• Nenhum resultado encontrado

Colégio Luterano Arthur Konrath Comunidade Evangélica Luterana Cristo Salvador. A origem do teatro

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Colégio Luterano Arthur Konrath Comunidade Evangélica Luterana Cristo Salvador. A origem do teatro"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

Colégio Luterano Arthur Konrath

Comunidade Evangélica Luterana Cristo Salvador

DISCIPLINA: Artes – 1° ano Ens. Médio – Profa. Daniela Krummenauer

A origem do teatro

Arte, techné, poiesis

Alfredo Bosi, em seu livro Reflexões sobre a arte, ressalta que arte é construção, é um fazer: “A arte é um conjunto de atos pelos quais se muda a forma, se transforma a matéria oferecida pela natureza e pela cultura.”¹

Sendo a arte produção, então é certamente trabalho. Os gregos chamavam a arte de techné, constituindo, assim, um modo exato de perfazer uma tarefa. Bosi² destaca que “a palavra latina ars, matriz do português arte, está na raiz do verbo articular, que denota a ação de fazer junturas entre as partes de um todo.”

Mas a arte não é só trabalho, pois implica liberdade de criação e fantasia em busca da beleza. No jogo de criação, o artista inventa enquanto faz, transforma a realidade dos materiais que tem em mãos através do seu imaginário.

A mistura de tintas não gera uma obra de arte; para isso ocorrer, depende-se essencialmente da capacidade imaginativa de quem trabalha com as tintas e do seu domínio das técnicas. Essa composição estética que só existe no mundo das artes permite o desfrute de um prazer que mistura imaginação, contemplação, reflexão e criação.

O conceito de criação – poiesis – para os gregos abrangia, de modo amplo, tudo aquilo que é causa de que algo (seja o que for) passe do não ser ao ser, como afirmava Platão em O banquete.

Todos esses conceitos são parte intrínseca das reflexões sobre arte e, mesmo que a princípio pareçam distantes de nossa vida, são fundamentais.

A criação de signos, símbolos e imagens

No teatro, tudo é signo. Um espetáculo de teatro está sempre permeado por simbolismos e imagens. Por se tratar de uma arte que agrega em si outras artes, o teatro traz, na sua composição, elementos de artes visuais, música, dança e literatura. Como esses elementos se agregam e constituem um espetáculo?

É necessário observar que nenhum desses elementos deve se sobrepor aos outros, em detrimento de qualidade harmoniosa do resultado final do trabalho. Plasticidade, expressividade, ritmo, sonoridade, palavras, poesia, perspectiva, fundo, forma, claro, escuro, sombra e luz, emoção e razão – todos esses itens são fundamentais na composição teatral.

As imagens são composições plásticas que, no teatro, envolvem personagens (corpos), movimento (dança), palavras (poesia/literatura), espaço cênico (perspectiva e planos) e tempo (ritmo). Como trabalhar com tantos elementos juntos? Essa é uma questão muito importante na reflexão sobre a linguagem do teatro.

Ao pensarmos nas origens do teatro ocidental, é possível perceber o entremear de artes que constituem a teatralidade.

Origens do teatro ocidental

Quando pensamos na origem do teatro, temos como referência o teatro grego, por ser esse o registro mais antigo da cultura ocidental que conhecemos. Existiram, em outras culturas, manifestações artísticas que também poderiam ser consideradas como origem do teatro, mas, muitas vezes, essas manifestações não foram registradas por meio da escrita e sobrevivem como lendas e mitos através da oralidade. Ainda hoje lemos e encenamos tragédias gregas porque temos acesso aos textos escritos nesse período.

(2)

É interessante observar que, na mitologia grega, Dioniso significa “aquele que nasceu duas vezes”. Zeus teria arrancado Dioniso do ventre da sua mãe e o colocado na sua perna, até o seu nascimento. Essa história é bastante emblemática, pois o teatro será sempre uma arte que fala de dualidades e de contradições.

No festival dedicado à adoração de Dioniso, um coro de homens vestidos de sátiros*, ou homens-bodes, cantava e dançava em torno de um altar, representando várias partes de um ditirambo, ou canto coral lírico que contava a vida de um deus. Em certo momento, destacava-se do coro uma figura principal para recitar as passagens importantes da história.

