício com os braços abertos, e seu coração foi preenchido com um desejo de fato grande.  Alguns dizem

 Alguns dizem que ele fque ele foi o oi o primeirprimeiro o dos Homens dos Homens a a chegchegar ar ao Mar ao Mar e e conhececonhecer r o o desedesejo jo que esteque este traz; mas não sei se o dizem acertadamente.

traz; mas não sei se o dizem acertadamente.

Naquelas regiões ele montou sua habitação, morando em um esconderijo abrigado por grandes Naquelas regiões ele montou sua habitação, morando em um esconderijo abrigado por grandes rochas negras, cujo chão era de areia branca, salvo onde a maré alta o cobria parcialmente com rochas negras, cujo chão era de areia branca, salvo onde a maré alta o cobria parcialmente com água azul; nem a espuma chegava lá salvo em ocasiões da tempestade mais forte. Lá por muito água azul; nem a espuma chegava lá salvo em ocasiões da tempestade mais forte. Lá por muito tempo permaneceu sozinho e vagou na beira da praia ou caminhou sobre as rochas à maré baixa, tempo permaneceu sozinho e vagou na beira da praia ou caminhou sobre as rochas à maré baixa, maravilhando-se com os lagos e as grandes algas, as cavernas gotejantes e a estranha ave do maravilhando-se com os lagos e as grandes algas, as cavernas gotejantes e a estranha ave do mar que viu e veio a conhecer; mas a subida e a vazante das águas e a voz das ondas sempre mar que viu e veio a conhecer; mas a subida e a vazante das águas e a voz das ondas sempre foram para ele a maior das maravilhas e sempre lhe pareciam uma coisa nova e inimaginável. foram para ele a maior das maravilhas e sempre lhe pareciam uma coisa nova e inimaginável. Ora, nas águas quietas do Mithrim, sobre a qual a voz do pato selvagem ou do lagópode Ora, nas águas quietas do Mithrim, sobre a qual a voz do pato selvagem ou do lagópode chegavam longe, ele viajara em um barco pequeno com a proa esculpida como o pescoço de um chegavam longe, ele viajara em um barco pequeno com a proa esculpida como o pescoço de um cisne, e este ele perdera no dia da descoberta do rio oculto. No mar não se aventurara ainda, cisne, e este ele perdera no dia da descoberta do rio oculto. No mar não se aventurara ainda, embora seu coração estivesse sempre incitando-o com um desejo ardente por suas águas, e em embora seu coração estivesse sempre incitando-o com um desejo ardente por suas águas, e em noites tranqüilas quando o sol sumia além da extremidade do mar esse desejo crescia de forma noites tranqüilas quando o sol sumia além da extremidade do mar esse desejo crescia de forma voraz. Madeira ele possuía que chegava até ele descendo o rio oculto; uma boa madeira era esta, voraz. Madeira ele possuía que chegava até ele descendo o rio oculto; uma boa madeira era esta, pois os Noldor a cortavam nas florestas de Dor-Lómin e mandavam-na para ele flutuando. Mas não pois os Noldor a cortavam nas florestas de Dor-Lómin e mandavam-na para ele flutuando. Mas não construíra nada ainda salvo uma habitação em um lugar abrigado em seu esconderijo, cujos construíra nada ainda salvo uma habitação em um lugar abrigado em seu esconderijo, cujos contos entre os Eldar desde então chamam Falasquil. Este, por trabalho lento, Tuor adornou com contos entre os Eldar desde então chamam Falasquil. Este, por trabalho lento, Tuor adornou com belas esculturas dos animais, árvores, flores e pássaros que conhecera perto das águas do belas esculturas dos animais, árvores, flores e pássaros que conhecera perto das águas do Mithrim, e sempre entre estas estava o Cisne, o principal, pois Tuor amava este emblema, que Mithrim, e sempre entre estas estava o Cisne, o principal, pois Tuor amava este emblema, que tornou-se um símbolo para si mesmo, sua família e seu povo mais tarde. Lá passou um período tornou-se um símbolo para si mesmo, sua família e seu povo mais tarde. Lá passou um período muito longo até que a solidão do mar vazio entrasse em seu coração, e mesmo Tuor, o solitário, muito longo até que a solidão do mar vazio entrasse em seu coração, e mesmo Tuor, o solitário, ansiou pela voz dos Homens. Com isto os Ainur tinham algo a haver; pois Ulmo amava Tuor.

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Uma manhã enquanto olhava ao longo da costa (e eram então os últimos dias do verão) Tuor viu Uma manhã enquanto olhava ao longo da costa (e eram então os últimos dias do verão) Tuor viu três cisnes voando alto e vigorosamente da direção norte. Estes pássaros não haviam estado três cisnes voando alto e vigorosamente da direção norte. Estes pássaros não haviam estado antes nestas regiões, e tomou-os por um aviso, e disse: - Por muito tempo meu coração tem sido antes nestas regiões, e tomou-os por um aviso, e disse: - Por muito tempo meu coração tem sido instigado em uma viagem para longe daqui; e veja! Agora afinal seguirei estes cisnes.

instigado em uma viagem para longe daqui; e veja! Agora afinal seguirei estes cisnes.  – – Os cisnes Os cisnes

entraram na água do abrigo de Tuor, e lá, levantaram-se novamente e voaram lentamente para o entraram na água do abrigo de Tuor, e lá, levantaram-se novamente e voaram lentamente para o sul ao longo da costa, e Tuor portando sua harpa e lança os seguiu.

sul ao longo da costa, e Tuor portando sua harpa e lança os seguiu.

