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Academic year: 2022

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Aula 08 – Violência Doméstica.

Legislação Especial para Policial Penal do DF – PP DF

Prof. Henrique Santillo

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Sumário

SUMÁRIO 2

LEI MARIA DA PENHA. 3

FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS E CONVENCIONAIS 3

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS DA MULHER 5

INTERPRETAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA 5

REQUISITOS PARA A APLICAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA 6

Contexto de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher 7

Sujeito Passivo 9

Formas de Violência Contra a Mulher 10

ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL 13

PROCEDIMENTO JUDICIAL 18

Causas Cíveis 19

Causas Criminais 21

MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA 24

Medidas Protetivas de Urgência que Obrigam o Agressor 27

Crime de Descumprimento de Medidas Protetivas de Urgência 28

Medidas Protetivas de Urgência à Ofendida 30

ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR 32

LISTA DE QUESTÕES 34

GABARITO 48

QUESTÕES COMENTADAS 49

LEI MARIA DA PENHA 85

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Lei Maria da Penha.

Fundamentos Constitucionais e Convencionais

Muito provavelmente você deve conhecer o contexto da Lei Maria da Penha, bem como o caso que deu origem à sua edição e nomenclatura.

Caso não se lembre muito bem da história, eu conto para você:

Biomédica natural do Ceará, Maria da Penha Fernandes sofreu duas tentativas de homicídio por parte de seu então esposo, no ano de 1983.

As agressões deixaram marcas físicas – paraplegia irreversível – e psicológicas a ponto de necessitar de uma cadeira de rodas para se locomover, mas não a ponto de impedi-la de levar sua batalha pelos direitos humanos ao âmbito nacional e internacional, motivada pela demora do Poder Judiciário brasileiro e dos órgãos policiais em tomar providências para responsabilização do autor da violência.

Passados quinze anos, Maria da Penha finalmente conseguiu que seu caso fosse analisado Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), em 1998, sob o argumento de “haver tolerância à violência contra mulher no Brasil, uma vez que esse não adotou as medidas necessárias para processar e punir o agressor”.

Em 2001, a Comissão emitiu o Relatório nº 54/2001 que, dentre outros apontamentos, responsabilizou o Estado brasileiro por negligência, omissão e tolerância em relação à violência doméstica contra as mulheres, ocasião em que fez as seguintes recomendações:

Completar rápida e efetivamente o processamento penal do responsável pela agressão;

Realizar uma investigação séria, imparcial e exaustiva para apurar as irregularidades e atrasos injustificados que não permitiram o processamento rápido e efetivo do responsável;

Adotar, sem prejuízo das ações que possam ser instauradas contra o agressor, medidas necessárias para que o Brasil assegure à vítima uma reparação simbólica e material pelas violações;

Prosseguir e intensificar o processo de reforma para evitar a tolerância estatal e o tratamento discriminatório com respeito à violência doméstica;

Medidas de capacitação/sensibilização dos funcionários judiciais/policiais especializados para que compreendam a importância de não tolerar a violência doméstica;

Simplificar os procedimentos judiciais penais;

O estabelecimento de formas alternativas às judiciais, rápidas e efetivas de solução de conflitos intrafamiliares;

Multiplicar o número de delegacias policiais especiais para a defesa dos direitos da mulher e dotá-las dos recursos especiais necessários, bem como prestar apoio ao MP na preparação de seus informes judiciais;

Incluir em seus planos pedagógicos unidades curriculares destinadas à compreensão da importância do respeito à mulher e a seus direitos reconhecidos na Convenção de Belém do Pará;

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Apresentar à Comissão, dentro do prazo de 60 dias – contados da transmissão do documento ao Estado, um relatório sobre o cumprimento destas recomendações para os efeitos previstos no artigo 51(1) da Convenção Americana;

Visando dar cumprimento a algumas recomendações, foi sancionada em 2006 a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), cujo objetivo é coibir e prevenir a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher através dos seguintes mecanismos: que trouxe em seu corpo o seguinte:

Criação de mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher

Criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher

Medidas de assistência

Medidas de proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.

Lei nº 11.340/2006. Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.

Constituição Federal. Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.

§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.

Ah, é interessante mencionar que a Lei Maria da Penha procurou firmar a posição de que a violência de gênero, baseada na cultura machista do menosprezo pela mulher e na perpetuação da submissão da mulher ao controle, constitui grave afronta à dignidade da pessoa humana e não se confunde com as demais formas de violência!

Art. 6º A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação dos direitos humanos.

Por representar grave violação dos direitos humanos, não se aplica o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas.

Súmula 589 do STJ: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas.

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Direitos e Garantias Fundamentais da Mulher

Historicamente, a construção dos direitos humanos ocorreu inicialmente com a exclusão da mulher, de modo que a Lei Maria da Penha decidiu explicitar todos os direitos e garantias fundamentais dirigidos especificamente à mulher:

Art. 2º Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.

Art. 3º Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

§ 1º O poder público desenvolverá políticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito das relações domésticas e familiares no sentido de resguardá-las de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

§ 2º Cabe à família, à sociedade e ao poder público criar as condições necessárias para o efetivo exercício dos direitos enunciados no caput.

Interpretação da Lei Maria da Penha

Veja que absurdo: um magistrado da 1ª Vara Criminal de Sete Lagoas (MG) considerou discriminatórios (!) e inconstitucionais diversos dispositivos da Lei Maria da Penha, negando-lhes vigência e determinando o retorno dos autos à delegacia de polícia, passando a responsabilidade da concessão de medidas protetivas de urgência para o juízo cível ou de família.

