Otite, Sinusite, Amigdalite
- visão pediátrica -
José Gonçalo Marques
Unidade de Infecciologia Serviço de Pediatria Médica DEPARTAMENTO DE PEDIATRIA
CLÍNICA UNIVERSITÁRIA DE PEDIATRIA
Outpatient antibiotic sales in Europe 1997
Cars et al 2001
OMA
18,7 milhões prescrições Abs/ano em < 10 anos 20% de todas as prescrições de antibióticos
Amigdalite / faringite
7 milhões de diagnósticos / ano em crianças (EUA)
Sinusite bacteriana 0,5 - 10% IRA virais
Diagnóstico da OMA
Otalgia e/ou febre
ou irritabilidade, anorexia, vómitos, diarreia na sequência de IRA viral
Imobilidade da membrana timpânica Abaulamento e opacidade do tímpano Cor vermelha ou amarela
Otorreia
Etiologia da OMA
Europa EUA
(%) (%)
Pneumococo
36
25
H. influenzae
12
25
M. catarrhalis
1
12
S. pyogenes
6
1,5
não bacteriana
44
30
OMA e Vírus Respiratórios
Presença de vírus sem bactérias – 5-6%(por cultura)
Cofactor
– disfunção dos neutrófilos – alteração da mucosa
– pressão negativa
OMA
razões para antibioticoterapia
A maioria são bacterianas
A clínica não permite distinguir a etiologia
Melhoria sintomática
Complicações da OMA
Extracranianas Hipoacúsia Perfuração Disfunção vestibular Otomastoidite Petrosite Labirintite Paralisia facial Otite externa Intracranianas Meningite Abcesso cerebralTrombose do seio lateral
Bluestone CD, Klein JO; 2001
OMA
evitar a antibioticoterapia?
• Cura espontânea > 2/3
• A IRA viral é autolimitada
OMA
evitar a antibioticoterapia?
• Cura espontânea > 2/3
• A IRA viral é autolimitada
• Otomastoidite:
% significativa sem OMA recente
OMA tratadas, sem resistência aos antimicrobianos
OMA
evitar a antibioticoterapia?
• Cura espontânea > 2/3
• A IRA viral é autolimitada
• % significativa de OTM sem OMA recente
OMA
evitar a antibioticoterapia?
• Cura espontânea > 2/3
• A IRA viral é autolimitada
• % significativa de OTM sem OMA recente
• Eliminação da flora protectora (adenoides)
• Resistências aos antibióticos
• Custos (familiares, sistema de saúde)
OMA
Recomendações da SIP
• Melhorar o diagnóstico
• Aguardar 24 - 48h na criança saudável
... se possível
OMA
não tratar com antibióticos
• Em profilaxia
• Na dúvida...
• Na criança saudável >1A em que
a vigilância é possível
• Se persiste fluido no ouvido médio
OMA
• Presença de fluido no ouvido médio após
episódio de OMA bem tratada
– 2 semanas
70%
– 1 mês
50%
– 2 meses
20%
– 3 meses
10%
OMA
antibioticoterapia
Em menores de 6-12 meses Otite recorrente
Repercussão geral significativa (duração da sintomatologia)
Em crianças de risco
(ID, FQ, malnutridos, fenda palatina...)
OMA
Resistência Penicilina* Cura espontânea % falência terapêutica Mecanismo S. pneumoniae 1-2% 20% 0,3-0,6% PBP H. influenzae 10-12% 50% 0,6% -L M. catarrhalis > 80% (80%) 0 -L Pn H e M correlação clínica + +- citoquinas ++ + poder patogénico ++ + PIDJ 1999;18:849-
*Estudo Viriato; infecções respiratórias na comunidade (adultos e crianças) Melo-Cristino et al. Paediatr Drugs. 2010; 29;12 Suppl 1:11-7.
Amoxicilina na OMA
Etiologia da Otomastoidite
S. pneumoniae
S. aureus
S. pyogenes
P. aeruginosa
Outros gram pos.
