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Diversidade Genética do Sistema HLA em Portugal, Cabo Verde e Guiné-Bissau

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(2)

Diversidade Genét ica do Sist em a HLA

em Port ugal, Cabo Verde e Guiné- Bissau

H élde r Spínola de Fre it a s

Tese apresent ada na Universidade da Madeira para a obt enção

do grau de Dout or

(3)

D ive r sida de Ge n é t ica do Sist e m a H LA e m Por t u g a l, Ca b o V e r d e e

Guiné- Bissa u

por

Hélder Spínola de Freitas

Tese subm etida de acordo com o regulam ento em vigor na Universidade da

Madeira para obtenção do grau de

Doutor em Ciências Biológicas, especialidade de Citogenética e Biolo gia

Molecular

Universidade da Madeira

(4)

D iv e r sid a d e Ge n é t ica d o Sist e m a H LA e m Por t u g a l, Ca b o V e r d e e

Guiné- Bissa u

Hélder Spínola de Freitas

Supervisor Científico:

Professor Catedrático António Brehm

Departam ento de Biologia, Universidade da Madeira

(5)

A todos aqueles que,

independentem ente de alcançarem ou não

os seus obj ect ivos, encont ram força

(6)

Í ndice

Agradecim entos ... xv

Abreviaturas ... xvi

Resum o ... xvii

Abstract ... xix

1. I ntrodução ... 1

1.1. A descoberta do sistem a HLA... 1

1.2. Nom enclatura do sistem a HLA ... 2

1.3 . Técnicas de caracterização do sistem a HLA ... 3

1.4 . Estrutura e função do sistem a HLA ... 7

1.5. Evolução e diversificação do sistem a HLA ... 10

1.6. I m portância m édica do sistem a HLA ... 12

1.7. Aplicação dos genes HLA nas disputas de paternidade... 16

1.8. I m portância dos genes HLA em estudos populacionais ... 17

1.9. História das populações em estudo ... 20

1.10. Obj ectivos da tese ... 22

2. Material e m étodos... 25

2.1. Am ostragem das populações ... 25

2.2. Genes estudados... 27

2.3. Métodos utilizados ... 27

2.4. Análise de dados... 31

3. Distribution of HLA alleles in Portugal and Cabo Verde. Relationships with the slave trade route... 35

3.1. Abstract... 35

(7)

3.3. Materials and m et hods ... 39

3.3.1. Population sam ples ... 39

3.3.2. HLA typing and statistics ... 40

3.4. Results and discussion ... 41

3.4.1. HLA class I and I I allele frequencies ... 41

3.4.1.1. HLA- A ... 45

3.4.1.2. HLA- B ... 46

3.4.1.3. HLA- DRB1 ... 47

3.4.2. Haplotype frequencies ... 48

3.4.2.1. West European haplotypes ... 48

3.4.2.2. Mediterranean haplotypes ... 50

3.4.2.3. I berian- North African haplotypes ... 50

3.4.2.4. The sub- Saharan com ponent ... 50

3.4.2.5. The ‘Oriental’ com ponent ... 51

3.4.3. Principal Com ponent Analysis ... 52

3.4.4. Population com parisons ... 54

4. HLA genes in Portugal inferred from sequence- based typing: in the crossroad between Europe and Africa ... 57

4.1. Abstract ... 57

4.2. I ntroduction ... 58

4.3. Materials and m et hods ... 60

4.3.1. Population sam ples and HLA typing ... 60

4.3.2. Data analysis ... 62

4.4. Results ... 63

4.4.1. Data for HLA- A ... 68

(8)

4.4.3. Data for HLA- DRB1 ... 71

4.4.4. Haplotype frequencies ... 72

4.4.5. Phylogenetic analyses ... 78

4.5. Discussion ... 82

5. HLA class I and I I polym orphism s in Azores show different settlem ents in Oriental and Central islands ... 87

5.1. Abstract ... 87

5.2. Introduction ... 88

5.3. Materials and m et hods ... 90

5.3.1. Population sam ples and HLA typing ... 90

5.3.2. Data analysis ... 91

5.4. Results ... 93

5.4.1. HLA- A locus ... 97

5.4.2. HLA- B locus ... 97

5.4.3. HLA- Cw locus ... 97

5.4.4. HLA- DRB1 locus ... 98

5.4.5. HLA- DQA1 locus ... 98

5.4.6. HLA- DQB1 locus ... 98

5.4.7. Haplotype frequencies ... 99

5.4.8. Phylogenetic analyses ... 107

5.5. Discussion ... 111

5.5.1. Diversity between Azores islands ... 114

6. HLA polym orphism s in Cabo Verde and Guiné- Bissau inferred from sequence- based typing ... 117

6.1. Abstract ... 117

(9)

6.3. Materials and m et hods ... 120

6.3.1. Population sam ples and HLA typing ... 120

6.3.2. Data analysis ... 121

6.4. Results ... 123

6.4.1. Guiné- Bissau allele frequencies ... 128

6.4.2. Cabo Verde allele frequencies ...

129

6.4.3. Haplotype frequencies ... 129

6.4.4. Phylogenetic analyses ... 136

6.5. Discussion ... 139

7. HLA genes in Madeira island (Portugal) inferred from sequence-based typing: footprints from dif ferent origins ... 143

7.1. Abstract ... 143

7.2. I ntroduction ... 144

7.3. Materials and m et hods ... 145

7.3.1. Population sam ples and HLA typing ... 145

7.3.2. Data analysis ... 146

7.4. Results ... 146

7.4.1. Allele frequencies ... 146

7.4.2. Haplotype frequencies ... 148

7.5. Discussion ... 150

8. Discrepancies on HLA typing by SSOP and SBT techniques: a case study ... 155

8.1 Abst ract ... 155

8.2 I ntroduction ... 156

8.3 Materials and m ethods ... 157

(10)

9. Resultados globais ... 161

9.1. Parâm etros gerais ... 161

9.2. HLA- A ... 163

9.3. HLA- B ... 164

9.4. HLA- DRB1 ... 165

9.5. Frequências haplotípicas ... 166

9.6. Análises filogenéticas ... 167

10. Discussão geral ... 169

10.1. Distribuição dos alelos HLA em Portugal e Cabo Verde. I nfluências do com ércio de escravos ... 169

10.2. Caracterização dos genes HLA na população Portuguesa por sequenciação: na encruzilhada entre a Europa e África ... 171

10.3. Polim orfism os dos genes HLA m ostram diferenças no povoam ent o dos grupos Cent ral e Oriental do arquipélago dos Açores ... 190

10.3.1. Diversidade entre as ilhas Açorianas ... 192

10.4. Caracterização do sistem a HLA em Cabo Verde e Guiné-Bissau por sequenciação nucleotídica ... 194

10.5. Os genes HLA na ilha da Madeira (Portugal) caracterizados por sequenciação nucleotídica: m arcas de diferentes origens ... 196

10.6. Discrepâncias na caracterização do sistem a HLA por SSOP e SBT: um caso de estudo ... 199

10.7. Discussão global ... 200

10.8. Perspectivas futuras ... 204

11. Referências bibliográficas ... 207

(11)

Ag r a d e cim e n t os

Apresento os m eus m ais sinceros agradecim entos a António Brehm pelo

acom panham ent o e apoio que dispensou ao longo do desenvolvim ent o

dest e t rabalho. Agradeço t am bém a Derek Middlet on e a t odos os m em bros

do Laborat ório de Histocom patibilidade e I m m unogenética da I rlanda do

Norte pelo acolhim ento e apoio na abordagem à caracterização dos genes

HLA nas populações estudadas.

Agradeço ainda às m inhas colegas do Laboratório de Genética Hum ana pelo

apoio prestado. Agradeço a t odos os m em bros do Depart am ent o de Biologia

da Universidade da Madeira que directa ou indirectam ente prestaram apoio

ao trabalho desenvolvido. Agradeço ao Governo Regional da Madeira que,

através do Fundo Social Europeu, apoiou financeiram ente este proj ect o de

doutoram ento e ao program a I nterreg I I I B Madeira- Açores- Canárias que

financiou parte da investigação desenvolvida no âm bito deste trabalho.

Por últim o, agradeço a toda a m inha fam ília e am igos pelo apoio m oral, e

não só, que sem pre deram no desenvolvim ento deste trabalho,

nom eadam ente o Paulo Lucas na concepção da capa deste m anuscrito.

