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ARGUIDO IMPOSSIBILITADO DE ESTAR PRESENTE EM JULGAMENTO ARGUIDO QUE SE AUSENTOU DO JULGAMENTO NOTIFICAÇÃO

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Tribunal da Relação do Porto Processo nº 1922/10.6TAMTS.P1 Relator: ELSA PAIXÃO

Sessão: 20 Fevereiro 2013

Número: RP201302201922/10.6TAMTS.P1 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: REC PENAL Decisão: REJEITADO

PRAZO PARA O RECURSO

ARGUIDO IMPOSSIBILITADO DE ESTAR PRESENTE EM JULGAMENTO

ARGUIDO QUE SE AUSENTOU DO JULGAMENTO NOTIFICAÇÃO

DEPÓSITO DA SENTENÇA

Sumário

I - Nas situações a que aludem os arts. 333° n°s 2, 3 e 5 e 334° n° 6 do Código de Processo Penal, o arguido está física e processualmente ausente da

audiência e, por isso, o legislador não prescindiu da comunicação da sentença ao arguido através da sua notificação pessoal;

II – Neste caso, o prazo para a interposição do recurso conta-se a partir da data da notificação pessoal da sentença;

III – Se o arguido esteve presente no julgamento, mas entretanto ausentou-se (justificada ou injustificadamente) e não assistiu à leitura da sentença,

considera-se notificado com a leitura da sentença feita perante o seu defensor, nos termos do disposto no n° 3 do artigo 373° do Código de Processo Pena.

IV – A disposição legal contida no art. 373° n° 3 do Código de Processo Penal é uma norma especial relativamente à contida no art. 113° n° 9 e, por isso,

prevalece sobre esta.

V- Aqui, o prazo para o recurso conta-se da data do depósito da sentença

mesmo que a secretaria o tenha notificado da sentença pois que tal notificação configura acto inútil que não produz qualquer efeito.

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Texto Integral

Proc. Nº 1922/10.6TAMTS.P1

3º Juízo Criminal do Tribunal Judicial de Matosinhos

Acordam, em Conferência, as Juízas desta 2ª Secção Criminal do Tribunal da Relação do Porto:

I – Relatório

No 3º Juízo Criminal do Tribunal Judicial de Matosinhos, no processo comum singular, foi submetido a julgamento o arguido B…, tendo sido proferida decisão com o seguinte dispositivo:

Nestes termos e pelos fundamentos aduzidos, o tribunal decide:

a) Condenar o arguido B…, como autor, na forma consumada, pela prática de um crime de falsificação de documento, p. e p. pelo art. 256.°, n.° 1, als. a), c) e d), do Código Penal, na pena de 130 (cento e trinta) dias de multa, à taxa diária de € 8,00 (oito euro), perfazendo a quantia global de € 1.040,00 (mil e quarenta euro);

b) Condenar o mesmo arguido no pagamento das custas do processo, fixando- se a taxa de justiça em 2,5 UC.

***

Notifique. Boletins à DSIC

Deposite (art. 372.°, n.° 5, do CPP)

***

Inconformado com a decisão condenatória, dela veio o arguido interpor o presente recurso, terminando a motivação com as seguintes conclusões (transcrição):

I - Ocorreu contradição e errada apreciação da matéria de facto, o que

motivou a errada prova dos factos constantes da provados das alíneas b) a g) e v) "i. Factos provados”, assim como errada resposta de não provado do facto constante da alínea e) “ii. Factos não provados" da sentença;

II - Aquelas contradição e erro de apreciação deve ser decidida em prol dos factos provados constantes das alíneas i) a s) dos “i. Factos provados” e

alteração para não provados dos factos das alíneas b) a g) e v) do mesmo item;

III - Houve ainda errada resposta de não provado do facto constante da alínea e) “ii. Factos não provados" que deve ser alterado para “facto provado”

embora com redação diferente que se sugere dever ser

"O arguido assumiu a devolução dos sinais pelo menos em 27 de Maio de 2010, o que iniciou naquela data com a entrega de 5.000,00€ e concluiu na

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pendência deste processo, com a entrega do valor restante de 9.600,00€ e juros."

IV - A definição do tipo de crime "falsificação de documento” plasmada no artº 256° CPenal impõe que o agente do crime tenha intenção de obter para si ou para terceiro enriquecimento ilegítimo, induzindo, astutamente, o fendido em erro, de forma a determiná-lo à prática de factos que lhe causem, a si ou a terceiro, prejuízos patrimoniais.

V - O elemento essencial subjetivo deste crime é o dolo específico, isto é, a prova de que o agente atuou "com intenção de causar prejuízo a outra pessoa ou ao Estado, de obter para si ou usar prejuízo a outra pessoa benefício

ilegítimo..."

VI - Da prova processualmente adquirida resulta que, no caso concreto, o arguido não atuou com o propósito de prejudicar o ofendido, tendo-o reembolsado, como juros, do valor por ele entregue a título de sinal

(14.600,00€), facto que conduziu à desistência de queixa do ofendido pela declarada satisfação integral dos seus prejuízos.

VH - Daquela prova resulta, também, que a fé pública dos contrato promessa e a confiança no tráfico jurídico dos mesmos circunscreveu-se à relação interna entre o arguido e o queixoso, sem qualquer difusão fora daquela relação interna e, nessa medida, sem repercussão em terceiros, nomeadamente no Estado, já que aqueles contratos não foram realizados em notário público e não foram apresentados em nenhum serviço público, nomeadamente por submissão ao registo predial.

VIII - Nessa medida, entendemos ser manifesto que o elemento subjectivo – dolo específico - integrador do tipo de crime (falsificação de documento) imputado ao arguido/recorrente na acusação não se encontra preenchido.

IX - Em face do ressarcimento dos prejuízos que determinaram a queixa do ofendido e da ausência de outros ofendidos para além daquele, nomeadamente do Estado e da desistência de queixa do único ofendido (o queixoso) e da

manifesta ausência de prova dos factos da acusação quanto aos elementos integradores do crime de "falsificação de documento", a prova

processualmente adquirida teria, no mínimo, gerado dúvida no julgador e o consequente favorecimento do arguido em face do princípio "in dubio pro reo".

