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DESAFIOS DA FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DE NÍVEL MÉDIO

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Academic year: 2021

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ENFERMAGEM DE NÍVEL MÉDIO

GRASSANI, Margareth Bertoli - HPP

margareth@hpp.org.br

RAULI, Patricia Maria Forte – FPP/PUCPR

patriciarauli@fpp.edu.br

Eixo Temático: Educação e Saúde Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Em suas origens a educação profissional de nível técnico esteve reservada às classes menos favorecidas, estabelecendo nítida distinção entre aqueles que detinham o saber e aqueles que executavam as tarefas manuais. Entretanto, no contexto atual, a formação profissional exige um nível de conhecimentos e competências que ultrapassem a mera execução de tarefas. Os cenários de prática demandam por trabalhadores cada vez mais qualificados, agregando à destreza manual às competências de inovação, criatividade, trabalho em equipe e autonomia nas tomadas de decisões. Partindo destas considerações o presente trabalho tem como finalidade apresentar os resultados parciais de uma pesquisa realizada no âmbito do grupo RH+, grupo de gestores ligados à Federação dos Hospitais do Paraná, que teve como objetivo diagnosticar os problemas relacionados ao processo seletivo dos profissionais auxiliares e técnicos de enfermagem, bem como descrever o nível de qualificação dos técnicos de enfermagem recém- contratados. A investigação empregou uma abordagem quantitativa, com visão crítico - reflexiva da realidade, utilizando para tanto o método exploratório-descritivo. O estudo foi realizado em 11 hospitais localizados na cidade de Curitiba e região metropolitana. Os sujeitos do estudo foram os Gestores de Recursos Humanos e os Gestores de Enfermagem das Instituições pesquisadas. A coleta de dados foi realizada no mês de julho de 2011, a partir da aplicação de dois questionários semi- estruturados. O instrumento possibilitou a obtenção de informações a cerca do Processo Seletivo, bem como sobre as dificuldades encontradas para a contratação dos profissionais. Os resultados demonstram deficiências de formação envolvendo aspectos teóricos, práticos e atitudinais, apontando para a urgente necessidade de uma maior aproximação entre a academia e o mundo do trabalho de forma a buscar um equilíbrio complexo e dialético entre a teoria e a prática, entre as dimensões técnicas e éticas da arte de cuidar.

Palavras-chave: Formação Profissional de nível técnico. Enfermagem. Mundo do trabalho. Introdução

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Em suas origens a educação profissional de nível técnico esteve reservada às classes menos favorecidas, estabelecendo nítida distinção entre aqueles que detinham o saber e aqueles que executavam as tarefas manuais.

Entretanto, no contexto atual, a formação profissional exige um nível de conhecimentos e competências que ultrapassem a mera execução de tarefas. Os cenários de prática demandam por trabalhadores cada vez mais qualificados, agregando à destreza manual às competências de inovação, criatividade, trabalho em equipe e autonomia nas tomadas de decisões.

O trabalho em saúde é amplo e de múltiplas dimensões, constituído por uma rede de relações e interações nas quais o ser humano se encontra inserido. Nesta perspectiva, é importante que se considere a objetividade e a subjetividade inerentes ao trabalho em saúde, tendo-se em vista que o objeto que o constitui são seres humanos cujas intervenções técnicas são sempre permeadas por relações interpessoais (BACKES et al, 2008 apud PIRES, 1999).

Embora a prática profissional exija novas competências e habilidades profissionais, pesquisas realizadas com escolas e empresas do setor demonstram a insatisfação com a educação profissional do pessoal de nível médio da área da Saúde. Conforme apontam os Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissional de Nível Técnico (BRASIL, 2000) proliferam-se os cursos de má qualidade, com infraestrutura deficiente, currículos fracos com ênfase em um fazer fragmentado e dicotomizado do saber, corpo docente sem experiência ou sem efetiva atuação no mercado de trabalho e estágios mal ou não supervisionados. O produto desses cursos são profissionais com conhecimentos técnico-científicos deficientes e postura profissional inadequada.

