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FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

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FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

COMUNICAÇÃO SOCIAL – HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

ISABEL FLÁVIA DA SILVA

NAIARA APARECIDA ALVES TEIXEIRA

WEBSÉRIE DOCUMENTAL “VOCÊ ME VÊ SP”:

A EXPERIÊNCIA ESTÉTICA DO ARTIVISMO E SUAS MEDIAÇÕES

CULTURAIS NA OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO PAULISTANO

BAURU 2017

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NAIARA APARECIDA ALVES TEIXEIRA

WEBSÉRIE DOCUMENTAL “VOCÊ ME VÊ SP”:

A EXPERIÊNCIA ESTÉTICA DO ARTIVISMO E SUAS MEDIAÇÕES

CULTURAIS NA OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO PAULISTANO

Projeto Experimental de Conclusão de Curso entregue como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Jornalismo do Curso de Comunicação Social: Jornalismo da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, sob orientação do Prof. Dr. Laan Mendes de Barros.

BAURU 2017

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NAIARA APARECIDA ALVES TEIXEIRA

WEBSÉRIE DOCUMENTAL “VOCÊ ME VÊ SP”:

A EXPERIÊNCIA ESTÉTICA DO ARTIVISMO E SUAS MEDIAÇÕES

CULTURAIS NA OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO PAULISTANO

Projeto Experimental de Conclusão de Curso entregue como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Jornalismo do Curso de Comunicação Social: Jornalismo da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, sob orientação do Prof. Dr. Laan Mendes de Barros.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Laan Mendes de Barros

Prof. Dr. Juarez Tadeu de Paula Xavier

Mª. Mariana Ferreira Lopes

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Agradeço, primeiramente, à minha falecida avó Maria Isabel da Silva que sempre se fará presente em minha memória, sendo meu guia para completar minha trajetória. Esse capítulo da minha vida é dedicado especialmente a esta mulher forte que me ensinou a erguer a cabeça sempre, lutar pelos meus sonhos e acreditar no meu potencial. Minha segunda mãe que junto ao meu avô cuidaram de mim e da minha mãe quando mais precisamos.

Ao meu avô, seu José Paulino da Silva, gostaria de dizer que sou muito feliz por tê-lo em minha vida, por tudo que ele significa para mim, por ser, além de avô, um pai de verdade, insubstituível, que esteve presente me dando suporte em minhas derrotas e vitórias. Gostaria de agradecer aos meus avós por todo o carinho que me deram, por sempre me fazerem sentir amada.

Agradeço à mulher mais importante da minha vida, meu maior exemplo de luta e resistência, minha mãe, Cosma da Silva, que resistiu aos julgamentos e às dificuldades do mundo para me criar. É difícil expressar apenas através de palavras todo o meu amor por você. Nunca terei como retribuir, e nunca serei suficientemente grata, por tudo que fez por mim, por nunca ter desistido de lutar, mesmo submetida às maiores adversidades que vida poderia lhe causar. O mínimo que eu posso fazer é honrar a criação que você me deu, me tornando uma pessoa cada dia melhor.

As minhas irmãs, Isabela Caroline da Silva Valentim e Izadora Alexandra da Silva Valentim e meu primo, Francisco de Assis da Costa Silva, por existirem em minha vida, e torná-la mais especial, pelo companheirismo e o amor que nos une e nos faz mais fortes. Agradeço ao meu padrasto, Carlos Alberto Crispim Valentim, pelo seu carinho e apoio, que tornou viável a realização deste momento.

As minhas amigas Grasiele Ribeiro, Aylê Mello, Letícia Flore, Ailclécia Fernandes, Bruna Arruda e Ana Luísa Guerrini sou grata por compartilhar as lembranças mais felizes. Crescemos e descobrimos as respostas para nossas dúvidas juntas. Tornamo-nos adultas, passamos por desafios e conquistas, nos apoiando na nossa amizade, que superou a distância e os caminhos diferentes que a vida nos apresentou.

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Agradeço, também, às amizades que formei durante esse percurso do bacharelado e que agora fazem parte da minha história. Especialmente aos amigos Naiara Teixeira, Amanda Costa, Thais Viana, Isadora de Oliveira, Marcos Cardinalli, João Pedro Ferreira e Cristhiane Faria, que fizeram da minha estadia em Bauru uma experiência enriquecedora. Obrigada por nunca me deixarem se sentir sozinha nesse momento de crescimento profissional e pessoal, por compartilharem comigo momentos de alegria e ensinamentos da vida.

Cada uma dessas amizades acrescentou algo especial em minha vida. Aprendi que mudanças são necessárias; as pessoas passam por nossas vidas, algumas ficam, outras vão embora, mas restam as lembranças, os laços. As marcas que essas pessoas deixam na nossa história faz toda diferença quando avaliamos o saldo de nossas vidas, e sou grata a esses amigos pelos laços criados, memórias e saldos positivos que levarei por todo o caminho que ainda resta percorrer.

Agradeço ao professor Dr. Juarez Tadeu de Paula Xavier pelos ensinamentos, pela sua luta dentro da universidade e por me inspirar a desempenhar a profissão que escolhi com cidadania e respeito.

Ao meu orientador professor Dr. Laan Mendes de Barros sou grata por tornar este trabalho possível, por todo conhecimento adquirido durante nossa convivência, que contribuíram para a minha formação profissional e pessoal.

Agradeço à UNESP por tornar possível toda a experiência desses quatro anos, por me fornecer o conhecimento para a realização desse trabalho e para exercer minha profissão valorizando o compromisso com a sociedade.

E, por fim, agradeço a todos que de alguma forma contribuíram para a elaboração deste trabalho!

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Primeiramente agradeço a Deus, pela força e luz durante toda a difícil caminhada que se concretizou na conquista da minha graduação.

A minha falecida avó Guilhermina Alves Teixeira e a minha tia Maria Aparecida Alves Teixeira pelos conselhos, mas principalmente por me ensinarem o que é ser uma mulher negra. Mulheres pobres, sozinhas, que atravessaram um mar de obstáculos sistêmicos e hegemônicos, mas nunca perderam a ternura. A força de cada uma de vocês será inspiração e aprendizado durante toda minha vida. A vocês minhas queridas, o meu abraço e sorriso negro.

Aos meus irmãos Pâmela Alves Teixeira e Dionatan Alves Teixeira, por terem aberto o caminho para mim sem nem notar a importância de seus atos. Pâmela, como irmã mais velha, você é mais do que um exemplo, é uma sábia amiga que por vezes foi o ponto de equilíbrio entre todos nós. A sua grandeza é a simplicidade e bondade com a qual enxerga a vida.

Ao meu irmãozinho Marcos Vinicius Alves Teixeira, por simplesmente existir e ter o dom de me arrancar sorrisos tão sinceros. Hoje sou eu, amanhã há de ser você.

A minha amiga-irmã Isabel Silva por ser minha companheira de caminhada neste TCC e curso. Obrigada por se dispor a atravessar todas as dificuldades do final apenas por enxergar comigo um mundo revolucionário e mais justo. Aprendo todos os dias contigo sobre a nobreza da alteridade. Que este seja só mais um capítulo de duas histórias de resistência e triunfo.

As minhas amigas Thais Viana, Isadora de Oliveira, Amanda Costa e Christiane Faria por terem concretizado o significado de amizade durante esses quatro anos. Obrigada por me mostrarem que sozinha ando bem, mas com vocês ando mais feliz.

Ao meu namorado, Felipe Gabriel Bernardo, por ser o melhor presente do acaso no momento em que mais precisava. Cada palavra de conforto, ajuda técnica, sessão de desabafo ou simples companhia me manteve em pé. Obrigada por me ensinar a alegria da reciprocidade no amor.

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Ao meu professor Laan Mendes de Barros por aceitar orientar nosso projeto quando muitos teriam medo de lidar com temas de confronto social. Obrigada pelos ensinamentos e dedicação durante toda essa jornada.