X - O arguido não cometeu o crime de falsificação de documento, previsto e punível pelo art.º 256.°, 1, al. a), c) e d) do CPenal, ou, no mínimo, resultam sérias dúvidas sobre a respetiva prática, o que, num caso ou no outro, deveria ter levado à sua absolvição.

Sem prescindir,

XI - Mesmo concedendo, por explanação de raciocínio, que o arguido cometeu os factos acusados, ocorreu errada ponderação e quantificação da medida da

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pena de multa aplicada.

XII - A pena de multa em que foi o arguido foi condenado e o quantum monetário da mesma são manifestamente excessivos, porquanto não se encontram ajustados à gravidade da ofensa, às consequências da mesma (ressarcida ao queixoso) e às possibilidades económicas do recorrente.

XIII - Estes factos deveriam ter conduzido à condenação do arguido nos

mínimos da previsão legal, considerando a atuação o arguido com um grau de ilicitude leve e, quando muito, com dolo indireto (art.ºs 70º e 71 do Código Penal).

XIV - Destarte, considerando a moldura pena penal prevista no art. 47º, nº 1 do Código Penal, cujos limites da pena de multa se situam entre 10 e 360 dias, o arguido deveria ter sido dispensado de pena (art° 74º CPenal) ou, quando muito, condenado no limite mínimo de 10 dias de multa (artº 41º, 1. CPenal) e, considerando os gastos e os rendimentos do arguido e seu agregado familiar, o valor diário da multa deveria fixar-se no valor mínimo de 5,00€ (art° 47º, 1.

CPenal).

XV - Conclui-se, por isso, que - na hipótese admitida por explanação de raciocínio de haver lugar à condenação - o arguido devia ser dispensado de pena ou, quando muito, ser condenado em multa de 10 dias à razão de 5,00€

por dia, ou seja, no montante máximo de 50,00€.

Termos em que deve o presente recurso ser julgado procedente por provado, devendo o arguido ser absolvido, ou, quando muito, ser alterada a medida da pena de multa aplicada, que deve ser dispensada ou, no mínimo, fortemente reduzida para o valor de 50,00€, o que será de JUSTIÇA!

***

Em resposta ao recurso do arguido, o Ministério Público em 1ª Instância concluiu que deve ser negado provimento ao mesmo, mantendo-se a decisão recorrida. Termos em que se formula as seguintes conclusões:

1 - O recurso da matéria de facto impõe ao recorrente o ónus de impugnação especificada nos moldes e com as exigências previstas nos n.°s 3 e 4 do já citado artigo 412° do CPP: em conformidade, recai sobre o recorrente o dever de, indicando o facto individualizado que consta da sentença que considera incorrectamente julgado, individualizar as passagens da gravação em que se baseia para tal pretensão;

2 - Isso não tendo feito o recorrente e verificando-se tal incumprimento quer na motivação, quer nas conclusões do recurso, não deverá sequer haver lugar a qualquer convite ao aperfeiçoamento destas últimas, não só porque apenas se pode corrigir o que está deficientemente cumprido e não o que se tem por incumprido, mas também porque o convite ao aperfeiçoamento não admite a

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modificação do âmbito do recurso que tiver sido fixado na motivação (artigo 417° n.° 4 do CPP);

3 - Consequentemente, somos a entender que, desde logo por tal razão, deveria nesta parte o recurso ser rejeitado por inadmissibilidade, visto que, em bom rigor, lhe falta a motivação;

Mas mais se dirá:

4 - Pretendendo o recorrente sindicar a apreciação da matéria de facto, e alargando tal impugnação à análise do que se contém e pode extrair da prova (documentada) produzida em audiência, temos contudo que nada do que ora alega o recorrente implicaria decisão diversa, limitando-se o recurso

interposto a tentar reclamar credibilidade para as declarações do arguido depoimento a que consistência e isenção alguma foram reconhecidas pelo Tribunal a quo, sendo até contraditados pela demais prova produzida, apreciada à luz dos juízos de experiência comum - que desde logo evidenciaram a inverosimilhança de tal versão;

5 - O modo como o Tribunal a quo formou a sua convicção está exaustiva e claramente demonstrado na motivação de facto vertida na douta sentença recorrida, e não há senão que reter que contra as conclusões em matéria de facto vertidas na douta sentença recorrida, não alinhou o ora recorrente quaisquer concretas provas que impusessem (e não apenas permitissem) decisão diversa da recorrida, antes se obstinando em procurar abalar a convicção formada pelo tribunal a quo, questionando a relevância que foi conferida aos depoimentos e aos demais elementos que fundamentam a

convicção que aquele formou, mas sempre sem colocar em causa a existência daqueles meios de prova e sem apontar uma eventual violação de qualquer dos passos necessários para a formação de tal convicção;

6 - Ora, quando a atribuição de credibilidade a uma fonte de prova pelo julgador se basear numa opção assente na imediação e na oralidade, nada poderá colher a sua crítica se não ficar demonstrado que essa opção é inadmissível face às regras da experiência comum;

7 - Analisada a motivação de facto com brilho e exaustividade expendida na douta sentença recorrida, temos que se evidencia que o tribunal a quo, sem qualquer arbitrariedade ou atropelo das normas processuais atinentes à prova, recorreu às regras de experiência comum e apreciou a prova de forma lógica, objectiva e motivada, não podendo senão os raciocínios ali expendidos, porque apoiados em operações intelectuais válidas e justificadas, merecerem a concordância desse Tribunal superior;

8 - E no que toca à pretensa violação do princípio in dubio pro reo, também ora invocada pelo recorrente, temos que não pode concluir-se que a prova produzida gere factos incertos ou implique dúvida razoável que seja

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susceptível de infirmar a livre convicção do Tribunal a quo, formulada em conformidade com o disposto no art. 127.° do CPP;

