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A COMPLEXIDADE DO CUIDADO EM SAÚDE RESUMO

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A COMPLEXIDADE DO CUIDADO EM SAÚDE

Laís Teixeira Pereira ¹

RESUMO

A humanização do cuidado é uma filosofia que vem sendo aplicada na assistência em saúde, porém não é algo que possa ter treinamento, tem que ser sensibilizado, para não ser executada de forma mecânica. O cuidado em saúde muitas vezes se confunde com boa educação, gentileza, o objetivo deste trabalho foi revisar a literatura para definir e entender a complexidade do cuidado em saúde, trazendo alguns aspectos que o fundamentam, suas perspectivas e apresentar uma análise crítica do conceito.

PALAVRAS-CHAVE: “cuidado”, “cuidado em saúde”, “ integralidade”,

“humanização” e “assistência em saúde”.

A COMPLEXIDADE DO CUIDADO EM SAÚDE

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¹ Graduada em Fonoaudiologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro-RJ, E-mail: laistpereira@gmail.com

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INTRODUÇÃO

A motivação para a elaboração deste estudo ocorreu a partir de uma reflexão acerca da minha concepção de cuidado, construída no decorrer do curso de graduação. Eu tinha certeza que sabia “cuidar", porém em todas as situações que eu buscava na memória, vinha sempre uma situação em que eu era muito educada, ou simpática, ou paciente ou tudo junto. A paciência, por exemplo, é um exercício que a gente pratica em benefício próprio, se eu for paciente eu evito transtornos psicológicos, físicos e até financeiros. Mas, se com esse comportamento eu estou a princípio me beneficiando e o cuidado é uma atitude que eu tenho para com o outro, será que eu estava realmente praticando o cuidado?

Durante uma discussão clínica, na maternidade escola da UFRJ, orientada por uma professora do curso de fonoaudiologia da UFRJ, foi perguntado aos alunos o que era cuidado, várias opiniões foram sendo expostas, na maioria das exposições pude observar a predominância de que era o terapeuta que "fazia algo para alguém". Algo me incomodou. A professora então inicia a provocação: Quem faz? Quem é quem no cuidado? E me leva a refletir sobre o tema. Começo este estudo perguntando: O que é o cuidado?

É necessário, para a compreensão do cuidado em saúde, aprofundarmo-nos na discursão acerca da saúde dentro de uma visão holística. A reflexão sobre os conceitos, dilemas e condutas que se baseiam o cuidado, com o enfoque no discurso e na prática efetiva proposta pela política Nacional de Humanização, tendo em vista que o respeito a individualidade das pessoas, da escuta, da valorização

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das crenças, da comunicação e da presença genuína, são ingredientes básicos da saúde (DESLANDES,2006).

Há diferentes modos de cuidar, que variam de intensidade. A maneira que se pratica o cuidado varia, dependendo da situação, da forma como estamos envolvidos com a situação e com o sujeito a ser cuidado, portanto o cuidado varia, de acordo com as condições que ocorrem e o tipo de relacionamento estabelecido.

Engloba atos, comportamentos, atitudes e situações (WALDOW, 2004).

O presente estudo tem como objetivo definir e entender a complexidade do cuidado em saúde, trazendo alguns aspectos que o fundamentam, suas perspectivas e apresentar uma análise crítica do conceito, tendo em vista que o conceito da palavra muitas vezes pode nos levar a um falso entendimento sobre o assunto, nos levando a praticar um pseudo cuidado, baseado apenas em tecnologias e nosso nível técnico.

2 METODOLOGIA

Revisão de literatura não sistemática.

A revisão de literatura prevê um resumo crítico de trabalhos sobre o tema de interesse, procurando contextualizar o problema de pesquisa, bem como identificar falhas em estudos anteriores, justificando assim uma nova investigação (POLLIT, 2004).

Tendo-se em vista o objetivo referido, foram selecionados estudos que abordassem a temática do cuidado em saúde publicados em periódicos nacionais indexados nos bancos de dados LILACS e SciELO, no período de maio a junho de 2015. As palavras chaves utilizadas foram: “ cuidado”, “cuidado em sáude”, “ integralidade”, “humanização” e “assistência em saúde”.

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3 REVISÃO DA LITERATURA

Segundo o dicionário Aurélio cuidado significa cautela, precaução, expressão usada para pedir concentração ou cuidado em relação a algo. Mas qual a definição para cuidado em saúde?