Até o século V a.C., o canto coral lírico era praticamente o único acompanhamento das cerimônias, que se desenrolavam em redor de um altar, quando dos sacrifícios aos deuses, e reunia os elementos dispersos da poesia épica primitiva. As primeiras formas da tragédia parecem ter sido provocadas pela transformação progressiva do coro ditirâmbico em coro trágico**.

Atribuem-se a Téspis, que partiu de Icária em meados do século V a.C. e chegou a Atenas com uma carroça (que, na maior parte das vezes, lhe servia como palco), as primeiras formas reais de teatro. Esse ator, que se tornava muito popular por onde passava, passou a ser presença obrigatória no programa das festa dos concursos de tragédias que as Grandes Dionísias*** haviam inaugurado.

Téspis teria acrescentado ao coro certas partes complementares, que preenchiam os intervalos do canto e se distinguiam por uma forma rítmica diferente. Ele substitui o improvisador, que até então se incumbia desse papel. Os cantos a uma voz (monodias), passaram a chamar-se episódios, que vieram depois a constituir a parte essencial da tragédia. Atribui-se ainda a Téspis a substituição da máscara primitiva, em geral toscamente esculpida em madeira, por outra feita a partir de pedaços de tecidos e estuque pintado, dando ainda às personagens representadas uma expressão nobre e eliminando o anterior aspecto monstruoso.

* Os sátiros, segundo os pagãos, eram semideuses que tinham pés e pernas de bode e habitavam as florestas.

** Etimologicamente, tragédia se origina do grego tragos, que significa “bode”, e oidé, que significa “ode, canção”. (HOUAISS; VILLAR; FRANCO, 2001).

*** Havia quatro celebrações realizadas em Atenas que representavam o louvor a Dioniso: as Dionísias Rurais, as Lenéias, as Dionísias Urbanas ou Grandes Dionísias e as Antestérias.

A tragédia grega

Na Grécia Antiga, segundo Sônia Maria Viegas Andrade³,

a multiplicação de pequenas cidades, cuja expansão acarretava sérios problemas na organização social e política, se fundava, inicialmente [...] na impossibilidade de se ampliar a base religiosa familiar para uma coletividade que ultrapassasse as relações tribais de parentesco. Esse fator contribuiu para que a evolução da cidade grega se orientasse no sentido de emancipar a esfera política do domínio religioso-familiar, inserindo-se a polis num universo legitimado pela razão.

A cidade grega nasceu, assim, como efetivação de um mundo ético, constituindo-se numa comunidade política. A cidade passou a ser um microcosmo em sintonia e integrando com o macrocosmo.

Quando conhecemos um pouco como a cidade grega foi se fortalecendo como ideal democrático, de forma a criar um sentido espiritual de vida política, podemos compreender o desenvolvimento das tragédias gregas, que, a princípio, falavam de histórias profundamente enraizadas na mitologia e, à medida que a democracia evoluía, passaram a destacar o homem, sempre em diálogo com o coro, que representava a cidade, o pensamento coletivo. No auge da democracia ateniense, as tragédias ainda destacavam os deuses; depois, na sua decadência, as tragédias de Eurípedes tratavam, fundamentalmente, do homem e de suas relações.

Como ressalta Sônia Maria Viegas Andrade4,

(3)

incomunicável, mesmo que, a nível familiar, consiga normativizar sua afetividade. O grego percebeu o quanto uma profunda dor moral torna o homem solitário e injustificado na sua ação. [...] O fato de o homem ser patético, um ser que sofre e tem consciência de sua dor, desloca sua linguagem do âmbito da particularidade, para o mundo da solidão subjetiva, onde apenas o indivíduo que sofre tem que haver com sua dor. O grego percebeu que estava dividido entre esse dois mundos, o ético e o patético, o universal e o particular; entre uma exigência e uma situação de fato, entre um ideal e uma contingência.

Os concursos dramáticos davam aos cidadãos a possibilidade de afirmarem a ordem material e espiritual da cidade, ou de manifestarem livremente a sua opinião. Essas festas – concursos das Grandes Dionísias – eram um dos processos mais eficazes de reanimar a coragem, de exaltar os instintos e os sentimentos na embriaguez sagrada de Dioniso e na beleza da tragédia. A magia dos ritos era, assim, substituída pela magia da arte do teatro.