9 - O tribunal não se socorreu daquele princípio - que apenas significa que perante factos incertos, a dúvida favorece os arguidos - porque a livre

apreciação da prova não conduziu - e nem poderia conduzir - à subsistência, no espírito do julgador, de uma dúvida positiva e invencível sobre a existência dos factos e dos seus autores, antes tendo o julgador ficado seguro do juízo de censura que dirigiu ao arguido;

10 - Finalmente, no que toca ao quantitativo diário da pena de multa fixada, temos que sublinhar ser pacífico que os quantitativos mínimos diários de multa devem ficar reservados para quem vive abaixo ou no limiar da

subsistência, por carência de rendimentos próprios ou de quaisquer outros. E a partir de tal base inferior, deverão ser escalonados os demais patamares de rendimento e os correspectivos superiores quantitativos diários;

11 - Ora, se face à moldura do n.° 2 do artigo 47° do CP, para quem não tem proventos ou para quem rendimentos para que possa beneficiar do rendimento social de inserção [€ 189,52] se mostra proporcional uma taxa diária a partir de € 5, e, logo, para quem aufere a retribuição mínima mensal garantida [€

485] se deve considerar ajustado um valor diário de 10, temos que não se vislumbra que, em relação ao arguido (a quem aliás não são conhecidos especiais encargos) possa ser julgado adequado um valor diário de 5€, como este ora sustenta;

12 - É pois nosso entendimento que a sentença recorrida - nesta parte também exaustiva e brilhantemente motivada - comina para o ora recorrente uma pena que se mostra justa, porque proporcional e adequada ao trinómio natureza e gravidade dos factos/grau de culpa, personalidade e demais elementos

pessoais e sociais atendíveis do agente/fins das penas, tudo segundo os critérios enunciados nos artigos 40°, 41°, 47°, 70°,e 71° do CP;

13 - Em suma, não sendo à douta sentença recorrida endereçável qualquer censura ou reparo, designadamente os alinhados pelo recorrente, deve a mesma ser mantida nos seus exactos termos.

***

O recurso foi admitido.

***

Neste Tribunal da Relação do Porto o Sr. Procurador-Geral Adjunto emitiu douto parecer suscitando a questão prévia da intempestividade do recurso e, quanto ao mérito do recurso, pugnando pela respectiva improcedência.

Cumprido o disposto no artigo 417º, nº 2 do Código de Processo Penal o recorrente respondeu invocando que foi notificado da sentença em

22.06.2012, na sequência de mandado para o efeito expedido pelo tribunal,

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assim como do prazo da notificação da mesma para exercer o direito de recurso. Alegou ainda que independentemente da data do depósito da

sentença na secretaria é a data de 22.06.2012 que deve prevalecer para efeito da contagem do prazo para interposição de recurso da decisão que o

condenou. Concluiu pela improcedência da questão prévia suscitada pelo Ministério Público.

***

Efectuado exame preliminar e colhidos os vistos legais, foram os autos submetidos à conferência.

***

II – FUNDAMENTAÇÃO

Passemos agora ao conhecimento das questões alegadas no recurso interposto da decisão final proferida pelo tribunal colectivo.

Para tanto, vejamos, antes de mais, o conteúdo da decisão recorrida (transcrição):

II. Fundamentação.

i. Factos provados.

Discutida a causa, resultaram provados, com interesse para a decisão da causa e com exclusão de conclusões e conceitos jurídicos, os seguintes factos:

a) O arguido apresentou-se ao ofendido C… pelo menos como pessoa com legitimidade para representar a empresa "D…, Lda.", com sede em Braga, porque sabia que o ofendido pretendia adquirir duas fracções autónomas correspondentes a dois lugares de garagem do prédio das ruas …, n°s …/… e

…, n°s …/…, em Matosinhos.

b) Neste contexto, o arguido, fazendo-se passar por legítimo representante da empresa D…, Lda., no dia 10 de Outubro de 2008, celebrou com o ofendido os contratos de promessa de compra e venda das facções I e H, correspondentes a dois lugares de garagem dos prédios supra identificados, pelo preço de 7.750,006 e 9.500,00€, respectivamente, cfr. cópias de contratos de fls. 10 a 13 dos autos, redigidos pelo arguido e onde este consta como 1o outorgante, sócio-gerente da "D…, Lda" e, com o seu punho, assinou aqueles contratos nesta qualidade, entregando-os ao ofendido, em Matosinhos.

c) O ofendido, convencido de que o arguido era legítimo representante daquela empresa e que tinha legitimidade para a representar naqueles

contratos, dado que sempre se intitulou como tal, contratou com o arguido nos precisos termos daqueles contratos a compra e venda das mencionadas

fracções e entregou-lhe a título de sinal e princípio de pagamento o montante de 14.600,006.

d) Dada a impossibilidade do arguido celebrar a escritura pública de compra e venda daquelas fracções, porque não era o seu legítimo proprietário, nem lhe

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foi conferida legitimidade para celebrar aquele acto pelo legítimo dono, a empresa supra identificada, o ofendido ficou prejudicado no montante de 14.600,006 que entregou ao arguido e que este fez seu.

e) O arguido agiu livre, deliberada e conscientemente, valendo-se do desconhecimento e boa fé do ofendido para, de forma capciosa e supra descrita, o levar a acreditar que era legítimo representante da firma proprietária das fracções, com o propósito conseguido de obter um

enriquecimento ilegítimo através do prejuízo causado ao ofendido, pelo menos no montante supra mencionado.

f) Ao fabricar os documentos supra mencionados, apondo-lhe a sua assinatura como se fosse sócio-gerente da firma proprietária das fracções autónomas que prometeu vender ao ofendido, o arguido sabia que estava a fazer constar de documento algo que não correspondia à verdade, que era falso, para desta forma obter um benefício patrimonial injustificado e ilegítimo à custa do

prejuízo causado ao ofendido, sabendo que estava a pôr em causa a fé pública daqueles documentos, bem como a confiança do tráfico jurídico.

g) Sabia, além do mais, o arguido ser a sua conduta proibida e punida por lei.

