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A LINGUAGEM POLÍTICA DO PATRIOTISMO À ÉPOCA DAS INDEPENDÊNCIAS NA AMÉRICA IBÉRICA LIBERDADES E CIDADANIAS NA EXPERIÊNCIA DE AUTONOMIA.

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A LINGUAGEM POLÍTICA DO PATRIOTISMO À ÉPOCA DAS

INDEPENDÊNCIAS NA AMÉRICA IBÉRICA – LIBERDADES E

CIDADANIAS NA EXPERIÊNCIA DE AUTONOMIA.

Aluno: Thiago Mathias Costa

Orientador: Marco Antonio Villela Pamplona

Introdução

A invasão da península ibérica pelas forças napoleônicas em 1807 e a subsequente deposição de Fernando VII do trono espanhol, substituído por José Bonaparte, deram lugar a uma conjuntura de “acefalia do reino”. As soluções políticas encontradas na Espanha, em primeiro lugar a Junta Central de Sevilha entre 1808 e 1810, e em segundo lugar o Conselho de Regência a partir de 1810, representaram para a América Hispânica uma oportunidade de experimentar diversas autonomias a partir da criação de Juntas Governativas locais.

Apesar da conquista de autonomia diversas regiões na América ainda governavam em nome do Rei Fernando VII, através as recém formadas juntas. Apenas posteriormente, após a Revolução de Cádiz de 1812, estas começaram a se tornar progressivamente independentes do poder Espanhol e buscaram construir suas respectivas soberanias. No entanto, a consolidação dos Estados modernos da Argentina e do Uruguai na região do Prata seria um processo mais longo e se daria durante a segunda metade do século XIX.

A cidade de Buenos Aires declarou precocemente sua autonomia do poder do Conselho Regional durante a Revolução de maio de 1810. À frente desta esteve um pequeno grupo de descendentes de espanhóis e nascidos na América - os crioulos - influenciados pelo pensamento politico moderno ilustrado que então se desenvolvia no mundo ibérico. Estes se autodenominavam liberais e, ao perceberem com a queda da monarquia que os poderes da coroa haviam sido transferidos para o conselho de regência, pegaram em armas para lutar contra tais representantes. Segundo os portenhos a manutenção do conselho de regência não podia ser considerados legítima, sem a autoridade da figura real que lhe dava e confirmava os poderes. Assim, a autoridade do vice-rei e das demais figuras que então representavam o Império na colônia passou a ser por eles considerada nula.

Apesar de autônoma em relação ao governo espanhol, a nova Junta Governativa deixava claro que governava em nome do verdadeiro Rei Fernando VII. E, logo começou a buscar o apoio dos vários “pueblos” do antigo Vice-Reino do Prata para um seu projeto de governo, que tinha por base a formação do que viria a ser chamado, após a independência da região, de Províncias Unidas do Prata, tendo como capital a cidade de Buenos Aires. Em 1816 foi assinada a declaração de independência do conjunto da região, só reconhecida pela Espanha em 1824, após longos anos de conflitos. Foi esta confederação que participou da Guerra da Cisplatina contra o Império do Brasil.

A Gazeta de Buenos Ayres

Publicada entre 02 de junho de 1810 e 12 de setembro de 1821 a Gazeta de Buenos-Ayres foi primeiro periódico a circular após a Revolução de Maio. Fundada pela Primeira Junta de Governo e disponibilizada semanalmente as quintas-feiras a Gazeta defendia os valores da Junta de Governo e dos ideais revolucionários de 1810 sendo instrumento de propagação de suas ideias e de seu projeto político pela região da cidade de Buenos Aires.

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Durante o tempo que ficou circulando teve 160 números publicados até 1820 quando a numeração reiniciou, tendo mais 72 números publicados até 1821. Além das publicações normais a Gazeta produziu uma grande quantidade de números extraordinários. Todos se encontram a disposição para consulta no site da Biblioteca Nacional da Argentina.