Ao meu professor Juarez Xavier, por me mostrar logo no dia da matrícula que este também é um lugar dos nossos. A sua luta inspira a todos nós. Axé.

Aos demais professores da UNESP Bauru que me ensinaram, de forma direta ou indireta, o que é ser e o que é não ser uma jornalista.

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“E por mais que abracem tua causa ou vistam teu sapato, só você sabe o que é andar com seus pés de fato.”

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representatividade e a visibilidade cultural de grupos sócio acêntricos, na grande mídia, não correspondem à sua importância, como instância de afirmação de identidade e inclusão social. Dentro disso, foi produzida uma websérie documental independente. Hospedada no Youtube, o projeto experimental é constituído por oito capítulos, que buscam explorar na prática o conceito de artivismo, levando a arte como ferramenta de resistência social e política. Para isso, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, embasada nas teorias da escola latino-americana de estudos em comunicação, nos conceitos de midiatização, mediações culturais e comunicação em rede. O produto midiático explorou o cenário cultural da cidade de São Paulo, a fim de enxergar essas práticas como elemento identitário antagônico à cidade e compreender as suas expressões culturais como forma de resistência à cultura hegemônica. Portanto, a websérie pretende reacender o debate entre arte X ativismo, representatividade X marginalidade.

Palavras-chave: Websérie Documental. Artivismo. Cultura Midiatizada. Experiência Estética. Resistência Social.

ABSTRACT: The audiovisual production "Você me vê SP" starts from the acknowledgement that the representativeness and cultural visibility of social accentric groups in the mainstream media do not correspond to its importance as an instance of affirmation of identity and social inclusion. Within this, an independent documentar web series was produced. Hosted on YouTube, the experimental project consists in eight chapters, which intend to explore, in practice, the concept of artivism, taking art as an weapon for social and political resistance. For this, a bibliographic research was developed, based on the theories of the Latin American school of communication studies, in the concepts of mediatization, cultural mediations and network communication. The media product explored the cultural scene of the city of São Paulo, in order to see these practices as an identity element antagonistic to the city and to understand its cultural expressions as a form of resistance to the hegemonic culture. Therefore, the web series intends to rekindle the debate between art X activism, representativeness X marginality.

Key-words: Documentary Web Series. Artvism. Mediatized Culture. Aesthetic Experience. Social Resistance.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO………...11

1.1. Objeto………...11

1.1.1. Processos Comunicativos na Cultura de Convergência………...11

1.1.2. Movimentos Sociais e a Comunicação em Rede………...12

1.1.3. Novas Narrativas Jornalísticas: Websérie Documental………...14

1.1.4. Comunicação e Cultura………...16

1.1.5. Artivismo………...18

1.2. Produção da Websérie: Temáticas sociais………...21

1.2.1. Grafite, Pixo e Lambe………...21

1.2.2. Música Marginal e Etnicidade………...23

1.2.3. Representatividade Estética e Visibilidade Negra………...25

1.2.4. Poetry Slam e Saraus: Poesia de Resistência………...26

1.3. Justificativa do Trabalho………...28

1.4. Objetivos………...28

1.4.1. Objetivo Geral………...28

1.4.2. Objetivos Específicos………...28

2. DOCUMENTÁRIO E ESPECIFICIDADES………...29

2.1. O Gênero Websérie Documental………...29

2.2. Gênero e Formato.………...31

3. PLANEJAMENTO DO PRODUTO JORNALÍSTICO...33

4. METODOLOGIA DA EXECUÇÃO...34

4.1. Dificuldades encontradas...35

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...37

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APÊNDICES E ANEXOS...43

Apêndice 1 – ROTEIRO Vídeo: Pimp My Carroça – Grafite Arte Social...43

Apêndice 2 – ROTEIRO Vídeo: LAMBES – Arte que Conecta Pessoas...46

Apêndice 3 – ROTEIRO Vídeo Deusa Poetisa – Somos a Revolução...48

Apêndice 4 – ROTEIRO Vídeo: Cleyton Mendes – Poesia é Voz...51

Apêndice 5 – ROTEIRO Vídeo: Daniel Gtr – Poesia é Voz...53

Apêndice 6 – ROTEIRO Vídeo: Grafite é artivismo – Entrevista com Cadumen...55

Apêndice 7 – ROTEIRO Vídeo: Fervo é luta – Visita à Festa Batekoo...57

Apêndice 8 – ROTEIRO Vídeo: Estética é resistência – Entrevista com DivaGreen...59

Apêndice 9 - FOTO 1 – FANPAGE NO FACEBOOK (FB.COM/VCMEVESP)...61

Apêndice 10 – FOTO 2 - FANPAGE NO INSTAGRAM (@VCMEVESP)...62

Apêndice 11 – FOTO 3 - PUBLICAÇÃO NO INSTAGRAM...62

Apêndice 12 – FOTO 4 - CANAL NO YOUTUBE VOCÊ ME VÊ SP (https://goo.gl/odT2Yo)...63

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1. INTRODUÇÃO 1.1. Objeto

1.1.1. Processos Comunicativos na Cultura de Convergência

Nas últimas décadas o desenvolvimento de ferramentas digitais tem beneficiado a transformação do jornalismo para uma prática mais interativa e colaborativa. A integração entre linguagens audiovisuais e verbais permite uma nova maneira de explorar de diversos ângulos uma informação.

Os dispositivos tecnológicos da internet proporcionaram a expansão dos canais de comunicação. A interação de conteúdos entre plataformas digitais resultou no que chamamos de convergência midiática, a qual explora novas alternativas para expandir o fluxo de informação, como o uso de blogs, redes sociais e vídeos, ampliando as alternativas de abordagem do conteúdo, sua área de transmissão e seu aproveitamento, além de promover maior e mais ágil interatividade do público com o meio.

De acordo com Jenkins (2009), a convergência dos meios de comunicação possibilita a interposição de narrativas que se desdobram em outros produtos e se sobrepõe. Temos uma conexão de ideias proporcionada pela cibercultura, rompendo com o modelo de difusão um para todos, o qual impossibilita as interações sociais de forma democrática, colocando as mídias tradicionais como detentoras do controle sobre a opinião pública.

Jenkins (2009) defende que, nesse espaço de convergência, o conhecimento deixa de ser individual e passa a ser coletivo, aumenta-se o envolvimento do público ao proporcionar maior experiência interativa pelo receptor, formando uma cultura participativa.

[...] O ciberespaço como prática de comunicação interativa, recíproca, comunitária e intercomunitária, o ciberespaço como horizonte de mundo virtual vivo, heterogêneo e intotalizável no qual cada ser humano pode participar e contribuir. Qualquer tentativa para reduzir o novo dispositivo de comunicação às formas midiáticas anteriores (esquema de difusão “um-todos” de um centro emissor em direção a uma periferia receptora) só pode empobrecer o alcance do ciberespaço para a evolução da civilização, mesmo que compreendemos perfeitamente – é pena – os interesses econômicos e políticos em jogo (LÉVY, 1999, p.126).

Lévy (1999) defende o uso das redes de informática a serviço da inteligência coletiva. O ciberespaço é orientado por três principais eixos: a interconexão, a criação de comunidades virtuais e a inteligência coletiva.

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[...]a emergência do ciberespaço é fruto de um verdadeiro movimento social, com seu grupo líder (a juventude metropolitana escolarizada), suas palavras de ordem (interconexão, criação de comunidades virtuais, inteligência coletiva) e suas aspirações coerentes (LÉVY, 1999, p.123).

Segundo Lévy (1999), a cibercultura trabalha a desterritorialização do espaço físico, há uma diluição das fronteiras e alteração da percepção de espaço e tempo. O relacionamento do público com os meios de comunicação é reconfigurado pela hibridização da tecnologia com a cultura.

A interconexão constitui a redução de fronteiras entre os indivíduos, tecendo uma rede virtual universal. A compatibilidade de interesses entre os indivíduos, que formam os diversificados tipos de públicos, instituem as comunidades virtuais, reunindo os públicos em segmentos determinados pelas suas afinidades intelectuais, culturais, ideológicas, entre outras, independente de delimitações geográficas e/ou institucionais.