Da contestação (exclusivamente)

h) O queixoso, Sr. C…, foi já integralmente ressarcido do prejuízo causado que motivou a sua queixa.

i) O dito E… e o arguido constituíram entre si uma sociedade denominada F…, Lda", de que ambos eram os únicos sócios e gerentes, que inscreveram no registo comercial em 22.04.2008.

j) A constituição de tal sociedade visou, exactamente, a entrega pelo dito E… e pela sua sociedade "D…, Lda" à sociedade por ambos criada "F…, Lda", na pessoa do arguido, da exploração e gestão dos espaços da cave e da subcave do prédio denominado …, sito na Rua …, …, …, …, … e Rua …, …, …, …, da cidade de Matosinhos.

k) Por isso, logo após a constituição e registo comercial da "F…, Lda', por documento datado de 30.04.2008, o dito E…, na qualidade de sócio e gerente e em representação da sociedade "D…, Lda" e o arguido, na qualidade de sócio e gerente e em representação da "F…, Lda", celebraram um contrato promessa de compra e venda pelo qual a primeira prometeu vender todas as diversas fracções da cave e da subcave do dito …, à "F…, Lda".

l) Mais tarde, por documento de 13.11.2008, o mesmo E…, na qualidade de gerente e em representação da sociedade "D…, Lda", emitiu uma procuração em favor da sociedade F…, Lda", para esta a representar em todos os actos relacionados com as diversas fracções da cave e da subcave do dito ….

m) Dessa forma, munido de tais documentos, o arguido, na qualidade de gerente da sociedade F…, Lda":

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a. tratava dos assuntos relativos às referidas diversas fracções com o condomínio do prédio;

b. instalou na cave e na subcave do prédio um parque de recolha de veículos automóveis, que abriu a estranhos não moradores no prédio;

c. contratou um vigilante para controlar a entrada e saída das viaturas;

d. promoveu a venda das diversas fracções da cave e da subcave do prédio, e. Tudo com conhecimento da proprietária "D…, Lda” e do seu sócio e gerente E… e no interesse directo e imediato deles.

n) Após o resultado positivo das promoções de venda, o arguido obtinha da empregada administrativa daquela sociedade, G…, os elementos necessários para a outorga das escrituras, ou seja, certidões matriciais e prediais, licença de utilização, certidão comercial da sociedade proprietária e vendedora, documentos de distrate das hipotecas dos bancos e marcava as escrituras habitualmente em notário de Matosinhos, o) O arguido acompanhava os interessados na compra para procederem à liquidação do IMT devido pelas transmissões e tudo era entregue no notário,

p) A sociedade proprietária e vendedora D…, Lda" habitualmente era

representada na outorga das escrituras pela sua referida trabalhadora G…, q) E, assim, se fizeram várias escrituras de compra e venda de fracções da cave e da subcave do dito … sito na Rua …, …, …, …, … e Rua …, …, …, …, da cidade de Matosinhos, propriedade de "D…, Lda", r) O arguido obteve os

documentos da sociedade "D…, Lda" relativos às fracções em causa nos autos, a saber:

a. certidões da matriz;

b. número da certidão permanente da "D…, Lda";

c. alvará de licença de utilização do prédio;

d. os dois distrates da hipoteca relativos às 2 fracções da "H…, SA";

e. deslocou-se com o queixoso ao serviço de finanças de Matosinhos 1 para este ali liquidar e pagar o IMT devido pela transmissão do prédio.

s) Porém, ao contrário do que havia sucedido até então, não foi possível

proceder à liquidação e pagamento do IMT por causa da existência de dívidas fiscais da "D…, Lda.

t) Em momento não apurado, por questões relacionadas com falta de pagamento de comissões de vendas de outros imóveis da "D…, Lda."., o arguido e o E… desentenderam-se e cortaram relações.

u) Porque o arguido, nas circunstâncias acima referidas, tinha retido os valores dos sinais que lhe foram entregues pelos contratos promessa de compra e venda celebrados com o queixoso, e uma vez que a dita sociedade

"D…" não pagou ao arguido os valores das comissões de venda devidas por outros negócios, o arguido foi confrontado pelo próprio queixoso da não

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outorga das escrituras de compra e venda das fracções por parte da "D…, Lda', e, pelo menos a dada altura, assumiu perante o queixoso a devolução dos valores dos sinais, o que entretanto consumou no decurso destes autos, com juros.

Outros factos provados

v) À data da outorga dos contratos promessa em causa nos autos, o arguido julgava-se credor da "D…, Lda.", por comissões de venda de imóveis, tal como supra descrito, tendo atuado de modo a celebrar os ditos contratos promessa e receber os sinais, sem o conhecimento da referida sociedade, para poder

garantir para si o pagamento dos valores que entendia serem devidos, assim evitando que o preço fosse pago todo diretamente à dita sociedade aquando da escritura e que o arguido ficasse sem receber os valores alegadamente em dívida e a comissão por essa nova venda, o que fez sabendo que, se a

sociedade "D…, Lda." não aceitasse tal "estratégia", o queixoso ficaria prejudicado no montante dos sinais.

Ainda outros factos provados

w) O arguido trabalha como consultor financeiro, auferindo pelo menos € 1.000,00 mensais.

x) O arguido vive em casa própria, pagando empréstimo contraído para a sua aquisição;

y) A esposa do arguido não tem rendimento conhecido.

z) O arguido tem três filhos maiores e autónomos.

aa)0 arguido não tem antecedentes criminais.

**

ii. Factos não provados.

Não se provaram os seguintes factos relevantes:

a) O arguido apresentou-se expressamente ao ofendido C… como sócio- gerente da empresa "D…, Lda.".

Da contestação (exclusivamente)

b) No contexto provado, o arguido celebrou diversos negócios de venda das fracções da cave e da subcave do referido prédio, assinando, primeiramente, os contratos promessa conforme o modelo usado para as fracções "H" e "I" em causa nos autos.

c) O arguido assinava os contratos promessa e recebia os sinais dos

promitentes compradores e dava conta de tais factos à sociedade "D…, Lda".

d) A sociedade proprietária e vendedora D…, Lda" recebia depois da "F…, Lda", pela pessoa do arguido, os montantes dos sinais entregues pelos promitentes compradores.

e) O arguido assumiu a devolução dos sinais logo que foi confrontado pelo queixoso quanto à não realização da escritura.