Nos onze anos em que a Gazeta foi publicada muitos editores passaram por sua redação: Mariano Moreno - advogado, jornalista e político argentino, teve um papel decisivo na Revolução de Maio, que conduziu à independência das Províncias Unidas do Rio da Prata -, desde a sua fundação até 20 de dezembro de 1810; Deán Funes - político e eclesiástico argentino, reitor da Universidade de Córdoba, jornalista e escritor. foi defensor da Revolução de Maio e tornou-se membro e diretor político da Junta Grande até março de 1811; Pedro José Agrelo - advogado e político argentino se destacou, entre outras coisas, por ser presidente da Assembleia Constituinte de 1813 e autor do projeto da Constituição Argentina daquele ano. Desde 18 de março até 5 de outubro de 1811; Vicente Pazos Silva - político, escritor, jornalista e religioso, esteve envolvido na política Argentina e Boliviana - e Bernardo Monteagudo - advogado, político, jornalista, militar e revolucionário argentino, participou dos processos de independência no Rio da Prata, Chile e Peru -até 8 de outubro de 1812. Nicolás Herrera - político e jurista da região do Rio da Prata -, nela contribuiu até abril de 1815. Camilo Henríquez - sacerdote, escritor e político chileno, nela escreveu vários ensaios, incluindo a Proclamação de Quirino Lemáchez, onde promoveu a independência do Chile e a liberdade socialté novembro do mesmo ano. Julián Álvarez - advogado e político, dela participou até abril de 1820 e Manuel Antonio Castro - advogado e político argentino, governador Prefeito de Córdoba durante o período das Províncias Unidas do Rio da Prata -, nela ficou até a sua extinção, em 12 de setembro de 1821.

A Gazeta de Buenos Ayres em 1810

Logo nas primeiras linhas de sua edição inaugural a Gazeta, na condição de instrumento da Junta Governativa, deixava claro as suas intenções para o “Pueblo” da cidade de Buenos Aires: “Desde el momento en que un juramento solemne hizo responsable á esta Junta del dedicado cargo que el Pueblo se ha dignado confiarle, ha sido incesante el desvelo de los individuos que la forman, para llenar las esperanza de sus conciudadanos.”

Neste mesmo número a Junta expõe os seus motivos para criar a Gazeta de Buenos Ayres e qual será o seu propósito:

“Para el logro de tan justos deseos ha resuelto la Junta que salga á luz un nuevo periódico semanal con el título de Gazeta de Buenos Ayres, el qual sin tocar los objetos que tan dignamente se desempeñan en el semanario de comercio, anuncie al público las noticias exteriores é interiores que deban mirarse con algún interés. En el se manifetarán igualmente las discusiones oficiales de la Junta con los demas Xefes y Gobiernos, el estado de la Real Hacienda, y medidas económicas para su mejora y una franca comunicación de los motivos que influyan en sus principales providencias, abrirá la puerta á las advertencias que desea qualesquiera que pueda contribuir con sus luces á la seguridad del acerto.” Com o final da Revolução de Maio a Junta viu a necessidade de aumentar a sua zona de influência para o resto da região do antigo vice-reino do prata. Para tanto enviou uma circular para as outras cidades e vilas expondo os motivos de sua criação e convocando que aquelas que quisessem aderir ao seu projeto de governo nomeassem deputados para irem a Buenos Aires discutir o futuro do governo da região do antigo vice-reino. Esta circular foi publicada

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no segundo número da Gazeta de Buenos Ayres de onde podemos destacar o seguinte trecho da edição número dois:

“Era indispensable nombrar un depositario de la Autoridad Superior que obtubiese la confianza del Pueblo, para contener los males que nos amenazaban; y porque este debe ser á satisfaccion de todos los que le han de reconocer, el mismo Pueblo ha pedido que se provisional, y que se convoquen todos sus hermanos para el nombramiento de Diputados de las Ciudades y villas, de que reunidos en esta Capital establezcan el gobierno que haya de merecer toda su confianza y respeto, y que sea la base de su prosperidade.”

Apesar da circular nem todos os “pueblos” da região e do resto América Ibérica concordavam com a instalação da Junta Governativa. Podemos citar como opositores a formação do governo portenho as regiões dos “pueblos” de Montevideo e Salta, e a capital do vice-reino do Peru, Lima. Nos números seguintes a Gazeta dará destaque às manobras feitas por essas três cidades opositoras para impedir o crescimento da influência desta no território do antigo vice-reino do Prata.