Tais aspectos da cibercultura agilizam os processos de interação, permitindo a organização dos indivíduos em prol de um fundamento. Sendo, esses arranjos, capazes de estimular um pensamento crítico em populações que, até então, não viam representatividade nos formatos midiáticos padrões.

1.1.2. Movimentos Sociais e a Comunicação em Rede

Segundo Castells (1999), tendências desencadeadas pelo desenvolvimento do sistema capitalista acentuam a delimitação de fronteiras simbólicas entre segmentos e territórios de dinâmicas sociais, intensificando a desigualdade social. Tal estrutura subjuga grupos a sua perspectiva de lógica, silenciando as falas que, de certo modo, se opõem aos padrões estabelecidos.

Ao mesmo tempo, em virtude da necessidade de uma rede de integração global para a propagação e manutenção das relações, reproduz-se um novo sistema de comunicação capaz de transcender fronteiras físicas, e atingir um maior contingente consumidor, por meio de uma linguagem universal digital, que permite uma difusão não massificada, e, sim, moldada aos distintos segmentos sociais.

O fluxo de informação não se limita mais a ser unidirecional. A interação nas redes virtuais torna o compartilhamento de informação flexível e dinâmico, rompendo com as

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estruturas limitadas. “As redes interativas de computadores estão crescendo exponencialmente, criando novas formas e canais de comunicação, moldando a vida e, ao mesmo tempo, sendo moldadas por ela” (CASTELLS, 1999, p.22).

Para Castells (1999), as mudanças sociais e os processos de transformação tecnológica e econômica, ainda assim, estão interligados. Embora os processos sociais não se deem por determinação das transformações tecnológicas, nem a sociedade determine o direcionamento que essas transformações irão adotar, uma vez que a revolução tecnológica está submetida a fatores teóricos e as formas de aplicação na sociedade.

[...] embora não determine a evolução histórica e a transformação social, a tecnologia (ou sua falta) incorpora a capacidade de transformação das sociedades, bem como os usos que a sociedade, sempre em um processo conflituoso, decide dar ao seu potencial tecnológico (CASTELLS, 1999, p.26). Compreendemos que, o desenvolvimento tecnológico é desenhado a fim de agir em prol dos interesses do sistema no qual se insere, mas não se limita “às expressões desses interesses” (CASTELLS, 1999, p.31). De modo que, grupos que fazem objeção aos paradigmas do sistema podem se apropriar dessa revolução tecnológica como ferramenta de ação em oposição à estrutura dominante.

As instituições sociais são constituídas para impor o cumprimento das relações de poder existente em cada período histórico, inclusive os controles, limites e contratos sociais conseguidos nas lutas de poder. [...] A comunicação simbólica entre os seres humanos e o relacionamento entre esses e a natureza, com base na produção (e seu complemento, o consumo), experiência e poder, cristalizam-se ao longo da história em territórios específicos, e assim, geram culturas e identidades coletivas (CASTELLS, 1999, p.33).

Castells (1999) admite o progresso tecnológico como fundamento das sociedades informacionais. No sentido de que, tais processos movimentam “novas formas históricas de interação, controle e transformação social” (CASTELLS, 1999, p.36), gerando um espaço dialético que se opõe à doutrinação das estruturas institucionais, e redefinindo as relações de poder.

Estamos diante de uma nova forma de movimentos sociais que se caracterizam por serem capazes de se auto organizar, automobilizar e auto liderar, sem pedir licença a nenhum partido, a nenhum líder, porque dispõem de uma capacidade tecnológica comunicativa que nunca houve na história, e porque as emoções se difundem instantaneamente através da viralidade (CASTELLS, 2014, 3’17”). A mobilização dos movimentos sociais em rede sugere uma organização coletiva sem liderança, viabilizada pelo espaço de debate da comunicação em rede, ou seja, uma organização

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horizontal que dificulta a repressão pelas instituições de poder social.

A presente proposta de um canal de produção jornalística independente argumenta contra a escassez de produções midiáticas que discutam questões sociais de forma dinâmica, relacionando a realidade dos receptores com o assunto abordado. A produção de canais de mídia independente na web se apresenta como uma resposta à forma engessada de transmissão de informação da grande mídia.

A difusão da informação na era digital ajuda os movimentos contra a mídia hegemônica a se consolidarem. Com o mínimo custo financeiro, é possível criar canais de dispersão de ideias e ampliar o espaço de participação social.

O audiovisual somado à cibercultura, em uma websérie documental, trabalha como atrativo, principalmente, para a população jovem que, majoritariamente, frequenta os meios de ação cultural e interagem assiduamente nas redes. Os movimentos culturais intensificados pelas transformações tecnológicas proporcionam a esses jovens um canal pelo qual eles podem expressar suas opiniões políticas e sociais.

Ao tornar a própria população marginalizada em protagonistas, a mídia independente apoiada às redes de comunicação no ciberespaço, não apenas oferece um local de voz a esses grupos, mas, também, os reconhece como agentes de ação. A representatividade na mídia é importante, pois o reconhecimento e a afinidade com a realidade exposta promovem o senso crítico da população, e a incentiva a se mobilizar contra a imposição dos padrões culturais.

1.1.3. Novas Narrativas Jornalísticas: Websérie Documental

Novos produtos auxiliados por recursos audiovisuais são originados da cultura de convergência e da comunicação em rede. Uma narrativa híbrida do documentário com o ciberespaço, a websérie documental é um desses novos produtos midiáticos, ainda pouco pesquisados pelas teorias da comunicação.

Oriunda do web documentário, a websérie documental se aproxima da proposta do documentário ao utilizar elementos do audiovisual para expressar o contexto realista de uma sociedade existente e direcionar uma compreensão deste mundo, convencendo o espectador da existência de um ponto de vista acerca de uma determinada realidade, de acordo com a definição

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de documentário de representação social dada por Nichols (2005).

Nichols esclarece que documentário não é uma representação da realidade, mas “uma aparência das pessoas que fazem parte dela” (NICHOLS, 2005, p.26). Como toda mensagem transmitida pelos meios midiáticos, no documentário, essa mensagem também carrega significados e valores submetidos às técnicas de fotografia e filmagem para retratar uma realidade, subjetiva à visão do produtor e à interpretação do receptor, esse que sofre influência de meios externos à produção na construção de sua interpretação, que é construída pelas mediações vivenciadas e o contexto histórico, cultural e econômico no qual está inserido.

Se o documentário fosse uma reprodução da realidade, esses problemas seriam bem menos graves. Teríamos simplesmente a réplica ou cópia de algo já existente. Mas ele não é uma reprodução da realidade (é uma representação do mundo em que vivemos). Representa uma determinada visão do mundo, uma visão com a qual talvez nunca tenhamos deparado antes, mesmo que os aspectos do mundo nela representados nos sejam familiares (NICHOLS, 2005, p. 47). O documentário consiste em uma forma de proporcionar engajamento social ao colocar em pauta um questionamento, tirando o indivíduo de um estado de inércia frente ao assunto discutido e impulsionando-o a um posicionamento consciente a respeito da dinâmica dos sistemas sociais.

O vídeo e o filme documentário estimulam a epitefilia (o desejo de saber) no público. Transmitem uma lógica informativa,, uma retórica persuasiva, uma poética comovente, que prometem informação e conhecimento, descobertas e consciência (NICHOLS, 2005, p.70).

Entretanto, a websérie documental se distância em alguns aspectos do modelo de narrativa proposto por Nichols (2005), pois trabalha a transversalidade das mídias na interatividade com o receptor (SOUZA; CAJAZEIRA, 2015). Tal interação possibilita não apenas a construção de um raciocínio sobre uma questão, mas também, abre espaço para a ação desse indivíduo como agente de mudança social. Como exemplo dessas ações, temos iniciativas midiáticas provenientes de grupos marginalizados, que possuem como objetivo extinguir os estereótipos difundidos pela grande mídia e valorizar a pluralidade cultural desses grupos, destacando a qualidade de suas produções.

