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Apontamentos acerca da constitucionalização do direito privado nos contratos particulares: reflexos na exclusão de amante como beneficiária em contrato de seguro de vida

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Academic year: 2021

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UNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DCJS – DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

CARLA MAIARA KRÜTZMANN

APONTAMENTOS ACERCA DA CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO PRIVADO NOS CONTRATOS PARTICULARES: REFLEXOS NA EXCLUSÃO

DE AMANTE COMO BENEFICIÁRIO EM CONTRATO DE SEGURO DE VIDA

Três Passos-RS (2019)

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CARLA MAIARA KRÜTZMANN

APONTAMENTOS ACERCA DA CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO PRIVADO NOS CONTRATOS PARTICULARES: REFLEXOS NA EXCLUSÃO

DE AMANTE COMO BENEFICIÁRIA EM CONTRATO DE SEGURO DE VIDA

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso - TCC. UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS- Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: MSc. Eliete Vanessa Schneider

Três Passos (RS) 2019

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus, aos meus pais e amigos por todo apoio e compreensão nesta jornada acadêmica.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar а Deus que me guiou neste caminho.

À minha orientadora Eliete Vanessa Schneider pela sua dedicação e disponibilidade.

GRATIDÃO. Uma experiência inexplicável, um nervosismo sem controle, frio na barriga sem igual, noites sem dormir, dias sem se alimentar direito, muitas lágrimas, desespero com aquelas provinhas cabeludas, e mais ainda com o tão temido TRABALHO DE CONCLUSÃO. Um apoio imensurável, de amigos, familiares, Mãe, Iara, meu Pai Alcenio, meus irmãos Carlos e Ana, uma compreensão muito grande dos meus chefes Omar e Rudi, a paciência da minha orientadora, que foi fundamental. Obrigada Prof Eliete. Isso define minha corrida na graduação, que agora se encaminha para a conclusão. Eu só tenho a agradecer. A todos que colaboraram de uma maneira ou outra durante a trajetória de construção deste trabalho, meu muito obrigada!

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfica faz uma breve análise acerca da evolução constitucional na esfera contratual. Realiza também uma breve síntese sobre a evolução dos direitos fundamentais defendidos pela Constituição Federal de 1988. A fundamentação de princípios básicos no regimento dos contratos de seguro de vida, assim como uma análise jurisprudencial acerca da exclusão da beneficiária companheira (concubina, amante) no tocante ao montante a ser percebido no contrato de seguro de vida.

Palavras-Chave: princípios constitucionais, direito civil, contratos de seguro de vida, exclusão de beneficiário.

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ABSTRACT

The present work of monographic research makes a brief analysis about the

constitutional evolution in the contractual sphere. It also provides a brief summary of the

evolution of fundamental rights upheld by the Federal Constitution of 1988. The

foundation of basic principles in the rules of life insurance contracts, as well as a

jurisprudential analysis on the exclusion of the beneficiary partner (concubine, lover)

regarding the amount to be realized in the life insurance contract.

Keyword: constitutional principles, civil law, life insurance contracts, beneficiary

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SUMARIO

APONTAMENTOS SOBRE DA EVOLUÇAO HISTÓRICA DO DIREITO CONSTITUCIONAL ... 10 1.1 Análise histórica acerca da positivação de direitos fundamentais Constitucionais ... 10 1.2 Direitos Fundamentais Constitucionais positivados pela Carta Magna de 1988 ... 14 1.3 Fenômeno da Constitucionalização do Direito Privado no Ordenamento brasileiro. ... 18 A EXCLUSÃO DE AMANTE COMO BENEFICIÁRIO EM CONTRATO DE SEGURO DE VIDA ... 22 2.1 Especificidades do contrato de seguro de vida ... 22 2.2 O contrato de seguro de vida e a aplicação dos princípios constitucionais...28 2.3O princípio da função social do contrato aplicado ao seguro de vida...30

Conclusão Referencias

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INTRODUÇAO

Primeiramente iremos tratar sobre a relação contratual nos seguros de vida, uma breve análise acerca da evolução dos princípios constitucionais de que os contratos estão cercados, ainda mais a evolução do direito positivado na Carta Magma.

O segundo capitulo versa sobre os princípios fundamentais, mutualismo e boa-fé, na relação do contrato especifico do seguro, não se restringe a formalização do contrato, mas tambem saber que tanto o segurado quanto a seguradora devem seguir regras e limites regidos pela Constituição Federal de 1988, e o então novo Código Civil de 2002.

E por fim a analisar a importância da interpretação jurisprudencial, quanto a participação dos beneficiários na apólice do segurado. Como o Estado pode intervir no resultado de quem fica ou não com o quinhão deixado. Responsabilidade da seguradora no que tange as cláusulas contratuais.

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1 APONTAMENTOS ACERCA DA EVOLUÇAO HISTÓRICA DO DIREITO CONSTITUCIONAL

Com o intuito de tornar mais efetiva a proteção judicial dos direitos individuais e coletivos, cada vez mais vem se acentuando no Estado Democrático de Direito dos dias de hoje, a positivação dos direitos e garantias fundamentais nos textos constitucionais.

Como Lei Maior que é a Constituição Federal e por servir de fundamentação institucional e política à legislação ordinária, seus textos encontram-se recheados com inúmeros dispositivos relativos aos direitos fundamentais. O direito é influenciado direta, forte e constantemente por esses preceitos constitucionais, uma vez que a dignidade da pessoa humana corresponde à aspiração maior da sua existência. No bojo do presente trabalho tecer-se-á linhas gerais sobre os direitos e garantias fundamentais, pretendendo mostrar a necessidade de sua aplicabilidade imediata. Os direitos são os privilégios concedidos aos indivíduos e as garantias são os preceitos que viabilizam tais direitos. Os dispositivos tutelam pessoas físicas e jurídicas

Os direitos fundamentais são resultado de grandes movimentos históricos constitucionais. Tendo início nos primórdios do século XVIII., onde encontram-se incorporados ao patrimônio comum da humanidade e são reconhecidos internacionalmente a partir da Declaração da Organização das Nações Unidas de 1948. ABREU (2019).

1.1 Análise histórica acerca da positivação de direitos fundamentais Constitucionais

O direito constitucional, na Europa continental, foi o constitucionalismo do pós-guerra, especialmente na Alemanha e na Itália. No Brasil, foi a Constituição de 1988 e o processo de redemocratização que ela ajudou a protagonizar. Em seguida uma breve exposição sobre cada um desses processos. Barroso destaca que,

A reconstitucionalização da Europa, imediatamente após a segunda Grande Guerra e ao longo da segunda metade do século XX, redefiniu o lugar da Constituição e a influência do direito constitucional sobre as instituições contemporâneas. A aproximação das ideias de constitucionalismo e de

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democracia produziu uma nova forma de organização política, que atende por nomes diversos: Estado democrático de direito, Estado constitucional de direito, Estado constitucional democrático. Seria mau investimento de tempo e energia especular sobre sutilezas semânticas na matéria. (BARROSO, 2019).

A principal referência no desenvolvimento do novo direito constitucional nas palavras de Luís Roberto Barroso (2006, p.3),

é a Lei Fundamental de Bonn (Constituição alemã), de 1949, e, especialmente, a criação do Tribunal Constitucional Federal, instalado em 1951. A partir daí teve início uma fecunda produção teórica e jurisprudencial, responsável pela ascensão científica do direito constitucional no âmbito dos países de tradição romano-germânica. A segunda referência de destaque é a da Constituição da Itália, de 1947, e a subsequente instalação da Corte Constitucional, em 1956. Ao longo da década de 70, a redemocratização e a reconstitucionalização de Portugal (1976) e da Espanha (1978) agregaram valor e volume ao debate sobre o novo direito constitucional.

