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ACIDENTE DE TRABALHO NO ESTRANGEIRO RETRIBUIÇÃO DESPESAS COM ALIMENTAÇÃO E ALOJAMENTO ÓNUS DA PROVA

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Tribunal da Relação de Évora Processo nº 474/10.1T2SNS.E1 Relator: JOÃO NUNES

Sessão: 20 Dezembro 2012 Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO

ACIDENTE DE TRABALHO NO ESTRANGEIRO RETRIBUIÇÃO

DESPESAS COM ALIMENTAÇÃO E ALOJAMENTO ÓNUS DA PROVA

Sumário

(i) a pensão por acidente de trabalho deve ser calculada tendo por base a retribuição anual ilíquida que por regra era recebida pelo sinistrado;

(ii) para efeitos de reparação de acidente de trabalho deve atender-se à retribuição por hora de € 13,00 que auferia o sinistrado no estrangeiro, no circunstancialismo em que se apura, ainda, que aquele sofreu o acidente de trabalho no estrangeiro em 10-01-2010, que trabalhava 8 hora por dia, sendo que desde o início do ano de 2009 prestava trabalho para a empregadora no estrangeiro durante cerca de três meses seguidos, após o que regressava dez dias a Portugal, para de seguir voltar a prestar trabalho no estrangeiro;

(iii) e, considerando que o trabalho era prestado oito horas por dia, durante cinco dias da semana, para o cálculo da retribuição mensal, deverá partir-se do período normal de trabalho diário e da média de 22 dias úteis mensais em que o Autor trabalharia, ou seja, € 13,00 x 8 horas x 22 dias úteis;

(iv) mostrando-se provado que o Autor auferia ainda € 40,00 diários para despesas com alimentação e alojamento, sendo a esse valor descontados € 17,76 no caso do alojamento ser disponibilizado pela empregadora, tal importância não assume natureza retributiva por se destinar a compensar o trabalhador com as despesas realizadas com a prestação do trabalho;

(v) cabia ao trabalhador provar que tal valor excedia as respectivas despesas normais por se encontrar deslocado no estrangeiro e, assim, que

representavam para ele uma vantagem económica da prestação de trabalho, pelo que deviam integrar a retribuição.

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Sumário do relator

Texto Integral

Acordam na Secção Social do Tribunal da Relação de Évora:

I. Relatório

J… intentou, na Comarca do Alentejo Litoral, Sines – Juízo de Trabalho e Família e Menores, a presente acção especial emergente de acidente de trabalho contra:

1. Companhia de Seguros, S.A….;

2. C…, Lda,

pedindo a condenação destas a pagar-lhe, na proporção da respectiva responsabilidade:

a) a quantia de € 8.232,94 a título de despesas médicas;

b) a quantia de € 31.586,00 a título de indemnização por incapacidade temporária;

c) a pensão anual e vitalícia no valor de € 696,08, com início em 13-10-2010, obrigatoriamente remível, a que corresponde o capital de remição de € 9.788,97, quantias acrescidas de juros de mora à taxa legal.

Alegou para o efeito, muito em síntese, que no dia 14 de Janeiro de 2010, em Roterdão, Holanda, ao serviço da 2.ª Ré sofreu um acidente que deve ser qualificado como de trabalho, que esta Ré apenas havia transferido a

responsabilidade infortunística em relação a parte da retribuição que auferia, pelo que devem ambas as Rés responder pela reparação do acidente tendo em conta a responsabilidade transferida.

Em contestação, as Rés aceitam que o Autor sofreu um típico acidente de trabalho; todavia, a Ré empregadora sustenta que o Autor não auferia a retribuição que alega, mas tão só (a retribuição de) € 650,00 mensais, valor por que tinha transferido a responsabilidade por acidentes de trabalho para a seguradora, pelo que deve apenas esta (1.ª Ré) responder pela reparação do acidente.

A Ré seguradora, reconhecendo que para si se encontrava transferida a responsabilidade por acidentes de trabalho sofridos pelo Autor pela importância de € 650,00 x 14 (anual de € 9.100,00), conclui que deve

responder apenas pela reparação do acidente tendo em conta essa retribuição.

Nega ainda que o Autor tenha suportado o valor das despesas médicas, medicamentosas e com deslocações que peticiona.

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Procedeu-se à elaboração de despacho saneador stricto sensu, foi consignada a matéria de facto assente e elaborada a base instrutória, sem reclamação das partes.

Os autos prosseguiram os seus termos, tendo-se realizado a audiência de discussão e julgamento, respondido à matéria de facto, sem reclamação das partes, após o que em 19-06-2012 foi proferida sentença, sendo a parte decisória do seguinte teor:

«Por todo o exposto:

1. Condeno a 1.ª RéCompanhia de Seguros, S.A. a pagar ao Autor/Sinistrado J…:

- Quanto à ITA, uma indemnização diária no valor de € 17,69 (dezassete euros e sessenta e nove cêntimos) aplicável aos 113 (cento e treze) dias em que a mesma se verificou, num total de € 1.998,97 (mil novecentos e noventa e oito euros e noventa e sete cêntimos)

- Quanto à IPP de 2%, uma pensão anual e vitalícia no montante de € 127,40 (cento e vinte e sete euros e quarenta cêntimos), o que corresponde a um capital de remição no valor de € 1.791,63 (mil setecentos e noventa e um euros e sessenta e três cêntimos);

- A quantia de € 3.428,40 (três mil quatrocentos e vinte e oito euros e quarenta cêntimos), a título de reembolso de despesas médicas e medicamentosas.

- Juros de mora, à taxa legal, desde a data em que as obrigações se venceram até integral pagamento.

2. Absolvo as Rés do demais peticionado pelo Autor.

3. Condeno a 1.ª Ré nas custas processuais».

Inconformado com a decisão, o Autor dela interpôs recurso para este tribunal, tendo nas alegações apresentadas formulado as seguintes “conclusões”, que se transcrevem e que correspondem quase integralmente àquelas:

«a) Vem o presente recurso interposto da douta sentença que julgou parcialmente procedente por provada a acção emergente de acidente de trabalho interposta pelo ora Apelante.

b) Contudo, o Apelante não se conforma com a decisão do tribunal a quo

nomeadamente no que concerne face a prova carreada para os autos e a prova produzida em sede de Audiência de Julgamento.

c) Relativamente à matéria de facto, na douta sentença proferida foi

erradamente considerada como parcialmente provada pelo Tribunal a quo a matéria dos quesitos 1º e 4º da Base Instrutória, que no entendimento do Recorrente deveriam ter sido julgados como totalmente provados.