No latim, cuidado vem de cogitare, que significa imaginar, pensar, meditar, julgar, supor, tratar, aplicar a atenção, refletir, prevenir e ter-se. É o cuidado em ato.

A prática do cuidar era exercida no interior das famílias, desde a Grécia antiga, e para a realização era preciso de conhecimento prático, que se adquiria com o fazer cotidiano e passado de geração para geração. Naquela época quem cuidava de todos eram as mulheres, a gestão do cuidado era uma tarefa feminina (PINHEIRO, 2009).

Histórica e culturalmente há uma divisão sexual e social do trabalho.

Delimitando a prática do cuidado às mulheres e a pesquisa e criação de novos conhecimentos aos homens. Porém a demanda por cuidado vem se complexificando cada dia mais, necessitando mais da atuação de diferentes profissionais, mulheres e homens, cujo o outro a ser cuidado precisará cada vez mais de atenção, responsabilidade e zelo com seus desejos e especificidades, fazendo com que esse outro o inclua na tomada de decisões de sua vida, aspirações e saúde (PINHEIRO, 2009).

Para Meyer (2002) a tecnologia, a quem se vem também atribuindo uma gama de "erros" do tratar e do cuidar em saúde, começa a ser representada como força desumanizante tanto para cuidadores e cuidadoras quanto dos seres humanos que demandam cuidados. Não somente precisamos julgar como necessidade de saúde aquilo que o ser humano a ser cuidado demanda e o que o profissional de saúde pode oferecer, mas sim uma visão sensível sobre o significado do cuidado na vida das pessoas (SILVA, K. 2008).

Para Baggio (2006) os seres humanos são singulares e possuem histórias de vida peculiares a si, por isso, nem sempre será possível perceber do mesmo modo

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e para Ceccim e Merhy (2009) a centralidade da atenção no usuário da saúde é a centralidade no encontro na interação, centralidade no contato com a alteridade.

Gomes, et al (2011) ressaltam a complexidade das relações envolvidas no cuidado em suas diversas dimensões:

O ser humano é o fundamento do cuidado, sua prioridade, deve ser compreendido no contexto de relações, com suporte numa visão integradora que privilegie as dimensões física, fisiológica, política, histórica, econômica, sociocultural, emocional, sentimental, racional, intuitiva, criativa e espiritual. É esse homem total que interage, uns com os outros, no cotidiano, pois a existência é inexoravelmente entrelaçada.

(GOMES, ET AL, 2011, p 441).

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Segundo Campos (2005) “o tema do cuidado tem sido muito abordado, e vários autores procuram com isso chamar a atenção para a dimensão não técnica sempre (também) envolvida nos encontros assistenciais.

A capacidade humana de cuidar é movida por uma força. Quando essa força aparece em nós e nos outros, por uma demanda de algo ou alguém com quem nos importamos, nós atualizamos nosso potencial para cuidar. O cuidado pode ser uma saída para as atitudes desumanizantes que vemos nas sociedades atuais. Acontece como se alguma coisa na experiência humana com o relacionamento com Deus, com o outro e consigo mesmo tenha se rompido e por consequência disso a desarmonia, doença, e desintegração predominam. Apesar disso, o cuidado, pode ser nutrido e desenvolvido e por meio dele então os seres humanos podem trazer de volta a sua humanidade (WALDOW, 2011).

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3.1 O cuidado na Assistência pública de saúde

No Brasil, em resposta ao “número significativo de queixas dos usuários referentes aos maus tratos prestados nos hospitais” e da mídia que denuncia aspectos negativos dos atendimentos foi lançado, em 2001, pelo Ministério da Saúde o Programa Nacional de Humanização Hospitalar (PNHAH) (BRASIL, 2001;

HOGA, 2004).