Essas constituições marcam o encerramento do autoritarismo e sacramentam o compromisso desses povos com a paz, o desenvolvimento e o respeito aos direitos humanos. Esses novos marcos normativos somados à necessidade de superação de um passado recente de horrores exigiram uma nova postura na aplicação e interpretação do direito constitucional. Murilo Kerche de Oliveira escreve que,

Assim, o neoconstitucionalismo proclama a primazia do princípio da dignidade da pessoa humana, a qual deve ser protegida e promovida pelos poderes públicos e pela sociedade. Não se pode esquecer que a dignidade da pessoa humana é um direito fundamental do ser humano. (Oliveira, 2012, p.14)

Ao fim da Segunda Guerra, a ética e os valores começam a retornar ao direito, para então se criar uma nova constituição. Segundo Padoin (2009) A Constituição Federal de 1988 passou por uma significativa mudança paradigmática, afetando fatores culturais, um mecanismo institucional e práticas sócio-políticas fixadas dentro do ordenamento jurídico. Escreve ainda a autora que

O texto constitucional na época era o mais novo e inovador legado legislativo. Sabe-se que foi através da constituição de 1988, que se abriu uma nova forma de ver juridicamente a regulamentação do direito, eleito o mais moderno na época. A própria sociedade clamava por mudanças, isso por que vários pontos abrangentes da constituição traziam consigo uma grande revolução e constantes transformações e ainda interpretações. O direito pátrio teria que de alguma forma se moldar e adaptar. (PADOIN, 2009, p. 13).

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Contudo, compreende-se que a Constituição Federal opera uma verdadeira releitura dos institutos de direito privado trazendo consigo valores inseridos. Ainda no entender de Fabiana Fachinetto, (2009, p.14-15) “A constituição se torna o centro unificador do sistema jurídico, sendo verdadeira fonte sob a qual os pilares e as hastes de sustentação do ordenamento”.

Analisando os direitos fundamentais através da linha de raciocínio ferrajoliana, tem-se a definição destes direitos pelo ilustre jurista italiano Ferrajoli (2011, p. 9):

São “direitos fundamentais” todos aqueles direitos subjetivos que dizem respeito universalmente a “todos” os seres humanos enquanto dotados de status de pessoa, ou de cidadão ou de pessoa capaz de agir. Compreendo por “direito subjetivo” qualquer expectativa positiva (a prestação) ou negativa (a não lesão) vinculada a um sujeito por uma norma jurídica, e por status a condição de um sujeito prevista também está por uma norma jurídica positiva qual pressuposto da sua idoneidade a ser titular de situações jurídicas e/ou autor dos atos que estão em exercício.

Complementando a definição transcrita, Ferrajoli (2011, p. 11) explica que:

Esse caráter “formal” da nossa definição não impede que ela seja suficiente para identificar, nos direitos fundamentais, a base da igualdade jurídica. Graças a isso, de fato, a universalidade expressa pela quantificação universal dos (tipos de) sujeitos que de tais direitos são titulares vem a se configurar como um dos seus corolários estruturais, que, como veremos, comporta o caráter inalienável e indisponível dos interesses substanciais nos quais esses direitos consistem.

Neste sentido, aos direitos fundamentais são atribuídos uma maior exatidão, embora já estavam introduzidos e como consequência muitas vezes utilizados e aplicados no cotidiano das pessoas, passando então ter maior respeito quando notados nos textos constitutivos do Estado.

A positivação de novos direitos fundamentais nas palavras de Daniel Barile da Silveira (2018) é um caminho trilhado em busca de uma via do Legislativo, que tem a missão de ser o filtro das expressões mais fragmentadas e significativas da sociedade, canalizando suas reclamações em forma de projetos legislativos, porém, nem sempre isso acontece. Como é comum de democracias tradicionais ou de um sistema pol ítico

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que ainda não representa essa capitalização das diversidades setoriais da sociedade, como no caso brasileiro, temas polêmicos, mas que expressam a positivação necessária de direitos fundamentais acabam sendo abandonados porque se mostram antipáticos à maioria constituída. (SILVEIRA, 2018).

Ainda nas palavras de Silveira (2018)

Assim, qualquer causa que não seja a da maioria, acaba enfrentando o risco de ser vencida no debate público, perdendo massa evolutiva em face de discursos convergentes representativos de grupos sociais majoritários. A visão do outro desaparece em face do atendimento dos interesses macroidentitários da população, isto é, com o qual a maioria da população se identifica. Nem sempre se dá voz, assim, aos interesses, igualmente legítimos e constitucionais, das minorias estabelecidas.

Em análise complementar Sabrina Batista Sampaio os direitos humanos fundamentais, em sua concepção atualmente conhecida, surgiram como produto da fusão de várias fontes, desde tradições arraigadas nas diversas civilizações, até a conjugação dos pensamentos filosófico-jurídicos, das ideias surgidas com o cristianismo e com o direto natural. (SAMPAIO, 2017).

Na mesma linha de pensamento, a escritora Sampaio, aduz,

Essas ideias encontraram um ponto fundamental em comum: a necessidade de limitação e controle dos abusos do poder do próprio Estado, e de suas autoridades constituídas, e a consagração dos princípios básicos da igualdade e da legalidade como regentes do Estado moderno e contemporâneo. (SAMPAIO, 2017).

Assim, pode se ter uma percepção de que a noção de direitos fundamentais é mais antiga que o surgimento da ideia de constitucionalismo, que, tão somente, buscou a necessidade de implantar um rol mínimo de direitos humanos em um documento escrito, que decorria da vontade soberana e popular.

Alexandre de Moraes (2011, p.308) entende que “os direitos humanos fundamentais se colocam como uma das previsões absolutamente necessárias a todas as Constituições, no sentido de consagrar o respeito à dignidade humana, garantir a limitação de poder e visar ao pleno desenvolvimento da personalidade humana. [...].

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Ainda no mesmo entender Alexandre De Moraes (1998)

A constitucionalização dos direitos humanos fundamentais não significou mera enunciação formal de princípios, mas a plena positivação de direitos, a partir dos quais qualquer indivíduo poderá exigir sua tutela perante o Poder Judiciário para a concretização da democracia. Ressalte-se que a proteção judicial é absolutamente indispensável para tornar efetiva a aplicabilidade e o respeito aos direitos humanos fundamentais previstos na Constituição Federal e no ordenamento jurídico em geral. (MORAES, 1998, p.18)

No entanto, pode-se ver a necessidade dos direitos humanos, e entender sua evolução junto com a Constituição Federal de 1988. A positivação, inclusão no meio social, na política, e a aceitação do povo, mais tardar ainda a necessidade de aperfeiçoar os direitos inerentes de todos. A importância da segunda Guerra no que tange a criação de direitos mínimos para ser humano, e com ela a disseminação da necessidade de Constituições, com um rol mínimo de direitos fundamentais, de cada Estado.

1.2 Direitos Fundamentais Constitucionais positivados pela Carta Magna de 1988

Antes de mais nada, deve-se fazer uma distinção entre os direitos humanos e os direitos fundamentais, em palavras sucintas o autor Athena Bastos explica que ,

Os direitos humanos, em geral, fazem referência ao conjunto de direitos e garantias inerentes aos seres humanos, mas estabelecidos em nível internacional. São aqueles direitos, então, previstos na Declaração de Direitos Humanos da ONU. E assimilados, portanto, por todas as nações que assinaram e reconhecem a Declaração. Tratam-se, enfim, de valores essenciais à persecução da dignidade humana. (BASTOS, 2018)

No mesmo sentido conceitua os direitos fundamentais,

Já os direitos e garantias fundamentais, inspirados nos pactos e acordos de direitos humanos, são aqueles consolidados dentro do ordenamento jurídico brasileiro, com base, sobretudo, no princípio da dignidade humana. São, além de garantias materiais, garantias formais. E, como se verá, previstos na Constituição Federal de 1988. (BASTOS, 2018).

