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Comunica Observatório de Mídia: Iniciativa para comemorar e refletir os 50 anos de crítica de mídia no Brasil 1

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Comunica Observatório de Mídia:

Iniciativa para comemorar e refletir os 50 anos de crítica de mídia no

Brasil

1

Aline Cristina CAMARGO2

(Instituto Municipal de Ensino Superior de Bebedouro, Bebedouro, SP)

Resumo

Este relato tem como objetivo abordar a importância de iniciativas que busquem assegurar a responsabilidade social da mídia, em especial o papel dos observatórios de imprensa como projetos de pesquisa e extensão nas Universidades, no contexto de desconfiança e de crise da qualidade do Jornalismo, e incentivadas pela comemoração dos 50 anos de crítica de mídia no país. Apresenta-se o “Comunica Observatório de Mídia”, iniciativa do Núcleo de Pesquisa e Extensão (NUPE) do Instituto Municipal de Ensino Superior de Bebedouro “Victório Cardassi” – (IMESB) que atuará na formação de jovens universitários, buscando relacionar o tripé da Universidade na busca por ensino, pesquisa e extensão de qualidade.

Palavras-chave: Crítica de mídia; observatório de mídia; observatório da imprensa;

pesquisa e extensão.

Introdução

Grande parte das informações a que os cidadãos são expostos diariamente nos chegam mediadas pelos veículos de comunicação. Decisões e posições são, em grande medida, tomadas de acordo com as informações recebidas diariamente e, com a popularização do uso da internet e dos dispositivos móveis, quase constantemente.

A enxurrada de informações as quais os cidadãos são submetidos nos remete ao conceito de disfunção narcotizante, que de acordo com o teórico Paul Lazarsfeld refere-se à impressão de participar ativamente da vida pública, com preocupações superficiais e sem a formação de opiniões pelos cidadãos.

“É natural pensar apenas em termos de volume bruto de informação — fatos, argumentos, detalhes sobre políticas e assim por diante — que o ambiente provê, com a crença de que mais informação é melhor que menos informação”, ponderam Kuklinski

1 Trabalho apresentado no GP3 Pesquisa na Graduação, do 7º Encontro Paulista de Professores de Jornalismo, realizado na Unesp- Bauru, em 20 e 21 de maio de 2016.

2 Jornalista e mestre em Comunicação Midiática pela Unesp Bauru, professora do curso de Comunicação Social: Jornalismo no Instituto Municipal de Ensino Superior de Bebedouro e bolsista de extensão do

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et al (2001, p. 412). No entanto, deve-se considerar que alguns dados relevantes podem ser mais significativos para a formação do cidadão que muitas informações acessórias.

“Assim, ao invés do volume, é o valor de diagnóstico da informação que influencia a habilidade de os cidadãos fazerem escolhas referentes às políticas”, salientam os autores (p. 412). Os subsídios adequados às decisões em questão devem abranger com clareza e amplitude as questões centrais envolvidas, prestando-se tanto à tarefa de proporcionar a identificação dos assuntos sobre os quais é preciso possuir perspectivas embasadas, quanto ao próprio processo de construção de posicionamentos, com dados integrais, balizas, comparações, prognósticos etc.

Neste contexto, o conceito de informação de diagnóstico, cunhado por Rothberg (2010, p. 27), aparece como uma alternativa à polarização dos temas: “É a informação abrangente em nível suficiente para permitir avaliações embasadas sobre as consequências da adoção de determinadas políticas, de modo a fundamentar cálculos sobre ganhos, perdas e formas de se obter equilíbrio entre eles”. Também neste contexto, Motta (2008. P. 37) ressalta que: “A mídia só se transformará em um espaço público democrático, representativo da pluralidade da sociedade, se as várias verdades e pontos de vista antagônicos forem simultânea e permanentemente tornados públicos e acessíveis”.

Dados da pesquisa de mídia realizada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (SECOM, 2015) indicam que 95% dos entrevistados veem TV, sendo que 73% têm o hábito de assistir diariamente. Em média, os brasileiros passam 4h31 por dia expostos ao televisor. O Rádio é veículo utilizado por 55% dos entrevistados; 48% usa internet e ficam conectados, em média, 4h59 por dia; 21% leem jornais ao menos uma vez por semana; 13% dos brasileiros leem revistas durante a semana.