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d) Senão vejamos, no que concerne ao quesito 1º da Base Instrutória, considerou o Tribunal a quo como provado que o Apelante auferia uma

retribuição base de 650,00 Euros quando realizasse o trabalho em Portugal e de 13,00 Euros/ hora quando realizasse trabalho no estrangeiro.

e) Sucede que considerou o Tribunal a quo que o facto do Apelante apenas estar à quatro dias a trabalhar no estrangeiro, Holanda, ao abrigo do contrato junto como doc. 1 e 2 do Petição Inicial, não permite concluir pela

regularidade e habitualidade do trabalho no estrangeiro, pelo que, considerou a retribuição base de 650,00 Euros para calculo das indemnizações e pensões devidas.

f) Ora, não pode o Apelante concordar com a decisão do Tribunal a quo

porquanto foi afirmado pela testemunha N… que o Apelante durante o tempo que trabalhou para a Apelada C…, Lda., prestou o seus serviços na Holanda o que já sucedia desde inicio de 2009.

g) Mais afirmou que o facto do Apelante ter assinado o contrato de trabalho e respectiva adenda que compõem os doc. 1 e 2 juntos com a Petição Inicial se deveu a imposição da Apelada que fazia os seus trabalhadores regressarem a Portugal de três em três meses, permanecerem por um período de dez dias e assinarem novo contrato de trabalho antes de se deslocarem novamente para a Holanda.

h) Situação que aliás foi confirmada pela testemunha A...

i) Afirmou ainda a testemunha N… que o vencimento auferido pelo Apelante correspondia a 13,00 Euros/ hora, trabalhando dez horas diárias sem dias de descanso semanal, pelo que, o rendimento mensal auferido era bastante superior ao que constava no contrato de trabalho como vencimento base.

j) A confirmar toda esta situação está o documento de fls. 214 a 217, que constitui o oficio da segurança social que deu entrada em juízo em 12 de Abril de 2012, pelo qual, se verifica que o Apelante labora para a Apelada CMN desde pelo menos Janeiro de 2009, tendo auferido rendimentos da mesma ininterruptamente desde essa data até à data em que ocorreu o sinistro.

k) Do mencionado documento é possível aferir ainda que, nunca o Apelante auferiu desde Janeiro de 2009 o equivalente ao vencimento base constante no contrato de trabalho junto aos autos, porquanto, consta do mencionado

extracto de remunerações que para além do vencimento base ao Apelante era pago mensalmente um valor bastante superior à retribuição base a título de

“diferenças de remunerações” devido pelo facto de se encontrar a laborar no estrangeiro.

l) Nestes termos, resulta que o vencimento efectivamente auferido pelo

Apelante e pago pela Apelada CMN correspondia ao valor hora de 13,00 Euros o que eram pago com caracter de regularidade e habitualidade desde pelo

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menos Janeiro de 2009.

m) Ora, se o valor efectivamente auferido pelo Apelante não era o constante quer no contrato de trabalho quer nos recibos mensais de vencimento não é responsabilidade do mesmo, porquanto, como é do conhecimento comum esta situação é imposta pelas entidades patronais, sendo a opção dos trabalhadores de aceitarem ou de não trabalharem.

n) Face ao exposto, atenta a prova produzida deveria ter sido o quesito 1º da Base Instrutória julgado totalmente como provado, porquanto, o Apelante à data do acidente auferia em média uma retribuição base de 2.860,00 Euros durante catorze meses.

o) Relativamente ao quesito 4º da Base Instrutória considerou o Tribunal a quo como provado que o Apelante suportou despesas médicas e

medicamentosas no valor de 3.428,40 Euros.

p) Sucede que peticionou o Apelante nos presentes autos a título de despesas médicas e medicamentosas o montante de 8.232,94 Euros.

q) No que concerne às despesas constantes dos doc. 15 e 21 juntos com a Petição Inicial, que o Tribunal a quo não considerou, importa aferir que foi dado como assente que o Apelante no dia 14 de Janeiro de 2010, pelas 10h00, em Roterdão (alínea a) dos Factos Assentes) sofreu acidente de trabalho, sendo que o mesmo só foi participado pela Apelada CMN, após o seu regresso a Portugal cerca de três dias após conforme resulta do depoimento da

testemunha Ana Luísa Ribeiro Vale.

r) Sendo que, as despesas médicas e medicamentosas a que se referem os documentos 15 e 21, no montante de 104,65 Euros reportam-se precisamente à data do acidente e são de uma clinica de Roterdão, pelo que, foram as

mesmas realizadas na sequência do acidente de trabalho em discussão nos presentes autos, motivo pelo qual deveria ter sido considerado como provado que as mesmas se encontram relacionadas com o acidente de trabalho.

s) Quanto às despesas no montante de 7.000,00 Euros relativas à intervenção cirúrgica realizada na Clínica…, considerou o Tribunal a quo como provado o pagamento pelo apelante no montante de 2.500,0 Euros, face ao teor do documento 28 da Petição Inicial que constitui uma factura, não tendo

considerado como provado o pagamento do montante de 4.500,00 Euros a que se refere o documento 29 da Petição Inicial.

t) Sucede que, foi afirmado pela testemunha E…, que acompanhou o Apelante para a realização da intervenção cirúrgica, que efectivamente o Apelante suportou o pagamento de cerca de 7.000,00 Euros para a realização da mesma, tendo a depoente assistido ao pagamento desse valor, bem como confirmou a realização de outras despesas que foram consideradas pelo Tribunal a quo.