Outros gram neg. Polimicrobiana
H. influenzae
OMA - antibioticoterapia
• 1ª linha
amoxicilina
• 2ª linha
amoxi/clav
cefuroxime axetil
cefprozil
OMA - antibioticoterapia
• Amoxicilina 80-100 mg/kg/dia
• 3 tomas/dia
• 5
-
7
-10 dias
Esquema curto não testado em grupos de risco, incluindo crianças com otites recorrentes
10M
Febre 38,5 ºC, “ranho” amarelo e tosse com 3 dias de evolução,
Come pior e dorme pior
1
3A
Febre 38,5 ºC, “ranho” amarelo e tosse com 3 dias de evolução,
Otalgia bilateral
Come pior e dorme pior
Dorme habitualmente de boca aberta e ressona
3A
Febre 38,5 ºC, “ranho” amarelo e tosse com 3 dias de evolução,
Otalgia intensa à dtª
Pode supurar mesmo com antibioticoterapia adequada, Reobservação se otorreia persiste 4 dias
3
Antibioticoterapia?
otorreia e dor persistente
Sinusite Bacteriana
Edema da mucosa
Acção citopática nos cílios Alteração do muco
0,5 - 10% IRA virais sinusite bacteriana
Sinusite - Fisiopatologia
Compromisso drenagem seios
Edema da mucosa
– infecção viral – alergia – fibrose quística – insulto local trauma natação, mergulho rinite medicamentosaSinusite - Fisiopatologia
Compromisso drenagem seios
Obstrução mecânica
– desvio do septo – atrésia choanas – hipertrofia dos adenoides – polipo nasal – corpo estranho – tumorSinusite Aguda
Clínica - I
• rinorreia
• tosse diurna
• halitose
• dor facial • cefaleia• edema periorbitário matinal
> 10 dias
sem melhoria
Sinusite Aguda
Clínica - II
rinorreia purulenta
febre 39 ºC
cefaleia retro ou supra ocular edema periorbitário
> 3-4 dias
Sinusite Sub-Aguda e Crónica
Clínica
rinorreia e/ou tosse diurna
febre intermitente
halitose
cefaleia crónica matinal
dor de garganta, fadiga, anorexia, irritabilidade, alterações da atenção e do sono
Sinusite - Diagnóstico
• clínico
pús meato médio edema periorbitário• radiológico
sinais + específicosSinusite - Diagnóstico
Radiologia
• Opacificação dos seios é frequente na
infecção viral e pode persistir 2 semanas
• Pode excluir diagnóstico
Sinusite
critérios para TC
• complicações orbitárias ou SNC • recorrências frequentes
• ausência de resposta a terapêutica correcta
Sinusite - Etiologia
• S. pneumoniae
• H. influenzae
• M. catarrhalis
• S. pyogenes
> 5 anos
• estafilococos s. crónica, cel. órbita
Sinusite - Terapêutica
amoxicilina amoxicilina/clav. ou cefuroxime ou cefprozil - maxilar / etmoidal- maxilar / etmoidal complicada - frontal / esfenoidal
- evolução > 30 dias
- sem resposta a amoxicilina
Cura clínica espontânea 40-50%
Duração: 10 – 14 dias
• 6 anos; sinusite aguda • Edema e eritema periorbitário • Limitação / dor movimentos oculares • Diplopia • Quemose • Proptose Dor espontânea Envolvimento bilateral Alterações visuais TC órbitas SPN e CE ? 4 Celulite orbitária
Celulite da Órbita
Celulite periorbitária infecção respiratória alta
conjuntivite, hordéolo, dacriocistite lesão cutânea local
Celulite orbitária sinusite (75-80%);
extensão de CPO ao espaço pós-septal
Celulite da Órbita
etiologia
• CPO:
– lesão cutânea / hordéolo:
S. aureus; S. pyogenes
– infecção respiratória/conjuntivite:
S. pneumoniae; H. influenzae; S. aureus
• CO
– S. pneumoniae; S. aureus; S. pyogenes; anaeróbios; H.
influenzae
– Acanthamoeba (lentes de contacto) – fungos (raro)
Diagnóstico Diferencial
conjuntivite dacriocistite picada insecto
alergia a tópico ocular
retinoblastoma, rabdomiossarcoma linfoma
pseudotumor inflamatório orbitário idiopático
www.skinsight.com/teen/arthropodBiteorSting.htm
Rapaz, 7 A
Hiperémia conjuntival, dor e prurido do olho esquerdo
com 15 dias de evolução, sob antibióticos e corticoides tópicos. Agravamento progressivo, com aparecimento de edema
peri-orbitário e da hemiface esquerda e obstrução nasal homolateral. No dia anterior ao internamento surge febre e diplopia.