Naquele dia Tuor deixou para trás uma viagem longa; e antes do anoitecer ele chegou a uma Naquele dia Tuor deixou para trás uma viagem longa; e antes do anoitecer ele chegou a uma região onde árvores outra vez apareciam, e a maneira daquela terra pela qual agora viajava diferia região onde árvores outra vez apareciam, e a maneira daquela terra pela qual agora viajava diferia grandemente daquelas praias próximas a Falasquil. Lá Tuor vira precipícios poderosos cheios de grandemente daquelas praias próximas a Falasquil. Lá Tuor vira precipícios poderosos cheios de cavernas e grande cavidades, e enseadas profundas e naturalmente fortificadas, mas dos topos cavernas e grande cavidades, e enseadas profundas e naturalmente fortificadas, mas dos topos dos rochedos estendia-se uma terra escarpada, áspera, aplainada e deserta, para onde uma orla dos rochedos estendia-se uma terra escarpada, áspera, aplainada e deserta, para onde uma orla azul distante ao leste falava de colinas longínquas. Agora, porém, ele via uma praia longa e azul distante ao leste falava de colinas longínquas. Agora, porém, ele via uma praia longa e inclinada e trechos arenosos, enquanto as colinas distantes marchavam sempre mais próximas à inclinada e trechos arenosos, enquanto as colinas distantes marchavam sempre mais próximas à margem do mar, e as suas encostas eram cobertas com pinho ou abeto e sobre os pés dessas margem do mar, e as suas encostas eram cobertas com pinho ou abeto e sobre os pés dessas encostas cresciam vidoeiros e carvalhos antigos. Dos pés das colinas, correntes de águas frescas encostas cresciam vidoeiros e carvalhos antigos. Dos pés das colinas, correntes de águas frescas lançavam-se ao longo de fendas estreitas, e assim encontravam as praias e as ondas salgadas. lançavam-se ao longo de fendas estreitas, e assim encontravam as praias e as ondas salgadas. Por sobre algumas daquelas fendas Tuor não podia saltar, e freqüentemente era difícil avançar por Por sobre algumas daquelas fendas Tuor não podia saltar, e freqüentemente era difícil avançar por tais caminhos, mas ainda assim ele prosseguia, pois os cisnes viajavam sempre adiante dele, ora tais caminhos, mas ainda assim ele prosseguia, pois os cisnes viajavam sempre adiante dele, ora girando de repente, ora apressando-se adiante, mas nunca vindo para a terra, e o movimento das girando de repente, ora apressando-se adiante, mas nunca vindo para a terra, e o movimento das suas asas de batida vigorosa o encorajava. É dito que desta maneira Tuor prosseguiu por um suas asas de batida vigorosa o encorajava. É dito que desta maneira Tuor prosseguiu por um grande número de dias, e que o inverno marchou do norte apenas um pouco mais veloz, ainda que grande número de dias, e que o inverno marchou do norte apenas um pouco mais veloz, ainda que Tuor fosse incansável.

Tuor fosse incansável.

Não obstante Tuor chegou sem ferida de animal ou clima em um tempo de primeira primavera à Não obstante Tuor chegou sem ferida de animal ou clima em um tempo de primeira primavera à foz de um rio. Aqui a terra era menos setentrional e mais agradável do que aquela próxima à saída foz de um rio. Aqui a terra era menos setentrional e mais agradável do que aquela próxima à saída da Fenda Dourada, e além disso por uma curva da costa o mar estava agora bastante mais ao sul da Fenda Dourada, e além disso por uma curva da costa o mar estava agora bastante mais ao sul do que ao oeste, tanto quanto podia marcar pelo sol e pelas estrelas; mas ele mantivera seu lado do que ao oeste, tanto quanto podia marcar pelo sol e pelas estrelas; mas ele mantivera seu lado direito sempre para o mar.

direito sempre para o mar.

Este rio fluía descendo um canal agradável e em seus bancos estavam terras férteis: gramado e Este rio fluía descendo um canal agradável e em seus bancos estavam terras férteis: gramado e prado úmido de um lado e encostas cobertas de árvores crescidas do outro; suas águas prado úmido de um lado e encostas cobertas de árvores crescidas do outro; suas águas encontravam o mar preguiçosamente e não lutavam como as águas do Mithrim no norte. Longas encontravam o mar preguiçosamente e não lutavam como as águas do Mithrim no norte. Longas línguas de terra permaneciam espalhadas em seu curso cobertas com juncos e moitas fechadas, línguas de terra permaneciam espalhadas em seu curso cobertas com juncos e moitas fechadas, até que mais adiante em direção ao mar emergiam trechos arenosos; e estes eram lugares até que mais adiante em direção ao mar emergiam trechos arenosos; e estes eram lugares amados por tal multidão de pássaros como Tuor não encontrara ainda em nenhum lugar. O pio, amados por tal multidão de pássaros como Tuor não encontrara ainda em nenhum lugar. O pio, lamento e assobio deles enchia o ar; e aqui entre asas brancas Tuor perdeu de vista os três lamento e assobio deles enchia o ar; e aqui entre asas brancas Tuor perdeu de vista os três cisnes, e não os viu novamente.

cisnes, e não os viu novamente.

Então Tuor ficou por uma estação cansado do mar, pois a luta da viagem fora dolorida. Nem foi Então Tuor ficou por uma estação cansado do mar, pois a luta da viagem fora dolorida. Nem foi isto sem o planejamento de Ulmo, e naquela mesma noite os Noldor vieram a ele. Guiado pelas isto sem o planejamento de Ulmo, e naquela mesma noite os Noldor vieram a ele. Guiado pelas lanternas azuis dos Noldor Tuor encontrou um caminho ao lado da borda do rio, e progrediu tão lanternas azuis dos Noldor Tuor encontrou um caminho ao lado da borda do rio, e progrediu tão firmemente para o interior que, quando o amanhecer encheu o céu à sua direita, veja! O mar e sua firmemente para o interior que, quando o amanhecer encheu o céu à sua direita, veja! O mar e sua voz estavam distantes atrás dele, e o vento vinha diante de si de forma que nem sequer o seu odor voz estavam distantes atrás dele, e o vento vinha diante de si de forma que nem sequer o seu odor estava no ar. Assim em breve chegou àquela região que fora chamada Arlisgion, o lugar dos estava no ar. Assim em breve chegou àquela região que fora chamada Arlisgion, o lugar dos  juncos, e

 juncos, e esta é uesta é uma das terras ma das terras que estãque estão ao sul de o ao sul de Dor-Lómin e seDor-Lómin e separadas paradas de lá pede lá pelas Montalas Montanhasnhas de Ferro, cujas pontas correm mesmo para o mar. Dessas montanhas vinha este rio, e de uma de Ferro, cujas pontas correm mesmo para o mar. Dessas montanhas vinha este rio, e de uma grande clareza e frio maravilhoso eram suas águas mesmo neste lugar.

