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A crítica da crítica: uma análise do debate sobre a crítica de Lucas à construção de modelos macroeconômicos.

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO SOCIOECONÔMICO

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS CUROS DE GRADUAÇÃO EM ECONOMIA

RAFAEL CESAR CIRICO GARCIA

A CRÍTICA DA CRÍTICA: UMA ANÁLISE DO DEBATE SOBRE A CRÍTICA DE LUCAS À CONSTRUÇÃO DE MODELOS MACROECONÔMICOS

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Rafael Cesar Cirico Garcia

A CRÍTICA DA CRÍTICA: UMA ANÁLISE DO DEBATE SOBRE A CRÍTICA DE LUCAS À CONSTRUÇÃO DE MODELOS MACROECONÔMICOS

Trabalho Conclusão do Curso de Graduação em Economia do Centro de Socioeconômico da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Economia

Orientador: Prof. Dr. Daniel Santana de Vasconcelos

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Rafael Cesar Cirico Garcia

A CRÍTICA DA CRÍTICA: UMA ANÁLISE DO DEBATE SOBRE A CRÍTICA DE LUCAS À CONSTRUÇÃO DE MODELOS MACROECONÔMICOS

Este Trabalho Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do Título de Graduando e aprovado em sua forma final pelo Curso de Economia

Florianópolis, 10 de Dezembro de 2019.

________________________ Prof. Daniel de Santana Vasconcelos, Dr.

Coordenador do Curso

Banca Examinadora:

________________________ Prof. Daniel de Santana Vasconcelos, Dr.

Orientador Instituição UFSC

________________________ Prof. Wagner Leal Arienti, Dr.

Avaliador Instituição UFSC

________________________ Mario Augusto Gouvêa de Almeida, Dr.

Avaliador

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos amigos, colegas, professores e familiares que me incentivaram a sempre dar o meu melhor em tudo o que eu faço na minha vida. Sem o seu suporte, este trabalho não teria sido realizado. Eu agradeço ao professor Daniel Vasconcelos por ter me ajudado nesta reta final, assim como me inspirado a seguir o caminho pós-Keynesiano. Agradeço aos professores do curso, e aos participantes da banca, professor Wagner Arienti, que me deu aula de macroeconomia e me influenciou na perspectiva heterodoxa da economia, e a participação do Mario de Almeida na minha banca. Por fim, agradeço a mim mesmo por sempre ter seguido em frente e enfrentado as adversidades da vida.

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RESUMO

Esta pesquisa é uma revisão da literatura econômica no que concerne a microfundamentação dos modelos macroeconômicos. Essa revisão proporcionará um mapeamento da controvérsia em questão. No caso da “Crítica de Lucas”, Robert E. Lucas (1976) questionou a necessidade de microfundamentação nos modelos macroeconômicos, uma vez que a previsão gerada pelos modelos macroeconômicos é incompatível com a realidade no caso da expectativa dos agentes se alterar quando ocorre a alteração na política econômica. Desta forma, a pesquisa tem como objetivos analisar se a Crítica de Lucas ainda vigora nos dias atuais, ao considerar o impacto que a Crítica de Lucas teve desde a década de 80 nas discussões acerca da construção de modelos macroeconômicos. A análise é realizada sobre os resultados encontrados por diversos autores na construção de modelos que tinham como interesse testar a implicação da Crítica de Lucas. Para esta pesquisa, o foco está nos modelos DSGE – que são amplamente utilizados pelos bancos centrais do mundo atualmente. O resultado da pesquisa é de que os testes realizados permitiram concluir que microfundamentos não garantem que os modelos funcionem adequadamente, dado que os modelos DSGE não são invariantes a política econômica, e modelos empíricos ainda são instáveis. Não obstante, questiona-se também se modelos macroeconômicos realmente precisam de microfundamentos, uma vez que os princípios primordiais da teoria microeconômica são falhos.

Palavras-chaves: Microfundamentos. Crítica de Lucas. Modelos DSGE. Modelos macroeconômicos. Expectativa dos agentes.

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ABSTRACT

This research is a review of economic literature in regards to the existence of microfundaments in macroeconomic models. This review will provide a mapping of this given controversy. In the case of the “Lucas Critique”, Robert E. Lucas (1976) questioned the necessity of microfundaments in macroeconomic models, once the forecast generated by these models is incompatible with reality in the case of the agents’ expectations altering when there is a change in economic policy. Therefore, this research has as an objective to analyze whether the Lucas Critique still prevails nowadays, considering the impact that it had since the 80s in discussions regarding the construction of macroeconomic models. The analysis was realized over results found by many authors on the construction of models that had the interest of testing the Lucas Critique on them. For this research, the focus is in DSGE models – which are amply utilized by central banks worldwide nowadays. The results of the research are that the tests realized allowed me to conclude that microfundaments do not necessarily guarantee that the models will work properly, given that the DSGE models are not invariant to economic policy, and that empirical models are still unstable. Not only that, but it is also questioned if macroeconomic models really need microfundaments, once microeconomic first principles fail in many aspects.

Palavras-chaves: Microfundaments. Lucas Critique. DSGE models. Macroeconomic models. Agents’ expectations.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...17

1.1 OS FUNDAMENTOS DA TEORIA KEYNESIANA...17

1.2 INTRODUÇÃO À CRÍTICA DE LUCAS...19

1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA………...20

1.3.1 Objetivo Geral...20

1.3.2 Objetivos Específicos...20

1.2.3 Justificativa...20

1.4 METODOLOGIA...22

2 CAPÍTULO 1: A CRÍTICA DE LUCAS À TEORIA KEYNESIANA...23

2.1 O DEBATE ENTRE KEYNES E TINBERGEN...23

2.2 A CRÍTICA DE LUCAS...24

2.3 OS MICROFUNDAMENTOS DOS MODELOS MACROECONÔMICOS...26

2.3.1 Sobre os microfundamentos...26

2.3.2 Sobre o agente representativo...29

2.3.3 Sobre as expectativas racionais dos agentes...31

3 CAPÍTULO 2: OS MODELOS DSGE...34

3.1 SOBRE OS MODELOS MACROECONÔMICOS...34

3.1.1 O surgimento da macroeconomia como uma disciplina...34

3.1.2 Economia Keynesiana até o final dos anos 60...34

3.1.3 Da teoria neoclássica até as teorias RBC de Kydland e Prescott...36

3.2 OS MODELOS RBC...37

3.3 ASPECTOS BÁSICOS DOS MODELOS DSGE...39

3.4 A CONSTRUÇÃO DOS MODELOS DSGE...40

4 CAPÍTULO 3: OS MICROFUNDAMENTOS DOS MODELOS MACRO...44

4.1 A CRÍTICA DE LUCAS EM UM MODELO VEC...44

4.2 OS MICROFUNDAMENTOS DOS MODELOS DSGE...46

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4.2.2 Sobre a estabilidade de modelos empíricos...47

4.2.3 Resultados dos testes com modelos empíricos...48

4.2.4 Sobre a estabilidade de modelos teóricos...49

4.3 SOBRE A RELEVÂNCIA DA CRÍTICA DE LUCAS NA ATUALIDADE...50

4.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A CRÍTICA DE LUCAS...53

5 CONCLUSÃO...55

5.1 O IMPACTO DA CRÍTICA DE LUCAS...55

5.2 O FUTURO DOS MODELOS DSGE…...55

5.3 UMA RECAPITULAÇÃO DOS ASPECTOS CENTRAIS DA DISCUSSÃO...56

5.4 OS MODELOS MACRO PRECISAM DE MICROFUNDAMENTOS?...60

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1 INTRODUÇÃO

Robert E. Lucas, em seu artigo Econometric policy evaluation: a critique (1976), questionou a capacidade de que sejam definidos com precisão os efeitos de políticas econômicas – tendo em vista as proposições de John Maynard Keynes no seu livro A teoria geral do emprego, do juro e da moeda (1936) e de seus sucessores, no sentido da defesa de políticas econômicas como instrumentos ativos de gerenciamento macroeconômico dos países. Lucas também questiona o papel dos modelos macroeconômicos que eram utilizados para fazer as previsões dos impactos reais de tais políticas econômicas – o que ficou conhecido como a “Crítica de Lucas” na década de 1970, e assim será chamada durante a pesquisa. A dificuldade de acertar as previsões dos modelos está relacionada ao fato de que os parâmetros utilizados nos modelos macroeconométricos dependem das expectativas dos agentes, e que dificilmente estes parâmetros permanecem estáveis assim que os agentes elaboradores de política econômica (policy-makers) mudam o seu comportamento.