A pressão por parte dos opositores pela ilegalidade da formação da Junta Governativa, fez com que esta respondesse através de um manifesto com a sua defesa e ressaltando que o governo portenho governava em nome de Fernando VII buscando autonomia da Junta Central espanhola a qual eles não consideravam como seus soberanos como pode ser visto no trecho a seguir deste manifesto publicado na edição número dezesseis da Gazeta: “La época de nuestra instalación (Junta de Buenos Aires) era precisamente la de la disolución de la Junta Central (…) El digno objeto de nuestro culto es el de la constitución nacional. Juramos por nuestro Rey legitimo al Sr. D. Fernando VII; y protestamos dependencia del poder soberano, que sea legítimamente constituído;” Neste mesmo manifesto a Junta de Buenos Aires deixa clara a sua intenção de não se tornar independente da Espanha: “Señálense todos los caracteres de la independencia é insurrección: ellos son irreconciliables con nuestros princípios”.

Este manifesto vem ao encontro de um artigo da própria Gazeta, publicada no número dezoito, em que seu editor discute o que é soberania e onde ela reside. A resposta do autor é que a soberania reside “en el pueblo” e esta não pode ser transmitida sem o consentimento deste: “Pero aun quando se quiera suponer su legitimidad, ¿podrá acaso deducirse que también podía transmitir la Soberanía? La Soberanía reside únicamente en el pueblo, y quando el la deposita en un individuo, este individuo no adquiere el derecho de desposeerse de ella, y de transferirla sin consentimiento del pueblo.”

Bastante comum nas publicações da Gazeta de Buenos Ayres é a exaltação por parte desta do “Pueblo” portenho e dos demais “pueblos” que decidiram apoiar a Junta Governativa e enviaram seus deputados a capital. Como dito na edição número vinte e dois: “Felizmente se observa en nuestras gentes, que sacudido antiguo adormecimiento manifiestan un espíritu noble dispuesto para grande cosas, y capaz de qualesquier sacrificios, que conduzcan á la consolidación del bien general.”

Há também a exaltação por parte dos editores à própria Junta e ao fato dela ter sido generosa em relação aos “pueblos” como ser visto no trecho a seguir da edição número dezesseis:

“Nada se presenta mas lisongero á um gobierno enpeñado sinceramente em la felicidad de los pueblos, que ver a estos agitados em las questiones e ocurrencias, que tocan directamente a la comunidad. El déspota que teme el decubrimiento de su conducta, procura sofocar en los hombres hasta el deseo de examinarla, y prefiere sepultarse em los abismos

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de que su propria ignorancia lo rodea, antes que premitira aquella francas discusiones, que prodeucen los recursos consiguientes á una general ilustracion. Por fortuna la confianza de los que gobiernan, y de los que son gobernados forma la base mas firme del nuevo gobierno”.

Por fim, na edição número vinte e seis, de 06 de dezembro de 1810, uma nova discussão sobre a forma de se governar e de se fazer política apareceu no editorial do periódico. Neste o autor discorria sobre a necessidade da criação de uma constituição que pudesse proteger os “pueblos” do poder arbitrário. Para tanto ele via como necessário a realização de uma assembleia, da qual participassem todos os representantes dos povos livres de Espanha, incluindo os da América.

“Nuestras provincias carecen de constitución; y nuestra vasallaje no recibe ofensa alguna, porque el congreso trate de elevar los pueblos, que representa á aquel estado político, que el Rey no podría negarles, si estuviese presente.(...) Si consultamos los principios de la forma monárquica, que nos rige, parece preferible una asamblea general, que reuniendo la representación de todos los pueblos libres de la Monarquía, conserven el carácter de unidad, que por el cautiverio de lo Monarca se presenta disuelto.”

No caso da soltura do monarca e de sua recondução ao trono, também este deveria respeitar a constituição criada pelos “pueblos”: “si algún día lograba la libertad, porque suspiramos, una sencilla transmisión le restituiría el trono de sus mayores, con las variaciones, y reformas que los pueblos hubiesen establecido, para precaver los funestos resultados de un poder arbitrário.”

Objetivos

A atual pesquisa propõe uma indagação sobre os valores conferidos à época a alguns termos da linguagem política e social utilizada nas independências (por exemplo: pueblo e libertad, até aqui destacados), para mostrar como se transformaram e se adaptaram àquela conjuntura, influenciando e, simultaneamente, sendo influenciados pelas transformações políticas em curso.

