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Alfabetizar letrando: contribuições da literatura Infantil

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Academic year: 2021

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DHE - DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO. CURSO DE PEDAGOGIA

MAIARA CAROLINE RITSCHER CARVALHO

ALFABETIZAR LETRANDO: CONTRIBUIÇÕES DA LITERATURA INFANTIL

Ijuí (RS), 2016

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ALFABETIZAR LETRANDO: CONTRIBUIÇÕES DA LITERATURA INFANTIL

Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ - Departamento de Humanidades e Educação, na área de Formação de Sujeitos Leitores no Ciclo de Alfabetização.

Orientadora: Professora Ms. Iselda Terezinha Sausen Feil

Ijuí (RS), 2016

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RESUMO ... 3

INTRODUÇÃO ... 5

CAPÍTULO 2- A LITERATURA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DO LEITOR .. 16

CAPÍTULO 3- REFLEXÕES, TESTEMUNHOS... CONFIRMAÇÕES ... 26

REFERÊNCIAS ... 31

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processo não somente como um recurso didático, mas como um instrumento na construção do leitor nos Ciclo de Alfabetização, já que esse é momento em que a criança adentra no mundo da literatura. Após a pesquisa teórica, faz-se relação com a prática de uma turma de anos iniciais, onde foram feitas observações e intervenções, concretizando o que a teoria traz, que a literatura infantil é sim um instrumento essencial na formação do leitor, não somente ler com intuito pedagógico, mas ler por prazer, escutar histórias de formas lúdicas, também a importância da professora criar condições para boas leituras, incluindo-se aqui inúmeros fatores consideráveis nesse processo.

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INTRODUÇÃO

O desenvolvimento da leitura não pode ser completo se, em cada um dos passos, não se inclui uma progressiva aproximação às obras literárias. É certo que as crianças devem ser capazes de ler uma variedade de textos, mas entre estes não podem faltar os literários. (ALLIENDE e CONDEMARÍN (2005, p. 179)

No decorrer de muitos anos considerava-se alfabetizado aquele que conhecia as letras do alfabeto. Nos dias de hoje, embora seja imprescindível conhecer e saber o código linguístico, não é o bastante para o uso competente da língua. Com base nesse entendimento a alfabetização vem se complexificando e junto a isso, foi surgindo uma nova palavra no cenário da leitura e da escrita que é a palavra/conceito de letramento o qual vem sendo utilizado por muitos educadores, objetivando a inserção da criança numa cultura letrada, desafiando-a a saber fazer uso consciente e intencional da leitura e da escrita no seu cotidiano.

No entendimento de Magda Soares (2003), uma das pesquisadoras brasileiras que mais defende o letramento, não se deve dissociar os dois processos, já que não são independentes, embora indissociáveis. Para a autora, a entrada da criança no mundo da escrita se dá simultaneamente por meio da aquisição do sistema convencional da escrita (alfabetização) e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita (letramento). Para tanto, precisa-se planejar o trabalho pedagógico de alfabetização associando as atividades de uso da linguagem com as atividades de reflexão da escrita. Por isso a alfabetização não pode dar-se fora de contexto de letramento que potencializam o domínio da linguagem. Este entendimento não é tão pacífico quanto possa parecer, pois, há vários pesquisadores que questionam este posicionamento, afirmando que a alfabetização não pode ser entendida deste modo reducionista.

A inserção do indivíduo em ambiente letrado faz com que o mesmo experimente diferentes práticas com a linguagem. Acredita-se que cada vez está mais aumentando a necessidade de pensar recursos pedagógicos que potencializem o processo alfabetização-letramento, e, para tanto, a literatura é uma opção importante nesse processo. Durante esta pesquisa, ficou evidente que o importante é definir-se por uma posição tendo claro que a centralidade dos debates deve ser a importância da criança

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aprender a ler e escrever construindo sua autonomia, sem, contudo, perder a sua condição de criança. E, é em razão disso, que a presente pesquisa optou em aprofundar a questão da alfabetização/letramento, tendo como principal mediação a literatura, por entender que este gênero textual é o que mais se aproxima das características e necessidades da criança. A criança ao ler ou ouvir histórias da literatura, não só desenvolve a dimensão cognitiva, mas também, a dimensão simbólica, tão necessária para o seu desenvolvimento

O processo alfabetização-letramento é uma oportunidade que a criança tem de aventurar-se no mundo da leitura e da escrita; porém, espetacular, é o momento no qual e leitura e a escrita começam a ser exploradas por ela, dando-lhe autonomia. Para tanto, em um processo como esse, é necessário desenvolver experiências significativas e, neste momento afirmamos que a literatura promove isso.

A questão que norteia o respectivo trabalho é analisar a importância da literatura infantil no desenvolvimento da criança e suas contribuições no processo alfabetização, principalmente no que se refere ao gosto e a aprendizagem da leitura. Sua função é mais ampla na formação de leitor ou é um recurso didático para a aprendizagem do código? O pressuposto é que a literatura pelas suas características é um artefato cultural que pode favorecer este processo, por meio da ampliação da visão de mundo, do instigar o gosto pela leitura, de auxiliar na compreensão do funcionamento comunicativo da escrita e da relação fala/escrita.

O primeiro capítulo, construído em parceria com a colega Laís Maria Menegol Marinho, enfatizamos a alfabetização, destacando a nova configuração que a mesma vem tomando após os debates em torno da definição de que os três primeiros anos do Ensino Fundamental se constituírem o ciclo da alfabetização.

No segundo capítulo, a ênfase está nas contribuições da literatura infantil na formação da criança e, principalmente sua relação com o gosto e aprendizagem da leitura. Considerando que a alfabetização e letramento constituem processo de extrema importância na vida do indivíduo, acreditamos que o educador tem papel relevante no currículo que desenvolva práticas pedagógicas que instiguem o educando à aprendizagens significativa que promovam conhecimento e possibilitem a criança explorar dimensões do imaginário coletivo e pessoal. Para tanto, o uso do gênero textual literário infantil pelo seu caráter lúdico e atrativo pode ser um ótimo instrumento nesse processo.

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Objetivando relacionar as leituras realizadas com um cotidiano de alfabetização, o terceiro capítulo traz uma experiência e observação e interação com uma turma de crianças do primeiro e segundo ano e perceber a presença da literatura no planejamento da professora, o gosto da criança por este gênero e se é possível perceber se a literatura realmente pode mediar aprendizagens significativas de leitura e escrita para as crianças. O meu interesse em pesquisar e analisar sobre as contribuições da literatura infantil na alfabetização e letramento, se deu a partir de vivências pedagógicas em estágios durante minha formação docente, nas quais me deparei com realidades nem sempre positivas, me instigava saber mais quando via caixas de livros em sala de aula sem serem exploradas. Em vários momentos me perguntei: Por que os livros estão na caixa guardados e não estão sendo explorados pelos alunos? E de que maneira esses livros poderiam ser importantes na alfabetização e letramento? Contribuiriam para uma melhor aprendizagem?

Acredito que a pesquisa sanou dúvidas que me inquietavam diante do “lugar” da literatura na aprendizagem da leitura, embora me trouxessem outras. Foi um tempo de intensa reflexão e após a análise fortaleceu a minha crença em relação às contribuições da literatura infantil no processo alfabetização e letramento. Era e é, o meu desejo para o futuro trabalhar no ciclo de alfabetização e letramento e utilizar muito da literatura infantil neste processo, não como um livro didático, mas uma mediação que continua no desenvolvimento da criança e no seu processo de humanização.

