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ESPAÇO GEOGRÁFICO. PALAVRAS-CHAVE: Geografia. Relações Espaciais. Espaço Geográfico. KEYWORDS: Geography. Spatial Relations. Geographic space.

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Academic year: 2021

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ESPAÇO GEOGRÁFICO

Leandro Carvalho de Almeida Gouveia1

Resumo: Este artigo tem como desejo realizar uma releitura a partir de diversos

autores de diversas correntes e escolas do pensamento geográfico. A Geografia enfrenta problemas epistemológicos e conceituais. É o caso da definição do seu objeto de estudo: o espaço geográfico. Apesar dos avanços das últimas décadas, ainda há discordâncias teóricas a esse respeito. Assim, esse artigo tem por objetivo comentar alguns esforços de definição do conceito de espaço geográfico e ao final propomos o nosso próprio conceito. Entendemos que o espaço geográfico é o resultado contínuo das relações sócio-espaciais e tais relações são econômicas, políticas e simbólico-culturais. Espaço, território, uma boa discursão.

PALAVRAS-CHAVE: Geografia. Relações Espaciais. Espaço Geográfico.

Abstract: This article has the desire to reinterpret from several authors from various

currents and schools of geographical thought. Geography faces epistemological and conceptual problems. This applies to the definition of its subject matter: the geographic space. Despite the advances of recent decades, there are still theoretical disagreements about it. Thus, this article aims to review some efforts definition of the concept of geographical space and at the end we propose our own concept. We believe that our geographical space is the ongoing result of socio-spatial relationships and such relationships are economic, political and symbolic-cultural. Space, territory, a good increasing discussion.

KEYWORDS: Geography. Spatial Relations. Geographic space.

1 Doutorando em Desenvolvimento Regional e Urbano pela Universidade Salvador

(UNIFACS); Mestre em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social pela Fundação Visconde de Cairu. licenciado em Geografia pela Faculdade de Ciências Educacionais; especialização em Metodologia do Ensino Superior pela Faculdades Integradas Olga Mettig; Bacharel em Turismo pela Fundação Visconde de Cairu. leandrocgouveia@gmail.com

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1. Introdução

A citação do geografo e Professor Milton Santos sinalizam a crise epistemológica da Geografia, que acabou por marginalizar o seu objeto, o espaço geográfico. É claro que o contexto atual é diferente, muitos avanços teóricos foram realizados, e a própria obra de Milton Santos é um bom exemplo disso.

Partimos da premissa de que a Geografia estuda o espaço geográfico e os trabalhos dos autores aqui referidos versam sobre este que entendemos ser o objeto da Geografia. O presente artigo tem como objetivo efetuar uma releitura a partir de autores de diversas correntes do pensamento geográfico e colher elementos para a construção de um conceito de espaço geográfico. Com isso temos um propósito duplo: mostrar que a Geografia e o espaço geográfico não são apenas passíveis de classificação e descrição, mas também podem ser construídos e modificados, até mesmo (e inclusive) por nós pesquisadores que fazemos parte dele; e nos permitir fazer uma viagem teórica a fim de conceituar o espaço geográfico. O ecletismo teórico é fonte de riqueza e auxílio fundamental para a discussão teórica e não apenas campo para classificações para determinadas tendências. Contudo, a escolha por um caminho definido é um imperativo, para que não se caia no perigo de ser “teóricos da moda” ou de formar uma “colcha de retalhos” (SANTOS, 2002).

Debater e refletir sobre o desenvolvimento histórico da geografia, mesmo que isso já tenha sido realizado por inúmeros estudiosos, nunca é demais, visto que proporciona um melhor entendimento sobre o tema. É relevante o resgate e a revisão de importantes pensamentos e pensadores, pois permite novos olhares sobre essa dinâmica e importante ciência.

2. O espaço como categoria de análise

Conceito de espaço como categoria de análise da realidade sócio-espacial em um viés eminentemente geográfico. Isso como desafio de construir instrumentos analíticos comprometidos com a interpretação dos fundamentos da realidade sócio-espacial contemporânea. Nesse sentido, vejamos alguns teóricos sobre a questão. Para Gomes (2002, p. 172), três características definem o “espaço geográfico”: 1) o espaço é sempre uma extensão fisicamente constituída, concreta, material, substantiva; 2) o

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espaço compõe-se pela dialética entre a disposição das coisas e as ações ou práticas sociais; 3) a disposição das coisas materiais tem uma lógica ou coerência.

Para esse autor (Ibid., p.290), “[...] a análise espacial deve ser concebida como um diálogo permanente entre a morfologia e as práticas sociais ou comportamentos”. Para Milton Santos (1999, p. 18), essa questão, de aporte analítico, pressupõe que “[...] o espaço seja definido como um conjunto indissociável de sistemas de objetos e de sistemas de ações”.