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u) Pelo que, deveria ter sido considerado como provado que o Apelante suportou o montante de 7.000,00 Euros pela intervenção cirúrgica que realizou na Clínica….

v) Nestes termos, deveria a matéria vertida no quesito 4º da Base Instrutória ser considerado como provado, ou seja, que em consequência dos factos, o Apelante suportou despesas médicas e medicamentosas no valor de 8.033,05 Euros.

w) Deverão ainda ser alterados os valores de remuneração constante no Ponto 10 da douta sentença, de acordo com o doc. de fls. 214 a 217, porquanto em 2009 o Apelante auferiu os seguintes valores:

Janeiro: 2.797,08 Euros (11 dias);

Fevereiro: 3.807,49 Euros (30 dias);

Março: 3.557,49 Euros (30 dias);

Abril: 4.067,49 Euros (30 dias);

Maio: 2.374,68 Euros (16 dias);

Junho: 4.102,39 Euros (30 dias);

Julho: 3.897,49 Euros (30 dias);

Agosto: 2.601,35 Euros (16 dias);

Setembro: 3.247,04 Euros (25 dias);

Outubro: 4.550,82 Euros (30 dias);

Novembro: 4.085,23 Euros (29 dias);

Dezembro: 4.337,49 Euros (30 dias).

x) No que concerne à fundamentação de direito; da matéria de facto apurada resulta que para efeitos de cálculo das indemnizações e pensão por

incapacidade permanente deverá atender-se à retribuição mensal de 2.860,00 Euros acrescida do montante diário de 22,24 Euros (quesito 2º da Base

Instrutória) a que corresponde a retribuição anual de 45.422,08 Euros ((2.860,00 Euros X 14 meses) + 22,24 Euros x 22 dias X 11 meses).

y) Pelo que, a responsabilidade a Apelada C… não se encontra totalmente transferida para a Apelada… (Alínea C) dos Factos Assentes).

z) Assim, nos termos do disposto nos art.48º, nº1, 50º, nº 1 e 71º da Lei nº 98/2009, tem o Apelante direito a receber pela Incapacidade Temporária

Absoluta (ITA), considerando a retribuição diária no montante de 126,17 Euros o que equivale a uma indemnização diária de 88,32 Euros por um período de 113 dias em que a mesma se verificou, ou seja, desde o dia 14 de Janeiro de 2010 a 20/05/2010, um total de 9.980,16 Euros, acrescida de juros de mora contados desde o fim do mês em que deveriam ter sido liquidadas.

aa) Tem ainda, nos termos do disposto nos art.47º, nº 1 alínea c) e 48º, nº3 alínea C) da Lei nº 98/2009, direito a receber a título de Incapacidade

Permanente Parcial (IPP) que se fixou em 2% uma pensão anual e vitalícia no

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montante de 696,08 Euros, calculada nos termos do disposto nos art.71º e 75º do mencionado diploma legal.

bb) Pensão essa obrigatoriamente remível nos termos do art. 75º, nº 1 da Lei 98/2009, no montante global de 9.788,97 Euros, a cargo das Apeladas,

acrescida de juros de mora desde o dia seguinte ao da alta.

cc) Tem ainda o Apelante direito ao reembolso do montante de 8.033,05 Euros despendidos em despesas médicas e medicamentosas, nos termos do disposto nos art.23º, nº 1 e 25º, nº 1 alínea a), b) e c) da lei 98/2009.

dd) Pelo que, deverá o presente recurso ter provimento e a decisão alterada nos seus precisos termos.

ee) E assim ser condenada a Apelada no pagamento ao Apelante do montante de 18.013,21 Euros e as Apeladas no montante de 9.788,97 Euros na

proporção da respectiva responsabilidade.

ff) Mediante, a reapreciação da prova gravada, nomeadamente, dos depoimentos das testemunhas N… com depoimento registado na Acta de 22/03/2012 e gravado no sistema Habilus Media Studio, A…, com depoimento registado na Acta de 22/03/2012 e gravado no sistema Habilus Media Studio e Esmeralda Pinto Madeira Mestre, com depoimento registado na Acta de

22/03/2012 e gravado no sistema Habilus Media Studio.

gg) Deverá, igualmente, ser apreciada a prova documental junta aos autos, nomeadamente, os doc. 1, 2, 15, 21, 28 e 29 juntos aos autos com a Petição Inicial e doc. De fls 214 a 217 dos autos.

hh) Face a todo o acima exposto, considera o Apelante que foi erradamente considerada como não provada pelo Tribunal a quo a matéria dos quesitos 1º e 4º da Base Instrutória que no entendimento do Recorrente deveriam ter sido julgados como totalmente provados.

ii) Mais considera o Recorrente que o Tribunal a quo violou o disposto nos art.23º nº 1, 25º nº 1 alíneas a), b) e c), 47º nº 1 alínea c), 48º nº 1 e 3 alínea c), 50º, nº 1, 71º e 75º, todos da Lei 98/2009 de 4 de Setembro».

As Rés responderam ao recurso, a pugnar pela sua improcedência, tendo ainda na referida resposta a Ré seguradora suscitado a questão de nas

conclusões apresentadas a recorrente não respeitar o disposto no artigo 685.º- A, n.º 1 do CPC.

O recurso foi admitido na 1.ª instância, como de apelação, e com efeito meramente devolutivo.

Neste tribunal, a Exma. Procuradora-Geral Adjunta emitiu douto parecer, nos termos do artigo 87.º, n.º 3, do Código de Processo de Trabalho, que não foi

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objecto de resposta, em que conclui pela procedência (ainda que parcial) do recurso, tendo em conta que o recorrente auferia a retribuição anual de € 43.680,00.

II. Objecto do recurso

Como resulta do disposto nos artigos 684.º, n.º 3 e 685.º-A, n.º 1, do Código de Processo Civil, ex vi do artigo 87.º, n.º 1, do Código de Processo do Trabalho, o objecto dos recursos é delimitado pelas conclusões das respectivas

alegações.

O referido n.º 1 do artigo 685.º-A, dispõe expressamente que a alegação deve concluir, «de forma sintética», pela indicação dos fundamentos por que pede a alteração ou anulação da decisão.

No recurso compreendem-se, pois, dois ónus: o de alegar e o de concluir.

No caso em apreciação, nas conclusões das alegações de recurso o recorrente

“limita-se” a repetir tudo o que havia anteriormente afirmado nas alegações:

não pode, por isso, e em rigor, considerar-se que o recorrente concluiu “de forma sintética” as alegações de recurso; a situação, atento o disposto no artigo 685.º-A, n.º 3, do Código de Processo Civil, seria susceptível de

conduzir a que se formulasse um convite à parte para a referida sintetização.

Não obstante, uma vez que as conclusões das alegações do recurso visam delimitar e sinalizar o campo interventivo do tribunal de recurso e, também, proporcionar a este uma maior facilidade e rapidez na apreensão dos

fundamentos daquele, entende-se que no caso face às alegações e conclusões apresentadas é possível atingir tal desiderato: donde, o convite ao

aperfeiçoamento/sintetização das conclusões, de relevante nada acrescentaria aos autos e ao recurso, pelo que se entende dispensar o mesmo.

