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PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO INFANTIL E SUAS CORRELAÇÕES COM O REPERTÓRIO DE HABILIDADES SOCIAIS EDUCATIVAS PARENTAIS

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PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO INFANTIL E SUAS CORRELAÇÕES COM O REPERTÓRIO DE HABILIDADES SOCIAIS EDUCATIVAS PARENTAIS

SILVANY ELLEN RISUENHO BRASIL

1

FABIANA CIA

2

Universidade Federal de São Carlos

Agência financiadora: CAPES

INTRODUÇÃO

É no ambiente familiar que ocorre a socialização primária da criança, onde ela vai aprender por meio de orientações, instruções e exortações para estabelecer regras; através do uso de recompensas e punições como estratégias de manejo das consequências e por observação do modelo comportamental dos pais na apresentação de modelos de novos comportamentos (CAMARGO; BOSA, 2012; DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2005; GRISANTE; AIELLO, 2012; MARTÍNEZ, JUSTICIA; CABEZAS, 2009; SKINNER, 1975).

Desta forma, pressupõe-se que os pais precisam ter conhecimento a respeito de seus padrões de interação com os filhos, sobre o desenvolvimento infantil e sobre as consequências de seus próprios comportamentos a fim de que possam modificar possíveis comportamentos infantis caracterizados como indesejados ou inadequados (GROSSI, 2003).

A literatura aponta inúmeros problemas decorrentes de uma educação com ausência de limites para as crianças na medida em que este ambiente familiar se torna um ambiente de risco ao seu desenvolvimento tanto na infância quanto em estágios posteriores (CANAAN- OLIVEIRA; COLS, 2002; GOMIDE, 2003; MAIA; WILLIAMS, 2005; SALVADOR;

WEBER, 2005).

Há dois grupos de problemas de comportamento na psicopatologia infantil (DEL PRETTE;

DEL PRETTE, 2008a): externalizantes e internalizantes. No primeiro grupo, os problemas ocorrem em relação a outras pessoas e onde se identificam as crianças agressivas, opositoras, com conduta hiperativa e comportamentos antissociais. No segundo grupo, identificam-se as crianças que evitam relacionamentos com outros (pares ou adultos), isolam-se ou tem dificuldade de iniciar-se e manter-se em atividades de interação e apresentam sintomas depressivos.

Silvares (2004) aponta que as contingências familiares são responsáveis por boa parte do controle sobre a maioria dos comportamentos infantis, logo os pais teriam maiores possibilidades de manter ou modificar os comportamentos das crianças, quer sejam adequados ou não, tendo em vista que os membros de um grupo são capazes de aprender e ensinar mutuamente (SKINNER, 1975).

1 Psicóloga Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação Especial (UFSCar); endereço: Rua dos Inconfidentes, 50 – Parque Arnold Schmidt – São Carlos – SP; e-mail: risuenhobrasil@gmail.com.

2 Psicóloga Doutora em Educação Especial (UFSCar), professora do Programa de Pós-Graduação em Educação Especial. Endereço: Universidade Federal de São Carlos, Centro de Educação e Ciências Humanas, Departamento de Psicologia – Rodovia Washington Luís, Km 235; e-mail: fabianacia@hotmail.com.

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Entretanto, é comum que estes pais não modifiquem os comportamentos problemáticos identificados em seus próprios filhos em virtude da falta de habilidades de ensino de comportamentos adequados quer seja pelo uso de disciplinas inconsistentes e inadequadas (SILVA; CIA, 2012) ou pelo fracasso no manejo de esquemas de reforçamento ou punição (LUBI, 2003).

É necessário, então, que pais e filhos apresentem um variado e adequado repertório comportamental. Na interação social, as habilidades sociais são definidas como “diferentes classes de comportamentos sociais do repertório de um indivíduo [...] favorecendo um relacionamento saudável e produtivo com as demais pessoas” (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2008a, p. 31), considerando que este indivíduo participa de diversos contextos, culturas e situações (família, escola, trabalho, lazer, esporte, religião, dentre outros).