A sentença foi reformada pelo TJ MG tendo por base o art. 4º, segundo o qual os dispositivos da Lei Maria da Penha devem ser interpretados de forma a melhor atender à finalidade social da lei, que é a de coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher.

Art. 4º Na interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições peculiares das mulheres em situação de violência doméstica e familiar.

A norma em questão recomenda que o juiz esteja sintonizado com a realidade social em que vive, devendo ter sensibilidade para interpretar os institutos da Lei 11.340/2006, atentando-se às condições peculiares das mulheres em situação de violência doméstica e familiar!

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Requisitos Para a Aplicação da Lei Maria da Penha

Nem toda violência cometida contra a mulher atrairá a aplicação da Lei Maria da Penha.

Se faz necessária, para a incidência da Lei nº 11.340/2006, a presença de três requisitos cumulativos:

Simplificando: para o reconhecimento da violência contra a mulher, basta a presença alternativa de (pelo menos) uma das formas de violência do art. 7°, em combinação alternativa com (pelo menos) um dos pressupostos do art. 5° (âmbito da unidade doméstica, âmbito da família ou em qualquer relação íntima de afeto). Dessa forma, podemos ter as seguintes combinações:

(a) Violência patrimonial contra a mulher cometida no âmbito de uma relação íntima de afeto.

(b) Violência física e psicológica contra a mulher cometida no âmbito da unidade doméstica etc.

(I) Vítima necessariamente deve ser MULHER

• Homens não podem, dessa forma, receber o amparo da Lei Maria da Penha

(II) Prática de pelo menos uma das formas de violência do art. 7º

• Basta a presença de pelo menos uma das formas de violência: física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral contra a mulher

(III) Violência dolosa praticada no âmbito de um dos contextos do art. 5º

• A violência deve ser cometida no âmbito: da unidade doméstica (art. 5º, I), da

esfera familiar (art. 5º, II), de qualquer relação íntima de afeto (art. 5º, III)

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Contexto de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher

Vimos que, partindo do pressuposto de que a mulher é oprimida em nossa sociedade, sobretudo pelo homem, a Lei Maria da Penha cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher.

Que elementos deverá ter uma conduta para que ela seja considerada violência doméstica e familiar?

A violência praticada contra a mulher deve ser baseada em seu gênero.

Seria o caso do noivo que mata a noiva porque não admite o rompimento do noivado. Ou quando o marido aplica uma surra na esposa para que ela aprenda a lhe respeitar ou obedecer, como se ela fosse de sua propriedade. Ou quando ele a ameaça ou rasga as suas roupas para mostrar quem é que manda.

Perceba que o sujeito ativo agiu nesses casos como se ele acreditasse ter direitos sobre a mulher.

Contudo, a violência doméstica e familiar contra a mulher se configura caso praticada em um dos contextos do art. 5º:

da unidade doméstica

da esfera familiar

de qualquer relação íntima de afeto

Âmbito da Unidade Doméstica

Para a Lei Maria da Penha, a unidade doméstica é compreendida como o “espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, INCLUSIVE as esporadicamente agregadas”.

Seria correto dizer, portanto, que a violência doméstica e familiar pode ser reconhecida ainda que não exista laço familiar ou relação íntima de afeto entre a vítima e o agressor, exigindo-se que eles façam parte de uma mesma unidade doméstica.

Que lhe cause...

MORTE LESÃO Sofrimento FÍSICO, SEXUAL ou PSICOLÓGICO

Dano MORAL OU PATRIMONIAL

Baseada no GÊNERO Qualquer...

AÇÃO OMISSÃO

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Dessa forma, é possível que a Lei Maria da Penha abarque violência doméstica cometida contra empregada doméstica que tenha convívio permanente com o agressor.

Âmbito da Família

A Lei nº 11.340/2006, em seu art. 5º, II, afirma que o âmbito familiar compreende a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por

laços naturais (parentes consanguíneos, como irmãos, pais, avós etc.)

afinidade (parentes por afinidade, como sogro, sogra, genro e nora)

vontade expressa (adoção, casamento)

Incluem-se aqui as relações de casamento, união estável, família monoparental, família homoafetiva, família adotiva, vínculos de parentesco em sentido amplo, de modo a incluir a ideia de família de fato, composta por pessoas que não tem um vínculo jurídico familiar, mas que se consideram “aparentados”, como é o caso de amigos próximos, agregados etc.) introduzindo, ainda, a ideia de família de fato, compreendendo essa as pessoas que não têm vínculo jurídico familiar, considerando-se, entretanto, aparentados (os agregados etc.).

Ao contrário da hipótese anterior, a violência familiar não depende do local de cometimento, podendo se configurar no espaço caseiro ou fora dele.

Âmbito da Qualquer Relação Íntima de Afeto

Ao se referir a qualquer relação íntima de afeto (relacionamentos dotados de conotação sexual ou amorosa), a lei exige que o agressor conviva ou tenha convivido com a vítima, independentemente de coabitação!

ATENÇÃO! Não é necessária a coabitação para caracterização da violência doméstica contra a mulher neste contexto de relação íntima de afeto, podendo ser a Lei Maria da Penha aplicada no âmbito de um namoro em que os namorados não vivam “sob o mesmo teto”.