Destaco particularm ente a m inha esposa pela form a incondicional com o

sem pre m e incentivou e am parou, principalm ente nos m om entos m ais

(12)

Ab r e v ia t u r a s

a . C.- Antes de Cristo

Bp- Base pairs (pares de bases)

d . C.- Depois de Cristo

D C- Doença celíaca ( celiac desease)

D N A- Deoxyribonucleic acid (ácido desoxiribonucleíco)

HI V- Hum an im m unodeficiency virus

H LA - Hum an leukocyte antigens

Kb- Kilobases

M b- Megabases

M H C - Major histocom patibility com plex

P CA- Principal com ponent analysis

P CO- Principal coordinates analysis

P CR- Polym erase chain react ion

SBT- Sequence based typing

RFLP- Restriction fragm ent length polym orphysm

SSO P- Sequence specific oligonucleotide probes

SSP- Sequence specific priming

(13)

Re su m o

O polim orfism o dos genes HLA- A, HLA- B e HLA- DRB1 foi est udado em t rês

populações Portuguesas (Portugal continental, Madeira e Açores) e em duas

Africanas (Guiné- Bissau e Cabo Verde) . Os dados em alta resolução, obtidos

por sequenciação ( SBT) , foram com parados com a caract erização efect uada

pelo m étodo SSOP revelando 4,6% de incongruências entre os resultados

dest es dois m ét o dos.

Os alelo s m ais frequentes em cada um dos loci foram : HLA- A* 0201 em

t odas as populações ( 13,5- 26% ) ; HLA- B* 5101 em Portugal continental

( 12% , o m esm o par a o B* 440301) , Madeira ( 9,7% ) e Açores ( 9,8% ) e

B* 350101 na Guiné- Bissau ( 14,4% ) e Cabo Verde ( 13,2% );

HLA-DRB1* 0701 em Portugal continental ( 15% ) , Madeira ( 15,7% ) e Açores

( 18,3% ) , DRB1* 1304 na Guiné- Bissau ( 19,6% ) e DRB1* 110101 em Cabo

Verde ( 10,1% ) .

Os haplotipos 3-loci m ais predom inantes em cada população foram :

A* 020101- B* 440301- DRB1* 070101 em Port ugal continental (3,1% ) ,

A* 020101- B* 510101- DRB1* 130101 na Madeira ( 2,7% ) , A* 2902-B*

4403-DRB1* 0701 nos Açores ( 2,4% ) , A* 2301- B* 1503- 4403-DRB1* 110101 na

Guiné-Bissau ( 4,6% ) e A* 3002- B* 350101- DRB1* 1001 em Cabo Verde ( 2,8% ) .

O presente trabalho revela que a população continental Port uguesa t em

sido influenciada geneticam ente por Europeus e Norte Africanos devido a

várias im igrações históricas. O Norte de Portugal parece concentrar,

provavelm ente devido à pressão da expansão Árabe, um antigo pool

(14)

Os dados obt idos nos genes do sist em a HLA corroboram as font es hist óricas

que confirm am que o povoam ent o dos Açores t eve o cont ribut o de out ros

Europeus, essencialm ente Flam engos, para além dos Portugueses. As

frequências alélicas e haplotípicas neste arquipélago não apresentam um a

distribuição hom ogénea entre as ilhas do grupo Oriental e Central. O grupo

Central revela um a influência clara da Europa Central e um a m uit o m enor

afinidade a Portugal continental.

As frequências alélicas e haplotípicas m ostram que a ilha da Madeira foi

povoada por Europeus, a m aioria Portugueses, m as tam bém por

sub-Saharianos devido ao com ércio de escravos.

Cabo Verde não é um a população tipicam ente sub- Sahariana pois revela

um a im portante influência genética Europeia, para além da base genética

Africana. A análise dos haplotipos e dendrogram as m ost ram uma influência

genética Caucasiana no actual pool genético Cabo- Verdiano. Os

dendrogram as e a análise das coordenadas principais m ostram que os

Guineenses são m ais sem elhantes aos Norte Africanos do que qualquer

outra população sub- Sahariana já estudada ao nível do sistem a HLA,

provavelm ent e devido a cont act os hist óricos com out ros povos,

(15)

Abst r a ct

HLA- A, HLA- B, and HLA- DRB1 genetic polym orphism was exam ined in three

Portuguese (m ainland Portugal, Madeira and Azores) and two African

populations (Guiné- Bissau and Cabo Verde). Data obtained at

high-resolution level, using sequence- based typing, were com pared with m edium

resolution typing previously obtained by SSOP, showing 4.6% incongruence

bet ween t he t wo m et hods.

The m ost frequent allele at each loci was: HLA- A* 0201 ( 13.5 - 26% ) in all

populations; HLA- B* 5101 in m ainland Portugal ( 12% , the sam e as

B* 440301) , Madeira ( 9.7% ) , and Azores ( 9.8% ) and B* 350101 in

Guiné-Bissau ( 14.4% ) and Cabo Verde ( 13.2% ) ; HLA- DRB1* 0701 in mainland

Portugal ( 15% ) , Madeira ( 15.7% ) , and Azores ( 18.3% ) , DRB1* 1304 in

Guiné- Bissau (19.6% ), and DRB1 * 110101 in Cabo Verde ( 10.1% ) .

The predom inant three-loci haplotype found in each population was:

A* 020101- B* 440301- DRB1* 070101 in m ainland Portugal (3.1 % ),

A* 020101- B* 510101- DRB1* 130101 in Madeira ( 2.7% ) , A* 2902- B*

4403-DRB1* 0701 in Azores ( 2.4% ) , A* 2301- B* 1503- 4403-DRB1* 110101 in

Guiné-Bissau (4.6% ), and A* 3002- B* 350101- DRB1* 1001 in Cabo Verde ( 2.8% ) .

The present study dem onstrates that the mainland Portuguese population

has been genetically influenced by Europeans and North Africans, via

several historic im m igrations. North Portugal seem s to concentrate,

probably due the pressure of Arab expansion, an ancient genetic pool

originated from several North Africans and Europeans influences throughout

(16)

HLA data corroborat es hist orical sources t hat say t he Azores were populat ed

not only by Portuguese but also by other Europeans, m ostly Flem ish people.

Haplotype and allele frequencies in this archipelago show no hom ogeneous

distribution between Oriental and Central islands. The Central group clearly

show s an influence of central Europeans, with m uch less affinity to m ainland

Portugal.

HLA allele and haplotype frequencies show that Madeira island were

populated by Europeans, m ostly Portuguese, but also by sub- Saharan

Africans due to slave trade.

Cabo Verde is not a typical sub- Saharan population showing an im portant

European genetic influence besides the African basis. Haplotypes and

dendrogram analysis shows a Caucasian genetic influence in today’s gene

pool of Cabo Verdeans. Dendrogram s and principal coordinates analysis

show t hat Guineans are m ore sim ilar to North Africans than other HLA

studied sub- Saharans, probably due to ancient and recent historical links

(17)

Ca pít u lo 1

1 . I n t r odu çã o

1 .1 . A d e scob e r t a d o sist e m a H LA

O Com plexo Maior de Histocom patibilidade ( MHC - Maj or

Histocom patibility Com plex) , existente em todos os vertebrados, é

constituído, entre outros, por genes com im portantes funções im unológicas

e foi descobert o em 1937 por Pet er Gorer durante o estudo de transplantes

em rat os ( Gorer, 1937) . Mais tarde Jean Dausset ( 1958) publicou as suas

observações e conclusões sobre a capacidade do soro de pessoas

subm etidas a transfusões sanguíneas aglutinar leucócitos de outros

indivíduos. Dausset descobriu assim o prim eiro antigénio hum ano,

denom inado MAC ( agora HLA- A* 02) , um dos produt os dos genes do

sistem a hum ano de antigénios leucocít icos ( HLA - Hum an Leukocyte

Antigens) , o correspondente hum ano do MHC. Mais tarde, Jon van Rood e

van Leeuwen ( 1963) publicaram a descoberta de outro gene do sistem a

HLA a que deram o nom e de FOUR ( agora HLA- B) . Com a invenção da

técnica de cultura linfocitária m ista em 1964 (Bach e Hirschhorn, 1964;

(18)

descobert a de novos genes, nom eadam ent e o HLA- DR na década de 70 do

século XX ( Yunis e Am os, 1971; Tosi et al. 1978) .

O envolvim ent o do MHC na resposta im unitária do organism o só foi

confirm ada no início da década de setenta do século XX (Shevach et al.,

1972) m as act ualm ent e conhece- se j á em detalhe a estrutura e função dos

genes classe I e classe I I do sistem a HLA (Bj orkm an et al., 1987; Brown et

al. 1993) . Apesar de actualm ente desconhecerm os ainda o m ecanism o

exacto que associa determ inados alelo s e haplotipos ( conj unto de alelos de

diferentes loci t ransm it idos em bloco de geração em geração) do sist em a

HLA a um elevado risco de desenvolver determ inadas doenças autoim unes,

j á em 1967 est a associação era conhecida ( Am iel, 1967) .

Devido às suas m últ iplas funções, nom eadam ente ao nível da

histocom patibilidade e regulação im unitária, a investigação em torno do

sistem a HLA despertou o interesse de várias equipas de investigação

possibilitando a descoberta de largas centenas de alelos nos diferentes

genes.