Dessa forma, os conflitos do homem e dos deuses, do indivíduo e do Estado repercutiam em cada um e na cidade inteira. Aristóteles considera a tragédia como o gênero mais elevado, admitindo que seu principal elemento é a ação purificadora das paixões, a catarse, graças aos sentimentos de piedade e de terror que a determinam. O herói grego vive a tragédia do homem diante da força do destino; ele luta contra o destino, que, no entanto, lhe será superior. Diferentemente, o herói moderno luta com suas próprias forças contraditórias internas.

Os tragediógrafos

Durante o séculoV, com a expansão de Atenas, várias mudanças aconteceram no pensamento grego, que estão refletidas na obra dos três grandes tragediógrafos: Ésquilo, Sófocles e Eurípedes. É importante destacar também a obra de Aristófanes (445-386 a.C.), que foi o maior comediante grego. Criou a comédia política. Entre suas obras, mencionamos: As Nuvens, As Vespas, Lisístrata, Os Cavaleiros.

Ésquilo (525-456 a.C.), o primeiro dos grandes tragediógrafos, exprime em suas tragédias o princípio da fé inabalável na ordem justa e grandiosa sem a qual o mundo dos homens não poderia substituir. A vontade do herói entra em choque com a ordem suprema (o poder dos deuses), que lhe mostra seus limites, e o sofrimento do herói se torna um caminho para o conhecimento. Escreveu 60 tragédias, das quais 7 são conhecidas hoje. Ésquilo foi o primeiro a desenhar as máscaras, sendo que ele mesmo interpretava seus principais personagens, criava figurinos e dirigia os espetáculos. Entre suas obras, podemos citar: Agaménnom, Coéforas, Eumênides, Proteu, Prometeu Acorrentado, Sete Contra Tebas e Os Persas.

Para conhecer a escrita de Ésquilo, vamos ler um trecho de Prometeu Acorrentado, na tradução de Alberto Guzik:

PROMETEU

Vede como um deus é tratado pelos deuses! Vede as torturas que me dilaceram e contra as quais devo lutar por milhares de anos. Eis as correntes injuriosas que o jovem chefe dos bem-aventurados imaginou mim. Ai de mim! Ai de mim! Lamento os tormentos que sofro hoje e os que me aguardam no futuro. Quando serei capaz de ver levantando-se o fim de minhas dores? Mas que digo? Conheço todo o futuro com antecipação. Não cairá sobre mim nenhuma desgraça que não tenha previsto. É preciso suportar tão bem quanto possível a sorte que o destino nos reserva e saber que não se pode lutar contra a força da necessidade. Mas é tão impossível calar sobre o que me acontece quanto não calar. Foi devido aos favores que ofereci aos mortais que vejo sob o jugo da necessidade, infortunado que sou..5

Neste trecho de Prometeu Acorrentado, podemos perceber a força da mitologia presente no texto de Ésquilo, assim como a condição do herói grego de não conseguir lutar contra as forças do destino.

(4)

de 100 tragédias, apenas 7 chegaram até nós, entre as quais citamos: Antígona, Ájax, Édipo Rei, Electra, As Traquínias, Filoctetes e Édipo em Colona.

Um trecho de Édipo Rei, na tradução de Geir Campos, mostra um diálogo dinâmico e repleto de tragicidade:

ÉDIPO

Tirésias! Tu que tudo percebes,

do mais claro ao mais denso dos mistérios alto nos céus ou rasteiro na terra,

hás de sentir, mesmo sem poder ver, a desgraça que assola esta cidade... Eis, profeta, por que te procuramos Como última defesa e salvação! [...]

TIRÉSIAS

Deuses! Como é terrível o dom da sabedoria

quando não serve a quem o tem! Eu, tão convencido disso,

Nem me lembrei... Senão, eu não viria.

ÉDIPO

Que foi? Por que te lamentas?

TIRÉSIAS

Deixa-me ir para casa! será mais fácil, assim,

tu carregares o teu fardo e eu o meu...

ÉDIPO

Estranha palavra, a tua:

parecerás inimigo do povo que te acolheu, se negares resposta.

TIRÉSIAS

Vejo que falas no momento errado e não quero incorrer no mesmo erro.

ÉDIPO

(5)

não guardes mais segredos!

TIRÉSIAS

É que vós todos de nada sabeis: não quero resolver as minhas mágoas, para não ter de revelar as tuas...

ÉDIPO

Então sabes e não queres falar? Pretende atraiçoar-nos

e destruir a nação?