Além disso, é perfeitamente possível a aplicação da lei para violência cometida contra ex-namorada, desde que ocorrida em virtude do relacionamento que foi encerrado.

Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer AÇÃO ou OMISSÃO baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.

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Sujeito Passivo

Uma coisa precisa ficar clara: o sujeito passivo da violência doméstica e familiar deve NECESSARIAMENTE ser mulher, de modo que é inaplicável a Lei Maria da Penha nas hipóteses de violência cometida contra homens, ainda que no contexto de ambiente doméstico ou familiar.

Podem figurar no polo passivo não apenas esposas, companheiras, amantes, namoradas ou ex- namoradas, pois também podem receber a proteção da lei as filhas e netas do agressor, sua mãe, sogra, avó, ou qualquer outra parente do sexo feminino com a qual ele tenha uma relação doméstica, familiar ou íntima de afeto.

Veja que interessante julgado do STJ:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER. DELITO PRATICADO POR NETO CONTRA AVÓ. SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE. APLICABILIDADE DA LEI N. 11.340/2006. COMPETÊNCIA DE JUIZADO ESPECIALIZADO EM VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. DECISÃO MANTIDA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. I - A Lei Maria da Penha objetiva proteger a mulher da violência doméstica e familiar que, cometida no âmbito da unidade doméstica, da família ou em qualquer relação íntima de afeto, cause-lhe morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico, e dano moral ou patrimonial. Estão no âmbito de abrangência do delito de violência doméstica e podem integrar o polo passivo da ação delituosa as esposas, as companheiras ou amantes, bem como a mãe, as filhas, as netas do agressor e também a sogra, a avó ou qualquer outra parente que mantém vínculo familiar ou afetivo com ele.

Precedente. II - Na hipótese dos autos, mostra-se correto o decisum reprochado, pois ao contrário do entendimento esposado pelo acórdão hostilizado, "[e]stão no âmbito de abrangência do delito de violência doméstica e podem integrar o polo passivo da ação delituosa as esposas, as companheiras ou amantes, bem como a mãe, as filhas, as netas do agressor e também a sogra, a avó ou qualquer outra parente que mantém vínculo familiar ou afetivo com ele" (HC n. 310.154/RS, Sexta Turma, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, DJe de 13/05/2015). Precedentes. Agravo regimental desprovido).

(STJ - AgRg no AREsp: 1626825 GO 2019/0352259-8, Relator: Ministro FELIX FISCHER, Data de Julgamento: 05/05/2020, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 13/05/2020)

Segundo o parágrafo único do art. 5º, NÃO é necessário que violência seja cometida necessariamente por um homem, pois as relações íntimas de afeto consideradas pela Lei INDEPENDEM de orientação sexual.

Assim, aplica-se a Lei Maria da Penha também nos casos de

violência doméstica e familiar em relacionamentos entre

duas mulheres.

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Já o agressor, como vimos, tanto pode ser um HOMEM como outra MULHER.

→ O STJ entende que é possível a aplicação da Lei Maria da Penha na relação entre MÃE e FILHA, pois o sujeito ativo do crime pode ser tanto o homem como a mulher, desde que esteja presente o estado de vulnerabilidade caracterizado por uma relação de poder e submissão.

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. APLICAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA NA RELAÇÃO ENTRE MÃE E FILHA. É possível a incidência da Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) nas relações entre mãe e filha. Isso porque, de acordo com o art. 5º, III, da Lei 11.340/2006, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Da análise do dispositivo citado, infere-se que o objeto de tutela da Lei é a mulher em situação de vulnerabilidade, não só em relação ao cônjuge ou companheiro, mas também qualquer outro familiar ou pessoa que conviva com a vítima, independentemente do gênero do agressor. Nessa mesma linha, entende a jurisprudência do STJ que o sujeito ativo do crime pode ser tanto o homem como a mulher, desde que esteja presente o estado de vulnerabilidade caracterizado por uma relação de poder e submissão.

Precedentes citados: HC 175.816-RS, Quinta Turma, DJe 28/6/2013; e HC 250.435-RJ, Quinta Turma, DJe 27/9/2013. HC 277.561-AL, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 6/11/2014.

Formas de Violência Contra a Mulher

Ao contrário do sentido adotado pelo Código Penal, a Lei nº 11.3040/2006 emprega o termo violência em sentido amplo, abarcando não somente a violência física, como também a violência psicológica, sexual, patrimonial e moral.

Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, ENTRE OUTRAS:

VIOLÊNCIA FÍSICA

Qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da mulher.

Exemplo: tapas, chutes, socos.

Crimes praticados com violência física: lesão corporal (CP, art. 129), homicídio (CP, art. 121) contravenção penal de vias de fato (Dec.-Lei nº 3.688/41, art. 21).

VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA

Qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição

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contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação.

Exemplos: chamar a mulher de feia, gorda; humilhá- la, discriminá-la, persegui-la;

A partir de 2018, a violação da intimidade da mulher passou a ser considerada forma de violência doméstica classificada como violência psicológica. Ex: agressor exigir que a mulher lhe passe a senha do celular para investigar sua vida, obrigar que ela atenda ligações no viva-voz etc.

Crimes que materializam violência psicológica:

constrangimento ilegal (CP, art. 146), a ameaça (CP, art. 147), e o sequestro e cárcere privado (CP, art.

148), registro não autorizado de intimidade sexual (CP, art. 218-B)

VIOLÊNCIA SEXUAL

Qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos.