Neste sentido pode ser observado que os direitos fundamentais são inerentes a pessoa humana, e essências a vida digna. Além do mais esses direitos são irrenunciáveis,

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inalienáveis e invioláveis, ou seja, deste modo ninguém pode recusá-lo, não podem ser vendidos, trocados ou postos em risco de violação como forma de punição, são imprescritíveis e universais.

Em uma breve análise histórica acerca dos direitos fundamentais, Aragão (2001) diz que os primórdios dos direitos fundamentais têm lugar ainda na Idade Antiga e na Idade Média, bem como no início da Idade Moderna, sendo que a maioria das ideias que explicam a existência de tais direitos têm na história sua fundamentação mais importante. Um bom exemplo disto é a influência das revoluções francesa, inglesa e americana no reconhecimento e na positivação dos direitos essenciais à pessoa humana.

Desta forma, Bobbio (2004, p. 05-06) afirma que os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos, ou seja, são nascidos em certas circunstâncias, caracterizados por “lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todas”, daí dizer-se que estes direitos “não nascem todos de uma vez, mas sim quando as condições lhes são propícias, quando passa-se a reconhecer a sua necessidade para assegurar a cada indivíduo e a sociedade um existência digna”.

O ilustre jurista Norberto Bobbio ensina que:

os direitos do homem são direitos históricos, que emergem gradualmente das lutas que o homem trava por sua própria emancipação e das transformações das condições de vida que essas lutas produzem. Nesse sentido os direitos ditos humanos são o produto da civilização humana; enquanto direitos históricos, eles são mutáveis, ou seja, suscetíveis de transformação e de ampliação. (BOBBIO, 2004, p. 51)

Sobre o tema, destaca-se trecho da obra do autor Ingo Wolfgang Sarlet:

a história dos direitos fundamentais é também uma história que desemboca no surgimento do moderno Estado constitucional, cuja essência e razão de ser residem justamente no reconhecimento e na proteção da dignidade da pessoa humana e dos direitos fundamentais do homem. (SARLET,2011, p.36)

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Antes de abordar em específico os princípios fundamentais da dignidade da pessoa humana e a solidariedade social, deve ser feita uma breve análise da ligação dos direitos fundamentais, o estado liberal ligava se a noção de direito subjetivo público, onde essa construção foi o principal obstáculo à ideia de aplicação de direitos fundamentais na esfera de direito privado. No entender de Fabiana Padoin, (2009, p. 33): “A Constituição Federal de 1988 pôs em relevo os direitos fundamentais da pessoa humana, adotando, no seu art. 1º, inc. III, a dignidade como fundamentos basilares do Estado Democrático de Direito [...]”

Para Jane Reis Gonsalves Pereira (2003) os direitos fundamentais eram entendidos como limitações que o estado criava impostas a si mesmo, a fim de coibir eventuais abusos cometidos contra o indivíduo. Predominava a ideia de que a relação do Estado e o indivíduo era verticalizada cabendo o direito público disciplinar. (PEREIRA 2003)

A fim de definir um conceito para dignidade da pessoa humana, direito fundamental expresso na carta magma de 1988, o doutrinador Ingo Wolfgang Sarlet (2005, p. 37) conceitua nos termos:

Assim sendo, tem-se por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração da parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que asseguram a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de proporcionar e promover sua participação ativa e co-responsavel nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.

Nesse sentido, Flávia Piovesan diz que (2000, p. 54):

A dignidade da pessoa humana, (...) está erigida como princípio matriz da Constituição, imprimindo-lhe unidade de sentido, condicionando a interpretação das suas normas e revelando-se, ao lado dos Direitos e Garantias Fundamentais, como cânone constitucional que incorpora “as exigências de justiça e dos valores éticos, conferindo suporte axiológico a todo o sistema jurídico brasileiro.

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É no valor da dignidade da pessoa humana que a ordem jurídica encontra seu próprio sentido, sendo seu ponto de partida e seu ponto de chegada, na tarefa de interpretação normativa. Consagra-se, assim, dignidade da pessoa humana como verdadeiro super princípio a orientar o Direito Internacional e o Interno.

Levando em conta essa definição, cabe sustentar que a dignidade da pessoa humana é um princípio fundamental que pode ser abrangido em várias gerações individuais, intersubjetivas e culturais. Na esfera individual a dignidade da pessoa humana é vista como um direito inerte a cada ser humano, independente da sua condição pessoal.

A dimensão intersubjetiva ou social à dignidade humana é vista através da vida em sociedade, onde todos os seres humanos vivem em sociedade, reconhecidos como iguais, pois possuem direitos. Enfim, na dimensão da cultura a dignidade da pessoa humana é vista como resultado do trabalho de diversas gerações, considerada universalmente, estão sempre em processo de evolução e desenvolvimento.

No plano internacional os direitos fundamentais têm como referência histórica a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, dando início ao progresso de generalização do direito humano e fundamental. Nas palavras de Flavia Piovesan (1997, p.161) “em suma, todos os direitos humanos constituem um complexo integral único e indivisível, em que diferentes direitos estão necessariamente inter-relacionados e são interdependentes entre si.”. Após um período difícil da história da Segunda Guerra Mundial a Declaração busca uma tutela de liberdade e igualdade.

Neste sentido o Supremo Tribunal Federal vem admitindo a aplicação dos direitos fundamentais às relações privadas, por entender que é importante a atenção aos direitos fundamentais por todos cidadãos, após a Constituição Federal 1988, ter estabelecido a isonomia em seu art. 5º.

[...] todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes[...]. (BRASIL, 2019)

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No mesmo sentido Daniel Gomes Sarnamento leciona:

A partir do voto-vista do ministro Gilmar Mendes, para quem “o entendimento segundo o qual os direitos fundamentais atuam de forma unilateral na relação entre o cidadão e o Estado acaba por legitimar a ideia de que haveria para o cidadão sempre um espaço livre de qualquer ingerência estatal”. A seu ver, os direitos privados remeteriam a um direito fundamental que não poderia ser tolhido pela mera presunção da igualdade horizontal entre particulares. SARMENTO,2011, p. 84.)

A nossa constituição de 1988 ampara não só os direitos e garantias fundamentais estabelecidos na Constituição, assim, estão dispostos, de modo geral, nos seguintes artigos, Direitos e deveres individuais e coletivos (art. 5º, CF), Direitos sociais (art. 6º ao art. 11, CF), Direitos da nacionalidade (art. 12 e art. 13, CF), Direitos políticos (art. 14 ao art. 16, CF).

1.3 Fenômeno da Constitucionalização do Direito Privado no Ordenamento brasileiro.

Para se falar em constitucionalização do direito privado, necessária a realização de uma breve análise histórica acerca de onde o direito privado e o direito público surgiram, para então entender sobre o fenômeno da constitucionalização.

Elisa Ustárroz (2007) entende que o período sucessivo às duas grandes guerras, as Constituições passaram a consagrar valores, direitos e garantias fundamentais, que não se limitavam somente à proteção das liberdades, mas se referiam a outros elementos basilares da dignidade humana, “principalmente, para a igualdade material. Além disso, na medida em que a força normativa que já possuíam desde o período liberal passou a ser garantida por autêntica jurisdição, as Constituições deixaram de ser meras cartas de princípios. ”.