Dentro dos exemplos de projetos de websérie documental nacional, podemos citar o Webdoc Graffiti1, um web documentário interativo dividido em episódios mensais, organizados

1 http://www.webdocgraffiti.com.br/

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em blocos temáticos. A série de vídeos aborda temas relacionados à arte urbana na cidade de São Paulo. Além do conteúdo audiovisual, o site ainda traz um mapa interativo no qual é possível demarcar e explorar as obras de grafite distribuídas pelas regiões da capital paulista.

1.1.4. Comunicação e Cultura

Discutiremos a relação comunicação e cultura partindo das teorias dos Estudos de Comunicação na América Latina. Diferente do pensamento da Escola de Frankfurt, que trabalha a cultura como mercadoria no contexto da Indústria Cultural, para os Estudos Culturais Latino-Americanos, o homem não é apenas consumidor passivo dos produtos da Indústria Cultural.

As manifestações culturais estão submetidas a fatores determinados pelo contexto social e histórico do ambiente e as intervenções do homem em sua produção, transmissão e recepção. Por isso, podem assumir diferentes sentidos, o que caracteriza seu perfil heterogêneo e mutável. Segundo García Canclini (2013), uma obra isolada de seu contexto não possui sentido. Este processo de interação introduz o conceito de hibridização cultural.

Há uma mudança de objeto de estudo na estética contemporânea. Analisar a arte já não é analisar apenas a obra, mas as condições textuais e extratextuais, estéticas e sociais, em que a interação entre os membros do campo lhe gera e renova o sentido (GARCÍA CANCLINI, 2003, p. 151).

De acordo com Muniz Sodré (2006), a estrutura da sociedade contemporânea é sustentada pelas interações entre mídia e sociedade, nas quais ocorre a apropriação do conteúdo midiático na construção das culturas e a representação das culturas nas mídias. A produção de sentido é resultante dessa interação em conjunto com as mediações sociais, sendo essa relação enxergada como “sistemas de circulação diferida e difusa” (BRAGA, 2006). Uma vez que o receptor é um elemento ativo no processo comunicativo, ele não sofre apenas os efeitos da mensagem midiática, e sim, se apropria do discurso midiático, sendo capaz de decodificar, desconstruir e transformá-lo em algo novo.

Ao considerar que as produções de sentido estão submetidas aos processos de codificação e decodificação das mensagens, os estudos rompem com a ideia de objetividade e transparência nas mensagens e transfere o foco da análise para o receptor que não é mais passivo. Deixa-se de analisar as relações entre mídia e audiência como um sistema direto, sem intervenções.

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transmitidas pela mídia acerca das culturas de grupos sócio acêntricos, ou seja, grupos excluídos dos meios sociais hegemônicos. Essas imagens são determinadas pela classificação do meio que as produzem, esses meios podem ser as mídias institucionais ou mídias alternativas, que se difere em seus discursos.

[...] há um componente autoritário quando se quer que as interpretações dos receptores coincidam inteiramente com o sentido proposto pelo emissor. Democracia é pluralidade cultural, polissemia interpretativa. Uma hermenêutica ou uma política que fecha a relação de sentido entre artistas e público é empiricamente irrealizável e conceitualmente dogmática. [...] Podemos concluir que uma política democratizadora é não apenas a que socializa os bens “legítimos”, mas a eu problematiza o que deve entender-se por cultura e quais são os direitos do heterogêneo. (GARCÍA CANCLINI, 2003, p. 156)

As mídias institucionais agem como conectores intermediários das produções culturais de grupos sócio acêntricos. Porém, essas mídias manipulam o significado e o sentido que fundamentam essas culturas, explorando-as de acordo com seus interesses próprios. Geralmente, quando tais expressões estéticas obtêm espaço nas mídias, este é ditado por estereótipos e preconceitos.

No momento que os grupos sociais assumem uma consciência questionando o papel das mídias dominantes na construção de padrões, tais grupos assumem a função de agentes transformadores e são capazes de se posicionar contra os padrões culturais difundidos pela mídia, por meio de suas próprias produções, obtendo, assim, reconhecimento e reafirmando sua identidade. Através da resistência e da crítica, os grupos à margem dos padrões difundidos pela cultura midiatizada descentralizam o discurso padrão cultural, promovendo a pluralidade cultural. De Certeau (1994) teoriza que os produtos impostos pela “elite produtora de linguagem” não são consumidos passivamente. Tais produtos são “reapropriados” de maneira a serem empregados na própria produção cultural. Constitui-se, então, o ativismo por meio das mídias alternativas, forma encontrada para buscar o questionamento dos papéis sociais, da valorização cultural e fortalecimento de uma identidade diante da imposição cultural das mídias hegemônicas. A uma produção racionalizada, expansionista além de centralizada, barulhenta e espetacular, corresponde outra produção, qualificada de “consumo”: esta é astuciosa, é dispersa, mas ao mesmo tempo ela se insinua ubiquamente, silenciosa e quase invisível, pois não se faz notar com produtos próprios, mas nas maneiras de empregar os produtos impostos por uma ordem econômica dominante (DE CERTEAU, 1994, p.39).

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e política que permite exprimir as reivindicações de grupos sócio acêntricos e alcançar a sociedade, de forma a promover a diversidade cultural e a representatividade de diferentes segmentos sociais. Articula-se, a partir dessas manifestações, a circulação de produtos e práticas culturais contra hegemônicas em meio ao espaço urbano.

Ao analisar o conceito de artivismo (arte + ativismo) nas experiências estéticas observadas para a produção do projeto experimental, observa-se que, ao tomar consciência de si, esses grupos se tornam agentes de transformação social e constituem uma resistência contra a imposição de uma cultura hegemônica criada por grupos que detêm o controle social.

1.1.5. Artivismo

A cidade de São Paulo se apresenta como uma grande galeria de arte, na qual seus corredores são compostos por expressões estéticas de resistência. Magnani (1993) descreve esta galeria como um conjunto de características heterogêneas, que só podem ser compreendidas quando dispostas em aglomerados que se relacionam. Entretanto, essas composições apenas são reveladas quando vivenciadas.

Nessa galeria da cidade não é possível compreender as obras expostas apenas observando-as de fora, pois elobservando-as exprimem uma afirmação de identidade, trazem consigo uma bagagem de luta política, para além de uma expressão artística. Por trás desse contexto visual existe um contexto social interpretado. A essa interpretação e ganho de sentido damos o nome de experiência estética.

As expressões estéticas de resistências proporcionam um diálogo e experimentação estética entre obra e observador (arte e cidade). E o observador vivencia essa experiência estética e cultural em um tempo histórico e lugar social, contextos estes, temporais e espaciais, que constituirão o pano de fundo da produção de sentidos. O resultado é uma ressignificação de valor individual a cada sujeito que experimenta a interpretação das práticas do artivismo.

O receptor comparece com o seu “horizonte de expectativas”, que incorpora um complexo conjunto de mediações socioculturais. As expectativas com as quais se confronta com a obra, em diálogo com o artista, são balizadas por essas mediações. E, assim, na percepção estética, o espectador acolhe e reelabora os sentidos do objeto estético, que pode ser pensado na perspectiva da comunicação, entendida como diálogo, no qual os interlocutores compartilham os sentidos, que se tornam comuns a eles (BARROS, 2013, p.92).

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Para além do campo interpretativo, está o sistema de circulação, que torna a produção de sentido difusa em sociedade. Processo denominado do José Luiz Braga (2006) e outros pesquisadores de midiatização da sociedade. A circulação estabelece diferentes efeitos nos discursos e se diluí nos desdobramentos da interpretação.

Se escolhermos como estratégia teórica a que consiste em dizer que os fenômenos de sentido exigem, para serem compreendidos, o estabelecimento de um modelo de um sistema produtivo, ou seja, que os discursos são produtos cuja produção e cujos efeitos devem ser estudados, então o conceito de circulação designa o elo intermediário desse sistema (VERÓN, 2004, p.53).

