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A imigração portuguesa para o Brasil

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Academic year: 2022

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A imigração portuguesa para o Brasil

Walmer Peres Santana1

Cerca de 50 milhões de europeus migraram entre 1850 e 1930. A fome, a busca por fortuna, a procura por glória pessoal, motivações de toda natureza levaram os europeus a saírem de seu continente para outras partes do mundo. Coube aos povos latinos (portugueses, espanhóis e italianos) a maior parcela dos emigrantes do Velho Continente no último terço do século XIX.

Emigração portuguesa oficial e estimada entre 1885 e 1930

Períodos Saídas legais Estimativas com clandestinos

1855-1864 77.049 80.901

1865-1878 148.248 155.661

1879-1890 215.502 247.903

1891-1900 268.326 307.903

1901-1911 385.928 439.046

1912-1920 366.114 391.743

1921-1930 324.752 347.486

BAGANHA, 2001. p. 449-450 apud ARRUDA, 2007, p. 33.

A vocação para se deslocarem através do mundo é uma das características do povo português, constituída em um longo percurso histórico. Desde o período colonial, o fluxo de lusitanos para o Brasil foi de certa forma constante, verificando-se momentos de maior afluência, por exemplo, quando do contexto da exploração mineradora em Minas Gerais, entre o final do século XVII e primeira metade do século XVIII.

No século XIX, a imigração portuguesa para o território nacional assumiu um caráter diferente. A chegada em larga escala de portugueses, tendo como destino principal a cidade do Rio de Janeiro, no final do Oitocentos e início do Novecentos, configura-se

1 Mestre em História Política pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Historiador do Club

de Regatas Vasco da Gama e Coordenador do Centro de Pesquisa, Preservação de Acervos e Divulgação da História e Memória do Club de Regatas Vasco da Gama (CPAD-CRVG).

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como um processo histórico específico dentro do quadro histórico geral da imigração portuguesa na América.

Fatores da conjuntura europeia e, particularmente, da portuguesa, colaboraram para a onda migratória. A partir da segunda metade do século XIX, houve em Portugal o avanço da concentração fundiária e expulsão dos pequenos proprietários de suas terras.

No final do Oitocentos, a emigração tornou-se para os portugueses um modo de escapar do empobrecimento imposto pela concentração fundiária, tônica do contexto europeu na segunda metade do século, pela mecanização da produção do campo e pela diminuição do emprego nas áreas urbanas de Portugal. O Brasil representava um refúgio contra a proletarização forçada pela crescente fragmentação e desaparecimento da pequena propriedade no norte português.

A diferença salarial, baseada na valorização da moeda brasileira diante do câmbio favorável ao Brasil em relação à Portugal, foi outro fator preponderante para a escolha do país como destino de emigrantes portugueses, tanto para os jovens quanto para aqueles trabalhadores com mais idade. Além disso, os lusitanos que conseguiram obter maior sucesso na empreitada da emigração para o Brasil, quanto ao envio de recursos financeiros para Portugal, tiveram maior êxito mais pela diferença de salário entre os dois países e menos pelo acúmulo sistemático de capital em consequência de longo tempo de trabalho. O câmbio era favorável à moeda brasileira e atuava de forma a elevar consideravelmente os ganhos obtidos no país.

No Brasil, o incentivo à imigração de europeus para o fortalecimento do sistema de trabalho livre nas lavouras de café de São Paulo a partir de 1870, o fim da escravidão, a “grande naturalização” e o clima de desenvolvimento e modernização propagandeados pelo novo regime republicano, colocando o Rio de Janeiro como o espelho do novo modelo político e civilizacional brasileiro, foram os elementos da conjuntura nacional que tornavam favoráveis a vinda do imigrante para o país, a partir da segunda metade do século XIX.

Em termos gerais, havia vetores globais que influenciavam a imigração portuguesa para o Brasil em detrimento de países mais prósperos na América no final do século XIX e início do século XX, como os Estados Unidos e a Argentina. A maior facilidade de interação e adaptação em decorrência de similaridades linguística e religiosa pesava quando da opção pelo Brasil.