Logo, é com inspiração neste questionamento que ainda gera discussões cruciais, polêmicas e controversas entre monetaristas, novos keynesianos e novos clássicos que esta pesquisa está baseada1. O objetivo deste trabalho é de analisar a controvérsia da previsibilidade de modelos macroeconômicos, dado a expectativa dos agentes, tendo como fundamento a Crítica de Lucas. A proposta é analisar se a Crítica ainda vigora no caso dos modelos macroeconômicos mais utilizados na atualidade, os Modelos DSGE (Dynamic Stochastic General Equilibrium), que em português são chamados de Modelos Dinâmicos Estocásticos Microfundamentados, ou simplesmente Modelos DSGE, como serão chamados durante a pesquisa.

1.1 OS FUNDAMENTOS DA TEORIA KEYNESIANA

O questionamento teórico que fundamenta as discussões levantadas por Lucas sobre a eficácia de modelos econométricos está contido na obra de John Maynard Keynes. O ponto de partida para uma breve contextualização histórica das discussões que levaram ao questionamento de Lucas reside na obra que Keynes publicou em fevereiro de 1936, o seu famoso livro A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. O objetivo principal de Keynes com este livro foi de

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A base dessa discussão pode ser encontrada principalmente nas obras de: LUCAS; SARGENT, 1981; FERRARI-FILHO, 1996; ESTRELLA; FUHRER, 2003; LUBIK; SURICO, 2006; GALÍ, 2008; RUDEBUSCH, 2005; SNOWDON; VANE, 2005; DA SILVA, 2009; COGLEY; YAGAHASHI, 2010; CHRISTIANO et al., 2018.

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15 explicar o que causa o desemprego involuntário na economia, assim como as deficiências de funcionamento das economias monetárias que levam ao fenômeno de equilíbrios com desemprego, e quais os remédios, em termos de política econômica, para esses problemas.

Keynes (1983) foi motivado a estudar as causas do desemprego tendo em vista propor soluções para as altas taxas de desemprego que acometiam diversos países do mundo especialmente em decorrência da Crise de 1929. Segundo Keynes (1936), a teoria clássica não estava mais servindo para explicar o alto desemprego, em especial no caso do desemprego involuntário – em que os trabalhadores estão desempregados por falta de opção –, dado o contexto econômico extremo da época, em que países como os EUA chegaram a ter taxas de desemprego em torno de 25% de sua força de trabalho, e no Canadá superiores a 30%. Entre 1929 e 1932, o PIB mundial caiu cerca de 15%2.

As políticas de redução de déficits fiscais através da contenção dos gastos públicos adotadas pelos governos não estavam sendo capazes de retornar o produto das economias mundiais ao equilíbrio no pleno emprego. Para lidar com tal situação, Keynes propôs então tratar o problema a partir de uma perspectiva técnica, e lidar com o problema do desemprego através da aplicação de instrumentos de política econômica, através do uso de ferramentas fiscais (relacionadas aos gastos do governo e/ou política tributária) e monetárias (relacionadas a administração das taxas de juros provisão de liquidez para a economia). Parte de suas ideias foram efetivamente postas em prática mundialmente – na verdade, já vinham sendo assim realizadas nos anos 1930, embora sem uma base teórica a defender políticas anti-cíclicas. Minsky (2010) argumenta que vem daí o surgimento e consolidação do Big Government (o governo como agente ativo na economia, constituindo grande parte do PIB) e do Big Bank (os bancos centrais como emprestadores de última instância).3 Então, dado a situação de desemprego da época em que Keynes publicou o livro, os governos e bancos centrais começaram a realizar, agora com uma teoria que lhes desse lastro, políticas econômicas de ordem fiscal e monetária visando retornar o produto das nações a um estado de pleno emprego.

Para completar, em relação aos aspectos mais relevantes da teoria keynesiana para esta pesquisa, há também o caso da expectativa dos agentes e a sua incerteza quanto ao futuro. Pois, dado que o nível de investimento em capital produtivo acaba definindo o produto agregado, a expectativa dos agentes quanto ao futuro da economia e a incerteza quanto a este futuro acabam

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LOWERSTEIN, R. Economic History Repeating. Wall Street Journal. Janeiro de 2015. Disponível em <https://www.wsj.com/articles/book-review-hall-of-mirrors-by-barry-eichengreen-1421192283>. Acessado em 21/11/19.

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influenciando o nível de investimento dos empresários, que investem tendo em vista a demanda agregada dos agentes no futuro. Entretanto, a demanda efetiva só vai se realizar no próprio futuro, e o seu valor efetivo é incerto para aqueles que investem no tempo presente. Pois é notável a impossibilidade de prever com absoluta certeza o futuro da economia. Por fim, com esta nova abordagem, Keynes trouxe para a discussão a questão da subjetividade dos agentes em relação às suas expectativas e as incertezas quanto ao futuro da economia, que efetivamente é incerto dado a incapacidade dos agentes de prever o futuro. É esta relação entre o presente e o futuro que fundamenta a discussão central desta pesquisa.

1.2 INTRODUÇÃO À CRÍTICA DE LUCAS

Em decorrência da ampla aplicação teórica e prática de análises e políticas econômicas baseadas na obra de Keynes, Lucas (1976) apontou para a incapacidade de economistas de preverem o efeito de políticas macroeconômicas tomando como base a observação de dados históricos através de análises macroeconométricas, em especial em relação aos dados agregados (macroeconômicos). Lucas (1976) resumiu a sua famosa crítica ao dizer:

(...) dado que a estrutura de um modelo econométrico consiste em regras de decisão ótimas dos agentes econômicos, e que as regras de decisão ótimas variam sistematicamente com mudanças na estrutura das séries relevantes para o agente tomador de decisões, conclui-se que qualquer mudança na política irá sistematicamente alterar a estrutura dos modelos econométricos4. (LUCAS, 1976, p.41, tradução minha)

A Crítica de Lucas à teorização macroeconômica é uma alusão a ideia de que os modelos macroeconômicos estão fadados ao insucesso no caso de ausência de microfundamentos. Assim como proposto no seu artigo, Lucas (1976) sugere que para prever efeitos da aplicação de uma política macroeconômica é necessário modelar os “parâmetros profundos” (microfundamentos) que se presumem que regem o comportamento individual, relativos a preferências de consumidores, e o uso de tecnologia e de recursos. Lucas ainda aponta que a importância de microfundamentação nos modelos macroeconômicos se justifica devido aos parâmetros utilizados pelos modelos macroeconômicos dependerem das expectativas dos agentes, e que estas dificilmente permanecem estáveis assim que os formuladores de políticas econômicas mudam o seu comportamento. A proposta de Lucas é de que se os modelos

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“(...) given that the structure of an econometric model consists of optimal decision rules of economic agents, and that optimal decision rules vary systematically with changes in the structure of series relevant to the decision maker, it follows that any change in policy will systematically alter the structure of econometric models”.

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17 macroeconômicos puderem representar as regularidades empíricas observadas, eles serão possivelmente capazes de prever melhor os impactos reais de uma política econômica.

1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA

Os Objetivos deste trabalho podem ser divididos entre Gerais e Específicos.

1.3.1 Objetivo Geral

Mapear e descrever a controvérsia teórica e prática no que concerne a Crítica de Lucas sobre a microfundamentação e a previsibilidade dos Modelos DSGE.

1.3.2 Objetivos Específicos

a) Analisar se os modelos DSGE realmente necessitam de microfundamentos para funcionar adequadamente por meio de uma breve revisão da literatura econômica.

b) Analisar os resultados encontrados por diversos pesquisadores que realizaram testes da Crítica de Lucas sobre modelos macroeconômicos (DSGE).

1.3.3 Justificativa

A Justificativa desta pesquisa se resume ao fato do assunto ser uma das principais fontes de discussões e controvérsias no âmbito da construção de modelos macroeconômicos na atualidade, de acordo com artigos e livros citados na Introdução. Esta pesquisa não tem o potencial de ser de fato inovadora, mas ela tem o potencial de apontar para as discussões mais atuais neste tema da macroeconomia no âmbito mundial. Modelos macroeconômicos são desenvolvidos e utilizados por bancos centrais para prever o efeito de choques na economia. Não apenas isso, esta pesquisa tem o potencial de apontar quais são as proposições teóricas que estão ganhando proeminência na atualidade.

