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O amor é best-seller: uma análise sobre os romances de Nicholas Sparks

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Academic year: 2021

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DHE - DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO

JOYCE TOSCANO TJÄDER

O AMOR É BEST-SELLER:

UMA ANÁLISE SOBRE OS ROMANCES DE NICHOLAS SPARKS

IJUÍ

(2)

JOYCE TOSCANO TJÄDER

O AMOR É BEST-SELLER:

UMA ANÁLISE SOBRE OS ROMANCES DE NICHOLAS SPARKS

Monografia entregue ao Curso de Letras – Habilitação em Língua Inglesa da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito parcial à obtenção do título de Licenciado em Letras .

Orientadora: Me. Fernanda Trein

IJUÍ 2013

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por me iluminar, por ter me dado saúde e forças nos momentos de incertezas e de dificuldades.

Agradeço aos meus pais e irmãos pelo incentivo e pela compreensão.

Agradeço ao meu namorado Luís Fernando pela compreensão do tempo que este trabalho exigiu.

Agradeço aos colegas e amigos Bruna Garcia Tobias, Celina Frizzo, Glauciani Cardoso, Vanessa Filipin e Viviane Aparecida Pandolfo Debortolli pela indispensável amizade e pelo auxílio nos momentos necessários.

Agradeço a todos os professores que ministraram aulas no meu curso de graduação pelos inúmeros

ensinamentos recebidos, especialmente a minha orientadora Fernanda Trein, que sempre me auxiliou e que também compartilha comigo o gosto pela leitura.

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RESUMO

Nicholas Sparks é representante da chamada literatura de massa, também conhecida por best-sellers. Este gênero se originou do romance, que tinha por objetivo entreter um novo público que surgia na Europa industrial, era um meio de fugir da realidade. Os best-sellers são escritos visando um público-alvo, eles são vistos por muitos como uma subliteratura justamente por não terem nenhum suporte acadêmico e por serem produzidos diretamente para o mercado. Em seus romances, Nicholas Sparks conta histórias variadas, só que com um mesmo tema, reutilizando elementos já consagrados de seus livros anteriores. Suas histórias são sempre sobre o amor, mas sobre ângulos diferentes. Nesse sentido, o presente trabalho visa caracterizar o gênero best-seller, contextualizar a vida do autor e encontrar algumas similaridades nos livros Diário de uma paixão, Um amor para recordar, Querido John e Um homem de sorte.

(5)

ABSTRACT

Nicholas Sparks is an exponent of what we’d call mass literature, also known as best-sellers. This genre was originated from the novel, which aimed to entertain a new audience that emerged in industrial Europe, as a way to escape from reality. The best-sellers are written targeting an audience; they are seen by many as a sub literature, precisely, because they have no academic support and for being produced directly for the market. In his novels, Nicholas Sparks has a range of stories, however with the same theme, reusing enshrined elements already included in his previous books. His stories are always about love, but considered from different angles. In this sense, the present work intents to characterize the genre best-seller, contextualize the author's life and find some similarities in the books: The Notebook, A Walk to Remember, Dear John and The lucky one.

.

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SUMÁRIO

Introdução ... 1. A HISTÓRIA DO ROMANCE... 1.1 Literatura, gênero e romance... 1.2 A estrutura dos romances... 1.3 Um olhar sobre o romance... 2. BEST-SELLER ……….………. 2.1 Best-sellers e seus outros nomes .………. 2.2 Características da literatura de mercado... 2.3 Best-sellers e os jovens... 3. NICHOLAS SPARKS... 3.1 Diário de uma paixão... 3.2 Um amor para recordar... 3.3 Querido John... 3.4 Um homem de sorte... 3.5 “Fórmula Nicholas Sparks”... Considerações Finais ... Referências Bibliográficas... Anexo 1 – Tabela de ordem de publicação Anexo 2 – Imagem. 7 9 9 19 22 26 26 30 34 41 43 47 51 55 58 62 63

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INTRODUÇÃO

A Literatura tem vários significados. Ao questionar um estudioso dessa área serão obtidas informações em termos técnicos, já para um adolescente pode ser apenas uma matéria escolar. Um escritor poderia defini-la como seu instrumento de trabalho, seu ganha-pão. Outros considerariam apenas alguns gêneros como tal. Uma das funções da literatura é entreter o público, fazer com que ele saia do seu universo real, esquecer um pouco os problemas diários. Para quem gosta de ler, há um número significante de gêneros literários. Um destaque da literatura no momento são os chamados best-sellers. Esta monografia tem como objetivo estudar esse gênero, considerados por muitos como uma literatura pobre, contextualizá-lo e conhecer um dos mais populares autores dessa categoria: Nicholas Sparks.

Esse autor já vendeu quase 80 milhões de exemplares no mundo todo e seus livros foram traduzidos para 45 idiomas.1 Ele começou a escrever por acaso, mas acabou seguindo a profissão. Seus livros falam sobre o amor, mas não somente isso, são sobre o amor e outra coisa que pode ser destino, redenção, perdão, amadurecimento e etc. Essa outra coisa é que tornam as histórias diferentes entre si. Mas se há diferenças, também há semelhanças, ou melhor dizendo, elementos que tendem a se repetir em seus romances. Esses elementos fazem parte da escrita de Nicholas Sparks.

No primeiro capítulo tem-se um estudo geral sobre o romance e como esse gênero intensificou a leitura. Com o advento da imprensa, houve um aumento da quantidade de livros no mercado e isso resultou em maiores números de leitores. O romance também se caracteriza pela presença dos elementos da narrativa (enredo, personagens, tempo, espaço e narrador) e pela verossimilhança, ou seja, a semelhança com o real, o leitor se identificar com a história, acreditar no que lê. Esse gênero foi o precursor do best-seller.

1

Dados da editora Arqueiro. Disponível em: http://www.editoraarqueiro.com.br/autores/ver/50. Acesso em: 24 set. 2013.

(8)

No segundo capítulo é feito uma pesquisa sobre o gênero best-seller, suas características, sua importância e sua relação com os jovens. Destaca-se também seus objetivos; como é uma literatura que visa o mercado seus autores tendem a buscar o que o público irá gostar e para isso, às vezes, é necessário se reinventar ou se basear em temas que já fizeram sucesso anteriormente.

No terceiro e último capítulo tem-se uma pesquisa sobre a vida e a obra de Nicholas Sparks, bem como quais as principais características e os princípios que fundamentam seus livros. Apresentam-se também análises sobre quatro romances do referido autor: Diário de uma paixão, Um amor para recordar, Querido John e Um homem de sorte.

Este trabalho serviu para conhecer um pouco mais sobre o gênero best-seller, tão presente nos dias de hoje, mas ainda discriminado por muitos. Ele não serve apenas para objetivar o lucro, mas também pode ensinar, informar e emocionar o público. Serviu também para provar que cada escritor tem um jeito único de escrever e que se pode sim encontrar similaridades em suas obras, mesmo que elas sejam diferentes entre si.

(9)

1) A HISTÓRIA DO ROMANCE

1.1 Literatura, gêneros e romance.

Considerando que a linguagem tem por objetivo básico a comunicação, mas esta não apenas como interação humana e sim enquanto processo de construção de sentidos, a literatura é também uma forma de comunicação e, provavelmente, uma das mais antigas. Por sua flexibilidade, a literatura sempre foi algo difícil de definir.

Conceituar a palavra “Literatura” é tarefa difícil, pois esse termo abrange várias formas; ele é polissêmico, possui vários sentidos. Segundo Vítor Manuel de Aguiar e Silva (1968), “em latim, litteratura significava instrução, saber relativo à arte de escrever e ler, ou ainda gramática, alfabeto, erudição”.2

Já na segunda metade do século XVIII, a palavra literatura passa a designar não apenas o conhecimento, mas também o produto, o resultado do trabalho literário:

Em vez de significar o saber, a cultura do letrado, a palavra passa a designar antes uma específica actividade deste e, consequentemente, a produção daí resultante: já não designa uma qualidade de um sujeito, mas refere-se a um objecto ou conjunto de objectos que se podem estudar.3

A evolução desse vocábulo continuou e, ainda no século XVIII, ele já passa a designar “o conjunto das obras literárias de um país”4 e depois “fenômeno literário em

2

SILVA. Vítor Manuel de Aguiar e. Teoria da Literatura. Livraria Almeida, 2ª ed. Coimbra, 1968, p.22.