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CAPÍTULO I – LEITURA E ALFABETIZAÇÃO

Laís Maria Menegol Marinho Maiara Caroline Ritscher Carvalho

É urgente em nosso país a escola ensinar a ler. Não a leitura da escola para a escola, mas a leitura para a vida. Ler livros, compreender, questionar, criticar o que se lê e tornar-se autor a partir de muitas leituras são caminhos decisivos para a formação da cidadania (DEMO, 2006).

Antes de iniciarmos a reflexão sobre a temática deste capítulo, enfatizamos a necessidade de compreender o conhecimento como um processo vinculado a várias relações estabelecidas entre os sujeitos e dos sujeitos com e na sociedade como condição destes se tornarem partícipes com protagonismo nesta sociedade. Neste contexto é que a alfabetização - como um conhecimento - precisa ser entendido/explicado.

Grotta (2003) afirma de acordo com suas pesquisas, que para que ocorra a constituição de sujeitos leitores com autonomia é preciso que os mesmos tenham uma história de vida permeada por mediações efetivas e afetivas de leitura, as quais teriam que ter início na família, pois ela, como primeira instituição, possui papel importante para o desenvolvimento de sujeitos leitores, pois a interação, o contato com outros sujeitos tem início neste ambiente. Alliende e Condemarín (2005, p.179) afirmam que:

A literatura desempenha um papel muito importante nas primeiras etapas do desenvolvimento da leitura e na linguagem oral das crianças desde pequenas. Durkin (1975) e Torrey (1979), por exemplo, conduziram estudos de crianças que aprenderam a ler de forma natural antes da entrada no colégio. Essas crianças eram curiosas, e seus pais apoiavam o seu interesse proporcionando-lhes livros, lendo-lhes contos em voz alta na hora de dormir, repetindo-os todas as vezes que elas o solicitavam e respondendo a suas perguntas sobre os contos (ALLIENDE; CONDEMARÍN, 2005, p.179).

Em segundo lugar, ainda segundo Grotta, caberia à escola e aos professores reconhecer e possibilitar a experiência da aprendizagem da leitura e da escrita de todas as crianças como conhecimentos necessários para a sua interação na sociedade e nela atuarem com autonomia e responsabilidade. Neste sentido, entende o autor, a importância dos professores promoverem vivências de leitura e escrita de modo que os alfabetizandos se tornem sujeitos ativos. Tarefa impossível, segundo pesquisa realizada

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por Kramer e Oswald (2001), se eles (professores) próprios não gostam de ler e, geralmente, para não dizer sempre, não gostam de ler pelo fato de eles mesmos não terem tido acesso, nos cursos de formação inicial (e nem continuada), a bons textos de literatura nem a ações voltadas para o incentivo de práticas leitoras. Segundo os pesquisadores, citados por Paiva (2004, p. 168), os professores, na sua maioria, não tiveram esta experiência e, em razão disso, segundo suas próprias palavras:

Os/as professores/as centram-se em ensinar a língua materna de modo instrumental, sem possibilitar que os/as futuros/as professores/as experimentem a leitura e a escrita nas suas diferentes dimensões (ler e escrever para comunicar/informar/conhecer, para expressar sentimentos/ideias ou prazer), como se esse aprendizado descontextualizado fosse possível. Se estes/as alunos/as não têm possibilidade de experimentar a leitura enquanto leitores, como se espera que propiciem essa experiência às crianças, jovens e adultos, com os quais virão a trabalhar? (PAIVA 2004, p. 168).

Esta afirmação evidencia que muitas vezes o professor, responsável pelo ensino da leitura e escrita, ou seja, pela alfabetização, domina muito pouco, ele próprio, as competências de leitura que pretende ensinar. O que sinaliza a necessidade de uma formação mais sólida dos professores, a qual desafie a eles próprios viverem a experiência da leitura e da escrita e compreenderem melhor o que estes conhecimentos representam para a constituição de sujeitos inseridos na sociedade que é comandada pela linguagem. Neste sentido, todos os autores citados e estudados, ao longo do curso e outros, para a realização da pesquisa, também enfatizam o caráter político e revolucionário da alfabetização, compreendendo-a como um processo intimamente vinculado às práticas, às interações entre as pessoas e às situações de uso real, em contextos que são históricos e culturais e estão sempre em mudanças. Mudanças estas que impactam no modo de aprender, ensinar e de compreender o próprio conhecimento. O aprender a ler e a escrever precisa permitir que a criança possa participar de modo ativo, interativo com o conhecimento e com as pessoas. Neste sentido, os autores, defendem também que esta aprendizagem ocorra pautada numa abordagem histórico-cultural, pois, conforme Magrin e Leite (2014), é uma condição fundamental para que os indivíduos se tornem críticos e conscientes, de maneira que compreendam a escrita como um sistema de natureza social, histórica e simbólica. À medida que o sujeito passa a ter um bom nível de leitura, terá mais facilidade de inserir-se na sociedade.

Transitando por esta direção, é possível perceber que no campo da alfabetização, principalmente no ensino da leitura, ocorreu uma mudança significativa, avançando de

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uma visão em que se privilegiava a habilidade mecânica de associações entre letras e sons, muitas vezes sem compreensão, para uma forma de concebê-la como ato de pensamento de informações mais amplas, como atividade de elaboração de significados e sentidos a partir de textos escritos, com finalidades diversas que interferem nos modos de ler: para desfrutar, para aprender, para lembrar, para se informar.

Embora estas reflexões estejam sendo realizadas de forma mais enfática nos dias de hoje, Paulo Freire (1921-1997) em suas obras sempre reconheceu o caráter revolucionário da leitura e da escrita, e em razão disso, o seu entendimento de alfabetização ia muito além da compreensão até então difundida e ensinada, reduzindo-a ao ensino de um conjunto de técnicas de decifração mecânica da leitura. Alfabetizado, para Freire (1989), era aquele que, sim, dominava tal tecnologia, mas juntamente sabia o que significava saber ler e escrever e se utilizava destas ferramentas para produzir novos sentidos para si e para o mundo. Esta compreensão, no entanto, não era entendida e nem referendada nas políticas públicas oficiais, pois nem sempre, ao longo da história, foi importante que todos soubessem ler e escrever. Segundo Demo:

Quem sabe ler sempre foi figura temível, porque pode conter a chama do questionamento. Ler pode ser ato incendiário, mas pode ser concebido e praticado de tal modo a apagar qualquer fogo do questionamento. Em nossa escola, a imagem mais concreta é de processo de alfabetização que apaga qualquer fogo do confronto. Por isso mesmo, o alfabetizado é aquele que foi ensinado e convencido pelo processo escolar de alfabetização que, para ler, basta seguir com os olhos, linha por linha, o texto escrito, tentando transformar cada letra, sílaba e palavra numa oralidade que, o mais das vezes, lhe soa estranho (DEMO, 2006, p. 23).

O autor complementa (p. 40) que “Não só é tacanha esta visão de alfabetização, como ignora a leitura do mundo fora da escola.”

Talvez por esta razão, por muito tempo a leitura ficou reduzida à decifração da escrita e, isso nem para todos, pois apenas agora, a escola realmente é para todos, pelo menos no que se refere ao ingresso nela.