No plano internacional, os portugueses optaram pela vinda em larga para a sua antiga colônia no continente americano e, em especial, para a cidade do Rio de Janeiro.

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Por fornecer salários mais altos na área urbana do que São Paulo, o Distrito Federal tornava-se o principal polo de atração. Os portugueses tenderam, na medida do possível, a se concentrar na cidade pioneira da industrialização, principal porto, maior centro comercial e capital do país.

O Brasil era visto pelo imigrante português como terra de abundância e oportunidades de enriquecimento. Desejoso pela melhoria de vida, o imigrante português enxergava, principalmente, na cidade, e não no campo, o lugar capaz de lhe fornecer meios para isso. Assim, os portugueses terão papel central no aumento populacional da do Rio de Janeiro e estarão presentes nos mais variados setores da então maior e mais importante cidade do país.

Tabela 1 – Imigração Portuguesa no Brasil (1880-1930)

Anos Imigração Portuguesa Anos Imigração Portuguesa

1880 12.101 1911 47.493

1883 12.509 1912 76.530

1886 6.287 1913 76.701

1889 15.240 1915 15.118

1892 17.797 1916 11.981

1895 36.055 1919 17.068

18982 15.015 1922 28.622

1901 11.261 1925 21.508

1904 17.318 1928 33.882

1907 29.681 1929 38.879

1910 30.857 1930 18.791

Fonte: CARNEIRO, J. Fernando. Imigração e colonização no Brasil. Rio de Janeiro: Universidade do Brasil, Faculdade Nacional de Filosofia, Publicação Avulsa, n.2, 1, 1950. Apud: LOBO, Eulália Maria Lahmeyer. Imigração Portuguesa no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2001, p. 142.

Tabela 2 – Imigração Portuguesa no Brasil (1890-1930)

Anos Imigração Portuguesa Anos Imigração Portuguesa

1900 14.493 1913 64.407

Ano de fundação do Club de Regatas Vasco da Gama.

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1902 15.003 1916 10.002

1904 21.449 1919 21.228

1905 24.815 1920 33.651

1906 26.147 1921 13.838

1907 31.483 1922 25.630

1908 36.362 1925 13.288

1910 31.280 1928 27.728

1912 74.860 1930 11.834

Fonte: LOBO, Eulália Maria Lahmeyer. Imigração Portuguesa no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2001, p. 278-279.

Historicamente, o Noroeste português (mais especificamente a província do Minho, que corresponde aos atuais distritos de Braga e Viana do Castelo), foi a região que mais contribuiu para o caudal imigratório de lusitanos que chegavam ao Brasil. A emigração para a “Terra de Vera Cruz” estava integrada a um conjunto de estratégias de sobrevivência e reprodução social de diversas famílias do Minho e representou um importante mecanismo de equilíbrio e acomodação entre a escassez de recursos e o crescimento constante da população minhota.

No quadro geral da imigração portuguesa para o Brasil e, particularmente, no caso do Rio de Janeiro, no final do século XIX e início do século XX, havia um predomínio do sexo masculino em relação ao feminino. O homem, fosse ele solteiro ou casado, representava a maior parcela dos imigrantes lusitanos que chegavam ao país. Entretanto, as mulheres estrangeiras, em especial as portuguesas, desempenhavam funções variadas no mercado de trabalho.

No serviço doméstico, a preferência pelas estrangeiras se faz notar nas páginas de avisos de jornais. No comércio, embora haja uma predominância masculina combinada com um acentuamento da “invisibilidade” feminina, sabe-se que à medida que o pequeno comércio se expandiu – relacionado principalmente ao comércio de alimentos – o trabalho da mulher tendeu a acompanhar a atuação dos maridos em seus pequenos negócios.

A análise da vida associativa dos clubes esportivos é uma possibilidade para enxergarmos a presença e participação das portuguesas no Rio de Janeiro e, talvez, em outros locais do Brasil. O Vasco da Gama passou a aceitar a associação feminina a partir da segunda década do século XX. Na reunião de Diretoria de 20 de abril de 1921, o então

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1.º Diretor de Regatas, Deolindo Pinto da Silva propôs para que fossem admitidas sócias no Clube.