Assim, tendo em conta as conclusões das alegações de recurso, são as seguintes as questões trazidas à apreciação deste tribunal:

(i) saber se existe fundamento para alterar a matéria de facto;

(ii) qual a retribuição a atender para efeitos de reparação do acidente de trabalho e, consequentemente, se deve alterar-se o valor das indemnizações e pensão fixada nos autos.

III. Factos

A 1.ª instância deu como provada a seguinte factualidade:

1. No dia 14/01/2010, pelas 10h00, em Roterdão, enquanto exercia as funções de serralheiro civil, ao proceder à deslocação e divisão de varandins, o Autor sentiu uma dor muito forte na zona lombar que o impossibilitou de continuar a trabalhar. [Facto assente A)]

2. À data, o Autor exercia a sua profissão por conta, ordem e direcção da Ré C…, Lda.. [Facto assente B)]

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3. Entre Autor e Ré foi celebrado, em 11/01/2010, um documento intitulado

“contrato de trabalho a termo incerto”, segundo o qual:

“[…]

1. O 2.º Outorgante é contratado para as oficinas sitas no local da sede da C…, obrigando-se, porém, a deslocar-se para qualquer um dos estabelecimentos ou obras em que a C… exerça ou venha a exercer a sua actividade, a fim de

realizar a prestação de trabalho ora contratada.

2. No início da execução do presente contrato, o 2.º Outorgante deslocar-se-á para as instalações/obra da S…, S.A. em LNG Receiving Terminal –

Havermummers, 8470-8480 Maasvlakte, podendo esta, a todo o tempo e nos termos previstos no número anterior, indicar outro local para a realização da prestação de trabalho.

3. O 2.º Outorgante obriga-se a realizar todas as deslocações, dentro e fora do território nacional, necessárias para a execução das suas funções, com as correspondentes despesas a cargo da C...

4. Em eventual situação de destacamento, o 2.º Outorgante receberá uma ajuda de custo mensal, de valor a fixar de acordo com o local da obra, a que acrescerá uma ajuda de custo diária suplementar para transportes locais. […]”

[Documento de fls. 107-109 – cfr. artigo 659.º, n.º 3, do Código de Processo Civil].

4. O Autor auferia uma retribuição-base de € 650,00/mês quando realizasse o trabalho em Portugal, e de €13,00/hora quando realizasse trabalho no

estrangeiro. [Resposta ao quesito 1.º]

5. Quando deslocado no estrangeiro, o Autor auferia um subsídio no valor de

€40,00 diários para despesas com alimentação e alojamento, sendo a esse valor descontados €17,76 no caso do alojamento ser disponibilizado pela 2.ª Ré. [Resposta ao quesito 2.º]

6. Em consequência dos factos, o Autor sofreu as seguintes Incapacidades:

i. Incapacidade Temporária Absoluta (ITA) desde 28/01/2010.

ii. Incapacidade Permanente de 2%. [Facto assente D)]

7. A Incapacidade Temporária Absoluta (ITA) sofrida pelo Autor prolongou-se até 20/05/2010, data de consolidação das lesões. [Resposta ao quesito 3.º]

8. Em consequência dos factos, o Autor suportou despesas médicas e medicamentosas no valor de € 3.428,40. [Resposta ao quesito 4.º]

9. À data, a Ré C…, Lda. tinha transferido a responsabilidade por acidentes de trabalho em relação ao Autor para a Ré Companhia de Seguros, S.A., com referência ao montante salarial mensal de € 650,00 x 14, na totalidade anual de € 9.100,00. [Facto assente C)]

10. Em 2009, o Autor auferiu as seguintes quantias a título de remuneração base:

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Mês Dias Valor 01/2009 11 €267,08 02/2009 30 €727,49 03/2009 30 €697,49 04/2009 30 €657,49 05/2009 16 €394,68 06/2009 30 €802,39 07/2009 30 €707,49 08/2009 16 €401,35 09/2009 25 €607,04 10/2009 30 €700,82 11/2009 29 €675,23 12/2009 30 €707,49

[Documento de fls. 214-217 – cfr. artigo 659.º, n.º 3, do Código de Processo Civil]

IV. Fundamentação

Tendo em conta as questões que se colocam no recurso, mencionadas supra, sob o n.º II, é agora o momento de analisar cada uma delas.

(i) Da impugnação da matéria de facto

Estipula o artigo 685.º-B, do Código de Processo Civil, na redacção introduzida pelo Decreto-Lei n.º 303/2007, de 24-08:

«1. Quando se impugne a decisão proferida sobre a matéria de facto, deve o recorrente obrigatoriamente especificar, sob pena de rejeição:

a) Os concretos pontos de facto que considera incorrectamente julgados;

b) Os concretos meios probatórios, constantes do processo ou de registo ou gravação nele realizada, que impunham decisão sobre os pontos da matéria de facto impugnados diversa da recorrida.

2. No caso previsto na alínea b) do número anterior, quando os meios probatórios invocados como fundamento do erro na apreciação das provas tenham sido gravados e seja possível a identificação precisa e separada dos depoimentos, nos termos do disposto no n.º 2 do artigo 522.º-C, incumbe ao recorrente, sob pena de imediata rejeição do recurso no que se refere à impugnação da matéria de facto, indicar com exactidão as passagens da

gravação em que se funda, sem prejuízo da possibilidade de, por sua iniciativa, proceder à respectiva transcrição.

3. (…).

4. Quando a gravação da audiência for efectuada através de meio que não permita a identificação precisa e separada dos depoimentos, as partes devem proceder às transcrições previstas nos números anteriores».

As audiências finais e os depoimentos nelas prestados são gravados sempre

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que alguma das partes o requeira ou quando o tribunal oficiosamente determinar a gravação, sendo esta efectuada pelo sistema sonoro (artigo 522.º-B e 522.º-C).

E, como se resulta do disposto no n.º 1, alínea a) do artigo 712.º do Código de Processo Civil, a decisão do tribunal da 1.ª instância sobre a matéria de facto pode ser alterada pela Relação se, entre o mais, tendo ocorrido gravação dos depoimentos prestados, tiver sido impugnada, nos termos do artigo 685.º-B, a decisão com base neles proferida.

