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TRABALHADORES DOMÉSTICOS NAS CIDADES DE PELOTAS E RIO GRANDE (FIM DO SÉCULO XIX) 1

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TRABALHADORES DOMÉSTICOS NAS CIDADES DE PELOTAS E RIO GRANDE (FIM DO SÉCULO XIX)

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Ana Paula do Amaral Costa

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No período escravista brasileiro, a circulação de criados pelas casas dos senhores e pelas ruas das cidades era constante, pelo menos até meados do século XIX, as escravas e escravos representavam o maior contingente da criadagem. Os anúncios de jornais eram repletos de oferta e procura pelo trabalhador doméstico, alguns buscando preferência por brancas, outros sem especificação e aqueles que deixavam claro que não importava se eram livres ou escravas/brancas ou negras.

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Luiz Carlos Soares, tomando o século XIX enquanto ponto de análise sobre a escravidão urbana no Rio de Janeiro, observou os ciclos de maior e menor ocupação dos criados ligados ao contexto histórico do país por meio dos escritos de viajantes. A primeira metade do século XIX apresentou um grande número de criados nas casas abastadas cerca de “20 a 30 trabalhadores”, esse grande número caracterizava uma ociosidade por não ter afazeres para todos. Esse ócio dos servidores domésticos levava os senhores a alugarem muitos dos seus escravos, assim, desafogavam a casa e lucravam com o aluguel.

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Quanto mais modestas as famílias, menor o número de escravos domésticos, sendo que as famílias pobres que “viviam mais folgadamente podiam reservar 1 ou 2 de

1 Texto apresentado no 7º Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Curitiba (UFPR), de 13 a 16 de maio de 2015. Anais completos do evento disponíveis em http://www.escravidaoeliberdade.com.br/

2 Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGH- UFRGS).

3 Os jornais de Rio Grande e Pelotas, como o Echo do Sul (RG) e Onze de Junho (Pel), apresentam esses tipos de oferta e procura de serviços domésticos. Ao analisar as publicações de anúncios sobre o trabalho doméstico nos jornais da capital do Império, Flávia Souza discorre que “a partir dos anos 1870, as demandas relativas à prestação desse serviço, encontradas em conhecidos diários – como o Jornal do Comércio -, chegaram a constituir cerca de 70% do total de anúncios ligados ao mundo do trabalho que eram publicados. Contudo, mesmo antes da segunda metade do Oitocentos, as ofertas e as procuras referentes aos escravos domésticos – principalmente às cativas – já compreendiam a maior parte dos anúncios da escravidão”. SOUZA, Flávia. Escravas do lar: as mulheres negras e o trabalho doméstico na Corte Imperial. In: XAVIER, Giovana, FARIAS, Juliana e GOMES, Flávio (orgs.). Mulheres negras no Brasil escravista e no pós-emancipação. São Paulo: Selo Negro, 2012, p. 244-260.

4 Segundo Soares, “a partir dos anos 1850, com a venda maciça dos escravos da cidade para às áreas cafeeiras, houve uma grande redução do número de escravos domésticos utilizados pelos senhores do Rio de Janeiro”. SOARES, O

“Povo de Cam” na capital do Brasil: a escravidão urbana no Rio de Janeiro do século XIX. Rio de Janeiro: FAPERJ- 7Letras, 2007, p. 108.

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seus escravos para estas tarefas, enquanto que os possuidores de apenas 1 ou 2 escravos eram obrigados a não só explorá-los como fonte de rendimentos, como também na execução de todos os serviços da casa”

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.

Inúmeros estudos observam essa presença marcante dos criados de servir no mundo do trabalho, sem classificar rigidamente as atividades consideradas de “portas a dentro” e de “portas a fora”.

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Para Sandra Graham, as cozinheiras, copeiras, amas de leite, amas secas, mucamas pertenciam ao mundo privado das tarefas da casa, em contrapartida, lavadeiras, carregadoras de água e criadas que compravam no mercado ou de vendedores locais exerciam ocupações de “portas a fora”. Essas divisões não eram rígidas, uma criada poderia cumprir atividades no ambiente da casa e no ambiente da rua, pois apenas as famílias mais abastadas possuíam muitos criados.

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Os inúmeros servidores das famílias mais afortunadas passaram, a partir da segunda metade do oitocentos, a uma redução, pois o número de libertos e imigrantes aumentava e diminuía o de escravos, a presença de libertos acarretava preocupações nos lares dos patrões.