As novas exigências apontam para a redefinição dos perfis dos trabalhadores dos serviços de Saúde de forma que eles sejam capazes de articular a suas atividades profissionais com as ações dos demais agentes da equipe, bem como os conhecimentos oriundos de várias disciplinas ou ciências, destacando o caráter multiprofissional de sua prática.

É preciso, ainda, que a formação considere as dimensões políticas, comunicacionais, bem como as relações interpessoais, de forma a buscar um equilíbrio entre a evolução científico-tecnológica e a postura profissional. Neste contexto é preciso que se resgate a distância identificada no perfil dos trabalhadores de Saúde, entre os conhecimentos e

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habilidades que por emanarem da ciência e tecnologia evoluíram grandemente nas últimas décadas, e os aspectos comportamentais que se mantiveram estacionários. (ibid., 2000).

A formação dos profissionais de Saúde não pode, também, desconsiderar as questões éticas sob o risco de agravar ainda mais a disparidade já existente entre conhecimentos e habilidades técnicas e as atitudes no perfil desses profissionais. Conforme afirma Rios (2009), as profissões que se destinam ao cuidar são práticas de caráter ético-dependente, ou seja, na área da saúde é imprescindível a educação para a ética nas relações entre as pessoas, sem a qual não é possível realizar a missão que nos destina essa escolha profissional.

Não obstante, constata-se que os profissionais da área da saúde de nível médio, os técnicos em enfermagem, vêm apresentando certa deficiência no que diz respeito à qualificação para o trabalho, o que gera dificuldade nas contratações destes profissionais. Para o grupo RH+, grupo de profissionais da área da saúde vinculado à Federação dos Hospitais do Paraná, esse fato trouxe a necessidade de um estudo aprimorado sobre o nível de qualificação e humanização que este profissional da saúde vem recebendo através das instituições de ensino.

Os integrantes do grupo trouxeram como uma de suas maiores dificuldades encontrar no mercado de trabalho profissionais da área de enfermagem que sejam generalistas, com visão e pensamento globalizado do cuidado humano com consciência reflexiva e crítica para atuar nas áreas de saúde em geral, como prevenção de doenças, tratamento e reabilitação. Isto é um fator que ajuda os hospitais a atuar junto ao ser humano, a família e a comunidade e mesmo a sociedade a qual se insere na busca da qualidade do serviço para uma melhor qualidade de vida.

Os hospitais, através de seus departamentos de Recursos Humanos, buscam não somente encontrar este profissional, mas prepará-lo para desenvolver os seus conhecimentos, habilidades e competências no exercício de sua função a qual esta sendo contratado.

Atualmente a maioria dos hospitais trabalha o aprimoramento do cultivo pessoal e busca desenvolver o perfil profissional, considerando como princípio básico o respeito pelo ser humano, na sua dimensão holística, a sensibilidade, a ética, a moral, a competência e o compromisso para as questões humanas nos vários segmentos da sociedade no processo de cuidar em enfermagem.

Partindo das considerações acima, o presente trabalho tem como finalidade apresentar os resultados parciais de uma pesquisa realizada no âmbito do grupo RH+ que teve como

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objetivo diagnosticar os problemas relacionados à seleção, contratação e desempenho profissional dos técnicos de enfermagem recém- contratados a partir da visão dos gestores de Recursos Humanos e dos Gestores de Enfermagem das Instituições de Saúde.

A investigação inicia com o levantamento das etapas pertinentes ao Processo Seletivo (recrutamento, seleção, entrevistas, provas teórica e práticas), levantando em seguida os principais problemas encontrados durante a contratação e a fase inicial da prática profissional. Propõem-se, ainda, a levantar as habilidades necessárias para os profissionais auxiliares e técnicos em enfermagem a partir da visão das instituições hospitalares, de forma a oferecer diretrizes orientadoras para as instituições de ensino responsáveis por este nível de formação.