VIOLÊNCIA PATRIMONIAL

Qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades.

Crimes que materializam a violência patrimonial:

crimes contra o patrimônio.

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Essa forma de violência não pressupõe necessariamente o emprego de violência física ou grave ameaça, como é o caso dos casos de furto, furto de coisa comum, apropriação indébita, estelionato.

VIOLÊNCIA MORAL

Qualquer conduta que configure

(a) Calúnia (imputar falsamente a alguém fato definido como crime

(b) Difamação (imputar a alguém fato ofensivo à sua reputação)

(c) Injúria (ofender a dignidade ou o decoro de alguém).

As formas de violência doméstica e familiar contra a mulher foram previstas em um rol exemplificativo, de modo a se permitir a interpretação analógica para a inclusão de outras formas de violência.

Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;

II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; (Redação dada pela Lei nº 13.772, de 2018)

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

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IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

Atendimento Pela Autoridade Policial

Tradicionalmente, a mulher em situação de violência doméstica sempre foi tratada com indiferença durante atendimentos em delegacias de polícia.

Apenas para você ter uma ideia, não era incomum que Delegados e Escrivães de Polícia pedissem a vítima para entregar a “intimação” ao agressor! Isso decorre não de má-fé dos agentes policiais, mas de ausência de treinamento para a compreensão da complexidade da situação de violência doméstica...

Exatamente por esse motivo, a Lei nº 11.340/2006 estabeleceu algumas diretrizes que deverão nortear o poder público relacionadas à especialização e capacitação das forças de segurança pública para o atendimento policial da vítima de violência doméstica:

Art. 8º A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-governamentais, tendo por diretrizes:

I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas de segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação;

II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras informações relevantes, com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia, concernentes às causas, às conseqüências e à freqüência da violência doméstica e familiar contra a mulher, para a sistematização de dados, a serem unificados nacionalmente, e a avaliação periódica dos resultados das medidas adotadas;

III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e sociais da pessoa e da família, de forma a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou exacerbem a violência doméstica e familiar, de acordo com o estabelecido no inciso III do art. 1º , no inciso IV do art. 3º e no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal ;

IV - a implementação de atendimento policial especializado para as mulheres, em particular nas Delegacias de Atendimento à Mulher;

V - a promoção e a realização de campanhas educativas de prevenção da violência doméstica e familiar contra a mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade em geral, e a difusão desta Lei e dos instrumentos de proteção aos direitos humanos das mulheres;

VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou outros instrumentos de promoção de parceria entre órgãos governamentais ou entre estes e entidades não-governamentais, tendo por objetivo a implementação de programas de erradicação da violência doméstica e familiar contra a mulher;

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VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados no inciso I quanto às questões de gênero e de raça ou etnia;

VIII - a promoção de programas educacionais que disseminem valores éticos de irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia;

IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos direitos humanos, à eqüidade de gênero e de raça ou etnia e ao problema da violência doméstica e familiar contra a mulher.

O foco deste tópico será, contudo, o papel da autoridade policial que se deparar com a prática efetiva ou iminente de violência doméstica contra a mulher.

Bom, tomando conhecimento, por qualquer meio, de que existe risco de prática de violência ou de que ela já tenha sido praticada, a atuação da autoridade policial deve ser sempre imediata.

Art. 10. Na hipótese da iminência ou da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência adotará, de imediato, as providências legais cabíveis.

Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo ao descumprimento de medida protetiva de urgência deferida.

Vamos supor que uma mulher tenha sido vítima de violência doméstica, dirigindo-se a uma Delegacia para ser atendida.

Nesse primeiro contato com a ofendida, o que deve a autoridade policial fazer?

Os artigos 10-A, 11 e 12 da Lei Maria da Penha elencam diversas providências que devem ser tomadas pela autoridade policial que atue na Delegacia especializada no atendimento à mulher vítima de violência doméstica ou familiar1 (ou na Delegacia comum, caso não exista a especializada), assim que tomar conhecimento de uma hipótese de violência doméstica e familiar contra a mulher.

As providências do art. 12 deverão ser adotadas pela autoridade policial logo após o registro da ocorrência de violência doméstica:

Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal:

1 Art. 12-A. Os Estados e o Distrito Federal, na formulação de suas políticas e planos de atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, darão prioridade, no âmbito da Polícia Civil, à criação de Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deams), de Núcleos Investigativos de Feminicídio e de equipes especializadas para o atendimento e a investigação das violências graves contra a mulher.

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I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se apresentada;

II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas circunstâncias;

III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência;

IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros exames periciais necessários;

V - ouvir o agressor e as testemunhas;

VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes criminais, indicando a existência de mandado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra ele;

VI-A - verificar se o agressor possui registro de porte ou posse de arma de fogo e, na hipótese de existência, juntar aos autos essa informação, bem como notificar a ocorrência à instituição responsável pela concessão do registro ou da emissão do porte, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do Desarmamento); (Incluído pela Lei nº 13.880, de 2019) VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao Ministério Público.

§ 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e deverá conter:

I - qualificação da ofendida e do agressor;

II - nome e idade dos dependentes;

III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela ofendida.

IV - informação sobre a condição de a ofendida ser pessoa com deficiência e se da violência sofrida resultou deficiência ou agravamento de deficiência preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.836, de 2019)

§ 2º A autoridade policial deverá anexar ao documento referido no § 1º o boletim de ocorrência e cópia de todos os documentos disponíveis em posse da ofendida.