Essa movimentação dos sentidos produzidos pelo artivismo em meio à sociedade não deixa vestígios, mas é o espaço de reconhecimento e apropriação dos discursos, “transformado em lugar, no qual produtores e receptores se encontram em jogos complexos de oferta e reconhecimento” (FAUSTO NETO, 2010, p.11).

Para além da aisthesis, está o valor político onde Teresa Vieira (2007) disserta sobre tais expressões artísticas de resistência cultural como ações características de movimentos híbridos de arte e ativismo, intitulado ARTIVISMO.

Na maioria dos casos os artistas aludem, através de metáforas visuais, a problemas políticos vigentes, como meio de crítica que usa privilegiadamente ironia ou subversão. No entanto não se pode dizer que estas manifestações contestatárias sejam especificamente activismo político, uma vez que não se exprimem nos mesmos moldes que essas práticas; tal como afirma Grant Kester: «activist artists and critics are confronted by the need to preserve the specificity of activist art, as a practice that is discrete from other forms of political activism» (VIEIRA, 2007, p.23).

O artivismo nasce da necessidade de confrontar as dinâmicas de poder em uma sociedade submetida à estrutura de hierarquização cultural, em que manifestações artísticas pertinentes à legitimidade cultural de determinados grupos sociais são subordinadas e desvalorizadas.

Segundo Rancière (2005 apud VIEIRA, 2007, p. 8), “arte é política”, mediante seu poder de contestação a arte toma o teor político ao se dispor como instrumento de oposição aos padrões dissolvidos no cenário social. Os movimentos artivistas buscam a aplicação do conceito de arte democrática, na qual deve haver representatividade e participação ativa do coletivo.

De acordo com Lucy Lippard a arte activista é muitas vezes chamada de “o movimento pela cultura democrática” pela sua capacidade em reposicionar o pensamento cultural instituído e pela partilha do espírito de contestação que tem sido utilizado no discurso das vanguardas, mas divergindo delas relativamente à procura de uma estética que, desta vez, é colocada ao serviço de conteúdos de

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preocupação social e cultural, procurando uma divergência, senão de comportamentos, pelo menos de consciências (VIEIRA, 2007, p.25).

A busca pela democracia cultural se dá à margem das instituições tradicionais de produção, geralmente ocupando o espaço urbano, em que ocorre o questionamento acerca do sentimento de pertencimento a um sistema hegemônico excludente e imposto. Sistema, no qual seus privilégios se limitam a uma parcela populacional seleta, que detém o poder de designação sobre as produções culturais dominantes e os meios de difusão cultural.

A importância das redes de comunicação alternativas no movimento artivista, ressaltando a mídia independente e as redes sociais, se afirma pela facilidade em disseminação das práticas culturais e o maior alcance do público, promovendo a aplicação do conceito de democracia cultural. Porém, ressalvamos que, as novas tecnologias de informação ainda não são plenamente efetivas na aplicação do conceito de democracia cultural, uma vez que, devido às dinâmicas do sistema de classes sociais, na qual se fundamenta a desigualdade social, ainda existe uma parcela da população sem acesso a essas ferramentas de informação.

De acordo com Vieira “A verdadeira democracia cultural dá visibilidade em igualdade de circunstâncias a minorias ou dominados, porque a sua autoexpressão promove o seu desenvolvimento pessoal circunspecto dos limites dessa democracia” (2007, p.24).

O que é interessante notar em relação às tecnologias digitais é que os coletivos de artistas e ativistas vão usá-las não apenas para aumentar a visibilidade de suas ações, mas, sobretudo para incrementar seu capital relacional, através do estabelecimento de redes de contatos e relações de troca que vão reforçar práticas e discursos entre si. Trata-se da produção de toda uma cadeia de solidarização, cujos vínculos fracos vão constituir uma multiplicação de vias e circuitos como estratégia de ação (GONÇALVES, 2012, p.183).

Além de reforçar o pensamento de coletividade e comprometimento com lutas sociais por meio da arte, o artivismo promove visibilidade e estimula a participação política e intelectual de grupos sócio acêntricos ignorados pela cultura hegemônica.

O espectador também age, tal como o aluno ou o intelectual. Ele observa, seleciona, compara, interpreta. Relaciona o que vê com muitas outras coisas que viu em outras cenas, em outros tipos de lugares. Compõe seu próprio poema com elementos do poema que tem diante de si (RANCIÈRE, 2012, p.17). E para se pensar em artivismo é preciso reconhecer no espectador para além de um público alvo a ser atingido, mais do que uma ação de doutrinação. Como nos ensina Rancière, a experiência estética pressupõe um espectador emancipado, que interage e colabora com o artista.

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1.2. Produção da Websérie: Temáticas sociais

A reflexão teórica acima trazida dá suporte para a realização de práticas jornalísticas no ambiente da sociedade em rede. Como exercício prático deste Trabalho de Conclusão de Curso, propusemos uma Websérie com temáticas sociais, concebida e produzida na perspectiva do jornalismo cidadão. Alguns temas culturais permeiam essas produções. São eles:

1.2.1. Grafite, Pixo e Lambe

A interação da periferia com os centros urbanos, muitas vezes caracterizada por relações de tensão, pode ser observada em diferentes manifestações sociais. É o caso, por exemplo, do Grafite, do Pixo e do Lambe na cidade de São Paulo.

São interações de esfera pública que incitam as próprias conversas e interações (ainda que sub-reptícias) que nutrem os movimentos e o rumo à democracia ou a uma cultura de feições democráticas mais fortes (DOWNING, 2002, p. 173). Estas intervenções provocam a quebra das fronteiras simbólicas que delimitam os espaços urbanos. Tais expressões estéticas se chocam com a cultura dominante ao transmitirem mensagens críticas de oposição aos padrões sociais. Contudo, nem sempre as mensagens propagadas possuem cunho político, embora a essência dessas expressões seja originária de movimentos políticos e/ou sociais.

As mensagens gravadas nos muros, por serem transgressoras, foram condenadas pela sociedade. O Grafite e o Pixo, por exemplo, chocam aos olhos da elite dominante, pois sua concepção agride o sistema hegemônico ao contestar o discurso da padronização cultural, segundo Downing (2002). Por sua vez, o Lambe, cujo precursor são os cartazes de protesto, segue o mesmo espírito de luta do Grafite, apesar de ainda demandar maiores estudos sobre seu surgimento e sua contribuição para a street art.

Visto de dentro, todo grafite de base comunitária é político. Trata-se de manipulação das relações grupais e individuais, de representação de ideologias focalizadas no âmbito interno, de jogos de poder que negociam posições e definem identidade [...] as pessoas escrevem grafite para criar ou utilizar oportunidades de mudança (PHILLIPS, 1999 apud DOWNING, 2002, p. 174). Estas experiências estéticas, originariamente, representam a legitimação da identidade de culturas marginais, principalmente de regiões periféricas. Isso ocorre, pois, ao sair das regiões

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marginalizadas do complexo urbano para ocupar o centro da cidade com suas obras, o artista registra sua marca nas ruas e praças de regiões mais privilegiadas, afirmando sua cultura em um ato de resistência e valorização da periferia. Assim, ele responde à opressão e repressão da cidade que o deixa à margem. Essa interação não se dá apenas através das intervenções gravadas nos muros, o próprio vestuário é uma forma de autoafirmação cultural estética e luta social.

A arte de rua se apresenta como mídia alternativa de expressão cultural, que amplia o espaço destinado às produções culturais populares, promovendo a inclusão social e cultural. A resistência à influência da grande mídia, dentre outras ações, pode se dar através da ocupação dos espaços urbanos - maneira encontrada para perpetuar a afirmação de identidade das populações marginalizadas.

Os diversos tipos de discursos sobre as mídias podem até falar de política, tematizá-la e transformá-la em matéria retórica, mas não são políticos eles próprios. A essência da política é a mudança do mundo social (DOWNING, 2002, p. 13).