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1.4 METODOLOGIA

Nos termos de Umberto Eco (ECO, 2007), esta é uma pesquisa “teórica” (idem, p.35), pois propõe a análise de um problema abstrato, e não concreto. A pesquisa é também “panorâmica” (idem, p.39), dado que é uma pesquisa “horizontal”, ou abrangente, ao considerar o estado da arte geral do tema proposto. A questão da pesquisa é específica – sobre a validade da Crítica de Lucas –, mas o tema da pesquisa é bastante abrangente. Por isso, o recorte teórico será focado absolutamente apenas na questão central da pesquisa. Por fim, esta é uma monografia teórica de cunho científico, não sendo do interesse do investigador questionar questões políticas ou ideológicas acerca do tema proposto, mas apenas o seu entendimento e as aplicações práticas da teoria.

Assim, e de forma mais específica, a metodologia empregada na pesquisa se resumirá a uma revisão da literatura produzida no que concerne a Crítica de Lucas aos modelos macroeconômicos. A revisão da literatura partirá de uma: a) tese - a crítica de Lucas é consistente nos modelos atuais; para uma: b) antítese - os modelos macroeconômicos não necessitam de microfundamentos na forma defendida por Lucas (LUCAS, 1976); para então seguir para uma: c) síntese: as perspectivas propostas pelos autores na atualidade discutidas demonstradas na pesquisa, e serão sintetizados os pontos em que os autores convergem ou divergem uns dos outros.

Os aspectos fundamentais da teoria a ser analisada já estão bem organizados em livros e artigos como os de Blanchard (1999, 2018), Snowdon; Vane (2005), Lubik; Surico (2006), Galí (2008), De Vroye; Malgrange (2011). Entretanto, os autores não obrigatoriamente concordam entre si, e outros autores questionam os fundamentos da teoria em diversos aspectos e propõem hipóteses e soluções próprias para a controvérsia analisada, como é o caso de Rudebusch (2005), Da Silva (2009), Cogley; Yagihashi (2010), Tesfatsion (2013), Christiano; Eichenbaum; Trabandt. (2018). Desta forma, a revisão sistemática da literatura será realizada tendo em vista apresentar as controvérsias acerca do tema da pesquisa. No entanto, o trabalho não tem como objetivo trazer respostas finais à controvérsia em questão, dada a complexidade da discussão, mas apenas mapeá-la, descrever os diversos atores e suas concepções teóricas, e entender como a controvérsia tem sido conduzida através do tempo, até os dias atuais.

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2 CAPÌTULO 1: A CRÍTICA DE LUCAS À TEORIA KEYNESIANA

2.1 O DEBATE ENTRE KEYNES E TINBERGEN

Keynes, no seu livro A teoria geral do emprego, do juro e da moeda (1936), teve o objetivo de explicar o que causa o desemprego na economia, e promover estratégias para lidar com o problema. Keynes (1936) foi motivado a estudar as causas do desemprego tendo em vista propor soluções para as altas taxas de desemprego que acometiam diversos países do mundo, especialmente em decorrência da Crise de 1929. Keynes propôs a aplicação de instrumentos de política econômica, através do uso de ferramentas fiscais (relacionadas aos gastos do governo) e monetárias (relacionadas a liquidez de moeda) como forma de lidar com o problema do desemprego, uma vez que as estratégias ortodoxas se mostraram ineficazes para lidar com os problemas econômicos da sua época. A sua proposição foi levada a sério por bancos centrais, e diversos economistas apropriaram as suas teorias e as transformaram em modelos para serem utilizados no cálculo das variáveis econômicas agregadas, como é o caso do modelo IS-LM proposto por John Hicks (HICKS, 1937).

Em descompasso com os modelos construídos baseados nas proposições de Keynes, Jan Tinbergen, já na década de 1930, propôs o uso de métodos estatísticos e econométricos para a definição de relações causais entre variáveis agregadas e as causas das flutuações cíclicas na economia (TINBERGEN, 1939a, 1939b, 1959). O seu trabalho foi contratado pela Liga das Nações para que ele desenvolvesse modelos macroeconométricos, no mesmo estilo que o próprio autor já havia desenvolvido para a economia holandesa anteriormente (TINBERGEN, 1939a, 1939b). Ao dialogar com a obra de Keynes, o autor apontava que depressões eram causadas por “desproporcionalidades” (choques exógenos) à estrutura econômica (ALMEIDA, 2014, pp.83-84).

Keynes realizou uma crítica direta a proposição de Tinbergen em aspectos teóricos e metodológicos. Em especial, Keynes questionou uma série de aspectos relacionados a proposição de Tinbergen, sobre: 1) a limitação que os modelos econométricos tinham na época; 2) a falta de dados necessários para realização de análises indutivas; 3) se a econometria teria capacidade de realizar previsões com dados econômicos; 4) questões de correlação e multicolinearidade; 5) a instabilidade estrutural das relações entre as variáveis; 6) a incapacidade da estatística de prever o futuro, dado às várias incertezas inerentes a realidade social (ALMEIDA, 2014). Partindo tanto

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da sua própria perspectiva teórica proposta na Teoria geral (KEYNES, 1983) e no seu Treatise on probability (KEYNES, 1921), Keynes já havia deixado claro neste debate as suas várias dúvidas relacionadas a capacidade de modelos econométricos de preverem o futuro. Lucas voltaria a questionar a eficácia dos modelos econométricos algumas décadas depois, partindo de outros questionamentos que serão apresentados abaixo.

2.2 A CRÍTICA DE LUCAS

A discussão de Lucas parte do apontamento de que existe um conflito entre modelos teóricos e modelos econométricos. O autor diz que uma reconciliação entre ambos está fadada ao insucesso, e que uma destas duas tradições é fundamentalmente um erro (LUCAS, 1976, p.19). Para Lucas, é a tradição econométrica que necessitava de revisão. O ponto a ser revisado era a forma como vinha sendo constituída a vertente teórica que o autor chamou de “Teoria da política econômica”, que estava sendo desenvolvida por alguns economistas como Jan Tinbergen.

Para explicitar as suas críticas aos modelos da vertente teórica da “Teoria da política econômica”, Lucas decidiu reconstruir um modelo básico para descrever a economia como era costumeiramente utilizado por econometristas da época. Partindo da equação diferencial yₜ₊₁ = f(yₜ, xₜ, eₜ), a economia é descrita em um período de tempo t por um vetor yₜ de variáveis de estado, um vetor xₜ de variáveis exógenas, e um vetor eₜ de choques aleatórios distribuídos identicamente independentes (através do tempo). O movimento da economia é determinado pela equação diferencial de distribuição de eₜ, e uma descrição do comportamento temporal das variáveis de força, xₜ. A função f é tomada como sendo fixa mas não diretamente desconhecida. Basicamente, o objetivo dos empiristas é de estimar o valor de f. Lucas ainda aponta que por razões práticas, muitos economistas costumam estimar os valores de um vetor de parâmetro fixo θ, com f(y, x, e) ≡ F(y, x, θ, e), e F sendo especificado antecipadamente.

Dado que os valores de xₜ são conhecidos, não há dificuldades de estimar θ. Para realizar previsões, é necessário inserir valores previstos de xₜ em F. Em princípio, uma política é vista como uma especificação de valores presentes e futuros de alguns componente de { xₜ }. Os dados passados são tidos como estocásticos, então o comportamento futuro da função do presente para o futuro segue a mesma trajetória, e as variáveis são aleatórias, nos quais os momentos podem ser calculados teoricamente ou obtidos por simulações numéricas.

Lucas faz uma série de críticas a esta forma de modelar a economia com o foco na previsibilidade, tendo como base dados passados. Primeiramente, ele diz que aumentar a

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21 precisão de θ dentro da estrutura fixa de F, previsto pela teoria, aparentemente não tem ocorrido na prática. Também, ele aponta para o erro de utilizar padrões de resíduos recentes para revisar os estimadores do intercepto com o propósito de realizar uma previsão, pois, dado que há novos dados, não faz sentido continuar utilizando velhas relações entre os dados. Lucas propõe tratar o parâmetro de vetor θ não como fixo, mas como uma variável aleatória seguindo um passeio aleatório: θₜ₊₁ = θₜ + ηₜ₊₁, onde { ηₜ } é uma sequência de variáveis aleatórias independentes e identicamente distribuídas (i.i.d).