§ 3º Serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde.

Veja os detalhes:

Oitiva da vítima

Se a vítima comparecer à Delegacia, além de ser colhido o seu depoimento, a autoridade policial deve lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, caso seja apresentada.

A inquirição da mulher vítima de violência doméstica e familiar deverá seguir algumas diretrizes e regras de procedimento, destinadas a proteger a sua integridade física, psicológica e emocional.

Art. 10-A. É direito da mulher em situação de violência doméstica e familiar o atendimento policial e pericial especializado, ininterrupto e prestado por servidores - PREFERENCIALMENTE do sexo feminino - previamente capacitados. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

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§ 1º A INQUIRIÇÃO de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de testemunha de violência doméstica, quando se tratar de crime contra a mulher, obedecerá às seguintes DIRETRIZES:

I - salvaguarda da integridade física, psíquica e emocional da depoente, considerada a sua condição peculiar de pessoa em situação de violência doméstica e familiar;

II - garantia de que, em nenhuma hipótese, a mulher em situação de violência doméstica e familiar, familiares e testemunhas terão contato direto com investigados ou suspeitos e pessoas a eles relacionadas;

III - não revitimização da depoente, evitando sucessivas inquirições sobre o mesmo fato nos âmbitos criminal, cível e administrativo, bem como questionamentos sobre a vida privada.

§ 2º Na INQUIRIÇÃO de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de testemunha de delitos de que trata esta Lei, adotar-se-á, PREFERENCIALMENTE, o seguinte procedimento:

I - a inquirição será feita em recinto especialmente projetado para esse fim, o qual conterá os equipamentos próprios e adequados à idade da mulher em situação de violência doméstica e familiar ou testemunha e ao tipo e à gravidade da violência sofrida; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

II - quando for o caso, a inquirição será intermediada por profissional especializado em violência doméstica e familiar designado pela autoridade judiciária ou policial; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

III - o depoimento será registrado em meio eletrônico ou magnético, devendo a degravação e a mídia integrar o inquérito. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

Por ocasião do atendimento à vítima, a autoridade policial deverá, ainda, tomar algumas providências, segundo enuncia o art. 11:

I - garantir PROTEÇÃO POLICIAL, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério Público e ao Poder Judiciário;

II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal;

III - fornecer TRANSPORTE para a ofendida e seus dependentes para ABRIGO ou LOCAL SEGURO, quando houver risco de vida;

IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do domicílio familiar;

V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis.

Colheita de outras provas

Remessa do pedido de medidas protetivas de urgência formulado pela vítima, no prazo de 48 horas.

É possível que a vítima elabore um requerimento com o pedido das medidas protetivas cabíveis, que será enviado ao Poder Judiciário pela autoridade policial no prazo indicado. Essa é a regra para a concessão das medidas protetivas de urgência, que exigem autorização judicial.

Contudo, a Lei nº 13.827/2019 possibilitou que, diante de risco atual ou iminente à vida ou integridade física da mulher (ou de seus dependentes), os seguintes agentes públicos podem determinar a medida de

(17)

AFASTAMENTO DO AGRESSOR DO LAR, DOMICÍLIO OU LOCAL DE CONVIVÊNCIA COM A OFENDIDA, observada as seguintes condições:

Se o agressor tiver sido afastado pelo Delegado de Polícia ou pelo Policial, o juiz deverá ser comunicado no prazo máximo de 24 horas para que, também dentro de 24 horas, decida sobre a manutenção ou revogação da medida, com concomitante comunicação ao Ministério Público!

Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida:

I - pela autoridade judicial;

II - pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca; ou

III - pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível no momento da denúncia.

§ 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será comunicado no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público concomitantemente.

§ 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de urgência, não será concedida liberdade provisória ao preso

Determinação de realização de exame de corpo de delito da ofendida e outros exames periciais necessários.

Na esteira do que determina o art. 158 do CPP, a autoridade policial deverá determinar o exame de corpo de delito nas hipóteses em que a infração deixar vestígios, não podendo supri-lo a confissão do agressor.

JUIZ (regra)

•Quando o Município for sede de comarca judicial

DELEGADO DE POLÍCIA

•Quando o Município não for sede de comarca

POLICIAL

•Quando o Município (a) não for sede de comarca e (b) não houver delegado no momento da denúncia

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A Lei Maria da Penha ainda admite que sejam utilizados como meios de prova os laudos ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde (cópias de ficha clínica ou de prontuário de hospital ou pronto-socorro, relatório médico etc.) os quais poderão, isoladamente considerados, ser utilizados para o oferecimento da denúncia bem como para embasar eventual sentença condenatória.

Oitiva do agressor e das testemunhas

Identificação do indiciado e juntada da folha de antecedentes criminais

Os antecedentes criminais do agressor deverão indicar:

(a) A existência de mandado de prisão

(b) Registro de outras ocorrências policial contra ele

Verificação de eventual registro de porte ou posse de arma de fogo por parte do agressor

Se houver registro, a autoridade policial ainda deverá juntar aos autos essa informação, bem como notificar a ocorrência à instituição responsável pela concessão do registro ou da emissão do porte.

A apreensão da arma de fogo depende de autorização judicial!

