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A Portaria Ministerial de 26 de janeiro de 1940 e a educação física no curso secundário no debate do Periódico Escolar Terra da Luz

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Guaramiranga – Ceará

A PORTARIA MINISTERIAL DE 26 DE JANEIRO DE 1940 E A EDUCAÇÃO FÍSICA NO CURSO SECUNDÁRIO NO DEBATE DO PERÍODICO ESCOLAR TERRA DA LUZ

Ariza Maria Rocha1

Universidade Regional do Cariri –arizarocha2000@yahoo.com.br

José Arimatéa Barros Bezerra

Universidade Federal do Ceará – ja.bezerra@uol.com.br

Introdução

No Estado Novo, também denominado Ditadura de Vargas, a educação brasileira foi organizada para atender as exigências da crescente urbanização, do mercado capita-lista que exigia mão-de-obra qualificada, e, com a guerra, o Estado necessitava “acelerar a substituição de importações” (ROMANELLI, 1996, p. 155). Desse modo, na gestão do Mi-nistro da Educação e Saúde Pública, Gustavo Capanema ini-ciou, em 1942, uma série de decretos –Leis Orgânicas do Ensino, ou chamadas de Reforma Capanema2.

Fruto do conturbado Estado Novo, a Reforma carac-terizou-se pelo seu aspecto autoritário, seletivo, patriótico e higiênico3, além da bifurcação do ensino secundário em

clás-sico e científico com o objetivo de: “ a) proporcionar cultura geral e humanística; b) alimentar a ideologia política defini-da em termos de patriotismo e nacionalismo de caráter fas-cista; c) proporcionar condições para o ingresso no curso superior; d) possibilitar a formação de lideranças”.4

Nesse contexto, a disciplina educação física na escola foi nomeada para fortalecer os espíritos patrióticos, raciais e nacionalistas, conforme Portaria Ministerial n.14, de 26 de ja-neiro de 1940 (D. O. de 27-1-40, pág. 1 .646) que estabelecia obrigatoriedade no currículo exigindo a freqüência mínima de 3/4, caso contrário, o aluno não podia submeter-se aos exames finais das disciplinas. Na íntegra a Portaria Ministerial:

O Ministro de Estado da Educação e Saúde, tendo em mãos o dispositivo no art. n. 9 do Decreto. n. 21.241, de 4 de abril de 1932, resolve:

Art 1. não poderá submeter-se ao exame final de qualquer disciplina dos cursos fundamentais e com-plementar do ensino secundário, o aluno cuja fre-qüência aos exercícios de educação física não atingir a 3 quartos da totalidade dos exercícios realizados em sua classe durante o ano escolar.

Art. 2: ao aluno que por motivo de acidente durante os exercícios de educação física, ficar impossibilita-do de sua prática, não se contarão, as faltas

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to perdurar o impedimento, que será verificado pelo medico assistente de educação física.

Art. 3. os alunos fisicamente deficientes ou defeitu-osos estarão obrigados nos termos do art. 1 à fre-qüência aos exercícios de educação física, mas só executarão os que lhes sejam especialmente pres-critos pelo médico de educação física.

Gustavo Capanema5

A revista Terra da Luz do Colégio Castelo Branco re-vela o embate travado em torno dessa Portaria. Ora conde-nando a ausência da prática física dos alunos; ora, recriminando os excessos, a disciplina dividia opiniões. O texto tem o objetivo de apresentar o fluxo das inquietações, em torno da Portaria Ministerial, nas aulas de Educação Fí-sica no Colégio Castelo Branco no período de 1936-1940.

Este artigo compreende o Colégio no período de 1936-1940 e as aulas de Educação Física antes e depois da Porta-ria MinistePorta-rial, de 26 de Janeiro de 1940. Abaixo, a fachada principal do Colégio:

Período de 1936-1940

“Terra da Luz” (1936-1940) era a revista do Colégio Castelo Branco que em 100 anos (1900-2000), contribuiu para a formação da mocidade cearense.

O Colégio foi fundado em 1900 pelo educador piauiense Odorico Castelo Branco que, em homenagem ao seu mestre, chamou estabelecimento “Instituto Miguel Borges”. Professor Odorico dirigiu o Colégio até 1921, por cuja morte, o Sr. Silas Ribeiro assume a direção, e em home-nagem ao abnegado educador, a instituição particular pas-sou a chamar-se “Colégio Castelo Branco”.

