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Educação e formação: a especificidade da tarefa escolar

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DHE – DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA

JÉSSICA DE LIMA LEINDECKER

EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO: A ESPECIFICIDADE

DA TAREFA ESCOLAR

Ijuí – RS 2015

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JÉSSICA DE LIMA LEINDECKER

EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO: A ESPECIFICIDADE

DA TAREFA ESCOLAR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Pedagogia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Pedagogia.

Orientadora: Profª Maria Regina Johann

Ijuí – RS 2015

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Dedico este trabalho aos meus alunos que me fazem descobrir todos os dias o meu papel na sociedade.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus pelo dom da vida, que me concede todos os dias, e por trazer sentido à minha história, especialmente pela bolsa de estudos conquistada depois de inúmeras promessas, todas pagas com muita alegria.

Agradeço à minha família, que sempre me incentivou a estudar. A minha mãe, Susana, que possibilitou meu encontro nessa profissão depois de me "obrigar" a cursar o Curso Normal e sempre esteve ao meu lado, possibilitando que minhas invenções ganhassem vida dentro da sala de aula, auxiliando na construção de cavernas, aviões, dinossauros e tantos outros. Ao meu pai, Celso, que, com muito carinho, acreditou no meu sonho de fazer uma faculdade e esteve sempre apoiando e ajudando da forma que foi possível, principalmente compreendendo as inúmeras vezes que eu perdia o ônibus, sempre me concedendo uma carona.

À minha avó, Tereza, que, com muito amor e carinho, preparava aquele lanchinho para depois da aula, e não se importava em ficar horas conversando sobre os meus dilemas entre a faculdade e o trabalho.

Ao meu esposo Tiago, pelo incentivo, companheirismo, pelas noites sem dormir, recortando, colando, desenhando, pintando. Pela paciência que teve comigo, sempre que chegava atrasado em sua aula por minha causa, mas principalmente por ter desempenhado tão bem a função de esposo e dono de casa enquanto eu passava horas escrevendo.

Ao Pe. Neto, que me ensinou como é importante refletir, refazer e se preciso recomeçar. Pelas horas no telefone escutando minhas escritas, pela preocupação e disposição em ajudar.

À professora Maria Regina, com a qual fui ter proximidade apenas nesse TCC, mas que, com muita disponibilidade, resolveu entrar comigo na aventura de realizar esse trabalho. E, através de suas falas, ensinou-me muito, principalmente a refletir sobre determinadas ideias e concepções, ensinou-me que escrever nem é algo tão assustador e que o trabalho em conjunto é mais válido. Obrigada por esperar o meu tempo e por acreditar que daria tudo certo, até quando eu mesma já desconfiava disso.

Agradeço à professora Lala, que me acolheu em um momento difícil e me mostrou que a relação entre professor e aluno vai além da sala de aula. Obrigada pelas aulas tão significativas durante o curso, por me ensinar que é possível se encantar e reencantar todos os dias com nossa profissão, mesmo em meio a muitos desafios, e também por demonstrar através da sua vivência que conseguimos dar conta de inúmeros compromissos. Obrigada profe pela compreensão e pela disposição com que se propôs a me auxiliar, especialmente incentivando que eu continuasse escrevendo e possibilitando um prazo maior. Obrigada por fazer parte da minha caminhada e ter se tornado uma referência tão forte de pessoa e profissional para mim.

Aos demais professores, agradeço pelas grandes aprendizagens, discussões calorosas, por me fazerem acreditar em uma educação de qualidade, em mudanças e uma perspectiva melhor para a educação.

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Agradeço o auxilio incentivo e compreensão das minhas colegas de escola Ana e Olívia, que demonstraram imenso companheirismo em diversos momentos, possibilitando que eu tivesse mais tempo para escrever.

As demais pessoas, amigos, colegas, todos que de alguma forma contribuíram positivamente para que eu conseguisse alcançar o meu sonho.

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RESUMO

O presente trabalho tem como tema central a especificidade da tarefa escolar, e surgiu a partir da problematização dos desafios que são enfrentados hoje em dia nas escolas, portanto, reconhecer esse espaço e a sua finalidade faz-se necessário para que tenhamos elementos para refletir e analisar diversas situações que estão presentes nas escolas, como, por exemplo, o questionamento que vem sendo feito a respeito da importância e função da mesma, a ausência das famílias no processo de ensino/aprendizagem, a desvalorização dos profissionais de educação e etc. Esse trabalho objetiva fazer uma análise reflexiva dessas questões e compreender a educação como um processo de formação que humaniza a todos nós. Trata-se, desta forma, de um estudo realizado a partir de textos, livros que abordam questões referentes à educação e à tarefa escolar. Para fundamentação teórica, utilizou-se do constante diálogo com autores como: Fernando Savater, Roseli Fontana e Paulo Fensterseifer. O trabalho evidenciou a necessidade de haver uma intencionalidade na função da escola e também no trabalho desenvolvido pelos professores, com foco especial nos anos iniciais. A educação deve potencializar as capacidades mentais, intelectuais, que todos nós carregamos e ainda auxiliar no desenvolvimento social e cultural. Nesse sentindo expõe-se também a necessidade de tornar o aluno um sujeito ativo no seu processo de ensino/aprendizagem, utilizando-se de uma metodologia participativa, que vise à aquisição e compreensão do conhecimento.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Simulação de caverna montada em sala de aula ... 22

Figura 2: Crianças utilizando jogos matemáticos ... 24

Figura 3: Passeio realizado nos bairros próximos à escola ... 26

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 9

METODOLOGIA ... 12

1 EDUCAÇÃO: A CONDIÇÃO DE SER HUMANO ... 13

1.1 O SENTIDO DA EDUCAÇÃO ... 13

1.2 A ESPECIFICIDADE DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR ... 17

2 ESCOLA: INSTITUIÇÃO DO EDUCAR ... 20

2.1 NARRATIVAS DE DOCÊNCIA: CONTEXTUALIZANDO A QUESTÃO ... 20

2.1.1 Linguagem ... 21

2.1.2 Matemática ... 23

2.1.3 O Ensino das Ciências Humanas ... 25

2.1.4 Ciências da Natureza ... 26

2.2 ESCOLA: TEMPO/ESPAÇO DE APRENDIZAGENS E RELAÇÕES INTERSUBJETIVAS ... 27

3 TAREFA/AÇÃO DO PROFESSOR: QUAL O DESAFIO DE HOJE PARA OS PROFESSORES? ... 30

3.1 UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO ... 30

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 41

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INTRODUÇÃO

O tema desta pesquisa trata da escola como instituição de ensino-aprendizagem, tempo/espaço de construção de aprendizagens e formação, por essa razão será tencionado à noção de que os homens necessitam de educação, visto que deixados a sua natureza não realizam sua potencialidade biológica e cultural.

A metodologia utilizada neste trabalho se deu através da leitura e estudo realizado a partir de textos, livros que abordam questões referentes à educação e à tarefa escolar. Para fundamentação teórica, utilizou-se Fernando Savater, Roseli Fontana, Paulo Fensterseifer, José Pedro Boufleuer, dentre outros, o trabalho constitui-se basicamente de um Referencial Teórico que trás algumas problematizações e reflexões a respeito do papel da escola, dos desafios enfrentados pelos professores atualmente, e também narrativas de experiências docentes.

A escolha desse tema foi motivada pela vontade de compreender melhor a especificidade da educação escolar e refletir sobre alguns aspectos que se manifestam, atualmente, como sintomas de crise que exigem de todos que se envolvem com educação, proposições e respostas. Foram, por isso, várias as perguntas refletidas a respeito do lugar da escola no mundo humano, bem como, dos desafios à tarefa docente num contexto como o de hoje, entre elas destacamos: a função/finalidade da escola em contexto contemporâneo? Que sentido a educação produz nos sujeitos? Quais os principais desafios que se apresentam em sala de aula?