Remessa dos autos ao Juiz e ao Ministério Público, após a conclusão do inquérito policial

Procedimento Judicial

Amigos, vamos primeiramente falar sobre a competência para processar e julgar demandas relativas à violência doméstica e familiar.

Para conferir celeridade a essas demandas, a Lei nº 11.340/2006 criou um órgão judiciário especializado chamado de Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (JVDFM), com competência cível e criminal para o julgamento e a execução de causas decorrentes da prática deste tipo de violência:

Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-se em horário noturno, conforme dispuserem as normas de organização judiciária.

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Sim, amigo/a, o JVDFM é um órgão judiciário com competência mista para julgamento e execução tanto das ações criminais, quanto das ações cíveis que tenham por fundamento a violência doméstica contra a mulher.

A intenção do legislador foi a de facilitar o acesso da vítima à Justiça, bem como possibilitar que o juiz da causa tenha uma visão integral dos fatos ocorridos, o que evita, em tese, a concessão de medidas contraditórias e incompatíveis.

Veja: Ana é vítima de agressão física de seu marido, Joaquim. Ana se dirige à Delegacia especializada mais próxima e noticia o fato à autoridade policial, ocasião em que requer a concessão de medidas protetivas de urgência. A autoridade policial encaminha o requerimento ao Poder Judiciário, que o distribui a determinado Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher.

Esse mesmo órgão especializado poderá julgar demandas cíveis que tenham a ver com a violência sofrida por Ana, como eventual ação de divórcio, de reparação de danos estéticos etc.

O fundamento desse dispositivo é o de evitar que a mulher, já fragilizada pelo episódio de violência, tenha que ajuizar ações com a mesma causa de pedir em juízos diversos, “reavivando” as suas memórias e o seu sofrimento toda vez que precisar depor em cada um dos juízos.

Confere o dispositivo que embasou nossa conclusão:

Art. 13. Ao processo, ao julgamento e à execução das causas cíveis e criminais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher aplicar-se-ão as normas dos Códigos de Processo Penal e Processo Civil e da legislação específica relativa à criança, ao adolescente e ao idoso que não conflitarem com o estabelecido nesta Lei.

Causas Cíveis

O STJ reconheceu a competência do Juizado de Violência Doméstica para processar e julgar, inclusive, ação indenizatória por danos estéticos, morais, existenciais e materiais decorrentes de violência doméstica e familiar, cumulada com pedido de pensão por incapacidade laborativa:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. LEI MARIA DA PENHA. MEDIDA PROTETIVA DE URGÊNCIA EM TRÂMITE JUNTO À VARA ESPECIALIZADA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. ART. 14, DA LEI Nº 11.340/2006.

COMPETÊNCIA HÍBRIDA. POSSIBILIDADE DE JULGAMENTO PELO JVDFM. ACÓRDÃO

ESTADUAL MANTIDO. RECURSO IMPROVIDO. 1.

Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da justiça ordinária têm competência cumulativa para o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do art. 14, da Lei nº 11.340/2006. 2.

Negar o julgamento pela Vara especializada, postergando o recebimento dos provisionais arbitrados como urgentes, seria não somente afastar o espírito protetivo da lei, mas também submeter a mulher a nova agressão, ainda que de índole diversa, com o prolongamento de seu sofrimento ao menos no plano psicológico. 3. Recurso especial não provido. (REsp 1475006/MT, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 14/10/2014, DJe 30/10/2014) 2. Do exposto, com amparo no art. 932 do NCPC c/c a Súmula 568/STJ, dou provimento ao recurso especial, a fim de reconhecer a competência da Vara Especializada

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de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Comarca de São José dos Campos para processar e julgar a ação indenizatória por danos estéticos, morais, existenciais e materiais c/c pensão por incapacidade laborativa, ajuizada pela recorrente. (STJ - REsp: 1837326 SP 2019/0269558-2, Relator: Ministro MARCO BUZZI, Data de Publicação: DJ 20/02/2020)

Professor, a competência do JVDFM para o julgamento das ações de divórcio e de dissolução de união estável decorrentes de violência doméstica é absoluta? Se a vítima desejar se divorciar, por exemplo, ela é obrigada a ajuizar a respectiva ação no JVDFM?

NÃO! A Lei Maria da Penha deixa claro que é OPÇÃO da ofendida ajuizar ação de divórcio ou de dissolução de união estável no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, podendo optar também por ajuizá-la na vara de família.

Art. 14-A. A ofendida tem a OPÇÃO de propor ação de divórcio ou de dissolução de união estável no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019)

Pretensão relativa à partilha de bens, contudo, NÃO poderá tramitar no Juizado de Violência Doméstica, devendo a discussão ser resolvida na Vara de Família!

Art. 14-A (...) § 1º Exclui-se da competência dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher a pretensão relacionada à partilha de bens. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019)

Por fim, se a violência doméstica tiver ocorrido após o ajuizamento da ação de divórcio ou de dissolução de união estável, terá preferência o juízo em que a demanda já estiver tramitando.

Art. 14-A (...) § 2º Iniciada a situação de violência doméstica e familiar após o ajuizamento da ação de divórcio ou de dissolução de união estável, a ação terá preferência no juízo onde estiver.

A vítima tem a opção de propor a AÇÃO DE DIVÓRCIO ou de DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL:

No Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra

a Mulher

Na vara de família

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Especificamente em relação aos processos cíveis regidos pela Lei Maria da Penha, o art. 15 adotou um critério de determinação da competência que privilegia a vítima, que poderá optar pela competência do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher do seu domicílio (ou de sua residência), do lugar do fato em que se baseou a demanda, ou do domicílio do agressor.