As habilidades sociais “intencionalmente voltadas para a promoção do desenvolvimento e aprendizagem do outro” (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2001, p. 95) são chamadas de Habilidades Sociais Educativas e, dentre esse conjunto, há especificamente aquelas aplicáveis aos pais nas práticas educativas de seus filhos (BOLSONI-SILVA, 2003; DEL PRETTE;

DEL PRETTE, 2008B; BOLSONI-SILVA; LOUREIRO, 2010), as chamadas Habilidades Sociais Educativas Parentais (HSEP-P).

Bolsoni-Silva e Del Prette (2002), Bolsoni-Silva, Del Prette e Oishi (2003), Pinheiro et al.

(2006) e Tucci (2011), dentre outros, tem desenvolvido pesquisas indicando que há associação entre problemas de comportamento infantil e o repertório de habilidades sociais educativas parentais. Estas pesquisas apontam que a redução ou eliminação de comportamentos inadequados dos filhos dependem da mudança na prática educativa parental.

Desta forma, o contexto familiar pode ser considerado tanto favorável quanto desfavorável ao desenvolvimento dos filhos, funcionando como um fator de risco ou protetivo ao desenvolvimento infantil (BEE, 2008; MARTURANO; LOUREIRO, 2003; MALDONADO;

WILLIAMS, 2005; RIOS; WILLIAMS, 2008) e melhor identificado por professores nas interações que ocorrem dentro do contexto escolar (VALLE; GARNICA, 2009).

OBJETIVO

Relacionar as habilidades sociais educativas parentais e os problemas de comportamento dos filhos segundo avaliação de pais e professores.

MÉTODO

Participantes

Participaram desta pesquisa 35 mães e cinco pais, com idades variando entre 19 e 66 anos

(média de 29,30 anos). Em relação à formação, 15 declararam ter Ensino Médio completo,

oito tinham o Ensino Fundamental incompleto, seis com o Ensino Superior completo, quatro

o Ensino Médio incompleto e Ensino Superior incompleto, dois o Ensino Fundamental

completo e um declarou-se Analfabeto. Segundo Critério Brasil, 24 dessas famílias

pertenciam à Classe C, 11 à classe D e cinco à classe B2. A média da renda familiar dos

participantes era de R$ 927,00, variando entre R$ 424,00 e R$ 1.699,00.

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Dentre as 40 crianças, 24 eram do sexo masculino e 16 do sexo feminino. As idades variaram entre dois e seis anos (média de três anos) e todas estavam frequentando pré-escola pública, distribuídas nas fases 2 (n=7), fase 3 (n=5), fase 4 (n=14), fase 5 (n=12) e fase 6 (n=02).

Também responderam como participantes da pesquisa 25 professoras e um professor de classe comum da Educação Infantil. Suas idades variaram entre 28 e 52 anos com média de 35 anos.

Em relação à sua formação acadêmica, 17 possuíam Ensino Superior completo (graduados entre 1995 e 2010), 07 declararam ter Ensino Superior incompleto e dois, o Ensino Médio.

Quanto ao tempo de profissão, nove professores relataram ter de seis a 10 anos de exercício da profissão, sete tinham de três a cinco anos, cinco declararam ter de 15 a 20 anos, quatro tinham até dois anos de profissão e dois tinham de 11 a 15 anos.

Local de coleta de dados

A pesquisa foi realizada em quatro cidades de dois estados da região Norte e Sudeste do Brasil. Os instrumentos foram aplicados aos participantes preferencialmente nas dependências das pré-escolas.

Coleta de dados

Os pais responderam a dois instrumentos:

Social Skills Rating System – SSRS – Versão para Pais. Escala likert de três pontos com 55 itens que avaliam a percepção e importância dos pais quanto ao repertório de habilidades sociais e à existência e intensidade de problemas de comportamento internalizantes e externalizantes nas crianças. Este instrumento foi validado para o contexto do Ensino Fundamental no Brasil por Bandeira et al. (2009)

Inventário de Habilidades Sociais Educativas – IHSE-Del Prette para pais.