grande clareza e frio maravilhoso eram suas águas mesmo neste lugar.  Agora es

 Agora este é um te é um dos rios mais famosodos rios mais famosos das histórias dos Elds das histórias dos Eldar, e em todas as línguas é chamadoar, e em todas as línguas é chamado Sirion. Aqui Tuor descansou por algum tempo até que impelido pelo desejo levantou-se mais uma Sirion. Aqui Tuor descansou por algum tempo até que impelido pelo desejo levantou-se mais uma vez para viajar mais e mais adiante pelas marchas de muitos dias ao longo das bordas do rio. A vez para viajar mais e mais adiante pelas marchas de muitos dias ao longo das bordas do rio. A primavera plena ainda não trouxera o verão quando Tuor chegou a uma região ainda mais primavera plena ainda não trouxera o verão quando Tuor chegou a uma região ainda mais graciosa. Aqui a canção de pequenos pássaros era como uma música de encanto, pois não graciosa. Aqui a canção de pequenos pássaros era como uma música de encanto, pois não existem pássaros que cantam como as canções dos pássaros da Terra dos Salgueiros; e a esta existem pássaros que cantam como as canções dos pássaros da Terra dos Salgueiros; e a esta

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região de maravilha ele tinha chegado agora. Aqui o rio virava em curvas largas com bancos baixos por uma grande planície da mais verde e doce relva; salgueiros de idade incontável estavam próximos as suas bordas, e seu seio largo estava alastrado com folhas de nenúfar, cujas flores não haviam desabrochado ainda na precocidade do ano, mas embaixo dos salgueiros as espadas verdes dos lírios estavam desembainhadas, os caniços se levantavam, os juncos pareciam ordenados e preparados para o combate. Residia naqueles lugares brumosos um espírito de murmúrios que sussurrava para Tuor, de modo que ao cair do sol ele não desejava partir; e na manhã, pela glória dos incontáveis botões-de-ouro, ele tinha ainda menos desejo de ir-se dali, e demorava-ir-se.

 Aqui viu ele as primeiras borboletas, e a visão alegrou-o; e é dito que todas as borboletas e suas famílias nasceram no vale da Terra dos Salgueiros. Então chegou o verão e o tempo das mariposas e noites tépidas, e Tuor se surpreendeu ante a multidão de moscas e besouros, e o seu zunido e o ruído musical das abelhas, e a todas estas coisas ele deu nomes por conta própria, e teceu estes nomes em canções novas em sua velha harpa; e estas canções eram mais suaves do que o seu canto de antigamente.

Então Ulmo temeu que Tuor morasse para sempre ali e as grandes coisas do seu desígnio não chegassem a se cumprir. Por isso, temeu confiar a orientação de Tuor apenas aos Noldor por mais tempo, que serviam-no em segredo, e que por medo de Melkor oscilavam muito. Nem eram fortes contra a magia daquele lugar de salgueiros, pois muito grande era o encanto do lugar. Não é verdade que, mesmo depois dos dias de Tuor, Noldorin e seus Eldar foram até lá buscando por Dor Lómin e o rio oculto e as cavernas da prisão dos Noldor? E ainda assim, perto do fim da sua demanda, eles poderiam abandoná-la? De fato, dormindo e dançando, e fazendo bela música dos sons do rio e do murmúrio da relva, e trançando tecidos ricos de fios de teia de aranha e penas de insetos alados, eles foram varridos pelos orcs despachados por Melkor das Colinas de Ferro, e poucos dos Noldor escaparam. Mas estas coisas ainda não haviam acontecido.

Então Ulmo saltou sobre sua carruagem diante da entrada do seu palácio sob as águas tranqüilas do Mar Exterior; e sua carruagem era puxado por narvais e leões marinhos e era em sua forma igual a uma baleia; e entre o soar de grandes trompas partiu velozmente de Ulmonan. Tão grande era a sua velocidade que em dias, e não em anos sem conta como poder-se-ia pensar, alcançou a foz do rio. Seu carro não podia viajar sem dano na água do rio e em meio aos seus bancos; então Ulmo, amando todos os rios e este mais do que a maioria, foi-se dali a pé, vestido até a cintura em armadura como as escamas de peixes azuis e prateados; mas seus cabelos eram prata azulada e sua barba, que lhe ia até os pés, era do mesmo tom, e ele não portava nem elmo nem coroa.  Abaixo da armadura desciam as beiras de seu manto de verdes tremeluzentes, e de que

substância era este tecido não se sabe, mas qualquer um que olhasse nas profundezas de suas cores sutis parecia ver os movimentos lânguidos das águas profundas cortadas pelas luzes furtivas de peixes fosforescentes que vivem no abismo. Ele estava cingido com uma corda de pérolas grandes, e calçado com grandes sapatos de pedra.

Para lá levou também seu grande instrumento de música; e este era de um desenho estranho, pois era feito de conchas longas retorcidas e perfuradas com buracos. Soprando nelas e tocando com os seus dedos longos, fazia melodias profundas de uma magia maior do que qualquer outro entre os músicos alguma vez já conseguiu em harpa ou alaúde, em lira ou flauta ou instrumentos de arco. Vindo então ao longo do rio, sentou-se entre os juncos ao crepúsculo e tocou em seu objeto de conchas; e ele estava próximo daqueles lugares onde Tuor permanecia. E Tuor escutou e ficou emudecido. Lá ficou ele entre a relva que lhe chegava aos joelhos, e não escutou mais o zumbido de insetos, nem o murmúrio da beira do rio, e o odor das flores não entrou mais em suas narinas; mas ouviu o som das ondas e o lamento dos pássaros do mar, e sua alma lançou-se para lugares rochosos e plataformas que cheiram a peixe, para o espirrar de água do cormorão mergulhador e para aqueles lugares onde o mar escava precipícios negros e exclama em alto volume.

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Então Ulmo levantou-se e falou-lhe, e por temor chegou perto da morte, pois a profundidade da voz de Ulmo é das mais intensas, tanto quanto os seus olhos, que são os mais profundos dentre todas as coisas. E Ulmo disse: - Ó Tuor do coração solitário, não desejo que vivas para sempre em belos lugares de pássaros e flores; nem conduzir-te-ia eu por esta terra agradável; mas assim deve ser. Mas parte agora em tua jornada destinada e não demora, pois longe daqui fica teu destino.  Agora deves tu buscar através das terras pela cidade do povo chamado Gondolindrim ou os

habitantes na pedra, e os Noldor escoltar-te-ão para lá em segredo por temor dos espiões de Melkor. Palavras eu porei em tua boca lá, e lá permanecerás tu por algum tempo. Ainda assim, talvez tua vida se volte novamente para as águas poderosas; e seguramente um filho virá de ti, e nenhum homem saberá mais do que ele acerca das maiores profundezas, sejam elas do mar ou do firmamento dos céus. - Então contou Ulmo a Tuor um pouco do seu desígnio e desejo, mas disso Tuor entendeu pouco naquele momento, e temeu sobremaneira.

