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O ato de cuidar: prazer e sofrimento na práxis da enfermagem

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO

GRANDE DO SUL - UNIJUI

TAINÁ DE AMORIM MARQUES

O ATO DE CUIDAR:

Prazer e sofrimento na práxis da enfermagem

Ijuí - RS 2019

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O ATO DE CUIDAR:

Prazer e sofrimento na práxis da enfermagem

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Psicologia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande d Sul - UNIJUÍ, como requisito parcial à obtenção do título de Psicólogo.

Orientadora: Doutora Solange Castro Schorn

Ijuí - RS

2019

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TAINÁ DE AMORIM MARQUES

O ATO DE CUIDAR:

Prazer e sofrimento na práxis da enfermagem

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Psicologia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande d Sul - UNIJUÍ, como requisito parcial à obtenção do título de Psicólogo.

Aprovado em ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________ Doutora Solange de Castro Schorn (Orientadora)

Docente do Curso de Psicologia - UNIJUÍ

________________________________________ Mestre Carolina Baldissera Gross

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Com orgulho, compartilho o resultado de uma formação; pesquisa realizada para a conclusão do Curso de Psicologia da UNIJUÍ.

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AGRADECIMENTOS

Muitas pessoas acompanharam o processo desta formação. Embora somente algumas sejam aqui citadas, agradeço a todos que, de alguma maneira, apoiaram-me nesse percurso.

Agradeço especialmente à Deus, pois sem Ele nenhuma linha deste trabalho teria sido escrita.

À minha mãe, Jussara Cavalcante de Amorim, por todo amor que me deu nessa vida. A ela devo minha eterna gratidão pelo exemplo de perseverança, garra e incentivo aos estudos.

Às minhas tias, Rosa Cavalcante de Amorim e Tereza Cavalcante de Amorim, que sempre estiveram do meu lado me apoiando e incentivando sem medir esforços. Ao meu noivo Michel Albino Klein, pela sua infinita paciência, singular compreensão e, acima de tudo, pelo amor e respeito que dedicou a mim durante o período de formação.

À Doutora Solange Schorn, pela força, dedicação e companheirismo. Mais do que uma orientadora, mostrou-se uma amiga, sempre com muito carinho e compreensão, acolhendo as angústias e vibrando com as alegrias proporcionadas durante a escrita deste TCC.

À Vanessa Schilindwein, Anik Heusner, Luiza Bieger, Andriele Farias e Isabela Silveira pela amizade, companheirismo e incentivo durante esses cinco anos, por sempre vibrarem comigo minhas conquistas e ajudarem a me reerguer depois de cada tombo.

Aos maiores amores da minha vida, Frankilin e Clotilde Amorim, meus avós, que com toda certeza estão vibrando comigo de onde estiverem mais uma conquista.

À Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul e ao Departamento do Curso de Psicologia por todo aprendizado durante esse percurso.

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‘’ [...] é preciso saber cuidar do outro, mas também cuidar de si e.… deixa-se cuidar pelos outros, pois a mutualidade nos cuidados é um dos mais fundamentais princípios éticos a ser exercitado e transmitido’’.

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LISTA DE ABREVIATURAS

CBO – Classificação Brasileira de Ocupações

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Neste estudo apresenta-se a história das instituições hospitalares, descrevendo as implicações do trabalho dos profissionais cuidadores de enfermagem, com a finalidade de compreender como os mesmos percebem sua saúde mental em relação ao trabalho e quais fatores causam prazer/sofrimento nessa práxis. O estudo foi desenvolvido a partir de uma pesquisa bibliográfica, cujos conceitos abordados são de autores que trabalham com o tema. A compreensão de fatores que provocam sentimentos de prazer e sofrimento no ato de cuidar, abre possibilidades de mudanças para a enfermagem no que remete ao conhecimento de si e a importância do autocuidado. É importante que o profissional da saúde tenha condições prazerosas de trabalho, para que o paciente possa ser bem acolhido e cuidado.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 11

1. INSTITUIÇÕES HOSPITALARES ... 13

1.1 O surgimento dos hospitais: da antiguidade à contemporaneidade ... 13

1.2 A expansão dos hospitais: ações de cuidar e tratar ... 15

1.3 O trabalho no hospital ... 18

2 CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO E DO CUIDADOR ... 21

2.1 O cuidado e o ato de cuidar: qual o sentido e as ações dessa prática? ... 23

2.2 O trabalho do cuidador e sua regulamentação... 25

2.3 O enfermeiro cuidador ... 26

2.4 Prazer e o sofrimento no trabalho do enfermeiro ... 28

2.5 O cuidado de si ... 29

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 31

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INTRODUÇÃO

O presente estudo consiste no Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Psicologia. Tem como objetivos compreender a atuação de profissionais de enfermagem considerando o trabalho desenvolvido em meio a dor e o sofrimento dos enfermos, como também, conhecer um pouco das questões que perpassam o ambiente hospitalar do ponto de vista do trabalho desenvolvido pelos profissionais de enfermagem.

Na sociedade contemporânea tem-se observado e debatido, cada vez mais, o trabalho de profissionais que atuam em instituições hospitalares, no que diz respeito a saúde mental. Trabalhos sobre o tema vêm surgindo, especialmente no campo da psicologia, com a finalidade de orientar a prática dos psicólogos que atuam nos ambientes hospitalares. Nesse aspecto, são assinalados aspectos positivos e negativos que o trabalho impõe frente à saúde desses trabalhadores. Assim, como acadêmica de Psicologia, a partir de leituras e observações acerca do trabalho dos enfermeiros, o tema foi chegando como questão.

Partindo desse contexto, na produção dessa escrita, evidenciamos que o trabalho desempenhado pelo psicólogo, nesse campo, é um papel importante na formação da área da saúde, marcada por uma escuta que pode fazer um papel de mediação, buscando atingir aspectos de compreensão relacional, entre profissionais e pacientes. Portanto, percebemos como importante que o profissional de saúde busque um bom conhecimento de si mesmo, a fim de facilitar a compreensão e o manejo adequados ao atendimento do doente.