TIRÉSIAS

Se o que quero é poupar-nos, a ti e a mim,

por que me fazes perguntas vãs?6

Eurípedes (480 – 406 a.C.), o terceiro dos grandes tragediógrafos, escreveu cerca de 90 peças, mas apenas 18 tragédias e 1 drama satírico nos chegaram intactos. Cético, inquieto, Eurípedes é um autor que reflete sobre a decadência da democracia. A influência desse autor foi considerável, sobretudo no que respeita à evolução da tragédia desse autor foi considerável, sobretudo no que respeita à evolução da tragédia grega. Em suas obras, os dramas humanos ganham importância. Entre elas, podemos citar: Alceste, Medéia, Hécuba, As Suplicantes, As Troianas, Electra, Ifigênia em Tauris e As Fenícias.

Vamos ler um trecho de Medéia que nos mostra como Eurípedes trouxe o ser humano para o centro da sua dramaturgia. No Brasil, Chico Buarque de Hollanda e Paulo Pontes transpuseram a estrutura dessa peça para a realidade brasileira, resultando no espetáculo de grande sucesso Gota d’água.

MEDÉIA

Certamente, a muitos respeitos, difiro de muitos mortais. Assim, a meus olhos, o malvado, o hábil no falar, merece o mais severo castigo. Como ele tem confiança na habilidade de sua linguagem em esconder sob belas palavras suas más intenções, não receia praticar o mal. Mas é menos hábil do que supõe. Deixa, pois, de me atordoar com teus especiosos e artificiosos discursos. Uma só palavra vai confundir-te. Se não fosses um traidor, devias começar por me persuadir, antes de realizar esse casamento, e não por escondê-lo.

JASÃO

Terias servido maravilhosamente aos meus projetos de casamento, se eu o tivesse comunicado a quem, ainda agora, não pode resolver-se a apaziguar o violento ressentimento de seu coração.

(6)

Não era isso o que te preocupava, mas o temor de desonrar tua velhice conservando uma mulher bárbara.

JASÃO

Não foi para ter outra mulher que busquei esse leito real que agora é meu, mas já o disse, eu quis salvar-te, dar reis por irmãos a meus filhos e assegurar assim minha casa.

MEDÉIA

Não, não quero saber de uma glória que eu pagaria tão caro, de uma fortuna que me despedaçaria o coração.

JASÃO

Foste tu quem o quis, não acuses ninguém.

MEDÉIA

Como? Tomei outra mulher? Traí a fé jurada?

JASÃO

Lançaste ímpias maldições contra teus reis.

MEDÉIA

Serei também a maldição de tua casa. [...]

Vai! Pois estás impaciente para rever tua nova amante e contas os instantes que perdes longe de seu palácio7. REFERÊNCIAS 1 BOSI, 1985, p. 13. 2 BOSI, 1985 p. 13. 3 ANDRADE, 1978b, p. 20. 4 ANDRADE, 1978b, p. 32-34.

5 ÉSQUILO, SÓFOCLES, EURÍPEDES, 1980, p. 16. 6 ÉSQUILO, SÓFOCLES, EURÍPEDES, 1980, p. 72-74. 7 ÉSQUILO, SÓFOCLES, EURÍPEDES, 1980, p. 182-185.

Referências

Documentos relacionados

Diversos estudos têm apontado para as interações entre irmãos como influenciadoras no desenvolvimento infantil nos diversos contextos, trazendo contribuições para a

O objetivo geral foi realizar uma revisão de literatura das produções científicas publicadas nas bases de dados SCIELO, LILACS, MEDLINE e PEPSICO, acessadas pela

A partir da análise dos dados coletados, podemos evidenciar por meio dos gráficos, a aplicação da estratégia organizacional iniciada em 2014 e sua evolução em 2015

c) Doença inflamatória intestinal (Nível de Evidência IV, Grau de Recomendação B) 3,4. Deve ainda ser obtido um consentimento informado escrito para a realização de

Thus, the DOVE project (doveproject.eu), a study on IPV in the general population of diverse European cities, provided the opportunity to measure the association between SEP and

Observou-se que as variáveis meteorológi- cas são fortemente correlacionadas entre si, co- mo era de se esperar, e que a concentração de MP10 é correlacionada

Conclusão: Perante tais evidências, torna-se claro que, os professores necessitam de conhecimentos para avaliar comportamentos que causam maior perturbação em contexto escolar e

Dentre eles, destacam-se os dados antropométricos como índice de massa corporal (IMC), circunferência muscular do braço (CMB), circunferência do braço (CB), prega