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A alegação de falsidade da acta da audiência de julgamento deve ser apreciada à luz do artº 170º do CPP 98.

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Tribunal da Relação do Porto Processo nº 0542264

Relator: LUÍS GOMINHO Sessão: 07 Dezembro 2005 Número: RP200512070542264 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: REC PENAL.

Decisão: NEGADO PROVIMENTO.

ACTA DE JULGAMENTO FALSIDADE

Sumário

A alegação de falsidade da acta da audiência de julgamento deve ser apreciada à luz do artº 170º do CPP 98.

Texto Integral

Acordam, em audiência, na Secção Criminal da Relação do Porto:

I – Relatório:

I – 1.) No ..º Juízo de Pequena Instância Criminal do Porto, pelos factos e incriminação melhor constante do auto de fls. 5 e verso, foi o arguido B...

submetido a julgamento, em processo sumário.

Realizado o mesmo, foi condenado pela prática de um crime de desobediência p. e p. pelo art. 348.º, n.º 1, al. a) do Cód. Penal, na pena de 60 (sessenta) dias de multa à taxa diária de € 3,00, ou seja, na multa global de € 180,00 e bem assim nos termos do art. 69.º, n.º 1, al. c) do mesmo diploma, na proibição de conduzir veículos motorizados durante o período de 3 (três) meses.

I – 2.) Inconformado, recorre para esta Relação, sustentando as seguintes conclusões:

1.ª - Não correspondendo, conforme supra descrito, minimamente às declarações prestadas pelo arguido em sede de audiência de discussão e julgamento, a acta de audiência de discussão e julgamento padece de falsidade, o que desde já se invoca.

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2.ª - De igual modo, deve da mesma constar, ainda que em súmula, o conteúdo das declarações prestadas em julgamento, o que manifestamente, in casu, não acontece, já que nada consta cerca das declarações prestadas pela

testemunha C... .

3.ª - Tal falsidade da acta de audiência de discussão e julgamento

consubstancia uma nulidade que deverá conduzir à anulação do julgamento em primeira instância, devendo haver uma repetição do mesmo.

4.ª - Tal falsidade decorre, inclusivamente, do facto de se ter procedido à produção de prova, nomeadamente inquirindo a testemunha presente.

5.ª - O que, como é praxe, não sucede quando há confissão integral e sem reservas.

6.ª - Aliás tal produção de prova seria totalmente inútil, caso existisse a dita confissão.

7.ª - Houve, assim, violação dos arts. 364° n° 4, 99°, 100° e 101°, todos do C.P.P..

8.ª - Normas essas que, a serem correctamente interpretadas e aplicadas, levariam a que, face à prova que não foi produzida, fosse o arguido absolvido.

Termos em que, deverá considerar-se ferida de falsidade a acta de audiência de discussão e julgamento, com consequente nulidade do processado e

respectiva anulação do julgamento efectuado em primeira instância e ulterior repetição do mesmo.

I – 3.) Na sua resposta, a Digna Magistrada do Ministério Público, concluiu, por seu turno:

1.ª - Limita-se o recorrente, na respectiva motivação a, após referenciar as declarações por si prestadas na audiência de discussão e julgamento, concluir, precipitadamente, que a acta de audiência de discussão e julgamento padece de falsidade, o que, então, expressamente invoca.

2.ª - Refere o recorrente, além do mais, que, “quando confrontado com o auto de notícia, o arguido pretendeu prestar declarações.” (sic), o que, de facto

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aconteceu, como aliás consta da acta, ora alegada falsa.

3.ª - Alega o recorrente, “O que fez, referindo que não se havia recusado a fazer qualquer exame. Mais referiu que se prontificou a fazer o exame,

vulgarmente designado por "soprar ao balão. .../... Referiu ainda que realizou o teste cinco ou seis vezes e o resultado foi sempre o mesmo.”

4.ª - Esqueceu-se, contudo o recorrente - convenientemente, diga-se -, de referir que, após a realização, por diversas vezes, de exames de pesquisa de álcool no ar expirado, cujos resultados foram sempre “sopro insuficiente”, recusou-se, a realizar análise de sangue por, alegadamente, “ter medo de agulhas” (sic, declarações do arguido, na audiência de discussão e

julgamento).