Olivia Cunha

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toma 1850 como marco inicial do processo de emancipação da escravidão no Brasil, observando o incentivo de tentativas de regulação do mercado de trabalho e das relações entre “amos” e “criados” a partir daquela década. Mas é a partir de 1870 que a intervenção do Estado abre um caminho mais concreto para a emancipação. A lei de 1871 representou os primeiros passos da legislação sobre a forma de organização do trabalho dos libertos no contexto de um projeto para sua emancipação gradual, sendo os contratos de locação de serviços um dos aparatos para controlar o novo mercado de trabalho livre. Um dos setores do trabalho que despertou grande preocupação para os ex-senhores, representantes públicos e a polícia foi o “serviço doméstico”, pois havia receio quanto à ociosidade e a indisciplina dos criados, principalmente das criadas, que representavam a maioria destes trabalhadores.

Segundo Sandra Graham, na década de 1870, momento de proliferação das libertas na sociedade, “mulheres livres, brasileiras ou imigrantes, e escravas forras associavam-se às escravas

5 Ibid., p. 107-108.

6 A historiografia dedicada aos estudos sobre o trabalho doméstico ainda é esparsa. Mas, como o serviço doméstico é uma das principais ocupações dos trabalhadores, muitos trabalhos dedicam capítulos e/ou subcapítulos para analisar as atividades domésticas.

7 GRAHAM, Sandra. Proteção e obediência: criadas de servir e seus patrões no Rio de Janeiro 1860-1910. São Paulo:

Companhia das Letras, 1992.

8 CUNHA, Olívia Maria Gomes da. “Criadas para servir: domesticidade, intimidade e retribuição”, in ______; GOMES, Flávio (org.). Quase-cidadão: histórias e antropologias da pós-emancipação no Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 2007, pp.

396-404.

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restantes para suprir a demanda de criadas, de tal forma que, já em 1872, pode-se calcular em cerca de dois terços as mulheres livres no serviço doméstico do Rio de Janeiro”.

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Sendo assim, “os patrões procuravam empregados que pudessem trazer cartas com ‘boas referências de sua conducta’

ou ‘carta de confiança ou informações de pessoas idoneas’, especialmente se os ex-patrões tivessem mudado de cidade ou ido para o exterior e não pudessem, assim, fazer recomendações de viva voz”

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.

A historiografia sobre o trabalho doméstico no Brasil ainda exclui os homens das análises e atribui forte presença das relações escravistas no trato entre patrões e empregadas livres e libertas.

Para o Rio de Janeiro, Sandra Graham

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, ao analisar as experiências das criadas em suas vidas privadas e em seu trabalho, relaciona a implicação das transformações na cidade do Rio de Janeiro, entre os anos de 1860 a 1910, com as “transformações na vida doméstica urbana”

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. Essa ligação entre sujeito e estrutura nas relações de trabalho propiciou uma análise sobre as relações de proteção e obediência entre patrões e criadas e a dicotomia entre a casa e a rua enquanto espaços que “marcavam todos os contextos da vida doméstica”.

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Sendo este o trabalho mais emblemático sobre as relações entre senhores/escravos domésticos e patrões/criados, os demais trabalhos seguem as análises de Graham sem apresentar diferenças marcantes.

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9 GRAHAM, op. cit., p. 21.

10 Ibid., p. 32.

11 O desenvolvimento de estudos que tomam como sujeitos os trabalhadores domésticos ainda é pouco expressivo na historiografia brasileira. Proteção e obediência, obra de Sandra Graham, publicada em português no ano de 1992, ainda é o mais representativo na área de estudos sobre o tema.

12 GRAHAM, op. cit., p. 15.

13 Para a autora, os espaços da casa e da rua poderiam ser interpretados de diferentes formas por criados e senhores.

Para os criados a casa poderia significar um local inseguro e de trabalho excessivo enquanto a rua era um local de maior liberdade. “Já os senhores enfrentavam os riscos inescapáveis de trazer criados desordeiros para os espaços ordenados da casa” Ibid., p. 16.