3

Idem, p.23. 4

(10)

geral e já não circunscrito a uma literatura nacional, em particular”.5

Literatura passa a ser não apenas as obras científicas, mas também começa a abranger os diferentes gêneros literários (romance, poesia etc.).

Assim, a grosso modo, pode-se entender a literatura não apenas como a arte da palavra, mas também como resultado do trabalho de um(a) literato/pessoa (apresentando características literárias e sendo publicado) e que faz parte da cultura dos povos. É uma representação do real.

Dentre os gêneros literários existentes, destaca-se aqui o romance. De acordo com Silva (1968), “o romance transformou-se, no decorrer dos últimos séculos, mas sobretudo a partir do século XIX, na mais importante e mais complexa forma de expressão literária dos tempos modernos.”6

Mas qual seria então, o conceito de romance? Gancho (2003) afirma:

É uma narrativa longa, que envolve um número considerável de personagens (em relação à novela e ao conto), maior número de conflitos, tempo e espaço mais dilatados. (...) este tipo de narrativa consagrou-se no século XIX, assumindo o papel de refletir a sociedade burguesa.

Podemos classificar o romance quanto a sua temática. Os tipos mais conhecidos são de amor, de aventura, policial, ficção científica, psicológico, pornográfico etc.7

Como se vê, romance não é uma história de amor, é uma narrativa, é tudo que conta uma história. Importante não confundir, já que podemos ter sim romances de amor, mas podemos ter também de aventura, policial, etc.

Watt (1990) ao falar sobre esse gênero cita Fielding, pois para esse autor: “o romance (...) é essencialmente uma continuação de uma tradição narrativa muito

5

SILVA. Vítor Manuel de Aguiar e. Teoria da Literatura. Livraria Almeida, 2ª ed. Coimbra, 1968, p.23.

6

Idem,p.249. 7

(11)

antiga e prestigiada.”8

. Seria então uma herança de algo anterior? Watt (1990) opina sobre isso:

Sendo a epopéia o primeiro exemplo de gênero narrativo extenso e sério, é razoável que emprestasse seu nome à categoria geral que abrange todas as obras do mesmo tipo: e nesse sentido do termo podemos dizer que o romance pertence ao gênero épico. Talvez se possa até ir mais longe e, como Hegel, considerar o romance uma manifestação do espírito da epopéia sob o impacto de um conceito moderno e prosaico da realidade.9

Importante esclarecer que essas comparações são de níveis teóricos e abstratos: a epopeia é um gênero oral e poético que aborda as façanhas públicas, geralmente, de figuras históricas ou legendárias, e isso não se aplica ao romance. Este é muito mais popular que aquele, pois ler uma epopeia implicava um esforço muito grande e a identificação do público perante os personagens era muito difícil.

Henrique (2010) afirma que os livros best-sellers estão incluídos em um gênero literário que surgiu a partir do século XVIII, na Europa, e se tornou cada vez mais popular entre as grandes massas, a autora também chama a atenção para as características desse gênero:

Os temas abordados nesse tipo de literatura, a clareza de sua narrativa e a incansável busca pelo entretenimento e diversão são as bases do gênero. Os desenvolvimentos tecnológicos de produção e impressão permitiram a redução do preço de venda e melhora significativa da distribuição dos best-sellers no mercado. Dessa forma, contribuíram para a popularização do gênero.10

8

WATT, Ian. A ascensão do romance. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p.208. 9

WATT, Ian. A ascensão do romance. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p.208. 10 HENRIQUE, Halime Musser Prado. Best-seller – A história de um gênero. 2010, p.15.

(12)

Percebe-se então que a tecnologia veio para contribuir numa maior distribuição de livros no mercado e isso, consequentemente, aumentou o número de best-sellers disponíveis, possibilitando uma popularização desse gênero.

Segundo Ian Watt (1990), o romance teria surgido por volta dos meados do século XVIII na Inglaterra, iniciando com Daniel Defoe, Samuel Richardson e Henry Fielding. Cada um deles trouxe alguma peculiaridade para esse gênero novo.

O talento é a qualidade suprema do romance: Defoe é o mestre ilusionista, e isso quase que o torna o criador da nova forma. Quase: o romance só se consolidou quando a narrativa realista passou a ser organizada num enredo que, embora guardando a verossimilhança de Defoe, também tinha coerência intrínseca; quando o romancista viu as personagens e as relações pessoais como elementos essenciais da estrutura global, e não como meros instrumentos para reforçar a verossimilhança das ações relatadas; e quando tudo isso se subordinava a uma intenção moral. Foi Richardson quem deu esses passos à frente e por isso é tido em geral como o criador do romance inglês.11

Watt (1990), inclusive, afirma que o local, o contexto de Londres daquela época é responsável por duas características importantes do romance:

Um lugar tão grande e variado que um indivíduo só podia conhecê-lo numa pequenina parte e um sistema de valores basicamente econômico conjugaram-se para fornecer ao romance em geral dois de seus temas mais característicos: o indivíduo que procura fazer fortuna na cidade grande e muitas vezes só consegue um trágico fracasso, descrito com tanta frequência pelos realistas franceses e americanos; e, em geral relacionados com o primeiro, os estudos do meio realizados por escritores como Balzac, Zola e Dreiser, que nos levam aos bastidores e nos mostram o que de fato acontece nos lugares que conhecemos apenas passando pela rua ou lendo o jornal.12

11

WATT, Ian. A ascensão do romance. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p.116. 12

(13)

Percebe-se então que o ambiente tem ligação direta com a literatura que era feita na época. Uma das funções do ambiente é, segundo Gancho, “situar os personagens no tempo, no espaço, no grupo social, enfim nas condições em que vivem.”13

Os autores escreviam e refletiam sobre o que acontecia ao seu redor.

Watt (1990) ressalta a elevada importância que o romance obteve a partir de Defoe, Richardson e Fielding no mundo literário:

A produção anual de obras de ficção, que entre 1700 e 1740 girava em torno de sete, subiu para uma média de cerca de vinte nas três décadas posteriores a 1740 e esse número duplicou-se no período compreendido entre 1770 e 1800.14

Esse aumento não correspondia, porém, num aumento qualitativo. Os livreiros e administradores de bibliotecas circulantes sofriam pressão no sentido de rebaixar o nível literário a fim de agradar o público leitor, que em geral procurava nos romances fantasia e sentimentalismo.

Segundo Watt (1990), “pode-se dizer que uma das principais funções do romance, desde Richardson, tem sido fornecer um rito de iniciação ficcional ao mistério mais fundamental da sociedade.”15

Isso quer dizer que o referido autor não escrevia sobre o ideal romântico, mas ele apresentava contrastes entre o aparente x o verdadeiro, o consciente x o inconsciente, o espiritual x o físico e ideal x real. Richardson apresentava um outro pensamento para os leitores.

Sobre esse gênero Forster (1974) afirma:

13

GANCHO, Cândida Vilares. Como analisar narrativas. São Paulo: Editora Ática, 2003, p.24. 14

WATT, Ian. A ascensão do romance. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p.252. 15

(14)

A particularidade do romance está no escritor poder falar sobre suas personagens, tanto quanto através delas, ou permitir-nos ouvi-las enquanto falam consigo mesmas. O autor tem acesso ao monólogo interior e daí pode ir ainda mais fundo e espiar o subconsciente.16

Watt (1990) imprime sua opinião sobre o leitor, que pode saber o que o personagem está fazendo, como também o que ele está pensando. É possível encontrar um material extremamente rico entre os devaneios dos personagens. Através da união do que acontece fora e o que acontece dentro de seus pensamentos, o leitor consegue captar o personagem de forma mais inteira. O gênero romance evidencia o personagem, ele não é apenas uma marionete, ele tem vida, profissão, amigos, pensamentos e atitudes.