Então Ulmo foi envolto em uma névoa como se fosse marinha naqueles lugares interiores, e Tuor, com aquela música em seus ouvidos, de bom grado voltaria às regiões do Grande Mar; contudo lembrando-se de suas ordens, voltou-se e embrenhou-se no interior ao longo do rio, e assim viajou até que o dia surgisse. Todavia aquele que ouviu as trompas de Ulmo ouve o seu chamado até a morte, e isso Tuor acabou descobrindo.

Quando o dia veio ele estava cansado e dormiu até perto do entardecer, e os Noldor vieram até ele e o guiaram. Assim viajou muitos dias ao crepúsculo e na escuridão, e dormia de dia, e por causa disto veio a acontecer depois que não se lembrava muito bem dos caminhos que atravessara naqueles tempos. Agora Tuor e os seus guias prosseguiam incansáveis, e a terra se tornou uma terra de colinas encrespadas em torno de cujos pés quais o rio voltava, e lá havia muitos vales de afabilidade extrema; mas aqui os Noldor tornaram-se inquietos. - Estes - disseram - são os confins das regiões que Melkor infestou com os seus Orcs, o povo do ódio. Distante ao norte e, contudo, não afastadas o suficiente (quisera que estivessem há dez mil léguas), ficam as Montanhas de Ferro onde assenta-se o poder e o terror de Melkor, de quem somos escravos. De fato esta condução de ti nós fazemos em segredo, e se ele conhecesse todos os nossos propósitos o tormento dos Balrogs cairia sobre nós.

Caindo então em tal medo os Noldor logo o deixaram, e Tuor viajou sozinho entre as colinas, e isto mostrou-se mau depois, pois "Melkor tem muitos olhos", dizem, e enquanto Tuor viajava com os Noldor eles o conduziam por caminhos ao crepúsculo e por muitos túneis secretos através das colinas. Mas agora estava perdido, e escalava freqüentemente os topos dos outeiros e colinas esquadrinhando as terras em volta. Contudo não podia ver sinais de qualquer habitação, e de fato a cidade dos Gondolindrim não era encontrada com facilidade, pois nem mesmo Melkor e seus espiões haviam-na descoberto ainda. Conta-se de qualquer modo que neste tempo os espiões tiveram notícias de que o pé estranho do Homem tinha pisado aquelas terras, e que por isso Melkor duplicou suas artes e vigilância.

Quando os Noldor por medo abandonaram Tuor, um certo Voronwë seguiu-o para longe apesar de seu medo, depois que a repreensão não adiantou para encorajar os outros. Agora Tuor caíra em uma grande exaustão e estava sentado ao lado do fluxo corrente, e o desejo do mar estava em seu coração, e estava disposto uma vez mais a seguir este rio de volta para as águas largas e as ondas ruidosas. Mas este Voronwë, o fiel, chegou até ele novamente, e erguendo-se junto ao seu ouvido disse: - Oh Tuor, não pense senão que tu contemplarás novamente um dia o teu desejo; levanta agora, e vê, eu não te deixarei. Eu não sou dos que conhecem os caminhos entre os Noldor, sendo um artesão e fabricante de coisas feitas à mão de madeira e de metal, e não me uni ao grupo de escolta até que fosse tarde. Todavia há muito ouvi sussurros e declarações ditas em segredo entre o cansaço da escravidão, a respeito de uma cidade onde os Noldor poderiam libertar-se caso pudessem encontrar o caminho oculto para lá; e nós podemos sem dúvida encontrar a estrada para a Cidade de Pedra, onde está a liberdade dos Gondolindrim.

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Saibam então que os Gondolindrim eram aquela família dos Noldor que sozinha escapara do poder de Melkor quando na Batalha das Lágrimas Incontáveis ele matara e escravizara seu povo e tecera feitiços sobre este e fizera com que morasse nos Infernos de Ferro, partindo dali apenas segundo a sua vontade e ordem. Por um longo tempo Tuor e Voronwë buscaram pela cidade daquele povo, até que depois de muitos dias descobriram um vale profundo entre as colinas. Aqui seguia o rio sobre um leito muito rochoso com muita velocidade e barulho, e era encoberto com um crescimento pesado de carvalhos; mas as paredes do vale eram verticais, pois estavam próximas a algumas montanhas que Voronwë não conhecia. Lá na parede verde aquele Noldo localizou uma abertura como uma grande porta com lados inclinados, e esta era coberta com arbustos espessos e uma vegetação rasteira longa e intrincada; todavia a visão penetrante de Voronwë não podia ser enganada. No entanto conta-se que tal magia seus construtores haviam fixado sobre esta (com a ajuda de Ulmo, cujo poder corria até mesmo naquele rio, mesmo que o medo de Melkor seguisse em seus bancos) que ninguém exceto os do sangue dos Noldor poderia enxergá-la assim por casualidade; nem Tuor jamais a teria encontrado exceto pela fidelidade daquele Noldo, Voronwë.  Agora os Gondolindrim haviam feito sua morada secreta deste modo por medo de Melkor; contudo

mesmo assim não poucos dos mais bravos Noldor escapavam descendo o rio Sirion a partir daquelas montanhas, e se muitos pereciam desse modo pelo mal de Melkor, muitos encontrando esta passagem mágica chegavam afinal à Cidade de Pedra e aumentavam em número seu povo. Tuor e Voronwë regozijaram-se muito ao encontrar este portão, contudo entrando acharam lá um caminho escuro, de avanço difícil, e cheio de curvas; e por um longo tempo avançaram hesitando dentro de seus túneis. Estava cheio de ecos temerosos, e lá um incontável ruído de passos vinha atrás deles, de forma que Voronwë ficou amedrontado, e disse: - São os orcs de Melkor, os Orcs das colinas. - Então correram, caindo por cima das pedras na escuridão, até que perceberam que era apenas a ilusão do lugar. Assim chegaram, depois do que pareceu um tempo imensurável de apalpadelas temerosas, a um lugar onde uma luz distante brilhava, e dirigindo-se para este brilho chegaram a um portão como aquele pelo qual haviam entrado, mas de modo algum coberto por vegetação. Então passaram para a luz e durante algum tempo não puderam ver nada, mas imediatamente um grande gongo soou e houve um estrondo de armadura, e veja, estavam rodeados por guerreiros vestidos em aço.