Esta dicotomia proporcionou embates importantes entre pesquisadores e, principalmente, pelos movimentos populares que se mobilizavam pelo direito à aprendizagem da leitura e da escrita e por uma alfabetização mais ampla e emancipatória. Até os meados dos anos de 1980, acreditava-se que a alfabetização só seria possível através do uso de um método que seguia o ensino passo a passo, de modo linear, partindo do princípio de que tudo precisava ser ensinado. Apenas a partir deste período, surgem, no Brasil pesquisas importantes sobre a aprendizagem da leitura e da

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escrita que viriam revolucionar a concepção de aprendizagem, ensino, impactando na alfabetização. Neste contexto, cabe destacar o Construtivismo e as contribuições de Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1985) com a teoria da Psicogênese da Língua Escrita que viriam romper com a lógica anterior pois evidencia a participação da criança no seu processo de aprendizagem. Junto, ou paralelo a estas teorias, surge também um debate intenso em relação a um novo conceito até então desconhecido que é o do letramento, tendo, aqui no Brasil, Magda Soares (2003) como uma das principais defensoras do termo. Soares traz uma diferenciação entre as funções da alfabetização e do letramento, embora considere a relação entre eles na formação do leitor e escritor. A autora compreende a alfabetização como o domínio da tecnologia, do conjunto de técnicas que capacita o sujeito a exercer a arte e a ciência da escrita e o letramento como o desenvolvimento de competências para o uso desta tecnologia em práticas sociais que envolvem a língua escrita. A autora defende que a alfabetização e o letramento, embora sejam processos distintos, precisam ser trabalhados de modo indissociável, sendo possível ensinar os educandos a ler e escrever por meio de articulação com as práticas sociais, de maneira que o sujeito se caracterize como letrado e alfabetizado. Analisando os debates entre alfabetização e letramento, o importante é concordar que a criança ao ter o domínio da leitura e da escrita passa a aprender de maneira mais significativa e pela mediação dos professores, aprender a fazer uso destas aprendizagens no cotidiano social. Para isso, novamente, a formação do professor toma centralidade, pois apenas professores que dominem e se identifiquem com estas concepções poderão mediar tal dinâmica. Fazem-se necessários professores implicados e incentivadores que saibam instigar e mediar práticas do contexto escolar que sejam relevantes no contexto social.

[...] O alfabetizador é muito mais do que aquela pessoa que ensina o alfabeto simplesmente, pois é um agente político cuja função é de instrumentalizar ou de oferecer instrumentos para que a criança possa utilizar-se de todas as formas de linguagem, podendo intervir no e sobre o seu meio (FEIL, 1993, p. 19).

A criança, ao saber ler e escrever e saber fazer uso social destas aprendizagens, é alguém considerada alfabetizada e letrada e isso a colocaria numa condição de cidadão consciente e crítico capaz de produzir novos sentidos. Colocando a alfabetização e letramento dessa forma, é possível afirmar que a aprendizagem da leitura não pode ser considerada como tarefa de um ano escolar, mas o compromisso da Escola da Educação

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Básica. É este o seu compromisso de, assim como defende Demo (2006), ensinar a ler e a escrever para que os sujeitos se tornem leitores para sempre.

Foi também com este intuito, além das mobilizações de educadores, que ocorreu a ampliação do Ensino Fundamental (2006) elegendo os três primeiros anos como o Ciclo da Alfabetização e do Letramento. Não que após estes três anos a escola não tenha mais compromisso com a leitura e a escrita e seus usos sociais, mas que a ênfase deste período de formação fosse estas aprendizagens. Esta decisão, embora tardia, vem responder as demandas postas pela sociedade atual. Está evidente que saber ler e escrever, atualmente, assim como nos alerta Cagliari (1989), já é uma questão de sobrevivência e, inclusive, de soberania nacional.

É por esta razão que Freire (1985, p.14) já defendia que o processo de alfabetização precisa caracterizar-se no interior de um projeto político que deve garantir o direito a cada educando de afirmar sua própria voz, pois, segundo o autor:

[...] a alfabetização não é um jogo de palavras; é a consciência reflexiva da cultura, a reconstrução crítica do mundo humano, a abertura de novos caminhos [...]. A alfabetização, portanto, é toda a pedagogia: aprender a ler é aprender a dizer a sua palavra (FREIRE, 1985, p.14).

Dessa forma, precisamos compreender a leitura como um processo que vai além da adição de informações, logo um processo de coordenação de informações, que tem como objetivo final o alcance de significados expressos linguisticamente. A alfabetização se dá num continum, visto que os alfabetizandos passam por etapas para tornarem-se sujeitos alfabetizados. A alfabetização é entendida como uma aprendizagem inicial da leitura e da escrita. No período da alfabetização o aluno está desenvolvendo um processo de aquisição de saberes sobre o sistema alfabético da escrita, logo sobre a aplicação da linguagem escrita e oral. Para que isso se viabilize faz-se necessário um trabalho coletivo permitindo o protagonismo de todos, um planejamento integrado e integrador e metodologias que deem conta das demandas, pois concordamos com Leite (2006, p. 38) quando afirma que: “Podemos afirmar, sem exageros, que a qualidade da mediação vivenciada pelo aluno, em muitos casos, determina toda a história futura de relação entre ele e os diversos conteúdos estudados.” Para ilustrar ou exemplificar esta afirmação, buscamos a mesma em Morais (1996) quando argumenta que a leitura feita em voz alta pelos docentes para os alfabetizandos é

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o um dos primeiros passos para a aprendizagem da leitura. Neste contexto, podemos citar ainda Almeida; Gomes; Monteiro (2013, p. 1323):

Ao ler a história para as crianças, a professora fornece aos alunos mecanismos de leitura e de interpretação que costumam ser acionados pelo leitor ao ler um texto: antecipação, elaboração e averiguação de hipóteses, inferenciação, interpretação (ALMEIDA; GOMES; MONTEIRO 2013, p. 1323).

Ao planejar uma aula, cabe aos professores observar atentamente alguns componentes básicos da prática de leitura para os alfabetizandos. Primeiramente, as obras precisam possibilitar a fruição estética, a sensibilização. Livros de literatura infantil precisam ampliar as vivências, oferecendo articulações entre as imagens, texto e leitor, visto que, leitura literária é uma forma de propiciar que as crianças tenham contato com a variedade de gêneros textuais. Ainda é necessário integrar as atividades de leitura, como partes da rotina. Educadores são modelos de leitores para seus alunos. É imprescindível a presença de momentos de sensibilização, apreciação estética das obras, para que os educandos tomem consciência do significado da leitura, assim como adquiram o gosto e a cultura de ler.