As obras nos centros das grandes cidades representam a exteriorização da cultura da periferia; uma demarcação de território da periferia, tanto no âmbito físico como social. De acordo com Pereira (2010) “A pichação é nômade; os pichadores, não”, isto é, ao se afirmarem como membros da periferia, esses artistas atribuem unidade à periferia e, desse modo, tornam-se mais visíveis na sociedade.

A cultura das periferias está nos muros das grandes cidades, no cotidiano dos indivíduos, dialoga com o espaço urbano. Entretanto, ela só é reconhecida quando delineada e delimitada para servir a fins determinados pelas classes dominantes.

A cultura periférica não é valorizada, porque não atende aos critérios exigidos para que ela se enquadre em um padrão “oficial” da esfera cultural, seguindo o raciocínio da teoria da legitimidade cultural de Bourdieu (1964). O que gera discussões acerca da valorização da arte como mercadoria, uma vez que, à medida que estas manifestações de ativismo cultural têm, gradativamente, ganhado espaço nas mídias tradicionais, elas tem perdido sua identidade no mesmo ritmo, devido à tentativa de inseri-las no mercado, padronizando-as para que possam ser oferecidas a um seleto público.

Divulgar massivamente o que alguns entendem por “cultura” nem sempre é a melhor maneira de fomentar a participação democrática e a sensibilização artística. Porque a divulgação massiva da arte “seleta”, ao mesmo tempo que

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uma ação socializadora, é um procedimento para assegurar a distinção dos que a conhecem, dos que são capazes de separar forma e função, dos que sabem usar o museu. Os mecanismos de reforço da distinção costumam ser recursos para produzir a hegemonia (GARCÍA CANCLINI, 2003, p.155).

A arte de rua deixa de ser uma manifestação cultural popular contra hegemônica ao ganhar uma ressignificação para o mercado pela indústria cultural. Segundo Adorno (1971), o valor de troca e o prestígio substituem o valor de apreciação da estética e a percepção, quando se incorpora a produção cultural ao cenário do mercado consumidor. Por isso, por meio das práticas artivistas os artistas preservam a essência de luta política originaria dessas manifestações culturais.

1.2.2. Música Marginal e Etnicidade

A experiência estética na música é diferente a cada um dos grupos que a escutam. Porém no grupo negro há uma identificação com a música marginal exatamente pelo contexto histórico de opressões em que se situam. O empoderamento identitário e social só são efetivos neste grupo pela necessidade de autoafirmação frente a uma identidade histórica negada. Os sujeitos tornam-se protagonistas de suas realidades e vivências e dialogam com a música que possui o papel de trabalhar esse protagonismo.

[...]O(s) sujeito(s) que a cultura contemporânea encena é outro: é um que reivindica o sentido de suas experiências tal como as vivencia em práticas específicas de atribuição de significado; está disposto a assumir o seu próprio descentramento, o localismo do espaço onde atua, o caráter imediato de sua ação; em uma palavra, como já foi apontado, sujeitos auto referenciados e auto-instituintes de seu mundo, de suas diferenças e similitudes, de suas identidades e alteridades (PAOLI, 1991, p.110).

Em busca de compreender este empoderamento é preciso esmiuçar a música marginal brasileira. As mensagens, os ritmos e o ambiente em que circulam fazem parte do conjunto que permite a absorção cultural nos meios midiáticos. Entre os estilos musicais periféricos, se destacam o hip hop, que mais do que gênero musical é um estilo cultural. Toda a cultura hip hop busca fortalecer as tribos urbanas à margem da cultura hegemônica, com forte e notável matriz negra em suas origens.

Somos a Negritude. E Negritude é a própria onipresença para aqueles que a assumem e a amam. Sobre as diferenças de idiomas, acima das distâncias territoriais e das nacionalidades, os veios da diáspora, em movimentos concêntricos, se reintegram no grande mar escuro dessa mágica.

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(NASCIMENTO, 1981, p.106).

Um processo de recuperação dos símbolos positivos da cultura jovem negra se inicia dentro do Hip Hop na década de 1990 abrindo espaço para o ativismo político e empoderamento social. Contudo não só o Hip Hop assumiu a música marginal, o próprio funk brasileiro, que ainda é pouco analisado, trabalha com uma vertente afirmativa, seja nas letras que agregam valor positivo as comunidades periféricas ou no ritmo de matriz africana e norte-americana. Um exemplo prático da música marginal é o Racionais Mc’s, que assume essa postura de ruptura através de suas letras, ao cantar em “Capítulo 4 Versículo 3”:

Revolucionário ou insano. Ou marginal!

Antigo e moderno, imortal! Fronteira do céu com o inferno!

Astral imprevisível, como um ataque cardíaco do verso! Violentamente pacífico!

Verídico!

Vim pra sabotar seu raciocínio!

Vim pra abalar o seu sistema nervoso e sanguíneo! (RACIONAIS MC’S, 1999) A letra mostra dois pontos essenciais: o desejo de “incomodar” e a noção de “se estar à margem”. A consciência de sua condição na sociedade é, segundo Paulo Freire, parte do processo de empoderamento. Outro exemplo que categoriza a música marginal como empoderativa e política é “Som de Preto” dos funkeiros Amilcka e Chocolate, com o refrão:

É som de preto, De favelado, Mas quando toca,

Ninguém fica parado! (AMILCKA E CHOCOLATE, 2004)

As letras carregam a essência da música marginal: reivindicar visibilidade e fazer-se ouvir mesmo com as divergências sociais e raciais do país, ou seja, empoderar o sujeito. A afirmação da identidade étnica, o tom provocativo e transgressor apresenta a música que passa às margens da identidade nacional. O processo de identificação só se torna efetivo porque os grupos negros se enxergam nas letras e a tomam como representantes de uma realidade social, espírito coletivo ou hábitos culturais.

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1.2.3. Representatividade Estética e Visibilidade Negra

Ao trabalhar com artivismo, os temas carregaram grande teor sobre representatividade e visibilidade negra. Entender a importância da recorrência desse tema é compreender os desdobramentos identitários de grupos sociais étnicas acêntricos no país, por meio de um recorte breve de pesquisa.

Com o avanço dos estudos da Diáspora Africana e afro-brasileira e militância do movimento negro no país, uma crescente valorização da identidade negra se estabeleceu dentro da grande parcela da população que se identifica como afrodescendente e negro. Essa soma de valor positivo a estética e cultura afro-brasileira ainda ruma a lentos passos, porém surge como ato político. É essencialmente contra a estética eurocêntrica e a cultura hegemônica, já que se caracteriza como grupo representativo minoritário. Dentro disso, usa como ferramenta de resistência e afrontamento social suas próprias características culturais.

Sejam nas vestimentas, penteados, crenças, comidas, músicas e hábitos; criou-se uma integridade étnica distinta e altamente valorativa para os seus integrantes. BAUMAN (2007) aborda explicações para esse fenômeno como consequência das fragmentações e multiplicidades da identidade na pós-modernidade.

O “ressurgimento da etnia”... Traz para a linha de frente o florescimento não antecipado de lealdades étnicas no interior das minorias nacionais. Da mesma forma, ele coloca em questão aquilo que parece ser a causa profunda do fenômeno: a crescente separação entre o pertencimento ao corpo político e o pertencimento étnico (ou mais geralmente, a conformidade cultural) que elimina grande parte da atração do original do programa de assimilação cultural...A etnia tem-se tornado uma das muitas categorias, símbolos ou totens, em torno dos quais comunidades flexíveis e livres de sanção são formadas e em relação às quais identidades individuais são construídas e afirmadas. Existe agora, portanto, um número menos daquelas forças centrífugas que uma vez enfraqueceram a integridade étnica. Há em vez disso, uma poderosa demanda por uma distintividade étnica pronunciada (embora simbólica) e não por uma distintividade étnica institucionalizada (BAUMAN apud HALL, 2007, p.96). O que o autor chama de “distintividade étnica pronunciada” embasa o empoderamento desses sujeitos, há de fato um orgulho em representar e se identificar como tal. Ato de afirmação de identidade, mas, também, de forte ativismo político em frente a estruturas sociais racistas.