5.ª - A conclusão do recorrente “visto que o arguido não confirmou os factos constantes do auto de notícia, tornou-se necessário ouvir a testemunha de acusação, .../..” (sic) é, além de redutora, capciosa pois que, a audição da referida testemunha, não foi determinada pelo facto de não ter o arguido confirmado os factos constantes do auto de notícia, como efectivamente confirmou;

6.ª - Mas antes, para averiguar se o arguido, havia apresentado qualquer justificação, para a respectiva aparente impossibilidade de realização do exame de pesquisa no ar expirado, bem como, para confirmar, se a recusa de realização de análise de sangue, que o arguido expressamente admitiu ter ocorrido, fora então justificada com o, alegado na audiência de discussão e julgamento, "medo de agulhas" (sic).

7.ª - As meras alegações, constantes da motivação do recorrente, manifestamente não abalam a autenticidade da acta em causa, nem a veracidade do seu conteúdo que, em nosso entender, não foram,

fundadamente postas em causa (cfr. art° 169°, do CPP, aplicável in casu ex vi n.º 4, do art° 99°, do mesmo CPP).

8.ª - A acta em questão, não é falsa e logo, inexiste a invocada nulidade, não devendo (podendo), por isso, o julgamento ser anulado, nem repetido.

9.ª - Entende-se não ter havido violação dos normativos indicados pelo/a

recorrente, nem aliás de quaisquer outras disposições legais, antes ter o Mmº Juiz a quo, correctamente e como se impunha, certificado a conformidade da

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acta redigida, assinando-a.

10.ª - Mais se entende que não padece a acta em questão do invocado vício, nem aliás de quaisquer outro e que o processo não enferma de qualquer nulidade, pelo que, não deve o julgamento ser anulado, nem repetido, antes deve ser mantida a condenação do arguido recorrente, negando-se provimento ao interposto recurso e mantendo-se, consequentemente, a douta sentença recorrida, nos seus precisos termos.

II – Subidos os autos a esta Relação, o Exm.º Sr Procurador-Geral-Adjunto emitiu douto parecer no sentido de o recurso dever ser rejeitado em

conferência, por manifesta improcedência.

*

Cumprido o preceituado no art. 417.º, n.º 2, do Cód. Proc. Penal, nada mais foi acrescentado.

*

Seguiram-se os vistos legais.

Procedendo-se a audiência com observância do legal formalismo.

*

Cumpre apreciar e decidir:

III - 1.) Por via da delimitação do objecto do recurso operada pelas conclusões do recorrente, definem-se como questões a decidir por esta Relação:

1.ª – Se a acta de audiência padece de falsidade por não espelhar as declarações prestadas em audiência pelo arguido?

2.ª – Se deveriam ter ficado a constar por súmula as declarações prestadas em julgamento?

3.ª – Na procedência da primeira questão se deve o julgamento ser anulado e repetido?

III – 3.2.) Vejamos primeiro, como é habitual, a matéria de facto definida pela Pequena Instância Criminal do Porto:

No dia 22 de Janeiro de 2005, cerca das 05h10m, na Rua ..., no ..., o arguido conduzia o veículo ligeiro de passageiros, de matrícula ..-..-RZ, marca Mercedes - ..., de cor cinzenta. Conduzido numa viatura da polícia à

Divisão de Trânsito, sita na Rua ..., n°. . desta cidade, para ser submetido

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a exame quantitativo no aparelho Drager-Modelo Alcooltest 7110MKIII o arguido recusou-se a efectuar o citado exame. O arguido foi advertido, de que a recusa em efectuar tal exame o faria incorrer na prática de um crime de desobediência e mesmo assim recusou-se a efectuar o exame em causa.

O arguido agiu de modo livre, voluntário e consciente, bem sabendo que não podia recusar-se a efectuar o exame de alcoolteste, sabendo igualmente quais as consequências legais da sua conduta e, ainda assim, actuou da forma

descrita.

O arguido é casado e tem uma filha a seu cargo.

O arguido é vendedor, auferindo mensalmente a quantia de € 1.000.

A esposa do arguido trabalha num consultório auferindo mensalmente a quantia de € 600.

O arguido tem como despesas mensais € 750.

Não são conhecidos antecedentes criminais do arguido.

III – 3.3.1.) Uma vez que foi invocada a falsidade da acta de audiência, o primeiro problema que esta questão nos coloca é o da sua adjectivação processual.