A produção, considerada neste estudo, parte de uma revisão de literatura com base em um levantamento de dados sobre o tema em questão. O material selecionado foi lido, analisado e interpretado. Nesse aspecto, este trabalho consiste em um estudo bibliográfico, de natureza qualitativa e de cunho exploratório. A coleta das informações foi realizada, a partir da análise de uma fonte secundária de dados, em revistas e artigos publicados nos Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PePSIC) e Scientific Electronic Library Online (SciELO), como também em livros de autores estudados no decorrer do Curso de Psicologia.

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À compreensão do tema e melhor organização do estudo, este trabalho foi estruturado em dois capítulos. O primeiro apresenta a história das instituições hospitalares permeando as mudanças que ocorreram desde a antiguidade ao mundo contemporâneo, e a expansão dessas instituições a partir das ações de cuidar e tratar. No segundo capitulo, são tratadas questões em torno do cuidado de si, contemplando a constituição do sujeito, a qual tem grande protagonismo nas manifestações de cuidado, bem como a importância do cuidado e do ato de cuidar. Na sequência são abordadas as regulamentações do trabalho do cuidador e questões relacionadas ao sofrimento psíquico. Nas considerações finais apresentamos uma compreensão sobre o cuidar como um processo contínuo, imprevisível, complexo, possuindo multiplicidade de atos, podendo levar o trabalhador a um processo de desgaste, ocasionando sofrimento psíquico, especialmente se as condições de trabalho não forem favoráveis.

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1. INSTITUIÇÕES HOSPITALARES

1.1 O surgimento dos hospitais: da antiguidade à contemporaneidade

A instituição hospitalar origina-se das instituições religiosas na Antiguidade que atendiam e cuidavam das pessoas enfermas, bem como das vítimas de outros infortúnios. Etimologicamente, a palavra hospital vem do latim hospes, que significa hóspede. Esta procede dos termos hospitalis e hospitium que outrora indicavam o lugar onde as pessoas se hospedavam. Isso incluía, além do cuidado com os enfermos, viajantes e peregrinos. Quando, nesse estabelecimento, recebiam pessoas pobres, incuráveis e insanas, a designação apropriada era hospitium que remete a concepção de hospício e que, por muito tempo, foi referência a hospital psiquiátrico (CAMPOS, 1995).

Em decorrência desse contexto, o hospital foi visto como uma espécie de depósito humano onde amontoavam pessoas doentes, geralmente destituídas de recursos. Nesse aspecto, sua ação estava voltada mais para a assistência social do que para a assistência terapêutica. Historicamente, o hospital como instituição, surgiu no ano 360 d.C., porém, sua história, como lugar de cuidado, começa a ser contada a partir da cristandade pela influência direta da religião cristã, levando o homem a se preocupar com seu semelhante. Antes disso, predominava o espírito egoísta do ser humano que se mantinha afastado dos deficientes e enfermos, não socorrendo o próximo e resguardando a si mesmo (CAMPOS, 1995).

Embora Campos (1995) afirme que o hospital tenha surgido em 360 d.C., Ribeiro (1993) anuncia haver registros da existência de hospitais na China, no Celião e Egito, antes e depois de Cristo, assim como, também, na Grécia e Roma antigas, onde templos criados para homenagear deuses serviam de abrigo aos doentes. Considerando essa trajetória secular e universal, surgindo simultaneamente em vários continentes e lugares no mundo antigo, Ribeiro (1993) afirma ser impossível encontrar uma única origem para o hospital. Para este autor, o hospital é visto, também, como uma empresa, onde o trabalho é vendido reproduzindo o capital, porquanto realiza uma atividade econômica em que este se multiplica direta ou indiretamente, como, por exemplo, a necessidade do uso de tecnologias que implica em investimentos e custos elevados, cujo retorno é necessário e obrigatório nessa instituição.

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Apesar dos avanços da tecnologia, ainda é possível encontrar nos hospitais características de uma compreensão de ordem divina, como o que perpassa o cotidiano de salvar vidas dos trabalhadores desse local, pois mesmo com todo o aparato tecnológico, o principal objeto de trabalho do hospital consiste, ainda, em adiar a morte. Nessa perspectiva, Ribeiro (1993) observa que aquilo que outrora era cerimônia, visto como um processo religioso e divino, tornou-se um processo tecnológico necessitando da intervenção médica, transformando, assim, o cuidado em mercadoria.

De acordo com Foucault (1996), o surgimento dos hospitais ocorreu pela necessidade de organizar o meio social de pessoas com condições financeiras precárias para que permanecessem isolada, sem incomodar a sociedade. O hospital era o local onde se misturavam loucos, doentes, devassos, prostitutas, servindo como uma espécie de lugar de exclusão. O local era administrado por religiosos ou pessoas que procuravam a própria salvação no ato de caridade, portanto, não contava com a presença de médicos ou profissionais de saúde, sendo os atendentes compreendidos como meros cuidadores/caridosos.

Campos (1995), em seu percurso sobre a história dos hospitais, afirma que, inicialmente, o conhecimento que os profissionais da saúde tinham referia-se muito mais sobre o doente do que sobre as doenças. Com o passar do tempo e o desenvolvimento da ciência, houve progressiva aquisição de informações sobre fisiopatologia e etiopatologia1 das diferentes afecções. A autora escreve que a

identificação dos agentes microbianos e do papel que desempenham na gênese das moléstias infecciosas favoreceu a evolução dos hospitais, passando a ser um local para onde os doentes eram encaminhados. Doentes que, pela natureza ou gravidade das afecções, necessitavam de cuidados oferecidos por pessoas especializadas ou exigiam equipamentos especiais.