Geralmente, ao falar-se de racismo, está-se fazendo referência à segregação dos indivíduos por raça (racismo de dominação) ou então ao racialismo (pressuposto da existência de raças, com diferentes aptidões sociais), que redunda no racismo de exclusão. Este último é sempre vantajoso para as elites dirigentes e suas

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afinidades de classe, porque elementos etnoculturais como cor da pele, parentesco e educação formal alimentam a hierarquização social garantida pela desigualdade econômica. (SODRÉ, 1999, p.26)

Sodré ao considerar “vantajoso” para as elites que o racismo permaneça, faz uma importante ligação entre o incômodo que o atual movimento de valorização negra no país carrega consigo e a hegemonia cultural brasileira. Vivencia-se como base estrutural uma economia desigual pautada na hierarquização social, responsável por manter uma segregação racial. Com isso a websérie exerce o seu papel social jornalístico ao dar espaço de fala a esses grupos sócio acêntricos afetados.

1.2.4. Poetry Slam e Saraus: Poesia de Resistência

Os encontros de competição de poesias e saraus se firmaram no circuito cultural da cidade de São Paulo, pelas mãos da população periférica da metrópole, recorrendo à estética da poesia para despertar questionamentos políticos e ideológicos. De acordo com Minchillo (2016), tais intervenções poéticas remetem ao “processo de apropriação de voz, de perspectiva e de produção e recepção de discurso”.

O termo slam (na tradução literal “batida”) usado para designar competições de poesia surgiu em 1986, com o Uptown Poetry Slam, idealizado pelo poeta norte-americano Marc Smith, em um clube de jazz em Chicago, EUA (Somers-Willett, 2009, p. 3-4 apud Minchillo, 2016, p. 11), sua matriz está intrínseca na cultura do Hip Hop.

Os participantes dos slams e saraus do cenário artístico de São Paulo são escritores, ativistas, agitadores culturais, representantes da literatura periférica, articuladores culturais que ocupam os meios hegemônicos provocando mudanças sociais.

Em um mundo de fluxos globais de riqueza, poder e imagens, a busca pela identidade, coletiva ou individua, atribuída ou construída torna-se a fonte básica de significado social (CASTELLS, 1999, 23).

Observa-se na literatura periférica uma ferramenta de transformação social e representatividade da cultura contra hegemônica nos meios privilegiados, uma vez que, seus artistas se tornam promovedores da cultura periférica, buscando a legitimidade da identidade cultural da periferia e a desmistificação do estereótipo de crime e violência na periferia, disseminado pelos meios de comunicação hegemônicos. Ocupando os espaços sociais privilegiados como os meios acadêmicos, os literários da periferia rompem com os padrões

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culturais, delineando novas dinâmicas nas relações de poder na sociedade. No chão de quatro

Feito uma mula.

Engata! Engata na mulata!

Você ainda aceita ser chamada assim? Não venha com esse título escroto pra mim! Não venha com essa porra açoite verbal! Flagelando minha moral,

Meu sexo,

Achando que é o tal! A idéia é sempre essa

Tudo influi de uma forma natural Vocabulário instalado

Simbologias da sociedade colonial Regado á vaidade

Sempre a nos diminuir, Sempre a nos coagir, Sempre a nos suprimir, Sempre a nos coexistir!

Não! Essa idéia eu não Abraço! Essa idéia eu rechaço,

Eu desfaço, Eu estralhaço, Eu arregaço!

Eu faço a terra tremer Ate você entender Que está tudo errado!

Não vão mais tapar o sol com a peneira. Você acha brincadeira?

Ser estrupada a noite inteira,

Conceber, ser mãe solteira? E passar a vida inteira, Sem se pertencer?

Sem saber se vai viver? Quando o dia amanhecer!

Então! Tira esse sorrizinho da cara e encara, pois na marra

Eu vou enfrentar você! Agora vai!

Engata na mulata?!

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1.3. Justificativa do Trabalho

A produção de uma websérie documental sobre as experiências estéticas ativistas advém da necessidade de afirmar o papel da comunicação social como agente da cultura, tendo o jornalismo e as mídias como mediadores culturais e influenciadores da experiência estética e identitária em uma sociedade midiatizada. A temática abordada pelo produto se lança para contemplar os questionamentos levantados pelas autoras em suas respectivas pesquisas sobre “Música e Etnicidade” e “Grafite e ocupação do espaço urbano”. A convergência entre os temas deu origem ao desenvolvimento de uma série documental sobre a ocupação do espaço urbano por meio do artivismo e a representatividade midiática da cultura marginalizada. Assim, compreendendo as vivências em suas realidades sociais e interesses acadêmicos das autoras. A justificativa para a produção é, por meio da atividade jornalística independente, fomentar o debate sobre representatividade cultural, ativismo cultural, demografia social X pertencimento e marginalidade cultural X empoderamento social.

1.4. Objetivos 1.4.1. Objetivo Geral

Desenvolver uma websérie documental independente, de oito episódios, que discuta a experiência estética ativista paulistana, conforme o conceito de artivismo, resistência cultural e ocupação do espaço público.

1.4.2. Objetivos Específicos

Os objetivos específicos são: a) ressaltar a importância da compreensão da cultura marginal para o exercício da comunicação social e prática do jornalismo cidadão; b) ressaltar a importância dos novos formatos de comunicação independentes como ferramentas promissoras de disseminação e representatividade das culturas marginais; c) fomentar o debate entre marginalidade cultural X empoderamento social: refletir sobre a importância da prática cultural ativista na formação e afirmação de identidade do indivíduo de grupos marginais; d) compreender como a cultura ativista se torna arma de resistência a uma cultura hegemônica elitista.

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2. DOCUMENTÁRIO E ESPECIFICIDADES

A websérie documental é fruto das produções documentaristas. A websérie produto do projeto experimental segue a priori as definições técnicas de um documentário em modo reflexivo.

Para Nichols (2005) existem seis modos ou subgêneros de documentários: participativo, reflexivo, performático, observativo, expositivo e poético. Sendo possível a convergência entre vários formatos em um filme.

A identificação de um filme com um certo modo não precisa ser total. Um documentário reflexivo pode conter porções bem grandes de tomadas observativas ou participativas; um documentário expositivo pode incluir segmentos poéticos ou perfomáticos (NICHOLS, 2005, p.136).

Considerando as observações de Nichols (2005) sobre a hibridação dos subgêneros documentais, o projeto experimental transita não somente em modo reflexivo, mas também em participativo e expositivo.

O produto experimental é uma produção com abordagem interpretativa social e se caracteriza como um documentário de “representação social”, ou seja, discorre sobre um recorte da sociedade e busca provocar uma reflexão final no espectador.

Os documentários de representação social são o que normalmente chamamos de não-ficção. Esses filmes representam de forma tangível aspectos de um mundo que já ocupamos e compartilhamos. Torna visível e audível, de maneira distinta, a matéria de que é feita a realidade social, de acordo com a seleção e a organização realizadas pelo cineasta (NICHOLS, 2005, p.26).

O filme de não-ficção é o formato jornalístico mais próximo da realidade, onde são discutidas questões culturais e sociais. Através da imagem e som, experiências de sentido são expostas ao espectador, que as interpreta de acordo com suas vivências e perspectivas em relação ao mundo.

2.1. O Gênero Websérie Documental

A partir das teorias sobre formato web e gênero documental chegamos à concepção da websérie documental, a qual se justifica pela união desses dois elementos. Uma produção adaptada para os novos hábitos de consumo midiáticos e as novas dinâmicas de interação social

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dada às transformações tecnologias.

