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De forma a fundamentar a discussão dos efeitos gerados pela Crítica de Lucas (LUCAS, 1976) à construção dos modelos macroeconométricos, será realizado uma breve reconstrução das discussões sobre a macroeconomia desde Keynes. O artigo The history of macroeconomics from Keynes's General Theory to the present (2011) de De Vroye e Malgrange (2011) é a base da presente seção. Os autores organizaram o artigo em partes, que servirão como base para ordenar as partes deste capítulo: 1) O surgimento da macroeconomia como uma disciplina; 2) Economia Keynesiana até o final dos anos 60; 3) Da teoria neoclássica até as teorias RBC de Kydland e Prescott.

3.1.1 O surgimento da macroeconomia como uma disciplina

Primeiramente, do surgimento da macroeconomia moderna, De Vroye e Mangrange dizem que Keynes escreveu o livro com o objetivo de elucidar as causa do desemprego em massa que afetaram várias das economias da época, e sugerir medidas políticas para resolver o problema. Hicks desenvolveu o modelo IS-LM, um modelo intuitivo, dotado de “plasticidade” – constituído de uma arquitetura que é genérica o suficiente para permitir uma diversidade de especificações –, e capaz de gerar inferências da realidade de forma convincente. Modigliani (1944) então modificou e Hansen (1953) o popularizou. Samuelson e Solow (1960) promoveram o sistema Keynesiano e clássico. O modelo Klein-Goldberger promoveu o desenvolvimento de um programa de pesquisa pragmático de larga-escala com os objetivos de fazer previsões e simulações de medidas políticas. Lucas, por fim, adicionou as “expectativas racionais”.

3.1.2 Economia Keynesiana até o final dos anos 1960

Segundo o entendimento de De Vroye e Mangrange da proposição de Lucas na sua Crítica (LUCAS, 1976), os modelos econométricos da sua época não podiam entregar a sua promessa de comparar políticas econômicas alternativas porque os coeficientes dos modelos eram estimados por métodos econométricos (ao invés de teóricos), e os seus valores numéricos

eram independentes de quaisquer mudanças no regime institucional que poderiam ocorrer (DE VROYE; MALGRANGE, 2011, p.10). Desta forma, os modelos macroeconométricos não tinham a capacidade de absorver as mudanças nas perspectivas dos agentes. De Vroye e Malgrange apontam que a perspectiva de Lucas deriva da proposição de Muth (1961) da “hipótese do comportamento racional” dos agentes (DE VROYE; MALGRANGE, 2011, p.10). No caso, esta hipótese considera a ideia de que deve ser considerado que os agentes econômicos têm a habilidade de “estipular” o resultado do mercado que eles participam, dado às informações disponíveis. E, no caso de o modelo de análise não capturar as mudanças de perspectivas dos agentes, ele seria incapaz de realizar simulações e previsões. Como conclusão, De Vroye e Malgrange apontam que “de acordo com Lucas, apenas modelos mais “profundos”, “estruturais”, derivados dos fundamentos da economia, as preferências dos agentes, e restrições tecnológicas, seriam capazes de prover um fundamento robusto para a avaliação de políticas alternativas” (DE VROYE; MALGRANGE, 2011, p.10). O resultado da Crítica de Lucas foi ter servido como fundamento para a “macroeconomia neoclássica”. Kydland e Prescott levaram ao desenvolvimento dos “modelos dos ciclos reais de negócios” (RBC), e posteriormente aos “modelos dinâmicos estocásticos de equilíbrio geral” (DSGE).

De Vroye e Malgrange continuam a construir os seu argumento apontando para as diferenças teóricas entre as perspectivas de Keynes e de Lucas. Os autores dizem que o objeto de estudo da macroeconomia Keynesiana era o desemprego – e como o mau funcionamento do mercado o causava. A partir deste ponto, a análise do ciclos de negócios tomou local central na discussão, e a perspectiva de Keynes era de que variações no emprego resultam de mudanças na demanda agregada. Esta perspectiva considerava que a oferta de trabalho e a força de trabalho eram a mesma coisa, tomando como fato de que a diferença entre a força de trabalho e o nível de emprego deve ser o desemprego involuntário. A proposição de Lucas foi de que a oferta de emprego, como resultado da otimização da tomada de decisões, tem papel central da explicação das flutuações, dado que a decisão de participar no mercado de trabalho é uma questão de alocar lazer em um dado período de tempo. Os agentes, segundo Lucas, comparam os salários em um período com o do futuro. Se for mais vantajoso trabalhar hoje, eles trabalharão mais hoje, e menos amanhã. Este ficou conhecido como o “fenômeno da substituição intertemporal” (DE VROYE; MALGRANGE, 2011, p.12-13, tradução minha). A partir desta perspectiva, Lucas construiu um “modelo dos ciclos de negócios”, onde as variações na atividade ao longo do tempo são devido a duas razões: choques exógenos monetários, e informação imperfeita.

31 3.1.3 Da teoria neoclássica até as teorias RBC de Kydland e Prescott

Dado o contexto apresentado até então, De Vroye e Malgrange partem então para as definições do “modelo dos ciclos de negócios” Ele aponta que os artigos fundantes desta linha de pesquisa são as obras de Kydland e Prescott (1982) e de Long e Plosser (1983). O objetivo de ambos era modelar as flutuações nos negócios como um resultado de choques reais na economia (ao invés de choques monetários como no modelo de Lucas). O modelo proposto por Kydland e Prescott é neo-Walrasiano, como o de Lucas. Logo, ambos contam com o equilíbrio, expectativas racionais, um ambiente dinâmico-estocástico, e o papel central para a substituição intertemporal. Ainda, é possível dizer que o principal meta do modelo do Kydland e Prescott era de mostrar “que flutuações econômicas poderiam ser explicadas como uma consequência do ajustamento otimizador dos agentes econômicos a choques tecnológicos exógenos”12 (DE VROYE; MALGRANGE, 2011, p.15-16, tradução minha).

Por fim, e acima de tudo, os teóricos do modelo dos ciclos reais de negócios rejeitam a perspectiva Keynesiana das falhas do mercado (SNOWDON; VANE, 2005, p.295). Snowdon e Vane citam de Robert Barro que as três principais conquistas dos neoclássicos foram: 1) A aplicação do equilíbrio nos modelos de análise macroeconômica; 2) A adoção e promoção da hipótese de expectativas racionais; 3) E a aplicação de teoria dos jogos para avaliação de políticas econômicas (BARRO, 1989). Basicamente, os dois primeiros aspectos são relacionados ao objetivo de construir modelos macroeconômicos microfundamentados, como forma de lidar com os problemas levantados pela Crítica de Lucas.

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