Posteriormente, dr. Roberto Pereira dos Santos Lisboa, prof. João Marinho de Albuquerque Andrade, Pedro Misael

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Gomes da Silva e major André Bernardino Chaves entram em sociedade cabendo a direção do Colégio ao major André B. Chaves6.

Funcionando, inicialmente, no “Boulevar D. Manuel”, o Colégio foi instalado em “espaçoso prédio à Av. D. Luis, especialmente construído para o fim a que se destina, se cons-titue, hoje, o Colégio Castelo em padrão de honra para o nos-so Estado”( Álbum de Fortaleza, 1931, p..410) com o aumento do número de alunos, passou a funcionar “em modesto pré-dio à Praça Coração de Jesus (Revista Terra da Luz).

Entre mudanças e reformas, o Colégio chega em 1932 a ser equiparado ao Colégio Pedro II7, segundo o decreto n.

21.241, de 4 de abril do mesmo ano. Suas diretrizes seguiam os requisitos pedagógicos mais modernos de “instruir a mocidade, impregnar-lhe o espírito de um nacionalismo vitalizante, construtor, encaminhando-a para um destino nobre e edificante” (Revista Terra da Luz).

Vale salientar também que o pensamento cientifico, higiênico e pedagógico, associado aos exercícios físicos vin-cula-se à propaganda da “prática saudável”, conforme sus-tenta Danailof,

(...) Desde então, ficou estabelecida, antes de qual-quer envolvimento com a prática esportiva, a avali-ação “psyco-physica” tanto de crianças quanto de adultos como forma de garantir uma prática saudá-vel. Caberia à educação física preparar a criança para época nova, construindo o tipo ideal de brasileiro que deveria ser saudável e membro do bem –estar coletivo, conservando, assim, as características do homem moderno (Danailof In CBCE,1979, p.31).

Na época, o Colégio contava com docentes especia-lizados, gabinetes de física e história natural completos, além de “vasto campo de esporte bem aparelhado” para a reali-zação das aulas de educação física, ginástica e prática es-portiva, e, assim, assegurar ou complementar a “educação integral, sólida e aprimorada, assegurando, desse modo, o seu pronto triunfo na carreira que abraçar na vida prática” (Revista Terra da Luz).

Assim, com esse propósito, a relação das disciplinas e respectivos professores, especialmente, o professor de gi-nástica e instrução militar, sargento Darci de Carvalho.

Colégio Castelo Branco – Av. Dom Luiz, 339 Internato – Semi-internato – Externato Corpo docente – curso seriado

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Português – drs. Joel Linhares e Sila Ribeiro Francês – Pedro Albano e Maria Liberalina Albano Inglês – prof. Valdemar Barros

Latim – Mons. João Alfredo Furtado e Acadêmico José Valdivino

Geografia – Dr. César Fontenele e acadêmico Juarez Aires

História – acadêmico José Valdivino

Matemática – Dr. Raimundo Arruda Filho, prof. Fran-cisco Mena Barreto, Nelson Machado e Antonio Almeida Filho.

Desenho – prof. João Marinho e Mena Barreto Física – prof. Juarez Furtado e acadêmico Aldo Leite Ciências físicas e naturais – Dr. Antonio Cirilo de Freitas e acadêmico Juarez Aires

Ginástica e instrução militar – Sargento Darci de Car-valho [grifo nosso]8

Matrícula – de 1 a 15 de março para o curso secun-dário.

As aulas de educação física, também chamada “Gi-nástica e instrução militar”, eram ministradas pelo Sargen-to Darci de Carvalho, em pátio aberSargen-to e/ou na quadra, com movimentos sincronizados e ritmados. Conforme foto abai-xo, a “pouca roupa” dos alunos inquietava muitos professo-res do Colégio, a exemplo do Professor José Valdivino, como veremos a seguir.

A Educação Física Antes da Portaria Ministerial

A Revista, nesse período, discute, entre outras coi-sas, a situação educacional do Brasil e da “pacata Fortale-za”. Em artigos, a prevalência dos seguintes temas: o papel da educação e do professor, o papel do católico e da família, educação e os pais e, principalmente, a educação física no ensino secundário.