Partindo da premissa da importância da constitucionalização o autor Eugênio Facchini Neto aduz,

Parte dessa regulamentação passou a ter tamanha importância que foi elevada à dignidade constitucional. Temos, então, o fenômeno da constitucionalização de certos princípios e institutos fundamentais do direito privado, como é o caso

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da família, da propriedade, da atividade econômica – ou seja, passam a estar disciplinados na constituição os princípios fundantes dos três institutos básicos do direito privado, na conhecida concepção dos três pilares de Jean Carbonnier – família, propriedade e contrato. (NETO, p.14-15)

Canotilho (2001) observa os riscos do processo de constitucionalização do direito civil tanto para a Constituição, quanto para o Direito Privado, explicando que

à ordem jurídica privada não está, é certo, divorciada da Constituição. Não é um espaço livre de direitos fundamentais. Todavia, o direito privado perderá a sua irredutível autonomia quando as regulações civilísticas – legais ou contratuais – vem o seu conteúdo substancialmente alterado pela eficácia directa dos direitos fundamentais na ordem jurídica privada. A Constituição, por sua vez, é convocada para as salas diárias dos tribunais com a consequência da inevitável banalização constitucional. (CANOTILHO,2001, p.113).

De acordo com Elisa Ustárroz, o marco inicial da divisão entre Direito Público e Privado tem sido apontado como sendo o Direito Romano,

Na medida em que o Corpus Iuris Civilis já consagrava os termos ius publicum e ius privatum, bem como lex pública e lex privata, todavia, sem a mesma conotação semântica que atribuímos atualmente aos vocábulos, cujos significados foram ampliados durante o período medieval. (Ustárroz, 2007).

Com o enfraquecimento do Império Romano conforme palavras de Ustárroz (2007) os povoados da região criaram a sua autonomia, importando na fragmentação territorial e social do poder político e, em consequência, o direito passou a ser marcado pela descentralização de suas fontes, assim como em sua aplicação.

Em uma breve reflexão acerca dessa evolução Gisele Leite (2014) explica:

É estudo contemporâneo observar atentamente a constitucionalização do direito, principalmente a partir da análise de irradiação dos valores constitucionais para todo o ordenamento jurídico brasileiro, e ainda, demonstrar os efeitos dessa projeção axiológica que tanto remodelou o direito privado. Realmente a nova hermenêutica constitucional nos orienta no sentido de dar maior efetividade aos princípios constitucionais, superando a compreensão de que os direitos fundamentais apenas teriam o poder de proteger o indivíduo em face do Estado. (LEITE, 2014)

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traz consequências específicas e, peculiar repercussão no direito brasileiro. Tanto assim que há decisões da Corte Constitucional alemã que servem de fonte doutrinária e jurisprudencial para nosso direito constitucional. É sabido que os direitos fundamentais, tal como lhes concebeu a doutrina e as jurisprudências constitucionais desenvolvidas na segunda metade do século XX, passaram a tecer a base de todos os ordenamentos jurídicos, como valores informativos e diretivos, de maneira a figurar, conforme ressalta Robert Alexy, como normas de otimização da aplicação das regras jurídicas. (LEITE,2014)

A partir desta mudança do pensamento do ordenamento jurídico, só aconteceu pelo reconhecimento da superioridade da Constituição Federal, da existência da força normativa e de seus princípios.

Partindo da premissa que a constitucionalização do possui três fases para definir seu entender Luís Roberto Barroso explica.

Sendo a primeira destas a que o entende como existência, num determinado Estado, de uma ordem jurídica com Constituição própria, dotada de supremacia. A segunda acepção consiste no entendimento de que a expressão constitucionalização do direito significa o fato de que as normas jurídicas tipicamente infraconstitucionais passam a fazer parte do corpo normativo contido na Carta Magna. A terceira e última mudança teórica que revolucionou a prática do Direito Constitucional e do Direito de uma maneira geral foi o desenvolvimento de uma nova interpretação constitucional, de novas categorias para a interpretação constitucional. (BARROSO, 2009).

Ainda no entender de Luís Roberto Barroso (2009)

o reconhecimento das colisões de normas constitucionais sejam normas de princípios, sejam normas de direitos fundamentais, a necessidade da ponderação como técnica de decisão e a reabilitação da argumentação jurídica como fundamento de legitimidade das decisões criativas do Poder Judiciário (BARROSO,2019).

A escritora Gisele Leite (2014) acrescenta dizendo que a constitucionalização no direito privado é visível através de limitações construídas aos dois institutos mais prestigiados pela doutrina jusprivatística, “ a autonomia da vontade, a relatividade à liberdade de contratar; e uso da propriedade privada, mediante a subordinação aos valores constitucionais e o respeito aos direitos fundamentais [...].

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A partir de então, houve uma mudança nas relações entre Direito Público e Direito Privado, porquanto as disposições normativas constitucionais passaram a ingerir no domínio privado. Da incomunicabilidade existente entre as esferas, se estabeleceu, pois, uma relação hierárquica de supremacia e complementaridade. As normas constitucionais conferiam conteúdo às normas de Direito Privado, adequando a letra da lei aos propósitos esculpidos na Carta Magna. (USTÁRROZ, 2007)

No entanto, ao entender de Eugênio Facchini Neto,

Da constitucionalização do direito civil decorre a migração, para o âmbito privado, de valores constitucionais, dentre os quais, como verdadeiro primus inter paris, o princípio da dignidade da pessoa humana. Disso deriva, necessariamente, a chamada repersonalização do direito civil, ou visto de outro modo, a despatrimonialização do direito civil. Ou seja, recoloca-se no centro do direito civil o ser humano e suas emanações. O patrimônio deixa de estar no centro das preocupações privatistas (recorde-se que o modelo dos códigos civis modernos, o Code Napoleon, dedica mais de 80% de seus artigos à disciplina jurídica da propriedade e suas relações), sendo substituído pela consideração com a pessoa humana. (NETO, 2013, p. 09-46.)

No entanto cabe ser observado neste contexto, pós-positivista, o respeito das normas inferiores à Constituição, a autora Maria Celina Bodin de Moraes mostra que a constituição não é examinada apenas sob o ponto de vista formal, após procedimento de sua criação, “com base em sua corres pendência substancial aos valores que, incorporados ao texto constitucional, passam a conformar todo o sistema jurídico. ”

Valores que adquirem positividade na medida em que consagrados normativamente sob a forma de princípios. Assim, a solução normativa aos problemas concretos não se pauta mais pela subsunção do fato à regra específica, mas exige do intérprete um procedimento de avaliação condizente com os diversos princípios jurídicos envolvidos.( BODIN, 2006).

Neste sentido o direito constitucional acaba estando no topo da pirâmide, de acordo com Elisa Ustárroz,

O Direito Constitucional tem suma importância por estar no ápice do ordenamento jurídico mediando as relações entre o Direito e a Política, de tal forma possibilitando um ajustamento das relações fundamentais de poder. Trazer normas de Direito Privado para dentro da Constituição acabaria por diluir a importância desta e desfazer a perfeita coerência do ordenamento jurídico.( Ustárroz 2007)

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a presença de normas de Direito Privado na Constituição não altera a realidade. Por exemplo, observa-se que a inserção da regra constitucional que passou a reconhecer expressamente a união estável não alterou a realidade social. O instituto da união estável já vinha sendo reconhecido pelos nossos Tribunais, na medida em que a sociedade o reconhecia. Não era necessário que a norma passasse ao texto constitucional, pois a matéria é notadamente de Direito Privado. (Ustárroz,2007)

Na mesma oportunidade ainda,

Deveria se fazer presente no âmbito do Direito Ordinário, e, apenas por interpretação, estaria contida na Constituição quando essa se refere à família. De qualquer sorte, a presença da norma na Constituição não assegura que o juiz, ao julgar o caso concreto, entenda e fundamente não se tratar da hipótese prevista constitucionalmente, deixando de aplicar o preceito constitucional O artigo 226, § 3º, da Constituição Federal consagra que “para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento” (Ustárroz 2007)

Portanto, se faz importante a análise histórica do direito civil, da evolução que a constitucionalização trouxe para ordenamento jurídico, assim ficando cada vez mais limitada a negociação privada em contratos.