Gomes afirma que, “[...] as formas são portadoras de significados e sentidos” (1997, p.38). Santos, por sua vez, define o espaço como um composto de “formas conteúdo”, ou seja, formas que só existem em relação aos usos e significados, essa relação forma-conteúdo é a cauda de sua existência. Como o espaço não é algo dado como nos propõe Soja em seu “espaço em si” (1993), mesmo quando o mesmo tende remediar e diz que sua organização e sentido são produtos da transformação e experiência sociais. O espaço é, na realidade, um construto social dialético.

Mesmo sabendo disso, se desvincular de uma visão física do espaço, de algo dado, de um “espaço em si” é algo bem trabalhoso.

Assim, salientamos que o espaço é um equilíbrio, uma espécie de equação engendrada pela forma e pelos diferentes sentidos que ela é capaz de suscitar e condicionar. Equacionados e construídos socialmente, os sentidos e significações da organização do espaço são sempre advindos de uma perene relação, isto é, o espaço é uma constituição relacional, relação entre objetos/coisas espacialmente distribuídas, da relação entre os objetos e suas funções, o que traz os seus sentidos e significados, da relação entre esses objetos e as vivências, isto é, das práticas sociais.

3. Conceito de natureza

A partir autonomia enquanto ciência, a concepção de natureza veiculada pelos geógrafos constitui-se como algo externo ao homem. Natureza são os elementos ou o conjunto dos elementos formadores do planeta Terra, ou seja, ar, água, solos, relevo, fauna e flora. Esta separação constitui herança, como de resto nas demais ciências, das idéias de Descartes de separação entre natureza e homem, dessacralização da natureza, transformando-a em objeto e o homem em sujeito conhecedor e dominador desta. Mesmo anteriormente à autonomia da Geografia, na introdução de sua obra Cosmos (1862), Humboldt, diferenciava a análise da Terra sob duas formas: a da Física, cujo objetivo seria o estudo dos processos físicos reduzidos a princípios abstratos e a da geografia física, ou o estudo da articulação dos elementos constituintes da configuração do planeta. (Humboldt, 1862, in Mendoza et al, l982).

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De acordo com Suertegaray, a Geografia, mesmo pensada, por vezes, como estudo da natureza enquanto paisagem natural, portanto algo independente do homem, ao se tornar autônoma propõe uma concepção conjuntiva. Os fundadores da Geografia, a exemplo de Ritter, Ratzel e La Blache, entre outros, propõem ainda que sob formas diferentes, um objeto para a Geografia centrado na relação homem-meio (natureza). Sob esta perspectiva, resgata a Geografia uma outra categoria analítica: a sociedade. Nesta articulação em seus primeiros momentos a Geografia trabalhou mais com o conceito de comunidade do que propriamente com o conceito de sociedade, aqui entendida como expressão da vida humana através das relações sociais temporalmente estabelecidas

David Harvey (l980) em seu livro Justiça Social e a Cidade, aborda o espaço sob outra perspectiva. Num contexto dialético, vai conceber o espaço como sendo ao mesmo tempo, absoluto (com existência material), relativo (como relação entre objetos) e relacional (espaço que contém e que está contido nos objetos). Explicando, "o objeto existe somente na medida em que contém e representa dentro de si próprio as relações com outros objetos". Importa também considerar que, para este autor, o espaço não é nem um, nem outro em si mesmo, podendo transformar-se em um ou outro, dependendo das circunstâncias.

Mais recentemente, outras concepções fazem parte da concepção de espaço geográfico. Milton Santos (1982) vai se referir a esta categoria dizendo: "o espaço é acumulação desigual de tempos". O que significa conceber espaço como heranças. O mesmo Milton Santos (1997) vai se referir a espaço–tempo como categorias indissociáveis, nos permitindo uma reflexão sobre espaço como coexistência de tempos. Desta forma, num mesmo espaço coabitam tempos diferentes, tempos tecnológicos diferentes, resultando daí inserções diferentes do lugar no sistema ou na rede mundial (mundo globalizado), bem como resultando diferentes ritmos e coexistências nos lugares. Constituindo estas diferentes formas de coexistir, materializações diversas, por conseqüência espaço(s) geográfico(s) complexo(s) e carregado(s) de heranças e de novas possibilidades.

4. Território

Em relação ao conceito de Território, tratamos o espaço geográfico a partir de uma concepção que privilegia o político ou a dominação-apropriação. Historicamente, o território na Geografia foi pensado, definido e delimitado a partir de relações de poder. No passado da Geografia, Ratzel (1899), ao tratar do território, vincula-o ao solo, enquanto espaço ocupado por uma determinada sociedade. A concepção clássica de território vincula-se ao domínio de uma determinada área, imprimindo uma

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perspectiva de análise centrada na identidade nacional. Afirmava Ratzel (1899),"no que se refere ao Estado, a Geografia Política está desde a muito tempo habituada a considerar junto ao tamanho da população, o tamanho do território". Continuando, "a organização de uma sociedade depende estritamente da natureza de seu solo, de sua situação, o conhecimento da natureza física do país, suas vantagens e desvantagens pertence a história política" (Ratzel, 1899).