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Conforme os artigos do periódico escolar, encontra-mos opiniões de professores, alunos e até do diretor sobre essa disciplina escolar que mesmo contando com o apoio da higiene9, nacionalismo e do exército, não estava a gosto

da maioria dos alunos. Constatação tirada da declaração do Professor J. Loureiro: “em contacto com a juventude cearense desde 1934, observei acentuada diferença e gosto pelos desportos. É justo confessar que encontrei jovens decidida-mente apaixonados pela educação física, mas infelizdecidida-mente, a maioria deles era refratária a qualquer espécie de exercí-cios físicos” (Terra da Luz).

Para o professor a culpa era dos pais, “responsáveis pelos destinos da mocidade e pela grandeza do Ceará, qui-çá do Brasil”, mas também não eliminava a culpa dos jo-vens por ignorarem as causas do “amor à saúde”(ib.idem). A forte participação do Exército brasileiro era conside-rada “vanguarda da Cruzada, benemérito da educação físi-ca” e estava presente em todos os setores da esfera educacional, desde à formação de instrutores, monitores, pro-fessores civis, oficiais, sargentos das polícias dos Estados, até mesmo nos conteúdos escolares. O professor defende que

Educação Física, nova cadeira criada para os colé-gios oficiais e oficializados, é igual a outra qualquer disciplina do Colégio Pedro II: história, matemática ou ciências, são tão necessárias como a educação física. Ela é também uma ciência.

Não é somente jogos, flexionamentos, natação, etc, o que constitui a educação física. O homem está den-tro do seu próprio grau e ciclo de acordo com a idade e circunstâncias morfofisiológicas de cada individuo. Não bastam os exercícios, é preciso que o médico e o instrutor acompanhem estes movimentos em todo as fases da vida humana. (...) (Terra da Luz).

O fato de a educação física ser apoiada pelas ciências biológicas10 dava (ou dá) o caráter racional, metódico,

con-tínuo e cientifico11 à sua legitimidade na escola. Prenúncios

de uma longa discussão na área sobre a legalidade e a le-gitimidade.

As idéias da época giravam em torno dos argumentos científicos, higiênicos e raciais e proliferavam na defesa da educação física escolar. Neste sentido, o professor recorre aos gregos, Rousseau, Pestalozzi, Amoros, Demey, principal-mente, Lombroso, conhecido pelos estudos da personalidade do criminoso através das características físicas, como o ta-manho do crânio divulgando a antropometria e a frenologia,

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alimentando, assim, na instituição escolar, os exames biométricos, no entanto, segundo Valdivino, a “deficiência” ou “inaptidão” declarada pelos exames biométricos, não deveria ser motivo para prejudicar a freqüência nas outras disciplinas do currículo do ensino secundário.

Para os “homens da sciencia”12, o cruzamento da

raça13 causava degeneração do povo brasileiro e, assim,

dis-cursos e ações foram pensados e postos em prática para o fortalecimento da raça como questão nacional, principalmen-te, no governo de Getúlio Vargas que, inicialmenprincipalmen-te, aproxi-mou-se das tendências fascistas, exaltando o espírito nacionalista, patriótico e o desenvolvimento da raça.

O pensamento cristão não se opunha à interação en-tre a fé e o civismo14, sobretudo na prática da educação

físi-ca escolar, no entanto, a moral da épofísi-ca não via com bons olhos o “nudismo diplomático”, oriundo da “Grécia pagã” e, mais: a exposição das formas femininas nas aulas divi-dindo os mesmos espaços com os rapazes “semidespidos”. Acompanhemos, então, as palavras do professor Valdivino:

Educação Física e Paganismo

(...) A propósito, citamos, aqui, nestas páginas de uma revista escolar, um caso típico de perturbação dos nossos dias – a prática da educação física. Le-vada ao excesso, considerada como fator precipício da existência, dando-se-lhe importância capital na esfera do ensino secundário, a educação física é, hoje em dia, disciplina de destaque, impondo-se com uma utilidade aterradora. Aterradora, sim! Porque, no curso de admissão, si o candidato apresentar defei-to que o impossibilite de praticar os exercícios, está,

ipso facto, condenado a não seguir o curso

funda-mental!

Eis o mais positivo sintoma de paganismo em ter-ras bter-rasileiter-ras.