Então, logo após descrever um modelo econométrico básico, Lucas passou a questionar aspectos fundamentais relacionados a este modelo e a atitude corrente de economistas. Para tal, ele partiu de um exemplo ao supor que ao usar um modelo confiável (F, θ), um economista queira analisar as consequências de políticas monetárias e fiscais, ao comparar o resultado dos modelos através de algum critério estabelecido. Para tais comparações terem qualquer significado, é essencial que a estrutura (F, θ) não varie sistematicamente com a escolha de { xₜ }. Entretanto, Lucas aponta para o erro de tal estratégia de análise, pois ela atribui aos indivíduos uma visão do comportamento de valores futuros de variáveis que os interessa. Logo, assumir a estabilidade de (F, θ) sobre regras de políticas alternativas é assumir que o comportamento de choques ao sistema são invariantes em relação ao comportamento verdadeiro destes choques.

Os aspectos conclusivos do artigo de Lucas são que o “desvio” (drift) em θ que modelos adaptativos descrevem estocasticamente reflete, ao menos em parte, a adaptação das decisões dos agentes para o caráter dinâmico das séries que eles estão tentando prever. Não apenas isso, mas o autor deixou claro o seu posicionamento de que a estrutura yₜ₊₁ = F(y, x, θ, e) é incapaz de ser utilizada para previsão e avaliação de políticas em economias reais. Para o curto prazo, este tipo de equação talvez funcione; mas para o longo prazo, as simulações têm variância infinita.

Por fim, e principalmente, Lucas argumenta que em modelos do tipo que foi apresentado acima, quando há mudança de políticas, o comportamento dos agentes – e porventura do “sistema”, como o próprio autor propôs – é afetado de duas formas: primeiramente, por alterar o comportamento das séries temporais de xₜ, e em segundo lugar, por causar uma modificação nos parâmetros comportamentais θ que governam o resto do sistema.

2.3 OS MICROFUNDAMENTOS DOS MODELOS MACROECONÔMICOS

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A Crítica de Lucas aos modelos macroeconométricos, proposta por Lucas (1976), tem como principal asserção que os modelos econométricos como desenvolvidos por Jan Tinbergen estão fadados ao insucesso no caso de ausência de microfundamentos nos modelos macroeconômicos. Lucas (1976) aponta que a importância de microfundamentação nos modelos macroeconômicos se justifica devido aos parâmetros utilizados pelos modelos macroeconômicos dependerem das expectativas dos agentes, e que estas dificilmente permanecem estáveis assim que os formuladores de políticas econômicas mudam o seu comportamento. Basicamente, os microfundamentos são dados (informações) relativas aos agentes econômicos individuais. O que aconteceu na história da economia no embate entre as diversas escolas de teoria econômica – em especial devido ao impacto da crítica realizada por Lucas – é que diversas perspectivas acerca do que são os microfundamentos e como os aplicar em modelos macroeconômicos foram desenvolvidas para contornar o problema posto em questão por Lucas na sua crítica.

Janssen (2008) define os microfundamentos como sendo:

A busca por entender os microfundamentos é um esforço para entender os fenômenos econômicos agregados em termos do comportamento das entidades econômicas individuais e as suas interações. Estas interações podem envolver tanto interações no mercado e não no mercado5 (JANSSEN, 2008, p.2, tradução minha)

Janssen disse que a busca pelo entendimento dos microfundamentos surgiu de um desconforto entre economistas causado pela existência de uma desconexão entre as áreas da macroeconomia e da microeconomia. O autor também apontou que muitos economistas também têm um desejo de se ater ao “individualismo metodológico”, que é uma perspectiva metodológica de que explicações apropriadas nas ciências sociais são aquelas fundamentadas nas motivações e comportamentos dos indivíduos (JANSSEN, 2008). Jayasinghe ampliou a definição de microfundamentos ao apontar para dois aspectos essenciais desta questão: primeiramente, uma análise baseada em “parâmetros profundos” correspondente a variáveis que são “invariantes em relação à política econômica”, como “gostos e tecnologia” (HOOVER, 2010); em segundo lugar, o centro da análise está em agentes “otimizadores individuais racionais e com restrições”, como firmas representativas que maximizam lucros e consumidores

5

“The quest to understand microfoundations is an effort to understand aggregate economic phenomena in terms of the behavior of individual economic entities and their interactions. These interactions can involve both market and non-market interactions”.

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23 representativos que maximizam a sua utilidade intertemporal e que estão sujeitos a restrições orçamentárias em ambientes com mercados perfeitos (WREN-LEWIS, 2007).

Em relação ao contexto histórico desta problemática, Janssen apontou para duas abordagens centrais para a aplicação e estudo dos microfundamentos: a definitiva demonstração das condições de existência, unicidade e estabilidade do modelo teórico de “equilíbrio geral” como proposto por Arrow e Debreu, corrigindo os problemas do modelo de Walras (ARROW; DEBREU, 1954), e o modelo macroeconômico IS-LM que já estava bem estabelecido (HICKS, 1937). Preços flexíveis e mecanismos de compensação do mercado estavam no centro da teoria do equilíbrio geral. Desemprego involuntário e demanda efetiva eram aspectos centrais da macroeconomia. A síntese neoclássica – como proposta por Lucas – teve como papel central a superação da macroeconomia Keynesiana, criticada por ser não fundamentada, e a adequação da macroeconomia dentro da teoria do equilíbrio geral (JAYASINGHE, 2017).

Segundo Jayasinghe (JAYASINGHE, 2017), de acordo com Hoover (HOOVER, 2010), no caso dos microfundamentos, há ao menos três teses com diferentes implicações metodológicas: 1) sem indivíduos não haveria agregados; 2) como os indivíduos se comportam afeta como os agregados se comportam; 3) os agregados não são mais do que um resumo estatístico que reflete o comportamento dos indivíduos (HOOVER, 2010). Neste caso, segundo o autor, tanto a perspectiva Novo Clássica quanto a Novo Keynesiana são principalmente representadas pela terceira proposição, de que os agregados se resumem a dados estatísticos que refletem o comportamento (microeconômico) dos indivíduos.

Não apenas isso, Pereira e Lima apontam que há diferenças metodológicas entre a microeconomia e a macroeconomia, uma vez que a microeconomia emprega primariamente uma metodologia lógico-dedutiva, enquanto que a macroeconomia emprega principalmente uma metodologia histórico-indutiva (PEREIRA; LIMA, 1996). E, o problema neste caso é o descasamento metodológico entre as duas grandes áreas da economia. Não apenas isso, mas Hoover ainda apontou que um dos erros cometidos por macroeconomistas é acreditar que a análise macroeconômica pode ser independente da microeconomia. Neste caso, a análise macroeconômica não seria sólida, a menos que fosse possível traçar as decisões dos indivíduos e suas preferências, objetivos e crenças (HOOVER, 2009). Segundo Hoover, assim como aspectos microeconômicos podem ser necessários para uma análise de dados agregados, indivíduos também se apropriam de perspectivas macroeconômicas para tomarem as suas decisões a nível micro; desta forma, Hoover conclui, a ideia “não é reduzir a macroeconomia a microeconomia, mas mostrar que a macroeconomia poderia ter uma âncora metodológica no indivíduo, enquanto

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que preservando independência ontológica por agregados que interagem causalmente”6 (HOOVER, 2009).

2.3.2 Sobre o agente representativo

Tendo em vista proporcionar a construção de modelos macroeconométricos microfundamentados, tornou-se necessário adicionar os dados dos indivíduos aos modelos. Para simplificar a resolução criada para tal problemática, economistas basicamente passaram a utilizar “agentes representativos” para representar os dados referentes a diversos indivíduos. No caso, um agente representativo é um sujeito teórico que representa os demais sujeitos de uma população789.