Este trabalho não tem pretensões de responder a essas questões, senão tematizá-las em perspectiva de contribuir para o debate a respeito da função da escola e dos desafios à tarefa docente, especialmente nos anos iniciais do ensino fundamental.

Observamos, no entanto, que esses aspectos não estão referidos exclusivamente à comunidade escolar e aos professores, mas sim, dizem respeito a todos os que se preocupam com a educação, especialmente, às famílias, às instituições públicas e o Estado, pois muitos dos problemas evidenciados estão relacionados às políticas públicas para a Educação Básica e à valorização social da docência.

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Destacamos que a profissão de professor tem se tornado cada vez mais escassa em nossa realidade, isso se deve a inúmeras situações, como o descaso com a educação, a falta de condições seguras de trabalho e, principalmente, a carência da valorização salarial. Porém, embora essa verdade seja conhecida, ela continua negligenciada e, desse modo, caminhamos sem avanço para que essa realidade se transforme.

Esta questão desperta o meu interesse, afinal, como professora, acredito no papel fundamental que a educação desempenha na sociedade sendo um fator que pode reconstruir realidades possibilitando novas oportunidades e condições de vida aos sujeitos, sendo, portanto, tratada com prioridade, a fim de que problemas advindos pela ausência de educação fossem superados, para que tivéssemos melhores condições de diminuir as desigualdades sociais e romper com a pobreza e a miséria, através da qualificação dos sujeitos.

Tratamos, inicialmente, da noção de que a educação humaniza, ou seja, permite nos independer da natureza e potencializar nossas habilidades e capacidades. A educação, por isso, é responsável pela nossa imersão na vida social e cultural. Valeremo-nos da ideia kantiana de que o homem é a única criatura que necessita de educação; essa perspectiva aponta para a necessidade do outro, pois os humanos necessitam de cuidados, proteção e interação que são aspectos básicos em seu processo de humanização, que depende inicialmente do auxílio e cuidado de alguém para que possa sobreviver.

A partir dessa noção, podemos compreender qual o sentido da educação e o que ela produz em nós. Foi a partir da necessidade de uma educação que fosse capaz de potencializar nossas capacidades biológicas, mentais, intelectuais e sociais que criamos as escolas, um espaço conservador e de tradição. Isso nos permite afirmar que a escola é um artifício que criamos para potencializar a educação dos homens.

Hoje em dia, vemos, porém, que essa escola, descrita no parágrafo acima, já começou a ser questionada na sociedade, quanto a sua finalidade. Famílias estão exigindo educação domiciliar a seus filhos, restringindo a escola a apenas um espaço de convivência social. É preciso que haja uma reflexão a respeito do trabalho que vem sendo desenvolvido nas escolas e quais são os conceitos que a mesma possui, pois enquanto instituição de ensino/aprendizagem encontra-se fragilizada.

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No segundo capítulo abordo questões a respeito de minhas próprias experiências docentes, trazendo aspectos de meu fazer pedagógico à reflexão. Desse modo, reviso minhas memórias, expondo meus dilemas, desafios e utopias enquanto professora que trabalha com crianças. Ilustro, brevemente, algumas experiências desenvolvidas em sala de aula, e a forma como chegaram até os alunos, abordando as diferentes áreas do conhecimento.

Evidencio que uma das minhas preocupações, enquanto professora é proporcionar o conhecimento aos meus alunos, mas principalmente, a partir da noção de que algo seja compreendido, ornado próprio. Por isso, a frase de Montaigne me é inspiradora: “a criança não é uma garrafa que se deve encher, mas um fogo que se deve acender” (apud SAVATER, 2003). Isso nos provoca a pensar nos desafios da escola enquanto tempo/espaço de vivencias e experiências com o conhecimento construído intersubjetivamente.

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METODOLOGIA

Esta pesquisa tem uma natureza teórica e está estruturada, especialmente, a partir do seguinte referencial: Fernando Savater (2000; 2012), Roseli Fontana (2007), Paulo Fensterseifer (2003), José Pedro Boufleuer (2002). Essa escolha se deu pela necessidade de ampliar a compreensão da especificidade da tarefa escolar e de das razões pelas quais necessitamos de educação. Esses aspectos forma articulados as percepções minhas em relação aos desafios à educação dos anos iniciais e, nesse sentido, relaciono esses referenciais a uma experiência que desenvolvi com alunos dos os anos iniciais de uma instituição escolar pública.

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1 EDUCAÇÃO: A CONDIÇÃO DE SER HUMANO

1.1 O SENTIDO DA EDUCAÇÃO

“O ser humano é a única criatura que necessita de educação” (apud FENSTENSEIFER, 2003). Com essa afirmação, Kant já aponta para uma distinção radical dos humanos em relação às demais espécies que compõem o mundo. Ao fazer tal afirmação, indicou, também, o papel importante da educação na vida de cada indivíduo, visto que ela permite a humanização dos homens. Porém, mais do que isso, a educação possibilita aos sujeitos conhecer a tradição do mundo e se apropriar dos conhecimentos construídos pelos homens.

Nascemos potencialmente humanos, mas é através da educação que somos humanizados, dependemos do auxílio, do cuidado, de alguém que nos eduque/ensine. Essa é uma necessidade/problema que somente nós seres humanos enfrentamos, afinal, nascemos incompletos e o meio cultural no qual estamos inseridos será responsável pela nossa formação, que, aos poucos, vai transformando nossa natureza biológica em social.

Os primeiros ensinamentos que recebemos são transmitidos ou deveriam ser, pela família, primeiro contexto social dos sujeitos, ou seja, aqueles que nos cuidam, que tornam a nossa sobrevivência possível através do cuidado, da alimentação, da higiene. No entanto, nossa formação não pode ficar restrita somente a isso, que é o básico, essencial a todo ser humano. Compreendendo a necessidade de uma educação que vá além daquilo que a família é capaz de ensinar, surge a necessidade de um espaço que potencialize nossas capacidades mentais, intelectuais, físicas e sociais, que também fazem parte da nossa natureza biológica, por isso criamos as escolas.

Os cuidados e a educação potencializam nossa natureza biológica. Carregamos naturalmente tudo aquilo que é biológico, mas isso não é o suficiente, pois fazemos parte de um tempo/espaço que tem imensa responsabilidade em nossa constituição. A cultura presente na sociedade vai aos poucos sendo transmitida, até o ponto em que não nos reconhecemos mais longe/fora dela, criamos, então, uma identidade social. A escola se torna, portanto, fundamental em nossa formação, justamente por ser um espaço no qual a tradição é conservada e

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transmitida. Tempo/espaço de conhecer aspectos da sociedade em seus mais diferentes âmbitos: econômico, artístico, político, científico, mitológico, cultural.

Através dos testemunhos e da convivência, os sujeitos se apropriam de uma cultura, de saberes, de valores; conhecendo e reconhecendo-se num lugar constroem a sua pertença social e histórica, ou seja, sua identidade sociocultural. Desse modo, são potencializadas todas as capacidades humanas e a partir do conhecimento escolar se complementam aspectos que nos humanizam cada vez mais.

Voltando, então, a pergunta inicial: Por que Educar? Chegamos a uma resposta um tanto óbvia, por que a educação é a forma de nos tornarmos humanos. Mas, atualmente, essa educação que tem um papel tão importante, tem se tornado alvo de inúmeras discussões, críticas e polêmicas, inclusive, quanto a sua legitimidade, pois já está em debate a autorização para a educação domiciliar.

Nesses tempos que seguem, em que as transformações sociais estão cada vez mais rápidas, a escola é afetada diretamente por elas. A urgência de respostas às crise da educação exige dos professores e de toda a comunidade um profundo debate sobre o lugar da escola e sua legitimidade como instituição de ensino-aprendizagem. Mesmo que tenhamos nos preocupado com isso, temos dedicado pouco tempo para refletir sobre a educação que queremos e podemos nesse contexto social. Este tema, que é importante e requer respostas urgentes, tem sido amplamente pauta das mídias, das demandas das famílias, o que evidencia a sua importância.