A pesquisa da Secom também indicou baixos números em relação à confiança dos brasileiros nas notícias veiculadas nos diferentes meios de comunicação: Os jornais são os veículos mais confiáveis: 58% confiam muito ou sempre, contra 40% que confiam pouco ou nunca. Televisão e rádio encontram-se em empate técnico. No caso da TV, 54% confiam muito ou sempre, contra 45% que confiam pouco ou nada. No caso do rádio, 52% confiam muito ou sempre, contra 46% que confiam pouco ou nunca. Em relação às novas mídias, reina a desconfiança. Respectivamente, 71%, 69% e 67% dos

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entrevistados disserem confiar pouco ou nada nas notícias veiculadas nas redes sociais, blogs e sites.

Neste contexto, de acordo com Loures (2008, p. 157), “a sociedade suspeita que algo não vai bem no sistema informacional e que este deve se requalificar para poder cumprir seu papel junto à sociedade”. O descontentamento está presente também nas redações jornalísticas, onde “domina o jornalismo de reverência, os grupos industriais e financeiros, o pensamento de mercado, as redes de conivência”, ressalta Loures (2008, p. 157).

No contexto de crise da credibilidade do jornalismo, encontra-se a dicotomia composta pelo interesse comercial das empresas de comunicação e o dever de garantir o acesso à informação de interesse público aos leitores. Assim, a presença da lógica de mercado nas redações faz com que o Código de Ética da categoria seja, muitas vezes, esquecido. Neste sentido, Travancas (1993, p. 93) afirma que “a noção de ética está ligada à ideia de um código subjetivo, que se baseia muito mais na consciência de cada um do que em normas pré estabelecidas”.

Para Kuklinski, a falta de regulamentação da profissão e a precariedade das condições de trabalho contribuíram para a perda da demarcação ética do jornalismo no Brasil. Loures (2008, p. 160) afirma ainda que a legislação referente à comunicação no Brasil é autoritária e distante da realidade social e política do país, “não satisfazendo às expectativas dos que sonham com uma mídia democrática, crítica e responsável”.

No contexto de desconfiança e de crise da qualidade do Jornalismo, e com a comemoração dos 50 anos de crítica de mídia no Brasil, propõe-se uma breve retomada de iniciativas de crítica de mídia no Brasil e de sua atual importância.

Algumas iniciativas de crítica de mídia no Brasil

A primeira iniciativa de crítica de mídia no Brasil surgiu em 1965 com o jornalista Alberto Dines, então diretor de redação do Jornal do Brasil. Inspirado no jornal The New York Times, Dines lançou “Cadernos de Jornalismo e Editoração”, uma publicação com o objetivo de atuar como fórum de críticas à mídia. Além do apoio dos colegas de redação, Dines contava com colaboradores de universidades (LOURES, 2008).

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publicou a coluna “Jornal dos Jornais”, que teve vida curta, de 1975 a 1977, abafada pela censura da ditadura militar. Depois de cinco anos, Dines lançou a revista “Crítica da Informação”, também voltada à comunidade acadêmica. Além de precursor da crítica de mídia no Brasil, Dines se mantém como um dos maiores expoentes na área. O jornalista é editor da revista semanal de crítica de mídia “Observatório da Imprensa” (http://observatoriodaimprensa.com.br/), editor-responsável e apresentador do programa homônimo da TV Brasil, no ar há 17 anos (http://tvbrasil.ebc.com.br/observatorio).

Outras iniciativas também merecem ser lembradas, como é o caso da premiada Revista Imprensa (publicada pela primeira vez em 1987) e o Instituto Gutemberg, que mantém sua versão online (http://www.igutenberg.org/).

A partir do advento e da popularização da internet, outras iniciativas de observatório de imprensa online foram implementadas, grande parte delas ligadas a Universidades ao redor do Brasil. Neste contexto, em 2005, surgiu a Rede Nacional de Observatórios da Imprensa (RENOI) com o objetivo de reunir iniciativas de crítica de mídia dentro e fora da academia e contribuir para o aperfeiçoamento da mídia brasileira e o desenvolvimento das relações entre sociedade e meios de comunicação.