Então olharam para cima e puderam ver, e observe! Estavam ao pé de colinas íngremes, e estas colinas faziam um grande círculo no qual ficava uma planície ampla, e firme naquele lugar, não exatamente no centro mas mais próximo àquele lugar onde estavam parados, estava uma grande colina com um topo nivelado, e naquele ápice erguia-se uma cidade na nova luz da manhã. Então Voronwë falou para a Guarda dos Gondolindrim, e a sua fala estes compreenderam, pois esta era a doce língua dos Noldor. Então Tuor falou também e questionou onde estariam e quem poderia ser aquele povo em armas que postava-se em torno, pois estava um tanto espantado e muito admirado da boa qualidade de suas armas. Então foi-lhe dito por um daquela companhia: - Nós somos os guardiões da saída do Caminho da Fuga. Alegrem-vos que tenham-no encontrado, pois contemplam diante de vós a Cidade dos Sete Nomes onde tudo aquele que guerreia com Melkor pode encontrar esperança. - Então disse Tuor: - Quais são esses nomes?

- E o líder da Guarda respondeu: - É dito e cantado: Gondobar eu sou chamada e Gondothlimbar, Cidade de Pedra e Cidade dos Moradores em Pedra; Gondolin a Pedra da Canção e Gwarestrin eu sou denominada, a Torre da Guarda; Gar Thurion ou o Lugar Secreto, pois estou escondida dos olhos de Melkor; mas aqueles que mais me amam me chamam Loth, pois como uma flor sou eu, Lothengriol, a flor que viceja na planície. Contudo - disse ele - em nossa fala diária nós dizemos e a chamamos Gondolin. Então disse Voronwë: - Leve-nos para lá, pois lá entraríamos de bom grado - e Tuor disse que o coração dele desejava muito trilhar os caminhos daquela bela cidade. Então disse o líder da Guarda que eles mesmos deviam permanecer ali, pois ainda havia muito de sua lua de vigia para passar, mas que Voronwë e Tuor poderiam entrar em Gondolin; e além disso que não precisariam de nenhum guia até lá, pois: - Vejam, ela ergue-se bela de se ver e muito clara, e suas torres alcançam os céus sobre a Colina da Guarda no meio da planície. - Então Tuor e seu companheiro seguiram sobre a planície que era de uma suavidade maravilhosa, interrompida aqui

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e acolá apenas por pedras arredondadas e lisas que jaziam entre o gramado, ou por lagos em leitos rochosos. Muitos caminhos bem cuidados havia através daquela planície, e chegaram depois da marcha da luz de um dia ao sopé da Colina da Guarda (que é na língua dos Noldor Amon Gwareth). Então começaram a ascender as escadas sinuosas que subiam até o portão da cidade; nem podia qualquer um alcançar aquela cidade salvo a pé e vigiado a partir das muralhas. Quando o portão ocidental refletia dourado a última luz do sol eles chegaram ao amplo topo da escada, e muitos olhos contemplavam-nos das ameias e das torres.

Mas Tuor olhou para os muros de pedra, as torres elevadas, os pináculos reluzentes da cidade, e viu as escadarias de pedra e mármore, margeadas por corrimões delgados e refrescadas pelo salto de cachoeiras finas como fios buscando a planície a partir das fontes de Amon Gwareth, e prosseguiu como que em algum sonho dos Deuses, pois não julgava que tais coisas fossem vistas pelos homens nas visões de seu sono, tão grande era a sua admiração perante a glória de Gondolin.

 Assim chegaram até os portões, Tuor em maravilha e Voronwë em grande alegria de que ousando muito houvesse trazido Tuor até ali segundo a vontade de Ulmo e se livrado do jugo de Melkor para sempre. Embora não o odiasse de nenhum modo menos, já não temia aquele Mal com o terror que aprisiona (e de fato o feitiço que Melkor mantinha sobre os Noldor trazia um medo sem fim, de modo que aquele sempre lhes parecia próximo mesmo quando estavam distantes dos Infernos de Ferro; e os seus corações estremeciam e não fugiam nem mesmo quando podiam; e nisto Melkor confiava freqüentemente).

 Agora as pessoas correm para fora dos portões de Gondolin e uma multidão rodeia estes dois em maravilha, jubilando-se que ainda outro dos Noldor tivesse fugido de Melkor, e maravilhando-se com a estatura e os membros magros de Tuor, sua lança pesada e guarnecida com ponta de espinha de peixe e sua grande harpa. Rústico era o seu aspecto, e seus cabelos despenteados, e vestia peles de ursos. Está escrito que naqueles dias os pais dos pais dos Homens eram de menor estatura do que os Homens são agora, e os filhos da terra dos Elfos de maior porte, contudo Tuor era o mais alto de todos os que estavam lá. Realmente os Gondolindrim não eram curvados como alguns de sua família infeliz se tornaram, labutando sem descanso a cavar e martelar para Melkor, mas pequenos eram eles e esbeltos e muito ágeis. Eram de pés rápidos e sobremaneira belos; doces e tristes eram os seus lábios, e os seus olhos sempre tinham uma alegria que podia facilmente converter-se em lágrimas; pois naqueles tempos os Noldor eram exilados no coração, assombrados com um desejo que não esmorecia pelo seu antigo lar. Mas o destino e a ânsia incontrolável por conhecimento conduzira-nos a lugares distantes, e agora estavam todos cercados por Melkor e deviam fazer suas habitações tão belas quanto podiam através do trabalho e do amor.

Como aconteceu que entre Homens os Noldor tenham sido confundidos com os Orcs que são os demônios de Melkor eu não sei, a menos que alguns dos Noldor tenham sido deformados para o mal de Melkor e tenham se misturado entre estes Orcs, pois toda aquela raça havia sido criada por Melkor dos calores subterrâneos e do lodo. Seus corações eram de granito e os seus corpos deformados; faces asquerosas que não sorriam, risos como o estrondo de metais; nada os alegrava mais do que auxiliar nos mais vis propósitos de Melkor. O maior ódio existia entre eles e os Noldor, que os denominavam Glamhoth, ou o povo do ódio terrível.