Savater (2012) aborda essa questão da seguinte forma: “[...] é certo, no entanto, que a educação parece ter estado perpetuamente em crise em nosso século, pelo menos se levarmos em conta as insistentes vozes de alarme que há muito nos previnem a esse respeito” (p. 15).

Diante das inúmeras dificuldades apresentadas, perceber que a educação passa por um momento de crise contínua é ainda mais alarmante, afinal acreditamos no seu papel reconstrutor, que possibilita a diminuição das diferenças e desigualdades sociais.

Mas, como afirmar as responsabilidades que a escola carrega se hoje, praticamente, tudo o que envolve a constituição do ser humano se tornou tarefa para escola responder (ou resolver)?

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Ao longo do tempo, a família (que deveria ser o principal lugar de formação/constituição dos sujeitos) tem se fragilizado diante do papel educativo e nem sempre consegue assumir sua responsabilidade social, mas cobra que a escola o faça, como se isso pudesse ser tarefa exclusiva de uma instituição. Nesse sentido, Savater (2000) traz a seguinte questão:

Temo que esse papel não possa ser decidido por sorteio nem por votação em assembleia. O pai que só quer figurar como “o melhor amigo de seus filhos”, algo parecido com um enrugado companheiro de brincadeiras, tem pouca serventia; e a mãe cuja única vaidade profissional é que a tomem por uma irmã um pouco mais velha da filha também não serve para muito mais (p. 77).

Percebemos a partir dessas reflexões a crise de autoridade em que se encontram as famílias, especialmente pelo fato de que poucos estão dispostos a assumir a função de adulto responsável pelas crianças e jovens. Assim a responsabilidade educativa familiar está sendo transferida à escola e, deste modo, os professores, além de desempenhar sua função específica (que já é suficientemente desafiadora) têm carregado, ainda, toda a responsabilidade de tornar os sujeitos em seres sociáveis. Sobre estes aspectos Savater (2000) adverte que: “Quanto menos os pais quiserem ser pais, mais paternalista se exigirá que seja o Estado” (p. 78).

Sabemos, porém, que essa transferência de responsabilidades não é adequada quando o assunto é escola, pois a mesma não tem a função de substituir a família. A escola já tem o seu próprio destino, a função para a qual foi criada e existe até hoje.

Nesse movimento tão rápido em que essas mudanças têm acontecido e, diante de tamanho relativismo, quando falamos da instituição escolar paramos, muitas vezes, de refletir sobre o seu tempo/espaço e a importância de uma educação pensada e planejada, em que os professores depositam empenho e dedicação em relação ao seu papel. Porém, nem tudo é relativo e as diferenças não podem impedir ou extinguir a finalidade da educação, por isso, Carvalho (apud FENSTERSEIFER, 2003) esclarece que:

[...] cabe à escola primeiramente, conservar e transmitir os conteúdos culturais de uma civilização ou nação. Preparar a passagem do privado (família) para o público (política/cidadania), viabilizando sua inserção e sua

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16 ação no mundo, através da qualificação da capacidade de interlocução, colocando-se a altura dos problemas de seu tempo. Enfim, cabe à escola colocar-se como ponte entre o passado e o futuro das gerações humanas (p. 11).

Perceber a função da escola, atualmente, é difícil, devido a tantas inversões de papeis em nossa sociedade. No entanto, como já mencionado, não podemos cair nesse relativismo de opiniões e inversões de tarefas, em que professores devem ser responsabilizados por tudo, e por outro lado, podem se eximir de suas obrigações em função desse contexto polêmico.

Não bastam problemas próprios a cada geração e contexto, a escola ainda enfrenta aspectos vinculados à carência de profissionais com formação o que leva muitos deles a atuar em áreas para as quais não possuem formação adequada. Isso fragiliza o professor diante de seus alunos e dos pais e, além, cria-se uma cultura (escolar, social e dos órgãos responsáveis) de que é possível ir tocando a escola com esse arranjo.

Os professores precisam ter a clareza de seu compromisso com sua tarefa educacional, buscando e exigindo dos órgãos competentes condições para a formação continuada, qualificando, desse modo, as metodologias, os recursos didáticos, as noções teóricas e a capacidade de enfrentar os desafios que cada tempo/contexto exige. Entretanto, não podemos perder o objetivo central da educação, que é educar e ensinar, ou seja, formar e possibilitar o acesso ao conhecimento, permitindo que paulatinamente o aluno vá se apropriando e revalidando a tradição. O professor ensina sobre algo e, nesse sentido, ele precisa tomar isso como relevante e necessário. Isso significa que a área na qual atua deva ter importância para ele, enquanto pessoa e professor, reconhecendo que tal conteúdo/conhecimento foi legitimado por uma tradição e carrega consigo a marca do mundo humano, o que não significa a ausência da crítica. É preciso, portanto, reconhecer que aquilo que pertence à tradição já passou por um crivo de reconhecimento e legitimidade social.

Savater (2000) nos dá elementos para pensar essa questão:

Não há educação se não há verdade a ser transmitida, se tudo é mais ou menos verdade, se cada um tem sua verdade igualmente respeitável e não se pode decidir racionalmente entre tanta diversidade. Não se pode ensinar nada se nem o professor acredita na verdade do que está ensinando e que é verdadeiramente importante sabê-lo. O pensamento moderno, tendo

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17 Nietzsche à frente, enfatizou com razão a parte de construção social que existe nas verdades que assumimos e sua vinculação com a perspectiva ditada pelos diversos interesses sociais em conflito. A metodologia científica e até mesmo a simples sensatez indicam que as verdades não são absolutas, mas se parecem muito conosco: são frágeis, revisáveis, sujeitas a controvérsia e, afinal, perecíveis. Nem por isso, no entanto, deixam de ser verdade, isto é, mais sólidas, justificadas e úteis do que outras crenças que se opõem a elas. Também são mais dignas de estudo, embora o professor que as explica não deva esconder a possibilidade de dúvida crítica que as acompanha (qualquer professor se lembra das verdades que aprendeu como tais e que já não o são para seus alunos). E a verdade voa entre as dúvidas, tal como a pomba de Kant no ar que lhe oferece resistência e que, ao mesmo tempo, a sustenta. Falando em voar, Richard Dawkins dá o exemplo da aviação como prova intuitiva de que nem todas as verdades são aceitas por nós como simples convenções culturais do momento: se não atribuíssemos a seus princípios mais veracidade do que aquela que costumamos atribuir aos discursos dos políticos ou aos sermões dos padres, nenhum de nós jamais subiria num avião (p. 159).

A partir dessa citação é possível compreender que a escola precisa trazer a sua verdade, aquilo que lhe é próprio, sua função/finalidade para qual existe e não simplesmente cair em um relativismo que tem tornado as relações tão artificiais, ou seja, querer satisfazer todas as necessidades que surgirem.

A educação é um processo que precisa ser pensado e repensado. Não existem métodos prontos, é importante fazer essa constante revisão, reformulação, não que determinadas coisas devam ser esquecidas, mas assim, como as verdades mudam, a educação também precisa passar por transformações, sempre com o objetivo de melhorar nossas práticas como professores.

A escola, criada antigamente, não é mais a mesma dos dias atuais, afinal os sujeitos que hoje a frequentam carregam uma cultura de outra geração. Diante desse desafio de conviver diariamente com o passado e futuro tão próximos do presente, continuamos carregando a seguinte dúvida, qual seria então a especificidade da instituição escolar?

1.2 A ESPECIFICIDADE DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR

Considerando a necessidade de uma educação para além das famílias, como já abordado no capítulo anterior, nós seres humanos criamos, inventamos um lugar chamado escola. Assumir o caráter de artifício da escola ajuda a entender que ela “não brota em árvores”, mas que é uma instituição criada para dar conta da educação das crianças e dos jovens, conforme visões culturais e âmbitos sociais.

