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MÁTHESIS 8 199997-123

ANTÓNIO VIEIRA,

UM HOMEM NO TEMPO E NA PALAVRA

ANTÓNIO AUGUSTO FERNANDES

I - UM HOMEM NO SEU TEMPO

Quando, a 6 de Fevereiro de 1608, em casa de Cristóvão Vieira Ravasco, ali para os lados da Sé de Lisboa, nascia aquele que, mais tarde, passaria à História como o P. António Vieira, as coisas não corriam de feição para o reino de Portugal. Não só perdera a independência, como as promessas dos Filipes reinantes de há muito se tinham desvanecido e escassas eram as migalhas que da faustosa corte madrilena sobejavam para os mal entrapidos fidalgos lusitanos que, na inexistência da corte portuguesa, corriam a esconder a sua apagada e vil tristeza nas cortes na aldeia disseminadas por esse esconso Portugal de antanho. Se isto acontecia aos nobres, que diremos do povo, sempre último na lista das benesses, mas o primeiro a dar o corpo ao manifesto quando as coisas dão para o torto e que nunca vira com bons olhos essa aventura dos Filipes!

Após o desaparecimento do Desejado nas malfadadas areias de Alcácer-Kibir, os desenganos haviam começado muito cedo, logo em 1588, com o desaire da Armada Invencível, em que a megalomania de Filipe II se projectara e tão cara nos saíra em cabedais, navios e vidas humanas

É bem verdade que o império Filipino era o mais vasto alguma vez construído sobre a face da terra e nele o sol não conhecia ocaso.

Mas o nosso quinhão desse impeno, que laboriosamente construíramos e, com muito sangue e suor, havíamos argamassado, andava pelas ruas da amargura: as possessões do Oriente eram afanosamente esquartejadas por ingleses e holandeses; estes lançavam também olhares cobiçosos sobre as terras donde nos vinha o pau brasil, o tabaco e o açúcar, havidas por ricas em ouro e pedrarias;

bastas quadrilhas de piratas holandeses, franceses e ingleses,

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recatadamente apadrinhadas pelos governos respectivos, espreitavam nos mares dos Açores e do norte de África, para alegremente as espoliarem, as naus em que formigueiramente íamos carreando para o porto de Lisboa as poucas especiarias que Fortuna ainda nos consentia. Assim corriam tristemente as coisas pelo reino e assim ia a Pátria engravidando de Sebastianismo.

A Europa do século XVII foi marcada por profundas clivagens culturais, ideológicas e económicas. No norte, sobretudo na Inglaterra e na Holanda, desenvolve-se o capitalismo mercantilista propiciado pela ideologia reformista e sustentado pela banca da burguesia endinheirada. Do ponto de vista filosófico, impõe-se o racionalismo empirista e experimental, sob a égide de Galileu e Descartes. Grotius e Locke desacatam o princípio da origem divina da autoridade régia e denunciam a intolerância religiosa, propondo o chamado direito natural; do ponto de vista gnoseológico preconiza-se o racionalismo geométrico, a dúvida metódica e o valor demonstrativo da experiência. Totalmente outro é o panorama das ideias em Portugal e Espanha, onde a Inquisição vela pela ortodoxia de pensamentos e costumes e se encanzina na perseguição dos judeus ligados ao capital e comércio internacionais, promovendo a denúncia e os autos-de-fé.

Acentua-se a decadência da produção literária: medram o lirismo de pendor místico, a oratória modelada pela retórica jesuítica e os inócuos jogos poéticos ao jeito de Gôngora, o que se co"mpreende, se atendermos aos riscos que envolve qualquer audácia de pensamento.

Em 1540, ainda no reinado de D. João terceiro, haviam ancorado em Portugal as duas forças espirituais que mais fundamente iriam marcar a sociedade portuguesa do seiscentismo: o Santo Ofício, vulgarmente conhecido por Inquisição, e a Companhia de Jesus. Se estas duas instituições se opunham em muitos aspectos, como adiante se verá, irmanavam-se no rigor anti-reformista e no labor desenvolvido em nome de Deus. Os Dominicanos, mentores do Santo Ofício, haviam sido fundados por um espanhol de origem nobre, Domingos de Gusmão, com a finalidade apologética específica de combater pela palavra, donde a designação de Ordo Praedicatorum, a heresia albigense que grassava pelo norte de Itália e sul de França em princípios do século XIII. A Companhia de Jesus fora, nesse mesmo ano de 1540, fundada por Inácio de Loiola, um navarro igualmente nobre, militar convalescente de ferimentos recebidos em combate e

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