De acordo com Motta (2008, p. 22) destaca-se que o aparecimento de grande número de observatórios de mídia nos últimos anos não é um fato isolado da conjuntura política brasileira: “Praticamente todos têm independência em relação aos poderes instituídos, em relação aos interesses político-partidários e aos interesses econômicos da indústria cultural e informativa do país”.

Compostos por jornalistas inconformados, organizações não-governamentais, ativistas políticos, professores, estudantes, movimentos sociais ou grupos isolados, os observatórios surgem como uma saída “da passividade de receptores ou do conformismo da profissão para influir nos conteúdos”, e assim: “exigir mais pluralismo e isenção, demonstrar à indústria cultural e informativa a necessidade de refletir adequadamente os interesses de todos os atores da jovem democracia brasileira” (MOTTA, 2008, p. 23).

De acordo com o autor (2008, p. 22), os observatórios têm perfis diferentes, “tendem predominantemente para a crítica dos critérios técnico-profissionais, embora muitos façam críticas politizadas (...) superaram o ceticismo: fazem uma crítica de resultados”.

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Estes instrumentos buscam a correção ética da mídia e são chamados por Bertrand (1999) de Meios de Assegurar a Responsabilidade Social da Mídia (MARS), são meios não estatais concebidos para realizar uma observação sistemática dos veículos de comunicação.

As iniciativas aqui destacadas representam um conjunto de ações que visam a ampliação da qualidade das práticas jornalísticas e o aperfeiçoamento do acesso aos meios de comunicação no Brasil, “tais como políticas de fomento às mídias comunitárias, projetos de educação para os meios e popularização da internet”, destacam Siqueira e Rothberg (2008, p. 197).

Entre as iniciativas do MARS (Meios de Assegurar a Responsabilidade Social da Mídia) destacam-se também a figura do ombudsman e os conselhos de leitores que, de acordo com a Associação Nacional de Jornais, foi dotado em 54% das empresas jornalísticas brasileiras, chamado de Conselho de Leitores ou Conselho Editorial.

Na contra mão de ações de análise de mídia, Christofolleti (2004) aponta impasses para uma efetiva crítica de mídia no Brasil, entre eles: a) concentração e oligopólio; b) propriedade cruzada e domínio de conteúdo; coronelismo eletrônico; c) dial restrito; d) concessões sem fiscalização ou controle; e) a extinção da lei de imprensa; f) inoperância dos conselhos de comunicação; g) arcaísmo no empresariado; h) falta de aplicabilidade do código de ética da categoria e i) o autismo na sociedade.

De acordo com o autor, este último impasse, o “autismo na sociedade”, refere-se à ausência de uma cultura de controle e fiscalização pública, preocupada com a qualidade da informação: “Isto é, o cidadão pouco cobra seus direitos, porque muitas vezes os desconhece. O contribuinte não tem o entendimento de que a coisa pública não é do Estado, mas pertence à coletividade. O consumidor ainda se movimenta pouco para exigir o cumprimento das normas que o defendem de abusos, de injunções e de omissões deliberadas”.

Para Christofoletti (2004, p. 11): “o telespectador brasileiro se queixa da programação da televisão, mas apenas em âmbito doméstico. O eco de suas reclamações chega rouco às autoridades competentes, que, por conseguinte, pouco acionam de seu poder constituído”. E completa: “É raro o leitor nacional cancelar sua assinatura em protesto à queda de qualidade da publicação a que ajuda a sustentar. A crítica aos media é frágil e generalizada. Sem endereçamento, cai no rol das demais queixas, dilui-se”.

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Considerações: Proposta “Comunica Observatório de Mídia”

De acordo com Motta (2008, p. 30): “A prática de uma crítica sistemática não pode esgotar-se na mera reação às ações da mídia, não deve ser apenas reativa ou opositora. Uma resistência pode ter sido importante num primeiro momento, mas os observatórios necessitam de objetivos políticos, pedagógicos e profissionais que os coloquem em consonância com os movimentos da cidadania e com propostas realistas de mudanças na mídia e na sociedade”.