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Sendo assim, a escola depende de nossas ideias, proposições e revalidações. Por isso é tida como uma comunidade específica, submetida ao Estado (leis e diretrizes) e dependente de uma proposta curricular pedagógica própria, que lhe configura uma determinada identidade.

A escola necessita, portanto, ser um lugar propositivo, constituído pela participação de todos que a compõem e um tempo/espaço de formação e aprendizagens. Ainda, precisa possibilitar um convívio dialógico e que assegure a expressão e o respeito das suas múltiplas vozes. Nesse sentido, é preciso conhecer e tencionar o seu papel, a sua finalidade às leis e normas sociais e, além de tudo, ser eficiente naquilo que se propõe. A escola precisa ter sentido para aqueles que dela participam, não pode ser meramente um espaço de convivência social, mas em convivência, garantir a aquisição de saberes e valores.

Libâneo (2003) adverte sobre o contexto da educação observando que a escola é afetada por diferentes instâncias da sociedade, inclusive pelos meios de comunicação: “[...] a escola tem concorrentes poderosos, inclusive que pretendem substituir suas funções, como as mídias, os computadores e até propostas que querem fazer dela meramente um lugar de convivência social” (p. 24-25). Essa advertência nos leva a pensar que os desafios à educação escolar vão para além dos referidos ao ensino-aprendizagem dos conteúdos/conceituais, ou seja, são também de ordem das questões cotidianas que determinam comportamentos e transmitem valores e normas sociais. Essa questão nos leva a seguinte constatação: a escola não é mais o único lugar que proporciona o conhecimento, pois este está disponível em vários lugares e, sendo assim, cria-se a necessidade de compreender a educação de forma mais ampla.

A disponibilidade de informação que se tem hoje desafia a escola a se reinventar, pois, talvez, atualmente, sua questão seja: o que fazer com essas informações e como ajudar o aluno a encontrar sentido nisso tudo que ele pode acessar?

É preciso acreditar que a escola, como instituição de aprendizagem básica, nunca sairá de “moda”, apesar de seus concorrentes poderosos e de suas crises próprias. No entanto, é necessário reconstruir alguns de seus objetivos para revalidar sua função social. Entre eles, a questão das tecnologias tem se mostrado um dilema e um desafio, pois o que ensinar e como ensinar a um aluno conectado e com vocabulário limitado, restrito, muitas vezes, à linguagem das redes sociais? Por

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outro lado, o paradoxo de que para alguns a tecnologia está tão perto, mas para outros longe demais. As desigualdades sociais ainda impedem o acesso a uma educação de qualidade e a um ensino voltado as necessidades da formação básica. Nesse caso, o uso das tecnologias poderia contribuir muito para a educação.

É importante que o processo de ensino/aprendizagem se torne cada vez mais moderno, mas ao mesmo tempo deve ser efetivo na vida dos sujeitos, possibilitando a todos o acesso ao conhecimento, sem diferença entre classes.

O entendimento é de que a escola é insubstituível, o contato entre professor e aluno, principalmente nos primeiros anos, fundamental, é importante que a criança estabeleça vínculos com pessoas diferentes, principalmente com seus semelhantes/parceiros, que ela aprenda a conhecer regras, limites, interagir com o meio social, sendo assim a escola se torna imprescindível. A criança precisa ter vivências diversificadas, experiências estéticas, lúdicas, relacionamentos entre pares que revitalizem a amizade e a importância do convívio entre pares e meio (com animais, com a natureza), e isso não se encontra, prioritariamente, em relacionamentos virtuais. Nessa perspectiva a escola pode ser um tempo/espaço singular no qual as crianças e os jovens experimentem situações as quais não teriam em seus cotidianos familiares.

Como observamos, caracterizar esse ambiente tão complexo e desafiador que é a escola, não é uma tarefa fácil, contudo, é necessário conhecê-lo, afinal todas as relações discutidas ao longo desse trabalho, se dão através desse espaço.

Se a escola ainda tem sentido em nossa sociedade, em nossa história/formação, então precisamos urgentemente nos debruçar sobre as questões acima citadas, encarando os desafios que exigem respostas em vista de proposições que têm a intenção de corresponder da melhor forma possível às suas crises. Seu caráter de artifício já indica que as proposições são apostas e que o risco de acertar é tanto quanto o de errar, mas que isso não pode nos engessar a propor.

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2 ESCOLA: INSTITUIÇÃO DO EDUCAR

2.1 NARRATIVAS DE DOCÊNCIA: CONTEXTUALIZANDO A QUESTÃO

Neste capítulo reflito sobre as práticas que eu, professora, desenvolvo em sala de aula, bem como o que elas proporcionaram aos alunos de uma turma de segundo ano do ensino fundamental. A mesma escola que um dia me educou, hoje se tornou o meu local de trabalho e, portanto, a relação que se dá nesse espaço é carregada de muito significado pessoal.

Ser professora nunca foi um sonho, na verdade esta possibilidade não me agradava. Acredito que isso estava associado muito ao fator financeiro, na verdade cresci idealizando certas profissões, justamente com o objetivo de mudar as condições financeiras da minha família. Quando cheguei ao final do ensino fundamental imaginava todas as possibilidades de curso técnico, mas jamais pensei em fazer magistério. No entanto, meu pensamento não era compatível com o da minha mãe, que, sem me dar alternativas, matriculou-me no Curso Normal e, definitivamente, obrigou-me a cursá-lo.

No decorrer do curso, fui identificando-me com a perspectiva da profissão, mas conhecendo a realidade da educação e as dificuldades que um professor enfrenta todos os dias, deixei, novamente, esse projeto de lado. Porém, com a dificuldade de conseguir um emprego e pagar uma faculdade, fiz minha inscrição no PROUNI (Programa Universidade para Todos), que concede bolsas de estudos, e escolhi o curso de Pedagogia, justamente para tentar conseguir um emprego mais rápido. Foi então, que, definitivamente, estabeleceu-se em minha vida um vínculo com a docência, pois consegui uma bolsa integral para cursar Pedagogia. A alegria de poder estar na universidade me fez enxergar a profissão de professora com outros olhos e comecei a trabalhar na área.

Em 2012, quando estava cursando apenas o 3º semestre do curso, realizei o concurso do Estado para professores e fui aprovada em 3º lugar na região, no mesmo ano, realizei o concurso do município de Ijuí e, também, obtive aprovação. Sem me dar conta, tornei-me professora mais cedo do que eu imaginava e aos 19 anos já atuava como regente de classe.

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Como este processo ocorreu rapidamente, quando entrei a primeira vez em sala de aula, carregava inúmeras dúvidas, incertezas, medos, que me faziam todos os dias refletir se realmente estava apta a desempenhar a função de professora, afinal essa responsabilidade foi-me confiada muito antes de terminar o curso de graduação em Pedagogia.

As experiências que eu trazia eram apenas de estágios e isso me deixava ainda mais insegura, porém, a prática do dia a dia em sala de aula, me fez perceber que eu teria que aprender a conviver com certas dúvidas e incertezas. Isso é um aspecto relevante, pois afinal, trabalhamos com seres humanos e não com máquinas programadas a dar respostas exatas, e o nosso processo de formação/constituição enquanto professoras, também, não é pronto, acabado.

Lembro como foram angustiantes e desafiadoras as primeiras reuniões com pais de alunos e as primeiras avaliações, uma vez que o trabalho do professor se torna significativo justamente quando é percebido nos seus alunos. Diante da minha formação, ainda inicial (na época), comecei a estudar e buscar respostas para certas dúvidas que eu tinha e, mais tarde, se recolocaram na graduação. Por isso mesmo, os caminhos de estudo e preparação foram longos, era importante saber como iniciar às crianças em cada área de conhecimento.

