ISSN: 2178-7514 Vol. 9| Nº. 3| Ano 2017
TREINO DURANTE UMA SESSÃO DE TREINAMENTO DE FORÇA POR PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO FISICA.
Elaine Silva1, Marco Antonio Marques1, Moisés Diego Germano2, Márcio Antônio Gonsalves Sindorf2, Paulo Henrique Marchetti4,
Alexandre Evangelista3, Charles Ricardo Lopes1,2
RESUMO
Objetivo: O objetivo deste trabalho foi identificar através de análise qualitativa o conhecimento sobre a pausa de treino durante uma sessão de treinamento de força em profissionais de educação física atuantes em academias de Hortolândia e região. Método: Esta pesquisa possui caráter qualitativo sobre o conhecimento dos avaliados por meio de um questionário de múltipla escolha. O questionário foi respondido por 39 sujeitos, sendo 6 estagiários e 33 professores formados. Resultados: ficou evidenciado um baixo nível de conhecimento sobre o assunto por parte dos participantes, sendo que os mesmos atingiram ~48% de acerto. Conclusão: Concluiu-se que os entrevistados apresentaram um nível de domínio do assunto razoavelmente baixo, pois atingiram um valor de ~48% de acerto nas seis questões.
Palavras Chave: Recuperação; Educação; Intervalo de treino; Metabolismo; Performance.
ABSTRACT
Objective: The objective of this study was to identify through qualitative analysis the knowledge about training interval during a resistance training session in Hortolandia and region. Method: This research was conducted by a qualitative analysis. The questionnaire was completed by 39 trained teachers. Results: the evidenced of this study showed a low level of knowledge on the subject by the participants, and they reached ~ 48% of accuracy. Conclusion: It was concluded that the respondents had a low knowledge about interval training, reaching a value of ~ 48% of accuracy.
Keywords: Recovery; Education; Rest interval; Metabolism; Performance.
Autor de correspondência Charles Ricardo Lopes
Rodovia do Açucar, km 156, s/n – Campus Taquaral – Mestrado e Douto9rado em Ciências do Mo0vimento Huamno – UNIMEP. Piracicaba-SP, Brasil. Tel: 55 – 19 – 31241558; Fax: (19) 31241620.
E-mail: chrlopes@unimep.br
1- Faculdade Adventista de Hortolândia – IASP, Hortolândia/SP, Brasil. 2- UNIMEP, Piracicaba/SP, Brasil.
3- Universidade Nove de Julho – UNINOVE, São Paulo/SP, Brasil. 4- Department of Kinesiology. California State University Northridge. Northridge. CA. USA
INTRODUÇÃO
Atualmente há um considerável crescimento na quantidade de pessoas que estão aderindo à prática da atividade física em academias, clubes ou até mesmo em praças públicas. Com isso, a busca pelo profissional de educação física vem se tornando necessária nesses diferentes ambientes1.
O profissional de educação física atua dentro de diversas áreas do fitness, que pode ser a ginástica, a hidroginástica, natação, treinamento funcional, a musculação, entre tantas outras. Dentro de cada uma dessas áreas do fitness, é necessário um planejamento e prescrição específica para cada atividade desenvolvida. Um dos métodos mais utilizados atualmente é o treinamento de força (TF), devido a sua capacidade de induzir diversas adaptações neuromusculares, metabólicas e morfológicas na população jovem e idosa, que podem contribuir para a manutenção da massa corporal e a saúde2,3. Contudo, tais respostas
adaptativas são dependentes da manipulação das variáveis agudas que norteiam o contínuo processo do treinamento 4, como a frequência
semanal de treinamento, o número de séries, os exercícios e as repetições, a intensidade,
a velocidade de execução do movimento, o ângulo da articulação e o tempo de recuperação entre séries e exercícios2.
Entre todas estas variáveis do treinamento, o tempo de recuperação entre séries tem recebido pouca atenção em detrimento às outras variáveis prescritas, como a intensidade e o volume5. Neste contexto, a
literatura tem verificado que diferentes tempos de recuperação entre séries no TF podem induzir diferentes magnitudes de respostas agudas e adaptações crônicas neuromusculares, metabólicas e endócrinas5,6. Por conseguinte,
alguns estudos têm recomendado que a manipulação do tempo de recuperação no TF é dependente do objetivo do treinamento (força máxima, potência, hipertrofia), do nível de coordenação neuromuscular, nível de aptidão física, idade e sexo5,7,8.