Nesse contexto, percebe-se que as instituições hospitalares se destinavam ao tratamento dos doentes desenvolvendo atividades de natureza curativa. Na medida em que os conhecimentos foram sendo alargados e aprimorados, o ambiente hospitalar passou a ser visto de outra forma, não mais como depósito humano, e seu

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funcionamento diferenciado, tendo em vista que passou a se ocupar dos problemas de saúde dos pacientes usando ações terapêuticas efetivas e mais eficazes no tratamento dos enfermos.

Foucault (1979) analisa o hospital no final do século XVIII anunciando a ocorrência de uma grande inovação naquele período: a utilização do hospital como instrumento terapêutico, como instituição destinada especificamente à cura dos doentes, assinalando, “uma nova prática correspondente a visita e observação sistemática e comparada dos hospitais” (p. 99). Observa-se, nesses estudos, que o hospital, embora seja uma instituição com a finalidade de acolher e cuidar de pessoas, constitui ambiente insalubre, penoso e perigoso para trabalhar, tendo em vista os riscos com a saúde dos trabalhadores decorrentes do contato com diferentes patologias. No atual contexto social, evidencia-se esse trabalho como uma fonte de sobrevivência do ser humano, porém, em algumas situações, pode se tornar o causador de sofrimento psíquico.

1.2 A expansão dos hospitais: ações de cuidar e tratar

Em tempos idos, as instituições hospitalares estavam voltadas à assistência social e outras obrigações de interesse coletivo, como o cuidar e salvar. Ornellas (1998), em seus estudos, apresenta uma nova forma de organização e potencial de reabilitação dessas instituições Demonstra que até o século IX os doentes eram tratados nos conventos, em espaços previamente destinados, vindo a acarretar, no ano de 816, pelo Concilio de Aix-Ia-Chapelle 2, na obrigatoriedade da construção de

hospitais dentro dos conventos. A autora explica que a fundação de ordens religiosas tinha como propósito promover assistência social e o cuidado dos doentes, enaltecendo suas características religiosas mais do que terapêuticas. A religiosidade introduziu a hospitalidade na atenção aos doentes, oferecendo conforto espiritual cuidado dos corpos e recuperação da saúde.

2 Nome dado aos diversos concílios regionais da Igreja Católica, realizada durante a Idade Média, na

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A partir do século XII, outros eventos históricos ocorreram determinando o enfraquecimento do feudalismo, promovendo o crescimento de cidades e anunciando o surgimento de novas epidemias na Europa. Com isso, surge a necessidade do aumento dos hospitais, nos quais atuavam tanto religiosos quanto leigos e, embora ainda não se estabelecesse a atuação do médico, era o lugar onde se praticava um cuidar próximo do que viria a ser o exercício da enfermagem.

Ornellas (1998) explica, ainda, que com a crise da Igreja, cujo poder enfraquece juntamente com o regime feudal, os estabelecimentos hospitalares religiosos entraram em decadência. Assim, com o fim da Idade Média, inúmeras congregações cristãs foram fechadas, transferindo para a iniciativa laica os serviços que vinham prestando, inclusive o de cuidados com os doentes. Nesse período, inicia-se a direção dos municípios delineando-se os hospitais gerais, criados como instituições filantrópicas para servirem um só tempo de auxílio.

Nessa contextualização, Ornellas (1998) ressalta que as características de cuidado e salvação do período da Idade Média não se alteraram com a laicização: os hospitais mantiveram-se como instituição de abrigo e tratamento de doentes sem uma definição pragmática. Por caridade cristã ou por força das epidemias que acometeram a Europa, esses estabelecimentos se expandiram. O aumento da demanda pelos serviços prestados nos hospitais contribuiu para a ampliação de suas instalações.

Atualmente, o hospital está definido como o lugar onde os doentes podem descobrir a causa de suas doenças, serem observados, tratados e curados. Nesse novo modelo hospitalar, não cabe mais o mero lugar de abrigo ou asilo, senão a busca pelo tecnicismo científico adequado às suas novas funções. O surgimento do hospital como cenário privilegiado da tecnologia de tratamento e cura é fato relativamente recente e tem como marco a transformação de suas atribuições no final do século XVIII (ORNELLAS, 1998).

Para Rodrigues (2013), o hospital carrega em seu bojo várias mudanças, principalmente no que concerne ao diagnóstico e tratamento de doenças. O avanço tecnológico contribuiu para essas mudanças proporcionando aos médicos e funcionários maior precisão diagnóstica e de tratamento com a descoberta de

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medicamentos, apresentando um novo modo de se fazer saúde e pensar as doenças.

Ainda, de acordo com o mesmo autor, a entrada da medicina no hospital, levou à construção de um hospital comércio, onde grandes empresários viram, na sua conjuntura, uma promissora fonte de renda e economia. Desse modo, o hospital passou a representar o mercado, o médico tornou-se o produtor e o paciente, por sua vez, aquele que consome e paga a conta. O autor anuncia que, neste novo modelo de hospital, o médico é sobrecarregado de funções afetando diretamente aquele que precisa de cuidado e atenção, o paciente, que nem sempre recebe os cuidados necessários.

Rodrigues (2013) observa que, posterior ao século XVIII, surge um hospital preocupado com a saúde da população, porém desumanizador, possivelmente pela tecnologia apontada por muitos teóricos como princípio desencadeador da desumanização. Frente a este hospital desumanizado, os principais sentimentos vividos pelos sujeitos à hospitalização são expressos pelo medo, angústia, impotência, dependência, dentre outros, desencadeados pela crescente violência institucional proposta pelo modelo hospitalar vigente.

A história do hospital, na contextualização de Rodrigues (2013), contempla dois aspectos bem distintos, considerando transformações e características peculiares a cada um deles. De um lado, um hospital segregador que separava os sujeitos por classes sociais, e outro, também segregador, com o objetivo de curar e tratar. Para a autora, essas mudanças ocasionaram graves problemas no ambiente hospitalar, como, o distanciamento entre equipe de saúde e paciente e entre as próprias equipes, resultando em uma medicina técnica e desumanizada.