Assim, descrevo algumas das proposições relativas às áreas de conhecimento que são abordadas na educação dos anos inicias, conforme foi a partir da minha experiência docente: As áreas de conhecimento são: Linguagem, Matemática, Ciências Humanas e Ciências da Natureza. Na articulação dessas áreas desenvolvi uma proposta de trabalho que passo a descrever e sobre a qual farei algumas reflexões.

2.1.1 Linguagem

O ensino da linguagem não se baseia apenas em ensinar a ler e a escrever, de forma mecânica, ou simplesmente decifrar códigos, mas, sim, em contribuir para a constituição de futuros cidadãos, que reconheçam sua identidade social e se sintam parte de uma cultura. A linguagem permite, ainda, que os sujeitos se compreendam no mundo e dele participem, interagindo e recriando-o. Assim, a linguagem em suas diversas manifestações, falada, escrita, oral ou corporal permite

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a compreensão e a autocompreensão do sujeito e necessita ser vivenciada de modo dialógico, possibilitando a comunicação, a aprendizagem e a interação.

Sendo assim, é importante que a criança esteja inserida desde a educação infantil em um ambiente de múltiplas linguagens, letrado, no qual possa ir aos poucos fazendo associações e apropriações inter-relacionadas com o mundo que a cerca.

Para iniciar esse estudo, começamos então (eu e meus alunos) a estudar a história da linguagem, como as pessoas faziam para se comunicar antigamente, de onde surgiram as letras, enfim, inúmeros questionamentos foram sendo levantados, e conhecer a história da linguagem trouxe significado à aprendizagem que estava sendo desenvolvida. A partir do que estávamos aprendendo, novas ideias surgiram, e até mesmo uma simulação de caverna foi montada em sala de aula, a partir da descoberta de que os primeiros registros de escritas foram encontrados em cavernas através de desenhos, sendo assim, as crianças puderam vivenciar sua aprendizagem.

Figura 1: Simulação de caverna montada em sala de aula

Fonte: A autora.

Os sujeitos envolvidos nessa atividade conseguiram aprender a ler/escrever, mas principalmente, compreender esse processo, sendo o diferencial em um ensino que não visa apenas à aquisição do conhecimento, mas a sua compreensão.

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Trabalhamos, também, com a música, como linguagem, mas também como um recurso didático aliado ao processo de ensino/aprendizagem, pois, além de ser uma arte, a música desenvolve inúmeras questões relacionadas ao ritmo, percepção de tempo/espaço, coordenação motora, motricidade, enfim, permite, inclusive, vivenciar aspectos da corporeidade. Vale observar que a linguagem corporal é constitutiva dos seres humanos, pois ainda dentro do ventre materno os primeiros movimentos já podem ser sentidos. Assim, é importante que a linguagem corporal também tenha espaço dentro da escola e nas práticas desenvolvidas em sala de aula.

O trabalho realizado com música, durante todo o ano letivo, possibilitou que as crianças desempenhassem com facilidade a proposta de fazer uma dança para o Festival que acontece na escola, anualmente, conhecido como FEMUDA- Festival de Música e Dança. A aderência da turma foi completa, todos participaram, demonstrando a importância e a relevância que a linguagem corporal teve para eles.

2.1.2 Matemática

A área de conhecimento da matemática exige que seja pensada no contexto das crianças, de forma que os conceitos ali trabalhados devem possibilitar que elas se apropriem da cultura e dos pequenos desafios matemáticos de seu cotidiano. O desafio é, desta forma, proporcionar a elas situações em que possam construir as noções e conceitos matemáticos utilizando-se de diferentes metodologias.

Sobre este assunto, Smole (2000) deixa a seguinte contribuição:

O professor pode criar situações na sala de aula que encorajem os alunos a compreenderem e se familiarizarem mais com a linguagem matemática, estabelecendo ligações cognitivas entre a linguagem materna, conceitos da vida real e a linguagem matemática formal, dando oportunidades para eles escreverem e falarem sobre o vocabulário matemático, além de desenvolverem habilidades de formulação e resolução de problemas, enquanto desenvolvem noções e conceitos matemáticos (p. 69).

Não há forma de se realizar o trabalho com crianças sem pensar nas brincadeiras, nos jogos, pois isso permite que a criança elabore seu pensamento e aprenda de modo interativo, com o objeto do conhecimento e também com seus pares. É brincando, jogando e interagindo com o objeto de conhecimento que a

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criança aprende. Sendo assim, mais do que explicitar, torna concreta sua forma de pensar.

A matemática deve ser apresentada ao aluno através de situações que envolvam justamente jogos, brincadeiras, materiais concretos para que os mesmos possam perceber o prazer e o desafio de forma associada e contextualizada.

Acredito que os conceitos desenvolvidos na criança desde pequena se constituem em fatos bem simples e nas primeiras noções, que servem para que as crianças compreendam e interpretem a realidade, e que nas etapas sucessivas poderão dar lugar a conceitos cada vez mais complexos.

Por isso os conteúdos devem ser organizados de forma didática, refletindo as verdadeiras intenções educativas da proposta curricular, tentando dar conta da amplitude do conhecimento. Nessa situação os conceitos matemáticos desenvolvidos foram: Sequência numérica, valor posicional, reagrupamento.

O trabalho realizado em sala de aula faz justamente esse movimento de acreditar em uma metodologia participativa, onde os sujeitos estão no centro do processo e buscam desvendar os desafios, sem receber respostas prontas. Para isso, o material concreto é muito utilizado e as atividades vão se tornando complexas à medida que as crianças vão avançando na compreensão dos conceitos.

Figura 2: Crianças utilizando jogos matemáticos

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2.1.3 O Ensino das Ciências Humanas

Em relação às Ciências Humanas, espera-se que as crianças construam desde pequenas uma compreensão sobre si mesmo e sobre seu entorno. É preciso conhecer e respeitar o modo de vida dos diferentes grupos sociais, reconhecendo as mudanças que ocorrem na sociedade, identificando alguns problemas e refletindo sobre possíveis soluções. É importante valorizar o patrimônio sócio-cultural e respeitar a adversidade, identificar e avaliar as ações do homem na sociedade ao longo do tempo e reconhecer o funcionamento da natureza.

Os conteúdos selecionados devem permitir o pleno desenvolvimento do papel de cada um na construção de uma identidade com o lugar onde vive. Nesses estudos os conteúdos conceituais das Ciências Humanas foram os seguintes: reconhecer-se no lugar em que se encontra inserido – ambiente escolar e comunitário, localização das ruas próximas à escola, representação cartográfica, perceber as possíveis transformação do espaço físico do bairro.

Nesse aspecto, a família possui um papel muito importante, pois é a primeira instância de formação da identidade do sujeito. É através da convivência que a família tem de registrar o seu nome, a sua marca na criança e, assim, a própria criança passa a se identificar dentro de sua família.

Considerando a necessidade de que a criança se perceba parte de um tempo/espaço e que ela se reconheça nesse ambiente, inicio, geralmente, esse trabalho conhecendo as histórias de vida dos sujeitos através de entrevistas com as famílias. Na medida em que vamos ganhando intimidade, utilizamos, também, a fotografia como recurso para mostrar aquilo que é de cada sujeito (sua casa, família, animais, objetos), isso permite às crianças tomar consciência de que pertencem a um lugar, a uma cultura e a uma história.

Conhecer o seu ambiente é necessário, por isso realizamos, também, passeios pelos bairros próximos à escola, sendo que ali mora a grande maioria dos alunos e, portanto, é extremamente importante escutar o que os mesmos pensam sobre determinados espaços, ou seja, quais são as percepções de mundo que os sujeitos têm, como aquele ambiente é visto e percebido pelo olhar das crianças. Para a realização dessa atividade, foram utilizadas também câmeras digitais, para que as crianças registrassem através de fotografias as suas percepções, aquilo que lhes chamava atenção.