Como professoras, não podemos nos preocupar apenas com a correção gramatical dos textos feitos pelas crianças, pois, desta maneira, estaremos deixando como aspecto secundário, o ato de escrever, não considerando este, como processo constituinte da formação do cidadão. Quando o professor tem um entendimento do que é currículo, não sente horror ao ouvir expressões proferidas pelas crianças como “fumos no piquinique”. Compete aos professores perceber que as crianças fazem uso dessas expressões devido à cultura em que estão inseridos, ao grupo social que pertencem, visto que, o meio em que estão presentes interfere na oralidade. A fala é mediadora de saberes, por isso é fundamental respeitar os saberes prévios dos alfabetizandos, buscar aprimorá-los. Mas é preciso destacar que a função da escola é propiciar aos alunos o ensino da variedade linguística padrão. Antes de entrar na escola, as crianças já têm contato com o meio alfabetizador de distintas formas. Mas é no contexto escolar que esses saberes serão aprimorados e que o sujeito terá sua formação como sujeito leitor. O gosto pela leitura precisa ser desenvolvido desde a Educação Infantil para que se mantenha ao longo dos anos. A leitura é um processo complexo, não é apenas decodificação de sons e letras, exige a interpretação do que se lê. É preciso que os alfabetizandos interpretem as leituras que fazem, tenham acesso a múltiplas

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informações, a construção de novos saberes. Compete, então, um professor comprometido com o seu fazer pedagógico, contribuir para a formação de sujeitos leitores. Ao ler os sujeitos relacionam o lido com as suas vivências, imaginam, criam, concordam e discordam em determinados pontos dos textos. A alfabetização precisa contribuir para a formação de sujeitos leitores e que as crianças construam suas hipóteses de leitura e escrita no processo.

Ao escrever um texto, o professor precisa auxiliar as crianças para que cheguem a entendimentos de que os textos podem ser recriados de variadas formas, assim explorando os gêneros textuais. É importante que o professor crie situações em que os alfabetizandos tenham possibilidades de dizer, aprender, ler e escrever significativamente, tornando-se sujeitos pensantes e fazedores de história.

De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica:

É necessário que o currículo seja planejado e desenvolvido de modo que os alunos possam sentir prazer na leitura de um livro, na identificação do jogo de sombra e luz de uma pintura, na beleza da paisagem, na preparação de um trabalho sobre a descoberta da luz elétrica, na pesquisa sobre os vestígios dos homens primitivos na América e de sentirem o estranhamento ante as expressões de injustiça social e de agressão ao meio ambiente (BRASIL, Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica, 2013, p.116).

Conforme Pedro Demo, “Ler vem antes de escrever – há sociedades que não escrevem, mas todas leem.” (DEMO, 2006, p. 59). A maioria das crianças inicia cedo o seu contato com livros, com a leitura, sendo que o ato de ler pode ser compreendido com um processo cumulativo, ou seja, as leituras fundam-se em outras realizadas anteriormente pelo sujeito.

Crianças que fracassam na aprendizagem da leitura são aquelas que não querem ler, não encontram sentido em ler, ou consideram ler esforço que não vale a pena. Daí segue o papel fundamental do professor como orientador, mediador, motivador; cuja habilidade de ler é fundamento crucial para deslanchar a mesma habilidade de ler na criança. Há, porém, professores que atrapalham, seja impondo métodos únicos que não passam de receitas primárias, seja não respeitando a motivação da criança e seu modo de aprender, seja por falta de habilidade e compromisso (DEMO, 2006, p. 70).

As escolas precisam ser espaços alfabetizadores, considerando o Ciclo de Alfabetização um processo de extrema importância na vida do indivíduo, como um tempo de buscar cultivar as grandes potencialidades do leitor, sendo o professor um mediador e instigador para que no contexto da sala muitas interações entre livros e

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alfabetizandos ocorram. A humanidade passou por um longo período de aprimoramento da leitura, esta hoje é concebida como uma forma de construção do conhecimento, sendo que a leitura e escrita são experiências que visam a formação humana.

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CAPÍTULO 2- A LITERATURA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DO LEITOR

Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo... (Abramovich,1999, p.16).

Principalmente no primeiro ano do Ensino Fundamental as crianças, na maioria das vezes, se encontram entusiasmadas frente a um mundo que ainda não conhece e transborda de possibilidades idealizando um encontro com as letras. É neste momento em que o professor precisa estar preparado para planejar inúmeras maneiras de alfabetizar, utilizando de recursos para cada educando. Neste momento usufruir do livro de literatura infantil como contribuição ao ensino é apresentar um novo sentido em sala de aula para a decodificação do código linguístico. Ao utilizarmos a literatura infantil no processo alfabetização e letramento relacionamos a um ensino que utiliza de seu contexto, além de contar com algo lúdico e prazeroso.

No contexto escolar e social a literatura infantil é marcante, pois abrange a formação da criança leitora considerando três aspectos: criação, imaginação e produção. Usufruir do livro de literatura infantil em sala de aula não é simplesmente utilizá-la para algumas produções pedagógicas, mas sim proporcionar aos educandos de forma eficaz momentos lúdicos de leitura e escrita, ou seja, o livro deve ser explorado tanto pelo educando e quanto pelo educador.

A literatura infantil tem um papel crucial na sociedade contemporânea em constante transformação, seja ela como agente de formação pelo natural convívio com o leitor e/ou livro, ou até mesmo pelo “diálogo” leitor/ texto estimulado pela escola. Durante o ciclo de alfabetização a literatura infantil torna-se ainda mais relevante, pois é o momento em que a criança inicia sua caminhada mais sistemática na sua constituição de leitor e, em razão disso, é um momento importante para aguçar a criança pelo gosto desta aprendizagem. E, pela sua característica, não há mediação mais significativa do que a literatura pois, como afirmam Alliende e Condemarín (2005, p. 183) ) “que mais

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racional que seja, o homem é um animal, o único animal que necessita que lhe contem histórias. [...] o homem entende, a partir de interpretações sucessivas, os diversos conteúdos que configuram como ser sexuado, social e histórico.[...]” e acrescentam:

Justamente por se encontrar em preparação para o domínio da via racional, a criança pequena, à sua medida, é um sujeito perfeito para a literatura. Nela encontra a grande via de compreensão do mundo, ou pelo menos uma via muito importante.

Segundo Coelho (1997, p.24) a literatura Infantil é, antes de tudo, arte: fenômeno de criatividade que representa o Mundo, o Homem, a Vida, através da palavra. A literatura funde os sonhos e a vida prática; o imaginário e o real; os ideais e sua possível/impossível realização. A literatura é uma linguagem que expressa a experiência humana, por isso cada uma é marcada por certo período histórico, sendo que o mesmo traz conhecimentos ricos para a formação do leitor , sendo eles de consciência de mundo ali presente, porém para que isso ocorra de forma plena necessita que haja uma relação essencial entre o sujeito que lê e o objeto que é o livro lido.Assim como se refere Coelho (2000, p.46)

[...] Como objeto que provoca emoções, dá prazer ou diverte e, acima de tudo, modifica a consciência de mundo de seu leitor, a literatura infantil é arte. Sobre outro aspecto, como instrumento manipulado por uma intenção educativa, ela se inscreve na área da pedagogia.

Daí a importância que se atribui, hoje, à orientação a ser dada às crianças, no sentido de que, ludicamente, sem tensões ou traumatismo, elas consigam estabelecer relações fecundas, segundo a autora, entre uma consciência que facilite ou amplie suas relações com o universo real que elas estão descobrindo dia-a-dia e onde elas precisam aprender a se situar com segurança, para nele poder agir.

Durante o processo Alfabetização e Letramento é imprescindível que se tenha como um dos princípios centrais a literatura, pois, além de entreter, ser gostosa de se praticar, contribui para o desenvolvimento da criança, e principalmente e, talvez por isso, interfere diretamente pelo gosto pela leitura. É preciso que haja estimulo pela leitura, para que desse modo ela se torne algo que faça parte do cotidiano da criança e

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principalmente torne uma rotina intencionalmente e cuidadosamente planejada (não rotineira) na escola.