Como é sabido, o Código de Processo de 1929, na sua habitual proficiência, previa um processo próprio, regulamentado como incidente, para apurar e decidir esse tipo de desconformidade aposta aos documentos – era o incidente de falsidade (cfr. art.ºs 118.º a 124.º).

O actual tem uma simples norma inserta no domínio da prova documental (art.

170.º), em que estatui “que o tribunal pode, oficiosamente ou a requerimento, declarar no dispositivo da sentença, mesmo que esta seja absolutória, um documento junto aos autos como falso, devendo, para tal fim, quando o julgar necessário e sem retardamento sensível do processo, mandar proceder às diligências necessárias e admitir a produção da prova necessárias”.

Perante este enunciado, o Prof. Germano Marques da Silva ao tratar em sede de documentação da audiência (cfr. Curso de Processo Penal, III, pág. 260.), o problema da falsidade da acta de julgamento, remete para o II Volume desta sua obra (ponto n.º 117.3.), que ao fim e ao resto nos reconduz à aplicação do referido art. 170.º, e ironicamente para a doutrina do art. 120.º do Código anterior, que nestes casos, só admitia a invocação da falsidade em momento posterior à prolação da decisão de 1.ª Instância, por via do recurso.

Esta posição parece ter colhido aceitação, pelo menos em termos genéricos, no Ac. desta Relação de 20-06-2001, no Proc. 0140009, disponível no endereço www.dgsi.pt/jtrp.

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Em todo o caso, poderá defender-se que aquele dispositivo tem em vista

apenas os documentos objecto de produção de prova em julgamento (daí a sua inserção sistemática) pelo que, estando em causa a falsidade da respectiva acta, se deveria aplicar subsidiariamente (art. 4.º do Cód. Proc. Penal) o processo regulado no art. 551-A, do Cód. Proc. Civil (falsidade de acto judicial).

Esta parece ser a posição sufragada pelo Ex.º Sr. Procurador-Geral-Adjunto.

III – 3.3.2.) Sem embargo de um melhor estudo futuro destas opções, vamos tomar como boa a Doutrina que preconiza o conhecimento desta falsidade no âmbito de aplicação do mencionado art. 170º (já que a solução oposta poderá desembocar, como o refere aquele douto Magistrado, na manifesta

improcedência do recurso).

Não basta porém alegar a existência de falsidades; é preciso oferecer prova e demonstrar aquilo que se afirma.

Neste particular, o recurso nada refere.

Mas dir-se-á, pode o tribunal mandar proceder às diligências necessárias. É verdade.

III – 3.3.3.) Analisemos então, mais de perto, as “falsidades” alegadas:

Diz o recorrente “que não se recusou a fazer qualquer exame”, que foi sujeito a uma grave e melindrosa intervenção (…) da qual resultaram sequelas graves e permanentes”, “só não realizou o “teste do balão” devido a essas sequelas respiratórias” (…).

Ora não negando o arguido ter prestado declarações, a melhor forma de se apurar a realidade do que agora se afirma são as respectivas gravações magnetofónicas.

Só que neste particular somos confrontados com a circunstância, não impugnada como falsa na acta, em como, quer a Digna Magistrada do Ministério Público, quer o seu Ilustre Defensor Oficioso, terem afirmado prescindir da documentação da audiência.

Assim sendo, não só ficamos privados do meio mais fidedigno para se apurar a realidade ora posta em dúvida, como por via do art. 428.º, n.º 2, do Cód. Proc.

Penal, o arguido renunciou ao recurso sobre a matéria de facto.

Não tem pois cabimento vir a alegar-se que se disse ou não disse, pois isso é irrelevante para uma modificação da matéria de facto que não pode ser concedida.

Não está escrito em sítio nenhum da acta que o arguido mencionou que “não se recusou a fazer qualquer exame”, “que foi sujeito a uma grave e melindrosa

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intervenção (…) da qual resultaram sequelas graves e permanentes”, que “só não realizou o “teste do balão” devido a essas sequelas respiratórias” (…), pelo que não se procure uma desconformidade com o que não existe.

O que se questiona, é se o arguido confessou ou não os factos, o que não deixando de ser nesse sentido também um “facto”, trás consigo uma carga conclusiva significativa, já que pressupõe uma definição daqueles que se mostram relevantes em função do tipo legal imputado, para mais, nos casos como o presente, em que não existiu propriamente uma acusação, já que foi substituída pela leitura do auto de notícia.