Escala likert de cinco pontos que se propõe a avaliar o repertório de Habilidades Sociais Educativas de pais em cinco distintos fatores (F1 – Estabelecer limites, corrigir, controlar; F2 – Demonstrar afeto e atenção; F3 – Conversar/dialogar; F4 – Induzir disciplina; F5 – Organizar condições educativas) com base na estimativa que o respondente faz sobre a frequência com que reage da forma indicada em cada item. Este instrumento estava em fase de elaboração e avaliação psicométrica, por isso foram utilizadas as versões com 83 e 60 itens.

Os professores responderam a um instrumento:

Social Skills Rating System – SSRS – Versão para Professores. Escala likert de três pontos e cinco pontos com 57 itens que avalia a percepção de professores quanto o repertório de habilidades sociais, a existência e intensidade de problemas de comportamento internalizantes e externalizantes das crianças e desempenho acadêmico da criança.

Procedimento de coleta e análise de dados

Após aprovação do Comitê de Ética, foi feito contato com as Secretarias de Educação e

diretamente com uma instituição, que concederam autorização para a pesquisa nas pré-

escolas/creches que tivessem interesse em participar. Em cada unidade contatada, o projeto

foi apresentado em reuniões individuais para a direção e reuniões coletivas para professores e

funcionários. O contato com os participantes foi feito ou por meio de cartas-convites que

deveriam ser repassadas a pais/mães das crianças e devolvidas para a primeira pesquisadora a

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fim de serem feitos os contatos telefônicos com aqueles que indicaram disponibilidade para a pesquisa ou por meio de uma reunião coletiva onde eles também puderam sinalizar interesse ou não em participar.

Após o aceite em participar da pesquisa, as entrevistas foram agendadas de acordo com a disponibilidade de dia, horário e local de cada pai/mãe. Cada participante leu e assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para que, uma vez autorizado, fosse iniciada a aplicação dos instrumentos, em forma de entrevista conjunta (para pais) e questionário (para professores).

Com os pais, a pesquisadora lia cada item em voz alta e o participante acompanhava a leitura num instrumento idêntico, indicando qual sua resposta. A maioria das entrevistas foi realizada no próprio espaço da pré-escola (refeitório, secretaria, sala de recursos ou sala da direção).

Com os professores, os questionários foram entregues logo após a realização das entrevistas com os pais dos alunos e agendada uma data para devolução (em média, uma semana).

Os dados coletados foram catalogados no banco de dados SPSS (Statistical Program for Social Sciences), versão 20, e analisados de acordo com as normas dos respectivos instrumentos. Para investigar as Habilidades Sociais Educativas Parentais (HSE-P) e as Habilidades Sociais dos filhos, foi utilizado o teste de correlação de Pearson, adotando-se o nível de significância de p<0,1 (em decorrência do baixo número de participantes).

RESULTADOS

Na Tabela 1, apresentam-se a média e o desvio padrão de cada fator de HSE-P respondido pelos pais e avaliado pelo instrumento IHSE-Del Prette em ordem decrescente de média.

Tabela 1. Medidas de tendência central e dispersão dos fatores das habilidades sociais educativas parentais

IHSE MÉDIA D.P.

Fator 1 – Estabelecer limites, corrigir, controlar 3,87 0,64

Fator 2 – Demonstrar afeto e atenção 3,78 0,31

IHSE total 3,14 0,57

Fator 4 – Induzir disciplina 2,74 0,83

Fator 5 – Organizar condições educativas 2,73 0,76

Fator 3 – Conversar/dialogar 2,47 0,90

Nota: A pontuação para cada item variou entre 0 (nunca) e 4 (sempre).

Conforme apontam os dados da Tabela 1, as maiores médias estiveram relacionadas a comportamentos dos pais de estabelecer limites, corrigir e controlar e de demonstrar afeto e atenção. Comportamentos relacionados a conversar e dialogar apresentaram as menores médias no repertório de habilidades sociais educativas dos pais. Na Tabela 2, apresentam-se a média e o desvio padrão de cada fator dos problemas de comportamento das crianças respondido pelos pais e pelos professores, em ordem decrescente de média.