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**

iii. Motivação de facto.

Als. a) a c), h), r), s) e u) dos factos provados:

Resultaram desde logo da confissão/confirmação do arguido e do depoimento do queixoso, precisados e corroborados pelos juízos de experiência comum, quanto aos factos do foro subjectivo, e, quanto ao mais, pelos contratos de fls.

10 a 13, pelos cheques de fls. 14 a 18 e 40 a 43, pelas declarações de fls. 19 a 24, pelo registo comercial de fls. 112 a 114.

Als. d) a g), i) a q), t) e v) dos factos provados e ais. b) a e) dos factos não provados: Compulsada toda a prova documental e por depoimentos (incluindo- se aqui os depoimentos do arguido, do queixoso, do filho do queixoso – I… - e das demais testemunhas E… - o sócio gerente da sociedade proprietária dos imóveis em causa J… - zelador do prédio em causa nos autos - e G… -

escriturária na D… e referida nos factos provados), resultou

concludentemente, sem prejuízo da dúvida inevitável em qualquer juízo de apreciação da prova, a factualidade provada, resultando contraditada a factualidade não provada.

Em todo o caso, a prova não apontou no sentido de o arguido ser pessoa absolutamente alheia ao negócios relacionados com a venda das frações do prédio em causa, nem no sentido de o arguido ter atuado com a certeza de que o queixoso iria ficar prejudicado, pois pelo menos suscitou-se a dúvida sobre se o arguido sabia que a "D…" iria, com certeza, recusar a realização da escritura, não aceitando que o arguido tivesse recebido antecipadamente os sinais para pagamentos de dívidas e antecipação da comissão.

É que, como resultou pacífico da prova referida, mais concretamente dos depoimentos do arguido e das testemunhas E…, J… e G…, conjugados com os documentos juntos aos autos a fls. 80 a 82 (contrato promessa aludido na contestação), a fls. 199 a 213 (escrituras de compra e venda de fracções do prédio em causa), a fls. 174 a 176 (registo comercial da "L…") e a fls. 179 (procuração aludida na contestação), foi concludente a prova no sentido da veracidade dos factos provados da contestação sob as ais, i) a q), ou seja, em síntese, que o arguido estava legitimado pela "D…" para angariar a venda das frações em causa, para tomar conta do imóvel, nomeadamente contratar zelador, e para tratar de tudo o que fosse necessário para a realização da escritura, recebendo depois uma comissão.

Acontece que, não obstante esta legitimidade do arguido para angariar a venda das fracções, como "vendedor comissionista", o certo é que também resultou da prova que o caso dos autos revestiu-se de particularidades

diferentes das habituais, de modo a se concluir no sentido dos factos provados quanto à motivação e intenção do arguido.

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De facto, como disseram, de forma credível, coincidente e convincente as testemunhas E… e G…, para além de o arguido ter atuado à revelia da sociedade "D…", nunca o arguido tinha celebrado ele próprio contratos promessa, sendo que, se algum foi celebrado, foi pelo próprio E…,

esclarecendo que o preço era sempre pago na totalidade pelos compradores no ato da escritura, recebendo depois o arguido a sua comissão. E, aliás, a reforçar a veracidade deste relato surge a circunstância de o arguido não ter apresentado qualquer outro contrato promessa assinado por si e que tivesse resultado na realização da escritura pública, isto, note-se, não obstante o arguido ter apresentado inúmeros documentos nos autos.

Sendo a atuação do arguido em causa nos autos uma situação única, a mesma já por si era susceptível de revelar pelo menos a suspeita sobre a ilegitimidade da motivação do arguido, mas o certo é que a convicção no sentido da

intenção/motivação provada acabou por ser reforçada pelo depoimento do próprio arguido, que assumiu que, já na altura, se achava credor da "D…" e que apenas devolveu a totalidade dos sinais bastante tempo depois de os mesmos lhe terem sido exigidos pelo queixoso, ou seja, já no decurso dos presentes autos, como, nesta parte, resulta do cheque de fls. 230. Estas circunstâncias tornam, assim, clara, a motivação do arguido, que está

traduzida especificamente sob a al. v) dos factos provados e que se compagina com o teor das als. d) a g) dos factos provados, pois, não só a qualidade de credor convicto, como o comportamento posterior do arguido, permite

perceber que o arguido, no caso, pretendeu garantir o seu crédito, à revelia da sociedade "D…" - alegada devedora sabendo que poderia prejudicar o

queixoso caso a dita sociedade não aceitasse celebrar a escritura nas condições unilateralmente impostas e criadas pelo arguido, ou seja, na

condição de a dita sociedade proprietária só receber parte do preço, aceitando que o arguido tivesse recebido antecipadamente o pagamento de alegada dívida e comissão adiantada.

O arguido tentou convencer que atuou como sempre o fez e que a escritura só não se realizou por causa da dívida fiscal e porque, só depois, se desentendeu com o Sr. E…, mas fê-lo (o depoimento) de forma nada convincente,

mostrando-se comprometido, para além de ter sido contraditado pela prova supra referida. Aliás, para além de não haver notícia de qualquer outro contrato promessa celebrado pelo próprio arguido, assumindo-se aí como sócio gerente da D…, se a versão do arguido correspondesse à verdade, então também corresponderia a comportamento consentâneo com tal alegação a imediata devolução dos sinais ao queixoso logo que surgiram os ditos

problemas, o que não sucedeu, tendo o arguido apenas devolvido a totalidade dos sinais no decurso destes autos e sem que exista informação de que o

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arguido não tinha dinheiro para o fazer.

Assim, em suma, conjugando o comportamento anterior e contemporâneo aos factos do arguido com o comportamento posterior aos mesmos e com a sua convicta condição de credor da sociedade "D…", sem que o arguido tenha convencido na sua alegação, na parte controvertida, o tribunal formou a sua convicção no sentido dos factos provados referentes à intenção e motivação do arguido.