Além dos princípios constitucionais norteadores do Código Civil, tambem são princípios de direito civil a intangibilidade familiar, que estabelece direitos e deveres das famílias e ainda estabelece este como um dos elementos centrais da sociedade. Princípio da Personalidade, garante que todos os seres humanos têm direito a existir; e vivendo em sociedade possuem tanto direitos como obrigações. Princípio da Autonomia da Vontade todos os seres humanos são livres para agir de acordo com usa vontade desde que não firam outros princípios. Princípio da Liberdade de Estipulação Negocial tem como garantia aos cidadãos a liberdade de fazer negócios de compra e venda ou abrir empresas; Princípio da Igualdade Social os cidadãos são iguais e possuem os mesmos direitos e deveres. (NEVES, 2019)

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2. A EXCLUSÃO DE AMANTE COMO BENEFICIÁRIO EM CONTRATO DE SEGURO, DE VIDA

2.1 Especificidades do contrato de seguro de vida

O contrato de seguro de vida no Brasil pode ser considerado recente de acordo com Lais Manica (2010, p.16). Em sua breve análise acerca dos contratos de seguro de vida, menciona que “em 1916, com a promulgação do código civil, houve a regulamentação do contrato de seguro, tanto de coisas quanto de pessoas. Assim o contrato de seguro de vida passou a ser expressamente permitido”[...]. Em análise geral os contratos de seguro de vida são contratos bilaterais e comutativos. Portanto a estrutura fundamental do contrato no país atualmente é regida pelo código civil de 2002, ficando disposta a legislação extravagante e a Constituição Federal de 1988.

O seguro de acordo com Fábio Ulhoa Coelho (2012, p.638) “é o contrato em que uma das partes (sociedade seguradora) assume, mediante o recebimento do prêmio, a obrigação de garantir interesse legítimo da outra (contratante do seguro ou segurado) contra riscos predeterminados. ”

Para Pedro Alvim, “Seguro é o contrato pelo qual o segurador, mediante o recebimento de um prêmio, assume perante o segurado a obrigação de pagamento de uma prestação, se ocorrer o risco a que está exposto”. No seu entender, a definição proposta “convém aos seguros de dano e de pessoa. Delimita os contratos de seguro e de jogo, pois não se aplica a este, dada a exigência de ser o risco do próprio segurado. Seu maior mérito é pôr a salvo a unidade de conceito do contrato de seguro”. (ALVIM 1986, p 113 e 115).

No mesmo sentindo, escreve ainda Fabio U. Coelho:

Caracteriza-se o seguro como contrato de adesão, consensual e comutativo. Quanto à primeira característica, ressalto que é necessariamente um contrato de adesão, na medida em que a socialização de riscos, pressupõe a contratação de uma quantidade mínima de pessoas expostas a riscos homogêneos, em condições que atendam às estimativas resultantes de cálculos atuariais. (COELHO, 2012, p. 713)

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Fábio Ulhoa Coelho, (2000, p.9-11) na apresentação da obra O Contrato de Seguro, “concluiu mas entre as pouquíssimas razões para celebrar a entrada em vigor do Código Reale estão as novas regras sobre o Contrato de Seguro”. Assim ao conceituar a obrigação da entidade seguradora,

como a de garantir o interesse legítimo do segurado (art. 757), a nova codificação atribuiu ao contrato natureza comutativa. Espancou, de vez, a defasada concepção de que na obrigação das seguradoras haveria uma álea (como se elas não estivessem obrigadas a se organizar, empresarialmente, de modo a poder entregar ao segurado o que ele busca através do seguro: garantias. De outro lado, ao conferir à apólice a condição de documento de prova e não de constituição do vínculo contratual (art. 758), o novo Código desveste o contrato de solenidade, classificando-o acertadamente entre os consensuais. (COELHO, 2000, p.9-11).

Nos seguros de pessoa, o risco envolve a pessoa do segurado, ou seja, sua vida ou integridade física. O interesse objeto de cobertura não integra o patrimônio do segurado ou contratante do seguro. Marcello Teixeira Bittencourt esclareceu que o contrato de seguro: [...]

É o acordo de vontades firmado entre as sociedades de seguro (seguradoras) e o consumidor (segurado), cujo objetivo é a promessa de uma prestação futura pela seguradora (indenização), mediante pagamento de uma quantia pecuniária pelo segurado (prêmio), em face da ocorrência de um risco coberto pela apólice. (BITTENCOURT, 2000, p. 21).

Em complemento Carlos Roberto Gonçalves, segue a linha em que o principal elemento de um contrato de seguro é

Elemento é o risco, que se transfere para outra pessoa. Nele intervêm o segurado e o segurador, sendo este, necessariamente, uma sociedade anônima, uma sociedade mútua ou uma cooperativa, com autorização governamental (CC, art. 757, parágrafo único), que assume o risco, mediante recebimento do prêmio, que é pago geralmente em prestações, obrigando-se a pagar ao primeiro a quantia estipulada como indenização para a hipótese de se concretizar o fato aleatório, denominado sinistro. (GONÇALVES, 2017, p. 501).

Os riscos garantidos pelo seguro de vida estão relacionados à duração da vida humana, sempre incerta. De acordo com o autor Fábio Ulhoa Coelho, “Pode ser o risco de ela durar menos ou mais que o prazo definido no contrato, mas o seguro será sempre

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uma garantia contra a incerteza do momento da morte. O seguro de vida pode ser contratado por prazo determinado ou por toda a vida do segurado”. (COELHO, 2002, p. 772)

O contrato pode ser bilateral ou sinalagmático, pois gera obrigações de ambas as partes. É ser oneroso, porque se obtêm proveito, o qual corresponde a um sacrifício. Tipicamente aleatório para o segurado, pois sua prestação depende de fato eventual.

O seguro de vida tem também natureza aleatória e nítido caráter de uma estipulação em favor de terceiros, uma vez que, de um lado, se encontra o segurado, como estipulante; de outro, o segurador, como promitente-devedor; e, por fim, o beneficiário, como terceiro em favor de quem se faz a estipulação. (GONÇALVES 2017, p. 521)

O risco por si só, no pensamento de Gonçalves nada mais é que “um elemento essencial nessa modalidade contratual, como acontecimento incerto, independente da vontade das partes. Falta-lhe objeto se o interesse segurado não estiver exposto a risco.” Carlos Gonçalves (2017, p.503).

Em completo a doutrina de Gonçalves o autor Arnaldo Rizzardo, escreve sobre o elemento do risco.

Constitui a apólice o instrumento probatório do contrato de seguro, devendo conter enumeração dos riscos transferidos ao segurador, os dados sobre o prazo de vigência e as obrigações assumidas pelas partes. Deverá ser precedida a proposta escrita, enviada naturalmente pelo segurador, para viabilizar a análise ponderada do candidato a seguro, como enseja o art. 759: “a emissão da apólice deverá ser precedida de proposta escrita com declaração dos elementos essências do interesse a ser garantido e dos riscos”.

E ainda Rizzardo (2017),

O art.760 discrimina os elementos que deverão estar presentes no contrato, a apólice ou o bilhete de seguro serão nominativos, a ordem ou ao portador, e mencionarão os riscos assumidos, início e o fim de sua validade o limite da garantia e o prêmio devido, e quando for o caso, nome do segurado e beneficiário. (RIZZARDO, 2017 p.843 e 844).

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O seguro de vida é de natureza privada tem cunho alimentar, não deve ser confundida com a denominação de Seguro social, Carlos Gonçalves (2017) “A sua importância pode ser constatada pela disposição do art. 795, que considera “nula, no seguro de pessoa, qualquer transação para pagamento reduzido do capital segurado”, embora a hipótese seja, na realidade, de ineficácia”. (GONÇALVES, 2017, p. 523-524).