O físico sobrepuja o espírito; a força impõe-se à in-teligência.

É o primado da matéria!

Estamos, pois, em plena administração grega, em pelo costume da Grécia pagã.

Parece que ainda não fomos resumidos pelo sangue de uns parentes circenses.

A Igreja Católica não condena, em si, os exercícios ginásticos, mas o abuso deles, o que, precisamente, se faz agora.(...) A Grécia, tomada como ponto de referência na educação da juventude, equivale ao

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endeusamento do corpo, o que implica numa aberrante paganização.

O sentido de paganismo de que mais se resente a educação física atual é o modo com que a prática o elemento feminino.

Hoje, nos presenciamos, pelas ruas, em dia de para-da, e pelas revistas do sul, mocinhas – alunas de bombastas indecentes, ou banhado-se em promis-cuidade, nas grandes piscinas dos colégios ricos (...) É o nudismo diplomático!É o bolchevismo autênti-co, que está minando, em surdina, estas almas que seriam a vida e a defesa dos lares.

Não se dia (que é ignorância!) que só a que é a saú-de da alma!

Com o Governo quer que os meninos façam educa-ção física, é, precisamente, desrespeito à alma e embotamento do pudor cristão da jovem brasileira. A mulher deve merecer mais respeito, deve ser mais acatada e não transformada em motivo de indecên-cia e degeneração soindecên-cial, onde os monstros vão le-var a sua animalidade.

Esse exame morfo – fisiológica a que se submetem, os alunos do curso seriado, no Sul, nada mais é que uma revoltante imoralidade, sob a falsa rubrica de progresso e aperfeiçoamento racial.

Os jogos de basquet-ball e volley-ball que, já aqui mesmo, na nossa pacata Fortaleza, as meninas normalistas e ginasianas desempenham, com triste desembaraço, até depois dos retiros espirituais ou comunhão coletiva, entre rapazes semi – despidos (Prof José Valdivino, Terra da Luz)

A preocupação do professor estava na exposição do corpo, nas aulas de educação física, principalmente o da mulher e, portanto, nem em nome do “progresso e aperfei-çoamento da raça” justificava tal “indecência”, assim, a evidência da educação física na época, alertava para os ex-cessos que a disciplina escolar poderia abalar os costumes morais e educacionais dos jovens da sociedade cearense bem como a influência dos exercícios circenses, a exemplo da acrobacia que, por ser uma prática popular, não tinha respaldos científicos, vista como perniciosa à saúde. Foto do time de volley-ball feminino.

Por outro lado, encontramos também depoimento a favor da educação física como “base principal do fortaleci-mento de um povo”, a exemplo, das palavras da aluna Mariana Braga. Nas lições de Herbert Spencer, a aluna exalta

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que “devemos cultuar a instrução física ao lado da instru-ção moral e intelectual, para que assim, fortes de corpo, alma e saber, possamos enfrentar as intempéries da vida” (Re-vista Terra da Luz).

Nesse contexto, em 1940, com o interesse de desen-volver “o físico da nossa mocidade, a fim de facilitar-lhe o crescimento harmônico da personalidade, assegurando, destarte, a formação de uma raça forte e sadia”, é que o Sr. Ministro da Educação, Gustavo Capanema, publica as me-didas que exigem a educação física no curso secundário fun-damental e complementar divulgadas pelo, o diretor do Colégio, Abgar Renault, na Revista do Colégio para conhe-cimento dos alunos:

Circular n. 3

Rio de Janeiro, em 4 de Maio de 1940. Snr. Inspetor.

A fim de assegurar o fiel cumprimento da Portaria Ministerial n. 14, de 26 de Janeiro de 1940, transcri-ta em prospecto anexo, deveis tomar as seguintes providências:

A) Remeter à Divisão Física, edifício Regina, Rua. Alcindo Guanabara, 17/21, 7 andar:

a) programa de educação física para o corrente ano letivo, com especificação do n. de sessões prevista para cada mês, sua distribuição pelos dias da se-mana e horários;

b) relação nominal dos alunos deficientes e defeitu-osos fisicamente, com esclarecimentos sobre os re-gimes para eles prescritos pelo médico assistente de educação física;

c) Mensalmente – boletins de freqüência, assinados pelo professor; diretor e inspetor, do qual deverão constar o numero de aulas de educação física dadas para cada turma e as relações nominais dos alunos com as respectivas faltas as mesmas aulas.