Na documentação existente, percebemos que sobretudo conceitos como “pueblo”, “libertad” e “conciudadano” apresentaram diferentes significados. Conforme o período ou a região retratada e nem sempre seus sentidos eram coincidentes e, mais ainda, já começavam a se diferenciar significativamente daqueles sentidos anteriores mais amplamente utilizados durante o antigo regime.

Metodologia

A pesquisa tomou como ponto de partida o exame de documentos que mostravam as principais notícias e informes produzidos pelas autoridades locais das regiões das cidades de Buenos Aires e Montevidéu, que reagiram à disputa pelo controle da Banda Oriental que vinha sendo promovida pelo Império do Brasil.

Além disso, durante os encontros do grupo de pesquisa, discutimos as análises de certos textos teóricos e historiográficos que foram lidos em conjunto - como os de Demétrio Magnoli [1] e de João Paulo Pimenta [2] - , e apresentamos os nossos respectivos trabalhos individuais.

A análise das diversas formas de autonomia buscadas na reação destas antigas regiões da América Espanhola durante as Independências e as transformações coetâneas dos conceitos

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de Pueblo, Libertad e outros ligados a cidadania, foram a nossa preocupação em todos os estudos de caso.

Como apresentado anteriormente coube-me analisar a Gazeta de Buenos Ayres, mais especificamente as 29 edições publicadas no ano de 1810. O material deste periódico que cumpriu a função de canal oficial da Junta Governativa da cidade e foi editado por muitos membros importantes da Revolução, revelou-se extremamente rico para a análise da linguagem política do patriotismo na região.

Como pano de fundo para o entendimento dos três conceitos apresentados anteriormente como importantes para a discussão da linguagem política na experiência de autonomia no período das independências, deve-se destacar que fizemos amplo uso do Diccionario politico y social del mundo iberoamericano [3] – Iberconceptos (vols 1 e 2) , e este nos foi muito útil. Conclusões

No tratamento que conferimos à discussão do vocabulário político do patriotismo, com especial destaque para conceitos como “Pueblo”, “pueblos” e “libertad” no período assinalado, buscamos atentar para os distintos contextos linguísticos em que foram proferidos os discursos e aos quais os registros e as várias fontes analisadas pertenceram ou estiveram associados. Sempre que possível o reconhecimento e a identificação dos agentes sociais que os produziram e dos seus potenciais receptores foram feitos.

Durante as análises da Gazeta de Buenos Aires do ano de 1810 percebemos que o conceito “pueblos”, inicialmente plural, transitava em duas significações distintas. Servia para designar tanto comunidades locais que se distinguiam étnica e culturalmente umas das outra; como também revelavam aquele sentido de sujeitos depositários de uma dada soberania e, portanto, efetivamente considerados capazes de decidir os rumos políticos que desejavam seguir. O conceito “Pueblo”, já singularizado, também apareceu de duas maneiras distintas nas páginas do periódico: ora vinha vinculado à soberania de uma dada dimensão territorial; ora reforçava um certo caráter político ligado mais à uma nova maneira de representação, que vinha sendo apresentada com a Revolução de Maio.

Os momentos de tensão social e de instabilidade política vividos por Buenos Aires, desde a Revolução de Maio em 1810 até o final da Guerra da Cisplatina em 1828, possibilitaram experiências muito transformadoras cuja amplitude pode se fizeram sentir em todas as camadas sociais. No final do ano de 1810 essa transformação já se iniciara. A discussão da autonomia da cidade frente à Junta Central espanhola e a discussão da formação de um congresso regional entre os “pueblos” que apoiavam a junta portenha para a escrita de uma constituição comum à região por demais influenciaram os principais debates políticos na região, à época. Com nosso estudo pretendemos continuar aprofundando essas questões. Referências

1 – MAGNOLI, Demétrio. O Estado em busca do seu território. In: JANCSÓ, István (Org.). Brasil: Formação do Estado e da Nação. São Paulo: Hucitec, 2003, p.285-296.

2 – PIMENTA, João Paulo. Estado e Nação no fim dos impérios ibéricos no Prata: 1808-1828. São Paulo: Hucitec, 2006, p.103-249.

3 – SEBASTIÁN, Javier Fernández (Org.). Diccionario político y social del mundo iberoamericano. La era de las revoluciones, 1750-1850. Madrid: Fundación Carolina, Sociedad Estatal de Conmemoraciones Culturales, Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, 2009.

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