O seguro de pessoa não é considerado típico contrato de indenização. O que pretende o segurado é que, por sua morte, seja pago ao beneficiário, que designou, certa soma em dinheiro, ou então, se tiver atingido certa idade, que essa soma lhe seja paga. A finalidade do supratranscrito art. 795 é assegurar que o capital ajustado não sofra nenhuma redução por transações estranhas à finalidade do seguro. Aplica-se-lhe, pois, quando da execução do capital, o princípio de que não pode ser utilizado para solucionar qualquer outra obrigação do segurado ou do beneficiário que acarrete diminuição do valor a receber, mesmo que seja pelo instituto da transação.

Fabio Coelho (2002, p.774) em complemento com autor citado, demostra quem pode ser beneficiário do seguro de vida, “quem indica o beneficiário, no seguro de vida, é sempre o contratante. Em geral, são beneficiados os membros mais próximos da família, como o cônjuge ou companheiro, os filhos ou pais. ”

A nomeação é feita na proposta e consta da apólice. É comum, aliás, a indicação de mais de um beneficiário, hipótese em que o segurado deve especificar o percentual do capital cabível a cada um. Noto que, ao tratar da validade da nomeação do companheiro como beneficiário do seguro, o art. 793 do Código Civil sugere uma restrição incompatível com o atual estágio de evolução do direito de família brasileiro. Da primeira leitura da norma resulta que a nomeação do companheiro é válida apenas se o segurado está separado judicialmente ou de fato. (COELHO,2002, p.774)

Fabio Ulhoa Coelho ainda explica em casos que houver omissão do segurado na nomeação do beneficiário,

Estabelece a lei o seguinte critério: metade do capital deve ser paga ao cônjuge, exceto se ele e o segurado estavam separados judicialmente ao tempo do sinistro; o restante aos herdeiros do segurado, obedecida a ordem de vocação hereditária (CC, art. 792). A aplicação dessa regra pode ser bastante difícil em algumas situações. Se o segurado era, por exemplo, casado em regime de comunhão parcial e deixou bens particulares, o cônjuge terá direito não só à metade do capital que a norma sobre o contrato de seguro lhe reserva como também o de concorrer com os demais herdeiros — descendentes ou ascendentes —, se houver, na divisão da outra metade. (COELHO, 2002, p.774)

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Na mesma linha de pensamento, o autor Carlos Gonçalves traz tambem a classificação de quem pode ou não ser beneficiário

No seguro de vida o estipulante pode escolher livremente os beneficiários, preterindo, se assim o desejar, os próprios parentes em favor de estranhos, como pode também não indicar, desde logo, o nome do beneficiário. Se omitir a indicação, ou se por qualquer motivo não prevalecer a que for feita, a sua vontade será suprida pela lei, que determina seja o montante segurado, nessas duas hipóteses, “pago por metade ao cônjuge não separado judicialmente, e o restante aos herdeiros do segurado, obedecida a ordem da vocação hereditária” (CC, art. 792). (GONÇALVES, 2017, p. 525)

Em se tratando de casos em que o segurado, tente contra própria vida, Fabio Ulhoa Coelho explica,

O suicídio que não deve dar ensejo à liquidação do seguro de vida por morte é somente aquele em que o risco de morte do segurado (isto é, a possibilidade de vir a ocorrer ou não o evento) deixa de existir, porque ele próprio realiza o sinistro. Esse fato compromete a eficiência de qualquer sistema de socialização de riscos. De modo geral, se o segurado sempre fez seguro de vida e às tantas resolveu se suicidar, isso é absorvível pelos cálculos atuariais; se, no entanto, foi fazer o seguro depois de decidir pôr fim à vida, então houve premeditação implosiva desses cálculos. (COELHO,2002 p.783).

A lei explica de forma objetiva a premeditação, sendo assim ela fixa um prazo mínimo do contrato a partir do qual o suicídio do segurado não exonera a seguradora do pagamento do capital. O suicídio reconhecido como não premeditado em alguns casos, é coberto pelas seguradoras, na forma de morte acidental e não natural. No entendimento de Gonçalves, (2017, p.528) “O valor da indenização por morte natural corresponde à metade do quantum a ser pago em caso de morte acidental. O segurador não pode eximir-se ao pagamento do eximir-seguro, ainda que da apólice conste a restrição”.

Se a morte ou a incapacidade do segurado provier da utilização de meio de transporte mais arriscado, da prestação de serviço militar, da prática de esporte, ou de atos de humanidade em auxílio de outrem”, como expressamente dispõe o art. 799 do Código Civil. Anote-se que a regra não se aplica somente aos casos de sinistro com morte, mas também àqueles em que o dano resulta em incapacidade. (GOLÇALVES, 2017, p.529)

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Gonçalves (2017, p.529) expressa que os “atos de humanidade em auxílio de outrem” compreende os praticados em estado de necessidade, quando alguém arrisca a própria vida para salvar a de outra pessoa; em legítima defesa de terceiro; para salvar alguém de incêndio, naufrágio ou outro meio violento”.

Portanto, pode-se perceber que a questão do direito ao seguro de vida tem como base uma peculiaridade, existe lei que legisla sobre quem pode ou não ser beneficiário, dentro desse rol de beneficiários ainda não citados por autores estaria inclusa amante, além do cônjuge, ascendente e de descendente.

2.2 O contrato de seguro de vida e a aplicação dos princípios constitucionais

O contrato de seguro de vida é tambem regido pelo princípio de boa-fé dos contratantes e contratado, amparado pelo código Civil de 2002 em seu art.768, as partes ficam obrigadas, quanta a conclusão e a execução do contrato. “A mais estrita boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele concernentes.”. Brasil (2002).

A expressão boa-fé integra o vocabulário comum. É usada até mesmo pelas pessoas sem cultura. Quando se diz que fulano está de boa-fé, todos entendem perfeitamente a frase. Em sentido amplo, significa honestidade, lealdade, probidade. Expressa intenção pura, isenta de dolo ou engano. (ALVIM, 2007, p.43).

Laís Manica, aduz que quem teria o dever estrito de boa-fé exigido do contratante do seguro comportaria um elemento especifico deste contrato, ou seja, não se confundiria,

Ao tratar da boa-fé nos seguros, a lei refere-se a relevância da conduta das partes para interesses de sujeitos estranhos aquele contrato especifico. O descumprimento do dever de agir de forma leal e proba prejudica não so os interesses do segurado individualmente (MANICA,2010, p.21)

Portanto neste sentido Fabio Ulhoa Coelho sintetiza,

Exige-se a boa-fé do contratante porque os interesses dos demais segurados dependem do agir com lealdade dele e, se este, por exemplo, vier a mentir

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acerca de fato relevante para pagar prêmio menor, o fundo constituído será suficiente para atender todos os sinistros (COELHO,2005, p.315)

Conforme o entendimento de Flávio Alves Martins (2000), a importância deste instituto, que, embora não se possa afirmar que todas as normas jurídicas de um determinado ordenamento sejam derivadas de boa-fé, “pode-se dizer que é um dos princípios que mais influencia o sistema, representando o reflexo da ética no fenômeno jurídico. ”

A boa-fé guarda em si uma antiga e (hoje) notória distinção entre a chamada boa-fé subjetiva e a boa-fé objetiva. Aquela, considerada como a concepção na qual o sujeito ignora o caráter ilícito de seu ato, esta, um pouco mais exigente, considera-se como a que não protege o sujeito que opera em virtude de um erro ou de uma situação de ignorância o seu comportamento não é o mais adequado conforme a diligência socialmente exigível". (MARTINS, 2000, p.16).