III – 3.3.4. – Não queremos no entanto crer, que estejamos perante uma tentativa ínvia de impugnação daquilo que por outra via, a adequada, já se sabe não se poder obter.

Será que na realidade o arguido não confessou os factos?

Não nos deixa de impressionar a circunstância de na hipótese de tal ter acontecido, o ora Defensor, que é o mesmo que patrocina o recurso, não se tivesse insurgido - como até ao momento parece não se insurgir -, com aquele trecho que também da acta consta, e mais do que isso, em face do facto que lhe subjaz, segundo o qual a Mmª Juiz, seguramente em tom audível,

perguntou ao arguido “se fazia tal confissão de livre vontade e fora de

qualquer coacção” e que tendo ouvido esta frase não ficasse logo inteirado do significado destas expressões.

A perplexidade não diminui, quando se constata que tendo a sentença sido notificada a todos os presentes (em que o arguido e o seu Defensor se

incluíam), e perante as repetidas referências nela feitas à confissão, se venha agora invocar a surpresa do arguido “quando constatou que consta da acta de audiência de discussão e julgamento que “… pelo arguido foi dito pretender confessar os factos, que lhe são imputados”.

Em todo o caso, falecendo as gravações, que prova temos para dirimir esta disputa.

A audição da Sr.ª Juiz não nos parece relevante: estando a sentença toda ela construída sobre a confissão do arguido (quer na fundamentação de facto, quer na aplicação da pena), e tratando-se de uma processo sumário em que como tal, a decisão segue imediatamente ao julgamento, não vemos como pudesse deixar de sustentar tal confissão.

Por outro lado, a existência de uma conduta menos ética de sua parte, em condições nenhumas será de presumir.

O arguido, obviamente, terá também que confirmar o alegado.

Desconhecemos a posição do seu Defensor, já que as afirmações são postas na

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boca da pessoa do recorrente.

Em todo o caso, tendo estado presente em audiência, não se concebe que possa prestar-se a uma alegação com gravidade da que temos em mãos, se a tivesse por infundada.

Como resolver: Analisando a posição da entidade que neste particular não é parte interessada e que funcionalmente tem igualmente uma papel importante na manutenção da legalidade dos autos.

O que nos diz o Ministério Público:

Que a alegação de falsidade é “inverídica”, “se não leviana, no mínimo temerária”, “acintosa”, perpassando em toda a sua indignada resposta um total repúdio por essa invocação.

Mas este repúdio não é apenas formal. A Exm.ª Sr.ª Procuradora Adjunta rebate todas as afirmações produzidas, contextualiza os termos e as condições em que o arguido as produziu, e circunscreve as razões que determinaram a inquirição da testemunha C... .

Os termos em que os faz, tranquilizam-nos no sentido de não carecer o incidente de mais prova para a sua decisão: a improcedência.

E não se alegue com o preceituado no art. 100.º do Cód. Proc. Penal, pois aqui não há declarações nenhumas que devam ser redigidas por súmula.

A circunstância de ainda assim ter sido ouvida uma testemunha, sem embargo do preceituado no art. 344.º, n.º 2, al. a), do Cód. Proc. Penal, não é para nós decisiva, já que este preceito, no seu n.º 3, prevê diversas derrogações a tal estatuição, nada obstando que o Tribunal, nessas ou outras condições, inquira uma ou mais testemunhas, para aquilatar de aspectos conexos com os factos confessados, sempre que sobre eles tenha dúvidas.

Nesta conformidade:

IV - Decisão

Nos termos e com os fundamentos indicados, nega-se provimento ao recurso interposto pelo arguido B..., confirmando-se assim a decisão recorrida.

Pelo seu decaimento, ficará condenado em 10 (dez) UCs, de harmonia com o preceituado nos art. 513.º e 514.º do CPP e 87.º, n.º1, al. b), do CCJ.

Elaborado em computador. Revisto pelo Relator, o 1.º signatário.

Porto, 7 de Dezembro de 2005

Luís Eduardo Branco de Almeida Gominho

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Jacinto Remígio Meca

Custódio Abel Ferreira de Sousa Silva Arlindo Manuel Teixeira Pinto

Referências

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