No caso em apreciação, a recorrente indica os concretos pontos da matéria de facto que impugna: artigos 1.º e 4.º da base instrutória, cujas respostas

constam, respectivamente, dos n.ºs 4 e 8 da matéria de facto.

Quanto aos concretos meios probatórios, o recorrente indica não só prova documental como testemunhal: em relação a esta, embora mencione,

genericamente, o depoimento das testemunhas em que se funda, não indica, porém, com exactidão as passagens da gravação.

Mas não obstante o que se deixa assinalado – não indicação das passagens concretas da gravação em que o recorrente se funda –, considerando que os depoimentos em causa são de curta duração e, por isso, é possível localizar na gravação, sem dificuldade, as referidas passagens, entende-se ser de admitir a impugnação da matéria de facto e, por consequência, proceder à sua

reapreciação.

O artigo 1.º da base instrutória é do seguinte teor:

«À data, o Autor auferia uma retribuição base mensal no valor de € 2.860*14 meses?»

O artigo obteve a seguinte resposta:

«Provado que o Autor auferia uma retribuição-base de € 650,00/mês quando realizasse o trabalho em Portugal, e de € 13,00/hora quando realizasse

trabalho no estrangeiro».

E no artigo 4.º da base instrutória perguntava-se:

«Em consequência dos factos, o Autor suportou despesas médicas e medicamentosas no valor de € 8.232,94?».

Este artigo obteve a seguinte resposta:

«Provado apenas que, em consequência dos factos, o Autor suportou despesas médicas e medicamentosas no valor de € 3.428,40».

Como se retira da fundamentação da matéria de facto, o tribunal baseou-se para responder ao artigo 1.º nos documentos de fls. 107-111, sendo que em relação ao valor auferido no estrangeiro, resulta não só do documento de fls.

110-111, como também tal é aceite pela Ré empregadora na contestação e foi confirmado pela testemunha Nuno Piteira.

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Já em relação à resposta ao artigo 4.º, o tribunal ancorou-se nos documentos de fls. 110-111 e 155-160, assim como nas declarações de N… e de A…, sendo que as declarações da testemunha E… (que vive em união de facto com o Autor) não mereceram credibilidade ao tribunal e outros documentos juntos não demonstram a existência de nexo entre as despesas e o acidente sofrido.

O recorrente sustenta, ao fim e ao resto, que documentos juntos aos autos atestam que no estrangeiro auferia € 13,00 hora, trabalhando 10 horas dia, assim como que desde o início de 2009 o Autor prestava a actividade para a Ré empregadora na Holanda.

Esta situação é confirmada pelos depoimentos das testemunhas A… e N….

Acrescenta que também documentos juntos aos autos atestam que suportou despesas médicas e medicamentosas no valor de € 8.232,94, o que também é confirmado pelos depoimentos das testemunhas A… Vale e E...

Vejamos.

Tendo-se procedido à audição integral dos depoimentos, dos mesmos decorre, no essencial, o seguinte:

a) a testemunha N… declarou (dia 22-03-2012, desde sensivelmente as 10.46.11 às 10.57.08; anote-se que existe grande dificuldade de audição do depoimento, dado o baixo volume do som) ter trabalhado para a Ré

empregadora durante cerca de dois anos.

Iniciou o trabalho por alturas de 2009 e o Autor já se encontrava na empresa, sendo que a testemunha trabalhava na mesma quando o Autor teve o acidente:

quando trabalhavam no estrangeiro recebiam € 13,00 por hora, faziam 10 horas por dia, e recebiam ainda “uma diária” de € 40,00.

Em Portugal recebiam € 11,00 por cada hora de trabalho e € 20,00 de diária.

Habitualmente trabalhavam cerca de três meses seguidos no estrangeiro (na Holanda) e depois regressavam a Portugal durante cerca de 10 dias, após o que voltavam à Holanda.

Não recebiam qualquer outro valor para além do valor hora e “diária”.

No seu recibo de vencimento constava a retribuição de € 650,00 mensais.

b) a testemunha A… declarou (dia 22-03-2012, sensivelmente das 11.18.12 às 11.31.01) trabalhar para a Ré empregadora desde 2009 e que o Autor recebia de vencimento base mensal € 650,00; os trabalhadores deslocados no

estrangeiro recebiam ainda “vinte e poucos euros” diários, “cento e poucos euros semanais”.

Mais declarou que o Autor foi admitido em Janeiro de 2010 e que os

pagamentos aos trabalhadores eram feitos por transferência bancária e que depois do Autor regressar da Holanda, após o acidente, não voltou a trabalhar para a Ré/empregadora.

(13)

c) a testemunha E… declarou (dia 22-03-2012, sensivelmente 10.57.50 a 11.10.10), de relevante, que vive em união de facto com o Autor, que este foi operado numa Clínica…, sita no Porto, tendo suportado os custos, bem como com exames e consultas (pensa-se que a testemunha terá indicado o valor global de cerca de € 7.000,00, mas tal não é claramente perceptível).

d) a testemunha C… (dia 22-03-2012, sensivelmente 11.10.58 a 11.15.50) declarou ter a profissão de taxista, ser amigo e vizinho do Autor e ter acompanhado a situação deste após o acidente e regresso da Holanda.

Todavia, de relevante para a matéria controvertida nada acrescentou.

Ora, desde logo, do documento de fls. 214 a 217 (extracto de remunerações ou equivalências registadas na Segurança Social) resulta que o Autor em 2009 já trabalhava para a Ré empregadora, o que contraria, claramente, o afirmado pela testemunha A… no sentido de que o Autor teria sido admitido para a Ré em 2010 e ainda que recebia de vencimento base € 650,00 mensais.

Com efeito, não se extrai de tal documento que alguma vez o Autor tivesse recebido a referida retribuição.

Não está em causa que o Autor tenha assinado em 11 de Janeiro de 2010 o contrato de trabalho e adenda com a Ré empregadora cuja cópia se encontra a fls. 107 a 111: no entanto, o que ora releva é que o Autor desde pelo menos o início de 2009 que já trabalhava para a Ré.

Consentâneo com tal interpretação apresenta-se o depoimento da testemunha N… que afirmou que quando em 2009 começou a trabalhar para a Ré o Autor já aí trabalhava e que trabalhavam cerca de 3 meses no estrangeiro, após o que regressavam cerca de 10 dias a Portugal para, seguidamente, voltarem à Holanda.