Art. 15. É competente, por opção da ofendida, para os processos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado:

I - do seu domicílio ou de sua residência;

II - do lugar do fato em que se baseou a demanda;

III - do domicílio do agressor.

Causas Criminais

Muito embora o legislador tenha chamado esse órgão especializado de Juizado, não podemos confundi-lo com os Juizados Especiais Criminais, pois a Lei nº 9.099/1995 NÃO É APLICADA às infrações penais praticadas no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher, independente da pena prevista para o crime.

Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.

Os Juizados Especiais Criminais sequer têm competência para julgar contravenções penais praticadas nesse contexto.

Tendo por base esse entendimento, o STF afastou a aplicação da Lei nº 9.099/1995 e de todos os seus institutos em um caso concreto relativo a um agente que desferiu socos e tapas no rosto da vítima, porém sem deixar lesões, o que caracteriza a conduta do art. 21 da Lei de Contravenções Penais (vias de fato):

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – ARTIGO 41 DA LEI Nº 11.340/06 – ALCANCE. O preceito do artigo 41 da Lei nº 11.340/06 alcança toda e qualquer prática delituosa contra a mulher, até mesmo quando consubstancia contravenção penal, como é a relativa a vias de fato. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ARTIGO 41 DA LEI Nº 11.340/06 – AFASTAMENTO DA LEI Nº 9.099/95 CONSTITUCIONALIDADE. Ante a opção político-normativa prevista no artigo 98, inciso I, e a proteção versada no artigo 226, § 8º, ambos da Constituição Federal, surge harmônico com esta última o afastamento peremptório da Lei nº 9.099/95 – mediante o artigo 41 da Lei nº 11.340/06 – no processo-crime a revelar violência contra a mulher.

Em decorrência da não aplicação da Lei nº 9.099/95, foi expressamente vedada a aplicação de penas restritivas de direitos de conteúdo econômico nesses casos (prestação pecuniária), a exemplo da entrega de cestas básicas, bem como a substituição de pena que implique pagamento isolado de multa.

Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa.

(22)

A propósito, o STJ editou a seguinte súmula:

Súmula n. 588 do STJ: A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.

Bom, você já está cansado/a de ouvir que a Lei nº 9.099/95 e a Lei Maria da Penha são absolutamente incompatíveis...

Contudo, apesar dessa incompatibilidade, havia muita discussão acerca da natureza da ação penal relativa aos crimes de lesão corporal leve e de lesões culposas no âmbito da violência doméstica, se incondicionada ou condicionadas à representação, conforme enuncia a Lei dos Juizados para os casos em geral:

Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.

Após muita polêmica, o STJ assentou que é de natureza INCONDICIONADA a ação penal em casos de lesão corporal leve e/ou culposa envolvendo violência doméstica e familiar contra a mulher!

Permanece, contudo, a necessidade de representação para crimes que naturalmente a exigem, como é o caso do crime de ameaça.

Súmula 542-STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.

Falando ação penal pública condicionada à representação, você deve ter estudado em direito processual penal que vigora o princípio da oportunidade ou da conveniência, de forma que o ofendido (ou seu representante legal) pode optar entre oferecer (ou não) a representação, bem como se retratar dela até o oferecimento da denúncia pelo MP.

Agora, vamos pensar em uma vítima de violência doméstica que tenha apresentado representação contra o agressor e se arrependido algum tempo depois, desejando voltar atrás.

Como fica a questão da retratação?

Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, ANTES do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.

A retratação à representação nos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher só terá validade se observados os seguintes requisitos:

Manifestação da vítima perante o JUIZ em audiência especialmente designada para tal finalidade Oitiva do Ministério Público

Limite temporal: até o recebimento da denúncia.

(23)

Veja esta questão:

(FGV – OAB/XXV – 2018) Bruna compareceu à Delegacia e narrou que foi vítima de um crime de ameaça, delito este de ação penal pública condicionada à representação, que teria sido praticado por seu marido Rui, em situação de violência doméstica e familiar contra a mulher. Disse, ainda, ter interesse que seu marido fosse responsabilizado criminalmente por seu comportamento.

O procedimento foi encaminhado ao Ministério Público, que ofereceu denúncia em face de Rui pela prática do crime de ameaça (Art. 147 do Código Penal, nos termos da Lei nº 11.340/06). Bruna, porém, comparece à Delegacia, antes do recebimento da denúncia, e afirma não mais ter interesse na responsabilização penal de seu marido, com quem continua convivendo. Posteriormente, Bruna e Rui procuram o advogado da família e informam sobre o novo comparecimento de Bruna à Delegacia.

Considerando as informações narradas, o advogado deverá esclarecer que

a) a retratação de Bruna, perante a autoridade policial, até o momento, é irrelevante e não poderá ser buscada proposta de suspensão condicional do processo.

b) a retratação de Bruna, perante a autoridade policial, até o momento, é válida e suficiente para impedir o recebimento da denúncia.

c) não cabe retratação do direito de representação após o oferecimento da denúncia; logo, a retratação foi inválida.

d) não cabe retratação do direito de representação nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica e familiar contra a mulher, e nem poderá ser buscada proposta de transação penal.

RESOLUÇÃO:

Poxa, Bruna... você deveria ter apresentado a retratação da representação perante o juiz, em audiência designada para este fim:

Art. 16 . Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.