Veja, agora os guardiões armados do portão conduziam de volta o povo aglomerado em torno dos viajantes, e um entre eles falou, dizendo: - Esta é uma cidade de guarda e proteção, Gondolin sobre Amon Gwareth, onde todos os que são de coração verdadeiro podem ser livres, mas onde ninguém está livre para entrar sem ser conhecido. Digam então seus nomes. - Mas Voronwë nomeou-se Bronweg dos Noldor, ali chegado "pela vontade de Ulmo como guia deste filho dos Homens". E Tuor disse: - Eu sou Tuor filho de Peleg filho de Indor, da casa do Cisne dos filhos dos Homens no Norte, que vivem distantes daqui, e aqui venho pela vontade de Ulmo dos Oceanos Exteriores.

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- Então todos que escutaram ficaram silenciosos, e a voz profunda e ressonante de Tuor os mantinha admirados, porque suas próprias vozes eram belas como o respingo das fontes. Então alguém disse entre eles: - Conduzam-no até o rei.

Então a multidão retornou para dentro das muralhas levando os viajantes com eles, e Tuor viu que os portões eram feitos de ferro, de grande altura e força. Agora as ruas de Gondolin eram extensas e pavimentadas com pedras e mármore, e havia belas casas e vielas entre jardins de flores que enfeitavam cada local para onde se voltasse o olhar. Existiam torres, muitas delas de grande esbelteza e beleza, construídas de mármore branco e entalhadas maravilhosamente, que se erguiam para o céu. Havia praças iluminadas com fontes e pássaros que cantavam entre os galhos de árvores envelhecidas, mas de todos estes belos locais o maior era aquele onde ficava o palácio do rei, e a torre deste era a mais elevada na cidade, e as fontes que brincavam diante de suas portas lançavam a água vinte e sete braças no ar até que ela caía em uma chuva cantante de cristal: nesta, a luz do sol cintilava esplendidamente, e o brilho refletido da lua conseguia ser ainda mais encantador. Os pássaros que viviam lá eram da brancura da neve e suas vozes mais doces do que uma canção de ninar.

Em cada lado das portas do palácio estavam duas árvores: uma carregava flores de ouro e a outra de prata; nem elas alguma vez murchavam, pois eram ramos de tempos antigos, das gloriosas árvores de Valinor que iluminaram aqueles lugares antes que Melkor e Ungoliant as secassem.  Aquelas árvores os Gondolindrim chamavam de Glingol e Bansil.

Então Tuor foi levado a presença de Turgon, Rei de Gondolin, que estava vestido de branco usando um cinto de ouro e uma grinalda de pedras vermelhas em sua cabeça. Turgon ficou de pé diante de suas altas portas e, do topo de seus degraus brancos falou: – Bem vindo, oh Homem da

Terra das Sombras. Veja! Tua vinda foi estabelecida em nossos livros de sabedoria, e escreveu-se lá que viriam a se passar muitas coisas grandiosas nos lares dos Gondolindrim quando para cá viesses.

Então Tuor sentiu que era hora de falar, e Ulmo colocou poder em seu coração e majestade em sua voz: – Observe, oh pai da Cidade de Pedra, eu fui mandado por aquele que faz música nas

profundezas do Abismo e que conhece a mente dos Elfos e Homens, para dizer-te que os dias da libertação se aproximam. Chegaram aos ouvidos de Ulmo sussurros de sua morada e sua colina de vigilância contra o mal de Melkor. Ele está satisfeito com sua obra, mas seu coração está enfurecido e os corações dos Valar estão furiosos vendo o sofrimento do cativeiro dos Noldor e dos homens; pois Melkor os cercou na Terra das Sombras, além de colinas de ferro. Por isso fui trazido por um caminho secreto, para dizer que deves chamar suas hostes e preparar-te para a batalha, pois o tempo é vindo.

Então falou Turgon: – Isso eu não farei, embora estas sejam as palavras de Ulmo e de todos os

Valar. Não levarei meu povo contra o terror dos orcs, nem arriscarei minha cidade contra o fogo de Melkor.

Então disse Tuor: – Não, se tu não ousas agora grandemente, então os orcs habitarão no exterior

para sempre, possuirão no fim a maior parte das terras de Arda e não cessarão de importunar Elfos e Homens, mesmo que por outros meios os Valar planejem adiante libertar os Noldor; mas se tu confiares agora nos Valar, embora terrível seja o encontro, então os orcs deverão sucumbir e o poder de Melkor será diminuído para uma pequena fração do que é hoje.

Porém Turgon disse que era rei de Gondolin e nenhuma vontade deveria forçá-lo contra o seu conselho para por em perigo o caro trabalho de longas eras idas; mas Tuor disse, porque assim ele havia sido mandado por Ulmo, que temera a relutância de Turgon:  – Então fui mandado para

dizer que homens dos Gondolindrim sejam mandados rapidamente e secretamente descer o rio Sirion até o mar, e lá construam barcos e busquem voltar a Valinor. Veja! Os trajetos a essa estão nebulosos e a estrada desvaneceu-se do mundo, contudo ainda residem lá os Elfos, e os Valar ainda sentam-se em Valinor, embora sua alegria esteja minorada pelo sofrimento causado por

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Melkor e eles escondam sua terra e teçam sobre ela uma magia inacessível para que nenhum mal chegue às suas praias. Todavia, se ainda puderem seus mensageiros chegar lá, eles irão incendiar os corações dos poderes para que se levantem em ira, castiguem Melkor e destruam os Infernos de Ferro sob as Montanhas da Escuridão.

Turgon então disse: – A cada ano, na despedida do inverno, mensageiros partem rapidamente e

em segredo descendo o Sirion até à costa do Grande Mar; lá constroem barcos aos quais atrelam cisnes e gaivotas, ou as asas fortes do vento, e estes procuram além da lua e do sol chegar a Valinor; mas os trajetos a essa estão bloqueados e as estradas desvaneceram-se do mundo, e os que sentam em Valinor preocupam-se pouco com o terror de Melkor ou os sofrimentos do mundo, mas escondem sua terra e tecem sobre ela uma magia inacessível; nenhuma notícia do mal alguma vez chega a seus ouvidos. Não, muitos do meu povo têm por anos incontáveis partido para as águas largas e nunca retornar. Eles pereceram nos lugares profundos ou vagueiam agora perdidos nas sombras que não possuem caminhos; e na vinda do próximo ano nenhum mais deve viajar para o mar, porém antes confiaremos a nós mesmos e à nossa cidade a precaução contra Melkor; e nisso os Valar foram de parca ajuda.