E, considerando tal relevância da literatura na formação da criança, é importante destacar, em razão disso, que a literatura é importante tanto dentro como fora da escola, incluindo-se ai, também a participação dos pais nesse processo, pois quando se tem em casa pais que tiram um pouco de seu tempo para momentos de leitura com seu filho -dando seu testemunho de leitor, o deixará instigado/desafiado a buscar outras leituras, sejam elas apenas para entreter, mas, também para informar, e desafiar para novos sentidos, entre outros.

Durante o período da Educação Infantil, percebe-se, certo avanço na valorização da literatura na organização das práticas educativas das professoras. No entanto, isso não fica tão evidenciado no Ensino Fundamental. Neste tempo, lê-se menos e, geralmente apenas com fins especificamente didáticos e, as conseqüências, igualmente tornam-se evidentes: a criança à medida que os anos passam parece se distanciar do livro e não sentir mais o encantamento pelo gênero literário e nem de outros. Neste contexto trago, novamente as contribuições de Alliende e Condemarín (p.183) quando destacam que um erro lamentável do ensino da leitura tem sido sua separação da literatura, ou pior ainda, a criação de uma pseudoliteratura infantil (imaginada infantil por adultos desconhecedores da realidade das crianças), apta apenas para as primeiras etapas da aprendizagem da leitura. Seguindo o raciocínio dos autores, a “leitura, em vez de afastar-se da literatura, deve levar a ela”.

Quando da implantação do Ensino Fundamental de Nove Anos e o ingresso da criança de seis anos neste nível de ensino, uma das grandes inquietações dos educadores era, exatamente, a respeito disso. Acreditavam que as escolas, por ainda serem tradicionais vendo o aprendizado como algo mecânico e desvestido de ludicidade, de arte, estética, não estariam organizadas para acolher esta criança. Diante do surgimento de pesquisas sobre criança, infância e novas metodologias de ensino da leitura e da escrita, ocorreram e, ainda vem ocorrendo movimentos entre educadores e pesquisadores da infância, no que se refere à alfabetização e buscaram/buscam formas de consolidar o entendimento de que a mesma é uma produção cultural e mais ampla de como estava ocorrendo. Em razão disso, precisava de atenção maior por parte da

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comunidade escolar, consolidando que alfabetizar, acima de tudo é ensinar uma criança a ler e a escrever num contexto adequado ao seu modo próprio de aprender. Para uma criança aprender a ler e a escrever, é preciso, antes, produzir o sujeito alfabetizado criando mediações para a produção do desejo de ler e escrever e, por isso há a necessidade de construir propostas de alfabetização considerando esta nova configuração, garantindo que, a criança de seis anos, embora agora estando no ensino fundamental, continue sendo uma criança de seis anos. Para viabilizar uma proposta de alfabetização mais abrangente, efetiva e “crianceira”, foram elaboradas propostas e entre elas, destacamos a proposta do programa de formação de professores à nível nacional denominado PNAIC -Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, a qual está comprometida com a formação do leitor, assegurando que todas as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos de idade, ao final do terceiro ano do Ensino Fundamental. O referido pacto é norteado por quatro princípios centrais a serem considerados ao longo do desenvolvimento do trabalho pedagógico: O sistema de Escrita Alfabética é complexo e exige um ensino sistemático e problematizado; o desenvolvimento das capacidades de leitura e produção de textos ocorre durante todo o processo de escolarização, mas deve ser iniciado logo no início da Educação Básica; conhecimentos oriundos das diferentes áreas podem e deve ser apropriadas pelas crianças e; a ludicidade e o cuidado com as crianças são condições básicas nos processos de ensino e aprendizagem. Para viabilizar tais princípios, implica a necessidade de construir novos currículos, novas metodologias, que priorizem a exploração das múltiplas linguagens expressivas. O PNAIC, em seus materiais norteadores do processo de formação defende uma escola inclusiva e centrada no prazer de aprender (BRASIL, 2012a, p. 11). Nessa acepção, a literatura, os jogos e as brincadeiras são notados como oportunidades de mediação entre o prazer e o conhecimento historicamente construído. Enfatizam a literatura infantil como imprescindível, pois segundo a proposta, o fato de criar situações prazerosas, principalmente em torno da literatura, a contação e a leitura de histórias, auxiliam no desenvolvimento e prazer pela leitura e, com isso na aprendizagem. Nos documentos que se referem aos elementos conceituais e metodológicos para definição dos direitos de aprendizagem (2012, p.21), destacam:

[...] que, além de dimensão lúdica supracitada, especificamente ouvir, contar e ler historias com/ para as crianças favorecem seu processo de alfabetização e letramento, pois as coloca em contato direto com as linguagens oral e escrita, em sua dimensão estética.Criar

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oportunidades prazerosas em torno das propostas de contação e leitura de histórias ajuda a desenvolver o prazer pela leitura, pela sonoridade expressiva da língua; amplia o uso e a compreensão da linguagem oral, imagética e escrita, bem como a percepção e conhecimento do

mundo; e ainda, estimula a imaginação e a fantasia.

Ter a literatura como um princípio da alfabetização dá à leitura um caráter contextualizado e permite à criança relacionar a literatura (ou a história, seu objeto e/ou personagens) com o seu cotidiano permitindo que ela se sinta representada com condição de falar sobre isso, estabelecer relações tornando-se protagonistas de seu conhecimento. No entanto, para que isso ocorra, a escola tem o compromisso de criar espaços e tempos adequados para que os professores possam construir o planejamento coletivo, pois nessa proposta o planejamento torna-se crucial para o seu êxito. Neste planejamento inclui tempo/espaço para que o próprio professor possa ter contatos com boas leituras, pois apenas um professor que vive a experiência de leitor consegue mediar o gosto pela aprendizagem da leitura e sabe que mediante a literatura terá maior êxito em seu propósito de contribuir na formação crianças que gostem de ler. Segundo Kaercher, (2001,p. 82 )

Somente iremos formar crianças que gostem de ler e tenham uma relação prazerosa com a literatura se proporcionarmos a elas, desde muito cedo, um contato freqüente e agradável, com o objeto livro e com o ato de ouvir e contar histórias, em primeiro lugar e, após, com o conteúdo desse objeto, a história propriamente dita- com seus textos e ilustrações.

Esta afirmação enfatiza que um dos primeiros passos para a formação da criança como leitora, é garantir de que o livro faça parte integrante do dia-a-dia das crianças. Precisam estar presentes, juntos, permitindo uma intensa interação entre a criança e o livro e isso, por diversas razões, entre as quais, saber e gostar de ler. É importante destacar, ou retomar o que defende Demo (2007) que leitor é aquele que lê com freqüência, seja por prazer, por desejo próprio, por necessidade, [...], pois só assim, a leitura poderá ser concebida como um processo de construção de sentidos.