Jayasinghe define o agente representativo nos modelos macroeconômicos modernos como sendo um agente que: (1) maximiza a sua utilidade; (2) está sujeito a uma restrição orçamentária representada pela identidade da renda nacional (3); simultaneamente maximiza lucros sujeitos à uma função de produção agregada. Ao criticar a existência de agentes representativos, Kirman afirmou que assumir a existência de um indivíduo representativo é uma “ficção pela qual os macroeconomistas conseguem justificar a análise de equilíbrio e prover pseudo-microfundamentos” (KIRMAN, 1996). Logo, se torna necessário questionar se o agente representativo de fato serve ao seu propósito.

Primeiramente, como Janssen propõe, o individualismo metodológico é uma forma desejável de explicação dos fenômenos macroeconômicos porque: (1) os relacionamentos entre estes indivíduos são estáveis no caso de mudança de regimes de política econômica; (2) não faria sentido escolher um agente representativo que se comporta independentemente dos outros indivíduos do grupo e ainda os representa (JANSSEN, 1993).

6

“The idea here is “not to reduce macroeconomics to microeconomics, but to show that macroeconomics could have an ontological anchor in the individual, while preserving ontological independence for causally interacting aggregates”.

7

Considerando-se o fato de que, sem dúvida alguma, os agentes individuais são fundamentalmente diferentes uns dos outros, tanto em aspectos individuais, culturais, e economicamente. Alguns são financeiramente paupérrimos - 54,8 milhões dos brasileiros (26,5% da população) se encontravam abaixo da linha da pobreza em 2017 -, e outros financeiramente riquíssimos - há 58 bilionários no Brasil em 2019. Economicamente, o que justifica esse tipo de abordagem teórica é a noção da estatística da distribuição normal, ou a perspectiva estatística de que os dados têm a tendência de se dirigirem a sua distribuição média.

8

Agência de Notícias do IBGE. Pobreza aumenta e atinge 54,8 milhões de pessoas em 2017. Disponível online:

< https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/23299-pobreza-aumenta-e-atinge-54-8-milhoes-de-pessoas-em-2017>. Acesso em Novembro de 2019.

9

Tribuna do Norte. Brasil tem 58 bilionários, destaca revista Forbes. Disponível online:

<http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/brasil-tem-58-biliona-rios-destaca-revista-forbes/441088>. Acesso em Novembro de 2019.

(26)

25 Segundo, entretanto, tanto Kirman (1996) quanto Stiglitz (1992) apontam que modelos de agentes representativos são incapazes de explicar a maior parte dos fenômenos macroeconômicos, como: (1) como todos os indivíduos em modelos de agentes representativos são idênticos, trocas dificilmente aconteceriam; (2) por esta razão, não pode haver um mercado financeiro significativo; (3) em um ambiente em que trocas são inexistentes, o conceito de falhas de mercado pode acabar não fazendo sentido; (4) estes modelos não acomodam assimetrias de informação; (5) nestes modelos, políticas governamentais podem não incluir considerações distributivas (KIRMAN, 1996; STIGLITZ, 1992). Não apenas isso, mas no caso de uma alteração de política econômica, os agentes representativos podem deixar de ser representativos da economia logo após a alteração.

Terceiro, torna-se necessário questionar se, no caso de ser possível utilizar agentes representativos nos modelos macroeconômicos de forma satisfatória, como isso deveria ser feito? No caso, Jayasinghe questiona a possibilidade de realizar uma “agregação perfeita” de agentes individuais em agentes representativos. Ele aponta dois aspectos necessários para alcançar tal: (1) agentes individuais devem ter funções de utilidade “idênticas”; (2) estas funções de utilidade devem ser “homotéticas”. Entretanto, ambos estes requerimentos são extremamente irrealistas. Os exemplos que Jayasinghe retira da obra de Hoover são que: (1) o requisito de ser “idêntico” implica que um milionário e uma ambulante têm as mesmas preferências; (2) e o requisito de ser “homotético” implica que o ambulante gasta a mesma quantidade da sua renda em um bem como faria um milionário (HOOVER, 2001, 2010). Jayasinghe conclui esta questão com uma citação de Hoover: “o defensor do modelo do agente-representativo não tem direito de atacar outros macroeconomistas por falharem em prover microfundamentos, dado que ele falhou em prover microfundamentos genuínos eles mesmo”10

(HOOVER, 2001). Por fim, Jayasinghe diz que dado os economistas dependerem de agentes representativos, macroeconomistas modernos simplesmente assumem a inexistência da heterogeneidade que existe no âmbito do indivíduo (JANSSEN, 2006).

O que é possível perceber é que a razão para o surgimento do uso de agentes representativos aconteceu seja devido a incapacidade de economistas de lidarem teoricamente com as diferenças fundamentais entre os indivíduos - ao menos em aspectos econômicos. Conforme apontado anteriormente, Keynes já havia realizado tal crítica aos modelos econométricos propostos por Tinbergen (ALMEIDA, 2014). Não apenas isso, mas Da Silva

10

“The advocate of the representative-agent model has no right to attack other macroeconomists for failing to provide microfoundations, for he fails to provide genuine microfoundations himself”.

(27)

aponta que agentes heterogêneos não podem ser substituídos por agentes representativos se for considerado que eles são maximizadores da sua utilidade (KIRMAN, 1996). Entretanto, mesmo que o número de agentes seja bastante grande, o comportamento macroeconômico não pode ser representado por médias porque a macroeconomia exibe a propriedade de “não-se-auto-medianizar” (“non-self-averaging”) (AOKI; YOSHIKAWA, 2007). Isso significa que uma variável aleatória do modelo que é dependente do seu tamanho apresenta um coeficiente de variação que não converge a zero mesmo no caso de o modelo partir para o infinito numérico. Logo, a propriedade de “não-se-auto-medianizar” implica que o agente representativo simplesmente não existe porque o foco nas médias é injustificável.

2.3.3 Sobre as expectativas racionais dos agentes

A busca por microfundamentos está relacionada necessariamente com a problemática das expectativas dos agentes. Desta forma, autores como Muth postularam que as expectativas dos agentes relativas a variáveis importantes coincidem com os valores previstos pelos modelos em relação a estas mesmas variáveis, o que passou a ser chamado de “expectativas racionais” (MUTH, 1961). Guesnerie argumentou que a noção de expectativas racionais deveria ser considerada uma noção de equilíbrio que não está completamente baseada apenas no comportamento racional de indivíduos, mas sim, que faz sentido que indivíduos tenham expectativas que sejam racionais no caso de outros indivíduos também terem as mesmas expectativas racionais, mas não obrigatoriamente (GUESNERIE, 1992). Jenssen concluiu que a questão do individualismo metodológico não foi satisfeita pelas diversas perspectivas sobre microfundamentos no que foi presumido que indivíduos se comportam racionalmente.

Lucas e Sargent (1981) propuseram uma discussão acerca de expectativas racionais dos agentes, parâmetros estruturais de modelos econômicos, e uma crítica aos modelos de equilíbrio. Os autores discutiram essas questões dado o impacto causado pela teoria macroeconômica da obra de Keynes no meio acadêmico da época, tendo como base a Teoria Geral (KEYNES, 1983). O argumento central de Lucas e Sargent é que mudanças nas políticas econômicas necessariamente alteram parâmetros estruturais dos modelos econométricos, o que se resume ao caso da crítica de Lucas (1976). Os autores apontam este aspecto como sendo central para a análise dos paradigmas que surgiram no meio acadêmico desde a obra de Keynes.

Primeiramente, Lucas e Sargent discutiram o postulado econômico de que os agentes agem racionalmente, ou no caso, os agentes agem tendo seus interesses pessoais em primeiro

(28)

27 lugar, sempre buscando maximizar os seus benefícios pessoais. Eles dizem que economistas estavam tentando usar a teoria microeconômica para postular que agentes agem com interesses próprios em uma certa perspectiva comportamental, que formam a demanda e a oferta dos consumidores. Logo, as restrições sobre as expectativas são inteiramente arbitrárias e não derivam de uma suposição que reflita de fato primeiros princípios sobre o comportamento econômico dos agentes. Os autores finalizam este argumento ao apontar para a falha dos economistas em derivar restrições das expectativas dos agentes através de problemas de otimização.