Segundo Ide, Lopes e Sarraipa9 durante
a pausa a ressíntese da fosfocreatina (PCr) ocorre pela via oxidativa, de acordo com o tempo adotado (curto ou longo), ao passo que, este processo define a característica metabólica e o substrato energético utilizado na sessão.
investigaram o grau dos conhecimentos sobre a pausa no TF em profissionais de academia. Em virtude disso, o motivo deste estudo é diagnosticar de forma qualitativa o perfil dos profissionais de Educação Física atuantes nas academias da cidade de Hortolândia e região, em relação ao conhecimento e aplicação da pausa durante o treinamento das diferentes manifestações de força. A hipótese inicial é de o conhecimento sobre a fisiologia do exercício e pausa no treinamento de força são insuficientes, o que pode prejudicar a qualidade do treinamento prescrito.
MÉTODOS
Esta pesquisa foi de caráter qualitativo e buscou caracterizar o conhecimento dos avaliados por meio de um questionário.
Sujeitos
Foram entrevistadas 39 pessoas, sendo seis estagiários e 33 professores formados, de ambos os sexos. Dos professores formados, 23 possuíam algum tipo de especialização/ pós/curso de extensão; sete possuíam apenas a graduação em Educação Física e três não responderam. Ainda dos formados, 30 se graduaram em instituições privadas, dois
em instituições públicas e uma pessoa não respondeu. Todos os estagiários entrevistados estavam cursando a faculdade de Educação Física em instituições privadas.
Todos os sujeitos entrevistados foram informados do objetivo da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O questionário foi respondido de forma individual, sem fonte de pesquisa ou auxílio do pesquisador. Os pesquisadores acompanharam o preenchimento dos dados pessoais e do questionário, para tirar qualquer dúvida em relação às questões e garantir que o questionário fosse respondido de forma correta. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Portal Brasil sob número #47727615.7.0000.5490.
Avaliação Qualitativa: Foi utilizado um questionário que teve como base o assunto referente ao estudo desenvolvido pelos autores deste trabalho, contendo seis perguntas de múltipla escolha, sendo que as respostas eram fechadas. As questões eram relacionadas à importância da pausa no TF (treino de força) na academia, tempo adequado de pausa, entre outros.
da cidade de Hortolândia e região, sendo 2 academias em Nova Odessa; 4 academias em Campinas; 7 academias em Sumaré e por fim 14 em Hortolândia, o que totaliza 27 academias pesquisadas. As academias foram escolhidas de modo aleatório.
Segue abaixo o questionário utilizado na pesquisa:
1 – Qual tempo de pausa mais adequado entre séries em um treino com caráter hipertrófico?
a) 1 a 2 minutos; b) 30 a 60 segundos; c) 3 a 5 minutos; d) 10 a 30 segundos.
2 – Qual tempo de pausa mais adequado entre exercícios no treinamento de força máxima?
a) 30 segundos a 1 minuto; b) 1 a 3 minutos;
c) 2 a 5 minutos; d) 5 a 8 minutos.
3 – Quando manipulado uma pausa
curta em um treinamento de resistência de força, qual hormônio anabólico é secretado? a) GH;
b) Lactato; c) Estrogênio d) Testosterona.
4 - Qual tempo de pausa mais adequado entre séries no treinamento de potência? a) 2 a 5 minutos;
b) 30 segundos a 1 minuto; c) 5 a 7 minutos;
d) 7 a 9 minutos.
5 – A realização de pausas curtas durante treinamento com caráter hipertrófico conferem qual predomínio metabólico?
a) Glicolítico; b) Fosfagênico; c) Sarcoplasmático; d) Mitocondrial.
6 – Por que tem sido recomendado a utilização de pausas passivas longas (2 a 5 minutos) entre séries e exercícios nos treinos de força máxima?
nervoso central (SNC), recuperar a PCr e não induzir acidez metabólica;
b) Porque é necessário induzir estresse no SNC, e recuperar a PCr;
c) Para induzir acidez metabólica e estressar o SNC;
d) Para haver recuperação incompleta da PCr, não estressar o SNC e não induzir acidez metabólica.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quanto ao conhecimento sobre a pausa entre séries de um treino de hipertrofia, 54% dos entrevistados acertaram a questão assinalando a alternativa (b), que dizia que a pausa adequada entre séries deveria ser de 30 a 60 s. Para Ide, Lopes e Sarraipa9 durante
as pausas, a via oxidativa é requerida para a ressíntese de ATP para o trabalho muscular subsequente, e conforme a duração da pausa (completa ou incompleta) é definida a magnitude de restauração da PCr . Quando a pausa é incompleta (menor que 3 minutos), a PCr é ressíntetizada parcialmente, assim nos próximos exercícios ocorrerá maiores concentrações de lactato e íons hidrogênio (H+), e, por conseguinte, fadiga. Dentre os 46%
que erraram a questão, 38% dos entrevistados assinalaram a alternativa (a); nenhum individuo assinalou a alternativa (c); 8% dos professores marcaram a alternativa (d).