A experiência cotidiana do indivíduo compõe-se de um fluxo incessante de pensamentos, sentimentos e sensações; contudo a maioria das formas literárias – por exemplo, a biografia e até a autobiografia – tendem a ser uma malha temporal muito aberta para conseguir reter sua atualidade; e assim também a memória em geral. No entanto é esse conteúdo de consciência minuto a minuto que constitui a verdadeira personalidade do indivíduo e determina seu relacionamento com os outros: só através do contato com essa consciência o leitor pode participar inteiramente da vida de uma personagem da ficção.17

Watt (1990) também esclarece uma importante característica do romance: “dá-nos a sensação de que estamos em contato não com a literatura, mas com a própria vida momentaneamente refletida na mente dos protagonistas.”18

Então, funciona como um reflexo, pode-se estar tão mergulhado numa história que passa-se a passa-ser parte dela. Talvez passa-seja por isso que muitas pessoas sonham com a história que estão lendo, elas ocupam o lugar dos protagonistas no sonho, a história, por um

16

FORSTER, E.M. Aspectos do romance. Porto Alegre: Globo, 1974, p.68. 17

WATT, Ian. A ascensão do romance. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p.166-167. 18

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momento, passa a ser real. É necessário acreditar na história, nos personagens, nos acontecimentos, quanto mais parecido com o real, mais o público irá se identificar.

Uma autora também muito importante desse gênero foi Jane Austen. Os romances dela também se destacam:

Refletem o processo através do qual, conforme vimos, as mulheres desempenhavam um papel cada vez mais importante na vida literária. A maioria dos romances do século XVIII foi escrita por mulheres, mas durante muito tempo considerou-se isso uma simples questão quantitativa; Jane Austen completou a obra iniciada por Fanny Burney e desafiou a prerrogativa masculina num aspecto muito mais importante. Seu exemplo indica que sob certos aspectos a sensibilidade feminina estava mais bem qualificada para revelar as complexidades das relações pessoais e, assim, detinha uma posição vantajosa no campo do romance.19

Jane Austen se destaca, pois dava voz às mulheres. Elas eram a grande maioria dos leitores da época. Essa escritora pode ser considerada porta-voz desse público, através dela é possível conhecer o universo feminino do século 19. Uma mulher escrevendo para mulheres. Seus romances exploram os problemas sociais e morais e o papel da mulher na sociedade.

Como dito anteriormente, os best-sellers se incluíram numa modalidade específica, eles criaram vida a partir da consolidação do romance. Pode-se dizer então que as raízes dos best-sellers estão localizadas nesse gênero. Para entender o best-seller é necessário analisar a história e a evolução do romance, que se subdivide em três momentos:

a) o primeiro localiza-se entre o início do século XVI ao fim do século XVIII. Surgiram as primeiras expressões do romance, tais como são conhecidas atualmente. Essa fase foi influenciada pela Renascença.

19

(16)

b) o segundo momento, por sua vez, é iniciado com a Revolução Francesa (1789-1799) e vai até a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Foi nessa fase que surgiu o romance-folhetim, ficção dividida em pedaços e inserida nos jornais diários. Foi possível perceber que este gênero apresentava uma estrutura própria, isto é, era dividido em capítulos cortados intencionalmente para criar suspense e prender a atenção do leitor, utilizava diálogos simples, linguagem coloquial e personagens mais simplificados.

c) o terceiro momento, por fim, ocorre a partir do pós-guerra e perdura até os dias de hoje. Encontram-se nesse período o surgimento das vanguardas, que buscam trazer novidades, quebrar regras e conceitos em vários ramos das artes. Apareceram as primeiras manifestações do romance, que teriam como objetivo a elaboração de um relato, de experiências verdadeiras, únicas para cada indivíduo.

Destaca-se o segundo momento da evolução desse gênero, pois o contexto histórico é muito importante para o desenvolvimento do romance. A literatura de massa nasce através do capitalismo e da classe burguesa da época. Com a invenção da imprensa, ficou mais fácil produzir e reproduzir os livros, mas estes não eram acessíveis para a maioria da população.

Pensando nisso, Émile de Girardin, dono do jornal francês La Presse, lança o Folhetim20, literatura que visava o mercado, publicado em um espaço do jornal destinado à diversão e, como dito antes, publicado aos pedaços. Se a história agradasse ao público, ela continuaria, senão seria substituída por outra.

A partir daí, muitos escritores foram convidados para escrever nos jornais. O primeiro romance encontrado nesse gênero foi La Vieille Fille (A solteirona) de Honoré de Balzac, escrito em 1836. No Brasil, destacam-se Joaquim Manoel de Macedo, Bernardo Guimarães, José de Alencar entre outros.

Segundo Reis (2006), o folhetim exercia grande poder de influência, pois:

20

Dados encontrados em: ALVIM, Luíza. Os jornais, o romance e o folhetim. Disponível em:

http://www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/6o-encontro-2008-1/Os%20jornais-%20o%20romance%20e%20o%20folhetim.pdf. Acesso em 3 nov. 2013.

(17)

A cada dia aumentava consideravelmente o número de leitores, em sua maioria mulheres, que não tinham acesso a outros tipos de literatura, e foram influenciadas e “formadas” pelas ideologias disseminadas nos enredos dos folhetins, e principalmente pela personalidade e atitudes dos heróis, heroínas, vilões e outros lançadores de modos e modas desta ficção narrativa em prosa publicada aos pedaços no jornal cotidiano.21

Esse gênero agradou muito aos jornais, pois aumentou significativamente o número de leitores, chegando até a chamar mais atenção do que o jornal em si. Apesar das dificuldades iniciais com a novidade na forma de publicar, os autores, pouco a pouco, foram assimilando essas estruturas como estratégias apelativas para serem usadas na construção dos romances. Reis (2006) chama a atenção para os finais de capítulo: “tornava-se inevitável a dúvida: ‘E agora, o que é que vai acontecer?’ Assim ao aguçar a curiosidade do público leitor, garantia-se a vendagem e aumentava-se o número de assinantes.”22

Essa ferramenta de explorar o suspense da história e fazer com que o leitor/ouvinte fique na curiosidade sobre o que aconteceu depois, já tinha sido usado por Sherazade para salvar sua pele em As Mil e Uma Noites. Hoje esse recurso é utilizado nas telenovelas, uma gama de personagens cujas histórias se interligam com conflitos que diariamente são interrompidos num momento de suspense, para retornar no dia seguinte com a sequência dos acontecimentos.

Esse gênero agradou tanto que muitos leitores confundiam a história que estava no livro com a ficção, é o caso, inclusive da personagem Emma Bovary, no clássico de Gustave Flaubert que o levou aos bancos dos réus por ser acusado de ofensa à moral pública e religiosa. Madame Bovary foi publicado primeiramente em quatro folhetins (em 1856) e depois em livro (em 1857).

Sobre essa identificação do leitor , Watt (1990) esclarece:

A identificação é uma necessidade de toda a literatura, como da vida. O homem é um animal que assume vários papéis; torna-se um ser humano e

21REIS, Ana Lúcia Silva Resende de Andrade. O romance de folhetim no Brasil do século XIX –

modelos e inovações. 2006. Disponível em:

http://www.caminhosdoromance.iel.unicamp.br/estudos/abralic/. Acesso em 3 nov. 2013.