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Figura 3: Passeio realizado nos bairros próximos à escola

Fonte: A autora.

2.1.4 Ciências da Natureza

Dentro do currículo de Ciências Naturais, os alunos têm a possibilidade de adquirir um conhecimento que colabora para a compreensão do mundo e suas transformações, bem como reconhecer o homem como parte do universo.

Realizar experiências científicas em sala de aula é muito importante, pois possibilita ao aluno ter contato direto com o objeto de estudo. Sempre busco trazer para sala de aula situações que possam contribuir para a aprendizagem das crianças e, nesse ano, a partir do projeto de estudo realizado sobre os peixes, fizemos então a experiência de trazer um peixe e abri-lo, a fim de conhecer o seu sistema de funcionamento interno, na presente atividade, os conceitos desenvolvidos foram: o ciclo vital dos seres vivos, as necessidades dos seres vivos – características específicas do peixe (respiração, alimentação), interação entre o ser humano e os animais.

A atividade realizada causou grande euforia nas crianças, que participaram demonstrando entendimento e satisfação a respeito do que estávamos aprendendo.

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Figura 4: Peixe sendo estudado em sala de aula

Fonte: A autora.

Tornar a aprendizagem um processo significativo é meu grande objetivo como professora, afinal muito mais do que aprender, as crianças precisam reconhecer a finalidade do que foi estudado e sua utilidade. Sem essa compreensão o conhecimento perde o seu sentido.

Carlos Drumond de Andrade deixa a seguinte contribuição,

Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem (apud ROSA, 2014).

Essa citação aponta às práticas que procuro desenvolver em sala de aula, afinal é meu dever enquanto professora possibilitar que os alunos tenham acesso ao conhecimento, fazer essa mediação, para que seus direitos sejam garantidos, pois enquanto sujeitos crianças eles precisam da responsabilidade de um adulto comprometido com a sua tarefa de ensinar, para que no futuro esses conhecimentos que devem ser desenvolvido nos anos iniciais não lhes faltem.

2.2 ESCOLA: TEMPO/ESPAÇO DE APRENDIZAGENS E RELAÇÕES INTERSUBJETIVAS

É importante ressaltar que o espaço físico/estrutura, também interage com o meio e, portanto, ao refletir sobre a organização desse espaço, podemos citar

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inúmeras características, e cada uma delas com sua singularidade. Toda escola é diferente e cada uma tem seus determinados espaços, com diferentes formas, símbolos, e traz na sua história algo que é muito particular: a sua cultura.

Ao acreditar que o ambiente também é passivo de comunicação com os sujeitos que ali estão, podemos dizer que o espaço escolar que transmitimos aos nossos alunos deve ou deveria ser organizado conforme a postura que queremos do sujeito que faz parte dele. Por isso é importante que a escola seja pensada e organizada de acordo com os sujeitos que atende, considerando a faixa etária e suas necessidades próprias. Por exemplo: o número de alunos condizente ao espaço físico, espaços adequados para as aulas e as demais atividades escolares, ambientes que favoreçam a interação e, ainda, um cuidado com a cultura visual que se expressa em diferentes imagens, artefatos e mesmo as criações e produções pedagógicas.

É necessário que a escola reconheça a importância do espaço físico para o desenvolvimento dos alunos e deixe os mesmos participarem dessas elaborações ou modificações; afinal o espaço físico escolar é também um espaço pedagógico e com isso se dá a necessidade da intervenção dos sujeitos que ali convivem.

A estrutura de uma escola, bem como sua organização, manutenção e segurança revelam muito sobre o trabalho que ali se desenvolve e considerando que crianças, adolescentes e também professores passam boa parte do seu dia-a-dia nesse espaço, podemos dizer que conhecendo o ambiente, é possível também conhecer a vida que se vive ali.

O trabalho educativo não se remete apenas à sala de aula, mas se configura através do ambiente que é oferecido, devendo ser acolhedor, facilitando assim que o trabalho desenvolvido ali se dê de forma mais prazerosa.

É importante, principalmente para as crianças da Educação Infantil e Anos Iniciais, auxiliar na caracterização desse ambiente escolar, isso se dá através dos trabalhos pedagógicos que realizam diariamente na escola. Esses trabalhos devem ficar expostos de forma que contemple o olhar das crianças e dos demais sujeitos que circulam por ali, a fim de valorizar a especificidade do tempo da infância. Reconhecer-se importante para aquele espaço faz com que as crianças sintam alegria em pertencer a aquele lugar.

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Penso que o primeiro ponto necessário, para que haja envolvimento com esse aspecto físico da escola, é considerá-lo realmente pedagógico. Isso não significa que uma escola bonita deve ser apenas um prédio limpo e bem planejado, mas precisa trazer intervenções de maneira que o aprendizado seja favorecido e as pessoas possam se sentir confortáveis e reconhecê-lo como um espaço que lhes pertence.

Nesse sentido, lembremos que a escola é um lugar para os sujeitos que ali vivem seu tempo/espaço de aprendizagens diversas. Ela necessita “transpirar” a vida dos que ali habitam. Assim, a criação artística escolar e a produção de conhecimentos materializadas em suas diferentes formas devem povoar os espaços da escola, ilustrando e expressando as práticas pedagógicas que ali se efetivam. Assim, palavras, formas e gestos, expressos em desenhos, pinturas, instalações, maquetes, escritas, exercícios matemáticos, poemas, danças e dramatizações necessitam habitar os corredores, os pátios, as salas, os jardins... Desse modo, talvez a escola amplie seu diálogo com seus sujeitos e com a comunidade escolar, povoando o imaginário dos mesmos daquilo que lhe dá sentido e razão de ser: a expressão ressignificada da tradição humana e a palavra do aluno compartilhada como modo de empoderamento social e aprendizagem própria.

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3 TAREFA/AÇÃO DO PROFESSOR: QUAL O DESAFIO DE HOJE PARA OS PROFESSORES?

3.1 UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO

Tempo, acaso e significação... Drama... Vida...

No tempo, vivemos e somos nossas relações sociais, produzimo-nos em nossa história. Falas, desejos, movimentos, formas perdidas na memória. No tempo nos constituímos, relembramos, repetimo-nos e nos transformamos, capitulamos e resistimos, mediados pelo outro, mediados pelas práticas e significados de nossa cultura. No tempo, vivemos o sofrimento e a desestabilização, as perdas, a alegria e a desilusão. Nesse moto contínuo, nesse jogo inquieto, está em constituição nosso “ser profissional” (FONTANA, 2003, p. 180).

A epígrafe supracitada permite acenar para o tema desse capítulo, que é o de refletir sobre alguns dos desafios enfrentados pelos professores nos dias de hoje. O ser “professor”, atualmente passa por uma crise de identidade diante de nossa sociedade, a ele, ou melhor, a nós, pois também faço parte dessa classe, são depositados inúmeros olhares, todos, carregados de opiniões, críticas, argumentos, mas diante da complexidade que se estabelece quando pensamos nesse profissional, muitas coisas ficam perdidas no tempo.

Olhar o professor com uma visão simplista que apenas julga, desacata e banaliza sua tarefa é relativamente fácil, mas compreender sua figura enquanto sujeito social que trabalha diretamente com seres humanos e que trás na sua fala, ou na ponta de um giz - utilizando uma linguagem figurada - a responsabilidade de educar e ensinar sujeitos é, ainda, um desafio à sociedade brasileira. Acreditar nisso, implica assumir as responsabilidades mais complexas, tais como: melhorar as condições de trabalho dos professores, fornecer materiais e ambientes adequados para o desenvolvimento das atividades de ensino, valorizar o profissional, independente da área em que atua, reconhecer seu valor, incluindo o aspecto salarial, proporcionar formação continuada que corresponda às suas necessidades e, ainda, assegurar-lhe o apoio de gestões escolares mais qualificadas, que potencializem os recursos existentes e fomentem o projeto pedagógico. Isto, a nosso ver, é conceder aos professores condições que dignificariam o seu ofício. Atender tais aspectos seria a efetivação de uma das dimensões da docência num contexto

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que realmente valoriza a educação, muito além dos discursos descolados de ações mais efetivas.