Em relação ao intervalo entre um exercício e outro, a pergunta: “qual pausa seria adequada em um treino de força máxima?” 5% dos indivíduos entrevistados acertaram a questão ao afirmarem que a pausa adequada nesse caso seria de 5 a 8 minutos, que era a alterativa (d). As pausas nesse tipo de treinamento, devem ser longas para ocorrer uma ressíntese completa de PCr e uma grande recuperação das fibras do tipo IIA e IIX. Quando a pausa for completa (3 a 8 minutos), ocorre a ressintese da fosfocreatina (PCr) de forma integral, renovando assim as reservas de PCr 10,11. Dentre os 95% que erraram a questão
8% afirmaram que a alternativa (a); Outros 23% afirmaram ser a alternativa (b) a correta; e por fim 64% afirmaram que era a (c).
e (d) testosterona. Em períodos curtos de descanso (pausas incompletas) são elevadas de forma significativa as concentrações de hormônios séricos, se comparados a períodos mais longos de descanso (pausa completa), sendo independente de idade e gênero12,13,14.
Fisiculturistas utilizam pausas curtas (incompletas) entre as séries, ocorrendo assim um estresse muscular elevado, e estimulando uma hipertrofia acentuada, principalmente em virtude de uma maior liberação dos hormônios anabólicos (GH e testosterona)15,16,17. No
entanto, vale reassaltar que o estresse metabólico propriamente dito, muito mais do que a ligação direta com o aumento temporário destes hormônios, está relacionado com a hipertrofia muscular15. Dos que erraram a questão, 46%
dos professores marcaram a alternativa (b) que afirmava que o homônimo anabólico de maior secreção num treino de resistência de força era o lactato; nenhum indivíduo assinalou a alternativa (c) que afirmava ser o estrogênio o hormônio anabólico.
A questão que tratava sobre a pausa adequada entre séries em um treino de potência obteve 57% de acerto, sendo assinalada a alternativa (a), que afirmava que o tempo
adequado de pausa nesse treinamento é de 2 a 5 minutos. Para Ide, Lopes e Sarraipa9 no treino
de potência, a pausa deve ser o suficiente para a completa recuperação dos estoques de PC, e também para não fadigar as fibras do tipo IIA e IIX. Dentre os 43% que assinalaram errado essa questão, 33% afirmaram ser a alternativa (b), e os outros 10% marcaram a letra (c), e ninguém assinalou a alternativa (d).
Sobre qual o caráter metabólico conferido pelas pausas curtas em treinos de hipertrofia. De todos os avaliados 57% assinalaram corretamente a questão, marcando a alternativa (a) que afirmava que o metabolismo predominante em pausas curtas é o glicolítico. Para Senna et al.18, pausas entre séries que tem
curta duração podem exercer influência direta na ressíntese da PCr , o que torna a reposição de ATP desse substrato menor, e confere um caráter metabólico predominantemente glicolítico. Outros 28% dos professores pesquisados assinalaram a alternativa (b); enquanto 10% assinalaram a alternativa (d), e outros 5% assinalaram (c).
total, 59% dos entrevistados acertaram a resposta, assinalando a opção (a). Sendo que essa alternativa respondia adequadamente a questão afirmando que a necessidade da pausa longa nesse tipo de treinamento tem como objetivo não promover fadiga do SNC (sistema nervoso central), para recuperar a PCr e para não haver acúmulo de lactato. Para Kraemer, Fleck e Evans19 as pausas longas entre
séries são necessárias para ocorrer um bom restabelecimento das funções orgânicas, dando destaque para a recuperação do sistema neural e energético (recuperar a PCr). Ainda, para os levantadores de peso, que treinam com cargas muito altas, é necessária a ocorrência de pausas longas (2 a 5 minutos) para o restabelecimento das funções acima descritas20. Por fim,
outros 15% assinalaram a alternativa (d), 3% assinalaram a alternativa (c) e 23% assinalaram erroneamente a alternativa (b).
Abaixo se verifica na tabela 1 o percentual de acertos e erros por questão, e além de uma média geral de erros e acertos de todo o questionário.
CONCLUSÃO
Concluiu-se que os entrevistados apresentaram um nível de domínio do assunto razoavelmente baixo, pois atingiram um valor de ~48% de acerto nas seis questões.
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Observação: Os autores declaram não existir conflitos
de interesse de qualquer natureza.