14 Para São Paulo ver: MATOS, Maria Izilda. Cotidiano e cultura: história, cidade e trabalho. São Paulo: EDUSC, 2002. TELLES, Lorena. Libertas entre sobrados: contratos de trabalho doméstico em São Paulo na derrocada da escravidão. São Paulo, Dissertação (Mestrado em História Social), USP, 2011. Para o Rio de Janeiro ver: GRAHAM, Sandra. Proteção e obediência: criadas de servir e seus patrões no Rio de Janeiro 1860-1910. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. CUNHA, Olívia Maria Gomes da. “Criadas para servir: domesticidade, intimidade e retribuição”, in ______; GOMES, Flávio (org.). Quase-cidadão: histórias e antropologias da pós-emancipação no Brasil. Rio de Janeiro:

FGV, 2007, pp. 396-404. SOUZA, Flávia Fernandes. Para casa de família e mais serviços: o trabalho doméstico na cidade do Rio de Janeiro no final do século XIX. Rio de Janeiro, Dissertação (Mestrado em História Social), UERJ, 2009. Para Recife e Salvador ver: SILVA, Maciel Carneiro. Domésticas criadas entre textos e práticas sociais: Recife e Salvador (1870-1910). Salvador, Tese (Doutorado em História), UFBA, 2011. SANCHES, Maria Aparecida Prazeres.

Fogões, pratos e panelas: poderes, práticas e relações de trabalho doméstico. Salvador, 1900-1950. Dissertação (Mestrado em História), Universidade Federal da Bahia. Salvador, 1998. CARVALHO, Marcus. De portas adentro e de portas afora: trabalho doméstico e escravidão no Recife, 1822-1850. Afro-Ásia, 29/30, p. 41-78, 2003. Para Florianópolis: LIMA, Henrique Espada. Trabalho e lei para os libertos na Ilha de Santa Catarina no século XIX:

arranjos e contratos entre a autonomia e a domesticidade. Cadernos AEL, v. 14, n. 26, p. 135-177, 2009. LIMA,

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Um tema aparece profunda ou superficialmente na historiografia do trabalho doméstico é a apresentação de boas referências dos criados.

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Olivia Cunha analisou “a formação de uma consciência moral e pedagógica do trabalho doméstico no Rio de Janeiro nas últimas décadas do século XIX, articulada a diferenciadas representações da emancipação”

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. A autora começa avaliando a documentação administrativa da Escola Doméstica Nossa Senhora do Amparo, fundada em 1871 com o objetivo de propiciar as meninas ensinamentos práticos e valores cristãos que, segundo o estatuto da instituição, “as habilitariam ‘não só para dignas mães de família ou professoras, como excelentes criadas e governantas de casa, de modo a poderem ocupar com vantagem o vácuo que a emancipação vai deixando no santuário das famílias’”

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.

Nos escritos do Estatuto da escola doméstica analisada por Cunha existia uma preocupação com a emancipação, pois afetava a vida doméstica ao necessitar de criados libertos e livres que careciam de novas formas de subordinação para o mercado de trabalho livre. Na cidade de Pelotas, também foram instituídos o Asilo de Órfãs Nossa Senhora da Conceição e o Asilo de Órfãs São Benedito com o mesmo objetivo da criação da escola estudada por Cunha: amparar as meninas pobres da cidade e educá-las para o mercado de trabalho doméstico.

Nos anos finais do século XIX, em um contexto emancipacionista e de pós-abolição, as relações de domesticidade e mundo externo a casa dos empregadores sofriam transformações significativas que afetavam as relações entre criados e patrões e viabilizavam as relações contratuais e a normatização dos espaços. Com isso, de acordo com Maria Izilda Matos, “buscava-se adequar homens e mulheres de certos segmentos sociais a uma nova situação do mercado de trabalho, inculcando-lhes valores, formas de comportamento, disciplina rígida do espaço e tempo do trabalho”

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.

As regulamentações sobre a locação do serviço de criados de servir começaram a ser formuladas no Brasil na década de 1880, como novas formas de subordinação do trabalhador liberto e livre devido à desagregação do sistema escravista. Legisladores procuravam regular o trabalho

Henrique Espada. Sob o domínio da precariedade: escravidão e os significados da liberdade de trabalho no século XIX.

Topoi, v. 6, n. 11, p. 289-326, jul.-dez. 2005. Para Rio Grande: COSTA, Ana Paula do Amaral. Criados de servir.

Pelotas: Ed. UFPel, 2013.

