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Cad. CRH vol.20 número51

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Academic year: 2018

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Roque Pinto Santos C ADERNO CRH , Salvador , v

. 20, n. 51, p. 531-532, Set./Dez. 2007

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GOLDMAN, Marcio. Como funciona a democra-cia: uma teoria etnográfica da política. Rio de Ja-neiro: 7 Letras, 2006. 368 p.

Roque Pinto

O livro Como funciona a democracia, de autoria de Marcio Goldman, pretende uma abor-dagem da democracia sob o ponto de vista etnográfico, como bem sugere seu subtítulo. Ele parte de uma pesquisa empírica localizada em Ilhé-us, cidade litorânea, situada na porção sul do es-tado da Bahia, região que já foi um dos mais flo-rescentes centros de produção e exportação de ca-cau em todo o mundo.

No seu prefácio, o autor apresenta uma instigante discussão sobre a experiência de campo, discutindo os limites da racionalidade e do sistema de crenças que balizam a prática antropológica. A introdução da obra, por sua vez, é composta por um longo debate sobre o fazer etnográfico e as in-vestigações em Antropologia voltadas para a políti-ca. Embora dos seis capítulos do livro cinco sejam intitulados por instituições ou eventos específicos: “Memorial da Cultura Negra”, “Centro Afro-Cultu-ral”, “Eleições”, “Carnaval”, não há uma repartição do objeto investigado em secções estanques; ao con-trário, a leitura segue um mesmo foco descritivo, embora Goldman descarte deliberadamente uma abordagem diacrônica.

Mas, ao contrário dos vários estudos regio-nais sobre a cidade e a zona cacaueira do seu en-torno, o autor não procura respostas na genealogia dos potentados locais, geridos por jagunços e co-ronéis, mas sim na imbricada teia rizomática onde se refundam segmentos do movimento negro, fa-mílias de santo de Candomblé, linhagens políti-cas e blocos afro, e como essas redes estabelecem coalizões estratégicas com a estrutura de poder no

âmbito da municipalidade.

O autor transplanta para a ambiência ilheense o conceito de segmentaridade, mormente utilizado no contexto africano a partir da obra fundacional de Evans-Pritchard sobre os Nuer, objetivando capturar os movimentos pendulares de aproximação e distanciamento de grupos afro e de facções do movimento negro da conservadora política partidária local. Goldman apreende um problema amplo – a democracia – sob a ótica da micro-política dos compromissos capilares, das redes de influência de origem familial e vicinal, das estratégias de seduções e de compras de leal-dades, mas, no entanto, rejeita sabiamente a pers-pectiva de uma análise intuitiva e rasa do seu ob-jeto como um mero caso de fisiologismo político numa “região atrasada”.

Todavia – para quem está familiarizado com o campo etnográfico de Ilhéus – ressente-se, no texto, a ausência de alguns grupos historicamente estabelecidos, como os clãs que gravitam em torno do nome de alguns cacauicultores (coronéis), no-tabilizados pela fortuna de outrora, os quais, em-bora se lhe tenha corroído o poder econômico e a capacidade de mando, seguem mantendo um peso considerável no sistema local de hierarquias, con-servando o prestígio como uma importante moeda de troca. Desse modo, seria inevitável a negocia-ção com tais forças políticas para quem pleiteia uma posição destacada na arena local. Assim, tal qual apresentada pelo autor, tem-se uma imagem de que as linhagens políticas na cidade se descola-riam da sociedade mais ampla, numa impressão de autonomia que não se verifica empiricamente.

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C

ADERNO

CRH

, Salvador

, v

. 20, n. 51, p. 531-532, Set./Dez. 2007

RESENHA

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Roque Pinto. Professor de Antropologia da Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus-BA, atualmente

desenvolve trabalhos nas áreas de Religiões Afro-americanas, Antropologia Urbana e Turismo, além de investigações nas interfaces entre Literatura, Etnografia e Identidade. Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia, doutorando em Antropologia pela Universidad de La Laguna, nas Ilhas Canárias. É membro, na categoria de pesquisador, dos grupos O Som do Lugar e o Mundo e Cultura, Cidade e Democracia: Sociabilidade, Representações e Movimentos Sociais. roquepintosantos@yahoo.es fruto de uma pesquisa pormenorizada, mantém a

cor e o sabor locais da vida vivida, com todas as sutilezas que lhe são peculiares.

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