Metodologia

A investigação empregou uma abordagem quantitativa, com visão crítico - reflexiva da realidade, utilizando para tanto o método exploratório-descritivo.

De acordo com Gil (2002), a pesquisa exploratória proporciona maior familiarização com o problema, com vista de torná-lo mais claro ou a constituir hipóteses, e a pesquisa descritiva tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis. O tipo de estudo exploratório-descritivo tem como objetivo o aprimoramento das ideias e descrição da vivência. Durante a investigação descritiva o pesquisador observa, descreve e classifica fatos ou fenômenos sem manipulá-los.

As pesquisas de caráter quantitativo preveem a mensuração de variáveis preestabelecidas, “procurando verificar e explicar sua influência sobre outras variáveis mediante a análise da frequência de incidências e correlações estatísticas” (CHIZZOTTI, 2003, p.52).

O estudo foi realizado em 11 hospitais localizados na cidade de Curitiba e região metropolitana. Os sujeitos do estudo foram os Gestores de Recursos Humanos e os Gestores de Enfermagem das Instituições pesquisadas. Os critérios de inclusão estabelecidos pelos pesquisadores foram: aceitação dos sujeitos em participarem do estudo, assinando o termo de Consentimento Livre e Esclarecido; ser Gestor de Recursos Humanos há no mínimo 02 anos na Instituição de Saúde; ser Gestor de Enfermagem há no mínimo 02 anos na Instituição de

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Saúde. Como critérios de exclusão: Não atender os critérios de inclusão; não concordarem em participar do estudo.

A coleta de dados foi realizada no mês de julho de 2011, a partir da aplicação de dois questionários semi- estruturados, com questões abertas e fechadas, direcionados aos gestores de recursos humanos e aos gestores de enfermagem. O instrumento possibilitou a obtenção de informações a cerca do Processo Seletivo, bem como sobre as dificuldades encontradas na contratação e início da prática profissional.

Apresentação de Resultados e Discussão

Do total dos hospitais convidados, 10 instituições aceitaram participar da pesquisa. Estas instituições ofertaram 684 vagas para técnicos e auxiliares de enfermagem no primeiro semestre de 2011.

A primeira etapa do processo seletivo constituiu-se de uma entrevista. Para esta fase foram chamados 2017 candidatos, sendo que apenas 79% (1593) compareceram à mesma. Do total dos candidatos que compareceram 60% (955) foram aprovados e 40% (638) foram reprovados na entrevista. Após a etapa o inicial, os candidatos aprovados tiveram que realizar uma prova teórica e uma prova prática. Na prova teórica 36% dos candidatos (343) foram reprovados e na prova prática o índice de reprovação chegou a 51% (812).

Ao final de todo o Processo Seletivo, apenas 41% dos candidatos foram aprovados e, destes, apenas 62% chegaram a ser efetivamente contratados. Do total dos contratados, nem todos permaneceram na instituição, conforme pode ser observado no gráfico abaixo.

Gráfico 1: Total de Contratados Fonte: Pesquisa

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Os dados acima apontam que do total de 1593 candidatos que passaram no processo seletivo somente 292 foram absorvidos, representando 43% das vagas abertas nos 11 hospitais no semestre. A apreensão dos conteúdos teórico-práticos foi deficitária, pois 36% reprovaram nas provas teóricas, 40% nas entrevistas, mostrando também falta de atitude, e na prova prática constatou-se 51% de reprovação.

Nesse cenário, importa ressaltar que o processo de recrutamento, seleção, avaliação e contratação têm um elevado custo nas despesas das instituições. Para cada candidato são efetuados quatro procedimentos só no processo seletivo.