O autor esclarece que, ultrapassando esse novo modelo de hospital, a necessidade de humanizar a atenção à saúde foi manifestada em vários momentos da história, comprovada pelas várias ações consideradas humanizadoras que vinham sendo realizadas de forma individual e isolada. Menciona que fazer humanização em uma instituição hospitalar é entrar em conflito com outros profissionais, gestores e governantes, pois humanizar significa mudar, investir, transformar.

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1.3 O trabalho no hospital

Os diversos profissionais que atuam no ambiente hospitalar vivenciam diferentes experiências: dor, sofrimento e finitude, observadas nos diversos casos e tipos de doenças e mortes ocorridas diariamente nesse local. Nesse contexto, o profissional de enfermagem que ali atua está sujeito a desequilíbrios emocionais, tendo, também, necessidade de ajuda, apoio, acolhimento e cuidado.

No cotidiano do trabalho do enfermeiro, exige-se conhecimento técnico para sua atuação, mas, também, é necessário considerar certo equilíbrio emocional para lidar com as dificuldades que aparecem; observar atentamente o que acontece à sua volta e concluir o trabalho com habilidade. Segundo Beck (2001), no ambiente hospitalar concentram-se riscos de todas as formas, de um lado, relacionados ao paciente e, de outro, pela inabilidade dos profissionais no relacionamento com esses pacientes. Dor, sofrimento e morte também estão presentes como companheiros de jornada. Assim, de acordo com o autor, por se tratar de situações inesperadas, os trabalhadores não têm tempo para se preparar, tendo em vista a frequência dessas situações no trabalho hospitalar.

Sentimentos de satisfação e insatisfação são constantes no cotidiano dos profissionais de enfermagem, resultantes da rotina de trabalho, elementos importantes a considerar quando se fala em qualidade de vida no trabalho. As características da atividade de enfermagem envolvem a utilização de mecanismos de defesa, de resistência ou de enfrentamento, com os quais os trabalhadores buscam alcançar um relativo equilíbrio e o desenvolvimento do trabalho propriamente dito (BECK, 2001).

Observa-se, então, que a atuação desses profissionais está ligada diretamente à assistência ao paciente e às condições oferecidas pelo ambiente de trabalho. Segundo Beck (2001), os desgastes pelos quais os profissionais passam nesses ambientes e nas relações de trabalho tornam esses lugares, em alguns momentos, espaços de sofrimento em virtude das más condições em que é realizado, afetando todos os envolvidos, considerando que inviabiliza a qualidade de exercício profissional e prejudica o cuidado com o paciente. Beck (2001) ressalta, ainda, que os eventos ocorridos nesses espaços, óbito inesperado, inexistência de leitos para pacientes graves, falta de assistência intensiva, apontam para o trabalhador de saúde uma

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incapacidade de manter o outro vivo, mobilizando o sentimento de impotência, tristeza, ira e perda do controle da situação.

Nesse cenário, evidencia-se o adoecimento psíquico desses profissionais, decorrente da vivência de situações relacionadas à organização de trabalho. Isso remete à questão da subjetividade na relação homem-trabalho que, segundo Beck (2001), partindo de sua leitura de Dejours (1994), tem efeitos concretos e reais, manifestados no absenteísmo, no engajamento excessivo, por parte do trabalhador, a uma determinada tarefa e, muitas vezes, no amortecimento do corpo e do espírito como forma de sobreviver, e que parece, de acordo com esses autores, ser uma condição para a banalização do sofrimento.

Segundo Machado (2006), na Idade Média, a morte era compreendida como algo natural, percebida facilmente e informada para outros de maneira simples. As pessoas eram acometidas por diferentes doenças, sem grandes intervenções, acostumando-se com a naturalidade de tal desfecho, era a morte encontrada, metaforicamente, nas salas de visita. Atualmente, esconde-se nos hospitais, onde os sujeitos diante da dor e do sofrimento buscam negá-la como fim inevitável do trajeto da vida humana, procuram distanciá-la o máximo possível utilizando os recursos tecnológicos existentes nas instituições hospitalares, para, assim, afastarem-na como fim derradeiro, explica o autor.

A diferença entre o modo pelo qual o homem medieval lida com a doença e a morte, comparados com o homem contemporâneo, é anunciada por Machado (2006) como a total dissociação encontrada, atualmente, entre a vida, sua enfermidade, a naturalidade do adoecer e a fatalidade de morrer, tendo em vista que a morte não está mais compreendida como um fim natural do sofrimento humano. Nesse aspecto, a dor, o sofrimento e a morte são controlados pelos trabalhadores da saúde que nem sempre são esclarecidos da sua difícil e essencial missão. Cabe-lhes, no exercício da profissão, encontrar um equilíbrio entre a vida e a morte, saúde e doença, cura e óbito que possa ultrapassar impossibilidades pessoais de conduzir o trágico.

Machado (2006) anuncia que os profissionais da saúde, ao cuidarem do paciente, promovem seu bem estar físico, psicológico e social, aderindo um comportamento para além das competências técnicas em lidar com o sofrimento,

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exercendo, assim, suas atividades nos limites que se encontram entre a vida e a morte. Em decorrência desse feito, sofrem com uma sobrecarga emocional diária.

À compreensão dos sentimentos desses profissionais, escreve Machado (2006), é necessário entender que promover alívio dos sofrimentos e bem estar para os pacientes pode significar uma reposição das próprias energias. Analisando essa situação, a autora anuncia outros ganhos como o aprendizado oriundo da experiência, a admiração pelos colegas de unidade, promovendo a sensação de reconhecimento e valorização.

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2 CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO3 E DO CUIDADOR

Freud (1895), no tratamento das histéricas, constatou uma realidade muito particular expressa por meio dos sintomas que apareciam no corpo de suas pacientes. Denominou essa realidade como fantasias e os conceitos que advieram desse estudo conduziram o rumo de suas investigações. Por meio da técnica da associação livre, expressa na fala das pacientes, foi descobrindo que das experiências vividas na infância as fantasias eram construídas, configurando a verdade do sujeito. A escuta dessa verdade relatada pelas pacientes levou Freud (1905/2006), a postular a existência do inconsciente (PIZUTTI, 2012).