22REIS, Ana Lúcia Silva Resende de Andrade. O romance de folhetim no Brasil do século XIX –

modelos e inovações. 2006. Disponível em:

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desenvolve sua personalidade em função de inumeráveis incursões nos pensamentos e sentimentos dos outros; e toda a literatura evidentemente se deve a essa capacidade humana de projetar-se em outras pessoas e em suas situações. Em sua teoria da catarse, por exemplo, Aristóteles supõe que o público se identifica em certa medida com o herói trágico: como podemos nos purgar se não tomando a mesma dose de sais?23

Como dito anteriormente, os leitores têm que se identificar com o personagem, o autor tem que escrevê-lo da forma mais realista possível, só assim o público encontrará semelhanças com o real. Se o leitor criar uma identificação com o personagem, se ele acreditar que é verdade, poderá ter as mais diversas reações: raiva, por o personagem ser ingênuo, tristeza, por um acontecimento ruim, felicidade, por uma passagem engraçada ou feliz e etc.

Tendo em vista a importância do leitor, Debortolli (2009) destaca a força da opinião pública em relação ao conteúdo dos romances folhetinescos:

Madame Bovary, centro das acusações processuais no Ministério Público da França, foi afetada pelas condições da época. A obra foi produzida e publicada em uma sociedade conservadora, que sempre buscou manter aparências positivas, embora todos soubessem que isso não passava de um “fingimento coletivo”. Quando alguém, no caso Flaubert, decide revelar o que se oculta nessa sociedade, acaba sendo o alvo da “perseguição” forense, e, por vezes, da sociedade.24

Assim, cada leitor tem uma visão própria da história. No entanto, sua influência é tanta que ele pode até modificar o rumo dos acontecimentos e a escrita do autor. Foi o que aconteceu com Sir Arthur Conan Doyle, responsável por criar o famoso detetive Sherlock Holmes. Segundo Lani, o autor teve que criar uma manobra na história a pedido dos fãs e dos editores:

Criou um personagem forte na imaginação popular. A fama do personagem era tão grande que provocou o despeito do próprio criador. Este decidiu um dia matar Sherlock, fazendo-o cair num abismo, durante uma luta com o

23

WATT, Ian. A ascensão do romance. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p.175. 24

DEBORTOLLI, Viviane Aparecida Pandolfo. O realismo no banco dos réus. – Um estudo sócio-recepcional de Madame Bovary a partir de seu processo judicial. Ijuí, RS, 2009, p.41.

(19)

Prof. Miriarty, [Moriaty]25 seu lendário inimigo. A reação do público foi pronta e indignada: Doyle recebeu cartas ofensivas e ameaças. Mas foi mesmo a oferta de um milhão de dólares por parte dos editores que o levou a ressuscitar o genial detetive.26

O público não gostou da escolha do escritor de matar o personagem principal e reivindicou. As reclamações chegaram até os editores que convenceram (com um milhão de dólares) Conan Doyle a ressuscitar o personagem para ter mais histórias.

1.2 A estrutura dos romances

O romance possibilitou uma mudança muito importante para a literatura, uma das características mais importantes foi a verossimilhança, pois os autores desse gênero se preocuparam (e se preocupam) com o leitor, assim, quanto mais este se identificasse com a história, mais real ela se tornava. Gancho (2003) relata que toda narrativa (inclui o romance) possui cinco elementos primordiais: personagens, enredo, tempo, espaço e narrador.

É necessário que os personagens sejam retratados de forma particular, com identidades próprias, ou seja, caracterizadas como pessoas reais no mundo, para que haja uma identificação com o leitor. Segundo Henrique (2010), antes disso, os personagens tinham nomes próprios, mas os nomes deles não criavam identidades totalmente individualizadas, por isso utilizavam nomes de figuras históricas, mitológicas, lendárias, ou seja, com o romance, o personagem ganhou força, vida, profissão, endereço, ideais e etc. Não temos apenas um Harry Potter, temos um menino órfão, que mora com os tios na Rua dos Alfeneiros nº 4, que descobre que é bruxo, vai para Hogwarts, percebe que tem um arqui-inimigo que quer vê-lo morto.

Essa preocupação em criar identidades é encontrada não apenas romances contemporâneos, mas nos clássicos também. Em Dom Casmurro, Bento Santiago, um jovem de quinze anos, mora na rua de Matacavalos juntamente com sua mãe D. Glória, com Tio Cosme, Prima Justina e o agregado José Dias. Bentinho, como é carinhosamente chamado, se apaixona pela sua vizinha Capitolina.

25

Grifo meu. O certo é Moriarty. 26

LANI, Adriano Ramon. A literatura da cultura de massa. Disponível em:

http://monografias.brasilescola.com/educacao/a-literatura-cultura-massa.htm. Acesso em 04 nov. 2013.

(20)

Sobre os personagens, Forster(1974) tem sua própria definição:

O romancista, (...) arranja uma porção de massas verbais, descrevendo a grosso modo a si mesmo (...), dá-lhes nomes e sexos, determina-lhes gestos plausíveis e as faz falar por meio de aspas e talvez comportarem-se consistentemente. Essas massas verbais são suas personagens. Elas não chegam assim frias à sua mente, podendo ser criadas em delirante excitação. Sua natureza, no entanto, está condicionada pelo que o romancista imagina sobre outras pessoas e sobre si mesmo, e, além disso, é modificada por outros aspectos de seu trabalho.27

Como dito acima, a verossimilhança é parte essencial num romance. Os fatos da história não precisam ser verdadeiros ao corresponder exatamente o que aconteceu, mas precisam ser verossímeis, o leitor deve “comprar” aquela ideia, ele deve acreditar no que lê, mesmo tudo sendo inventado.

Todo enredo possui um conflito, ou seja, um elemento estruturador, ele é responsável pela tensão que organiza os fatos da narrativa e prende a atenção do autor. Só para exemplificar, qual seria a graça da história dos Três Porquinhos sem a presença do Lobo Mau? Isso é o que dá movimento para a história, isso é o conflito.

Gancho (2003) esclarece que: “em termos de estrutura, o conflito, via de regra, determina as partes do enredo”.28

: a) exposição (começo da história onde são apresentados os fatos iniciais), b) complicação/desenvolvimento (onde se desenvolve o conflito), c) clímax (momento de maior tensão onde o conflito chega a seu ponto máximo) e d) desfecho (a solução dos conflitos). De acordo com Watt (1990), o romance tem suas peculiaridades em relação ao enredo. Os agentes no enredo e o local onde se passam as ações devem ser claramente explicados, tudo para que haja maior identificação perante o leitor.

27

FORSTER, E.M. Aspectos do romance. Porto Alegre: Globo, 1974, p.34. 28

(21)

O enredo envolveria pessoas específicas em circunstâncias específicas, e não, como fora usual no passado, tipos humanos genéricos atuando num cenário basicamente determinado pela convenção literária adequada.29

Forster (1974) declara que contar uma estória é aspecto fundamental desse gênero, “é o máximo divisor comum a todos os romances.”30

O enredo seria então, “o romance no seu aspecto lógico intelectual: requer mistério, mas os mistérios são solucionados mais tarde.”31

É necessário também descrever o ambiente, o tempo e os sentimentos dos personagens em relação à historia, tudo para situar melhor quem está lendo. Nem sempre a época da trama simboliza o mesmo período que foi escrito, pode-se escrever um livro em 2010 cuja história transcorre em períodos remotos ou num futuro longínquo. A época da história pode aparecer explicitamente ou não, mas sempre há algo para contextualizar.