1 .2 . N om e n cla t u r a do sist e m a H LA

Esta enorm e diversidade genética tornou necessário, desde m uito cedo,

o estabelecim ento de regras claras ao nível da nom enclatura utilizada,

t endo sido organizado em 1968 por Bernard Am os o prim eiro encont ro do

Com it é de Nom enclatura da Organização Mundial de Saúde (

WHO-Nom enclature- Com m it t ee, 1968) .

Um código de 4 dígitos que distingue os alelos que diferem ao nível das

proteínas codificadas foi im plem entado pela prim eira vez no Relatório de

(19)

Histocom patibilidade que decorreu em Nova I orque nesse m esm o ano

( Dupont, 1988) . Desta form a foi possível acom odar os diferentes alelos,

identificados através de m étodos m oleculares, que constituem cada grupo

serológico. A utilização de um asterisco depois da designação do locus

perm itiu distinguir a caracterização alélica por m étodos m oleculares da

caract erização por m ét odos serológicos. Em 1990 foi adicionado um quint o

dígito para distinguir as sequências que diferem apenas por substituições

nucleotídicas sinónim as (m utações silenciosas) (Bodm er et al., 1991) . No

entanto, este sistem a de nom enclatura j á está a atingir, para certos grupos

de alelos (e.g HLA- A* 02 e HLA- B* 15) , o nível m áxim o de alelos que

consegue com port ar pelo que já est ão a ser adopt adas novas convenções.

Assim , para acom odar novos alelos nos grupos m ais polim órficos, assim que

estes atinjam 99 alelos, um a segunda série será utilizada para continuação.

A série B* 95 está assim reservada para acom odar novos alelos quando o

B* 1599 for atingido, da m esm a form a que a série A* 92 dará continuidade

aos alelos do grupo A* 02 ( Marsh et al., 2002) .

1 .3 . Té cn ica s de ca r a ct e r iz a çã o do sist e m a H LA

A evolução das técnicas utilizadas na identificação e caracterização das

diferentes form as dos genes que com põem o sist em a HLA const it uiu um dos

factores cruciais no desenvolvim ento dos conhecim entos nesta área. Os

prim eiros passos na descobert a do sist em a HLA foram dados com recurso

às técnicas de leuco- aglutinação com as quais foi possível definir vários

antigénios codificados por este conj unto de genes ( Berah e Dausset, 1963) .

At é m eados dos anos 80 do século XX as t écnicas serológicas const it uíam a

(20)

O teste linfocitotóxico foi am plam ente divulgado na abordagem

serológica para identificação dos antigénios do sistem a HLA, existindo

actualm ente m últiplas variações desta técnica base. Esta técnica consiste na

m istura de linfócitos B com soro contendo anticorpos específicos para

determ inados antigénios do sistem a HLA. Os anticorpos, quando na

presença de linfócitos B contendo antigénios com plem entares, ligam- se

provocando , com a adição de um com plem entar, a destruição m em branar,

o que permit e a sua identificação por coloração ( Kippax et al., 1985;

Zachary et al. 1995).

Devido a problem as de reacção cruzada e indisponibilidade de certos

anticorpos, m uitos laboratórios adoptaram técnicas de genética m olecular

para a caract erização do sistem a HLA. No entanto, estes m ét odos

serológicos continuam a ser am plam ente utilizados em testes de

crossm at ching com o obj ectivo de validar potenciais dadores seleccionados

para transplantes de órgãos e tecidos. Este procedim ento é desenvolvido

com o salvaguarda à ocorrência de rej eição aguda do transplante pois alguns

pacientes poderão ter sido previam ente sensibilizados contra determ inados

antigénios HLA. Mesm o que os alelos do dador e do receptor sej am

com patíveis, em sequência de transfusões de sangue, da realização de

outros transplantes ou de um a gravidez, o paciente poderá ter desenvolvido

anticorpos contra alguns dos antigénios do dador levando a um a reacção

violenta logo no início do transplante, pondo em causa o seu sucesso

( Moor e et al., 1997)1.

Os m ét odos de rest rição enzim át ica ( RFLP- Restriction Fragm ent Length

Polym orphysm ) perm itiram dar os prim eiros passos na identificação

1

(21)

genética destes alelos no início da década de 80 do século XX perm itindo

um a m aior precisão com parativam ente aos m ét odos serológicos. Com o

advent o da PCR ( Polym erase Chain Reaction) (Saiki et al., 1985, Mullis e

Faloona, 1987), particularm ente após a sua autom atização, depressa os

m étodos de caracterização alélica do sistem a HLA por restrição enzim ática

evoluíram e m ais t arde foram m esm o ult rapassados por out ros

procedim ent os m ais m odernos ( Howell et al., 1989; Ot a et al., 1992) . A

associação entre a PCR e a restrição enzim ática perm itiu a adopção de um a

técnica de caracterização alélica do sistem a HLA m ais eficiente e em alta

resolução. Após a am plificação dos exões polim órficos do locus HLA em

estudo, o DNA obtido por PCR é digerido com enzim as de rest rição

específicas e o perfil dos fragm entos produzidos é analisado após separação

por electroforese ( Mitsunaga et al., 1998) .

Vários m ét odos foram desenvolv idos com b ase na PCR. A caracterização

alélica por SSOP (Sequence Specific Oligonucleotide Probes) recorre a

prim ers (oligonucleotidos) com plem ent ares de zonas conservadas para

am plificar os exões polim órficos dos loci HLA ( exões 2 e 3 nos genes HLA

classe I e exão 2 nos genes classe I I ). O DNA am plificado é fixo a um a

m em brana e é hibridado com sondas oligonucleotídicas m arcadas com

fluorescência. As sondas com plem entares às zonas polim órficas do DNA

am plificado produzem um padrão de hibridação cuja análise perm ite

identificar os alelos presentes do sistem a HLA (Middleton, 2000). Esta

técnica perm ite a caracterização do sistem a HLA em baixa ou alta resolução

consoante o painel de sondas utilizado e é adequada para grandes

(22)

O teste SSP (Sequence Specific Prim ing) utiliza directam ente a técnica

de PCR para identificar os alelos do sistem a HLA com recurso a

oligonucleotidos com plem entares a sequências nucleotídicas polim órficas

conhecidas ( Olerup e Zetterquist, 1992; Olerup e Zetterquist, 1993; Bunce

et al., 1995). Esta técnica baseia- se no fact o de um prim er com plem entar à

cadeia de DNA ser m ais eficiente na am plificação por PCR do que os prim ers

com um ou m ais nucleótidos não coincidentes. Prim ers específicos para a

am plificação de determ inados alelos, com separação e visualização através

de electroforese em géis de agarose, perm item caracterizar em baixa ou

alta resolução os genes HLA (Middleton e William s, 1997).

A caracterização alélica dos genes do sistem a HLA através da

sequenciação nucleotídica (SBT- Sequence Based Typing) é o m étodo

m olecular actualm ente m ais fiável, o qual perm ite inclusive a identificação

directa de novos alelos (McGinnis et al., 1995; Middleton e William s, 1997;

Kurz et al., 1999). Esta técnica desenvolve- se com a am plificação, por PCR,

dos fragm ent os cont endo os exões polim órficos a sequenciar. As técnicas e

tecnologias m ais recentes perm item a sequenciação directa do fragm ento

sendo que a sua natureza heterozigótica im plica a utilização de um

program a inform ático próprio para a descrim inação dos alelos presentes em

cada am ost ra.

A escolha do m étodo a utilizar na caracterização alélica do sistem a HLA

depende das especificidades de cada laboratório e dos obj ectivos do

trabalho. Desde a rapidez necessária at é ao núm ero de am ost ras, passando

pelo equipam ento existente, orçam ento disponível e experiência dos

recursos hum anos, inúm eras são as variáveis que influenciam a escolha do

(23)

nom eadam ente se pretendem baixa ou alta resolução, poderão optar por

utilizar m ais de um m étodo. No entanto, em qualquer dos casos, qualquer

um dos m étodos disponíveis necessita de ser continuam ente actualizado por

form a a integrar as alterações que perm item a evolução das técnicas e

considerar os novos alelos que continuam ente são descobertos ( Middleton e

William s, 1997).

1 .4 . Est r u t u r a e f u n çã o d o sist e m a H LA

Os loci HLA est ão localizados no braço m ais pequeno do crom ossom a 6

na banda 6p21.3 form ando um com plexo sistem a de genes funcionalm ente

relacionados entre si (Figura 1) (Bender et al. 1983) . O sistem a HLA é

const it uído por 224 genes, dos quais 128 são genes funcionais e 96 são

pseudogenes ( MHC sequencing consortium , 1999) .

(24)

Os genes funcionais do sistem a HLA são os m ais variáveis do genom a

hum ano com capacidade de expressão, 40% dos quais desem penham um

im portante papel em funções im unológicas. Para além destes genes existem

ainda no sistem a HLA elem entos repetitivos que com preendem quase 50%

da sequência do sistem a HLA (MHC sequencing consortium , 1999; Garrigan

& Hedrick, 2003) .