Uma das questões mais observadas nas Escolas, é que elas contam com livros interessantes, organizados em caixas coloridas, mas o que se percebe que não são explorados como deveriam e poderiam, não tornando o livro parte integrante do dia-a-dia das crianças, quando é comprovado de que o contato com bons livros, boas imagens

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é, como já destacado, um dos primeiros passos para iniciarmos a criança na leitura. No lugar disso, muitas professoras ainda acreditam que a literatura tenha que servir para uma coisa. Lêem para desenhar, ou reescrever a história; lêem para saber como vivem os bichos na floresta... Mas, são poucas as professoras, que lêem ou permitem a criança a ler pelo prazer que esta leitura possa proporcionar. Para contribuir que a criança se torne leitora a professora e as crianças devem ler,assim como defende Kaercher (2001, p.86) “pelo prazer que esta atividade proporciona, pela importância que a literatura pode ter como arte, nas nossas vidas”. A autora ao escrever a afirmação refere-se à literatura na Educação Infantil, mas isso é válido apenas para este ciclo? Com certeza não! É preciso é continuar e ampliar esta dinâmica e aprofundar/ complexificar este processo, pois uma criança que teve ricas vivências na primeira infância, certamente virá com mais vontade ainda. Pois, agora ela própria, poderá ler histórias e escrever as suas próprias, desde que haja uma professora capacitada, comprometida e também leitora a lhe mediar aqueles conceitos, aquelas aprendizagens necessárias para tal feito.

Nesse contexto, é possível afirmar que a exposição de bons e bonitos livros para a criança poder manusear é importante, mas não o suficiente para que a criança aprenda a ler e se constituir num leitor. Junto a isso, faz-se necessário a criação das condições “ideais de leitura”, incluindo-se aqui inúmeros fatores que precisam ser considerados nesse processo. O professor dar seu testemunho de leitor é sem dúvida nenhuma, um destes fatores assim como a produção de um ambiente alfabetizador. Isso se viabiliza na medida em que o professor fale de suas leituras, compartilhe leituras; proporcione experiências diversas mediadas ou geradas pela literatura, principalmente a cultura de contar histórias. A contação de história, por exemplo, é de grande validade, durante o processo da alfabetização, pois esta se constitui em um fator importante para o começo da constituição do leitor. A contação de história aproxima a criança do adulto, proporciona a suscitar o seu imaginário, a encontrar ideias para solucionar questões encontradas nas histórias, é descobrir o mundo novo e criar o seu próprio mundo partindo de histórias já lidas e ouvidas. Abramovich (1999, p.17) afirma que:

É ouvindo histórias que se pode sentir (também) emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a tranquilidade, e tantas outras mais, e viver profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouve- com toda a amplitude, significância e verdade que cada uma delas fez (ou não) brotar... Pois é ouvir, sentir e enxergar com os olhos do imaginário!

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A contação de história – uma boa história e bem contada- em sala de aula ou fora dela- na biblioteca, por exemplo, também é um ponto relevante para cativar o leitor, motiva a criança a ler cada vez mais, aguça a curiosidade por distintas obras literárias, transformando a literatura em sala de aula em um meio de interação entre aluno e professor, aluno e aluno, permitindo criar, descobrir e interagir com a realidade e com o mundo, ou seja, convidando a criança a expor suas ideias, construindo sua formação de leitor crítico e construtivo. Esse contato com a literatura em sala motiva a criança a tornar-se um leitor tanto na vida escolar como pessoal. Nessa acepção, afirma Chaves (2011, p. 56)

Quando a criança ouve a leitura, a contação de historias, lê ou conta uma história, ativa uma série de capacidades, como a memória (recorda-se de outros momentos, de histórias ouvidas ou lidas, a atenção (se a história ou recurso utilizado para a contação da história a envolve completamente, ela para ouvir assume uma atitude de ouvinte atento), a fantasia (imagina-se parte da história contada, visando mundos e personagens, ativando suas emoções).Isto é o livro traz cristalizadas em si as capacidades humanas e, na atividade de contação ou leitura de histórias, a criança vivencia e ativa o uso dessas capacidades, tornando-as individuais,parte de sua humanidade. Dentre essas qualidades humanas formadas, apropriadas e desenvolvidas socialmente estão[...] diferentes formas de linguagem e de pensamento,imaginação sentimentos, capacidade de planejamento, dentro outros.

Cabe ao professor implantar conceitos de leitura e prática diária em sala de aula, pois esses espaços e momentos configuram um lugar considerável para construção de uma consciência acerca da importância de ler, além disso, proporciona momentos de prazer com atividades lúdicas e criativas é necessário dar condições para que o aluno tenha oportunidade de ler por diversas razões para que desenvolva hábitos de leitura sejam leituras espontâneas - pelos simples prazer - sejam para apreender as coisas do mundo. Assim, como afirma Freire (1989, p. 28/29):

[...] o processo da alfabetização tem, no alfabetizando, o seu sujeito. O fato de ele necessitar da ajuda do educador, como ocorre em qualquer relação pedagógica, não significa dever a ajuda do educador, anular a sua criatividade e a sua

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responsabilidade na construção de sua linguagem escrita e na leitura desta linguagem.

A leitura espontânea, pessoal e selecionada pela criança é de crucial relevância para a formação do hábito de leitura, por isso, a importância de haver oportunidade para que a criança escolha os livros de sua preferência, sendo que a escolha da mesma deve ser incentivada, ainda que a professora possa sugerir também algumas leituras quando for solicitada. É imprescindível, como já destacado, que haja estímulo para o contato entre o sujeito e o livro.

Ao nos referirmos à leitura espontânea, não estamos defendendo que esta seja a prática exclusiva, pois neste período de aprendizagem, a criança ainda não possui todos os elementos para saber do que gosta e/ou precisa. Neste período é importante que a professora observe, converse, crie questões desafiadoras, saia da sala provocando a pergunta e a curiosidade. Neste processo a professora perceberá os interesses, as demandas das crianças e planeja projetos, selecionando bons livros para serem lidos e contados. Assim, afirma Souza, 2004, p. 223

[...] o professor deve proporcionar várias atividades inovadoras, procurando conhecer os gostos de seus alunos e a partir daí escolher um livro ou uma história que vá ao encontro das necessidades da criança, adaptando o seu vocabulário, despertando esse educando para o gosto, deixando-o se expressar.

Um dos recursos importantes que a professora dispõe, é a biblioteca, espaço propício para a criança conhecer, manusear, ler uma variedade de livros. Esta possibilidade de opção é desafiadora, pois instiga a pesquisa, a seleção e isso também contribui para a criança criar esse gosto pela literatura. No entanto, é importante considerar a organização deste espaço. Para quem e por que é organizado? Qual o vínculo entre a bibliotecária e a criança? Conforme sua organização, a biblioteca pode constituir-se num forte aliado na formação do leitor, mas por outro lado, pode ser um espaço que afugenta a criança ainda mais da leitura. A biblioteca para se constituir num ambiente educativo e formador de leitores, precisa estar organizada em função dos usuários e, como estes nem todos são crianças, recomenda-se que dentro da biblioteca, embora seja de todos, haja um espaço para leitura, um lugar onde a criança se sinta confortável para ler o livro e entrar no mundo da imaginação. Para que este espaço seja produtor de sujeitos alfabetizados precisa contar com um acervo literário variado, convidativo, com inúmeras obras literárias, possibilitando a criança a freqüentar a

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biblioteca em qualquer momento e não apenas no dia “de retirar o livro” coordenado pela professora, fato esse não questionado, mas limita as possibilidades da criança criar uma cultura de leitura e de frequentar a biblioteca. E isso, também não surge de forma espontânea. É preciso criar mediações, que desafiem o querer ir à biblioteca, ter uma razão para fazer isso, precisa saber o que pode encontrar numa biblioteca e precisa de professores que dêem seu testemunho de que são usuários deste espaço.