5 anos
Amigdalite diagnosticada há 3 dias e medicada com azitromicina 20 mg/kg/d 3 dias
Persiste febre e odinofagia
Amigdalite - Etiologia Viral
Adenovirus Enterovirus Epstein-Barr
Amigdalite / faringite
Etiologia bacteriana
• S. pyogenes
• Streptococci dos grupos C e G
• Arcanobacterium haemolyticum
• 5 anos • Início súbito
• Febre, odinofagia intensa,
cefaleias, vómitos, dor abdominal • Adenomegalias cervicais dolorosas
+
=
Penicilina ?Exs. Faríngeo?
> 5 anos (> 3 anos) Início súbito
Febre, odinofagia intensa (cefaleias, vómitos, dor abdominal)
Ausência de: rinorreia, tosse, conjuntivite vesículas ou úlceras
Muito eritematosa, com ou sem pús ou petéquias
Adenomegalias cervicais dolorosas
Amigdalite estreptocócica
Critérios clínicos
Amigdalite
Quando pedir exame bacteriológico
Critérios discordantes de etiologia estreptocócica Amigdalite recorrente
Antecedentes pessoais ou familiares de FR, GNAPE, SCTE
Hipersensibilidade a β-lactâmicos
Resistência à penicilina
0 %
Comparison of macrolide resistant and macrolide susceptible populations of Group A streptococci (GAS) from asymptomatic
oropharyngeal colonization in Portugal
9,3 9,8 10,5 27,6 19,8 2,6 0 5 10 15 20 25 30 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Years P e rc e nt a ge 40 0 83 86 92 88 17 14 8 13 100 60 0 20 40 60 80 100 2000 (n=5) 2001 (n=16) 2002 (n=13) 2003 (n=69) 2004 (n=36) 2005 (n=2) Years P e rc e n ta g e M MLSB
R. Pires, D. Rolo, J. F. Almeida, A. Brito-Avô, A. Morais, J. Gonçalo-Marques, I. Santos-Sanches 18th ECCMID, 2008
resultado sensib. espec. Cultura 2 dias +++ +++ Antigénio imediato 70-85% ++
Amigdalite
exames bacteriológicos
Risco de febre reumática não aumenta se se atrasar a terapêutica até 9 dias após o início da sintomatologia
Terapêutica da Amigdalite
Penicilina
50.000 U/kg IM
Amoxicilina
Terapêutica da Amigdalite
Previne febre reumática (mas não GNAPE)
sequelas supurativas
(abcesso, adenite, bacteriémia, SCTE?) Anula risco de contágio após 24h 1 dia resolução sintomas
4A
amigdalite com exsudado esbranquiçado adenomegalias cervicais
aftas orais
Leucocitos 21.000/mm3 neutrófilos 75%
Proteína C reactiva 15 mg /dL
episódios duram 4-5 dias de febre com ou sem AB
PFAPA
benigna
prednisona, toma única amigdalectomia ?
11
Não estreptocócica
Viral
PFAPA Kawasaki
Neutropénia cíclica Síndrome de Hiper IgD
Amigdalite
recorrente / falência terapêutica
Estreptocócica
– não cumprimento da terapêutica – resistência
– novas estirpes
– erradicação da flora protectora – reservatório intracelular
– copatogenicidade
Portador SGA
Amigdalite
Sem risco significativo de: Febre reumática
Complicações supurativas Contagiosidade
Sem indicação de evicção escolar
SGA - portador crónico
• Rapaz de 4 anos,
• MC: torcicolo com 4 dias de evolução, sem melhoria com diazepam + ibuprofeno
• Sialorreia
• Adenomegalias cervicais sem inflamação local • Ligeiro trismo; sem abaulamento do palato mole;
hipertrofia moderada das amígdalas ...
• Abaulamento da parede posterior da orofaringe
Abcesso retrofaríngeo
IRA Bacterianas
melhorar o diagnóstico
Otoscopia pneumática
Rinoscopia (com vasoconstritor)
Exame bateriológico
– faríngeo
IRA Bacterianas
melhorar o diagnóstico
Excluir outras etiologias e / ou factores predisponentes nas situações que não respondem a terapêutica correcta
e nas recorrências
Re-infecções virais frequentes no Inverno (infantários)
IRA Bacterianas
melhorar a terapêutica
Higiene nasal sem uso abusivo de vasoconstritores e anti-histamínicos
Preferir paracetamol a AINEs
Não tratar “na dúvida”
Antibióticos de 1ª linha
IRA
Referenciação a ORL
Complicações Obstrução mecânica
Ausência de resposta a 2º ciclo de antibioticoterapia adequada