A proposta do Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar inclui:

“um conjunto de ações integradas que visam mudar substancialmente o padrão de assistência ao usuário nos hospitais públicos do Brasil, melhorando a qualidade e a eficácia dos serviços hoje prestados por estas instituições. É seu objetivo fundamental aprimorar as relações entre profissional de saúde e usuário, dos profissionais entre si e do hospital com a comunidade. Ao valorizar a dimensão humana e subjetiva, presente em todo ato de assistência à saúde, o PNHAH aponta para uma requalificação dos hospitais públicos, que poderão tornar-se organizações mais modernas, dinâmicas e solidárias, em condições de atender às expectativas de seus gestores e da comunidade” (Brasil, 2001, p.9)

No campo das relações humanas que caracterizam qualquer atendimento na saúde, é essencial agregar eficiência técnica e científica a uma ética que considere e respeite a singularidade das necessidades do usuário e do profissional, que acolha o desconhecido e imprevisível, que aceite os limites de cada situação (Brasil,2001).

Sendo assim, a humanização possibilita o encontro que implica no acolhimento e no diálogo. O contato com o outro possibilita aproximação e abertura, o diálogo, que é diferente de conversa ou fala, essa é uma atitude para com o outro que pressupõe o cuidado. Resumidamente então a humanização possibilita o encontro que pressupõe o cuidado, visto isso é preciso enfatizar que humanização e

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cuidado em saúde são assuntos distintos, alguns autores ainda tratam o cuidado como humanização propriamente dita e vice-versa, e ainda é escasso o número de trabalhos que fazem essa separação.

Em 2003 o Programa de Humanização passa a ser subordinado à Secretaria Executiva do Ministério, sendo então denominada Política Nacional de Humanização (PNH).

Em 2004 o Ministério da Saúde publica a Política Nacional de Humanização, apresentando a Humanização como Eixo Norteador das Práticas de Atenção e Gestão em todas as Instâncias do SUS, ressaltando o cuidado com o termo humanização no campo da saúde:

Devemos tomar cuidado para não banalizar o que a proposição de uma Política de Humanização traz ao campo da saúde, já que as iniciativas se apresentam, em geral, de modo vago e associadas a atitudes humanitárias, de caráter filantrópico, voluntárias e reveladoras de bondade, um “favor”, portanto, e não um direito à saúde. Além de tudo, o “alvo” dessas ações é, grande parte das vezes, o usuário do sistema, que, em razão desse olhar, permanece como um objeto de intervenção do saber do profissional. Raras vezes o trabalhador é incluído e, mesmo quando o é, fica como alguém que

“também é ser humano”(!) e merece “ganhar alguma atenção dos gestores (Brasil, 2006,p. 6)

Percebemos neste trecho que o lugar do usuário do sistema de saúde, nas relações de cuidado, ocupava o lugar de um objeto de intervenção do saber. Numa clara relação de poder.

Humanizar se confundia muito com boa educação, gentileza (paramos de nos referir ao paciente como leito x e começamos a chama-lo pelo nome), e o cuidado estava muito relacionado com mulheres e enfermeiras, psicólogas e assistentes sociais. A ideia de humanização era boa, mas não estava sendo tão eficiente, por isso a ideia de elaborar uma política com fundamentos, princípios, métodos, diretrizes e instrumentos (PASCHE,2008).

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A proposta da política de humanização, não é de humanizar o homem. O homem já é humanizado, a humanização quer humanizar categorias que estão relacionadas à produção e gestão do cuidado em saúde. Integralidade, satisfação do usuário, necessidade de saúde, qualidade da assistência, com participação da gestão, protagonismo do sujeito e intersubjetividade envolvida no processo de atenção são algumas dessas categorias (DESLANDES, 2006).

Deixando claro que o que se quer humanizar são relações de atenção e gestão, que obviamente envolve homens. Parte-se do princípio que tudo que há relação, que há afeto, já está sendo humanizado, porém se constatarmos que há ou não humanização, estamos afirmando que este tipo de relação se dá entre sujeitos e não sujeitos, e isso não está em questão, pois o interesse é colocar as pessoas, inclusive com seus conflitos, em contato, e não dizer se é humanizado ou não é humanizado.

Segundo Pasche e Passos (2008), a questão central da PNH é feito como um modo de fazer que não se fixa apenas nos caminhos para a obtenção de resultados, mas na construção de modos de “ir caminhando”: metas indicando formas de caminhar, que informam e definem pontos de chegada.

A humanização dos serviços de saúde implica em transformação do próprio modo como se concebe o usuário do serviço - de objeto passivo ao sujeito, que tenha garantida ações seguras, prestadas por trabalhadores responsáveis (CASATE e CORRÊA, 2005).