Então, Lucas e Sargent partem para proposição de que há razões teóricas para acreditar que os parâmetros identificados como estruturais pelos métodos macroeconômicos não são de fato estruturais, e que o problema em questão é da ordem empírica, e não teórica. Eles explicam essas asserções ao apontar que Keynes fundou a macroeconomia dado a sua crença na incapacidade da teoria econômica clássica de explicar os ciclos econômicos, e de que os economistas da vertente clássica insistiam em dois postulados: (a) de que os mercados liquidam (all markets clear) e de que (b) os agentes agem com interesses próprios.

O termo “equilíbrio” tem um papel central na explicação dos postulados apresentados por Keynes. Na teoria clássica, o termo equilíbrio costumava se referir a um sistema em repouso. Desta forma, uma economia em um equilíbrio clássico seria tanto imutável e incapaz de ser melhorada por intervenções via políticas econômicas. Conforme apontado por Lucas e Sargent, os fundamentos matemáticos oferecidos por Arrow (1964) e Debreu (1959) foram aceitos pela comunidade acadêmica como sendo uma forma de promover uma perspectiva de equilíbrio da economia que satisfaz os postulados (a) e (b) criticados por Keynes e apontados no parágrafo acima, ao ponto em que considerar a possibilidade de que a economia fosse um fenômeno de desequilíbrio por ser estocástico passou a ser desconsiderado.

Não obstante, a ideia central das explicações de equilíbrio para os ciclos de negócios são que “as flutuações econômicas surgem na medida em que os agentes reagem a mudanças inesperadas nas variáveis que impingem nas suas decisões”11

(LUCAS & SARGENT, 1981, p.10, tradução minha). Isso implica limitações a habilidade do governo de fazer política econômica. Primeiramente, o governo precisa ser capaz de prever os choques que são invisíveis aos agentes privados. Em segundo lugar, as políticas anticíclicas do governo devem ser imprevisíveis aos agentes para surtirem efeito. Portanto, neste caso, o sucesso de uma política

11

“(...) economic fluctuations arise as agents react to unanticipated changes in variables which impinge on their decisions”.

(29)

econômica depende da capacidade do governo de fazer com que os agentes não consigam reconhecer os padrões da política monetária e fiscal. Para finalizar esta questão, Lucas e Sargent apontaram para quatro críticas aos modelos de equilíbrio (LUCAS & SARGENT, 1981, p.11):

(a) Modelos de equilíbrio postulam mercados que liquidam irrealisticamente; (b) Estes modelos não podem considerar a “persistência” de movimentos cíclicos; (c) Modelos implementados econometricamente são lineares (logarítmicos); (d) O comportamento de aprendizado não havia sido incorporado a estes modelos.

(30)

29

3 CAPÍTULO 2: OS MODELOS DSGE

3.1 SOBRE OS MODELOS MACROECONÔMICOS

De forma a fundamentar a discussão dos efeitos gerados pela Crítica de Lucas (LUCAS, 1976) à construção dos modelos macroeconométricos, será realizado uma breve reconstrução das discussões sobre a macroeconomia desde Keynes. O artigo The history of macroeconomics from Keynes's General Theory to the present (2011) de De Vroye e Malgrange (2011) é a base da presente seção. Os autores organizaram o artigo em partes, que servirão como base para ordenar as partes deste capítulo: 1) O surgimento da macroeconomia como uma disciplina; 2) Economia Keynesiana até o final dos anos 60; 3) Da teoria neoclássica até as teorias RBC de Kydland e Prescott.

3.1.1 O surgimento da macroeconomia como uma disciplina

Primeiramente, do surgimento da macroeconomia moderna, De Vroye e Mangrange dizem que Keynes escreveu o livro com o objetivo de elucidar as causa do desemprego em massa que afetaram várias das economias da época, e sugerir medidas políticas para resolver o problema. Hicks desenvolveu o modelo IS-LM, um modelo intuitivo, dotado de “plasticidade” – constituído de uma arquitetura que é genérica o suficiente para permitir uma diversidade de especificações –, e capaz de gerar inferências da realidade de forma convincente. Modigliani (1944) então modificou e Hansen (1953) o popularizou. Samuelson e Solow (1960) promoveram o sistema Keynesiano e clássico. O modelo Klein-Goldberger promoveu o desenvolvimento de um programa de pesquisa pragmático de larga-escala com os objetivos de fazer previsões e simulações de medidas políticas. Lucas, por fim, adicionou as “expectativas racionais”.

3.1.2 Economia Keynesiana até o final dos anos 1960

Segundo o entendimento de De Vroye e Mangrange da proposição de Lucas na sua Crítica (LUCAS, 1976), os modelos econométricos da sua época não podiam entregar a sua promessa de comparar políticas econômicas alternativas porque os coeficientes dos modelos eram estimados por métodos econométricos (ao invés de teóricos), e os seus valores numéricos

(31)

eram independentes de quaisquer mudanças no regime institucional que poderiam ocorrer (DE VROYE; MALGRANGE, 2011, p.10). Desta forma, os modelos macroeconométricos não tinham a capacidade de absorver as mudanças nas perspectivas dos agentes. De Vroye e Malgrange apontam que a perspectiva de Lucas deriva da proposição de Muth (1961) da “hipótese do comportamento racional” dos agentes (DE VROYE; MALGRANGE, 2011, p.10). No caso, esta hipótese considera a ideia de que deve ser considerado que os agentes econômicos têm a habilidade de “estipular” o resultado do mercado que eles participam, dado às informações disponíveis. E, no caso de o modelo de análise não capturar as mudanças de perspectivas dos agentes, ele seria incapaz de realizar simulações e previsões. Como conclusão, De Vroye e Malgrange apontam que “de acordo com Lucas, apenas modelos mais “profundos”, “estruturais”, derivados dos fundamentos da economia, as preferências dos agentes, e restrições tecnológicas, seriam capazes de prover um fundamento robusto para a avaliação de políticas alternativas” (DE VROYE; MALGRANGE, 2011, p.10). O resultado da Crítica de Lucas foi ter servido como fundamento para a “macroeconomia neoclássica”. Kydland e Prescott levaram ao desenvolvimento dos “modelos dos ciclos reais de negócios” (RBC), e posteriormente aos “modelos dinâmicos estocásticos de equilíbrio geral” (DSGE).

De Vroye e Malgrange continuam a construir os seu argumento apontando para as diferenças teóricas entre as perspectivas de Keynes e de Lucas. Os autores dizem que o objeto de estudo da macroeconomia Keynesiana era o desemprego – e como o mau funcionamento do mercado o causava. A partir deste ponto, a análise do ciclos de negócios tomou local central na discussão, e a perspectiva de Keynes era de que variações no emprego resultam de mudanças na demanda agregada. Esta perspectiva considerava que a oferta de trabalho e a força de trabalho eram a mesma coisa, tomando como fato de que a diferença entre a força de trabalho e o nível de emprego deve ser o desemprego involuntário. A proposição de Lucas foi de que a oferta de emprego, como resultado da otimização da tomada de decisões, tem papel central da explicação das flutuações, dado que a decisão de participar no mercado de trabalho é uma questão de alocar lazer em um dado período de tempo. Os agentes, segundo Lucas, comparam os salários em um período com o do futuro. Se for mais vantajoso trabalhar hoje, eles trabalharão mais hoje, e menos amanhã. Este ficou conhecido como o “fenômeno da substituição intertemporal” (DE VROYE; MALGRANGE, 2011, p.12-13, tradução minha). A partir desta perspectiva, Lucas construiu um “modelo dos ciclos de negócios”, onde as variações na atividade ao longo do tempo são devido a duas razões: choques exógenos monetários, e informação imperfeita.

(32)

31 3.1.3 Da teoria neoclássica até as teorias RBC de Kydland e Prescott

Dado o contexto apresentado até então, De Vroye e Malgrange partem então para as definições do “modelo dos ciclos de negócios” Ele aponta que os artigos fundantes desta linha de pesquisa são as obras de Kydland e Prescott (1982) e de Long e Plosser (1983). O objetivo de ambos era modelar as flutuações nos negócios como um resultado de choques reais na economia (ao invés de choques monetários como no modelo de Lucas). O modelo proposto por Kydland e Prescott é neo-Walrasiano, como o de Lucas. Logo, ambos contam com o equilíbrio, expectativas racionais, um ambiente dinâmico-estocástico, e o papel central para a substituição intertemporal. Ainda, é possível dizer que o principal meta do modelo do Kydland e Prescott era de mostrar “que flutuações econômicas poderiam ser explicadas como uma consequência do ajustamento otimizador dos agentes econômicos a choques tecnológicos exógenos”12 (DE VROYE; MALGRANGE, 2011, p.15-16, tradução minha).