A mesma testemunha afirmou que recebiam € 13,00 hora no estrangeiro e € 11,00 hora em Portugal e que recebiam ainda € 40,00 dia quando se

encontravam no estrangeiro a título de diária com despesas de alimentação e alojamento.

Tudo isto não obstante constar de documentos apenas a retribuição mensal de

€ 650,00 e a empregadora impor aos seus trabalhadores, sempre que regressavam a Portugal (ao fim de três meses), a assinatura de um novo contrato de trabalho.

A testemunha afirmou ainda que trabalhavam 10 horas/dia.

Pois bem: face ao referido documento de fls. 214 a 217, em conjugação com o depoimento da testemunha – que, não obstante as limitações naturais com que este tribunal é confrontado, pois apenas procedeu à audição da gravação, audição essa de grande dificuldade dado o baixo volume do som – entende-se ser credível que no estrangeiro o Autor auferisse € 13,00, tal como, aliás, foi

(14)

dado como provado pelo tribunal a quo.

Já porém em relação ao número de horas (10) e dias da semana de trabalho (7) que o Autor laborava, não obstante as declarações da testemunha, não se afigura poder considerar as referidas 10 horas de trabalho e os referidos 7 dias da semana de trabalho; e isto atendendo a que apenas a testemunha referiu esse número de horas e dias de trabalho e tal não se afigura

suficientemente consistente, até porque sabendo-se a fiscalização

normalmente intensa e eficaz que existe em Países como aquele em que o Autor laborava, suscitam-se dúvidas sobre se faria um horário de trabalho superior a 8 horas dia, assim como que trabalhasse todos os dias da semana.

No seguimento do que se deixa referido, entende-se dever alterar a resposta dada ao artigo, de modo a que do mesmo resulte que o Autor auferia ao

serviço da Ré, no estrangeiro, € 13,00 hora, como, aliás, já consta da resposta do tribunal da 1.ª instância, trabalhando em média 8 horas por dia, durante cinco dias da semana e que desde o ano de 2009 que o Autor trabalhava para a Ré cerca de 3 meses no estrangeiro, regressando a Portugal durante cerca de 10 dias, após o que voltava a trabalhar no estrangeiro.

Do que fica dito conclui-se ser de acrescentar a resposta ao artigo 1.º, mas não nos tempos pretendidos pelo recorrente já que isso envolveria não só um juízo fáctico, mas também um juízo jurídico quanto ao conceito de retribuição.

Já em relação ao artigo 4.º da base instrutória, em que se perguntava se o Autor suportara despesas médicas e medicamentosas de € 8.232,94, sendo a resposta que o valor dessas despesas foi de € 3.428,40, entende-se não existir fundamento para a pretendida alteração.

É certo que alguns documentos – documentos particulares, que apenas fazem prova na medida em que forem contrários aos interesses do declarante (artigo 376, n.º 2, do Código Civil) –, designadamente os que se encontram a fls. 127 a 141, referem-se a alegadas despesas suportadas pelo Autor.

No entanto, não é possível estabelecer, com segurança, o nexo entre tais despesas e o acidente sofrido: por exemplo, a fls. 141 dos autos consta

fotocópia de uma declaração da Clínica… a declarar que o Autor terá pago, no total, pela intervenção à coluna lombar € 4.500,00.

Mas se assim é, porquê não se mostram juntas as facturas/recibos

correspondentes a esse valor, e apenas se verifica a junção do recibo (cópia) a fls. 140 no valor de € 2.500,00?

Os depoimentos prestados, de concreto, também nada esclarecem quanto a esta questão.

Como se dá conta na fundamentação da matéria de facto feita pela 1.ª instância, alguns dos documentos referentes a despesas (por exemplo fls.

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128-129, 134-135) reportam-se a um período temporal em que o Autor estaria a ser acompanhado pelos serviços clínicos da seguradora, não se mostrando, por isso, justificado nem se compreendendo o porquê do recurso a outros serviços médicos (anote-se que, por princípio, compete à entidade responsável a indicação do médico assistente do sinistrado e só excepcionalmente este pode recorrer a qualquer médico – cfr. artigo 28.º da Lei n.º 98/2009, de 4 de Setembro).

De seguro, apenas constam as despesas já efectuadas após a seguradora se recusar a continuar a prestar assistência ao sinistrado – fls. 136 a 140 – e que totalizam os referidos € 3.428,40 (€ 200,00 + € 2.500,00 + € 728,40).

Não se pode olvidar que ao Autor competia a prova das despesas efectuadas e que em caso de dúvida sobre a realidade de um facto, resolve-se contra a parte a quem o facto aproveita (cfr. artigo 342.º, n.º 1, do Código Civil, e artigo 516.º, do Código de Processo Civil).

Por isso mesmo, e perante a dúvida sobre o facto em causa, o tribunal apenas deu como provado o valor de € 3.428,40.

Subscreve-se, nesta parte, o entendimento do tribunal recorrido, não se

verificando, por isso, fundamento para alterar a resposta ao artigo 4.º da base instrutória.

O recorrente pretende ainda que sejam alterados os valores da remuneração constante do n.º 10 dos factos provados, atento o documento de fls. 214 a 217.

A remuneração base que consta de tais documentos é a que se encontra vertida no facto n.º 10.

Não obstante, o facto em causa apresenta uma realidade que não se tem por demonstrada nos (e com os) documentos em causa.

Com efeito, de tais documentos apenas resulta que o Autor se encontra

inscrito na Segurança Social como trabalhador por conta de outrem e que no período em causa (de 2009/01 a 2010/12) constam naquela entidade as

remunerações ou equivalências indicadas como tendo sido auferidas pelo Autor; mas não resulta, ao contrário do que se consigna no facto n.º 10, que o Autor tenha, efectivamente, auferido essas, ou apenas essas, retribuições ou equivalências.

Assim, não obstante se entender que o facto não se apresenta essencial para a decisão – pois o que releva é a retribuição efectivamente auferida e não a declarada – entende-se alterar o mesmo.

Na sequência do que se deixa explanado:

- altera-se o facto n.º 4 da matéria de facto (que corresponde ao artigo 1.º da base instrutória) nos seguintes termos:

(16)

«O Autor auferia ao serviço da Ré, no estrangeiro, € 13,00 hora, trabalhando em média 8 horas por dia, durante cinco dias da semana, sendo que desde o início do ano de 2009 que o Autor trabalhava para a Ré cerca de 3 meses no estrangeiro, regressando a Portugal durante cerca de 10 dias, após o que voltava a trabalhar no estrangeiro».