15As agências de locação de serviços foram outra forma de apresentação de boas referências. Para as cidades de Pelotas e Rio Grande os anúncios das agências de locação de serviços são encontrados tanto na década de 1880 quanto de 1890, pediam para que os criados que se encontravam desocupados fossem aos seus escritórios para darem seus nomes, morada, profissão para tratarem de suas colocações.

16 CUNHA, op. cit., p. 378.

17 Ibid., p. 384.

18 MATOS, op. Cit., p. 173.

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doméstico na tentativa de controlar libertos e livres por meio de registros dos locais de moradia e de trabalho e discipliná-los por meio dos registros de contratos de trabalho, nos quais constavam a conduta e o estado de saúde dos criados.

Estes tipos de normas, elaboradas no contexto do processo de emancipação, começaram a ser discutidas e aprovadas nas câmaras municipais de diversas cidades brasileiras. Para o Rio Grande do Sul, uma tentativa de criação de regulamento provincial foi proposta por Rodrigo de Azambuja Villanova, 2º vice-presidente da província, no ano de 1887, com o objetivo de “chamar ao trabalho os vagabundos e reprimir a libertinagem”

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. Pelo que foi constatado até o momento, a formulação de um regulamento provincial sobre a locação dos serviços de criados de servir não foi efetivada. No entanto, algumas cidades do Rio Grande do Sul elaboraram regulamentos. Em artigo sobre regulamentação de criados na província, Margareth Bakos

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constatou as distinções e semelhanças entre os condicionamentos das dezesseis cidades que elaboraram esse aparato de controle. A maioria das cidades, incluindo Porto Alegre, adotou a norma de Pelotas como modelo, pois foi a primeira aprovada pela Província.

As atas da Câmara Municipal de Pelotas mostram que a proposta de regulamentação do serviço de criados foi preparada pelo Delegado de Polícia da cidade e apresentada para aprovação da Câmara, em forma de postura municipal. No regulamento aprovado, após a sua terceira discussão, em 18 de março de 1886, foram adicionadas às normas referentes à identificação das lavadeiras, engomadeiras e doceiras consideradas como criadas de servir, acrescentou-se também o valor de 500 reis ao pagamento das cadernetas e o prazo de oito dias de prisão pelo descumprimento do artigo 13º, referente às transgressões do condicionamento.

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Mesmo sem acesso às atas de discussão sobre o regulamento de Rio Grande, é possível assegurar que o contexto de elaboração das normas não difere da vizinha Pelotas.

Os regulamentos de locação de serviços de Rio Grande e Pelotas possuíam distinções, mas o consenso é que os 27 artigos presentes na norma de Rio Grande e os 11 artigos do regulamento de Pelotas apontam tentativas de permanência das relações escravistas e preocupações em regular a liberdade do trabalhador no mercado de trabalho livre. O prazo para os criados apresentarem a

19 Relatório a Província do Rio Grande do Sul - 1887 http://www.crl.edu/brazil/provincial/rio_grande_do_sul. Acesso em: 15 de setembro de 2014.

20 BAKOS, Margaret. Regulamentos sobre o serviço dos criados: um estudo sobre o relacionamento Estado e sociedade no Rio Grande do Sul (1887-1889). Revista Brasileira de História, São Paulo, n/c, n/c, p. 94-04, 1984.

21 No entanto, na proposta aprovada pela Província não constam estas alterações, o regulamento, inclusive, é composto por 11 artigos.

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caderneta, após saírem do serviço, era de vinte e quatro horas, sob pena de multa de 8$000 por não apresentarem-na, caso o criado não saldasse a multa no prazo de três dias seria preso por um período de três a seis dias. A regulamentação de Pelotas previa multa de 5$000 a 10$000 e 8 dias de prisão por retirar-se da casa do senhor sem aviso prévio. Mas, afinal, quem estava sujeito a estas normatizações, ou seja, quais trabalhadores estavam inseridos na categoria criados de servir?

O primeiro artigo dos regulamentos definia as ocupações classificadas na categoria criados de servir “(...) moço de hotel ou de casa de pasto e hospedaria, cozinheiro, copeiro, hortelão, cocheiro, lacaio, ama de leite, ama seca, e, em geral, de qualquer serviço doméstico”

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. Uma especificação que pouco difere da proposta aprovada pela província para a cidade de Pelotas, para esta as pessoas que exerciam as funções de “cocheiro, copeiro, cozinheiro, criado de servir, ama de leite e ama seca”

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eram considerados criados para efeito da postura.