Voltando à sala de aula, esta é um espaço que pode ser explorado de inúmeras formas para a instigação de leitores, durante leituras coletivas, em pequenos, ou até mesmo a leitura silenciosa pelo aluno ou professor, a importância de iniciar à aula contando uma bela história, contos de fadas que retratem diferentes versões, proporcionando as crianças a entrarem no mundo da imaginação. Podemos destacar também o “Cantinho da Leitura” em sala de aula, que seja de fácil acesso às crianças, deixá-las à vontade para escolher o livro que bem entender ler por prazer, algo que lhe chame atenção, que aguce sua curiosidade, pois como afirmam Martins e Versiani (2004, p. 09), “um jogo que vale à pena é democratizar a leitura literária”. Para ilustrar esta “defesa”, as autoras citam Soares (1988, p. 25) quando afirma:

[...] a leitura, particularmente literária, além de dever ser democratizada, é também democratizante [...] em grande parte, somos o que lemos e [...] não apenas lemos os livros, mas também somos lidos por eles.

Possibilidades existem. Se estas são exploradas, é o tema do próximo capítulo é no qual pretendi analisar uma prática cotidiana de literatura em uma turma seriada de 1º e 2º ano, na qual realizei minha pesquisa objetivando constatar, ou colher alguns subsídios que possam comprovar ou testemunhar como a literatura infantil contribui no processo formação do leitor, e ainda de que forma a mesma pode contribuir. Além disso, o que também instigou a escolha deste tema foi o de observar num cotidiano escolar, como a professora se organiza para que esse processo ocorra durante suas aulas ocorrem leituras por prazer ou somente didáticas, se há estimulo para formação do leitor, se a biblioteca é um espaço que desafia e cativa as crianças para lerem. Não apenas lerem, mas que também possam viver e explorar suas inúmeras linguagens criativas. Redim (2012, p. 101) em seu artigo Múltiplas Linguagens na Infância: Um mundo cheio de “girabelinhas” , denuncia defende a necessidade de desenvolver práticas que permitam a criança a viver as múltiplas linguagens e denuncia que:

Ainda hoje, podemos encontrar nas escolas onde as crianças seguem rigidamente rotinas com horários e tarefas pré-definidas {...}.O medo

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da criação parece estar ainda assombrando nossas escolas. As múltiplas linguagens podem escapar das suas fronteiras e se transformar em leituras difíceis de serem lidas pelas cartilhas dos adultos. Por que a escola tem medo da criação?

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CAPÍTULO 3- REFLEXÕES, TESTEMUNHOS... CONFIRMAÇÕES

É preciso levar a sério o fato de que a leitura literária seja a principal fonte de enriquecimento do vocabulário, porque as palavras que interiorizamos constituem o coração da competência lingüística e a fonte da qual flui a compreensão do mundo [...] Assim, a prática constante da leitura literária permite ao leitor acumular um

vocabulário em permanente expansão (ALLIENDE e

CONDEMARÍN, 2005, p.180-1)

Aprender a ler e a escrever é um dos grandes desafios das crianças que ingressam no Ensino Fundamental. Pesquisas, principalmente as oficiais, apontam que os resultados não são tão favoráveis assim. Há muitas crianças que não gostam de ler e nem se tornam usuárias da leitura. Sendo as primeiras experiências com a leitura as mais impactantes, escolhi, intencionalmente, uma turma do 1º e 2º ano seriado para realizar a pesquisa, por acreditar que são as primeiras experiências de leitura e de escrita que marcam de forma mais efetiva. É o período que antes de ensinar a ler a criança precisa estar disposta para esta aprendizagem. É o período da produção do sujeito alfabetizado e isso ocorre no momento em que a criança possa viver a experiência da leitura. Nem toda criança ao ingressar no primeiro ano tem o desejo em aprender a ler: não faz parte de sua cultura e, por esta razão os professores precisam ser antes, produtores deste desejo e, este certamente não se produz com ações descontextualizadas e despidas de ludicidade, movimento, que não instiguem a curiosidade. Então o que poderá ser feito? Refletindo sobre estas questões, e retomando os estudos realizados durante o curso de formação percebo o importante papel da literatura. A importância da criança conviver com adultos leitores que gostem de ler, que gostem de contar e socializar as histórias lidas, que possibilitem a criança a entrar em contato com bons livros, que desafiem a criança escrever sua história, seja dela mesmo ou de outros personagens. A importância de ler porque é bom... Durante os estágios percebia pouco uso da literatura para este fim. Quando uma história era contada e lida sempre tinha uma intenção de ensinar algo fora do contexto e, que nem todas as crianças gostavam de ler e, isto me instigou a olhar de forma mais curiosa sobre a prática da literatura na sala de aula e se essa realmente gera o gosto pela leitura e de sua aprendizagem. A intenção era de conhecer os tipos de leitura que estavam sendo trabalhados, quais as razões e como as crianças respondem à esta atividade. De que maneira a prática de ler e contar histórias estão contribuindo na aprendizagem da leitura? Como e quando as crianças

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tinham espaço para viver a literatura? As crianças têm acesso sistemático com textos literários? Quem conta e lê histórias? Como a professora conduzia o processo do ensino da leitura? De que forma instigar nos educandos o gosto pela leitura? Essas questões permearam a presente pesquisa, com o intuito de buscar subsídios teóricos de autores para aprofundamento das respostas e construir uma defesa sobre a necessidade da literatura na sala de aula como uma forma de democratizá-la tornando-a um elemento importante para a formação da cidadania, ou como afirmam Martins e Versiani (2004), já salientado no capítulo anterior: Um jogo que vale a pena: democratizar a leitura literária.

A pesquisa, entendida como um princípio educativo teve caráter qualitativo e interativo, foi marcada pela observação, entrevista com uma professora do primeiro/segundo anos e seus alunos e pela leitura e contação de histórias com o uso de mediadores.

Apresento, neste espaço o processo da experiência, as aprendizagens e análises possíveis que este tempo proporcionou.

A pesquisa foi realizada na Escola Estadual de Ensino Médio Doutor Roberto Löw, localizada em Barro Preto, Nova Ramada-RS, com a turma do 1º e 2º ano/ seriadas, a professora regente da turma é Marli Lucia Magier Bonmann, formada no magistério, graduada em Direito, pós-graduada em Psicopedagogia, e, atualmente está cursando o 7ºsemestre do curso Pedagogia.

O ambiente de sala de aula proporciona as crianças o livre acesso aos livros de literatura infantil, como foi visto em visita a sala de aula. Ao iniciar a aula as crianças escolhem um ou dois livros que desejam para a professora contar história, alguns trazem de casa, outros escolhem na caixa de livros, e ainda outros retiram da biblioteca. A professora destacou que a turma tem um interesse enorme em ler, quando vão à biblioteca retiram dois livros por vez, “ essa turma ama ler, eles fazem trocas de livros entre eles, pois só os que retiram na biblioteca é pouco para a leitura da semana” diz a professora.