A boa-fé objetiva seria uma regra de conduta imposta, mas não definida em lei, remetendo a princípios e normas sociais. A subjetiva se caracterizaria como um estado e a objetiva, uma regra de conduta. Cabe ressaltar, entretanto, que os dois significados não são antagônicos e sim complementares, devendo nortear todo o comportamento humano dentro do universo jurídico.

a boa-fé desempenha função das mais importantes no contrato de seguro, sendo, talvez, o seu fundamento mais eloquente, sua principal peculiaridade, tanto que “contrato de extrema boa-fé”, “da mais estrita boa-fé”, “de máxima boa-fé”. O contrato de seguro está de tal forma fundado na boa-fé que sua ausência é suficiente para retirar-lhe a eficácia como decorre, em nosso direito, do art. 766 do CC. (SANTOS, 2006, p.505)

O autor Santos, explica ainda que,

Tanto assim que mereceu também a atenção do nosso Código Penal, no inciso V do art. 171, que trata da fraude para recebimento de indenização ou valor do seguro, refletindo a situação que se produz quando o segurado procura intencionalmente a ocorrência do sinistro ou exagera suas consequências, com ânimo de obter enriquecimento sem causa, o que é em síntese um atentado ao princípio da boa-fé subjetiva. (SANTOS, 2006, p.505)

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O Código de Defesa do Consumidor, no capítulo concernente às ações de responsabilidade do fornecedor de produtos e serviços, estabelece que “o réu que houver contratado seguro de responsabilidade poderá chamar ao processo o segurador, vedada a integração do contraditório pelo Instituto de Resseguros do Brasil. Nesta hipótese, a sentença que julgar procedente o pedido condenará o réu nos termos do art. 80 [atual art. 132] do [novo] Código de Processo Civil” (art. 101, II), isto é, o réu e o segurador serão condenados solidariamente ao pagamento dos danos. (GONÇALVES, 2017, p. 539)

Portanto, a partir da aplicabilidade da boa-fé nos contratos de seguro de vida, deve ser feita uma breve análise sobre a função social do mesmo, para compreender a motivação da inclusão na sociedade.

O conceito do princípio do mutualismo explicado por Ivan de Oliveira Silva, (2008, p. 21) “é considerado o precursor do atual sistema de seguros, é definido como: a concentração de esforços de uma coletividade, destinados a garantir a recomposição patrimonial de seus membros que, de uma forma individual, foram vítimas de um infortúnio”.

Sérgio Cavalieri Filho (1998, p.86) esclareceu que "(...) o segurador moderno é um administrador de fundos mutuais; a rigor, não entra com dinheiro próprio para cobrir ou garantir riscos dos outros, mas, sim com o trabalho, técnica e experiência capazes de propiciar adequada gestão a esses fundos.

Aduz ainda o autor Nelson Borges (2004, p.5)

A mutualidade, portanto - e essa é outra ideia-força é suporte econômico essencial em toda operação de seguro; haverá sempre um grupo de pessoas expostas aos mesmos riscos que contribuem, reciprocamente, para reparar as consequências dos sinistros que possam atingir qualquer uma delas

Em complementação, Cavalieri Fillho (1998, p.86),

Analisando a posição da seguradora nessa relação jurídica, de sua condição de mera administradora de um monte previdenciário, nascido - repita-se pela importância - da ideia básica de um mutualismo, de uma visão social basicamente solidarista. Voltando assim a frisar “O segurador nada mais é que um garante do risco do segurado, uma espécie de avalista ou fiador dos prejuízos que dele podem decorrer. Tão forte é essa garantia que é costume dizer que o seguro transfere os riscos do segurado para o segurador.

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Portanto, a responsabilidade da seguradora equivalesse a responsabilidade do segurado, desta forma não causando prejuízo, ou descumprindo o disposto no ordenamento jurídico.

2.3 O princípio da função social do contrato aplicado ao seguro de vida

O autor Nelson Borges em seu texto fazendo referência ao princípio social do contrato de seguro de vida, menciona que

O Novo Código Civil dispôs em seu artigo 421: “A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato”. Quando a Constituição Federal, em seus artigos 182 e 184, fez referências (pela primeira vez em um texto constitucional) à função social da propriedade, importantes passos foram dados em direção à tão desejada Socialização do Direito ou ao seu correlato mais importante: a repersonalização do homem (BORGES, 2003, p.5)

Aduz ainda o autor que essa função social do contrato pode ser notada após o surgimento da atividade mercantil do ser humano, nas navegações trazidas de um lado para o outro em todo mundo. Em sua transcrição Borges (2003, p.5) explica que

dessa primeira forma de contratação (permuta) surgiu entre os povos que negociavam o interesse pela língua, costumes, religião, culinária, vestuário, sendo que, a princípio, a função social dos pactos definiu-se pela aproximação dos homens e circulação de bens e riquezas.

Da mesma forma aduz Racca

No âmbito do direito consumerista, a função social do contrato visa a tutelar o grupo específico de indivíduos, considerados vulneráveis às práticas abusivas dos fornecedores, portanto, o Código de Defesa do Consumidor intervém de maneira imperativa nas relações jurídicas de direito privado, antes dominadas pelo dogma da autonomia da vontade, ou seja, são normas de interesse social, cuja finalidade é impor uma nova conduta, de molde a transformar a realidade social.( RACCA, 2012,p.19)

No que tange a seara dos direitos dos seguros, de acordo com Rodrigo Racca (2012, p.19) “a função social do contrato possui um caráter especial, pois está

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fundamentada na mutualidade inerente ao sistema securitário”, sendo assim, em uma via de análise, se uma das partes agir de má-fé, antes, durante ou até mesmo depois da execução, todas as partes serão atingidas com as consequências, seguradora, e todo grupo de segurados.

As funções sociais dos contratos de seguro têm com característica ser especial, baseada no princípio de boa-fé, sustentada pela mutualidade, Angélica. Carlini,explica,

Os consumidores de seguros, de modo que, para ser preservada a saúde dessa mutualidade, a primeira função social que deverá ser observada pelas partes é o exercício da mais estrita boa-fé. Nesse sentido, os contratos de seguro só serão individuais na apresentação que se faz ao segurado, pois são contratos de colaboração entre diversas pessoas com riscos semelhantes e que necessitam umas das outras para formar uma mutualidade e formar um fundo mutual suficiente para arcar com os prejuízos, viabilizando a atividade econômica (CARLINI, 2012, p. 23)

Em sua análise sobre a função social dos contratos, Azevedo faz menção sobre a análise de Fernando Noronha, ao escrever que

Efetivamente, se um contrato deve ser considerado como fato social, como temos insistido, então sua real existência há de impor-se por si mesma, para poder ser invocada contra terceiros e, às vezes, até para ser oposta por terceiro as próprias partes. Assim é que não só a violação de contrato por terceiro pode gerar responsabilidade civil deste (como quando terceiro destrói coisa que devia ser prestada ou na figura da indução ao inadimplemento do negócio jurídico alheio), como tambem terceiros podem opor-se ao contrato, quando seja por eles prejudicais (o instituto da fraude contra terceiros é exemplo típico disto. (AZEVEDO, 1998, p.119)

Portanto, pode ser percebido que o princípio da função social nos contratos e negócios é regido pela liberdade contratual e solidariedade social. O código de direito do consumidor segundo a autora Fabiana Padoin (2009, p. 92) “encontram vários dispositivos legais que revelam o princípio da função social do contrato, funcionando os mesmos como mecanismos ou instrumentos de atuação do princípio, comprometidos com satisfação das necessidades sociais e com ideal de igualdade”.