Por fim, e acima de tudo, os teóricos do modelo dos ciclos reais de negócios rejeitam a perspectiva Keynesiana das falhas do mercado (SNOWDON; VANE, 2005, p.295). Snowdon e Vane citam de Robert Barro que as três principais conquistas dos neoclássicos foram: 1) A aplicação do equilíbrio nos modelos de análise macroeconômica; 2) A adoção e promoção da hipótese de expectativas racionais; 3) E a aplicação de teoria dos jogos para avaliação de políticas econômicas (BARRO, 1989). Basicamente, os dois primeiros aspectos são relacionados ao objetivo de construir modelos macroeconômicos microfundamentados, como forma de lidar com os problemas levantados pela Crítica de Lucas.

3.2 OS MODELOS RBC

Snowdon e Vane (2005) descrevem o processo de desenvolvimento da linha de pesquisa dos “ciclos reais de negócios” (do Inglês “real business cycle”, ou apenas RBC). Esta forma de modelar a economia surge como uma resposta às questões trazidas por Keynes e os seus seguidores, e posteriormente pelos neoclássicos liderados por Lucas, em especial como uma tentativa de evitar lidar com análise de desequilíbrio, falha de coordenação, rigidez nos preços, choques financeiros e monetários, e noções como as de incerteza fundamental, tendo em vista explicar a instabilidade agregada.

12

“(...) that economic fluctuations could be explained as a consequence of economic agents’ optimising adjustment to exogenous technological shocks”.

(33)

Segundo Snowdon e Vane, e assim como foi apontado de De Vroye e Malgrange acima, os autores que fundamentaram esta corrente foram Kydland e Prescott (1982) e Long e Plosser (1983). Kydland e Prescott (1982) tomaram para si o desafio de “construir uma economia artificial imitativa capaz de imitar as principais características de economias reais” (SNOWDON; VANE, 2005, p.307). O desenvolvimento dos modelos RBC tem como resultado a substituição dos “mecanismos de impulso” neoclássicos (choques monetários) por choques de oferta na forma de mudanças tecnológicas aleatórias; já os “mecanismos de propagação” foram mantidos e desenvolvidos. A importância destes mecanismos reside na consideração teórica de que os ciclos econômicos são criados por choques exógenos na produtividade (mecanismos de impulso), que são então amplificados por mecanismos de propagação.

Não obstante, a RBC surge como uma teorização que se contrapõe ao modelo neoclássico na questão dos ciclos de negócios, uma vez que os seus autores proponentes buscam explicar forças reais, ao contrário de forças monetárias como propulsionadores da economia. Esta ideia já havia sido defendida por autores como Joseph Schumpeter, Dennis Robertson e Knut Wicksell. A hipótese levantada é que os ciclos de negócios são conduzidos por forças reais, choques de oferta, e flutuações aleatórias na taxa do progresso tecnológico.

Os ciclos econômicos consistem de expansões que ocorrem simultaneamente em diversas atividades econômicas, seguidas de recessões, contrações e reavivamentos da economia que ocorrem na fase expansiva do próximo ciclo. Uma concepção central para a teoria dos ciclos reais de negócio é que os ciclos de negócio são “todos similares” (SNOWDON; VANE, 2005, p.305). Esta é uma característica interessante para os economistas pois ela sugere a possibilidade de uma explicação unificada dos ciclos de negócio fundamentada em leis gerais das economias de mercado, e não em aspectos políticos e culturais específicos a países e períodos históricos. Entretanto, Abel e Bernanke (2001) apontam que ciclos de negócio nunca são de fato idênticos, apesar de ter muitas características em comum (ABEL; BERNANKE, 2001). Os principais “fatos estilizados”, segundo os autores, são classificados de acordo com a direção e o momento relativo ao movimento do PIB. Para variáveis que se movem na mesma direção que o PIB, elas são chamadas de pró-cíclicas. Para variáveis que se movem na direção contrária ao PIB, elas são chamadas de contra-cíclicas. Para variáveis sem correlação clara com a direção do movimento do PIB, elas são a-cíclicas.

Por fim, os aspectos principais dos modelos RBC são, de acordo com Snowdon e Vane (SNOWDON; VANE, 2005, p.308):

(34)

33 i. O uso de agentes representativos, em que os agentes/famílias/firmas maximizam a sua utilidade;

ii. Agentes formam expectativas racionalmente e não sofrem de assimetrias de informação;

iii. A flexibilidade dos preços garante compensação do mercado para que o equilíbrio sempre prevaleça;

iv. Flutuações no produto agregado e emprego são regidos por mudanças aleatórias na tecnologia disponível empregada na produção. Choques exógenos na tecnologia agem como mecanismos de impulso.

v. Mecanismos de propagação carregam o impacto do impulso inicial;

vi. Flutuações no emprego refletem mudanças voluntárias no número de horas as pessoas escolhem trabalhar;

vii. A moeda é neutra, então política monetária é irrelevante;

viii. A distinção entre o curto e o longo prazo na análise de flutuações e tendência econômicas é abandonado.

3.3 ASPECTOS BÁSICOS DOS MODELOS DSGE

De Vroye e Malgrave (2011) afirmam que das intensas discussões entre Keynesianos e Neoclássicos, os Keynesianos contribuíram aos modelos DSGE no que concerne ao casamento entre a competição imperfeita e a inércia econômica (crescimento lento), assim como o papel dos bancos centrais13. Em troca disso eles aceitaram os componentes básicos de modelos dos ciclos reais de negócios (RBC), como choques exógenos, a perspectiva dinâmica estocástica, o equilíbrio, a substituição intertemporal e as expectativas racionais.

Os autores apontam que na versão canônica deste modelo, a economia é composta por quatro tipos de bens: trabalho, bens finais, bens intermediários, e dinheiro. Diferentemente da proposta de Friedman, a taxa de juros - e não a quantidade de dinheiro - é a variável de controle. Para a taxa de juros, é utilizada a “regra de Taylor”, que consiste em fixar a taxa de juros tendo em conta três objetivos: (a) a estabilidade de preços; (b) o hiato do produto; (c) e um choque de política econômica.

13

O termos aqui, mas apropriadamente, seriam novos keynesianos, pois é esse grupo, autodenominado como uma vertente dos keynesianos, mas não necessariamente visto dessa forma por outros (vide Davidson, 1994), que tenta conciliar alguns pontos da teoria de Keynes, especialmente o problema por eles chamado de rogidezes de preços e salários nominais, com o arcabouço de equilíbrio geral e expectativas racionais (Snowdown e Vane, 2005)

(35)

Em resumo, o ambiente dos modelos DSGE é definido por:

● Dotações: em cada período os agentes recebem uma unidade de tempo;

● Informações: são a definição do conjunto de informação dos agentes no momento da tomada de decisão a respeito;

● Preferências: são a forma funcional da função utilidade das famílias; ● Tecnologia: é a forma funcional da função de produção das firmas.

Basicamente, as suas principais características são a dinâmica, a incerteza a respeito do futuro e as expectativas racionais para enfrentar a incerteza futura.

3.4 A CONSTRUÇÃO DOS MODELOS DSGE

O resultado das discussões das últimas décadas decorrentes da Crítica de Lucas foi o desenvolvimento de uma série de linhas de pesquisa de desenvolvimento de modelos macroeconômicos. Os modelos Keynesianos da chamada síntese neoclássica (de Samuelson, Hicks, Patinkin e Modigliani) levaram a modelos monetaristas (Friedman). Os modelos monetaristas levaram a modelos neoclássicos – como o de Lucas. Os modelos neoclássicos levaram a modelos RBC (ciclos reais de negócios). E os modelos RBC levaram ao desenvolvimento dos modelos DSGE (Dynamic Stochastic General Equilibrium), que em português são chamados de Modelos Dinâmicos Estocásticos Microfundamentados (SNOWDON; VANE, 2005). Os modelos DSGE são modelos que implicam fundamentalmente: (a) O equilíbrio geral dos mercados; (b) Os mercados serem dinâmicos; (c) Modelos com dados estocásticos. Eles diferem dos modelos VAR no sentido de que são modelos mais robustos, complexos, e que são constituídos de equações fundamentais teóricas da literatura econômica. Diversos autores (GALI, 2008; LUBIK; SURICO, 2006; JANSSEN, 2008) têm otimizado os modelos DSGE tendo em vista a Crítica de Lucas, assim como testado e questionado a validade das proposições de Lucas em relação à necessidade de adicionar microfundamentos aos modelos macroeconômicos. Para explicar o modelo DSGE, resumidamente, será utilizado o modelo proposto por Celso José Costa Junior (2014) na sua dissertação de mestrado, intitulada Essays on fiscal policy. Costa descreveu um modelo para uma pequena economia fechada com os setores das famílias, firmas e o governo (com autoridade fiscal e monetária). Este modelo é composto por duas fricções: competição monopolística e preços fixos. Não obstante, vale a pena lembrar que o intuito aqui é de apenas demonstrar os aspectos básicos do modelo, e não explicar toda a matemática envolvida no modelo.