Segundo os estudos de Pizutti (2012), outra tese importante na obra freudiana, precisamente na Interpretação dos Sonhos (1900) e nos Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1905), é a significativa contribuição para se pensar a constituição do sujeito. Neste momento, mostra-se um conhecimento que até então não havia importância ou chamado a atenção dos adultos – a sexualidade infantil. Freud (1905/2006), ao pensar a sexualidade e sua importância, concebe que a vida adulta se funde com o que foi vivido na primeira infância. Para ele, a sexualidade liga-se ao infantil e é entendida como a causa do psiquismo.

Assim, o aparelho psíquico em Freud é formado a partir de sistemas com características e lógicas diferenciadas e ao mesmo tempo articuladas. Segundo Pizutti (2012), o inconsciente freudiano é um sistema com conteúdos recalcados, os quais são recusados pelo pré-consciente ao sofrer a ação do recalque. A autora ressalta que as representações psíquicas, não suportadas pelo ego (consciente), são recalcadas, passando, então, ao id (inconsciente) e pelo crivo do superego (regulador moral).

De acordo com a autora, Freud entende a personalidade como resultante da dinâmica dessas três instâncias psíquicas. Compõem-se, assim, as grandes teses que

3 A construção dessa escrita parte da leitura de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para

graduação em Psicologia na instituição de ensino UNIJUI, a saber, PIZUTTI, J. M. A constituição do sujeito na psicanálise. 2012. 31 p. Monografia (Curso de Psicologia) - UNIJUÍ, Ijuí, 2012. Optamos por esta referência considerando tratar-se de uma escrita mais acessível à nossa compreensão, ainda que tenhamos realizado uma leitura nas mesmas obras utilizadas nesse trabalho. Assim, citamos a autora no decorrer do capítulo, evitando, assim, usar constantemente o termo ‘’apud’.

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organizam e constituem o sujeito: a noção de inconsciente e a sexualidade como organizadora da vida psíquica, logo, a constituição de um corpo pulsional e uma estrutura de linguagem.

Para a psicanálise, a construção psíquica é um processo pelo qual o bebê humano precisa passar para que venha a se constituir como sujeito. Freud (1905/2006), em seus estudos, escreve Pizutti (2012), explica que o infans, ao nascer, por sua condição de dependência, precisa do outro para lhe dar um lugar de existência e, para isso, é necessária a linguagem. A criança nasce como uma espécie de folha em branco e, para que nela se inscreva algo, é preciso que o outro da mesma espécie o faça por meio de significantes. Estes significantes são os que marcam o nascente. A mãe, na retirada do seio, constrói a falta do objeto na criança, assim, o infans encaminha-se subjetivando à medida do que vivencia ao ser atravessado pelos significantes da mãe (PIZUTTI, 2012).

Na estruturação de um sujeito, a falta é necessária, pois o ato da provocação gera na criança a pulsão como representante biológico e que só pode ser aliviada por meio do outro (objeto). Segundo Pizzuti (2012), é esse outro que pela repetição inscreverá na criança o traço de memória. A mãe, ao amamentar o filho, satisfaz sua fome (mal-estar) e ao retirar o seio (satisfação) desperta-lhe uma tensão no sentido de desejar que esse outro (mãe) deseje suprir o que sempre vai lhe faltar.

Pizutti (2012) salienta, ainda, que é por meio da falta que a mãe marcará o corpo da criança e, a partir das marcas ali deixadas pelo outro, os significantes são impressos unindo linguagem e corpo. Como consequência, desperta, no bebê, o desejo. É esse desejo que a outra demanda, que permite ao pequeno ser passar de carne e osso a sujeito. Esse sujeito de que trata a Psicanálise, pertencente à espécie, constitui-se como tal pela ação do outro. É preciso que esteja aos cuidados desse outro da mesma espécie e ser inserido em uma organização familiar e social. Nesta contextualização, a autora esclarece que esse processo depende, necessariamente, da significação do Outro que apresenta o mundo à criança, considerando que o bebê nasce carente de todos os cuidados. Portanto, é o cuidado do outro (mãe) que permitirá à criança metaforizar sua realidade. Este processo é emergencial e inerente aos seres humanos que para se subjetivar, precisam de alguém que os suportem,

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tanto física quanto psiquicamente, por meio de inscrições e operações (PIZUTTI, 2012). Constata-se, então, que as formas e inscrições de cuidados dos seres humanos sustentam as recíprocas relações que, por sua vez, organizam os diferentes modos de cuidar.

2.1 O cuidado e o ato de cuidar: qual o sentido e as ações dessa prática?

Cuidar, é, basicamente ser capaz de prestar atenção e reconhecer o objeto dos cuidados o que ele tem de próprio e singular, dando disso testemunho e, se possível levando de volta ao sujeito sua própria imagem.

(Figueiredo, 2012, p. 140)

Cuidar significa atenção, cautela, desvelo, zelo. Assume, ainda, características de sinônimo de palavras como imaginar, meditar, empregar atenção ou prevenir-se (DAMAS, MUNARI e SIQUEIRA, 2004), representando mais do que um momento de atenção. Precisamente, representa uma atitude de preocupação, ocupação, responsabilização e envolvimento afetivo com o ser cuidado, caracterizando, ainda, formas de refletir, pensar, interessar-se por preocupar-se com julgar, considerar (AMORA, 2001).