“O debate da humanização abre, também, uma arena de discursos sobre o cuidado, dessa forma, constitui um quadro de elaboração conceitual e valorativo, participa, assim, de uma visão de mundo sobre a saúde” (Deslandes e Mitre, 2009).

Muitos autores se referem à humanização como o cuidado em si, pois ambos tem aspectos que valorizam a dignidade humana. Observam que é um tanto quanto redundante tendo em vista que não se pode admitir que um ser humano seja tratado

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de alguma outra maneira, senão aquela condizente com sua natureza (BERMEJO,2008, OLIVEIRA, 2001).

Para Deslandes e Mitre (2009) a humanização das práticas de saúde só se consolidará como visão de mundo se for tomada como instituinte de práticas cotidianas e por elas sustentada, se alimentada por mecanismo de reprodução dentre os praticantes do cuidado, se reconhecida como exercício que envolve uma expertise coletiva e o acolhimento em alteridade (encontro) é um momento que tem em si certos mistérios, pela riqueza dos processos relacionais que contém, por ocorrer segundo razões muito diferenciadas e por não ser apreendido por nenhum saber exclusivo individual, mas de modo algum inata. (Ceccim e Merhy,2009).

Ou seja, não pode ser ensinado como as técnicas profissionais que temos, precisa ser natural, adquirido com sensibilidade.

3.2 O que é o cuidado?

A noção de cuidado é polissêmica e transita por diferentes abordagens conceituais e metodológicas, cabe perguntar o sentido que adota nos diferentes contextos e quais são os efeitos produzidos por elas (Barros, 2011).

Barros e Gomes (2011) também destacam que “O cuidado se produz no próprio ato de cuidar, ele não é antecipável, ele é coemergente às relações que se estabelecem e avaliado por seus efeitos, pela potência que produz naqueles que o compartilham”

Para Pinheiro (2009), o cuidar em saúde é “uma atitude interativa que inclui o envolvimento e o relacionamento entre as partes, compreendendo acolhimento como escuta do sujeito, respeito pelo seu sofrimento e história de vida". Ayres (2004) destaca que embora represente a materialidade das relações interpessoais na saúde, o cuidado vai além do nível técnico do atendimento.

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Acolhimento, que é uma diretriz da política de humanização e não tem lugar, nem hora para acontecer, muito menos profissional específico para fazê-lo. Acolher é um compromisso de resposta às necessidades do outro.

Para Bettinelli, Waskievicz, Erdmann (2004) o cuidado está presente na vida humana sempre que exercido por meio de processos relacionais, interativos e associativos e existem importantes aspectos econômicos, culturais, políticos e institucionais envolvidos nas tensões experimentadas no cotidiano da atenção à saúde (AYRES,2009).

Na análise realizada por Ceccim e Merhy (2009) sobre a prática do atender em saúde ressaltam que está marcada pela presença de forças externas, antecedentes ao encontro, numa espécie de ausência de interação com relação fria, tecnicista e excessivamente objetiva.

De acordo com Figueiredo (2009) os agentes cuidadores e os objetos de seus cuidados têm uma história determinada, a dimensão subjetiva do profissional provoca impacto sobre forma como se dá a relação entre profissionais e usuários do setor saúde (Hoga, 2004), e as práticas de atenção ocupam lugares fundamentais por seu contato com as vivências em forma de sensação, sintoma, aflição, sofrimento e doença que buscam cuidado profissional de saúde (CECCIM e MERHY, 2009).

Gomes et al (2011) destaca que além da tecnologia de equipamentos, é imprescindível considerar o encontro entre pessoas e imaginários, de forma ampla e intersubjetiva, favorecendo a expressão criativa e autônoma dos sujeitos.

O cuidado pertence a duas esferas distintas: uma objetiva, que se refere ao desenvolvimento de técnicas e procedimentos, e uma subjetiva, que se baseia em sensibilidade, criatividade e intuição (NETO e RODRIGUES,2010).

Para Bettinelli, Waskievicz, Erdmann (2004) o cuidado está presente na vida humana sempre que exercido por meio de processos relacionais, interativos e associativos e existem importantes aspectos econômicos, culturais, políticos e institucionais

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envolvidos nas tensões experimentadas no cotidiano da atenção à saúde (AYRES,2009).