- altera-se o facto n.º 10 nos seguintes termos:

«O Autor encontra-se inscrito na Segurança Social, como trabalhador por conta de outrem, desde 2009, constando, em relação a esse ano e naquela entidade, as seguintes remunerações ou equivalências auferidas pelo Autor:

Mês Dias Valor 01/2009 11 €267,08 02/2009 30 €727,49 03/2009 30 €697,49 04/2009 30 €657,49 05/2009 16 €394,68 06/2009 30 €802,39 07/2009 30 €707,49 08/2009 16 €401,35 09/2009 25 €607,04 10/2009 30 €700,82 11/2009 29 €675,23 12/2009 30 €707,49».

(ii) Quanto à retribuição a atender para efeitos de reparação do acidente e consequente cálculo de pensões e indemnizações

Face à factualidade apurada, é incontroverso que o Autor sofreu um acidente de trabalho, tal como se encontra definido, tendo em conta a data do mesmo, no artigo 8.º da Lei n.º 98/2009, de 4 de Setembro (doravante LAT).

Nos termos do artigo 71.º:

«1 – A indemnização por incapacidade temporária e a pensão por morte e por incapacidade permanente, absoluta ou parcial, são calculadas com base na retribuição anual ilíquida normalmente devida ao sinistrado, à data do acidente.

2 - Entende-se por retribuição mensal todas as prestações recebidas com carácter de regularidade que não se destinem a compensar o sinistrado por custos aleatórios.

3 - Entende-se por retribuição anual o produto de 12 vezes a retribuição

mensal acrescida dos subsídios de Natal e de férias e outras prestações anuais a que o sinistrado tenha direito com carácter de regularidade.

(17)

4 - Se a retribuição correspondente ao dia do acidente for diferente da retribuição normal, esta é calculada pela média dos dias de trabalho e a respectiva retribuição auferida pelo sinistrado no período de um ano anterior ao acidente.

5- Na falta dos elementos indicados nos números anteriores, o cálculo faz-se segundo o prudente arbítrio do juiz, tendo em atenção a natureza dos serviços prestados, a categoria profissional do sinistrado e os usos (…)».

Do citado n.º 1 do artigo 71.º decorre que a pensão por acidente de trabalho deve ser calculada tendo por base a retribuição anual ilíquida “normalmente”

devida ao sinistrado; ou seja, a retribuição que por regra era recebida pelo sinistrado, tendo em conta os elementos constitutivos desta e a sua

permanência, a sua cadência: está em causa o carácter normal, e não excepcional ou esporádico da retribuição.

Mas ao aludir a retribuição anual ilíquida, a lei não pretende significar que se deva atender à retribuição efectivamente auferida pelo sinistrado durante um ano: basta atentar que o trabalhador pode ser vítima de um acidente de

trabalho logo num dos primeiros dias em que inicia a actividade para uma determinada entidade empregadora e nem por isso no cálculo da pensão a que o mesmo tenha direito deixará de se ter em conta a retribuição que

normalmente ele auferiria nesse ano; o que a lei pretende ao estatuir que se atenda à retribuição anual ilíquida é, por um lado, determinar o cálculo da retribuição tendo por base um determinado período temporal e, por outro, precisar que essa retribuição a atender é ilíquida e não líquida.

É nesta linha de entendimento que o número 3 do artigo 71.º manda atender, para efeitos de cálculo da retribuição anual não à retribuição concreta, mas ao

“produto” (valor abstracto) que resulta da multiplicação por 12 vezes a retribuição mensal, acrescida dos subsídios de férias e de Natal e outras remunerações anuais que revistam carácter de regularidade.

Ora, no caso em presença, o que resulta da matéria de facto é que o Autor auferia, no estrangeiro, onde ocorreu o acidente, € 13,00 hora, sendo que desde o início do ano de 2009 prestava trabalho no estrangeiro, normalmente durante três meses seguidos, após o que regressava cerca de 10 dias a

Portugal, para, seguidamente, voltar a trabalhar três meses no estrangeiro.

Da matéria de facto resulta que o trabalho era prestado durante cinco dias da semana e num horário de 8horas/dia.

Assim, por aplicação do n.º 2 do artigo 71.º, tem que se entender que o

sinistrado auferia a retribuição regular mensal correspondente a € 13,00 hora x 8 horas dia x 22 dias úteis, o que totaliza € 2.288,00.

Atente-se que não se localizando na LAT, maxime no seu artigo 71.º, um

(18)

critério específico para o cálculo da retribuição mensal, deverá partir-se do período normal de trabalho diário e da média de 22 dias úteis mensais em que o Autor trabalharia [cfr. artigo 271.º, do Código do Trabalho; esta é também a interpretação que, embora no âmbito da Lei n.º 100/97, de 13 de Setembro, se colhe do acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 13-07-2006, disponível em www.dgsi.pt, Proc. 06S1958).

Aliás, julga-se ter sido esse mesmo o critério adoptado pelo recorrente quando alega [cfr. conclusão n)] que auferia mensalmente € 2.860,00, tendo em conta o valor hora de € 13,00 e que trabalhava 10 horas por dia (€ 13,00 x 10 x 22).

Da matéria de facto (n.º 5) consta também que o Autor auferia, quando deslocado no estrangeiro, um subsídio no valor de € 40,00 diários para despesas com alimentação e alojamento, sendo a esse valor descontados € 17,76 no caso do alojamento ser disponibilizado pela 2.ª Ré.

De acordo com o disposto no artigo 258.º, do Código do Trabalho, considera- se retribuição a prestação a que, nos termos do contrato, das normas que o regem ou dos usos, o trabalhador tem direito em contrapartida do seu trabalho (n.º 1); a retribuição compreende a retribuição base e outras prestações regulares e periódicas, feitas, directa ou indirectamente, em dinheiro ou em espécie (n.º 2); presume-se constituir retribuição qualquer prestação do empregador ao trabalhador (n.º 3, do mesmo artigo).

A lei, porém, afasta da natureza retributiva as importâncias recebidas a título de ajudas de custo, abonos de viagem, despesas de transporte, abonos de instalação e outros equivalentes, devidas ao trabalhador por deslocações, novas instalações ou despesas feitas em serviço do empregador, salvo quando, sendo tais deslocações ou despesas frequentes, essas importâncias, na parte em que exceda os respectivos montantes normais, tenham sido previstas no contrato ou se devam considerar pelos usos como elemento integrante da retribuição do trabalhador [alínea a) do n.º 1 do artigo 260.º)].