Estes aspectos, embora sejam conhecidos por todos, mas “esquecidos” pelos que respondem pela educação de modo oficial, dizem respeito a cada cidadão que, dentro dos limites da república, deveria se importar e se envolver com eles; afinal cada professor assume diante à República seu compromisso com a educação de sua nação. Isso fica expresso no juramento que firma o compromisso com uma educação de qualidade a todos.

Portanto, volto à ideia inicial, justificando sua escolha, uma vez que indica que é nesse movimento da vida escolar que as coisas acontecem, num ritmo próprio há esse tempo/espaço que é a escola; onde se dá o acontecimento do nosso “ser professor”.

Esse ser, a quem me refiro passa, todo o dia, por inúmeros desafios e, entre os já citados, destacamos aqueles que dizem respeito à relação ensino-aprendizagem, isto porque, a partir da década de 80, os professores voltam à cena como atores e autores de sua prática pedagógica, repensando a ênfase das idéias tecnicistas e no laissez-faire (“deixar fazer” no português), e assim, a dimensão da docência se apresenta mais complexa e desafiadora. Isso trouxe à tona novamente o aparecimento do papel do professor como sujeito propositor e não somente aplicador de propostas/métodos.

No Brasil, particularmente, os anos 80 representaram um momento importante na retomada dos estudos sobre a atividade docente. No bojo do processo de redemocratização da sociedade brasileira, a crítica ao reprodutivismo favoreceu a emergência das pedagogias críticas, que resgatavam o papel do professor e da escola e dos professores na dinâmica social (FONTANA, 2003, p. 20).

Hoje os desafios enfrentados são outros, mas carregam complexidades iguais ou ainda maiores que os de outra época. Embora tenhamos avançado em muitas áreas com investimentos em pesquisas (engenharias, medicina, entre outras), algumas, porém, foram aos poucos sendo marginalizadas. Entre elas podemos citar o lugar das humanidades que sofrem uma crise de sentido numa sociedade que enfatiza o ter e o consumo. O status social ganha importância pelo fascínio do poder financeiro e, desse modo, tanto a profissão de professor quanto a de determinadas matérias, carece de visibilidade e dignidade, entre elas,

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destacamos a arte, a filosofia, a literatura, a educação física... Neste contexto de crise de valores, a própria Pedagogia fica marginalizada, pois para alguns pais é possível educar seus filhos fora do contexto escolar, e a noção de educação privada já é uma realidade também em nosso país. Deste modo, a Pedagogia necessita-se reinventar e isso passa pela formação qualificada de seus professores e pela visibilidade diante da sociedade de sua imprescindível ação de ensinar e educar.

Fernando Savater (2012) destaca o valor de educar e nos desafia a pensar que:

[...] quem pensa que os professores são fracassados deveria concluir então que a sociedade democrática em que vivemos também é um fracasso. Porque todos nós, que tentamos formar e instruir os cidadãos, que apelamos para o desenvolvimento da pesquisa científica, da criação artística ou do debate racional das questões públicas, dependemos necessariamente do trabalho prévio dos professores primários (p. 13).

Isso significa que, ao pedagogo, é atribuída a ação de dar início à criança ao mundo da cultura escolar, através da aquisição da leitura, da escrita, da interpretação, da expressão e comunicação da linguagem e dos símbolos de seu grupo social. Ainda, a imersão no universo das artes, do movimento corporal, da fantasia, das festas e dos ritos humanos, através de vivências e experiências estéticas, lúdicas e expressivas.

O professor apresenta o mundo dos homens à criança e através de sua prática também testemunha aquilo que sabe e conhece. Desse modo a admiração que uma criança constrói em relação a seu professor está relacionada aos saberes que ele tem e a sua capacidade de comunicar e permitir que sentidos sejam construídos.

Como bem se sabe, possibilitar a construção do conhecimento é uma das principais tarefas do professor, é através dela que nos realizamos como profissional, é um dos aspectos que move o nosso desejo, nossa vontade de sempre saber mais, de investir na formação. Nessa perspectiva temos a contribuição de Boufleuer (2002):

Conhecimento seja ele relativo ao mundo objetivo, ao mundo social ou ao mundo subjetivo, é sempre uma produção intersubjetiva, uma relação social. É sempre resultado de um entendimento dos sujeitos acerca de algo que faz parte de seus mundos. Nesse sentido, conhecimento é uma construção sempre provisória e passível de revisão (p. 19).

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A citação acima evidencia novamente a necessidade da constante formação, sendo que, nesse sentido, o conhecimento não é algo pronto, ou acabado, pelo contrário, sofre transformação e por isso é sempre passível de revisão. Nossa formação profissional também se encaixa nessa forma de pensar “passível de revisão”, pois estamos em contato com o outro e com o mundo, diariamente, e tudo, ao nosso redor muda, sendo necessária, muitas vezes, uma nova leitura daquilo que é vigente. Ainda destacamos que a formação do professor se dá nesse processo intersubjetivo dos atores de uma sala de aula, dos atores do cotidiano escolar, em que as questões que dali emerge exigem sempre novas reflexões e ações. Neste sentido é que o professor aprende enquanto ensina, aprende enquanto “lida” com as questões de sua aula.

Nesse horizonte também Fensterseifer (2003) nos ajuda a pensar sobre a complexidade da ação docente, ao destacar a responsabilidade com a qualidade da formação do professor:

Reside nesta centralidade do conhecimento uma questão estreitamente vinculada a nossa responsabilidade profissional, pois dar aula é, com certeza, nossa tarefa, mas dar “boas aulas” é um compromisso ético. O qual poderá nos colocar a altura do valor que tem o conhecimento no mundo contemporâneo (p. 159).

Dar uma boa aula é algo complexo e desafiador, simplesmente por não depender apenas da boa vontade e do bom planejamento, uma vez que nem sempre um bom planejamento é suficiente para que a aula aconteça exatamente da maneira como foi pensada. Contudo, sem ele é muito pior.

Isto significa, entre outros aspectos, que a qualidade de uma aula está relacionada à interação entre professor e seus alunos e ainda, entre os próprios alunos. Quando a relação entre os sujeitos envolvidos se dá de modo intenso, compactuado e organizado, temos então mais chances de atingir os objetivos de ensino-aprendizagem. Isso requer uma relação amorosa e cúmplice entre os sujeitos, em que um conhece o outro e sabe das suas capacidades e limitações.

Essa tarefa da escola, levada a cabo pelas mãos do professor, faz-se necessária, haja vista que o ser humano se constitui sujeito integrante de uma sociedade e, por isso, necessita ser inserido nela. Isso é assim, para nós, porque desde o nosso nascimento evidencia-se a fragilidade humana, ou seja, nós precisamos dos outros para crescer, nos desenvolver e agir no mundo. Assim, se

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torna impossível viver, conviver, coabitar, relacionar-se em um mundo cercado de sujeitos, sem que esses tenham influências diretas na constituição do nosso “ser eu, humano”.

Sendo assim, é preciso avaliar de que forma estamos pensando em uma educação que compreenda a importância que o meio e os outros têm em nossa formação. A prática pedagógica presente em sala de aula deve estar contextualizada e de acordo com as concepções que o professor carrega a respeito da educação, das formas de ensinar/aprender dos alunos, gerando sentido a esse processo de ensino/aprendizagem, pois, sem isso, a educação perde o seu valor.

À escola e aos professores cabem sempre novos desafios: o de proporcionar um ambiente instigante de aprendizagens e convívio através de prática vinculada a um projeto político-pedagógico, que vise à educação, que corresponda às necessidades de cada tempo e sociedade, sendo expressas na qualidade da aprendizagem que se permite a cada sujeito.