Note-se que, face à prova produzida, admite-se que o arguido pudesse ter a esperança de que a "D…" aceitasse a sua estratégia já acima referida, o que até justifica que o arguido tenha envidado esforços no sentido da realização da escritura, nomeadamente indo com o promitente comprador às finanças para pagar o IMT, mas a verdade é que, até por força dos juízos de experiência comum, a prova, face ao circunstancialismo exposto, é concludente no sentido provado, o que não configura factualidade incompatível, pois o pretendido beneficio de garantir o seu alegado crédito existe em qualquer das situações, sendo manifesta e reconhecível por todos a sua ilegitimidade, pois o arguido assinou na qualidade de sócio-gerente da "D…", sem o ser, sem obter

autorização da sociedade e sem informar os promitentes compradores da sua estratégia.

Por que foi suscitado, resta salientar que a assinatura aposta pelo arguido nos contratos é ilegível e, por isso, ninguém que não conheça as assinaturas dos intervenientes no contrato poderia saber se a assinatura correspondia ou não à pessoa que ali se identifica (sócio-gerente da sociedade promitente

vendedora), o quer torna irrelevante que o verdadeiro sócio gerente não assine dessa forma.

Por fim, acrescente-se apenas que, quanto à al. e) dos factos não provados, o queixoso afirmou, de forma credível e convincente, que o arguido apenas pagou a totalidade dos sinais no decurso dos presentes autos, apesar da

insistência do queixoso, tendo o arguido protelado no tempo a sua restituição, alegando dívida do Sr. E….

Als. w) a aa) dos factos provados:

Resultaram do depoimento do arguido e do CRC de fls. 306.

Al. a) dos factos não provados:

Não se fez prova neste sentido, considerando nomeadamente que o próprio queixoso apenas soube precisar que o arguido se assumiu como legítimo representante, não tendo presente se chegou a afirmar ser mesmo sócio- gerente, ainda que tenha assinado como tal nos contratos.

***

Enunciação das questões a decidir no recurso em apreciação.

O âmbito do recurso é delimitado pelas conclusões extraídas pelos recorrentes

(14)

da respectiva motivação, sendo apenas as questões aí sumariadas as que o tribunal de recurso tem de apreciar [Cfr. Prof. Germano Marques da Silva,

"Curso de Processo Penal" III, 3ª ed., pág. 347 e jurisprudência uniforme do STJ (cfr. Ac. STJ de 28.04.99, CJ/STJ, ano de 1999, p. 196 e jurisprudência ali citada], sem prejuízo das de conhecimento oficioso, designadamente os vícios indicados no art. 410º nº 2 do C.P.P. [Cfr. Prof. Germano Marques da Silva,

"Curso de Processo Penal" III, 3ª ed., pág. 347 e jurisprudência uniforme do STJ (cfr. Ac. STJ de 28.04.99, CJ/STJ, ano de 1999, p. 196 e jurisprudência ali citada]. [Ac. STJ para fixação de jurisprudência nº 7/95, de 19/10/95,

publicado no DR, série I-A de 28/12/952].

No caso em apreço, porém, tendo sido suscitada pelo Sr. Procurador-Geral Adjunto a questão prévia da (in)tempestividade do recurso, iremos abordar a referida questão, uma vez que a sua eventual procedência poderá prejudicar o conhecimento do mérito do recurso interposto pelo arguido.

Para tanto, importa ter presente as seguintes ocorrências processuais:

a) A audiência de julgamento iniciou-se em 10 de Maio de 2012, dia em que foi produzida toda a prova, produzidas alegações finais e proferido despacho a designar o dia 31 de Maio de 2012 para a leitura da sentença (acta de fls. 308 a 312).

b) O arguido e seu mandatário estiveram presentes durante toda essa sessão da audiência, tendo inclusivamente o arguido prestado declarações (acta de fls. 308 a 312).

c) No dia designado para a leitura da sentença (31.05.2012), não se

encontrava presente o arguido, tendo o mesmo, por requerimento junto a fls.

313 (com entrada em 30.05.2012), solicitado que fosse autorizada a falta de comparência na leitura da sentença, em virtude de, por lapso, estar

convencido que a leitura estava marcada para dia 30.05. e ter assumido compromissos para o dia 31.05. Solicitou ainda que fosse relevada a multa.

d) No dia 31.05.2012 foi considerada injustificada a falta do arguido e condenado o mesmo em 2 UCs de multa, tendo-se procedido à leitura da sentença na ausência do arguido mas na presença da mandatária do mesmo, sentença que foi depositada nesse mesmo dia (acta de fls. 329 e 330 e carimbo aposto a fls. 328).

e) A secretaria, sem qualquer ordem no processo nesse sentido, expediu ofício para notificação da sentença ao arguido, na sequência do que no dia 22 de Junho de 2012 a PSP notificou o próprio arguido do teor da sentença e ainda

“de que tem o prazo de 20 dias, a contar da presente notificação, para exercer o direito de recurso da referida sentença, devendo para o efeito contactar com o seu mandatário/defensor” (fls. 331 a 333).

f) No dia 13 de Julho de 2012, por fax, deu entrada no tribunal requerimento

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de interposição pelo arguido de recurso da sentença, acompanhado da respectiva motivação (fls. 334 a 345).

Apreciemos pois a tempestividade do recurso.

A questão que se coloca consiste em saber em que data se considera o arguido notificado da sentença, para efeitos de contagem do prazo de interposição de recurso, ou seja, saber em que data se iniciou, para o arguido, o prazo de interposição de recurso da sentença, posto que é pacífico que esse prazo, em regra de 20 dias, pode excepcionalmente ser elevado para 30 dias, se o

recurso tiver por objecto a reapreciação da prova gravada, como acontece no caso sub judice (cfr. nºs 1 e 4 do artigo 411 do Código de Processo Penal).

Para respondermos à questão importa termos presentes as normas processuais pertinentes.