Nesse gênero também é muito comum encontrar usos de flashbacks. Em alguns momentos o(s) personagem(ns) podem estar vivenciando uma situação e no mesmo instante lembrar de algo que já aconteceu e começar a descrevê-lo. O uso dessa ferramenta é muito comum com personagens - narradores, pois eles descrevem sua história à medida que vão lembrando. Como se pode ver neste trecho de Diário de uma paixão (2010):

Noah inclinou a cabeça para trás e encostou-a na cadeira de balanço. As pernas se mexiam automaticamente, mantendo um ritmo constante, e, como acontecia quase toda noite, ele sentiu o pensamento devanear e recuar no tempo, até uma noite igualmente quente, 14 anos antes. Foi logo depois da formatura do ensino médio da turma de 1932, na noite de abertura do Festival do Rio Neuse. (...)32

29

WATT, Ian. A ascensão do romance. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p.17. 30

FORSTER, E.M. Aspectos do romance. Porto Alegre: Globo, 1974, p.20. 31

Idem, p.77. 32

(22)

Percebe-se que o personagem começa a contar fatos que aconteceram 14 anos atrás, mesclando com os acontecimentos do tempo presente. Este livro, em especial, é recheado de flashbacks, pois o personagem – narrador (Noah) começa a história com 80 anos e aos poucos vai lembrando fatos de forma não-linear.

Ainda em termos de estrutura do texto, o espaço é o lugar onde ocorre a ação, ele situa os acontecimentos dos personagens, podendo ser até parte essencial do romance, no já citado Diário de uma paixão Noah reforma uma casa, um jornalista faz uma reportagem sobre a restauração, é através dessa reportagem é que Allie reencontra Noah. Watt (1990) afirma que: “o espaço é necessariamente o correlativo do tempo.”33

Esses dois elementos andam juntos, dificilmente é possível visualizar um momento particular sem situá-lo num contexto espacial.

O ambiente, por sua vez, tem relação com o contexto, é um espaço carregado de características sociais, psicológicas, morais, socioeconômicas em que vivem os personagens. Ele é um conceito que aproxima espaço e tempo.

Já o último elemento é o narrador. Ele é o elemento estruturador da história, não existe narrativa sem esse item. Ele pode estar em terceira pessoa, também conhecido por narrador observador, que está fora dos fatos narrados. Ou em primeira pessoa, também conhecido por narrador personagem, aquele que participa diretamente dos eventos.

1.3 Um olhar sobre o romance

Sobre a comparação desse gênero com os anteriores, Watt (1990) destaca: “certamente o romance se diferencia dos outros gêneros e de formas anteriores de ficção pelo grau de atenção que dispensa à individualização das personagens e à detalhada apresentação de seu ambiente.”34

33

WATT, Ian. A ascensão do romance. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p.26. 34

(23)

Sobre o romance, Lubbock (1976) afirma:

O romance é um ‘retrato da vida’, esta última definida como uma ‘cena contínua e infinita’, na qual o olhar é capturado por milhares de direções ao mesmo tempo, sem nada capaz de prendê-lo num centro fixo.35

Assim, a ficção é uma arte, mas uma arte de representar a vida, ou como bem explicita Proença Filho (2004): “a arte é um dos meios de que se vale o homem para conhecer a realidade”.36

Como foi dito antes, os autores desse gênero utilizam muito a verossimilhança, quanto mais “real” a história se tornava melhor. Percebe-se então que o termo ‘retrato da vida’ cabe muito bem. Proença Filho(2004) ressalta: “o que fazem poetas, romancistas e dramaturgos senão imitar ou simular segundo a sua visão especial dos fatos mesmos da vida?37”. Esse recurso também é muito utilizado em novelas televisivas também, quanto mais o leitor/espectador aceita aquilo, mais real se torna. Nas propagandas sobre uma nova novela é muito comum ouvir “você vai conhecer a história de...” como se fosse alguém próximo a nós.

Para Watt(1990), o romance se constitui como:

Um relato completo e autêntico da experiência humana e, portanto, tem a obrigação de fornecer ao leitor detalhes da história como a individualidade dos agentes envolvidos, os particulares das épocas e locais de suas ações – detalhes que são apresentados através de um emprego da linguagem muito mais referencial do que é comum em outras formas literárias.38

35

LUBBOCK, Percy apud JAMES, Henry. A arte do romance. (organização, tradução e notas de Marcelo Pen.) São Paulo: Globo, 2003, p.27.

36

PROENÇA FILHO, Domício. A linguagem literária. 6. ed. São Paulo: Ática, 1997, p. 14 37

PROENÇA FILHO, Domício. Estilos de época na literatura. São Paulo: Ática, 2004, p;40. 38

(24)

Chama atenção também o modo como Forster (1974) relaciona a vida com o romance:

A intensa, sufocante qualidade humana do romance não deve ser evitada; o romance está encharcado de humanidade; não há escapatória para o enaltecimento ou a ruína, nem estes podem ser mantidos fora da crítica. Nós podemos odiar a humanidade, mas se ela é exorcizada, ou mesmo purificada, o romance esmorece; pouco resta além de um punhado de palavras.39

O romance tem que ter uma forte carga de sentimento humano, de vivência da vida real das pessoas. Se não tiver, não haverá identificação dos leitores com os personagens. O coração, ou melhor, a emoção é quem diz se a história é boa ou não, isso tem relação com identidade, o público identifica/reconhece os personagens, sabe suas qualidades e seus defeitos, sabe identificar a humanidade de cada um. A afeição do leitor à história é o que impulsionará sua reação e também sua recomendação ou não para os outros

Henrique (2010) também afirma que o romance foi apontado pelos críticos adoradores da literatura clássica como uma literatura mais fácil, ou seja, que exigia menor compreensão por parte do leitor. Isto se dá porque ele visa satisfazer os desejos de um novo público-leitor que despontava na Europa industrial. O trabalho demandava muito tempo e eles só tinham uma folga por semana, essa parcela da sociedade precisava de entretenimento, mas que não necessitasse muito esforço físico ou intelectual. Com a chegada das indústrias, as mulheres passaram a ter mais tempo livre e também começaram a demandar mais opções de distração. Entende-se, assim, o motivo da grande maioria dos romances da época – e até os dias atuais – ser voltado mais para o público feminino. A princípio, o romance não é uma literatura empobrecida, mas sim uma literatura mais simples, foi o gênero que mais contribuiu para que o público-leitor crescesse ao longo do século XVIII.

39

(25)

Sobre a chegada desse gênero e seus objetivos, Watt (1990) tem o seguinte pensamento:

Há diferenças importantes no grau em que as diferentes formas literárias imitam a realidade; e o realismo formal do romance permite uma imitação mais imediata da experiência individual situada num contexto temporal e espacial do que outras formas literárias. Por conseguinte as convenções do romance exigem do público menos que a maioria das convenções literárias; e isso com certeza explica por que a maioria dos leitores nos dois últimos séculos tem encontrado no romance a forma literária que melhor satisfaz seus anseios de uma estreita correspondência entre a vida e a arte.40

Realismo formal, segundo Watt (1990), é o método narrativo pelo qual o romance toma pra si a visão circunstancial da vida. Formal porque o termo “realismo” se refere a um conjunto de procedimentos narrativos que se encontram no romance.

Com a consolidação do romance, surgiu o chamado best-seller, assim como seu antecedente, esse gênero visa o entretenimento de seu público, mas ele também objetiva o lucro. Antes de ter um pensamento precipitado e preconceituoso sobre os best-sellers, é necessário conhecê-los.

40

(26)

2 Best-Seller

2.1 – Best-sellers e seus outros nomes

O objetivo de todo escritor é ver seu livro sendo lido, não necessariamente sendo vendido ao contrário do objetivo da editora, que deseja que ele seja um sucesso de vendas. Alcançando uma tiragem muito grande, o livro torna-se um best-seller. Mas não é a única maneira de se identificar um grande sucesso literário, já que este pode ser observado pelo número de traduções, pela venda em diversos países, não raras vezes pela transformação do livro em filme entre outros fatores.

Para entender melhor esse termo “best-seller”, é necessário compreender a distinção entre literatura culta e literatura trivial, subliteratura, literatura de entretenimento, de massa ou de mercado e a denominação mais comum, best-seller, todos os termos estão ligados ao mercado, ou seja, livros que alcançam sucesso de público. A literatura culta, segundo Muniz Sodré (1985), “são obras em circulação numa esfera socialmente reconhecida como culta, que pode ser a escola, o salão, a academia, o círculo de leitura, etc”41

, em outras palavras, seriam os livros de grandes escritores ou os também chamados de clássicos. Já a literatura de massa, não tem nenhum suporte escolar ou acadêmico: seus estímulos de produção e consumo partem do jogo econômico da oferta e procura, isto é, do próprio mercado.