A educação deve se orientar pelo processo de “aprender a aprender”, isto significa que necessitamos ensinar à criança aprender tendo em vista uma educação que leve à autonomia e ao empoderamento pelo saber. Neste caso, o ensino-aprendizagem estaria comprometido com a pesquisa, com a experiência, com a possibilidade da palavra viva, da formulação da pergunta e do encantamento com as possíveis respostas em perspectiva própria.

Vivemos em uma sociedade cercada por diversas informações e conviver com tantas inovações é um ato desafiador que se faz necessário, porém, quando acreditamos na influência direta que todos esses meios de comunicação e informação possuem sobre nossos alunos é necessário trabalhar com eles também, destinando uma finalidade pedagógica.

Mas quando falamos em uma educação que seja capaz de transformar realidades, será que, apenas abordando conceitos e conteúdos presentes nas diversas disciplinas da escola, conseguiremos contribuir para a formação de futuros cidadãos mais éticos, críticos e atuantes na sociedade?

Embora, o nosso desenvolvimento completo dependa necessariamente de todas as áreas (história, geografia, português, matemática, artes, ciências, e etc), é importante que tenhamos a compreensão de que somente isso não seria suficiente para mudar de fato a realidade social, a partir da ação no mundo público. Isso porque a formação de um sujeito não se limita a conhecimentos científicos,

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mitológicos, artísticos e culturais, mas, inclusive, de “saberes” da perspectiva da moral, ou seja, da ética.

Fernando Savater (2012) apresenta, então, sua concepção sobre Educação Cívica, ou seja, aqueles saberes construídos na experiência e que se constituem na “[...] preparação que permite viver com os outros na cidade democrática, participando da gestão paritária dos assuntos públicos e com capacidade para distinguir entre o justo e o injusto” (p. 134). Por isso, na perspectiva da educação republicana, a escola ensina os conteúdos universais e permite aos alunos viver situações e/ou experiências nas quais os dilemas éticos estejam postos para que assim, eles se preparem para as futuras ações em sociedade. Nessa perspectiva a criança não é ainda uma cidadã uma vez que não pode decidir sobre as questões do mundo dos adultos, mas necessita ir se preparando para no futuro ocupar tal lugar. Esse período de formação se encerra na educação básica visto que concluída essa etapa o sujeito estaria apto para conduzir a sua vida. Assim, cidadão seria aquele que pode decidir entre iguais e deliberar sobre os rumos da cidade/estado.

Nesse horizonte a escola ocupa uma tarefa muito especial, pois depende de suas proposições a formação intelectual e ainda, moral dos futuros cidadãos de uma nação, muito embora as noções de ética que os alunos vivenciem na escola, juntos aos seus pares, não sejam garantias de que no futuro tenham coerência e discernimento adequados às suas escolhas e ações. Sobre esses aspectos não há garantias anteriores porque a ética está sempre referida à situação que se apresenta ao sujeito e, esta, é sempre imprevisível.

Essa proposta de educação cívica nos mostra a importância do papel da escola, que não deve ficar fechada a conteúdos e métodos que não tenham relevância na vida dos sujeitos, mas que também não instrumentaliza a educação acreditando que transforma diretamente a realidade social. Essa é uma tarefa de adultos, que agem no mundo público. Uma decisão entre adultos e do qual a criança não participa. Dizendo de outro modo, são os adultos que agem na sociedade em vistas a transformá-la e, por isso, à escola cabe uma justa medida entre ensinar o conhecimento universal (os conteúdos legitimados pela tradição) e possibilitar vivências nas quais aspectos éticos estejam em questão como âmbitos de reflexão e de formação.

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36 A pergunta que nos move nesta reflexão é qual a responsabilidade da educação escolar neste processo, pois, ao assumir responsabilidades que extrapolam sua competência, a escola promete o que não pode cumprir e, com isso, desempenha um papel ideológico. Por outro lado, ela corrompe-se quando abandona o princípio que a gerou (p. 152).

O exposto nos leva a refletir sobre o papel da escola e dos professores e, nesse sentido, podemos dizer que nosso trabalho tem uma especificidade relativa à profissão docente, ou seja, somos imbuídos da tarefa de ensinar, “transmitir”, comunicar (ao modo de um testemunhar) os conteúdos escolares. Essa é por si, uma relação hierarquizada na qual os professores são portadores de determinados conhecimentos e os alunos vão aprender “por causa” do professor. Nesse processo de ensinar-aprender o professor também aprende, ou seja, aprende a ensinar, aprender a compreender como se dá isso para uma referida turma ou criança, aprende a mediar à interpretação e a significação de algo a alguém.

Porém, depois de inúmeras discussões acerca de teorias e conforme tudo o que foi abordado neste trabalho, recuso-me a ter apenas essa visão simplista, em que o ensino e a aprendizagem são tidos como um negócio.

Muito mais do que debater a educação, é preciso fazer educação. Isto acontece quando tomamos, então, o sujeito como um ser histórico e construtor de conhecimento e, ao mesmo tempo em que constitui o mundo, torna-se constituído por ele. Isto quer dizer que ao mesmo tempo em que participa do meio social/cultural, sofre dialeticamente interferências dele, sendo então, a cada instante, alguém que “lida” com o conhecimento de forma dinâmica e intensa, desenvolvendo sua consciência, e se constituindo a partir do meio.

O processo de ensino e a aprendizagem não podem ser tomado de forma que pareça um sistema, no qual professores “sabem tudo” e apenas repassam conteúdos aos alunos e os mesmos ficam prontos para absorver o que lhes compete.

A professora Iselda Sausen Feil (2004), observa que, além da escrita e da leitura, existem outras dimensões do aprender que necessitam ser consideradas na educação dos alunos, entre elas, tomar a própria infância como uma especificidade e compreendendo-a, ou seja, partindo dela, apresentar o mundo às crianças: “Perdemos muito tempo ensinando a ler e escrever como se a leitura e a escrita fossem de uso exclusivamente escolar. Perdemos tempo calando manifestações das

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crianças, com o medo do erro e perdendo tempo de entendê-las e aprender com elas” (2004, p. 75).

Acredito que esse pequeno trecho, vem ao encontro de uma nova perspectiva de docência, em que os conteúdos não devem ser trabalhados apenas para se cumprir um roteiro didático, mas sim para trazer significados a vida dos alunos, para que os mesmos possam usufruir desses instrumentos de leitura e escrita como aliados á prática da construção da futura cidadania.

Tomamos então a criança na sua especificidade como sujeito participativo da sua própria aprendizagem. É imprescindível que o sujeito aprenda por suas próprias tentativas, mesmo que para isso seja preciso passar pelo erro. Essa experiência de aprendizagem leva à criança a desenvolver noções de autonomia e de que compreender algo passa pelo esforço de trazê-lo em sua perspectiva, ou seja, para si.

A partir dessa nova concepção pedagógica devemos salientar a necessidade de romper com as barreiras tradicionais e acreditar na criança enquanto sujeito histórico e capaz de tomar para si algo, fazendo-o seu.

Sendo assim, todas as formas de ensinar são pensadas de maneira que visem à construção do conhecimento na criança. Não há problema em ensinar aquilo que é produto sociocultural, no entanto, é preciso repensar como esse ensino é realizado, se ele valoriza ou não a infância, se permite que cada um realize seu modo próprio de compreender e significar.

Nessa perspectiva o mundo é um espaço possível de educação e, por isso, não podemos romper com o princípio da escola e da educação em todos os seus aspectos, pois valorizar e trabalhar com as experiências extraescolares e também com práticas sociais é papel da escola sim, e está garantida, dentre outros, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação nacional – LDB, n. 9394/96, no Art. 3º destaca que o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

Art. 3º. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância IX - garantia de padrão de qualidade; X - valorização da experiência extraescolar; XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.

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