Sob a epígrafe “Regras gerais sobre notificações” dispõe o art. 113º nº 9 do Código de Processo Penal «as notificações do arguido, … podem ser feitas ao respectivo defensor ou advogado. Ressalvam-se as notificações respeitantes à acusação, à decisão instrutória, à designação de dia para julgamento e à sentença […] as quais porém, devem igualmente ser notificadas ao advogado ou defensor nomeado; neste caso, o prazo para a prática de ato processual subsequente conta-se a partir da data da notificação efectuada em último lugar».

Por outro lado, sobre a leitura da sentença, preceitua o art. 373º nº 3 do Código de Processo Penal que «o arguido que não estiver presente considera- se notificado da sentença depois de esta ter sido lida perante o defensor

nomeado ou constituído».

Importa ainda ter presente que o art. 333º nº 5 do mesmo diploma dispõe que

«no caso previsto nos nºs 2 e 3, havendo lugar à audiência na ausência do arguido, a sentença é notificada ao arguido logo que seja detido ou se apresente voluntariamente. O prazo para a interposição de recurso pelo arguido conta-se a partir da notificação da sentença». Prevendo o nº 6 do mesmo preceito, na redacção introduzida pela Lei nº 26/2010 de 30.08, que

«na notificação prevista no número anterior o arguido é expressamente informado do direito a recorrer da sentença e do respetivo prazo».

Assim, no que respeita à notificação da sentença ao arguido, dos normativos processuais penais aplicáveis resulta, em traços gerais, a distinção de dois tipos de situações:

- uma primeira, a da notificação ao arguido julgado na ausência, que não esteve presente desde o início do julgamento e relativamente a quem nem se sequer se tem a certeza que saiba estar a ser julgado, em que se exige a notificação pessoal da sentença ao próprio arguido quando se apresentar ou for detido (cfr. artigo 333º, nº 5 do Código de Processo Penal).

(16)

Nas situações a que aludem os arts. 333º nºs 2, 3 e 5 e 334º nº 6 do Código de Processo Penal, o arguido está física e processualmente ausente e, por isso, o legislador não prescindiu da comunicação da sentença ao arguido através da sua notificação pessoal.

- e uma segunda situação referente à notificação do arguido faltoso, ou seja, que esteve presente no julgamento e como tal sabe que está a ser julgado, mas que entretanto se ausentou (justificada ou injustificadamente) e não assistiu à leitura da sentença, em que se considera o arguido notificado com a leitura da sentença feita perante o seu defensor, nos termos do disposto no nº 3 do

artigo 373º do Código de Processo Penal: “o arguido que não estiver presente considera-se notificado da sentença depois de esta ter sido lida perante o defensor nomeado ou constituído”.

Da articulação dos preceitos legais transcritos pode extrair-se a conclusão de que a disposição legal contida no art. 373º nº 3 do Código de Processo Penal é uma norma especial relativamente à contida no art. 113º nº 9 e abrange todas as situações em que o arguido esteve presente em alguma ou em todas as sessões do julgamento mas faltou à leitura da sentença ou acórdão, bem como as situações em que a audiência decorre na ausência do arguido, por sua iniciativa ou com o seu consentimento. Em todos esses casos pode considerar- se que o arguido está processualmente presente (embora fisicamente ausente) desde que representado por defensor, considerando-se por isso suficiente a leitura da sentença perante o defensor nomeado ou constituído.

Retomando o caso sub judice, a situação do recorrente é sem dúvida esta última, uma vez que esteve presente na primeira sessão da audiência, foi pessoalmente notificado da data da leitura da sentença, que foi lida perante a sua mandatária, na ausência do arguido (que havia requerido que fosse

autorizada a falta de comparência na leitura da sentença e cuja falta foi considerada injustificada).

O prazo para a interposição do recurso conta-se pois a partir do depósito da sentença (cfr. artigo 411, al. b) do Código de Processo Penal), que in casu ocorreu em 31 de Maio de 2012 e se esgotou em 05 de Julho de 2012, tendo em conta que o mesmo era de 30 dias, já que o recurso tinha por objecto a reapreciação da prova (nº 4 do artigo 411 do Código de Processo Penal). Pelo que, quando em 13 de Julho de 2012 deu entrada o recurso do arguido, tal prazo já tinha terminado, não tendo por isso também aplicação os artigos 145º do Código de Processo Civil, 107º, nº 5 e 107º-A do Código de Processo Penal.

Esta é a solução claramente maioritária na doutrina e jurisprudência mais actualizada, de que são exemplos Paulo Pinto de Albuquerque, Comentário do Código de Processo Penal, Universidade Católica Editora, 4ª edição

actualizada, p. 960-961 e, entre outros, o acórdão do TRE de 25.09.2012, proc.

(17)

nº 5/10.3TAFTR.E1; o acórdão do TRG de 07.02.2011, proc. 1015/08.6GAEPS- A.G1, o acórdão do TRE de 13.01.2011, proc. nº 434/09.5PBEVR.E1, todos disponíveis em www.dgsi.pt, podendo ler-se no último: “se o arguido e seu mandatário sabiam que a audiência para leitura da sentença estava marcada para determinado dia, devem considerar-se notificados da sentença, não obstante terem faltado, depois de esta ter sido lida no dia indicado perante o defensor nomeado para esse acto”

O próprio Tribunal Constitucional já se pronunciou por várias vezes no sentido da conformidade desta solução com a Constituição, como aconteceu no

recente acórdão nº 81/2012, disponível em www.dgsi.pt, onde é feita

referência exaustiva à jurisprudência anterior desse Tribunal sobre o mesmo assunto, da qual salientamos nós o acórdão nº 489/2008, igualmente

disponível em www.dgsi.pt, onde se decidiu “não julgar inconstitucionais as normas dos artigos 373.°, n.º 3, e 113.°, n.º 9, do Código de Processo Penal, quando interpretadas no sentido de que tendo estado o arguido presente na primeira audiência de julgamento, onde tomou conhecimento da data da realização da segunda, na qual, na sua ausência e na presença do primitivo defensor, foi designado dia para a leitura da sentença, deve considerar-se que a sentença foi notificada ao arguido no dia da sua leitura, na pessoa do

defensor então nomeado”.

