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Análise da estratégia da tradução de cem títulos de filmes de português para libras

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA

TRADUÇÃO

GERMANO CARLOS DUTRA JUNIOR

ANÁLISE DA ESTRATÉGIA DA TRADUÇÃO DE CEM TÍTULOS DE FILMES DE PORTUGUÊS PARA LIBRAS

Florianópolis/SC 2018

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GERMANO CARLOS DUTRA JUNIOR

ANÁLISE DA ESTRATÉGIA DA TRADUÇÃO DE CEM TÍTULOS DE FILMES DE PORTUGUÊS PARA LIBRAS

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau de mestrado em Estudos da Tradução.

Orientador: Prof. Dr. Markus Johannes Weininger

Florianópolis/SC 2018

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Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor,através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.

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Germano Carlos Dutra Junior

TÍTULO: ANÁLISE DA ESTRATÉGIA DA TRADUÇÃO DE CEM TÍTULOS DE FILMES DE PORTUGUÊS PARA LIBRAS

Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Tradução e aprovada em sua forma final pelo

Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução. Florianópolis, 11 de dezembro de 2018.

________________________ Prof.ª Dirce Waltrick do Amarante, Dr.ª

Coordenador do Curso Banca Examinadora:

________________________ Prof. Markus Johannes Weininger, Dr.

Orientador e Presidente

Universidade Federal de Santa Catarina

________________________ Prof.ª Janine Soares de Oliveira, Dr.ª

Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC/DLSB

________________________ Prof.ª Marianne Rossi Stumpf, Dr.ª

Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC/PPGL

________________________ Prof.ª Dilma Beatriz Rocha Juliano, Dr.ª Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL

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Este trabalho é dedicado aos meus queridos pais e aos cinéfilos da comunidade surda e comunidade em geral.

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de expressar meus agradecimentos às pessoas que me ajudaram na minha trajetória de mestrado.

Em primeiro lugar, agradeço aos meus pais Germano Carlos Dutra e Maria Antônia Nagel Dutra, que sempre são meus grandes professores da vida, por acreditar em meu potencial e meu ser, pelo incentivo, companheirismo, força, apoio, dedicação e amor. À minha irmã Regiane Nagel Dutra pela lealdade, confiança, cumplicidade e ser companheira desde meu nascimento até hoje. Aos Serviço de Atendimento à Pessoa Surda (SAPS) em Itajaí, Associação dos Surdos de Balneário Camboriú (ASBAC) e Letras-Libras pela Universidade Federal de Santa Catarina, por crescer e me construir com língua de sinais, identidade surda, convivência na comunidade surda e aquisição de conhecimentos através da língua visual.

Ao meu orientador, prof. Dr. Markus Johannes Weininger, por confiança, orientação, compreensão, ensinamentos, trocas de ideias, que acreditou meu trabalho de pesquisa e estar paciente durante minha fase difícil.

Aos meus professores e colegas da pós-graduação de Estudos da Tradução por compartilhar conhecimentos, ideias e aprendizagens.

Aos meus grandes amigos que me ajudaram, trocaram ideias e comentaram sobre títulos de filmes em Libras: Camila Silva, Marcos Marquioto e os demais. Também aos membros dos grupos de Facebook “Surdos Cinéfilos” e “Em Libras, Filmes e Séries” pelas suas contribuições dos sinais.

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“O cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho.” (Orson Welles)

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RESUMO

O objeto da pesquisa é analisar a tradução dos títulos de 100 filmes lançados no Brasil, lançamento original entre os anos 1937 a 2017 e conhecidos pelo grande público, que tenham sinais em Libras, a partir das conversas entre surdos e vídeos da Internet. O objetivo é identificar quais os tipos de estratégias de tradução propostos por Brito (2009) nesses títulos traduzidos do português brasileiro para língua de sinais brasileira para comunidade surda. Apresentamos a literatura sobre comunidade surda, língua de sinais como primeira língua e segunda língua, suas experiências visuais, breve história de cinema, títulos e tradução dos títulos. A metodologia é analisar e identificar qual o tipo, com base em Brito, em cada título coletado, com informações e comentários, dividir as categorias dos títulos em sinais, apresentar as quantidades em cada categoria e tipo e mostrar quais as diferenças e semelhanças. As estratégias de tradução mais utilizadas remetem ao caráter visual da Libras. Os resultados contribuem para reflexões sobre surgimento de traduções de títulos de filmes e sobre a tradução de português brasileiro para libras em geral.