Cortina e Silva (2008) afirmam que a literatura de massa poderia receber uma segunda acepção, que declara que ela é:

Caracterizada como um tipo de narrativa ficcional, aquela que se enquadra nitidamente dentro de um gênero literário. Ao contrário da denominada

41

(27)

literatura culta, que, devido ao esforço para fruição e à originalidade da narrativa, que não permite a classificação dentro de padrões pré-estabelecidos, a trivial reafirma e repete o fruir convencional nos esquemas conceituais do leitor, estando presentes as velhas artimanhas maniqueístas: final feliz para os bons de espírito e sanção negativa para os perversos.42

Isso não quer dizer que os livros da literatura de massa sejam de baixa qualidade, a história pode ser tão boa quanto as da chamada literatura culta. Eles são direcionados para um público, atraem seus leitores com seus próprios meios e se são considerados best-sellers é porque as pessoas estão comprando. Sobre este aspecto, Fhiladelfio (2001) cita Sodré (1978) ao dizer:

O discurso da literatura de massa é manifestação de um discurso específico e não uma utilização medíocre do discurso literário. Esta produção é resultado de exigências geradas pela sociedade moderna, tanto que a indústria editorial responsável por esse tipo de literatura investe cada vez mais neste mercado , sem jamais reclamar de prejuízos.43

A literatura de massa não é uma literatura medíocre, ela foi criada a partir de um novo público para uma determinada finalidade. O mercado investe porque há compradores e a cada dia há uma nova novidade nesse gênero.

Caldas (2000), ao adotar o termo paraliteratura, afirma que os outros nomes dados a essa literatura são preconceituosos:

42

CORTINA, Arnaldo; SILVA, Fernando Moreno da. Um olhar sobre a leitura de best-seller. 2008. Disponível em: http://e-revista.unioeste.br/index.php/travessias/article/view/2889 Acesso em: 17 mar. 2013.

43

SODRÉ, Muniz apud FHILADELFIO, Joana Alves. Alta literatura X Literatura de massas: diálogos (im)possíveis? In: V Congresso de Ciências Humanas, Letras e Artes, 2001, Ouro Preto. Anais. Disponível em: http://www.ichs.ufop.br/conifes/ .Acesso em 16 nov. 2013.

(28)

A finalidade desse novo conceito é também evitar o uso, de certo modo preconceituoso, de denominações como subliteratura, infraliteratura e pornoliteratura. (...) essas expressões apresentam ainda a incoveniência de falsear o problema, hierarquizando uma relação, onde à literatura culta se lhe atribui a melhor posição em toda a produção literária. É como se ela, justamente por ser a literatura produzida pelos cultos e a eles dirigida, devesse assumir a liderança e o destaque de ser a melhor coisa produzida em termos do que conhecemos no campo da escritura. Dispensaria, portanto, os prefixos “sub”, “infra”, “pornô” etc., que dão, na verdade, conotação qualitativa à obra.44

Jean Tortel (1970) estabeleceu a diferença entre literatura e paraliteratura, a qual esclarece: “não concebamos a priori a paraliteratura como ‘má’ literatura, como uma literatura medíocre.”45 Ela possui uma autonomia em relação à literatura culta, é

um contra-fogo.

Caracteriza-se como um campo muito grande de interpretações (...) ela abrangeria, indefinidamente, as letras, a propaganda, o romance policial, a estória em quadrinhos, enfim, na verdade, toda aquela produção que alguns teóricos como Dwight MacDonald, por exemplo, preferem chamar de produtos da cultura de massa.46

Ainda segundo Tortel (1970), a paraliteratura de acordo com sua abrangência é somente uma das ramificações pertencentes ao grande universo da chamada cultura de massa. Ele exemplifica afirmando que as obras de Adelaide Carraro (escritora brasileira considerada best-seller) se encaixam na categoria da

44

CALDAS, Waldenyr. A literatura da cultura de massa – uma análise sociológica. São Paulo: Editora Musa, 2000. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/22827955/A-Literatura-da-Cultura-de-Massa-Uma-An-C3-A1lise-Sociol-C3-B3gica-Waldenyr-Caldas Acesso em 16 nov. 2013

45

TORTEL, Jean apud CALDAS, Waldenyr. A literatura da cultura de massa – uma análise sociológica. São Paulo: Editora Musa, 2000. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/22827955/A-Literatura-da-Cultura-de-Massa-Uma-An-C3-A1lise-Sociol-C3-B3gica-Waldenyr-Caldas Acesso em 16 nov. 2013

46

TORTEL, Jean apud CALDAS, Waldenyr. A literatura da cultura de massa – uma análise sociológica. São Paulo: Editora Musa, 2000. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/22827955/A-Literatura-da-Cultura-de-Massa-Uma-An-C3-A1lise-Sociol-C3-B3gica-Waldenyr-Caldas Acesso em 16 nov. 2013

(29)

paraliteratura da imaginação47. Mas ao levar em conta as condições de produção, as técnicas de marketing possibilitariam declarar que se trata de produtos da cultura de massa.

Caldas (2000) salienta que o uso do prefixo “para” possui uma certa ambiguidade:

Pode ser empregado tanto no sentido de proximidade (perto de, em torno de algo) como no de oposição (oposto a, contra algo). Neste último caso, a palavra contra, por sua vez, oferece também duplo sentido: o primeiro seria o de não aceitação de argumentos ou idéias contidos em algo ou definido por alguém. Não é este, certamente, o sentido que Jean Tortel daria ao contra que se depreende da paraliteratura. Com ele, a palavra acaba por adquirir seu outro significado, isto é, a paraliteratura é colocada em proximidade com a literatura.48

Caldas (2000) argumenta que a paraliteratura de imaginação e a literatura de massa são semelhantes. Ambas apresentam o mesmo tipo de leitor, a mesma verdade e veiculam a mesma ideologia. “Nada impede, portanto, de chamá-la indistintamente de paraliteratura de imaginação ou de literatura de massa”.49

Não se sabe exatamente quando surgiu esse gênero, bem como sua difusão pelo mundo. Segundo Henrique (2010), acredita-se que os primeiros exemplares de best-sellers tenham surgido no início do século XIX e que um deles seja Os mistérios de Paris, do autor francês Eugène Sue (1804-1857). A partir de 1930, eles ganharam espaço nas prateleiras e passaram a abranger diversos assuntos, principalmente voltados para o público feminino.

47

Se destaca pelo poder de fascinação que exerce a partir da linguagem o qual é mais esquemática possível.

48

CALDAS, Waldenyr. A literatura da cultura de massa – uma análise sociológica. São Paulo: Editora Musa, 2000. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/22827955/A-Literatura-da-Cultura-de-Massa-Uma-An-C3-A1lise-Sociol-C3-B3gica-Waldenyr-Caldas Acesso em 16 nov. 2013

49

CALDAS, Waldenyr. A literatura da cultura de massa – uma análise sociológica. São Paulo: Editora Musa, 2000. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/22827955/A-Literatura-da-Cultura-de-Massa-Uma-An-C3-A1lise-Sociol-C3-B3gica-Waldenyr-Caldas Acesso em 16 nov. 2013

(30)

Watt (1990), ao esclarecer um dos principais pontos na obra de Richardson declara:

Na verdade a última parte de Clarissa pertence a uma longa tradição de literatura fúnebre. J.W. Draper mostrou que uma contribuição especificamente puritana à poesia foi a elegia fúnebre; e as reflexões no leito de morte muitas vezes eram publicadas em panfletos de finalidades evangélicas. Esses gêneros subliterários evoluíram numa tendência mais ampla que explorava todos os pensamentos e emoções relacionados com morte e enterro; e a década em que Clarissa surgiu presenciou o triunfo desse movimento em obras como The grave (O túmulo) (1743), de Blair, Night thoughts on life, death, and immortality (Pensamentos noturnos sobre vida, morte e imortalidade) (1742-1745), de Edward Young, e as populares Meditations among the tombs (Meditações entre os túmulos) (1745-1747), de Herbey, as últimas duas impressas por Richardson.