Compreende-se que o efectivo exercício do direito ao recurso pressupõe uma cognoscibilidade da decisão que se pretende impugnar. Porém, a

cognoscibilidade da decisão condenatória afere-se tendo em conta a possibilidade de o arguido, actuando com a diligência devida, ter acesso efectivo ao conhecimento integral da decisão que pretende impugnar, o que não exige necessariamente a notificação pessoal da mesma ao arguido. Há, assim, que ter em conta não só os deveres funcionais e deontológicos a que fica sujeito o defensor nomeado, mas também a diligência exigível a quem tem conhecimento de que contra si corre um processo, no termo do qual pode ser sancionado com uma pena privativa da liberdade.

E, como se referiu no Acórdão do TC n.º 378/2003, a “negligência e

desinteresse não merece, certamente, tutela ao abrigo das garantias de defesa reconhecidas ao arguido”. Estas não dispensam o interessado do ónus de uma conduta activa de obtenção de uma informação decisiva para a efectivação do direito ao recurso, como componente dessas garantias.

E como se referiu no já citado Ac. do TC nº 81/2012 de 09.02.2012 “o sistema pode, em tais circunstâncias, no funcionamento normal das coisas que não foi ilidido, repousar na presunção de que o arguido se interesse pelo que se passa nesse decisivo transe do processo penal contra si dirigido e que o advogado cumpra o dever deontológico de acertar com ele a opção fundamental quanto

(18)

à impugnação ou não da decisão”.

Por outro lado, como salienta Paulo Pinto de Albuquerque (In Comentário do Código de Processo Penal, 3ª edª. Abril de 2009, pág. 939), «a decisão de interposição do recurso é, com efeito, uma decisão jurídica, que não só não está reservada pessoalmente ao arguido, como compete obrigatoriamente ao defensor (…), pelo que todas as garantias de defesa, incluindo o direito ao recurso, estão asseguradas quando se procede à notificação da sentença apenas ao defensor, mas o arguido esteve na audiência de julgamento (artigo 373º nº 3) e, mesmo que ele não tenha estado na audiência de julgamento, quando dela se ausentou voluntariamente ou foi afastado devido a uma sua conduta voluntária (artigos 325º nº 4 e 5 e 332º nº 5 e 6) ou quando pediu que a audiência tivesse lugar na sua ausência (artigo 334º nºs 2 e 4). Nestes casos o arguido é representado para todos os efeitos legais pelo seu defensor,

incluindo para os efeitos da notificação da sentença penal, fixando-se o início do prazo legal para o recurso na data da notificação do defensor» (Neste mesmo sentido se pronunciaram o Ac. STJ de 27.07.2006 e o Ac. da Rel.

Lisboa, de 09.05.2006, proc. 3388/06-5, o Ac. desta Relação de 24.10.2012, todos disponíveis em www.dgsi.pt; Ac. da Relação de Lisboa de 16.12.1998, na C.J. ano XXIII, tomo 5, pág. 151 e, ainda, despacho de 22.02.2006 do Vice- Presidente da Relação de Évora, Reclamação nº 506/06, também disponível em www.dgsi.pt.).

É certo que, nos autos, por iniciativa da secretaria, o arguido foi também pessoalmente notificado no dia 22 de Junho de 2012 do teor da sentença e ainda de que tinha o prazo de 20 dias, a contar daí, para exercer o direito de recurso da sentença, devendo para o efeito contactar com o seu mandatário/

defensor.

Contudo, tal notificação, por absolutamente desnecessária e efectuada

inclusive à revelia de ordem judicial, não passa de mero ato inútil que, como tal, não pode produzir qualquer efeito, designadamente o de aumentar o prazo de interposição de um recurso.

Conforme se refere no Ac. da Relação de Coimbra, no proc. nº 3729/2003, disponível em www.dgsi.pt “Esta notificação trata-se de mero acto de cortesia, sem obrigação legal e sem qualquer consequência, nomeadamente para efeito de prazo de interposição de recurso”.

E nem se diga que a notificação em causa induziu o arguido em erro e que foi esse erro a causa da apresentação tardia do recurso e consequente diminuição das suas garantias de defesa, pois a decisão de interposição do recurso é, sobretudo, uma decisão jurídica, que não só não está reservada pessoalmente ao arguido, como compete obrigatoriamente ao defensor, nos termos do

disposto no artigo 64º, nº 1, al. d) do Código de Processo Penal. De onde

(19)

decorre que, no caso, todas as garantias de defesa, incluindo o direito ao recurso, ficaram asseguradas com a notificação da sentença ao arguido na pessoa da sua mandatária (neste sentido, cfr. acórdão do TRL de 15.11.2006, proc nº 7028/06, disponível em www.dgsi.pt e Paulo Pinto de Albuquerque, ob cit., p. 961). Pelo que, não tem aqui aplicação o invocado artigo 161º, nº 6 do Código de Processo Civil.

Por tudo se concluindo que o recurso interposto pelo arguido em 13 de Julho de 2012 é extemporâneo, o que, sendo uma causa que devia determinar a sua não admissão (cfr. artigo 414, nº 2 do Código de Processo Penal) conduz agora à sua rejeição, nos termos do artigo 420º do Código de Processo Penal. A tal não obstando a admissão do recurso pela primeira instância, por a respectiva decisão não vincular o tribunal superior, como se infere do nº 3 do artigo 414°

do Código de Processo Penal.

***

III – DECISÃO

Pelo exposto, acordam as juízas da 2ª Secção Criminal do Tribunal da Relação do Porto em rejeitar, por extemporâneo, o recurso interposto pelo arguido B….

Custas pelo recorrente, fixando-se a taxa de justiça em 2 UC’s, a que acrescem 3 UC’s por força do disposto no nº 3 do artigo 420º do Código de Processo Penal.

***

Porto, 20 de Fevereiro de 2013 Elsa de Jesus Coelho Paixão

Maria dos Prazeres Rodrigues da Silva

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