O sistem a HLA, com cerca de 4 Mb ( m egabases) de ext ensão, est á

subdividido em três regiões: classe I , classe I I e classe I I I , de acordo com a

estrutura e função dos seus genes. Os genes classe I, localizados na porção

m ais telom érica do sistem a HLA, são const it uídos por vários exões,

intercalados por intrões, que codificam para a form ação da cadeia

polipeptídica alfa de receptores glicoproteicos da m em brana das células

nucleadas, constituídos por um a região extracelular de ligação a antigénios,

um a região transm em branar e um segm ento citoplasm ático ( MHC

sequencing consortium , 1999) . Os polim orfism os nos genes classe I

localizam - se essencialm ente nos exões 2 e 3, os quais codificam para as

estruturas m oleculares alfa 1 e alfa 2 do receptor m em branar onde se

localiza o sítio de ligação aos antigénios ( Malissen et al., 1982) . Estes

receptores m em branares interagem com linfócitos T CD8 positivos que

detectam alterações de expressão nas células, alterações estas que podem

ocorrer devido a infecções ou ao desenvolvim ento de células tum orais.

Desta form a os linfócitos T ( CD8+ ) reconhecem as células que deverão

atacar para com bater o avanço de um a determ inada infecção ou de um

t um or ( Doherty & Zinkernagel, 1975).

Os genes classe I I localizam - se na região m ais centrom érica do sist em a

(25)

que se expressam nas células que apresentam antigénios, nom eadam ente

linfócitos B e células dendríticas. O exão 2, que codifica para a estrutura

extracelular do receptor m em branar, responsável pela ligação aos

antigénios, concentra a m aior parte dos polim orfism os nestes genes. Estes

receptores m em branares, constituídos por um a porção extracelular, um a

região transm em branar e um segm ento citoplásm ático, reconhecem a

presença de elem entos estranhos e estim ulam os linfócitos T CD4 positivos,

reforçando a resposta im unitária contra agentes infecciosos ( Doherty &

Zinkernagel, 1975; Gat t i & Pierre, 2003) .

A região classe I I I do sistem a HLA localiza- se entre os genes classe I e

classe I I e, apesar de não ser tão polim órfico com o estes últim os, constitui

o segm ent o do genom a hum ano com m aior densidade de genes ( Xie et al.,

2003)1. Ao contrário da região classe I e classe I I onde existem dezenas de

pseudogenes, a região classe I I I possui apenas dois ( MHC sequencing

consort ium , 1999) . Os genes presentes nesta região não são, na sua

m aioria, relacionados entre sim nem com os genes da classe I e I I e não

possuem um padrão com um de expressão. Os genes classes I I I dos sistem a

HLA possuem funções várias, destacando- se o seu papel na codificação de

proteínas solúveis im portantes na m odelação e regulação da resposta

imunitária ( Xie et al., 2003)1.

Os genes clássicos A, B, Cw (classe I ), DRB1,

HLA-DPB1 e HLA- DQB1 (classe I I ), co- dom inantes, são os m ais polim órficos e

m ais est udados do sist em a HLA (Mizuki et al., 1996) . Por out ro lado, os

genes não clássicos, nom eadam ente HLA- E, HLA- F e HLA- G ( classe I ) , com

funções ainda m al conhecidas, possuem um a distribuição m uito restrita,

(26)

baix os níveis de expressão e são pouco polim órficos com parat ivam ent e aos

genes clássicos, com os quais partilham um a estrutura sim ilar ( Le

Bouteiller, 1997).

Os genes classe I e I I constituem no seu conj unto 1998 alelos

diferentes, sendo o m ais polim órfico o locus HLA- B com 627 alelos,

seguindo- se o HLA- DRB1 com 394, o HLA- A com 349, o HLA- Cw com 182 e

o HLA- DPB1 com 116 ( Marsh et al., 2005) .

1 .5 . Evolu çã o e dive r sifica çã o do sist e m a H LA

O MHC, cuj o correspondente hum ano é o sistem a HLA, surgiu através de

repetidas duplicações e conversões de genes ao longo de m ilhões de ano no

decorrer da evolução dos vertebrados desde a divergência dos ciclóstom os

(Kasahara et al., 1996; Kasahara et al., 1997). A análise do MHC de alguns

vertebrados m ostra diferenças notórias, nom eadam ente ao nível da

inclusão, ordem e sequências nucleotídicas dos genes m as, por outro lado,

revela a existência de um a estrutura com um principalm ente entre os

m am íferos ( Yuhki et al. 2003)1. Ao cont rário do que sucede nos m am íferos,

nout ros vert ebrados com o aves e peixes, os loci MHC nem sem pre est ão

reunidos num único conjunto, dispersando- se no m esm o ou em

crom ossom as diferent es ( Miller et al., 1994; Bingulac- Popovic et al., 1997) .

A grande quantidade e diversidade de inform ação disponível

relativamente à variabilidade, estrutura e função dos genes do sistem a HLA

apresentam padrões de variação que m ostram sinais evidentes de selecção.

A frequência de hom ozigóticos em vários loci HLA é significativam ente

inferior ao esperado em condições neutrais em inúm eras populações

1

(27)

hum anas. Vários loci do sistem a HLA subm etidos ao teste de neutralidade

Ewens- Watterson têm rejeitado a neutralidade em inúm eras populações

( Tiercy et al., 1992; Ellis et al., 2000; Mack et al., 2000; Renquin et al.,

2001; Piancatelli et al., 2004; Cao et al., 2004) . A variação nos loci HLA

está essencialm ente concentrada nas regiões envolvidas na codificação dos

sítios de ligação aos antigénios dos receptores m em branares, situação que

não é susceptível de ter sido originada a partir de um a evolução neutral

( Parham et al., 1988; Hedrick et al., 1991; Valdes et al., 1999). A m aior

acum ulação de substituições não sinónim as nas regiões que codificam para

os sítios de ligação aos antigénios revela tam bém a actuação da selecção

natural, privilegiando o aum ento da variação que neste caso é

funcionalm ente relevante ( Nei & Goj obori, 1986; Hughes & Nei, 1988) .

O m ecanism o que parece ter m aiores responsabilidades na m anutenção

dos elevados níveis de polim orfism o encontrados nos genes do sistem a HLA,

e que fazem deles os m ais variáveis do genom a hum ano, é a selecção

oscilante, decorrente da acção de diferentes parasitas (Hedrick & Thom son,

1983; Hedrick, 1999) .

A selecção oscilante refere- se a m ecanism os de selecção natural que

conduzem à m anutenç ão de polim orfism os genéticos num a população, em

oposição à selecção direccional que favorece um único alelo. Entre os

diferentes m ecanism os inerentes à selecção oscilante destacam - se com o os

m ais estudados a “ vantagem dos heterozig ót icos” e a “ selecção dependente

da frequência” . A “ vantagem dos heterozigóticos” é baseada na ideia de que

os het erozig ót icos são capazes de reconhecer o dobro dos parasit as, um por

cada alelo, apresentando um a vantagem adaptativa em relação aos

(28)

frequência” baseia- se no pressuposto de que os alelos m ais raros possuem

um a forte vantagem selectiva relativam ente aos m ais com uns para os quais

os parasitas podem ter j á desenvolvido resistência ( Bodm er, 1972).

1 .6 . I m por t â n cia m é dica do sist e m a H LA

I núm eros est udos t êm dem onst rado que os genes do sist em a HLA est ão

associados a m ais de 500 doenças aut oim unes ou provocadas por agent es

externos. Cerca de 4% da população em países industrializados são

afect ados por doenças autoim unes, núm ero este com tendência para

aum entar. A predisposição para o desenvolvim ento destas doenças é m uitas

vezes o result ado de um a com binação em rede de vário s alelos do sistem a

HLA. Desta form a, a caracterização alélica do sistem a HLA pode ser usada

para identificar indivíduos com elevado risco de desenvolver determ inadas

doenças assim com o auxiliar no seu diagnóstico. Tendo em conta as

evidências actuais do envolvim ento directo dos loci HLA e os progressos no

conhecim ento da estrutura e função dos produt os dest es genes na respost a

im unitária, poderão, a curt o prazo, ser m elhor com preendidos os

m ecanism os responsáveis pelo desenvolvim ento destas doenças. Assim ,

com esta inform ação disponível, será possível actuar de um a form a

específica ao nível da prevenção e com bat e a est as enferm idades ( Thorsby,

1997; Thorsby and Lie, 2005) .