Além dos dados relativos ao Processo Seletivo, a pesquisa levantou informações a respeito das dificuldades encontradas na contratação de auxiliares e técnicos de enfermagem. O gráfico abaixo apresenta as dificuldades apontadas pelos Gestores de Recursos Humanos:

Gráfico 2: Dificuldades apontadas pelos Gestores de RH Fonte: Pesquisa

Além dos aspectos apontados no gráfico, os gestores referem, ainda, os seguintes problemas com relação aos profissionais: Expressão Oral inadequada na Entrevista; Falta de Comparecimento do Candidato; Muitos candidatos Recém-Formados e sem Experiência; Problemas Comportamentais; Instabilidade em Empregos Anteriores; Horários Especiais; Falta de Conhecimento de Informática; Perfil Psicológico.

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Gráfico 3: Dificuldades apontadas pelos Gestores de Enfermagem Fonte: Pesquisa

Com relação ao perfil e comportamento dos profissionais, os Gestores de Enfermagem referem às seguintes inadequações: Falta de Assiduidade; Dupla jornada de trabalho; Mercado aquecido; Candidatos fizeram o curso com idade avançada e apresentam dificuldade em aprimorar a habilidade técnica; Falta de treinamento e acompanhamento para conseguir desenvolver técnicas básicas; Imposição de condições e setores de trabalho; Não são humildes quando não sabem alguns procedimentos; Ausência de conhecimento nas questões de custo hospitalares, auditorias e glosas; Qualidade de registros de enfermagem; Nenhum conhecimento sobre certificações e acreditação hospitalar.

De maneira geral, os resultados da pesquisa demonstram que os profissionais de enfermagem de nível médio que buscam uma colocação no mercado se deparam com uma realidade profissional divergente da apresentada no mundo acadêmico e não se encontram preparados para confrontar-se com o mundo do trabalho.

Considerações Finais

A constatação de que a formação profissional oferecida no âmbito dos cursos técnicos de Enfermagem não responde às necessidades contemporâneas aponta para a urgente aproximação entre a área da educação e o mundo do trabalho.

Em tal contexto torna-se imprescindível que as instituições formadoras empreendam esforços no sentido de buscar metodologias e práticas inovadoras, capazes de responder às

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novas exigências do mercado profissional e da vida social, abarcando as dimensões éticas, científicas e humanas.

Neste sentido, a busca por processos pedagógicos transformadores vem apontando para uma revisão do ensino tradicional em direção a aprendizagens significativas em que a simples transmissão de conhecimento seja substituída por processos de construção, interação e integração. Tal processo ultrapassa a mera transmissão de conhecimentos técnicos, exigindo, necessariamente, a criação de situações que possibilitem a problematização da realidade, envolvendo:

• O uso de metodologias de ensino-aprendizagem que exercitem a aprendizagem para a solução de problemas não somente técnico-científicos, mas também sociais, para metodologias de trabalho comunitário, diagnósticos participativos e de outras formas que promovam a reflexão sobre a realidade e a prática da abordagem coletiva;

• A integração do ensino-serviço como forma de tornar o processo ensino-aprendizagem aderido à realidade do trabalho;

• A capacitação pedagógica do corpo docente, privilegiando processos pedagógicos crítico-reflexivo-participativo que auxiliem os professores a desempenharem o papel de mediadores do processo ensino-aprendizagem.

Tais considerações refletem a importância de ações compartilhadas entre o mundo acadêmico e o mundo profissional, de forma a buscar um equilíbrio complexo e dialético entre a teoria e a prática, entre as dimensões técnicas e éticas da arte de cuidar.

REFERÊNCIAS

BACKES, D. S. et al. O papel do enfermeiro no contexto hospitalar: a visão de profissionais de saúde. Revista Ciência Cuidado Saúde. 2008 jul/set; 7(3):319-326

BRASIL. Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissional de Nível

Técnico. Brasília, 2000.

CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 6.ed.,São Paulo: Cortez,2003.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002.

RIOS, I. C. Humanização: a essência da ação técnica e ética nas práticas de saúde. Rev. bras. educação médica. vol.33 no.2 Rio de Janeiro Apr./June 2009.

Referências

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