Com este objetivo e no contexto de apoio e incentivo do Núcleo de Pesquisa e Extensão (NUPE) do Instituto Municipal de Ensino Superior de Bebedouro “Victório Cardassi” – (IMESB), foi proposto o “Comunica Observatório de Mídia”. A iniciativa tem como objetivo atuar na formação de jovens universitários, buscando relacionar o tripé da Universidade na busca por ensino, pesquisa e extensão. Em um primeiro momento, o portal será destinado a publicações dos alunos do terceiro ano de Jornalismo, da disciplina de Mídia e Sociedade. Posteriormente, o espaço será ampliado para receber colaborações de alunos de outros anos, da comunidade acadêmica em geral, e da sociedade civil.

Por meio de atualizações semanais, os alunos terão um espaço aberto para discutir a cobertura da mídia sobre diversos assuntos e, posteriormente, ter no portal um portfólio de seus primeiros textos e trabalhos. A ideia é divulgar para a comunidade de Bebedouro e ampliar o espaço para publicação de textos de colaboradores da comunidade.

Espera-se que iniciativas como essa permitam que o ensino do Jornalismo não ignore o mercado nem seja um reprodutor acrítico de seus vícios. Mostra-se evidente a importância de existir um ambiente (neste caso além do presencial, também virtual) para a discussão da realidade da prática da profissão, um observatório de boas práticas e de análise de coberturas de mídia. Um espaço que permita o debate amplo, democrático, organizado e sistemático.

O objetivo do portal Comunica é ir além da simples pontuação de possíveis falhas técnicas ou deontológicas, mas buscar o Jornalismo comprometido com a sociedade, que seja plural e de qualidade.

Apesar de ainda ser um projeto embrionário, acredita-se em seu potencial e vê-se a Universidade como espaço natural para o nascimento e o fortalecimento de iniciativas

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como este, que abrem uma comunicação direta com a comunidade acadêmica, profissionais da área e sociedade civil.

Referências

BRASIL. Presidência da República. Secretaria de Comunicação Social. Pesquisa

brasileira de mídia 2015: hábitos de consumo de mídia pela população brasileira.

Brasília: Secom, 2015. Disponível em:

<http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas-de-contratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf>. Acesso em 02 fev. 2016.

BERTRAND, Claude-Jean. A deontologia das mídias. Bauru: Edusc, 1999.

CHRISTOFOLETTI, Rogério. Dez impasses para uma efetiva crítica de mídia no Brasil. Sala de Prensa, año V, v. 2 enero 2004. Disponível em: <https://monitorando.files.wordpress.com/2007/11/dez_impasses.pdf>. Acesso em: 9 mar 2016.

KUKLINSKI, J. H.; QUIRK, P. J.; JERIT, J.; RICH, R. F. The political environment and citizen competence. American Journal of Political Science, v. 45, n. 2, 2001, p. 410-424.

LOURES, Ângela da Costa Cruz. Pequena história da crítica de mídia no Brasil. In: MOTTA, L. G; CHRISTOFOLETTI, R. Observatórios de mídia: olhares da cidadania. São Paulo: Paulus, 2008.

MOTTA, Luiz Gonzaga. A Crítica da mídia: da resistência ao desenvolvimento humano. In: MOTTA, L. G; CHRISTOFOLETTI, R. Observatórios de mídia: olhares da cidadania. São Paulo: Paulus, 2008.

ROTHBERG, Danilo. Jornalismo e informação para democracia: parâmetros de crítica de mídia. In: CHRISTOFOLETTI, R. (Org.). Vitrine e vidraça: crítica de mídia e qualidade no Jornalismo. Portugal: Livros LabCom, 2010. Cap.1, p. 21-34.

ROTHBERG, Danilo; SIQUEIRA, Alexandra. Crítica de mídia e educação para os

meios. In: MOTTA, L. G; CHRISTOFOLETTI, R. Observatórios de mídia: olhares da

cidadania. São Paulo: Paulus, 2008.

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