Dessa maneira, não possui relevância a retratação de Bruna apresentada à autoridade policial.

Além disso, são incabíveis os institutos despenalizadores (transação penal, suspensão condicional do processo etc.) da Lei nº 9.099/95 no contexto da Lei Maria da Penha, de modo que a alternativa A é o nosso gabarito:

Súmula 536 STJ – A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha.

(24)

Medidas Protetivas de Urgência

Chegou a hora de falarmos das medidas protetivas de urgência da Lei Maria da Penha, que podem ser adotadas em relação ao agressor e à ofendida.

Possuem natureza de medida cautelar e possuem a finalidade precípua de coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, sendo submetidas à cláusula de reserva de jurisdição, ou seja, cabe ao Poder Judiciário autorizá-las quando presentes os pressupostos do fumus comissi delicti e periculum in libertatis (probabilidade da ocorrência do delito e o perigo que a liberdade do agente representa).

De nada adiantaria a criação de instrumentos para coibir violência doméstica e familiar contra a mulher, se o agressor pudesse continuar praticando agressões contra a vítima durante todo o curso da persecução penal...

Suponha que Ana tenha sido agredida por Marcos, seu namorado, vítima de violência doméstica. Qual o procedimento a ser seguido para a concessão de uma medida protetiva de urgência?

Têm legitimidade para o postular a concessão de medida protetiva de urgência:

O Ministério Público, por requerimento

A vítima (que geralmente apresenta a solicitação à autoridade policial e, em alguns casos, diretamente ao juiz).

Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida.

A vítima poderá solicitar a concessão de medida protetiva de urgência desacompanhada de seu advogado!

Art. 27. Em todos os atos processuais, cíveis e criminais, a mulher em situação de violência doméstica e familiar deverá estar acompanhada de advogado, ressalvado o previsto no art. 19 desta Lei.

Chegando o expediente na mesa do juiz, ele terá o prazo de 48 horas para analisar o pedido e decidir sobre as medidas protetivas, bem como:

Encaminhar a ofendida ao órgão de assistência judiciária (defensoria pública, regra), caso ela não tenha advogado constituído.

Comunicar o Ministério Público para a adoção das medidas pertinentes

Determinar a apreensão imediata de arma de fogo sob a posse do agressor

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Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caberá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas:

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas protetivas de urgência;

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência judiciária, quando for o caso, inclusive para o ajuizamento da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável perante o juízo competente; (Redação dada pela Lei nº 13.894, de 2019)

III - comunicar ao Ministério Público para que adote as providências cabíveis.

IV - determinar a apreensão imediata de arma de fogo sob a posse do agressor. (Incluído pela Lei nº 13.880, de 2019)

Em respeito ao princípio do contraditório, o juiz deverá ouvir previamente o agressor antes de decretar medida protetiva. Contudo, considerando a situação de urgência, será possível sua concessão de imediato, independentemente da audiência das partes e da manifestação do Ministério Público, que deverá, no entanto, ser comunicado logo em seguida:

Art. 19 (...) § 1º As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato, independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério Público, devendo este ser prontamente comunicado.

Pode até ser que a concessão de determinada medida protetiva de forma isolada seja suficiente para proteger a ofendida, seus familiares e seu patrimônio

Contudo, em inúmeros casos, a concessão de uma única medida protetiva pode não atingir tal finalidade, de modo que...

→ Poderão ser aplicadas de forma cumulativa, bem como ser substituídas a qualquer tempo por outra de maior eficácia.

Em certos casos, se o agressor descumprir injustificadamente as obrigações contidas na medida protetiva, o juiz poderá promover a sua substituição, a imposição de outra em cumulação ou, em última hipótese, decretar a própria prisão preventiva.

Assim, o juiz poderá conceder novas medidas protetivas ou revisar aquelas já concedidas, mediante:

(a) Requerimento do Ministério Público (b) Pedido da ofendida, ouvido o MP

Art. 19 (...) § 2º As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados.

§ 3º Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se entender necessário à proteção da ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público.

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Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação da autoridade policial.

Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no curso do processo, verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.

Art. 21. A ofendida deverá ser notificada dos atos processuais relativos ao agressor, especialmente dos pertinentes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da intimação do advogado constituído ou do defensor público.

Parágrafo único. A ofendida não poderá entregar intimação ou notificação ao agressor.

O art. 21 determina que, além da intimação que normalmente é dirigida aos advogados e defensores públicos que atuam no caso, a ofendida deverá ser notificada sobre todos os atos processuais que envolvam o agressor – inclusive à decretação ou revogação de sua prisão.

Essa notificação pode ser feita, inclusive, por aplicativos de mensagens como o Whatsapp, desde que a vítima manifeste expressamente a sua concordância:

Enunciado nº 9, FONAVID2: A notificação/intimação da vítima acerca da concessão de soltura do agressor e/ou de qualquer ato processual, pode ser feita por whatsapp ou similar, quando houver seu consentimento expresso, manifestado em sede inquisitorial ou judicial, por escrito ou reduzido a termo, mediante certidão nos autos por servidor público.

Vamos, agora, ver as medidas de urgência que obrigam o agressor!

2 O Fórum Nacional de Juízas e Juízes de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (Fonavid) foi criado em 31 de março de 2009, durante a III Jornada da Lei Maria da Penha realizada em parceria entre o Ministério da Justiça, SPM e Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

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