Palavras-chave: Libras. Tradução. Títulos de filmes. Cinema. Estratégias de tradução.

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ABSTRACT

The objective of this research is to analyze the translation of 100 movie titles, known by the major audience, launched in Brazil with original launching between 1937 and 2017. These movies ought to present signs in Brazilian Sign Language (Libras) in dialogues between deaf people and in internet videos. The objective is to identify, within the translation strategies proposed by Brito (2009), which ones were used in these titles when translated to Brazilian Portuguese and to Brazilian Sign Language for the deaf community. We present Literature on the deaf community, sign language as first and as second language, their visual experiences, briefly on the history of cinema, movie titles and translation of titles. The methodology consists in analyzing and identifying, based on Brito, what types of strategies were used in each title collected for this research, with information and comments, dividing the titles within the translation categories, in Sign Language, presenting the quantity in each category/type and showing the differences and similarities. The most used translation strategies make reference to the visual character of Libras. The results contribute to reflect upon the translation of movie titles and upon translation from Brazilian Portuguese to Libras.

Keywords: Libras. Translation. Movie titles. Cinema. Translation strategies.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Organização das colunas sobre tipos e tradução .... 94

Figura 2 – Organização e identificação sobre tipo misto e subtipos ... 95

Figura 3 – Gêneros cinematográficos ... 102

Figura 4 - Gênero dos diretores ... 103

Figura 5 - Etnia dos diretores ... 104

Figura 6 - Diretores com mais filmes... 105

Figura 7 - Lançamento por década ... 106

Figura 8 - Produção por países ... 107

Figura 9 – Filme 2012 ... 116

Figura 10 - Sinais para o filme "Zorro" ... 121

Figura 11 – Pôster do filme “A Proposta” ... 124

Figura 12 - Cena do filme "As Panteras" ... 127

Figura 13 - Vídeo “A Branca de Neve e os Sete Anões”, da INES ... 132

Figura 14 - Espetáculo “Cidade de Deus - Casos e Conflitos . 137 Figura 15 - Sinal da peça de teatro “Cidade de Deus” ... 137

Figura 16 - Pôster do filme “Esqueceram de mim” ... 148

Figura 17 - Capa do DVD de filme “E.T., o Extraterrestre” ... 149

Figura 18 - Vídeo sobre o filme "Filhos do silêncio" ... 150

Figura 19 – Sinal de Harry Potter ... 154

Figura 20 - Vídeo sobre filme “Homem-Aranha” ... 156

Figura 21 - Pôster do filme “Independence Day” ... 160

Figura 22 - Sinal filme “Mulher Maravilha” ... 178

Figura 23 - Filme El laberinto del fauno - personagem Homem pálido ... 183

Figura 24 - O Poderoso Chefão ... 185

Figura 25 - Imagem do Filme "O Poderoso Chefão" ... 186

Figura 26 - Pôsteres dos filmes de Vingadores (2012, 2015 e 2018) ... 193

Figura 27 - O símbolo do título de equipe associado em Libras ... 193

Figura 28 – Sinal filme "Os vingadores" ... 193

Figura 29 - Pôster do filme “Pulp Fiction: Tempo de Violência” ... 199

Figura 30 - Sinal filme "Superman" ... 206

Figura 31 - Cena filme "Titanic" ... 209

Figura 32 - Tipos de estratégias identificadas segundo Brito .. 217

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Figura 34 - Tipos identificados dos títulos em Libras ... 222 Figura 35 - Tipos iguais de títulos entre português e Libras ... 225 Figura 36 - Dois tipos diferentes justos dos títulos em português e Libras ... 227 Figura 37 - Tradução de títulos entre duas línguas: literalidade ou não? ... 236 Figura 38 - Tipos identificados em cada língua ... 240

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Sinal "Homem-Aranha" ... 29

Quadro 2 – Títulos de filmes traduzidos com "palavras-chichê" 65 Quadro 3 – Filme Bringing up Baby ... 72

Quadro 4 – Filme Double Indemnity ... 73

Quadro 5 – Filme Notorious ... 75

Quadro 6 – Filme On the waterfront ... 76

Quadro 7 - Filme Peyton Place ... 78

Quadro 8 – Entre títulos originais americanos e títulos britânicos ... 80

Quadro 9 –Títulos brasileiros originais e suas traduções em inglês para exterior ... 81