Para exercer a ocupação de criados era necessário possuir uma caderneta que servia para as anotações das admissões, demissões e da conduta dos mesmos. Os artigos 2º e 3º de Pelotas deixava claro que existiam livros de inscrição e de registro e a compra das cadernetas pelos criados, no valor de 500 réis, Já o artigo 3º de Rio Grande exigia dos trabalhadores o cumprimento dos seguintes procedimentos:

Art. 3º - Ninguém poderá exercer as ocupações de que trata o art. 1 sem inscrever-se previamente no registro de que trata o artigo 2º, e sem apresentar uma caderneta, que deverá conter a cópia desta postura e o número de ordem da inscrição, o nome, a idade, a filiação, a naturalidade, o estado, a classe de ocupação: o nome e o domicílio da pessoa a cujo serviço estiver o criado ou for destinado e a assinatura do secretário da Câmara, bem como o nome do pai, da mãe, do tutor ou curador do criado, quando este for menor.24

Os dois livros mencionados no artigo 3º, o livro de inscrição dos criados e das amas de leite e o livro de registro de certificados de conduta dos mesmos, juntamente com a caderneta, foram exigências dos regulamentos e serviam para garantir a eficácia do controle sobre o trabalhador. Os artigos 2º dos dois regulamentos expõem que os dois livros, de inscrição e de registro, permaneceriam na secretaria do poder legislativo local. Destes três meios, a caderneta foi o

22 Regulamento de Locação do Serviço de Criados de Servir e Amas de Leite, publicado no ECHO DO SUL, 29 de junho de 1887.

23 Regulamento de Locação do Serviço de Criados de Servir, publicado na História em Revista.

24 Regulamento de Locação do Serviço de Criados de Servir e Amas de Leite, publicado no ECHO DO SUL, 29 de junho de 1887.

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mecanismo de maior vigilância sobre os criados, ela revelava o estado de saúde e a conduta escritos pelo último contratador, servindo como prevenção para o próximo patrão.

O conteúdo da caderneta, que estava sob a posse dos trabalhadores, deveria ser transcrito para o livro de conduta dos criados. Segundo o Art. 5º, na caderneta, deveria ser escrito, pelo patrão, o contrato, o motivo da despedida e a conduta do criado durante o tempo em determinado local de trabalho, “segundo o modelo junto sob o nº. 1”. O inciso II do Art. 5º traz a forma de assinatura do contrato, “(...) pelo contratador e pelo criado, assinando por este, duas testemunhas, no caso de não saber escrever”

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.

Os livros de registros de conduta de criados de servir das cidades de Pelotas e Rio Grande apresentam casos variados da busca dos criados por liberdade. Para Rio Grande, o livro apresenta dados dos anos de 1887 a 1890 e de 1893 a 1894, já o livro de contratos de Pelotas traz dados de 1888 e 1889.

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No campo que se delineava a partir da década de 1870, particularmente após a Lei de 1871, as preocupações relacionadas à emancipação e à pós-emancipação no Brasil atingiram o setor doméstico. Naquele cenário de tentativas de controle e disciplinamento por parte dos setores dominantes, os trabalhadores domésticos, principalmente os libertos e seus descendentes, foram uma das categorias que sofreram maior vigilância e repressão, mas, assim como outros trabalhadores, resistiram às restrições impostas a liberdade.

Fontes

APMRG - Livro de Registro de Certificados de Conduta dos Criados de Servir e Amas de Leite – 1887-1894.

25 Regulamento de Locação do Serviço de Criados de Servir e Amas de Leite, publicado no ECHO DO SUL, 29 de junho de 1887.

26 APMRG - Livro de Registro de Certificados de Conduta dos Criados de Servir e Amas de Leite do Rio Grande – 1887-1894. BPP - Livro de Registro dos Contratos dos Criados de Pelotas – 1888-1889.

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BPP - Livro de Registro dos Contratos dos Criados – 1888-1889.

Regulamento de Locação do Serviço de Criados de Servir e Amas de Leite, publicado no ECHO DO SUL, 29 de junho de 1887.

Regulamento de Locação do Serviço de Criados de Servir, publicado na História em Revista.

Relatório a Província do Rio Grande do Sul - 1887

http://www.crl.edu/brazil/provincial/rio_grande_do_sul. Acesso em: 15 de setembro de 2014.

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Referências

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