Então o coração de Tuor ficou pesado, e Voronwë lamentou a recusa de seu conselho. Tuor sentou-se perto da grande fonte do rei e seu esguicho recordou-lhe a música das ondas; sua alma estava perturbada pelas trompas de Ulmo, e pelo som delas ele retornaria descendo as águas do Sirion até o mar. Mas Turgon, que reconheceu em Tuor, mortal como era, alguém merecedor do favor dos Valar, distinguindo seu olhar resoluto e o poder de sua voz, enviou a ele uma oferta para que ficasse residindo em Gondolin em seu favor, e habitasse mesmo dentro dos salões reais se assim o desejasse.

Então Tuor decidiu ficar, pois estava cansado e aquele lugar era belo; e daí veio a permanência de Tuor em Gondolin. De todas as ações dele entre os Gondolindrim os contos não falam, mas é dito que muitas vezes teria ele ido e vindo secretamente daquele lugar, ficando cansado dos ajuntamentos do povo, e pensando na floresta vazia e nos prados solitários ou ouvindo longínqua a música do mar de Ulmo, não houvesse seu coração sido preenchido com amor por uma mulher dos Gondolindrim, e ela era a filha do rei.

Ora, Tuor aprendeu muitas coisas naquele reino, sendo às vezes ensinado por Voronwë, a quem amava e que o amava em retorno; ou mais, foi instruído pelos homens mais hábeis da cidade e pelos sábios do rei. Por conseguinte transformou-se em um homem muito mais poderoso do que antes e a sabedoria estava em seus conselhos; e muitas coisas tornaram-se claras para ele que não eram evidentes antes, e muitas coisas tornaram-se para ele conhecidas que são ainda ignoradas pelos Homens mortais.

Lá ouviu a respeito da fundação de Gondolin e de como o trabalho sem pausa através de eras e anos não bastara para sua construção e seu embelezamento, pois ainda trabalhava o povo de Turgon, e Gondolin a cada dia era mais enriquecida. Tuor ouviu sobre aquele túnel oculto que o povo chamava de Caminho de Fuga, e de como os conselhos haviam divergido a respeito, até que a piedade pelos fugitivos Noldor havia finalmente prevalecido. Ouviu também da guarda sem cessar que era mantida em armas em certos lugares baixos nas Montanhas Circundantes, e como os sentinelas ficavam sempre vigilantes nos picos mais elevados daquela área ao lado de faróis construídos prontos para o fogo; porque nunca aquele povo cessou de esperar um ataque dos orcs à sua cidade.

 Agora, entretanto, a guarda das colinas era mantida mais pelo costume do que por necessidade, pois os Gondolindrim tinham outrora com inimaginável trabalho nivelado, limpado e cavado toda a planície próxima a Amon Gwareth, de modo que qualquer elfo, animal ou víbora que pudessem se aproximar eram espiados de muitas léguas de distância, pois entre os Gondolindrim estavam muitos cujos olhos eram mais aguçados do que os das águias de Manwë Súlimo; e por esta razão chamam esse vale Tumladen, ou o Vale da Suavidade. Agora este grande trabalho estava terminado e o povo ocupava-se mais com a extração dos metais e o forjamento de toda espécie de

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espadas, machados, lanças e bastões, e a moldagem de cotas de malha, armaduras de escamas, armaduras para as pernas, armaduras de placas para proteger o antebraço, elmos e escudos. Foi dito a Tuor que, se o povo de Gondolin atirasse com arcos sem parar dia ou noite, nem assim poderiam despender todas as flechas armazenadas em muitos anos de labuta, e que a cada ano seu medo dos orcs ficava menor devido a essas providências.

Tuor lá aprendeu da construção com pedra, de alvenaria e da lavragem de rocha e mármore; dos ofícios de tecelagem e fiação, bordadura e pintura, e habilidade em metais. Músicas as mais delicadas ouviu; e nestas eram aqueles que residiam na parte sul da cidade os mais hábeis, pois lá brincava uma profusão de fontes e nascentes murmurantes. Muitas destas sutilezas Tuor dominou e aprendeu a entretecer com suas canções para a maravilha e alegria dos corações dos ouvintes. Histórias estranhas do Sol e da Lua e das Estrelas, da maneira da Terra e seus elementos e das profundezas do céu foram-lhe contadas; e dos Elfos aprendeu suas falas e velhas línguas e modos de escrita, e ouviu contar de Ilúvatar, o Senhor para Sempre, que habita além do mundo, da grande música dos Ainur aos pés de Ilúvatar nas mais absolutas profundezas do tempo de onde veio a criação do mundo e da maneira deste, e de tudo nele e de seu governo.

Devido a seu talento e grande maestria sobre toda a sabedoria e arte, e por sua grande coragem de coração e corpo, Tuor tornou um conforto sua presença para o rei sem filhos homens; e ele era muito amado pelo povo de Gondolin. Em um tempo o rei fez com que seus artífices mais astutos talhassem uma armadura de placas para Tuor como um grande presente, feita do aço dos Noldor e recoberta de prata; mas seu elmo era adornado com um emblema de metais e jóias como duas asas de cisne, uma em cada lado, e uma asa de cisne fora lavrada em seu escudo; mas ele carregava um machado em vez de uma espada, e a este na fala dos Gondolindrim chamou Dramborleg, pois seu golpe aturdia e sua borda talhava a mais espessa armadura.

Uma casa foi construída para ele sobre as muralhas do sul, pois amava os ares livres e não gostava da proximidade de outras moradias. Lá, para seu prazer, freqüentemente ficava parado nas ameias ao alvorecer, e o povo regozijava-se a ver a nova luz refletindo nas asas de seu elmo; e muitos murmuravam que de bom grado apoiá-lo-iam na batalha com os orcs, vendo que o diálogo daqueles dois, Tuor e Turgon, diante do palácio, era conhecidos por muitos; mas esta questão não foi adiante por reverência a Turgon e porque o pensamento das palavras de Ulmo no coração de Tuor parecia ter-se tornado remoto e obscurecido.