A apropriação das webséries pelo jornalismo é reconfigurada com a convergência digital e com desenvolvimento de novos conteúdos especializados para a Internet como, por exemplo, o web documentário [ou websérie documental, como denominamos neste trabalho]. Há uma discussão no campo acadêmico sobre a conceituação e denominação desses novos formatos oriundos com a Internet (SOUZA, et al, 2015, p.7).

A websérie preserva todas as fundamentações do documentário tradicional, porém há uma imersão no cenário de convergência midiática, possibilitando dinamismo ao filme. As principais diferenças estão na veiculação on-line. Ao contrário das produções cinematográficas com alto custo e transmissão restrita ao público, reunindo-o em um único local de distribuição, como salas de cinema, a veiculação on-line permite o compartilhamento difuso do produto, ou seja, espalha a informação em muitas direções, rompendo com a necessidade de um agente intermediário.

Também, a divisão em episódios, que segue a tendência de segmentação do público, acompanha o novo consumidor midiático, derivado das transformações tecnológicas, que busca por rapidez, objetividade e continuidade dos conteúdos. Além do tempo de cada episódio que pode ser definido ou mantido em aberto, pois há uma liberdade maior de elaboração.

A escolha de um formato que conversa com as novas mídias e redes sociais parte da observação das poucas produções jornalísticas do gênero na área. Para RAMOS (2001), “O documentário é visto como um campo tradicional, com regras a serem seguidas. Extrapolar estas fronteiras é um atestado de inventividade e criatividade”.

Tendo como base a proposta de intensificar a interação com o receptor, verificamos no novo formato documental, submetido às tecnologias em rede, uma forma promissora de praticar o jornalismo independente e cidadão.

Dado o objeto retratado pela presente websérie, reforçando a importância das mídias alternativas na construção da identidade e nas ações de resistência à padronização cultural, o processo de produção foi composto majoritariamente por entrevistas com sujeitos ligados ao artivismo e à cultura de resistência, agentes de transformações sociais, sempre dando protagonismo de fala ao entrevistado.

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websérie “i-D” , uma produção do Reino Unido sobre moda contemporânea, veiculada no Youtube. A websérie “i-D” assemelha-se à produção deste projeto experimental ao direcionar o foco da discussão aos personagens e suas histórias, no cenário da moda alternativa mundial, desviando-se dos padrões culturais da indústria da moda. Os episódios, em formato de mini documentários, também são divididos por temáticas, recortes mais afunilados dentro do cenário proposto.

Uma das temáticas apresentadas em “i-D” é sobre a moda urbana no Brasil, dividida em três episódios: Behind Brazil’s Extreme Beauty Addiction, sobre a obsessão pelos padrões de beleza no Brasil; Inside Brazil’s favela and the rise of the new Afro hair, sobre o empoderamento negro nas favelas brasileiras por meio da afirmação estética do cabelo afro; e Meet Brazilian models, activists and a feminist rapper fighting, sobre a rapper feminista brasileira Lay, ainda pouco conhecida pelas mídias dominantes no Brasil, entretanto, já reconhecida pelo seu trabalho no cenário da música alternativa internacionalmente, principalmente, pelo seu recente single “Ghetto Woman”.

2.2. Gênero e Formato

O produto é uma websérie documental, intitulada “Você me vê SP” de oito episódios, divididos em quatro temáticas: Grafite, Pixo e Lambe; Música; Estética Negra; Poetry Slam e Saraus. Cada episódio possui duração entre 5 a 10 minutos.

a) episódio 1: Poesia é Resistência <https://goo.gl/xH3FwX>; b) episódio 2: Fervo é Luta < https://goo.gl/aYsGs0>;

c) episódio 3: Estética é Resistência (Entrevista com Divagreen) < https://goo.gl/Ouo9cS>; d) episódio 4: Poesia é Voz (Entrevista com Cleyton Mendes) <https://goo.gl/t2XXMm>; e) episódio 5: Grafite é Artivismo (Entrevista com Cadumen) < https://goo.gl/ET44xB>; f) episódio 6: Slam é Resistência (Entrevista com Daniel Gtr) < https://goo.gl/uEDaoU>; g) episódio 7: Lambe é Arte < https://goo.gl/8Bkjdb>;

h) episódio 8: Grafite é Arte Social (Entrevista com Pimp My Carroça) <https://goo.gl/VabEc5>.

2www.youtube.com/user/idmagazineonline

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A série de vídeos é veiculada on-line através da plataforma de hospedagem Youtube3, além de ser divulgado por meio de fanpage nas redes sociais: Facebook4 e Instagram5.

Trabalhar com a internet é uma forma de disseminar conteúdo independente sem parcialidade com as grandes mídias. Ao escolher esse formato para elaboração do trabalho, foi considerada a proposta de executar um projeto de jornalismo independente e cidadão.

Dentro disso, a possibilidade de utilizar recursos digitais como hipertextualidade, interatividade e multimidialidade também guiam a escolha da websérie documental. Já que, estando inserida em uma atualidade de convergências de mídia, a internet é o espaço que mais abrange esse fenômeno de integração de recursos e interação.

Por convergência, refiro-me ao fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas de mídia, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam. Convergência é uma palavra que consegue definir transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está falando e do que imaginam estar falando. (JENKINS, 2009, p.30)

A era da convergência engloba o novo consumo de mídias on-line. A facilidade em acessar conteúdos e qualquer lugar e de diversos aparelhos tecnológicos diferentes (seja tablets, smartphones, computadores ou SmarTV’s) criou um consumidor ávido por conteúdo diverso na formação da sua opinião. A partir destas constatações, o desenvolvimento de um produto de gênero documental com formato para a web se encaixa nas demandas de consumo do público alvo.

3 https://goo.gl/odT2Yo

4 Facebook.com/vcmevesp 5 @vcmevesp

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3. PLANEJAMENTO DO PRODUTO JORNALÍSTICO

A websérie documental “Você me vê SP” aborda a experiência estética de grupos sócio acêntricos e a ocupação do espaço urbano por esses grupos. O projeto foi viabilizado para conscientizar o seu público sobre temáticas de arte política, sendo direcionado não apenas para pessoas que atuam como ativistas culturais, mas também, para o público apreciador desse movimento. A série de vídeos será veiculada on-line através da plataforma de hospedagem Youtube, devido ao seu poder de alcance ao público jovem de 15 a 30 anos.

O título da websérie “Você me vê SP”, transmite a proposta do projeto experimental de questionar a cultura hegemônica da cidade de São Paulo, que exclui as produções culturais à margem dos padrões impostos, assim como exclui, também, seus produtores culturais, tornando-os invisíveis atornando-os olhtornando-os da cidade. Com o título pretendemtornando-os confrontar tornando-os padrões sociais ao “forçar a sociedade” a “ver” tais grupos culturais.

Por se tratar de um experimento de jornalismo independente, não temo a pretensão de obter lucros financeiros e/ou vender o projeto para o mercado. Visto a necessidade de mais mídias de representatividade cultural de grupos sócio acêntricos, fazendo um recorte mais afunilado das regiões periféricas da cidade de São Paulo, as produtoras acreditam que sua função como profissionais de comunicação social é suprir tal deficiência na comunicação através da prática jornalística independente.

Com o objetivo de dar protagonismo de fala às experiências estéticas ativistas contra hegemônicas, foram convidados a participar da produção: artistas independentes, produtores culturais, agitadores culturais e projetos que valorizem a cultura marginal e seus artistas.

Posteriormente, pretende-se divulgar a série e promover sua circulação dentro do circuito de artivismo na cidade de São Paulo, em casas de cultura e projetos sociais que viabilizam e incentivam a produção de cultural contra hegemônica.

Os custos para produção dos vídeos foram baixos, limitando-se à passagens de ônibus interurbano entre a cidade de Bauru e São Paulo, e de transporte público paulistano para o deslocamento dentro do circuito de produção cultural da cidade. Sendo a distância entre Bauru – São Paulo uma das dificuldades encontradas. A continuidade do projeto seria possível caso seus membros estivessem estabelecidos na cidade de São Paulo, campo de enfoque da produção.

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