(36)

35 No caso das famílias, é assumido que elas maximizam a sua utilidade intertemporal ao escolher entre consumo, poupança (capital físico e títulos do governo), investimento e lazer. Após pagar os impostos, a família pode comprar bens de consumo, bens de capital, ou títulos do governo. E, o agente escolhe também quanto consumir, quanto trabalhar e quanto adquirir de ativos financeiros e capital físico para maximizar o fluxo descontado da utilidade esperada, sujeitas a sua restrição orçamentária, em relação a uma lei de movimentação do capital. Em resumo, as famílias compram bens de consumo e bens de investimento no preço; também, compram ou vendem títulos do governo maturando em um período de tempo. Estes títulos pagam uma taxa com prêmio de risco. Os juros são controlados pelas autoridades monetárias. Os agentes pagam três tipos de impostos: imposto sobre o consumo, imposto de renda sobre o trabalho, e imposto de renda sobre o capital. A sua renda vem de quatro fontes: rendimento do trabalho, que depende dos salários nominais; retorno do aluguel de capital para as firmas, que é uma função da taxa de retorno do capital; transferência de renda recebidas do governo; e renda dos títulos do governo adquiridas no período anterior. As transformações matemáticas das equações, como o lagrangeano, as várias substituições, as equações de Euler e a análise dos choques serão omitidas neste presente trabalho.

Para o caso das firmas, o setor produtivo foi dividido em dois subsetores: o atacado e o varejo. No caso do atacado, presume-se a existência de competição perfeita, e após encontrar a condição de primeira ordem, e realizar a substituição de equações teóricas fundamentais, deriva-se uma equação dos preços finais dos bens. Os preços de produção dos fatores são tomados pelas firmas como dado, e são tidos como: salários e retorno do capital. Há o estoque de capital público, e variáveis para a participação do capital privado, do trabalho e do capital público na produção do bem, respectivamente. E, para o caso da forma com que a firma do varejo escolhe os seus preços, o autor seguiu a regra proposta por Calvo, e chamou o modo de precificação como “a la Calvo”, o que é especificamente descrito na sua dissertação (COSTA, 2014, p.18-21).

Para o caso dos governos, o governo atua enquanto autoridade fiscal e autoridade monetária. Costa descreve o uso das ferramentas econômicas empregadas pelo governo e demonstra que este tem atuação direta na economia (COSTA, 2014, p.21-28). Esta foi uma breve apresentação dos aspectos básicos de um modelo DSGE simples, e servirá de meio para discutir os resultados encontrados por pesquisadores em testes realizados para testar a Crítica de Lucas sobre modelos DSGE.

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37 4 CAPÍTULO 3: OS MICROFUNDAMENTOS DOS MODELOS MACRO

4.1 A CRÍTICA DE LUCAS EM UM MODELO VEC

Rudebusch (2005) apontou que os efeitos práticos da Crítica de Lucas (LUCAS, 1976) à teoria econômica são dois: primeiramente, ela ajudou a reorientar a pesquisa macroeconômica no desenvolvimento de modelos com expectativas explícitas dos agentes e “parâmetros profundos” (microfundamentados) de gosto e tecnologia; segundo, a Crítica de Lucas ajudou a mudar o foco da avaliação de políticas econômicas que permitem aos agentes individuais formularem problemas de otimização dinâmica com expectativas futuras (RUDEBUSCH, 2005, p.1).

Rudebusch (2005) realizou testes com modelos monetários VAR (Vector Autoregression). Os modelos VAR examinam relações lineares entre cada uma das variáveis escolhidas para um dado modelo. Todas as variáveis econômicas são tratadas como endógenas, e as restrições destes modelos são a escolha do conjunto de variáveis e o número máximo de defasagens envolvidas nas relações entre elas. Tendo em mente a citação retirada do livro Rational expectations and econometric practice (1981), de Lucas e Sargent, Rudebusch cita os autores que disseram que: “[A] questão de se um modelo em particular é estrutural ou não é uma questão empírica, e não teórica”14

(LUCAS; SARGENT em RUDEBUSCH, 2005, p.2, tradução minha). Desta forma, Rudebusch aponta para a necessidade de testar e comparar os resultados tanto de modelos teóricos quanto modelos empíricos. E por esta razão, Rudebusch decidiu utilizar modelos VAR, dado aos ótimos resultados apresentados por estes modelos em testes nas últimas décadas.

Rudebusch (2005) se inspirou em Lucas (1976) e construiu um modelo teórico seguindo os preceitos propostos por Lucas para testar os aspectos práticos da proposta de Lucas. O autor buscou analisar a eficácia dos resultados de previsões em modelos VAR com base nos preceitos da Crítica de Lucas, tanto para modelos teóricos quanto para modelos empíricos, e encontrou resultados que afirmam a eficácia dos resultados no caso de modelos empíricos microfundamentados e sob condições específicas. As condições específicas notadas pelo autor para que os seus modelos funcionem são que: (a) o público acredite no efeito de uma dada política econômica; (b) no caso de que as alterações nas regras da política econômica acabem sendo historicamente irrelevantes. Não apenas isso, Rudebusch (2005) ainda disse que apesar de

14

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um modelo autoregressivo ser invariante a mudanças em políticas econômicas, não seria sensato a utilização de um modelo para uma análise de política que considerasse alterações nas regras da política econômica que existissem fora da experiência histórica, no caso de que o regime da política ainda não estivesse posto em prática (RUDEBUSCH, 2005). No caso, alterações no regime de política econômica poderiam sim invalidar os resultados encontrados por modelos empíricos microfundamentados, sendo esta a principal limitação destes modelos.

Por fim, a um nível teórico, Rudebusch (2005) afirma que a Crítica de Lucas é incontestável, uma vez que modelos de forma reduzida não são invariantes a mudanças estruturais induzidas por políticas econômicas. No entanto, a nível empírico, a Crítica de Lucas pode ser contestada no caso de o modelo considerar situações sob condições específicas.

4.2 OS MICROFUNDAMENTOS DOS MODELOS DSGE

4.2.1 Modelos DSGE não são invariantes a política econômica

Cogley e Yagihashi (2010) questionaram se os modelos DSGE são ou não invariantes às mudanças na política econômica. Os autores iniciam o texto ao apontar que os macroeconomistas buscaram lidar com o problema levantado por Lucas (1976) ao construir modelos em que os parâmetros que governam as preferências dos agentes e a tecnologia permanecem imutáveis após mudanças em políticas econômicas. Esses são os modelos DSGE. Os autores afirmam que “em princípio” é possível testar políticas econômicas alternativas no caso de o modelo DSGE ser corretamente especificado. Logo, após uma mudança de política econômica, os parâmetros permanecem os mesmos.

Para ser capaz de testar a tese proposta acima, Cogley e Yagihashi desenvolveram um “laboratório” - nas palavras deles - para ser capaz de testar e discutir a invariância dos parâmetros como sendo estritos ou aproximados. O laboratório propõe dois modelos para teste, em que (a) um que descreve o mecanismo de geração de dados (data-generating mechanism, ou DGM), e (b) um modelo aproximativos (approximating model, ou AM). É considerado que ambos sejam usados por um banco central hipotético em políticas econômicas. No caso, os autores questionaram até que extensão valores pseudo-verdadeiros para parâmetros estruturais se alteram após uma mudança de política? O foco em valores pseudo-verdadeiros se deu para abstrair incertezas na amostra.

Referências

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