Em uma análise de cunho filosófico, o cuidado é compreendido como um ato de ser, sendo assim, sem o cuidado deixa-se de ser humano. O ser humano vive o significado da sua própria vida por meio do cuidado, é o modo de ser essencial, é a priori: “O cuidado entra na natureza e na constituição do ser humano. O modo-de- ser cuidado revela de maneira concreta como é o ser humano” (HEIDEGGER, 2004, BOFF, 2004).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando fechamos os olhos para os diversos problemas da saúde ao nosso redor, nós automaticamente nos tornamos culpados. A indiferença perante as filas de espera, a demora de sujeito conseguir atendimento, a dor tanto física, quanto psicológica, até mesmo as péssimas condições de trabalhos dos profissionais da saúde (que muitas das vezes é usada como desculpa para o descaso e atendimento

“desumanizado” com o outro) traz consequências negativas tanto para quem utiliza o serviço de saúde, quanto para quem trabalha.

Quando falamos em humanizar o cuidado, não estamos falando que os problemas vão acabar de imediato, que não teremos mais longas filas de espera, mas sim que quando o paciente procurar um atendimento e o profissional estiver aberto à ouvir suas demandas, isso não se fará em necessariamente trinta minutos de atendimento, pode levar um tempo a mais e então, o outro vai entender a demora, ou pelo menos vai ser mais paciente e compreensivo nas próximas vezes que voltar, pois sabe que a demora tem um motivo, e isso beneficia tanto quem está sendo cuidado, quando quem cuida. As relações ficam mais leves, o paciente, que

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antes descarregava toda a sua frustração e já chegava com “sete pedras na mão”

ao encontro com o profissional, pode ser um pouco mais agradável.

A indiferença pode soar como prática desumanizadora, porém temos que lembrar que essa prática assim denominada é realizada por humanos, não por animais para ser chamada de desumanas. Então quando apontamos o dedo para problemas do sus e fechamos os olhos para problemas que estão ao nosso redor estamos apontando o dedo para nós mesmos e quando trazemos para nós estes problemas e na medida do possível resolvemos o que está ao nosso alcance estamos de certa forma nos beneficiando também.

A filosofia da humanização no cuidado em saúde aparece para nos sensibilizar como profissionais. Mas da mesma maneira que temos que ter cuidado com quem busca atendimento, também temos que ofertar esse cuidado para quem cuida. O cuidado tem que ser transversal, temos que trazer para a nós a responsabilidade das as demandas do outro. Tem que ser praticado sem categorização, o cuidado em saúde ainda está muito relacionado ao sexo feminino e à profissões como enfermagem, serviço social e psicologia.

As profissões da área de saúde, são orientados no modelo biomédico e se apoiam em tecnologias, instrumentos diagnósticos para apresentarem doenças e se afastam do ser humano sofredor, que tem uma história de vida além da doença ou lesão e permite que o diagnóstico substitua o cuidado à saúde. Porém, mais do que o diagnóstico, mais do que um nome para o que lhe causado dor ou incomodo, o sujeito quer se sentir cuidado, acolhido em suas demandas e necessidades.

A humanização não é um discurso piegas, não é uma política ingênua, banal.

É uma aposta radical (CAMPOS, 2004). Mas radical mesmo é apostar na autonomia e protagonismo do sujeito (PASSOS, 2007).

É um tema complexo, ainda com demandas para serem aperfeiçoadas, conhecido na área de saúde mais pouco explorado e divulgado nas demais áreas além da enfermagem, serviço social e psicologia. Tive a satisfação de conhecer um pouco

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mais a fundo ainda graduanda, para ter a oportunidade de praticar na minha profissão. Me questionei se durante a minha formação acadêmica eu havia passado por alguma disciplina que abordasse o cuidado desta maneira, mas depois refletindo entendi que isso não se ensina. E se fosse ensinado, talvez teríamos uma gama de profissionais humanizando o cuidado de forma mecânica, robotizada, sistemática.

Ayres (2004) reforça que as práticas de saúde contemporâneas estão passando por uma importante crise em sua história. Em contraste com seu expressivo desenvolvimento científico e tecnológico, estas práticas vêm encontrando sérias limitações para responder efetivamente às complexas necessidades de saúde de indivíduos e populações.

Para Waldow (2011) no que se refere à humanização, há um desejo para que essa filosofia se mantenha, mas espera-se, que não seja considerado como algo passível de ser treinado e sim, sensibilizado.

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