Quadro 10 - Títulos brasileiros originais e suas traduções mais próximas do inglês ... 82

Quadro 11 - Critérios para escolha dos filmes analisados ... 95

Quadro 12 - Modelo proposto por Saparas (2012) ... 109

Quadro 13 - Modelo criado por Saparas ... 109

Quadro 14 - 007 Contra Spectre ... 110

Quadro 15 - Gíria e Variação para 007 ... 111

Quadro 16 - Filme “101 Dalmatas” ... 112

Quadro 17 - Filme “127 Horas” ... 113

Quadro 18 - Filme “300” ... 114

Quadro 19 - Filme “2012” ... 114

Quadro 20 - Filme "A Bela e a Fera" ... 116

Quadro 21 - Filme “A Dama e o Vagabundo” ... 117

Quadro 22 - Filme “A Fantástica Fábrica de Chocolate” ... 118

Quadro 23 – Filme “A Hora do Pesadelo” ... 119

Quadro 24 - Filme A Máscara do Zorro ... 120

Quadro 25 - Filme A Máskara ... 122

Quadro 26 – Filme “A Proposta” ... 123

Quadro 27 – Filme “Alien, o Oitavo Passageiro”... 124

Quadro 28 - Filme As Panteras ... 125

Quadro 29 - Filme "As Tartarugas Ninja" ... 127

Quadro 30 - Filme “Avatar” ... 128

Quadro 31 - Filme “Batman” ... 130

Quadro 32 - Variação de sinais para filme Batman ... 131

Quadro 33 - Filme Branca de Neve e os 7 Anões ... 131

Quadro 34 – Filme “Brinquedo Assassino” ... 132

Quadro 35 - Filme Cantando na Chuva ... 133

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Quadro 37 - Sinal para filme Capitão América ... 135

Quadro 38 - Filme “Cidade de Deus” ... 136

Quadro 39 – Filme “Cinderela” ... 138

Quadro 40 - Cinquenta Tons de Cinza ... 138

Quadro 41 - De Volta para o Futuro ... 140

Quadro 42 - Filme “Deadpool” ... 141

Quadro 43 - Filme “Doce Vingança” ... 142

Quadro 44 - Filme “Doutor Estranho” ... 142

Quadro 45 - Filme “Dumbo” ... 143

Quadro 46 - Filme “E seu nome é Jonas” ... 144

Quadro 47 - Filme “Edward Mãos de Tesoura” ... 145

Quadro 48 - Filme Elvira, a Rainha das Trevas ... 146

Quadro 49 - Filme Esqueceram de Mim ... 147

Quadro 50 – Filme “ET, o Extraterrestre” ... 148

Quadro 51 – Filme “Filhos do Silêncio” ... 149

Quadro 52 - Filme Free Willy ... 151

Quadro 53 - Guerra nas Estrelas ... 151

Quadro 54 – Variação do sinal Star Wars ... 152

Quadro 55 - Filme Harry Potter e a Pedra Filosofal ... 153

Quadro 56 - Filme Hellraiser – Renascido do Inferno ... 154

Quadro 57 - Filme Homem-Aranha ... 155

Quadro 58 – Sinal em português para filme “Homem-Aranha” 156 Quadro 60 - Filme “Homem de Ferro” ... 157

Quadro 61 - Filme “Homem Formiga” ... 158

Quadro 62 - Filme Hulk ... 159

Quadro 63 - Filme “Independence Day” ... 159

Quadro 64 - Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida . 161 Quadro 65 - Filme “Instinto selvagem” ... 162

Quadro 66 - Filme “It, a Coisa” ... 163

Quadro 67 - Filme Jogos Mortais ... 163

Quadro 68 - Variação sinal para filme “Jogos Mortais” ... 164

Quadro 69 - Filme “Jogos Vorazes” ... 165

Quadro 70 - Filme “Jornada nas Estrelas: O Filme” ... 166

Quadro 71 - Filme “Jumper” ... 167

Quadro 72 - Filme “Jurassic Park: Parque dos Dinossauros” . 167 Quadro 73 - Filme “King Kong” ... 168

Quadro 74 - Filme “Kung Fu Panda” ... 169

Quadro 75 - Filme “Lara Croft Tomb Raider” ... 170

Quadro 76 - