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CONSENTIMENTO DO OFENDIDO NAS LESÕES DESPORTIVAS

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Academic year: 2021

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CONSENTIMENTO DO OFENDIDO NAS LESÕES DESPORTIVAS

Resumo:

O consentimento do ofendido sempre esteve e está presente nas lesões desportivas. Atualmente, muitos juristas e teóricos brasileiros vem descutindo tal assunto objetivando demostrar a grande influência dos desportes e as lesões que eles podem acarretar, observando o aspecto penal que existe nas lesões excessivas e que ferem as regras do desporte e a um bem juridico tutelado pelo estado que é importante e fundamental para a dignidade humana: a integridade física. O presente artigo tem como objetivo responder perguntas fundamentais pra o entendimento dessa teoria, tais como: o que é o concentimento do ofendido, quais os seus planos, de que maneira ele será aplicado e qual a sua importância perante a sociedade, sendo que, tais aspectos são de extrema importância para o entendimento e conclusões sobre este assunto tão caracteristico do direito brasileiro.

Palavras- Chave: lesões, consentimento, desportes.

Introdução:

O consentimento do ofendido, corresponde a uma teoria bastante peculiar, uma vez que a mesma abrange várias teses que causam polêmica e discussões relacionadas a onde e como ela ocorre, sendo que, seu conceito consiste em uma pessoa abrir mão por livre e espontânea vontade de um bem jurídico disponível.

Não há uma definição pacífica de bem jurídico, porém PRADO (1996), aponta em sua obra que “na doutrina estrangeira, Welzel considera o bem jurídico como bem vital da comunidade ou do indivíduo, que por sua significação social é protegido juridicamente”, conceito este, que expõe valorativamente o quão garantido pelo estado, positivamente o bem juridico é.

Existem dois tipos de bem jurídicos: os diponíveis, que correspondem àqueles que são de interesse particular, onde o Estado protege quando ele é violado sem a permissão do titular do direito, como exemplo, o patrimônio; e os indisponíveis que correspondem àqueles que são protegidos pelo Estado, porém são indispensáveis e intransferíveis, ou seja, independe do consentimento do titular do direito sua proteção, como exemplo, a vida. Para que ocorra o consentimento do ofendido, existem alguns requesitos que são indispensáveis:

I- concordância do titular do direito; onde a sua vontade deve ser obtida sem estar alienada a nenhum tipo de fraude ou coação mantendo-se livre.

II- a capacidade jurídica do ofendido deve existir para que o mesmo tenha consciência dos efeitos de sua decisão

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III- o consentimento deve ocorrer antes ou durante a prática do ato, pois após o ato ocorrido já se caracteriza um crime.

IV- conhecimento do agente a respeito do consentimento do ofendido.

Desenvolvimento:

O consentimento do ofendido nos desportes parte de dois presupostos, sendo o primeiro com violência eventual, onde a mesma existirá subjetivamente associada a outro fator que será o determinante no desporte, como por exemplo, basquete, futebol.

O segundo são os desportes violentos, sendo uma causa em que os praticantes terão a conciência de que serão atingidos fisicamente e, de acordo como o regulamento do esporte, terão que ser obrigatoriamente aceitas pelos competidores; como exemplo o MMA (Artes Marciais Mistas), porém em qualquer desporte violento todos os participantes, acabam de tal forma abrindo mão da proteção àza sua integridade fisica, uma vez que esse tema não possui um tratamento unificado e pacifico.

Foto 1: Caim Velasquez vs Antonio Bigfoot Silva 2012 Fonte: www.rcspeck.com

Foto 2: Joe Stevenson UFC 80, lamenta sua derrota Fonte: www.rcspeck.com

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Como Fernando Capez afirma:

Com efeito é impossivel lutar com os punhos sem provocar ofensa à integridade de outrem. Se o estado permite e regulamenta o boxe, não pode, ao mesmo tempo, considerar a sua prática um fato típico, isto é, definido em lei como crime. Seria contraditório. O risco de lesões e até mesmo a morte é um risco permitido e tolerado, após o Poder Público sopesar todos os prós e os contras de autorizar a luta. (Direito Penal- Parte Geral, pg. 276)

Antigamente, o MMA era um desporte em que a sociedade julgava violento, por haver várias atitudes expressivas que causavam raiva, ódio e nenhum respeito entre os participantes, resultado de grandes ocorrências de casos excessivos de violação a integridade física dos concorrentes; contudo graças a uma grande avanço dos costumes da sociedade, este desporte hoje é aceito pela maioria, sendo que, ainda existem pessoas que não concordam com tal ato desportivo, pois a ideologia do mesmo permanece a mesma: “o combate”. Atualmente, esse desporte evoluiu, criando-se regras extremamentes rigorosas em que os participantes são obrigados a cumprir, como:

• os rounds que passaram a ter cinco minutos de duração, com um minuto de intervalo para descanso entre eles;

• a arbitragem e critérios de julgamentos estabeleceram que o árbitro e o médico do evento são os únicos indivíduos que podem interromper uma luta e únicos autorizados a entrar na área de combate a qualquer momento;

• as técnicas permitidas são golpes com o cotovelo, exceto se forem aplicados de cima para baixo;

• as contusões obtidas durante o combate devem ser sofridas por manobras legais, severamente o suficiente para encerrar a luta, fazendo com que o competidor machucado perca por nocaute técnico.

Foto 3: Atletas se cumprimentam após combate Fonte: blogs.diariodepernambuco.com.br

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O MMA se caracteriza como um ato de competitividade, que visa diretamente a violência contra seu oponente. O contato corpóreo com o outro individuo é sempre constante, contudo ele é considerado lícito, pois a partir do momento em que o competidor aceita praticar o mesmo, consequentemente o risco de sofrer lesões se torna admissível implicitamente por ele, caracterizando assim o direito do ofendido.

Como efeito de segurança jurídica, o estado prevê regulamentos a esses desportes, que estão presentes na Lei Federal nº 9.615, art. 1º, §1º e § 2º, e no art. 217, I e II da Constituição Federal.

Art. 1o O desporto brasileiro abrange práticas formais e não-formais e obedece às normas gerais desta Lei, inspirado nos fundamentos constitucionais do Estado Democrático de Direito.

§ 1o A prática desportiva formal é regulada por normas nacionais e internacionais e pelas regras de prática desportiva de cada modalidade, aceitas pelas respectivas entidades nacionais de administração do desporto.

§ 2o A prática desportiva não formal é caracterizada pela liberdade lúdica de seus praticantes.

Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um, observados.

I- a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua organização e funcionamento.

II- a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento.

Ocorre que grande parte dos competidores aceitam o regulamento do esporte, porém outros tentam denegrir a imagem do mesmo, não obedecendo as suas regras violando os direitos pessoais e inerentes ao homem, fazendo com que o estado seja convocado a executar seu papel na esfera penal, caracterizando tais atos como crime de lesão corporal previsto no art.129, CP.

Como um exemplo claro do consentimento do ofendido ser violado está o futebol, que apesar de ser um esporte onde não exista contato direto com o adversário a fim de lesioná-lo para se chegar à vitória, houve um fato ocorrido em 1989 onde um jogador do Grêmio Porto-Alegrense, quando a partida estava interrompida chutou o rosto do centroavante do Palmeiras, sendo que o mesmo já estava caído, pois no futebol, a violência não é um meio utilizado no esporte diretamente, o objetivo do jogo não seria desferir golpes no adversário até que o mesmo se renda, caracterizando a ilicitude ao bem jurídico da integridade.

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Vários autores jurídicos, e ao ver da sociedade atualmente, a integridade física é considerada um bem jurídico disponível, apesar de que não é esse o conceito que prevalece em nossa doutrina. Como regra, na esfera do direito penal, a integridade física é um direito protegido legalmente, sendo um bem jurídico indisponível, ou seja, indispensável, porém o consentimento do ofendido vem tendo poder descriminante, como aponta Nucci1 (2013), desde que a vítima não venha correr risco de vida ou sua capacidade de indivíduo como valor social seja afrontado. Portanto, na prática de desportes como MMA, BOXE etc.; os desportistas podem abrir mão de seu direito, pois se considera o fato de tendência natural onde o ato se torna impunível.

Destaque–se, no entanto, uma “brecha” no desporte MMA e no boxe, que apesar de todos os regulamentos previstos no mesmo, muitas das vezes, quando os lutadores começam o combate e um dos dois desiste em pleno confronto; (devido ter sofrido nocaute ou estar imobilizado de uma forma que o prejudique fisicamente), o outro competidor não para de desferir os golpes, sendo que, mesmo com a intervenção de juízes naquele momento, o lutador que já havia deixado a competição, não havendo mais o combate, ainda assim foi lesionado.Também Tubagus Sakti2 um jovem de 17 anos lutador de boxe na categoria Júnior da cidade de Jacarta na Indonésia, veio a falecer no ringue após o seu adversário desferir vários golpes na cabeça, sendo que ele já havia estendido os braços para cima em sinal de rendimento, porém a intervenção do juíz foi tardia, ocasionando assim uma hemorragia cerebral levando-o a óbito. Claramente nota-se que toda atitude exacerbada, ou seja, além do que se é permitido merece punição, sendo que as lesões corporais estão evidenciadas no art. 129, CP. Pois o consentimento do ofendido só é permitido quando o interesse das partes não contrariam os valores e costumes da sociedade, que apesar de sua evolução, não enxerga com bons olhos a agressividade em esportes que possam causar lesões graves que levem até a morte.

Tais atos excessivos tem sido enquadrados no excesso das excludentes, que correspondem os atos que ultrapassam o consentimento do ofendido, sendo eles:

I- Excesso doloso: aquele em que o agente ao se defender, agiu contra outrem, intencionalmente, uma lesão maior do que necessário.

II- Excesso culposo: aquele em que o agente causa a agressão sem o devido cuidado ou técnica necessária, para se defender.

III- Excesso exculpante: aquele em que o agente se apavora, por causa do medo e acaba excedendo em suas atitudes ao se defender.

IV- Excesso acidental: aquele em o agente acidentalmente exagera em sua defesa.

1

NUCCI, GUILHERME DE SOUZA. Manual de Direito Penal: Parte geral: Parte especial. 9.º ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.1182p.

2

SAKTI, Tubagus. Jovem de 17 anos da cidade de Jacarta na Indonésia que morreu em uma luta de boxe defendendo o titulo. Fonte: esportes.terra.com.br

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Em sua teoria, Feuerbach apud Pierangeli (p.67) afirmou que enquanto uma pessoa pode renunciar de seus direitos através de um ato declaratório de sua vontade, o consentimento para o fato da parte do prejudicado elimina o conceito de delito; porém o que tem sido a problemática dessa teoria é até onde a justiça e o direito devem aceitar a causa excludente de ilicitude, quando como nos exemplos citados acima, o bem jurídico disponível integridade consentido pelo titular, foi agravado levando a ferir um bem jurídico indisponível, o seu direito a vida que é previsto no art. 5º da Constituição Federal.

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes.

Conclusão:

Nota-se que a teoria do consentimento do ofendido é utilizada negativamente nos desportes violentos, realizados por pessoas que não levam o esporte, como um esporte, e sim como como uma ferramenta de legitimidade em seus atos de agredir, lesionar, ferir, fisicamente o outrem, afim de muitas vezes exibir uma pratica ilícita de obter lucros financeiros em mega eventos estrondozos. No aspecto positivo tal desporte descrito, proporciona condicionamento fisíco, defesa pessoal, auto-confiança e também ajuda em grandes projetos sociais nas periferias e lugares onde a classe econômica é mais baixa.

Assim, nos pontos analisados, pôde-se ver que o consentimento do ofendido, para ser aplicado, deve-se analizar o contexto social e em como a sociedade o enxerga em aspectos positivos e negativos, sendo que o Estado deve estar sempre atento a novos excessos das excludentes e em até que ponto pode-se aceitar o consentimento do ofendido nos desportes, para que haja uma imputação objetiva contra tais excessos, que acabam se tornando intoleráveis, a um bem jurídico tão importante que é a integridade física.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAPEZ, FERNANDO. Curso de Direito Penal: Parte Geral. Saraiva, 1 v.

NUCCI, GUILHERME DE SOUZA. Manual de Direito Penal: Parte geral: Parte especial. 9.º ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.1182p.

PRADO, LUÍS REGIS. Bem Jurídico-Penal e Constituição; Revistas dos Tribunais.

PIERANGUELI, JOSÉ HENRIQUE. O Direito do Ofendido na Teoria do Delito; Revista dos Tribunais.

Fotos:

blogs.diariodepernambuco.com.br www.rcspeck.com

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CONSENTIMENTO DO OFENDIDO NAS LESÕES DESPORTIVAS

MENEZES, Larissa Vieira (Unitri, Correspondência:

laryssa_menezes_@hotmail.com)

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Referências

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