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B) Diligenciar junto ao diretor do colégio.

1)Para que sejam fornecidos ao professor de educa-ção física livros apropriados ao registro de freqüên-cia nos quais serão consignados, diariamente, os comparecimentos e as ausências dos alunos aos exercícios de educação física;

2) Para que seja afixado, em lugar bem visível, o pros-pecto anexo (portaria n. 11) afim de que os alunos tomem conhecimentos do seu texto integral; 3) Para que dê ciência perfeita da mesma Portaria aos pais dos alunos ou seus responsáveis, de modo que não possam alegar ignorância no caso da pena-lidade constante do seu artigo 1º.

Atenciosas saudações Abgar Renault Diretor geral

Seguindo as normas prescritas pelo Departamento de Educação do Ministério de educação e Saúde, o instrutor de educação física ministra as aulas, somente após “rigoroso exame médico biométrico”, grupados os alunos “homoge-neamente de acordo com o valor físico de cada um”, pois “a educação física deve ser orientada pelos princípios anatomo – fisiológicos”, sem esquecer que “a educação intelectual, deve seguir, paralelamente, o desenvolvimento físico da ju-ventude, que depende uma mente sã e robusta”, pois é da “união da beleza física e da beleza moral é que se dar” uma bela alma num belo corpo“(Revista Terra da Luz)

Pelas páginas do periódico escolar acompanha-se o debate escolar em que a reforma do ensino secundário abor-da a obrigatorieabor-dade abor-da educação física e, mesmo dividin-do opiniões, a Portaria Ministerial cumpriu o objetivo de “preparo integral de suas gerações novas, adestrando-as e capacitando-a a defender a unidade nacional”.

Algumas Considerações

Nas idéias de uma época, a exemplo da defesa de uma raça forte e saudável, a crença exacerbada na ciência e o espírito nacionalista impulsionaram a presença da educa-ção física, no currículo escolar, não apenas no Ceará, mas em todo o Brasil.

A Revista “Terra da Luz” revela ainda, através de fo-tos e depoimenfo-tos, a trajetória da discutida disciplina, na-quela importante instituição educacional particular, Colégio que teve longo período de contribuição na formação da ju-ventude cearense.

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Referências Bibliográficas

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DANAILOF, Kátia. Imagens da Infância: A Educação e o Corpo em 1930 e 1940 no Brasil IN Revista Brasileira de Ci-ências do Esporte, Campinas, Colégio Brasileiro de Ciênci-as do Esporte, 1979.

FONTENELE, Airton Como nasceu o futebol no Ceará.In. CHAVES, Gilmar (Org). Ceará de Corpo e Alma: Um olhar Contemporâneo de 53 autores sobre a Terra da Luz. Fortale-za, Ceará: Instituto do Ceará, Rio de Janeiro: Relume Dumará, p.291-313, 2002.

GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo. História da Educação. 2.Ed. Revisada, São Paulo:Cortez, 1994.

LIMA, Gerson Zanetta de. Saúde escolar e educação. São Paulo: Cortez, 1985.

PRIMITIVO, Moacyr. A Instrução e o Império: Subsídios para a Historia da Educação no Brasil –1854-1889. São Paulo, Companhia Editora Nacional, Série 5, Série Brasiliana, 3 Volume, 1938.

ROMANELLI, Otaiza de Oliveira. História da Educação no Brasil: 1930-1973. 18ed. Vozes, Petrópolis, 1996.

SCHWARCZ, Lília Moritz. O espetáculo das raças: cientis-tas, instituições e questão racial no Brasil (1870-1930). São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

SILVA, Josier Ferreira da. Círculo Operário de Barbalha: o papel educativo do catolicismo social no contexto político – ideológico da Era Vargas. Mimeografado, 2005.

TERRA DA LUZ. Revista do Colégio Castelo Branco no perí-odo de 1936-1940.

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NOTAS

1 Professora de Educação Física na Universidade Regional

do Cariri – URCA e doutoranda no Curso de Educação Bra-sileira – Programa de Pós-graduação FACED /UFC.E-mail: arizarocha2000@yahoo.com.br

2 Entre elas, a Lei Orgânica do Ensino Industrial, do Ensino

secundário, do Ensino comercial, agrícola, normal, primá-rio, além da criação do SENAI e que completaram em 1946, maiores informações em Romanelli, (1996).