Tabela 2. Medidas de tendência central e dispersão dos problemas de comportamento das crianças, segundo avaliação de pais e professores

PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO MÉDIA D.P. FAIXA MÉDIA Avaliação dos Pais

Hiperatividade 6,88 2,63 0,62 – 3,66

Externalizantes 7,23 2,97 3,53 – 8,77

(5)

Internalizantes 2,85 1,76 2,56 – 6,26

Problemas de Comportamento total 16,00 5,69 8,04 – 19,18

Avaliação dos Professores

Externalizantes 14,74 7,97 0,25 – 7,85

Internalizantes 4,33 2,91 0,00 – 3,24

Problemas de comportamento total 18,26 9,26 0,87 – 8,97

Segundo relato dos pais, as crianças apresentaram-se dentro da média para a mostra de referência (BANDEIRA et al., 2009) para os Problemas de Comportamento Externalizantes, Problemas de Comportamentos Internalizantes de Problemas de Comportamento total. Estes mesmos pais avaliaram que as crianças apresentaram média superior para Problemas de Comportamento de Hiperatividade. Este grupo relaciona-se a comportamentos da criança que envolvem movimento excessivo, inquietação e reações impulsivas.

Na avaliação dos professores, as crianças apresentaram média superior para todos os tipos de problemas de comportamento avaliados pelo instrumento quando comparadas à mostra de referência (BANDEIRA et al., 2009).

Não foram encontradas correlações significativas entre os fatores de HSE-P avaliados pelo instrumento e os Problemas de Comportamento das crianças. Desta forma, optou-se por analisar as correlações entre os itens do instrumento IHSE-Del Prette com os fatores que compõem as escalas de problemas de comportamento das crianças, segundo avaliação de pais conforme demonstrado na Tabela 3.

Tabela 3. Correlações entre as habilidades sociais educativas parentais e os problemas de comportamento das crianças segundo avaliação dos pais

Habilidades Sociais Educativas

Parentais Hiperatividade PC

Externalizantes

PC Internalizantes

PC totais Meu filho conversa comigo sobre seus

planos e atividades -0,391*

Chamo a atenção do meu filho para aspectos do meu comportamento que considero importante ele imitar em situações similares

-0,265+

Meu filho entende quando estou lhe dando

explicações sobre relacionamentos -0,346* -0,268+

Percebo quando meu filho está triste ou

magoado -0,304+ -0,358*

Quando meu filho apresenta comportamentos desejáveis (dizer “por favor”, expressar opinião, realizar uma tarefa nova), valorizo isso fazendo referência elogiosa a eles

-0,371* -0,279+

Quando meu filho demonstra atenção ou

gentileza para comigo, eu retribuo -0,388* -0,309+ -0,258+

Explico ao meu filho as consequências dos comportamentos desejáveis e indesejáveis na relação com outras pessoas

-0,322*

Quando meu filho está com algum problema pessoal, eu o ajudo a encontrar alternativas de solução

-0,303+ -0,355*

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Incentivo meu filho a trazer colegas para brincar ou realizar atividades em nossa casa

-0,269+

Peço a meu filho que reaja positivamente (elogiar, concordar, abraçar) a colega que se comportou de forma desejável

-0,300+

Sugiro conteúdos de músicas, filmes, brinquedos, poesias, etc., para ensinar a meu filho habilidade de convivência

-0,274+ -0,272+ -0,338*

Quando recebo uma crítica injusta de meu filho, eu me defendo explicando minha posição

-0,330* -0,325* 0,312*

Oriento meu filho a avaliar o efeito de seu

comportamento sobre as outras pessoas -0,349*

Nota= +p<0,1; *p<0,05; **p<0,01.