Vieram os dias em que Tuor habitara entre os Gondolindrim por muitos anos. Por muito tempo tinha conhecido e guardado um amor pela filha do rei, e agora estava o seu coração preenchido daquele amor. Grande amor também tinha Idril por Tuor, e os cordões dos destinos de ambos foram entretecidos naquele dia em que primeiramente ela olhou por cima dele de uma janela elevada, enquanto este estava de pé, um suplicante extenuado diante do palácio do rei. Pouco motivo tinha Turgon para opor-se ao amor deles, pois via em Tuor um parente que traria conforto e grande esperança. Assim pela primeira vez foi unido um filho dos Homens com uma filha dos Elfos; e Tuor não foi o último. Menos glória muitos tiveram do que eles, e o pesar daqueles no fim foi grande. Contudo grande foi a alegria daqueles dias quando Idril e Tuor casaram-se diante do povo em Gar Ainion, o Lugar dos Deuses, próximo aos salões do rei. Um dia de alegria foi esse casamento para a cidade de Gondolin, e da maior felicidade para Tuor e Idril. Depois disso ambos residiram em alegria naquela casa acima das muralhas que olhava para o sul sobre Tumladen, e isto foi bom para os corações de todos na cidade, salvo Maeglin. Ora, aquele Noldo era vindo de uma casa antiga, embora agora seus números fossem menores do que os de outras, mas ele mesmo era sobrinho do rei por sua mãe, Aredhel, a irmã do rei; mas a história dela e de Ëol não se pode contar aqui.

O símbolo de Maeglin era uma Toupeira Negra; ele era grande entre os mineiros e um chefe dos escavadores atrás de minério; e muitos destes pertenciam à sua casa. Era menos belo do que a maioria deste povo, moreno e de humor muito instável, de modo que alcançasse pouco amor entre os que com ele viviam. Havia sussurros de que corria sangue orc em suas veias, mas não sei como isto poderia ser verdadeiro. Propusera-se ao rei freqüentemente para a mão de Idril, todavia

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Turgon considerando-a muito avessa dissera não, pois lhe parecia que os pedidos de Maeglin eram causados tanto pelo desejo de estar em poder elevado ao lado do trono real quanto pelo amor daquela donzela tão formosa. Ela era bela e corajosa; e as pessoas a chamavam Idril dos Pés de Prata, pois ela permanecia sempre descalça e com a cabeça descoberta, filha do rei como era, exceto em pompas dos Ainur; e Maeglin corroeu-se de raiva vendo Tuor suplantá-lo.

Nestes dias veio a cumprir-se o tempo do desejo dos Valar e da esperança dos Eldalië, pois em grande amor Idril deu à luz um filho de Tuor, e ele foi chamado Eärendil. Agora para isso há muitas interpretações entre Elfos e Homens, mas segundo parece, este era um nome tirado de alguma língua secreta entre os Gondolindrim, e essa pereceu com eles nas moradias da Terra.

Este bebê era da maior beleza; sua pele de um branco radiante e seus olhos de um azul superando o do céu nas terras meridionais, mais azuis do que as safiras do traje de Manwë; e a inveja de Maeglin foi profunda em seu nascimento, mas a alegria de Turgon e todo o povo foi muito grande de fato.

Observe agora; muitos anos se passaram desde que Tuor estivera perdido entre os sopés das colinas e abandonado por aqueles Noldor; contudo muitos anos também haviam passado desde que aos ouvidos de Melkor chegaram pela primeira vez aquelas notícias estranhas (vagas elas eram e várias na forma) de um Homem vagando entre os vales das águas do Sirion. Agora Melkor não estava muito receoso da raça dos Homens naqueles dias de seu grande poder, e por esta razão Ulmo trabalhou por meio de um desta família para melhor iludir Melkor, vendo que nenhum Valar e poucos dos Eldar ou dos Noldor podiam movimentar-se desapercebidos de sua vigilância. Todavia apesar de tudo um pressentimento atingiu aquele mau coração conforme as informações lhe chegavam, e ele reuniu um exército poderoso de espiões: filhos dos Orcs estavam lá com olhos amarelos e verdes como gatos, que poderiam perfurar todas as trevas e ver através de névoa ou bruma ou noite; serpentes que poderiam ir a todos os lugares e procurar todas as fendas, dos poços mais profundos aos picos mais elevados, escutar cada sussurro que corresse na grama ou ecoasse nos montes; lobos e cães vorazes e grandes doninhas cheias da sede de sangue, cujas narinas poderiam captar aromas de luas antigas através da água corrente, ou cujos olhos encontram, entre os pedregulhos, pegadas com uma vida inteira de idade; corujas vinham, e falcões, cujo olhar aguçado podia enxergar no dia ou na noite o esvoaçar de pássaros pequenos em todas as florestas do mundo, e o movimento de cada camundongo ou ratazana ou rato que rasteje ou habite por toda a Terra. Todos estes ele chamou a seu Salão de Ferro, e eles vieram em multidões. Dali enviou-os sobre a Terra para buscar este Homem que escapara da Terra das Sombras, mas ainda mais cuidadosamente para procurar a habitação dos Noldor que haviam escapado de seu cativeiro; pois estes seu coração queimava por destruir ou escravizar.

Enquanto Tuor residia em felicidade em Gondolin e seu conhecimento e poder cresciam, estas criaturas incansáveis procuraram entre as pedras e rochas, caçaram nas florestas e nas urzes, espiaram os ares e os lugares elevados, trilharam todos os caminhos próximos dos vales e planícies. Desta caçada trouxeram uma riqueza de informações a Melkor; e certamente, entre muitas coisas escondidas que trouxeram a luz descobriram aquele Caminho da Fuga no qual Tuor e Voronwë haviam outrora entrado. Mas nem isso teriam descoberto sem constranger com ameaças de tortura alguns Noldor dentre os de vontade menos firme a participar naquele grande saque; pois devido à magia daquele lugar povo nenhum de Melkor sem a ajuda dos Noldor podia chegar. No entanto, agora eles tinham caminhado longe dentro daquele túnel e ali haviam capturado muitos Noldor que fugiam do cativeiro. Tinham escalado também as Montanhas Circundantes em determinados lugares e olhado para a beleza da cidade de Gondolin e a força de  Amon Gwareth à distância; mas não podiam avançar até a planície pela vigilância de seus

guardiões e a dificuldade daquelas montanhas. De fato os Gondolindrim eram grandes arqueiros, e os arcos que faziam eram uma maravilha de poder. Esses arqueiros podiam disparar uma flecha para o céu sete vezes tão distante quanto pode o melhor arqueiro entre os Homens atirar a um alvo em cima da terra; e não teriam admitido que nenhum falcão voasse sobre sua planície ou serpente rastejasse sobre esta; pois não gostavam de criaturas sanguinárias, produtos de Melkor.

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