3 Neste contexto, a higiene no Brasil já estava consolidada na

Educação, inclusive como disciplina escolar. Ver Lima (1985).

4 Romanelli, 1996, p. 157.

5 O jornal A Manhã (25/6/1945), ligado à Aliança Nacional

Libertadora, retrata a fala do Ministro da Educação Gustavo Capanema para o Plano Nacional de educação, entre os pon-tos do discurso, o Ministro aborda “o problema da educação physica.”do povo brasileiro. Em seu discurso, exalta:–“ame-mos o corpo! Façaexalta:–“ame-mos a festa dos músculos, como dizia Nietszche!Retimemos a tradição da Renascença!” (...). O jor-nal acrescenta que: ” depois de ter celebrado os esportes, a belleza da força physica, do corpo humano, o ministro da Educação e Saúde Pública do Brasil aconselhou isto aos pro-fessores brasileiros:”Ensinemos o brasileiro a ser humilde e miserável para sentir a eternidade!“ ver Ghiraldelli Júnior (1994, p. 51-52).

6 Cf. Álbum de Fortaleza, 1931, p..410.

7 Ver Almeida (2000), Primitivo (1938) e Cunha Junior (2003). 8 Aliás, anterior ao citado período, há registro da presença

da prática esportiva nesse estabelecimento escolar, no caso o futebol, também conhecido como pebol, como mostra Fontenele (2002): “Entre 1906 e 1911, registrou-se a pior fase do futebol cearense [grifo nosso], em seus primeiros anos, totalmente estagnado. Apenas alguns colégios promoviam jogos, no final desse período, notadamente, a partir de 1910, o Liceu e o Castelo, enquanto moradores das ruas 24 de maio e Barão do Rio Branco no centro da cidade, realizavam torneios. Os adeptos do pebol [grifo nosso] se conformavam em acompanhar à distancia os jogos no Sul do país através dos jornais, estes recebidos com atraso de 15 a 20 dias (Fontenele, 2002, p.260).

9 Segundo Lima (1985, p.115) é a partir da década de 1920

que “os discursos dos higienistas abandonariam, em parte, o tom de exaltação do período anterior e se tornariam mais técnicos, nucleando-se em torno das questões da organiza-ção interna dos serviços, de sua subordinaorganiza-ção administrati-va, dos métodos de educação para a saúde, da prestação de

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assistência médico – odontológica, da nutrição, desnutri-ção e antropometria, da subnormalidade intelectual, das psicopatias infantis e da interiorização dos serviços. A evo-lução dessas questões segue quase sempre um mesmo ro-teiro – o surgimento da questão, evocada por algum especialista, chamando a atenção para sua atualidade cientifica ou social, a gradual institucionalização e o relato dos avanços conseguidos através da institucionalização. O que une todos os discursos, contudo, é a manutenção de seu fulcro ideológico básico – a transformação da sociedade através da ação educativa em prol da saúde, a constituição da raça, o fortalecimento moral do povo, o aumento da pro-dução e o engrandecimento da pátria.

10 “Da constituição física do corpo e de seus movimentos naturais é que devem surgir as bases pedagógicas e fisioló-gicas donde permanecerão os princípios reguladores dos exercícios de ginástica” (Terra da Luz).

11 Sobre o pensamento médico dirigindo-se aos fatores

mo-rais do crime, sexo e à morte, recomendo a leitura de ANTUNES, José Leopoldo Ferreira. Medicina, Leis e moral: Pensamento médico e comportamento no Brasil (1870-193). Ed. UNESP, 1999 eSCHWARCZ, Lília Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil (1870-1930). São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

12 Nas palavras de Schwarcz, (1993).

13 Conforme o supracitado, a teoria das raças teve

ramifica-ções com divergências e convergências entre elas, aqui, destacaremos, apenas o darwinismo social que, consolidou a eugenia como prática de intervenção na reprodução da populaçãoe, em seu nome, programas de higienização e sa-neamento foram implementados com o propósito de “elimi-nar a doença, separar a loucura e a pobreza” (Schwarcz, 1993, p.34) nos centros urbanos, além de ter como ideal po-lítico à subjugação do mais fraco ao mais forte.

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