As obras teológicas referentes à morte também figuravam entre os best-sellers da época – como On death (Sobre a morte), de Drelincourt, ao qual costumava-se acrescentar, como apêndice, The apparition of mrs. Veal, de Defoe.50

Percebe-se o uso da expressão best-seller para designar assuntos que faziam muito sucesso na época, Watt ao se referir sobre os temas recorrentes, utiliza a referida expressão a qual naquele tempo ainda não era usada, mas para os leitores de Watt (o livro foi publicado em 1990) já era mais conhecida.

2.2 Características da literatura de mercado

Segundo Clive Bloom51, a partir do século XX, os livros best-sellers passaram a se preocupar tanto com a vida social quanto com o entretenimento e as ideias.

50

WATT, Ian. A ascensão do romance. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p.188-189. 51 BLOOM, Clive apud HENRIQUE, Halime Musser Prado. Best-seller – A história de um gênero. 2010, p.44.

(31)

Além disso, os best-sellers da atualidade já vêm em formato adaptável para outras mídias, como o cinema ou televisão. Nicholas Sparks, por exemplo, já fez o sentido contrário, isto é, fez primeiro o roteiro para o filme e depois baseado nesse roteiro escreveu o livro A última música (2010). Mas vários de seus livros foram adaptados para a telona.

Em livrarias e bibliotecas vê-se essa distinção, em algumas inclusive, há uma prateleira denominada best-seller, que geralmente é mais visitada por jovens. Se não há prateleira específica, esses livros possuem um lugar de destaque perante os outros. E o lugar deles também pode ser relativo, pois ao entrar no mercado e ser apresentado ao público ele pertence a uma posição e depois de um determinado tempo é substituído por outro best-seller do momento. Por isso, a literatura de mercado é um gênero que precisa sempre ser reinventado.

Destaca-se ainda, o modo como essa literatura de massa é apresentada: capas chamativas, divulgação nos diversos tipos de mídia, propaganda em locais onde muitas pessoas têm acesso. Como é um gênero que visa o comércio, eles utilizam de várias técnicas para conquistar o leitor. A necessidade principal é agradar ao público ao mesmo tempo em que alimenta a indústria e isso depende também do contexto sócio-histórico, conforme Aranha e Batista (2009):

Nesta busca, verifica-se a exploração da adequação temática a determinado contexto sócio-histórico, como, por exemplo, o “surgimento” no mercado de autores do Oriente Médio após a Guerra do Iraque nas livrarias ocidentais, tais como Khaled Hosseini, Marjane Satrapi e outros. A produção em massa de literatura não pode, por conseguinte, ser dissociada da lógica da indústria cultural e da capacidade desta de multiplicação das variantes narrativas, por exemplo, a narrativa da série Harry Potter migrando para o cinema, jogos eletrônicos e outros. O resultado das vendagens funciona como força propulsora para tais migrações.52

52

ARANHA, Gláucio; BATISTA, Fernanda. Literatura de massa e mercado. Revista do Programa de Pós-Graduação em Comunicação – Universidade Federal Fluminense, 2009, Niterói, n. 20, p.128, ago. 2009. Disponível em: http://www.uff.br/contracampo/index.php/revista/article/view/11. Acesso em 05 nov. 2013

(32)

Como se pode ver, a literatura de massa também sobrevive através de estratégias, após a Guerra do Iraque, “surgiram” vários autores do Oriente Médio. Outro exemplo, após o anúncio do casamento do príncipe William “choveram” livros sobre a princesa Katie Middleton. Então, um best-seller, assim como os outros gêneros, pode levar em conta também, o momento sócio-histórico da atualidade.

Os autores desse gênero lutam para não serem esquecidos. Para garantir as vendas, eles começam a repetir padrões que deram certos em romances anteriores, ou seja, seguem as chamadas “fórmulas.” Henrique (2010) é enfática ao dizer que há uma diferença entre “fórmula” e “recriação”: “a fórmula seria seguir exatamente um padrão rígido e fechado pré-determinado pelo autor”53, já a “recriação se refere

ao autor de ficção ter em mente que, inevitavelmente, ele precisará recriar e reciclar algum tema que já abordou e fez sucesso”54

. Esta última seria então uma manutenção da “fórmula”, seria aplicá-la, misturando-a com inovações.

Nesse sentido, Caldas (2000) afirma que a paraliteratura foi se adaptando. No entanto, a necessidade de agradar o público, as imposições do mercado e as técnicas de marketing levaram o escritor da paraliteratura da imaginação (Sodré prefere chamar literatura de massa) a criar um modelo padrão de romance, onde se encontram todos os ingredientes de aceitação do grande público. Assim, nesta estrutura haveria uma “fórmula de sucesso”.

Bloom (2002) afirma que é necessário que os autores de ficção tenham consciência de que serão plagiados, copiados em algum momento da vida. A literatura popular sempre irá olhar para trás, para os antigos best-sellers, ver o que tiveram de melhor e dali tirar inspirações e influências. Para citar um exemplo: a escritora Anne Rice fez muito sucesso escrevendo sobre vampiros, alguns anos depois esse tema voltou, com novo enfoque, com Crepúsculo (2009) (Stephenie Meyer) e desde então, surgiram vários outros autores abordando essa temática.

Outro fator a ser analisado no best-seller é a questão de estilo. Ele foi um gênero de ficção que se originou sob a influência do romance, mas também possui suas próprias características. Uma importante é a de não precisar ter estilo, a

53 HENRIQUE, Halime Musser Prado. Best-seller – A história de um gênero. 2010, p.47. 54

(33)

narrativa pode ser simples, mas precisa ser bem guiada para que consiga exercer a função de contar uma história. A linguagem necessita estar preocupada com a norma culta, mas precisa representar as falas das pessoas tais como elas são.

Os personagens são como super-heróis, ou seja, são modelos de conduta, mas por passarem por algum tipo de obstáculo na história tornam-se ainda mais fortes. Eles lutam por uma vida de sucesso e isto pode significar os estudos, o amor da sua vida, uma vida melhor para a família, um trabalho satisfatório etc.

Além disso, as histórias dos best-sellers podem servir como informativo, atualizar o leitor. O autor pode nos fornecer dados históricos, geográficos, culturais e etc. Por mais que sejam ficções eles podem ter dados verídicos, acontecimentos que realmente ocorreram. Como por exemplo, nos livros Querido John (2010) e Um homem de sorte (2011) Nicholas Sparks apresenta informações sobre a vida militar e no primeiro ainda tem a presença do ataque de 11 de setembro de 2001.

De uma coisa tenho certeza: as imagens do 11 de setembro ficarão comigo para sempre. Assisti à fumaça saindo das Torres Gêmeas e do Pentágono e vi o rosto sombrio dos homens à minha volta observando pessoas saltarem para a morte. Testemunhei o desabamento dos edifícios e a enorme nuvem de poeira e detritos que se formou em seu lugar. Senti fúria enquanto a Casa Branca era evacuada.

Poucas horas depois, soube que os Estados Unidos iriam reagir ao ataque e que as Forças Armadas liderariam a reação. A base entrou em alerta máximo, e duvido que alguma vez tenha ficado tão orgulhoso dos meus homens. Nos dias que se seguiram, foi como se todas as diferenças pessoais e afiliações políticas de qualquer tipo derretessem. Por um curto período de tempo, todos nós fomos simplesmente americanos.55

Nicholas Sparks criou um personagem que presencia um fato histórico que realmente aconteceu. John poderia ser qualquer cidadão americano, ele tem nome, profissão e sentimentos, tudo para que o leitor se identifique com a história.