A expressão “outras prestações regulares e periódicas” constante do n.º 2 do artigo 258.º deve ser interpretada no sentido de que nela somente se integram as atribuições patrimoniais que constituam para o trabalhador uma vantagem económica representativa do rendimento da sua actividade laborativa: se, por exemplo, estão em causa pagamentos que não visam em regra pagar o

trabalho ou a disponibilidade para o trabalho, antes compensar as despesas realizadas pelo trabalhador por ocasião da prestação do trabalho (v.g. ajudas de custo), não se pode considerar que a obrigação de pagamento destas

prestações decorra da correspectividade com a efectiva prestação de trabalho.

É nesta linha de entendimento que a referida alínea a), do n.º 1, do artigo 260.º, do Código do Trabalho exclui da noção de retribuição as ajudas de

(19)

custo, salvo se as mesmas não se destinarem a compensar o trabalhador por despesas por ele realizadas com a prestação de trabalho.

No caso em apreciação, resulta da matéria de facto que ao Autor era pago, quando trabalhasse no estrangeiro, € 40,00 diários, para despesas de

alimentação e alojamento, sendo a esse valor descontados € 17,76 no caso do alojamento ser disponibilizado pela empregadora.

Tal significa que aquele pagamento se destinava a compensar o trabalhador pelas despesas por este efectuadas no estrangeiro com alojamento e

alimentação, não representando para ele uma vantagem económica, pelo que tal pagamento, face ao disposto na alínea a) do n.º 1 do artigo 260.º do Código do Trabalho, se exclui da noção de retribuição.

Caberia então ao trabalhador, em face do disposto na parte final da norma em causa (cfr. artigo 342.º, n.º 1, do Código Civil) provar que o montante recebido (os € 40,00 diários) excedia as respectivas despesas normais decorrentes de se encontrar deslocado no estrangeiro e, por consequência, que

representavam para ele uma vantagem económica da prestação de trabalho, era um ganho decorrente da prestação do trabalho.

Não tendo sido feita tal prova, o referido pagamento, ainda que parcelarmente, não pode assumir natureza retributiva.

Assim, a retribuição anual do trabalhador a considerar (cfr. artigo 71.º, n.º 3, da Lei n.º 98/2009, de 4 de Setembro) é de € 32.032,00 (€ 2.288,00 x 14 meses).

Considerando que para a Ré seguradora apenas se encontrava transferida a responsabilidade por acidentes de trabalho com o Autor pela retribuição anual de € 9.100,00, é a Ré empregadora responsável pela diferença (cfr. artigo 79.º, n.º 4 da referida lei e artigo 283.º, n.º 5, do Código do Trabalho).

Deste modo, considerando que o Autor esteve com incapacidade temporária absoluta (ITA), é-lhe devido a tal título, e tendo presente o disposto nos artigos 47.º, n.º 1, alínea a), 48.º, n.º 1 e n.º 3, alínea d), 50.º, n. 1 e 3 e 71.º , n.º 1 a 3, da Lei n.º 98/2009, uma indemnização diária de € 62,28 (€ 32.032,00 : 12 : 30 x 70%); e, considerando que a ITA se prolongou por 113 dias (cfr. n.ºs 6 e 7 dos factos provados), soma o valor de € 7.037,64 (€ 62,28 x 113).

Dessa importância são devidos pela seguradora € 1.998,97 e pela empregadora € 5.038,67.

Já em relação à incapacidade permanente parcial (IPP) de 2% de que ficou a padecer o sinistrado, tendo em conta o disposto nos artigos 47.º, n.º 1, alínea c), 48.º, n.º 2 e n.º 3, alínea c), 50.º, n.º 2, da referida lei, é-lhe devida a

pensão anual e vitalícia de € 448,45 (€ 32.032,00 x 70% x 2%) - sendo €

(20)

127,40 da responsabilidade da seguradora e € 321,05 da responsabilidade da empregadora – a que corresponde o capital de remição de € 6.306,55 (€

448,45 x 14,063), sendo € 4.514,92 da responsabilidade da empregadora e € 1.791,63 da responsabilidade da seguradora.

Refira-se que em relação ao pretendido pagamento de despesas médicas e medicamentosas para além do já constante da sentença recorrida, deverá o mesmo ser julgado improcedente por o recorrente não ter logrado provar tais despesas (ainda que na vertente de nexo de causalidade entre as despesas e o acidente).

Uma vez aqui chegados, impõe-se concluir pela procedência parcial das conclusões das alegações de recurso e, por consequência, pela procedência parcial do recurso.

Vencidos parcialmente no recurso, quer o Autor recorrente, quer a Ré empregadora (2.ª Ré), deverão suportar o pagamento das custas, na proporção do decaimento (artigo 446.º, do Código de Processo Civil).

V. Decisão

Face ao exposto, acordam os juízes da Secção Social do Tribunal da Relação de Évora, em conceder parcial provimento ao recurso interposto por José Guerreiro Soares de Oliveira Raposo, e, em consequência:

1.Revogando o n.º 1 da parte decisória:

a) Considerando que ao sinistrado J… é devida a título de incapacidade

temporária absoluta a indemnização de € 7.037,64, condena-se a seguradora a pagar desse montante o valor de € 1.998,97 e a empregadora o valor de € 5.038,67.

b) Considerando que ao mesmo sinistrado é devida, a título de incapacidade permanente parcial, a pensão anual e vitalícia de € 448,45 (€ 32.032,00 x 70%

x 2%) – sendo € 127,40 será da responsabilidade da seguradora e € 321,05 da responsabilidade da empregadora – a que corresponde o capital de remição de

€ 6.306,55, condena-se a empregadora a pagar deste montante o valor de € 4.514,92 e a seguradora o montante de € 1.791,63.

c) Sobre as quantias em causa são devidos juros de mora, à taxa legal, desde o vencimento das obrigações até integral pagamento.

2. No mais, mantém-se a sentença recorrida.

Custas pelo Autor/recorrente e pela 2.ª Ré/recorrida na proporção do decaimento.

Évora, 20 de Dezembro de 2012 (João Luís Nunes)

(Paula Maria Videira do Paço) (Acácio André Proença)

Referências

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