A sala de aula também é um ambiente fundamental para a formação do leitor, pois durante as aulas é sempre necessário que as crianças tenham acesso à diversas obras literárias, pensando nisso a professora juntamente com os alunos construiu a “ caixa de livros” onde os alunos que têm livros sobrando em casa doam para escola, sendo eles disponibilizados na sala de aula, os quais podem serem lidos a qualquer momento, podem levar para casa sem data para a devolução, notando-se o ato solidário

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dos alunos com os colegas que gostam de ler, mas nem sempre tem condições de ter uma variedade de livros a sua disposição. Ao conversar com a professora sobre o espaço que lhe foi concedido na sala de aula, comentou que sente a falta de um espaço com tatame na sala de aula, para poder contar histórias mais próxima dos alunos, mas destaca que a falta disso não impede a contação de histórias, pois senta com os alunos no piso mesmo, pois as crianças não se importam sendo que tenha uma boa histórias para contar-lhes.A esse respeito Zilberman (1987, p.16) descreve que:

[ ...]a sala de aula é um espaço privilegiado para o desenvolvimento do gosto pela leitura, assim como um campo importante para o intercâmbio da cultura literária, não podendo ser ignorada, muito menos desmentida sua utilidade. Por isso, o educador deve adotar uma postura criativa que estimule o desenvolvimento integral da criança.

Embora as crianças afirmarem que gostam retirar livros a biblioteca da escola apresenta carência quanto ao espaço de leitura, não é um ambiente que acolhe as crianças para ler e usufruir dos livros, ter uma leitura deleite, sentir-se a vontade para ler e imaginar tudo o que lê. Para que o ambiente se torne mais atrativo seria necessário criar um ambiente dentro da biblioteca para as crianças, principalmente para as que estão se alfabetizando, que estão iniciando sua caminhada de leitor: talvez um tatame no canto da biblioteca, com almofadas que a tornaria mais instigante, prateleiras próximas ao acesso livre das crianças, com inúmeros gêneros textuais tornaria o acesso à biblioteca mais atrativo, aconchegante e educativo.

Durante a pesquisa emergiu a necessidade de conversar com a professora, a qual destacou desde o início que a literatura infantil está sempre presente na sala de aula da turma:

Através de leitura deleite, que faz parte da nossa rotina diária, com a finalidade de ler pelo simples prazer de ler. Semanalmente os próprios alunos relatam os livros que retiraram na biblioteca da escola (se for do gênero poesia eles lêem para os colegas). Às vezes os filmo relatando seus livros, para assistirem posteriormente. Os alunos trazem livros de casa para serem lidos por eles ou pela professora. Também, utilizo a literatura com finalidade específica os quais são inseridos no planejamento para serem explorados de acordo com o conteúdo a ser trabalhado, culminando em teatros, produções de textos, desenhos, etc.

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No que se refere ao entendimento, a professora deixa muito explicito a sua concepção sobre alfabetização e letramento. Quando questionada sobre a literatura infantil nesse processo destaca que:

A literatura na alfabetização desenvolve e aprimora a capacidade de imaginação das crianças, pois ao ouvir histórias essas crianças são estimuladas a pensar, a desenhar, a escrever, a criar e a recriar. Meus alunos lêem e ouvem histórias.

Ao refletir a partir da prática da professora, nota-se que a mesma está sempre incentivando seus alunos a ler, assim como também aconselha os pais para lerem junto com seus filhos em casa, acentuando ainda mais o gosto pela leitura.

Ela ainda destaca a importância de proporcionar as crianças o acesso à literatura infantil, destacando os benefícios que traz para as crianças na sua vida como leitora, pois acredita que utilizando a literatura em sua prática pedagógica, estará contribuindo para o desenvolvimento de habilidades e competências como: leitura (decodificação); compreensão; interpretação e construção de conhecimento dentro das áreas do conhecimento, além de estimular a imaginação, a curiosidade e a criatividade.

Nota-se aqui o que já citado no capítulo anterior, que a professora tem um papel fundamental na formação do leitor, sendo ele incentivador da criança inserida no mundo literário. Como podemos ver a professora está sempre em busca de obras literárias que instiguem seus alunos ao gosto pela leitura, oportunizando momentos para desfrutar dos livros, sejam em sala de aula, ou em qualquer espaço escolar, incentivando também a leitura em casa.

Ao observar as crianças durante o momento de contação de história ficou evidente o encantamento que as mesmas têm pela literatura infantil. Ao ouvir histórias começam a imaginar, e já querem fazer também um comentário se a história lhe é familiar, a leitura deleite que é realizada todos os dias no início da aula torna-se uma rotina prazerosa, é o momento que eles vivem, se deliciam ao escutar as diferentes histórias, algumas escolhidas pela professora, outras de livros que retiram da biblioteca, ou ainda que trazem de casa.

Também há momento de leitura silenciosa, com livros de literatura infantil, ou até mesmo de outros textos literários, o contato com a literatura faz com que o aluno vai aos poucos assimilando o conhecimento, refletindo, partindo daí o início da sua escrita, permitindo à criança de ser autora de seu saber , assim como destaca FERREIRO (1992, p.38 ) [...] Não se deve ensinar, porém deve-se permitir que a

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criança aprenda. Então se faz necessário que a criança saiba fazer o uso social da leitura e da escrita em seu dia a dia de forma reflexiva, permitindo o acesso às informações e conhecimentos imprescindíveis ao integral desenvolvimento da cidadania no contexto de alfabetização.

Após alguns dias de observação em sala de aula, a professora concedeu-me a oportunidade para contar uma história. Escolhi a obra de Ana Maria Machado “A Menina bonita do laço de fita” e, para contá-la, além do livro, levei comigo a personagem principal da história que é a “Menina”. Ao iniciar a história mostrei-lhes quem eu havia trazido para contar a história, as crianças ficaram fascinadas, os olhos brilhavam, a concentração que tinham para ouvir a história, era nítido ver o encantamento que os mesmos tem por literatura, também a interação que tinham com a história.

Observando, conversando com a professora e interagindo com as crianças, tive o privilégio de vivenciar a organização e o cotidiano escolar que proporcionou elementos que vieram a confirmar o que teoricamente já vinha evidenciando: uma professora que consegue dar seu testemunho de leitora, que oportuniza um ambiente alfabetizador, contribui efetivamente na formação de crianças também leitoras, ou seja, crianças que gostam de ler, que buscam de forma espontânea o livro, falem sobre sua experiência de leitura e recriam, dando novos sentidos ao lido, utilizando-se das múltiplas linguagens,consolidando o que prevê o Ensino Fundamental de Nove Anos- Anos Iniciais.

Diante disso, é possível sim afirmar que a literatura é um fator importante no processo de formação do leitor, o desafio é dar continuidade durante todo o Ciclo de Alfabetização, tornando a literatura parte integrante do planejamento dos professores que compõem este tempo, pois, conforme Alliende e Condemarín (2005, p.186) chegará um tempo em que os textos serão enfrentados por um leitor crítico, capaz de “se meter dentro do texto”.

É possível afirmar que a literatura infantil traz contribuições para a formação do leitor, construindo e ampliando o imaginário da criança, trabalhando também o simbólico, além disso, é através da cultura literária que ocorrerá a constituição de um sujeito autônomo, a literatura possibilita esse caráter de constituição de uma criança cria, produz e imagina.

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