Para Ceccato & Van Der Sand (2001), o cuidado vem como foco central da enfermagem, como meio de constituir interação no contato com os pacientes, resgatando o cuidado humano. Segundo as autoras, para resgatar esses cuidados, é necessário estabelecer uma relação interdependente e recíproca com o ser cuidado, pois este acompanha a vida humana desde seu princípio, tonando-se imprescindível tanto na saúde como na enfermidade e morte representando o estímulo de gozar a vida, satisfazendo os sujeitos em seu momento de vulnerabilidade. Diferente disso, as autoras discorrem sobre o ato de cuidar, salientando que esse ato não deve pautar somente a identificação dos sinais e sintomas da doença, mas reconhecer as modificações que ocorrem na estrutura dos sujeitos enfermos.

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No que diz respeito à enfermagem, esses autores anunciam que o ato de cuidar não comporta somente a excelência na execução das intervenções, mas observar a condição daquele que cuida, que deverá em suas ações expressar sensibilidade fazendo com que o ser cuidado possa reparar sua sensibilidade e respeito. De acordo com Damas, Munari e Siqueira (2004), como uma atitude e característica primária do homem, o cuidado revela a natureza humana e a maneira mais concreta de ser humano. O homem sem o cuidado deixa de ser humano, desestrutura-se, enfraquece, perde o sentido e morre. Segundo as autoras, o cuidado surge quando a existência de um sujeito adquire significado para alguém e, assim, passa-se a cuidar do outro, de suas buscas, sofrimentos e sucessos. O cuidado, explica as autoras, por sua própria natureza, possui dois significados que se inter-relacionam por ser uma atitude de atenção e disposição para com o outro, ao mesmo tempo em que representa preocupação e inquietação, considerando que o cuidador se sente envolvido afetivamente e ligado ao outro.

Damas, Munari e Siqueira (2004) afirmam, ainda, que a enfermagem moderna é na sua essência, desde o seu nascimento, expressa por meio do cuidado que visa garantir o alívio do sofrimento e a manutenção da dignidade em meio às experiências de saúde, doença, vida e morte. Zelar por alguém remete a um sentido do vivido e experienciado. Isto envolve respeitar o outro e a si mesmo como ser humano e profissional. Para que o ambiente do cuidado seja reconhecido de modo verdadeiro e acolhedor, é necessário que a intenção do cuidador seja demonstrada em suas ações e palavras. Ações que devem ser repletas de sensibilidade, delicadeza, solidariedade e profissionalismo, excluindo preconceitos de toda ordem e utilizar a relação interpessoal como base entre seres humanos.

Segundo Campos (1995) o cuidador atua no ajustamento do paciente às condições da vida hospitalar. Essa função é necessária, pois a doença rompe a interação do paciente com a sociedade e seus familiares, havendo uma mudança de rotina, vivendo, assim, momentos de crise, tornando-se dependente de outras pessoas. É necessário que o cuidador considere os vários aspectos manifestados pelo paciente, decorrentes da internação, como a expectativa em ficar no hospital, o tipo de tratamento que receberá, como e quando poderá ver os familiares, o que significa o processo de doença e de internação.

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Conforme Machado (2006), esses profissionais possibilitam aos pacientes cuidados, bem-estar físico, psicológico e social, adotando uma postura que vai além de suas competências técnicas, pois exercem suas atividades na fronteira entre a vida e a morte. A autora ressalta, ainda, que os cuidadores convivem mais tempo com os enfermos do que com seus familiares, considerando que são eles que acompanham diariamente a vida e morte dos internados.

Na perspectiva do cuidado, Machado (2006) lembra que esses profissionais, além das questões inerentes às suas atribuições, precisam, ainda, lidar com as expectativas de cura advindas da família, cultura e dos próprios pacientes, pois estes encontram-se fragilizados, podendo reverter seus sentimentos em agressões ou atitudes hostis, o que requer compreensão por parte dos cuidadores. Com isso, esses profissionais, muitas vezes, acabam submetendo-se ao estresse e à pressão emocional.

O trabalho na enfermagem demanda dos profissionais, além das atribuições técnicas, investimento afetivo. Assim, o cuidado e o ato de cuidar, além de exigirem, daquele que cuida, zelo, cautela, solicitude e atenção, afeta e toca a subjetividade desses profissionais, considerando o convívio e o compartilhar a dor e o sofrimento do/com o outro. Compreende-se, então, o trabalho do cuidador como único e singular, colocando-o em um movimento constante de inventar-se e reinventar-se diariamente.

2.2 O trabalho do cuidador e sua regulamentação

A ocupação do cuidador integra a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) sob o código 5162, desde o ano de 2002, a qual define esse profissional como alguém que “cuida a partir dos objetivos estabelecidos por instituições especializadas ou responsáveis diretos, zelando pelo bem-estar, saúde, alimentação, higiene pessoal, educação, cultura, recreação e lazer da pessoa assistida”. Essa definição é mais bem compreendida no Guia Prático do cuidador (2008)4 que tem como função a orientação

4 Elaborado por Ana Cristina Fonseca e Elenice Reis da Silveira, com o objetivo de esclarecer, de modo

simples e ilustrativo, os pontos mais comuns do cuidado, assim como promover uma compreensão sobre a qualidade de vida do cuidador e da pessoa cuidada.

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de cuidadores na atenção à saúde, cuidadores estes que poderão ser uma pessoa da família ou da comunidade que presta cuidados à outra pessoa, de qualquer idade, que esteja necessitando de cuidados devido às limitações físicas ou mentais. Nessa perspectiva mais ampla do cuidado, o papel do cuidador ultrapassa o simples acompanhamento das atividades diárias dos indivíduos, sejam eles saudáveis, enfermos, acamados, em situação de risco ou fragilidade, seja nos domicílios e/ou em qualquer tipo de instituição. Nesse Guia, as autoras Fonseca e Silveira (2008) determinam que a função do cuidador é acompanhar e auxiliar a pessoa a se cuidar, fazendo por ela somente as atividades que não consegue fazer sozinha.