Álvaro Heidrich (1998), ao referir-se à constituição do território, nos diz "a diferenciação do espaço em âmbito histórico tem início a partir da delimitação do mesmo, isto é; por sua apropriação como território; em parte determinado pela necessidade e posse de recursos naturais para a conquista das condições de sobrevivência, por outra parte, por sua ocupação física como habitat. Neste instante, na origem, a defesa territorial é exercida diretamente pelos membros da coletividade. Noutro extremo, como já ocorre desde a criação do Estado, quando há população fixada territorialmente e socialmente organizada para produção de riquezas, cada indivíduo não mantém mais uma relação de domínio direto e repartido com o restante da coletividade sobre o território que habita. Neste momento, a defesa territorial passa a ser realizada por uma configuração social voltada exclusivamente para a organização e manutenção do poder".

Sendo o espaço geográfico, como afirma Gomes, “sempre uma extensão fisicamente constituída”, essa é a dimensão que correspondem aos objetos, que podem ser, como mencionado a pouco, de ordem natural ou socialmente construídos, porém, ambos são compostos e mantidos relação com as ações, sempre de maneira indis-sociável, pois, necessita do outro para existir, ampliando a discussão sobre essa relação, vemos que “os objetos não têm realidade filosófica, isto é, não nos permitem o conhecimento, se os vemos separados dos sistemas de ações. Os sistemas de ações também não se dão sem os sistemas de ações” (SANTOS, 2012a, p. 63).

A ação de construir envolve uma série de técnicas que podem variar de acordo com sua situação histórica e sempre necessita de uma realidade geográfica para existir, ou seja, de um sistema de objetos e de ações. Mesmo nesse exemplo a construção do martelo não deve ser pensada de maneira isolada do contexto geográfico de sua existência, pois, pois tanto o martelo quanto e as ações que envolvem sua construção eutilização estão inseridas numa lógica sistêmica, sobre esse ponto, Milton Santos (2012a, p.73) reforça que:

o enfoque geográfico supõe a existência dos objetos como sistemas e não apenas coleções: sua utilidade atual, passada ou futura vem exatamente do seu uso combinado pelos

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grupos humanos que os criaram ou que os herdaram das gerações anteriores. Seu papel pode ser apenas simbólico, mas geralmente é também funcional.

Está correto Milton Santos na sua afirmação que é também funcional os objetos.

5. Conclusão

O sistema capitalista no momento atual procura ajustar os arranjos espaciais como forma de continuar sua reprodução. Captar, mesmo em linhas gerais estes processos garante uma visão de totalidade indispensável à análise geográfica que queira atingir os lugares e sua dinâmica. O espaço geográfico é o contínuo resultado das relações sócio-espaciais. Tais relações são econômicas (relação sociedade-espaço mediatizada pelo trabalho), políticas (relação sociedade-Estado ou entre Estados-Nação) e simbólico-culturais (relação sociedade-espaço via linguagem e imaginário). Constantemente as relações sócio-espaciais são contraditórias, pois revelam diferentes projetos espaciais. No campo econômico, por exemplo, verificamos a exploração do homem pelo homem, dos detentores dos meios de produção e dos vendedores de força-de-trabalho.

Foi apresentado, de forma geral, os pontos que se julgou básicos e introdutórios para as discussões sobre a temática proposta. Para o aprofundamento das discussões e das reflexões indico a leitura das referências citada.

REFERÊNCIAS

BRAGA, Rhalf Magalhães. O Espaço Geográfico: um esforço de definição. GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 22, pp. 65 - 72, 2007

GOMES, P. C. da C. Geografia e Modernidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. HARVEY, D.Espaços

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HEIDRICH, A. Fundamentos da Formação do Território Moderno. Boletim Gaúcho de Geografia, nº 23, AGB - Seção Porto Alegre,1998.

H UMBOLDT, A. Von. Cosmos. Ensayo de una descripción física del mundo. In

MENDOZA, J. G. ; JIMENEZ, J. M. y CANTERO, N. O.(Orgs.) El pensamiento geográfico. Estudio Interpretativo y Antologia de Textos (De Humboldt a las tendencias radicales) . Madrid: Alianza Editorial, 1982.

SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço:Técnica e Tempo. Razão e Emoção. 4ed. São Paulo: Edusp, 2012

SANTOS, M. Pensando o espaço do homem.São Paulo: Hucitec, 1982. SANTOS, M. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Hucitec, 1988.

SUERTEGARAY, Dirce Maria Antunes. Disponível

em:http://www.ub.edu/geocrit/sn-93.htm. Acesso em: 6 outubro 2015.

RATZEL, F. El Territorio, la sociedad y el Estado. MENDOZA, J. G. ; JIMENEZ,J. M. y CANTERO, N. O. (Orgs.) El pensamiento geográfico. Estudio Interpretativo y Antologia de Textos (De Humboldt a las tendencias radicales). Madrid: Alianza Editorial, 1982. RIBEIRO, W.C. Milton Santos: aspectos de sua vida e obra.In: El ciudadano, La globalizacion y la geografia. Homenaje a Milton Santos. Universidad de Barcelona. Vol. VI, nº 124, 30 de septiembre de 2002.

Referências

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