Legenda = PC – problemas de comportamento

Os Problemas de Comportamento de Hiperatividade e Problemas de Comportamentos totais obtiveram correlações significativas e negativas com sete itens do repertório de habilidades sociais educativas parentais como, por exemplo, “quando meu filho apresenta comportamentos desejáveis (dizer ‘por favor’, expressar opinião, realizar uma tarefa nova), valorizo isso fazendo referência elogiosa a eles” e “quando meu filho está com algum problema pessoal, eu o ajudo a encontrar alternativas de solução”. Os Problemas de Comportamento Externalizantes obtiveram correlações negativas e significativas com cinco itens (por exemplo, “chamo a atenção do meu filho para aspectos do meu comportamento que considero importante ele imitar em situações similares”) e os Problemas de Comportamentos Internalizantes obtiveram quatro correlações negativas e significativas com os itens (por exemplo, “incentivo meu filho a trazer colegas para brincar ou realizar atividades em nossa casa”).

Na Tabela 4, encontram-se as correlações entre os itens do instrumento IHSE-Del Prette com os fatores que compõem as escalas de problemas de comportamento das crianças, segundo avaliação de professores.

Tabela 4. Correlações entre as habilidades sociais educativas parentais e os problemas de comportamento das crianças segundo avaliação dos professores

Habilidades Sociais Educativas Parentais PC Externalizantes

PC Internalizantes

PC totais Quando meu filho apresenta comportamentos desejáveis

(dizer “por favor”, expressar opinião, realizar uma tarefa nova), valorizo isso fazendo referência elogiosa a eles

-0,329+

Levo meu filho para lugares diferentes (casa de amigos/primos, parques, ar livre) para favorecer a interação social dele com outras pessoas

-0,343+

Quando meu filho inicia algum comportamento

indesejável, eu imediatamente o interrompo -0,405*

Quando meu filho demonstra atenção ou gentileza para

comigo, eu retribuo -0,460* -0,447*

Nota= +p<0,1; *p<0,05; **p<0,01.

Legenda = PC – problemas de comportamento

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Segundo avaliação dos professores, foram encontradas correlações significativas e negativas entre os Problemas de Comportamento Externalizantes e o item “quando meu filho apresenta comportamentos desejáveis (dizer ‘por favor’, expressar opinião, realizar uma tarefa nova), valorizo isso fazendo referência elogiosa a eles”, entre os Problemas de Comportamento Internalizantes e os itens “levo meu filho para lugares diferentes (casa de amigos/primos, parques, ar livre) para favorecer a interação social dele com outras pessoas”, “quando meu filho inicia algum comportamento indesejável, eu imediatamente o interrompo” e “quando meu filho demonstra atenção ou gentileza para comigo, eu retribuo”, sendo que este último item também teve correlação com os Problemas de Comportamentos totais.

DISCUSSÃO

As Habilidades Sociais Educativas Parentais com maior frequência no repertório dos pais, avaliados por eles próprios, são apontados na literatura como importantes na medida em que os pais indicam para as crianças quais comportamentos são permitidos ou adequados de acordo com o contexto, além de se tornarem modelos de comportamentos (BOLSONI- SILVA; DEL PRETTE, 2002; MARTÍNEZ; JUSTICIA; CABEZAS, 2009). Desta forma, diminui-se a ansiedade dos filhos frente a situações em que se esperam deles comportamentos adequados.

Habilidades Sociais Educativas Parentais relacionadas a demonstrar afeto têm sido reveladas na literatura como um fator protetivo ao desenvolvimento social da criança na medida em que não estão negligenciadas pelos pais (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2008A; MAIA;

WILLIAMS, 2005). Da mesma forma, aprendendo estes comportamentos afetuosos no ambiente familiar, estas crianças tendem a reproduzi-los em outros ambientes não familiares (CAMARGO; BOSA, 2012; DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2005; GRISANTE; AIELLO, 2012; MARTÍNEZ, JUSTICIA; CABEZAS, 2009).

Além disso, foi encontrado um repertório pouco extenso de habilidades sociais educativas parentais relacionadas a conversar e dialogar. Uma possível explicação reside no fato de que, pela idade e fase de desenvolvimento das crianças, estes pais tenham usado mais práticas de modelação do que de modelagem e uso de regras para ensinar comportamentos adequados para seus filhos.