Assim como nos romances, este gênero possui uma leitura de fácil compreensão, o leitor não precisa voltar às páginas para entender um assunto

55

(34)

determinado que não foi explicado de forma correta. O público leitor contemporâneo tem pouco tempo para o entretenimento e por isso procura algo prazeroso pra o seu lazer. Dentro dos best-sellers pode-se encontrar também o gancho, ou seja, cenas intrigantes, no final de capítulo, que só serão esclarecidas mais tarde, alguns capítulos depois a fim de instigar o leitor. Isso contribui para que o leitor tenha o sentimento de “não conseguir parar de ler”, pois ele quer resolver/descobrir/saber o que vai acontecer.

Neto e Dering (2013) esclarecem a importância da literatura de massa na sociedade:

A literatura de massa desempenha um papel importante na atualidade. Não somente como entretenimento para leitores de todas as idades, mas também como um construtor de concepções e pontos de vista. Apesar de recentemente estas obras estarem relacionadas ao somente ao consumo e ao baixo calão de literatura é fácil encontrar nelas indícios de que não é apenas uma “baixa literatura”, mas que também podem ser ricas, desalienadoras e podem incitar o leitor a se tornar mais ativo, além de transmitir conhecimento e lições de vida.56

Como se vê, os best-sellers sofrem de um certo preconceito, pois eles ainda são vistos apenas como produtos de uma sociedade consumista. Mas esses livros podem contribuir na construção de jovens formadores de opiniões, eles podem informar, transmitir conhecimento e fornecer lições de vida.

56

NETO, Afranio Pedro Martins, DERING, Renato de Oliveira. Conceituações de literatura de massa e posições do herói em O hobbit, de J.R.R.Tolkien. Revista Litteris, n.11, mar. 2013. Disponível em:

http://www.academia.edu/3263876/Conceituacoes_De_Literatura_De_Massa_E_Posicoes_Do_Heroi _Em_O_Hobbit_De_J.R.R._Tolkien Acesso em: 17 nov. 2013.

(35)

2.3 Best-sellers e os jovens

Outro aspecto a ser analisado é a leitura dos jovens. Nas escolas é comum ouvir-se que os jovens não leem, mas essa informação não é verdadeira para todos os alunos. Alguns leem sim, mas nem sempre a leitura cobrada da escola. Perante isso, Dau (2010) afirma que:

Percebe-se que a literatura, como se apresenta para os jovens nas escolas, mais afasta do que atrai esses jovens que, na maioria das vezes, só realizam leituras objetivando notas ou porque as mesmas serão cobrados em vestibulares. 57

Do lado de cá dos muros escolares está cada vez mais comum encontrar jovens lendo! Eles estão lendo sim, como nunca, devorando livros enormes e ansiosos aguardam outras publicações. Mas para a elite intelectual, o problema continua sendo a falta de leitura, mas de qual? Leitura não dos best-sellers, mas a leitura da “Alta Literatura”, dos clássicos da tradição literária que continuam sendo renegados pelos adolescentes e continuam sendo impostas pelas escolas.

Ainda sobre a leitura desses livros pelos jovens, os autores Aquino e Coenga (2011) afirmam que se aprende com mais facilidade o que se gosta e por isso:

A identificação com os best-sellers infanto-juvenis de hoje é instantânea porque o público-alvo deles é justamente o leitor jovem. As personagens destes livros em sua maioria ainda estão na escola, se apaixonando pela primeira vez, tentando descobrir quem são e do que gostam.(...) Eles

57

DAU, Mayara Regina Pereira. Best-sellers ou tradição literária: literatura e jovens leitores. 2010. Disponível em: http://www.cielli.com.br/downloads/255.pdf Acesso em: 18 mar.2013

(36)

gostam de ler sobre as mesmas alegrias e dificuldades que enxergam em seu dia-a-dia, pois estão em uma fase de auto-afirmação58

Neto e Dering (2013) não só afirmam que a literatura de massa traz resultados positivos como toda e qualquer leitura pode ser positiva dependendo de como leitor faz a leitura. Eles citam Todorov (2009) para comprovar seus pontos de vista:

Devemos encorajar a leitura por todos os meios – inclusive a dos livros que o crítico profissional considera com condescendência, se não com desprezo, desde Os Três Mosqueteiros até Harry Potter: não apenas esses romances populares levaram ao hábito da leitura milhões de adolescentes, mas, sobretudo, lhes possibilitaram a construção de uma primeira imagem coerente do mundo, que, podemos nos assegurar, as leituras posteriores se encarregarão de tornar mais complexas e nuançadas.59

Vieira (1989) é a favor de um trabalho mediador entre as duas literaturas (clássica e contemporânea), respeitando o leitor e sua história de leitura. Ela é categórica ao dizer: “negar a literatura de massa na prática docente seria interromper a iniciação que ela proporciona ao jovem”60

. A mesma autora sugere que a escola é essencial para que o aluno desenvolva o gosto literário, essa instituição tem que saber lidar com a situação, permitindo o acesso tanto aos produtos da cultura erudita quanto aos da indústria cultural, para que o estudante faça suas escolhas de forma consciente.

58

AQUINO, Cássia Regina Motta de; COENGA, Rosemar Eurico. Porque (não) ler best sellers na escola. 2011. Disponível em: http://www.slideshare.net/cassiamotta/porque-no-ler-best-sellers-na-escola Acesso em: 18 mar. 2013.

59

NETO, Afranio Pedro Martins, DERING, Renato de Oliveira. Conceituações de literatura de massa e posições do herói em O hobbit, de J.R.R.Tolkien. Revista Litteris, n.11, mar. 2013. Disponível em:

http://www.academia.edu/3263876/Conceituacoes_De_Literatura_De_Massa_E_Posicoes_Do_Heroi _Em_O_Hobbit_De_J.R.R._Tolkien Acesso em: 17 nov. 2013.

60

VIEIRA, Alice apud FHILADELFIO, Joana Alves. Alta literatura X Literatura de massas: diálogos (im)possíveis? In: V Congresso de Ciências Humanas, Letras e Artes, 2001, Ouro Preto. Anais. Disponível em: http://www.ichs.ufop.br/conifes/ .Acesso em 16 nov. 2013.

(37)

Vieira (1989) é da opinião de que tanto a leitura do best-seller quanto da história em quadrinhos precisa ser “uma opção e não impossibilidade de acesso a outras formas culturais”61, propõe que essas leituras podem ser utilizadas como

alicerces para uma leitura mais complexa, ou seja, contribuir para um melhor entendimento da chamada literatura clássica. A autora afirma que:

Partindo do repertório cultural dos estudantes, neste caso a leitura de best-sellers, em um trabalho de análise e comparação, encaminhá-los à leitura de textos literários mais elaborados. Aceitando-se que um dos objetivos da escola é formar indivíduos capazes de conhecer, criticar e modificar a sociedade em que vivem, então cabe a ela oferecer meios para que alunos de classes sociais diversas tenham acesso ao saber erudito.62

Fhiladelfio (2001) concorda com Vieira (1989) ao ressaltar a opinião que:

Não se está propondo que se vete aos estudantes os produtos da indústria cultural e que se lhes imponha a leituras dos clássicos, mas que seja dada a eles a possibilidade de discernir os limites que os objetivos das obras de consumo impõem à formação de um leitor que seja simultaneamente crítico da cultura, e a potencialidade que a arte contém de favorecer a construção desse leitor. O caminho para chegar a uma verdadeira apreciação da arte passa pela educação da capacidade crítica.63

61

VIEIRA, Alice apud FHILADELFIO, Joana Alves. Alta literatura X Literatura de massas: diálogos (im)possíveis? In: V Congresso de Ciências Humanas, Letras e Artes, 2001, Ouro Preto. Anais. Disponível em: http://www.ichs.ufop.br/conifes/ .Acesso em 16 nov. 2013.

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Referências

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