Figueiredo (2012), em seu estudo sobre a metapsicologia do cuidado, cita os pais, o médico, a enfermeira, o professor e o amigo como agentes de cuidado. Para o autor, o campo do cuidado, ainda que imponha algum sacrifício, pode converter-se em algo prazeroso e lúdico, pois não é o espirito do sacrifício que move essa prática, mas o ato de cuidar em si. Na sua perspectiva, esse autor anuncia que uma das metas do cuidado é levar seus objetos a desenvolver as capacidades cuidadoras, pois o campo dos cuidados é mais amplo e mais complexo do que se imagina, afinal é nele que os procedimentos acabam não se tornando exclusivos, nem os mais importantes. É preciso que haja uma introjeção criativa das funções cuidadoras e isso não se aprende por imitação. A esse respeito, afirma que se houver a imitação de bons modelos de cuidados, ela poderá servir como ajuda ou compreensão mais teórica do que está envolvido nas práticas de cuidado. No entanto, para que ocorra a introjeção e que seja criativa, é necessário que se enraízem nas capacidades do sujeito ativadas pelo outro, pelo agente cuidador. Nesse contexto, podemos afirmar que os cuidados e seus agentes tem uma existência histórica determinada, pois como afirma Figueiredo em seus escritos, um bom cuidador será capaz de produzir sujeitos capazes de cuidar assim tornando o cuidado como algo da ordem do natural e da necessidade.

2.3 O enfermeiro cuidador

Na área da saúde, em qualquer campo de atuação, há preocupação em cuidar bem do outro para que este possa gozar de uma vida saudável e com qualidade. No

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campo da enfermagem, encontram-se saberes que sustentam e organizam esse feito que tem como especificidade o cuidado do ser humano. A profissão de enfermagem consiste, segundo o Conselho Regional de Enfermagem (COREN) – RS, na “produção e gestão do cuidado prestado nos diferentes contextos socioambientais e culturais em resposta às necessidades da pessoa, família e coletividade”, e deve ser “exercida privativamente pelo Enfermeiro, pelo Técnico de Enfermagem, pelo Auxiliar de Enfermagem e pela Parteira, respeitando os respectivos graus de habilidade’’, como determina a Lei nº 7.498, em parágrafo único no art. 2º (BRASIL, 1986, p. s/n).

Essa mesma Lei, especifica as funções desses profissionais esclarecendo a formação de cada um nesse campo: enfermeiro, técnico de enfermagem, auxiliar de enfermagem, e regulamentando suas atribuições. Desse modo, situa em seus artigos:

Art. 11 - Ao enfermeiro5 cabe todas as atividades que são privativas ao seu

campo assim como: a) direção do órgão de enfermagem integrante da estrutura básica da instituição de saúde, pública e privada, e chefia de serviço e de unidade de enfermagem; b) organização e direção dos serviços de enfermagem e de suas atividades técnicas e auxiliares nas empresas prestadoras desses serviços. E trabalhar como integrante da equipe de saúde, através da participação no planejamento, execução e avaliação da programação de saúde;

Art. 12 - O técnico de enfermagem exerce a atividade de nível médio, envolvendo orientação e acompanhamento do trabalho de enfermagem em grau auxiliar, e participação do planejamento da assistência de enfermagem, cabendo-lhe especialmente: participar da programação da assistência de enfermagem; a) executar ações assistenciais de enfermagem; b) participar da orientação e supervisão do trabalho de enfermagem em grau auxiliar; c) participar da equipe de saúde.

Art. 13 - O auxiliar de enfermagem exerce atividade de nível médio, de natureza repetitiva, envolvendo serviços auxiliares de enfermagem sob supervisão, bem como a participação em nível execução simples, em processos de tratamento, cabendo-lhe

5 As atividades privativas do enfermeiro contemplam uma lista vasta de atribuições que podem ser

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especialmente: a) observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas; b) executar ações do tratamento simples; c) prestar cuidados de higiene e conforto ao paciente; d) participar da equipe de saúde’ (Brasil, 1986).

A legislação, então, ao descrever as atividades do enfermeiro, do técnico e do auxiliar de enfermagem, reconhece-os como uma equipe de agentes cuidadores.

2.4 Prazer e o sofrimento no trabalho do enfermeiro

Os trabalhadores de uma equipe de enfermagem estão inseridos no conjunto de profissionais da área de saúde e, portanto, fazem parte da equipe multiprofissional que se responsabiliza pela assistência prestada ao sujeito e seus familiares. Segundo Martins, Robazzi e Bobroff (2008), o trabalho da equipe de enfermagem tem como característica um processo organizativo influenciado por sua fragmentação tomando como objeto de trabalho o sujeito doente. Frente a isso, esses profissionais deparam-se diariamente com sofrimentos, medos, conflitos, tensões, ansiedade e estresdeparam-se, além de conviver com a transitoriedade e as longas jornadas de trabalho inerentes a sua função. Desta forma, os autores ressaltam ser imprescindível compreender o trabalho da equipe de enfermagem em seus aspectos: econômicos, culturais e sociais.

Conforme Martins, Robazzi e Bobroff (2008), outro fator vivenciado pelos profissionais de enfermagem diz respeito à falta de autonomia, que lhes dificulta o alcance de suas metas. Observam que, na maioria das vezes, os próprios trabalhadores não se permitem buscar estratégias para atravessar obstáculos existentes e essa conduta, também, pode gerar insatisfações, estresse, conflitos e angústia, desencadeando sentimentos de sofrimento no trabalho. Outro fator importante é que o desprazer pode estar relacionado à realização de atividades desagradáveis/desgostosas, as quais esses profissionais precisam realizar por dever ou obrigação que na maioria das vezes são carregadas de sentimentos negativos.

Embora o trabalho possa ser considerado por alguns como fonte de sofrimento, este também pode proporcionar vivências de prazer, considerando ser responsável pela realização pessoal e profissional do indivíduo, pois possibilita seu processo de

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formação em sua produtividade técnica, política, cultural, implicando na subjetividade de quem o faz (MARTINS, ROBAZZI E BOBROFF, 2008).