A e spondilit e a nquilosa nt e, um a doença reum ática crónica e

inflam atória, m uitas vezes progressiva, que afecta a coluna vertebral e as

articulações sacroilíacas, está fortem ente associada à presença do alelo

HLA- B* 27. O HLA- B* 27 contribui em 16 a 50% para o risco genético de

(29)

dependente de outros factores genéticos e am bientais ainda desconhecidos

(Reveille et al., 2001; Calin, 2002). A espondilite anquilosant e t em um a

prevalência de 0,2 a 0,8% em populações Caucasianas e cerca de 90% dos

doent es são HLA- B* 27 posit ivos, caract eríst ica que só acont ece em

aproxim adam ente 2% da população Portuguesa ( Braun et al., 1998;

Marker- Herm ann & Hoehler, 1998; Khan, 2000; Gonzalez et al., 2002;

Spínola et al., 2005) . As propriedades do HLA- B* 27 que determ inam esta

susceptibilidade à doença são ainda desconhecidas m as algum as

possibilidades têm sido aventadas, nom eadam ente a hipótese do “ péptido

artritogénico” . Esta hipótese propõe que um a infecção bacteriana provoca

um a resposta dos linfócitos T contra um péptido estranho ao organism o

m as estruturalm ente sim ilar a outro derivado do tecido articular norm al,

envolvendo os recept ores HLA- B* 27. Desta form a, o sistem a im unitário

at aca os t ecidos norm ais do próprio organism o não os reconhecendo com o

seus, levando ao desenvolvim ento da espondilite anquilosante (Benjam in &

Parham , 1990; Ram os & Lopez de Cast ro , 2002) .

A a r t r it e r e u m a t óide é um a doença autoim une que pode assum ir

vários graus de desenvolvim ento e que causa inflam ações crónicas das

articulações, podendo afectar tam bém outros tecidos do organism o

( Cornelia & Goronzy, 2000) . Apesar de ser ainda desconhecida a causa

exacta que origina est a doença, sabe- se que a inflam ação da m em brana

sinovial das articulações ocorre pela reacção autoim une das células T (Cope

& Sonderst rup, 1998) . Vários alelos do gene HLA- DRB1 ( DRB1* 0101,

DRB1* 0102, DRB1* 0401, DRB1* 0404, DRB1* 0405, DRB1* 0408,

DRB1* 1001 e DRB1* 1402) est ão associados a um risco elevado de

(30)

que um destes alelos eleva ainda m ais esse risco, suportando a ideia do

envolvim ento das células T CD4 positivas, através do reconhecim ento de

determ inado antigénio artritogénico, no desenvolvim ento desta doença

( Weyand et al., 1992; Schm idt et al., 1996; Gibert et al., 2003) .

A dia be t e s t ipo 1, um a doença autoim une específica de apenas um

órgão, resulta da destruição das células beta do pâncreas, responsáveis

pela produção de insulina. A destruição destas células ocorre pela reacção

autoim une das células T CD4 positivas despoletada por m ecanism os ainda

desconhecidos ( Kat z et al., 1995; Healey et al., 1995) .

A susceptibilidade para o desenvolvim ento da diabetes tipo 1 está

associada a várias haplotipos do sistem a HLA, havendo outros que conferem

prot ecção e out ros que aparent em ent e são neut rais (Singal & Blajchm an,

1973; Larsen & Alper, 2004) . A susceptibilidade para o desenvolvim ento de

diabetes tipo 1 é determ inada principalm ente pela com binação de alguns

alelos HLA- DQ e HLA- DR existentes no indivíduo. Os alelos HLA- DQA1* 03,

HLA- DQB1* 0201 e HLA- DRB1* 0405 são os que conferem m aior

susceptibilidade ao desenvolvim ento da doença enquanto que os alelos

HLA- DQA1* 0102, HLA- DQB1* 0602, HLA- DRB1* 0403 e HLA- DRB1* 0406 são

os que conferem m aior prot ecção ( Thorsby, 1997).

A doe n ça ce lía ca (DC) é a enteropatia m ais com um induzida pela

ingestão de alim entos e resulta de um a intolerância perm anente às

proteínas glúten, presentes nos cereais, que provocam um a reacção

autoim une contra as vilosidades da m ucosa intestinal. Cerca de 95% dos

doent es com DC apresent am o haplot ipo HLA- DQA1* 0501- HLA- DQB1* 0201

que quando na presença do haplotipo HLA- DQA1* 0201- DQB1* 0202 agrava

(31)

estes alelos, ligam - se aos péptidos glúten e apresentam - nos às células T

induzindo um a resposta inflam atória que causa a doença ( Sollid et al.,

1989; van de Wal et al., 1996; Vartdal et al., 1996).

A esclerose m últ ipla é um a doença inflam atória que afecta o sistem a

nervoso central através da desm ielinização dos neurónios, levando a um a

deficiência acentuada ao nível sensorial, m otor e cognitivo (McFarlin &

McFarland, 1 982a; McFarlin & McFarland, 1982b) .

A presença do haplotipo HLA- DRB1* 1501- HLA- DQB1* 0602 é um fact or

de risco no desenvolvim ento de esclerose m últipla, em bora sejam ainda

desconhecidos os m ecanism os responsáveis pelo desenvolvim ento desta

doença autoim une m ediada pelas células T ( Hillert & Olerup, 1993;

Barcellos et al., 2003; Sospedra & Martin, 2005) .

Out ras doenças t êm revelado um a fort e associação aos genes do sist em a

HLA, nom eadam ente: o desenvolvim ento de psor ía se, um a doença

inflam atória crónica que afecta a pele, o couro cabeludo, unhas e

articulações, e que est á fort em ent e associada à presença do alelo

HLA-Cw * 0602 ( Elder et al., 1994) ; a na rcolepsia, um a doença de perturbação

do sono, está associada à presença do alelo HLA- DQB1* 0602 ( Chabas et

al., 2003) ; a h e m ocr om a t ose h e r e dit á r ia, um a desordem ao nível do

m etabolism o que provoca acum ulação excessiva de ferro em alguns órgãos,

est á fort em ent e associada a um a m ut ação do gene HFE localizado na região

classe I do sist em a HLA (Lyon & Frank, 2001) ; e o desenvolvim ento de

a le r gia s, nom eadam ente ao polén e a alim entos, associadas a alguns

alelos de loci HLA classe I I (Boehncke et al., 1998) .

Pelo seu papel central na estrutura e funcionam ento do sistem a

(32)

particular na resistência ou progressão de doenças infecciosas. A título de

exem plo, a progressão da infecção por HI V é condicionada pela presença

de determ inados alelos HLA classe I e classe I I e o alelo HLA- B* 53 confere

prot ecção ao desenvolvim ento da m alária em crianças do Oest e Africano

( Hill et al., 1991; Al Jabri, 2002).

A com patibilidade nos genes HLA- A, HLA- B e HLA - DRB1 entre o dador e

recept or no t r a n spla n t e de ór gã os e t e cidos é fundam ental para o seu

sucesso por dim inuir significativam ente a probabilidade de rejeição

( Cicciarelli, 2 0 0 4) . Apesar de ser m ais provável encontrar um dador entre

indivíduos aparentados nem sem pre isso é possível pelo que tem surgido

em vários países regist os de dadores de órgãos e t ecidos, nom eadam ente

de m edula óssea.

1 .7 . Aplica çã o dos g e n e s H LA n a s d isp u t a s d e p a t e r n id a d e

Os genes do sistem a HLA têm sido tam bém utilizados em testes de

paternidade, tendo só por si um poder de exclusão superior a 90% (Ejele &

Nwauche, 2004) . Por out ro lado, a taxa de m utação nos HLA é inferior à

que ocorre nos loci STR ( Short Tandem Repeat) pelo que a com binação

destes dois sistem as na resolução de disputas de paternidade oferece

resultados m ais fiáveis, conferindo m aior inform ação e dim inuição das

(33)

1 .8 . I m por t â n cia dos ge n e s H LA e m e st u dos popu la cion a is

O ext enso polim orfism o e o linkage desiquilibria existentes entre

diferentes loci do sistem a HLA têm sido am plam ente utilizados com o

m arcadores genéticos em estudos antropológicos. As frequências alélicas e

haplotípicas dos loci HLA variam entre as diferentes populações e grupos

étnicos. Esta variabilidade nos genes HLA tem sido am plam ente investigada

em diferentes populações de form a a clarificar as suas origens e relações

evolutivas ( Pim tanothai et al., 2001; Luo et al., 2002; Piancatelli et al.,

2004; Ayed et al., 2004) .

A caracterização da diversidade alélica e haplotípica nos principais genes

do sistem a HLA constitui um poderoso instrum ento em estudos

populacionais. Estes genes extraordinariam ente polim órficos têm - se

revelado, a par dos m icrosatélites STR e do D- loop do DNA m itocondrial,

m uito im portantes no estudo da historia das m igrações hum anas (Arnaiz

-Villena et al., 2001a; Góm ez- Casado et al., 2001) . Pela sua função

im unitária, os genes HLA sofrem ao longo do tem po a influência da selecção

natural, predom inantem ente um a selecção oscilante devido à irregularidade

geográfica e tem poral das influências dos elem entos patogénicos. Por est e

fact o, est e conj unt o de genes pode não ser t ão út il no est udo de event os

dem ográficos m uito antigos ocorridos há algum as dezenas de m ilhares de

anos ( Hedrick, 1999).