O mesmo dirigente fez a indicação para que as primeiras filiadas fossem Avelina Baltazar Portela e sua filha Rosa Portela. Avelina era esposa de Alberto Baltazar Portela, prestigiado dirigente vascaíno, e se tornaria a primeira mulher benemérita da agremiação vascaína. Em 1912, as remadoras Amy Thompson e Tilly Morrison se tornaram as primeiras mulheres a serem agraciadas pelo Clube com o título de sócio honorário.

A tripulação e a madrinha do barco “VIOLETA”, em 18 de agosto de 1901. Fonte: Revista da Semana, Rio de Janeiro, 08 de setembro de 1901, p. 3.

A maioria dos imigrantes lusitanos era formada por jovens solteiros e aqueles que saíam de Portugal já casados. Normalmente, o português optava por partir deixando a sua esposa na terra natal e a trazia para o Brasil quando já estivesse instalado em alguma cidade. Os jovens menores do sexo masculino compunham o que podemos chamar de modelo padrão de imigrante português. Tratava-se de um grupo constituído por

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indivíduos em busca de prosperidade fácil, fuga do serviço militar e ajudar a sustentar a família que não migrava.

No final do século XIX e início do século XX, tornou-se comum, no cenário urbano da cidade do Rio de Janeiro, a presença de crianças e adolescentes portugueses ou galegos (espanhóis vindos da Galícia, na Espanha) vadiando pelas ruas ou atuando no mercado de trabalho, sendo empregados como caixeiros nos armazéns e demais casas comerciais da capital, ou como aprendizes nas várias oficinas existentes.

Emigrantes portugueses já a bordo de navio, dirigindo-se para o Brasil, no início do século XX.

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Emigrantes portugueses à espera do embarque para o Brasil, no Terreiro do Paço, em Lisboa, início do século XX.

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Emigrantes portugueses à espera do embarque para o Brasil, início do século XX.

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Emigrantes portugueses à espera do embarque para o Brasil, início do século XX.

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Anúncio da saída do vapor "Rei de Portugal" para o Brasil. O Comércio do Porto, Porto, Portugal, janeiro de 1900.

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Anúncio da saída do vapor "Alvares Cabral" para o Brasil. O Comércio do Porto, Porto, Portugal, janeiro de 1900.

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Vapor “Buenos Ayres”, que deu entrada no porto do Rio de Janeiro, no dia 09 de janeiro de 1877. Fonte: Arquivo Nacional.

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Mapa da Península Ibérica (1897)

Fonte: LÜDDECKE, Ricardo. Atlas Escolar Portuguez. Porto, 1897.

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Mapa Administrativo de Portugal (1924)

Fonte: BARRAULT, Lith. E. Mapa Administrativo de Portugal. Lisboa, 1924.

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Mapa Administrativo de Portugal (c.1930)

Fonte: PORTUGAL. Atlas de Portugal continental insular e ultramarino. Porto, (c.

1930).

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Mapa do norte de Portugal (1897)

Norte de Portugal, de onde milhares de portugueses partiram para o Brasil e outras partes do mundo. Fonte: LÜDDECKE, Ricardo. Atlas Escolar Portuguez. Porto, 1897.

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Mapa da província do Minho (c. 1925)

Fonte: Biblioteca Nacional.

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Raul da Silva Campos, sem data. Acervo: CPAD-CRVG.

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Antonio de Almeida Pinho, sem data. Acervo: CPAD-CRVG.

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José Augusto Prestes, c. 1929.

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REFERÊNCIAS

ARRUDA, José Jobson de Andrade. A expansão europeia oitocentista: emigração e colonização. In: A emigração portuguesa para o Brasil. SOUSA, Fernando de;

MARTINS, Ismênia. (Orgs.). Porto: CEPESE; Edições afrontamento, 2007.

LOBO, Eulália Maria Lahmeyer. Imigração Portuguesa no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2001.

SANTANA, Walmer Peres. A consolidação do Club de Regatas Vasco da Gama (1898-1906). 2021. 356 f. Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2021.

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