O prazer no trabalho de um enfermeiro está ligado diretamente à assistência ao paciente e às condições oferecidas pelo ambiente de trabalho. Para Martins (2008), saber que de algum modo ocorreu a sua contribuição humana, por meio do cuidado, gratifica-lhes e proporciona recompensa emocional. O autor acrescenta que o trabalho dos enfermeiros, possibilita aliviar a dor, salvar vidas, sentir-se útil, entre outros fatores, o que pode ser considerado por esses profissionais como fonte de satisfação e conforto. Isso contribui para o sentimento de prazer e favorece o equilíbrio psíquico desses profissionais.

2.5 O cuidado de si

Percebe-se que o cuidado não é uma prática inovadora, pois é realizado desde o princípio da humanidade, logo, é inerente ao processo de viver, adoecer e morrer dos seres humanos. Para Santos e Radünz (2011), cuidar é mais que um ato, é atitude, preocupação, responsabilidade e envolvimento afetivo para com o outro e consigo mesmo. Para os autores, tanto o cuidado quanto o cuidar de si fazem parte do estilo de vida dos profissionais de enfermagem. Esses autores salientam que os enfermeiros questionarão ou valorizarão o cuidar de si somente a partir do momento em que tiverem consciência do seu direito de viver e de seu estilo de vida. Entretanto, segundo os autores o processo de cuidar envolve relacionamento interpessoal baseando-se na confiança e na colaboração, tanto do cuidador quanto de quem está sendo cuidado.

Para a enfermagem, o cuidar significa um espaço para construção de relações, de criação de seu próprio trabalho, do reconhecimento de si, o que possibilita redefinir sua relação com a instituição, colegas, pacientes, famílias e comunidades. Santos e Radünz (2011) anunciam que para cuidar em enfermagem é necessário observar, perceber, olhar, sentir e ouvir. Desse modo, os autores citam que, ao cuidar do outro, os enfermeiros devem enxergar cada sujeito de uma forma integral, como um ser que

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tem uma vida e uma história, para que, ao cuidar, esses profissionais possam cuidar também de si.

Cuidar de si requer a ocupação de si, pois como relata Santos e Radünz (2011), o cuidado de si não deve ser entendido como um exercício de solidão, mas como uma prática que exige certa dedicação de tempo, criatividade e tecnologia interativa, as quais servem como processo e produto de cuidar, pois é agindo com cuidado consigo mesmo que pode tornar-se apto a desempenhar a responsabilidade, a cuidar da vida de um próximo sujeito.

Santos e Radünz (2011) consideram que o ser humano precisa assumir a responsabilidade pela sua saúde e, portanto, precisa incorporar as práticas de cuidar de si em seu estilo de vida. Para eles, o cuidar está intimamente ligado a aprender a viver, tendo a possibilidade de ocupar-se consigo mesmo. Esta é uma verdadeira prática social que, ao mesmo tempo, é pessoal, uma vez que o conhecimento de si, o cuidar de si, é parte integrante do cuidado do outro. Ao cuidar de si, consequentemente, cuidará do outro, pois, o cuidado remete à formação e à emancipação, assim como o cuidar envolve a mudança do próprio viver em sociedade.

Com base nos estudos do cuidado atento de si desenvolvido Santos e Radünz (2011), constata-se que as habilidades para cuidar do outro necessitam do cuidar de si, pois nesse aspecto, o conhecimento de si induz aos sujeitos à busca da sabedoria e do autoconhecimento, compreendendo, assim, as ações para o cuidar do outro.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

‘’O cuidar é constitutivo do sujeito e algumas pessoas escolheram como profissão cuidar’’

(Machado, 2006, p.100).

Observamos, no decorrer deste estudo, que a atividade de cuidar implica em muitos riscos para os profissionais que estão expostos às diversas enfermidades e, para além disso, às manifestações de sofrimento psíquico decorrentes das condições do ambiente. No cotidiano de trabalho de um profissional da saúde é exigido não só conhecimento técnico para realização de suas condutas, mas acima de tudo equilíbrio emocional para lidar com as dificuldades que certamente aparecerem para observar atentamente tudo o que acontece em sua volta, podendo concluir de maneira aprimorada qualquer problemática.

Assim, podemos perceber os fatores que causam prazer, desprazer e sofrimento no trabalho do enfermeiro e, a partir destes, compreender como está a saúde mental desse trabalhador. Em se tratando de sofrimento no trabalho, é preciso humanizar o cuidado, atentando, também, para o estado emocional dos profissionais. Nem só de sofrimento eles vivem, pois encontram prazer no que fazem. Esse trabalho permite ao cuidador construir uma relação única com o paciente, proporcionando-lhe sentimentos de cura e alivio; e esse reconhecimento faz esses profissionais serem felizes com/em suas profissões.

Compreendemos, a importância deste estudo como contribuição ao conhecimento do psicólogo que atua nas instituições hospitalares e com os profissionais de enfermagem, no sentido de auxiliarem nas dificuldades impostas pela profissão, uma vez que a ação da enfermagem pode ser, também, fonte de prazer, portanto fonte de realização profissional e pessoal. É importante que o profissional de psicologia ofereça aos enfermeiros um espaço de reflexão para que compreendam e ressignifiquem suas ações como sujeitos cuidadores. O trabalho de um profissional da saúde, como agente cuidador, seria o de fazer emergir as possibilidades e recursos

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de cada ser para a cura de sua doença, buscando aclarar o significado das atitudes de sua vida e da compreensão de sua doença.

A Psicologia tem capital importância nas situações relacionadas à saúde do ser humano e o psicólogo, como profissional da promoção da saúde, atua tanto na prevenção como no tratamento. Nessa direção, tratando as questões relacionadas a saúde psíquica do enfermeiro, o psicólogo atuaria na prevenção do agravamento e permanência de determinados problemas psicológicos, contribuindo para que, a partir dos prazeres e desprazeres desse trabalho, o enfermeiro possa encontrar recursos que lhe permita continuar trabalhando de forma saudável e cuidando de si.

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