Em parecer, acredita que aparentemente o direito do terceiro que se sentir prejudicado intervir no processo, além de normatizar uma postura, o autor Nelson Borges escreve, complementando

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Consagrada pelos juristas e tribunais, equiparou, neste aspecto, os contratos privados aos administrativos que, por sua natureza, têm como principal objetivo o interesse social, trazendo, ipso facto, uma salutar restrição à liberdade de contratar, que sempre se constituiu na ratio essendi dos contratos privados. Embora hoje não tenha mais a força que lhe foi conferida pelo artigo 1.1342 do Código Civil francês (1904), o princípio pacta sunt servanda ainda é um dos vetores importantes da contratação, razão por que talvez a função social devesse ser considerada apenas como um limite para os efeitos do contrato e não – como pretendeu o artigo 421 – sua razão de ser. Neste aspecto só o tempo poderá dizer do alcance da pretensão legislativa, coadjuvada pelo trabalho de lapidação doutrinária e jurisprudencial. (BORGES, 2003, p.19)

Olímpio Costa Júnior em complemento com Nelson Borges, explicou que

Se as normas jurídicas são regras de conduta, o sistema jurídico de Direito Positivo é o conjunto sistemático de normas que regulam situações da vida social, da conduta humana em sua interferência intersubjetiva, seja direta ou indireta. Direta quando envolve sujeito de direito e deveres correlatos, indireta quando se refere reflexivamente a terceiros. (COSTA JÙNIOR, 1994, p. 10).

Portanto a função de um contrato possui caráter especial, pois se encontra na mutualidade, neste sentido os consumidores de seguro, para a preservação da saúde mutualística, a primeira função que deverá ser observada nos contratos é o exercício da boa-fé, ou seja, o princípio do mutualismo, a boa-fé são requisitos indispensável na contratação do seguro, pois é através das verídicas informações prestadas pelo segurado é que é calculado o risco e consequentemente o preço do seguro.

2.4 Análise de julgados envolvendo a exclusão de amante como beneficiária no contrato de seguro de vida

No que diz a respeito à exclusão do concubente (companheiro) dos contratos de seguro de vida, o STJ em decisão jurisprudencial tem pacificado que amante não tem direitos, ferindo o disposto na carta magna sobre a valorização familiar, conforme apontado a baixo.

EMENTA

Direito civil. Recursos especiais. Contratos, família e sucessões. Contrato de seguro instituído em favor de companheira. Possibilidade. - É vedada a designação de concubino como beneficiário de seguro de vida, com a

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finalidade assentada na necessária proteção do casamento, instituição a ser preservada e que deve ser alçada à condição de prevalência, quando em contraposição com institutos que se desviem da finalidade constitucional. - A união estável também é reconhecida constitucionalmente como entidade familiar; o concubinato, paralelo ao casamento e à união estável, enfrenta obstáculos à geração de efeitos dele decorrentes, especialmente porque concebido sobre o leito do impedimento dos concubinos para o casamento. - Se o Tribunal de origem confere à parte a qualidade de companheira do falecido, essa questão é fática e posta no acórdão é definitiva para o julgamento do recurso especial. - Se o capital segurado for revertido para beneficiário licitamente designado no contrato de seguro de vida, sem desrespeito à vedação imposta no art. 1.474 do CC/16, porque instituído em favor da companheira do falecido, o instrumento contratual não merece ter sua validade contestada. - Na tentativa de vestir na companheira a roupagem de concubina, fugiram as recorrentes da interpretação que confere o STJ à questão, máxime quando adstrito aos elementos fáticos assim como descritos pelo Tribunal de origem. Recursos especiais não conhecido. (RECURSO ESPECIAL Nº 1.047.538 - RS (2008/0077834-2) RELATORA: MINISTRA NANCY ANDRIGHI, julgado em 04 de novembro de 2008.)

A presente jurisprudência relata um caso que ocorreu por volta de 2004, onde o ex-segurado (de cujus) tempos antes a seu falecimento, fez uma alteração na apólice, no que tange aos beneficiários. Em primeiro momento seriam beneficiárias sua esposa e suas filhas. Quando a alteração feita o de cujus teria então excluído sua esposa e colocado como primeira beneficiária sua amante, conforme acordão.

Em primeira instância a sentença julgou procedente a consignação de pagamento em face da concubina. No entanto em análise o STJ, observou que tal decisão estaria violando o direito de família, representados pelos arts. 1.177,1.473, 1.474, 1.603 e 1.719 do CC/16.

Em análise ao caso a corte se posicionou ao tema, porém, no que diz respeito a concubina, seguindo a interpretação normativa da legislação, art. 1.177 e 1.474 do CC/16, e cristalizada nos art 550 e 793 do CC/02 de que seguro não pode ser instituído em favor de concubina, conforme ementa

DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. SEGURO. CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO. PRÊMIO. ARTIGOS 1.177 E 1.474 DO CÓDIGO CIVIL DE 1916. VEDAÇÃO. Há distinção doutrinária entre 'companheira' e 'concubina'. Companheira é a mulher que vive, em união estável, com homem desimpedido para o casamento ou, pelo menos, separado judicialmente, ou de fato, há mais de dois anos, apresentando-se à sociedade como se com ele casada fosse. Concubina é a mulher que se une, clandestinamente ou não, a homem comprometido, legalmente impedido de se casar. Na condição de concubina,

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não pode a mulher ser designada como segurada pelo cônjuge adúltero, na inteligência dos artigos 1.177 e 1.474 do Cód. Civil de 1916. Precedentes. Recurso especial provido por unanimidade. ” (REsp 532.549/RS, DJ de 20/6/2005).

Em análise da ementa citada anteriormente, fica claro a distinção entra companheira e concubina. Em ficar comprovado que a parte era companheira do ex segurado, ou seja, convivia com o de cujus em união estável, a parte teria sim direito a receber parte do valor indicado no seguro.

Portanto, a luz do código civil 2002, fica claro que concubente comprovado não tem direito a parte do aquesto do seguro de vida mesmo que especificado na apólice do seguro, em proteção ao direito de família, a proteção do núcleo familiar garantido pela carta magma de 1988, e código civil.

Ademais conforme o acordão jurisprudencial o STJ vem decidindo com base nas provas dos autos que em se tratando de relação extraconjugal a parte concubente não assiste direito ao recebimento do seguro, uma vez que esta corte entende pela preservação do núcleo familiar, não podendo este ser prejudicado em razão do concubinato. No caso em tela verifica-se que não houve comprovação de relação extraconjugal durante a constância do matrimonio

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CONCLUSÃO

Portanto, a partir do estudo realizado, pode se concluir que, com a evolução dos princípios constitucionais, a intervenção de modo indireto na regulamentação do direito privado vem criando um grande impacto favorável a sociedade, fazendo que a mesma se mantenha organizada, e nos conformes da lei.

A constituição de 1998, seus princípios fundamentais, são essências na busca de esclarecer os direitos contratuais. O seguro, espécie contratual que hoje movimenta um grande mercado de segurados, questão de frequente conflito levada ao poder Judiciário, surgindo um pequeno vinculo comerciário, criando assim a necessidade de proteção de bens.

Na atualidade em análise aos contratos de seguro de vida e suas discussões, pode se observar a forma que o poder judiciário intervém em um negócio particular, como o contrato de seguro de vida. Em busca de decisões de quem seria o real beneficiário, mesmo o segurado tendo estipulado em sua apólice, quem pode ou não, ah a necessidade do Poder Judiciário como regulador da ordem social, colocar, manifestar, até que ponto a vontade particular pode ser atingida.

O caso em análise, buscou a garantia do bem de família, proteção do que se chama de núcleo familiar, e assim não prejudicando quem sempre esteve ao lado de cujus, por uma relação secundária.

Conclui com o presente trabalho que verificado a prova de relação extraconjugal não há que falar em benificiário concubente do seguro de vida, uma vez, que nossos tribunais entendem pela valorização e preservação do núcleo familiar.

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REFERÊNCIAS

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