Pais e professores avaliaram diferencialmente os problemas de comportamento das crianças.

Os pais identificaram que as crianças estavam acima da média normativa (BANDEIRA et al., 2009) para comportamentos de hiperatividade. Discute-se este dado de acordo com os achados de Bolsoni-Silva, Del Prette e Oishi (2003) quando estes autores apresentam que as crianças podem estar tanto reproduzindo um comportamento observado e aprendido em casa, no modelo de interação com os pais, quanto estes podem estar reforçando positiva e diferencialmente estes padrões de comportamentos, mesmo que considerados por eles como inadequados, por não estarem conscientes e ativos sobre os processos de reforçamento e punição (LUBI, 2003; SILVA, CIA, 2012).

Na avaliação dos professores, estes identificaram problemas de comportamentos acima da

média padrão (BANDEIRA et al., 2009), no repertório das crianças, em todos os tipos

avaliados pelo instrumento. Infere-se que, uma vez inseridas nas escolas, as crianças ainda

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apresentem manejos inadequados de resoluções de conflitos com os pares em diversos contextos dentro da dinâmica da Educação Infantil. Desta forma, é importante a avaliação feita por professores como juízes externos à opinião dos pais uma vez que eles são capazes de observar e interagir com as crianças em ambientes não familiares e em mais de um espaço dentro do contexto escolar.

Observaram-se correlações específicas entre alguns componentes do repertório das habilidades sociais educativas parentais com tipos de problemas de comportamentos avaliados por pais e professores. De modo geral, os dados indicam que, quanto melhor o repertório de HSE dos pais, menor a ocorrência de problemas de comportamento das crianças.

Os dados também apontam que pais identificaram mais problemas de comportamento nos filhos de acordo com suas HSE-P, reiterando a literatura que diz que os pais tendem a atribuir maior número de problemas de comportamentos nos filhos (BOLSONI-SILVA; DEL PRETTE; OISHI, 2003). Os professores, entretanto, indicaram menor ocorrência de problemas de comportamentos das crianças em função do repertório de habilidades sociais educativas dos pais. Infere-se que estes profissionais são capazes de avaliar diferencialmente, logo avaliam melhor, respostas habilidosas e não habilidosas das crianças no contexto escolar (VALLE; GARNICA, 2009).

CONCLUSÕES

Esta pesquisa pode contribuir para o melhor entendimento das relações entre o repertório de Habilidades Sociais Educativas Parentais e a existência de problemas de comportamentos no desenvolvimento infantil, considerando o contexto da Educação Infantil e as poucas pesquisas existentes sobre estas variáveis nesta etapa da escolarização.

Os pais apresentaram melhores habilidades de estabelecer limites, corrigir e controlar, consideradas importantes para a educação das crianças nos primeiros anos de vida. Estes mesmos pais avaliaram que as crianças apresentaram problemas de comportamentos de hiperatividade, que obtiveram correlações negativas com comportamentos específicos no repertório dos pais.

Entretanto, os professores identificaram maior ocorrência de problemas de comportamentos das crianças e os dados indicaram menos correlações negativas entre estes problemas de comportamentos e o repertório de habilidades sociais educativas dos pais.

Ressalta-se, ainda, a importância de duas fontes de informação sobre as crianças, pais e professores, na medida em que é possível obter mais e melhores informações da criança em mais de um ambiente social em que ela participe.

Em síntese, crianças filhas de pais que apresentam melhor repertório de habilidades sociais educativas parentais, logo apresentam maior variabilidade comportamental e melhor manejo de situações potencialmente educativas, tendem a apresentar menores ocorrências de problemas de comportamento ao longo da infância.

Sugerem-se, a partir destes resultados, intervenções de caráter preventivo com pais ou grupos

de pais a fim de que estes possam ser instrumentalizados e possam atuar como fator de

proteção eficaz para a ocorrência ou manutenção de problemas de comportamento ao longo

do desenvolvimento infantil.

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REFERÊNCIAS

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