As frequências alélicas nos genes do sistem a HLA têm dem onstrado ser

m ais sim ilares entre populações com origens com uns. Determ inados alelos

são m esm o caract eríst icos de algum as populações hum anas com

determ inadas origens geográficas (Middleton et al. 2004) . Desta form a, as

(34)

específicos perm item inferir sobre a origem e relações passadas das

populações.

A título de exem plo, frequências elevadas do alelo HLA- A* 0201 ( acim a

de 20% ) é um a característica m uito com um nas populações Caucasianas

enquanto que as populações da África sub- Sahariana apresentam outros

alelos com o os m ais frequent es, nom eadam ent e o A* 2301 e A* 3001

( Middleton et al. 2004; Cao et al. 2004) . O alelo A* 0201 corresponde a

m ais de 95% dos alelos do grupo A* 02 em populações Europeias

Caucasianas enquanto que nos Chineses de Singapura corresponde apenas

a 25% e m enos de 3% em Hindus I ndianos (Tiercy, 2002) . O A* 0211, raro

noutras populações m undiais, é o alelo m ais frequente do seu grupo no

Norte e Oeste da Í ndia ( Shankarkum ar et al. 2003) .

As populações Europeias apresent am no grupo A* 68 o alelo A* 6801

com o o m ais predom inante enquanto que nas populações sub- Saharianas o

A* 6802 é o m ais prevalent e ( Middleton et al. 2004; Cao et al. 2004).

Tam bém os alelos A* 3001 e A* 3002 apresent am frequências m uit o m ais

elevadas nas populações Africanas do que nas Europeias (Middleton et al.

2004; Cao et al. 2004) . O alelo A* 0206 aparece com frequências elevadas

apenas em populações Asiáticas e Am eríndias, podendo aparecer em

quantidades residuais noutras populações por in fluência das prim eiras

( Middleton et al. 2004) . Os alelos A* 1101, A* 2402 e A* 3303 aparecem nos

Asiáticos com frequências significativam ente m ais elevadas do que noutras

populações. Por out ro lado, os alelos B* 0801 e B* 4402 aparecem nos

Caucasianos com frequências m uito m ais elevadas do que noutras

populações (Cao et al., 2001) . Ent re os Caucasianos o alelo DRB1* 0401 é o

(35)

prevalent e é o DRB1* 0405 ( Jaini et al., 2002). Alguns alelos são

considerados específicos do continente Africano ( e.g. A* 0202, A* 0225,

B* 1503, B* 1516, B* 2703, B* 4202 e B* 5703) e a sua presença em

populações de outras origens reflecte m isturas ocorridas no passado ( Cao et

al. 2004) .

O grupo HLA- B* 27 constitui m ais um exem plo das diferenças na

distribuição alélica entre populações. O B* 2705 é o alelo que possui um a

distribuição m ais alargada no globo apresentando frequências m ais

elevadas nas regiões Circum polar e sub- Árctica da Eurásia e Am érica do

Nort e. O B* 2702 possui distribuição restrita às populações Caucasianas,

sendo particularm ente predom inante nalgum as populações Caucasianas do

Médio Orient e (Judeus) e do Norte de África. O B* 2703 é o alelo deste

grupo que predom ina nas populações sub- Saharianas e o B* 2704 o m ais

frequente nas populações Asiáticas (Blanco- Gelaz et al., 2001; Birinci et al.,

2005 ) .

Os alelos dos diferentes genes do sistem a HLA são frequentem ente

t ransm it idos em bloco de geração em geração e cert as com binações

( haplotipos) são encontradas m ais frequentem ente do que o esperado pelas

respectivas frequências alélicas. Este fenóm eno conhecido com o linkage

desiquilibrium resulta de um a localização fisicam ente próxim a dos loci

envolvidos e do efeito das forças selectivas ( Huttley et al. 1999) . Têm sido

identificados inúm eros haplotipos do sistem a HLA cuja distribuição

geográfica coincide com a existência de relações passadas entre as

populações ( Gom éz - Casado et al., 2000; Arnaiz - Villena et al., 2001ª ;

(36)

Por exem plo, os haplotipos A* 010101- B* 0801- DRB1* 030101 e A*

2902-B* 4403- DRB1* 0701 são de origem Europeia, considerando- se o prim eiro de

influência Celta ( Muro et al., 2001). O haplotipo A* 020101- B*

440301-DRB1* 070101 t em sido encont rado nas populações do Nort e e Oest e

Europeu (Sanchez- Velasco et al., 2003) . Já os haplot ipos A* 3301- B*

1402-DRB1* 010201 e A* 020101- B* 180101- 1402-DRB1* 1104 são considerados de

origem Mediterrânica (Gom éz - Casado et al., 2000) . O haplot ipo A*

020101-B* 070201- DRB1* 150101 t em sido encont rado em populações Europeias e

Nort e Africanas e os haplot ipos A* 020101- B* 510101- DRB1* 130101,

A* 010101- B* 5801- DRB1* 070101 e A* 3002- B* 180101- DRB1* 030101 têm

sido apontados com o de origem I bérica e Berbere (Gom éz - Casado et al.,

2000; Sanchez- Velasco et al., 2003) .

Desta form a, as frequências haplotípicas do sistem a HLA, associadas às

frequências alélicas, perm item identificar a influência genética nas

populações hum anas das m igrações e contactos existentes entre elas ao

longo do período hist órico e m esm o pré- histórico.

1 .9 . H ist ór ia da s popu la çõe s e m e st u do

O território continental Português é habitado deste o Paleolítico, tendo

sido o receptáculo de várias m igrações de inúm eros povos com diferentes

origens: Celtas, Germ ânicos, Fenícios e um a grande diversidade de povos

da bacia Mediterrânica. Árabes e Norte Africanos ocuparam a m aior parte

deste território durante m ais de 700 anos (Arnaiz - Villena et al., 1997) . No

século XV, devido ao tráfico de escravos, m uitos indivíduos da costa da

Guiné, entre o Senegal e o golfo da Guiné, foram trazidos para Portugal

(37)

resultado de um a com plexa e cont ínua rede de m igrações, invasões e

cruzam ento de povos de diferentes origens que se iniciou há 40 m il anos

( Alim en, 1987) . O arquipélago de Cabo Verde, descobert o por volt a de

1460, foi povoado por alguns Europeus e, principalm ente, por escravos

originários da costa Oeste Africana, onde se situa a actual Guiné- Bissau

( Carreira, 1983) . Cabo Verde funcionou durante três séculos com o um

interpost o de escravos Africanos que eram enviados para Portugal

continental, Madeira, Açores e continente Am ericano (Russell- Wood, 1998) .

A ilha da Madeira foi descoberta pelos Port ugueses em 1420 e com eçou

a ser povoada por nobres Portugueses, Judeus, exilados, condenados e

escravos do Nort e de África. Depois da descoberta de Cabo Verde, a

Madeira com eçou a receber escravos da cost a Oest e Africana, os quais

chegaram m esm o a constituir, em m eados do século XVI , 10% da

população ( Pereira, 1989) . A partir do m om ento em que a Madeira se

t ransform ou num pont o im port ant e para o com ércio no At lânt ico Nort e,

inúm eros indivíduos de várias origens Europeias t ais com o Espanhóis,

Italianos, Franceses e Ingleses tam bém se fixaram na ilha ( Russell- Wood,

1998) .

O arquipélago dos Açores foi descobert o na prim eira m et ade do século

XV e oficialm ente povoado em 1439. Este arquipélago constituído por nove

ilhas desem penhou um papel im portante no com ércio m arítim o entre a

Am érica e a Europa durante os séculos XV e XVI ( Monod, 1991). A sua

posição estratégica atraiu povoadores de diferentes origens, a m aior parte

Port ugueses m as t am bém Judeus, escravos Africanos, Flam engos,

Franceses, Italianos, Ingleses e Espanhóis ( Guill, 1993) . O povoam ento do

(38)

Flam engos pois j á em 1490 estavam instalados nestas ilhas cerca de 2000

indivíduos provenientes de Flandres (Rogers, 1979).

1 .1 0 . Ob j e ct iv os d a t e se

Esta tese teve por obj ectivo caracterizar em alta resolução a po pulação

Portuguesa relativam ente aos principais genes do sistem a HLA (HLA- A,

HLA- B e HLA- DRB1), distinguindo entre o Norte, Centro e Sul de Portugal

continental, Açores e Madeira. No sentido de obter a inform ação necessária

para m elhor distinguir a influência decorrent e do com ércio de escravos em

que Portugal esteve envolvido nos séculos XV a XVI I , foram tam bém

caracterizadas geneticam ente ao m esm o nível duas populações Africanas,

Guiné- Bissau e Cabo Verde.

Este trabalho pretende contribuir para a clarificação da origem e

influências genéticas da população Portuguesa, em particular das

sub-populações consideradas, e de Cabo Verde e Guiné- Bissau. Através do

est udo do ext enso polim orfism o exist ent e nos genes do sist em a HLA e do

linkage desiquilibria que ocorre ent re os seus loci, pretende- se identificar

m arcadores genéticos (frequências alélicas e haplotípicas) que clarifiquem

as suas origens e relações evolutivas. É ainda obj ectivo deste estudo

relacionar os m arcadores genéticos encontrados com a influência das

m igrações hum anas que envolveram ou afectaram as populações

consideradas.

Assim , a inform ação agora obtida para os loci HLA- A, HLA- B e HLA- DRB1

pretende constituir um contributo im portante, a par dos dados disponíveis

ao nível dos m icrosatélites STR e do D- loop do DNA m itocondrial (Brehm et

(39)

Fernandes et al., 2003; Gonçalves et al., 2003; Rosa et al., 2004;

Gonçalves et al., 2005) , para o estudo e caracterização genética das

populações Portuguesa, Cabo- Verdiana e Guineense.

Pelo seu im portante papel ao nível do sistem a im unitário, os genes HLA

estão sujeitos à influência da selecção natural ( Hedrick, 1999), pelo que, no

âm bito deste trabalho, foram procurados sinais da sua actuação.

Os dados obtidos pretendem ainda constituir um a base de inform ação

relevante para o desenvolvim ento de futuros estudos nas populações

Portuguesa, Cabo- Verdiana e Guineense relativam ente à associação dos

genes HLA a m últiplas doenças genéticas. No entanto, desde já, os dados

obtidos pretendem tam bém proporcionar inform ação sobre a prevalência na

população dos alelos e haplot ipos considerados associados a essas doenças

( Thorsby & Lie, 2005) e sobre a m aior ou m enor probabilidade de encontrar

dadores com pat íveis com det erm inados fenotipos para transplantes de

órgãos e t ecidos.

É tam bém propósito deste trabalho com parar a eficiência de duas

técnicas de caracterização genética dos loci HLA ( SSOP e SBT) de form a a

(40)
(41)

Ca pít u lo 2

2 . M a t e r ia l e m é t od os

2 .1 . Am ost r a ge m da s popu la çõe s

A caracterização do sistem a HLA na população Portuguesa foi

desenvolvida num a am ostra de 432 indivíduos não relacionados entre si,

saudáveis e do sexo m asculino cuj os pais e avós nasceram e viveram na

m esm a região, subdividindo- se de acordo com essa inform ação em Port ugal

continental (n= 145), arquipélago dos Açores ( n= 102) e ilha da Madeira

(n= 185) (Figura 2). Portugal continental foi subdividido em três diferentes

regiões, com lim ites coincidentes com as barreiras naturais form adas pelos

rios Tej o e Douro; Norte de Portugal ( n= 46) , Centro de Portugal ( n= 50) e

Sul de Portugal ( n= 49) . A am ostragem no arquipélago dos Açores

considerou a necessidade de garantir a representatividade das diferentes

ilhas, principalm ente as do grupo Central e Oriental. Na análise do sistem a

HLA na população Açoriana foram tam bém incluídos dados de um a am ostra

de 129 indivíduos da ilha Terceira anteriorm ente publicados (Arm as et al.,

(42)

De form a a obter in form ação, não disponível anteriorm ente, essencial na

análise com parativa da população Portuguesa, foram incluídos neste estudo

189 indivíduos saudáveis do sexo m asculino de dois países Africanos;

Guiné- Bissau e Cabo Verde (Figura 2). A am ostra da Guiné- Bissau consistiu

em 62 indivíduos pertencentes a sete diferentes grupos étnicos; balanta

( n= 10) , papel (n= 11), m andinga (n= 9), felupe (n= 5), bijagós (n= 10), fula

( n= 10) e m ancanha ( n= 10) . A am ost ra do arquipélago de Cabo Verde

reuniu um total de 124 indivíduos cuj os pais e avós nasceram e viveram na

m esm a ilha. De acordo com esta inform ação a am ostra foi subdividida em

duas; indivíduos das ilhas do Barlavento (n= 62) e indivíduos das ilhas do

Sot avent o ( n= 62) .

(43)

2 . 2 . Ge n e s e st u d a d os

Com o propósito de possibilitar a caracterização do sistem a HLA e inferir

sobre as influências genéticas e origens da população Portuguesa, foram

escolhidos para este estudo os genes HLA- A, HLA- B e HLA- DRB1. A escolha

dest es t rês loci prende- se com o fact o de serem os m ais polim órficos do

sistem a HLA e dos m ais diversos no genom a hum ano, características que

lhes conferem enorm es potencialidades em estudos antropológicos (Mizuki

et al. 1996; Marsh et al. 2005) . Apesar das evidências de que estes genes

estão suj eitos à pressão selectiva, vários estudos em inúm eras populações

m undiais têm perm itido identificar as influências genéticas resultantes de

m igrações e contactos entre populações ocorridos há vários m ilhares de

anos (Arnaiz - Villena et al., 1997, 1999; Gom ez- Casado et al., 2001;

Sánchez- Velasco et al., 2003) .

Por out ro lado, t orna- se im portante a caracterização destes três genes

do sistem a HLA por serem cruciais para o transplante de órgãos e tecidos,

est arem associados ao desenvolvim ent o de inúm eras doenças do foro

im unológico e possuírem grandes potencialidades forenses ( Boehncke et al.,

1998; Gibert et al., 2003; Cicciarelli, 2004; Ej ele & Nwauche, 2004).

2 .3 . M é t odos u t iliz a dos

A caracterização dos genes HLA- A, HLA- B e HLA- DRB1 nas populações

em estudo foi desenvolvida, num a prim eira fase, em m édia resolução com

recurso à técnica SSOP ( Sequence Specific Oligonucleotide Probes)

( Middleton, 2000) . A extracção do DNA foi concretizada através de um

(44)

cont endo EDTA (Walsh et al., 1991). O Chelex é um a resina que se agrega

aos diversos com ponentes celulares, excepto o m aterial genético,

perm itindo a extracção de DNA de form a rápida e com boa qualidade para

am plificação por PCR (Vigilant, 1999) . Foram am plificados os exões 2 e 3

dos loci HLA- A e HLA- B e o exão 2 do locus HLA- DRB1 através da técnica

PCR utiliz ando oligonucleotidos específicos. O DNA am plificado foi utilizado,

com recurso à técnica SSOP, para identificar os grupos de alelos do sistem a

HLA. O DNA am plificado foi im obilizado em m em branas e posteriorm ente

hibridado com sondas oligonucleotidicas m arcadas com plem ent ares a

sequências específicas ( Middleton, 2000) .

A caract erização em alt a resolução dos loci HLA- A, HLA- B e HLA- DRB1

em todas as populações em estudo foi desenvolvida através de

sequenciação nucleotídica (SBT- Sequence Based Typing), o m étodo

actualm ente m ais fiável que inclusive perm ite a identificação directa de

novos alelos. A extracção do DNA para os procedim entos de sequenciação

foi efectuada através de um a m etodologia clássica utilizando

fenol-clorofórm io a partir de am ostras de sangue total contendo EDTA. O fenol e

o clorofórm io são solventes orgânicos que possibilitam a rem oção de

proteínas e estruturas celulares da solução aquosa deixando apenas o DNA

( Sam brook et al., 1989) .

Os exões 2 e 3 dos loci HLA- A e HLA- B e o exão 2 do locus HLA- DRB1

foram am plificados por PCR recorrendo a oligonucleotidos específicos ( Kurz

et al., 1999; Williams et al., 2004) (Tabela 1). Os fragm entos am plificados

foram purificados e sequenciados em am bas as direcções num a ABI PRISM

310 GENETI C ANALYZER (Applied Biosystem s) , fazendo uso do kit ABI

(45)

Loci Pr im er s F.

( bp) P.

Ex ão 2 Sense AI 5 : 5 ’ GAG GGT CGG GC( G/ A) GGT CTC AGC CA 3 ’

Ant isense 3 AI n 2 SQR2 : 5 ’ CTC GGA CCC GGA GAC TGT 3 ’ 390 ( 1 )

H

LA

-A

Ex ão 3 Sense 3 AI n 2 SQF2 : 5 ’ TTA GGC CAA AAA TCC CCC 3 ’

Ant isen se 3AI n- 6 6 : 5 ’ TGT TGG TCC CAA TTG TCT CCC CTC 3 ’ 419 ( 1 )

Ex ão 2 Sense Bx 1 : 5 ’ GGG AGG AGC GAG GGG ACC ( G/ C) CA G 3 ’

Ant isense Bex 2 R: 5 ’ GGT CAC TCA CCG ( G/ T) C CTC G 3 ’ 363 ( 2 )

H

LA

-B

Ex ão 3 Sense Bex 3 F: 5 ’ GGG GCC AGG GTC TCA CA 3 ’

Ant isense Bin t 3 : 5 ’ GGA GGC CAT CCC CGG CGA CCT AT 3 ’ 344

( 2 )

DRB1* 01 Sense AMP1: 5’ TTC TTG TGG CAG CTT AAG TT 3’

Ant isense AMPB( n) : 5’ CCG CTG CAC ( T/ C) GT GAA ( G/ T) CT CT 3’ 261 ( 3 )

DRB1* 02 Sense DR2 : 5 ’ TTC CTG TGG CAG CCT AAG AGG 3 ’

Ant isense AMPB( n) : 5’ CCG CTG CAC ( T/ C) GT GAA ( G/ T) CT CT 3’ 261

( 3 )

DRB1* 03a Sense 3/ 11/ 6GF: 5’ GT TTC TTG GAG TAC TCT ACG TC 3’

Ant isense DR3R: 5’ GTA GTT GTG TCT GCA GTA ( G/ A) T 3’ 232 ( 4 )

DRB1* 04b Sense AMP4: 5’ GT TTC TTG GAG CAG GTT AAA C 3’

Ant isense AMPB CCG CTG CAC TGT GAA GCT CT 3 ’ 263

( 3 )

DRB1* 07 Sense DR7 : 5 ’ A CGT TTC CTG TGG CAG GG 3 ’

Ant isense AMPB( n) : 5’ CCG CTG CAC ( T/ C) GT GAA ( G/ T) CT CT 3’ 265 ( 3 )

DRB1* 08/ 12c Sense 8/ 12 GF: 5’ GT TTC TTG GAG TAC TCT ACG GG 3 ’

Ant isense AMPB( n) : 5’ CCG CTG CAC ( T/ C) GT GAA ( G/ T) CT CT 3’ 263 ( 4 )

DRB1* 09 Sense DR9 : 5 ’ CGT TTC TTG AAG CAG GAT AAG TT 3 ’

Ant isense AMPB( n) : 5’ CCG CTG CAC ( T/ C) GT GAA ( G/ T) CT CT 3’ 262 ( 3 )

DRB1* 10 Sense DR10 : 5 ’ ACC AGA CCA CGT TTC TTG GAG G 3 ’

Ant isense AMPB( n) : 5’ CCG CTG CAC ( T/ C) GT GAA ( G/ T) CT CT 3’ 259 ( 3 )

DRB1* 11/ 13d Sense 3/ 11/ 6GF: 5’ GT TTC TTG GAG TAC TCT ACG TC 3’

Ant isense 11/ 6R: 5’ GTA GTT GTG TCT GCA GTA GG 3’ 232 ( 5 )

DRB1* 14e Sense 3/ 11/ 6GF: 5’ GT TTC TTG GAG TAC TCT ACG TC 3 ’

Ant isense DR1 4 R: 5 ’ CC GTA GTT GTG TCT GCA A 3 ’ 234 ( 6 )

H LA -D R B 1

Am plifica t am bém os alelos aDRB1* 1107, DRB1* 1127, DRB1* 1333; bDRB1* 1122, DRB1* 1410;

cDRB1* 1105, DRB1* 1317, DRB1* 14( 04/ 11/ 15/ 28/ 31) ; dDRB1* 14 (alelos não amplificados pelos

out ros pr im er s) ; eDRB1* 1113, DRB1* 1117. F. (bp)= tam anho do fragm ento em pares de bases.

P= pr ogr am as de PCR:

( 1) 94º C/ 20 s; 66º C/ 50 s; 72º C/ 22 s ( 10 ciclos) e 94º C/ 20 s; 65º / 50 s; 72º C/ 22s ( 22 ciclos) . ( 2) 96º C/ 20 s; 68º C/ 30 s; 72º C/ 30 s ( 35 ciclos) .

( 3) 96º C/ 1 m ; 58º C/ 1 m ; 72º C/ 1 m ( 38 ciclos) .

( 4) 96º C/ 1 m ; 64º C/ 1 m ; 72º C/ 1 m ( 15 ciclos) e 96º C/ 1 m ; 56º C/ 1 m ; 72º C/ 1 m ( 25 ciclos) . ( 5) 96º C/ 1 m ; 65º C/ 1 m ; 72º C/ 1 m ( 15 ciclos) e 96º C/ 1 m ; 62º C/ 30 s ; 72º C/ 1 m ( 25 ciclos) . ( 6) 96º C/ 1 m ; 60º C/ 1 m ; 72º C/ 1 m ( 38 ciclos) .

Ta bela 1 .Prim ers e r espect iv os pr ogr am as de PCR ut ilizados na am plificação e

(46)

Biosyst em s, Fost er Cit y, CA, USA) e dos prim ers utilizados na am plificação.

Antes da sua utilização na reacção de sequenciação, o produto de PCR foi

convenientem ente purificado por centrifugação em colunas de Sephadex

G-50 (Pharm acia) para rem oção do excesso de prim ers e nucleótidos. A

reacção de sequenciação, através da técnica de PCR, perm itiu a obt enção

de inúm eros fragm ent os em cadeia sim ples com vários t am anhos, t ant os

tam anhos quantos nucleótidos existentes na sequência. Estes fragm entos

foram obtidos através da utilização de nucleótidos m arcados com

fluorescência (um a m arcação diferente para cada um dos quatro nucleótidos

do código genético) , os quais term inam a polim erização da nova cadeia

sem pre que são incluídos. Após rem oção do excesso de nucleótidos

m arcados, a utilização do sequenciador autom ático para a separação dos

fragm entos e a identificação do nucleótido inserido no fim de cada um deles

perm ite a obtenção da sequência nucleotídica do fragm ento analisado1.

As sequências obtidas foram analisadas com o program a Matchtools

Allele I dentification (Applied Biosystem s) de form a a identificar os alelos

present es. Os casos em que os polim orfism os no codão 86 do exão 2 do

locus HLA- DRB1 resultaram em am biguidades na identificação dos alelos,

foram utilizados os prim ers ant isense Dr86GR ( 5’ CTG CAC TGT GAA GCT

CTC AC 3’) e Dr86VR ( 5’ CTG CAC TGT GAA GCT CTC CA 3’) juntam ente

com os prim ers sense (Tabela 1) em duas am plificações separadas. Nestes

casos o program a de PCR utilizado foi o seguinte: 96º C/ 1 m ; 66º C/ 1 m ;

72º C/ 1 m ( 15 ciclos) e 96º C/ 1 m ; 58º C/ 1 m ; 72º C/ 1 m ( 25 ciclos)

(Williams et al., 2004) .

(47)

2 .4 . An á lise de da dos

Vários parâm etros genéticos foram calculados ou estim ados através da

aplicação do program a Arlequin v2.000 ( Schneider et al., 2000) aos

resultados obtidos: frequências alélicas, diversidade genética, equilíbrio

Hardy- Weinberg, frequências haplotípicas, linkage desiquilibrium, testes de

neutralidade selectiva (Ewes- Watterson, Slatkin e Chakraborty) e análise de

variância m olecular (AMOVA).

As frequências alélicas são calculadas pela divisão do núm ero de vezes

que cada alelo for encontrado pelo t ot al exist ent e (equivalente ao núm ero

de crom ossom as analisados) . Com um a am ostra adequada, as frequências

alélicas calculadas perm item um a boa aproxim ação à real prevalência dos

diferentes alelos na população. Esta inform ação é fundam ental para a

caract erização das populações em estudo e desenvolvim ento de análises

com parativas. As frequências alélicas nos genes em estudo não possuem

um a distribuição hom ogénea nas populações hum anas, sendo m uito

dependente da sua origem geográfica t ransform a- se num a característica

específica das populações (Middleton et al., 2004) .

A diversidade genética, equivalente à heterozigotia, corresponde à

probabilidade de dois alelos escolhidos ao acaso, num determ inado locus,

não estarem presentes no m esm o indivíduo ( Nei, 1987) . Com o

desenvolvim ento e aplicação das técnicas m oleculares na caracterização

alélica dos genes do sistem a HLA é cada vez m ais im provável a identificação

errada de indivíduos hom ozigóticos, tornando este parâm etro de

variabilidade genética cada vez m ais robust o.

O equilíbrio de Hardy- Weinberg estipula que um a população em

Imagem

Figura 1 .  Mapa  da  r egião HLA ( banda 6p21.3 do crom ossom a 6) .  Os  g en es  e  p seu d og en es não clássicos classe I  est ão r epr esen t ad os por  r ect ângulos não pr eenchidos.
Table  5 .  HLA-B  allele  fr equencies in t he Por t uguese and Cabo Ver de populat ions
Figure 4 . Pr incipal Com ponent  Analy sis ( PCA)  r est r ict ed t o t he Eur opean sam ples in  or der  t o clar ify t he r elat ionships involving t he five populat ions included in t he pr esent  st udy
Table  8 . Am biguous HLA alleles and t heir  r espect iv e assignm ent  labels under  w hich t hey   appear  in t he t ex t
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Referências

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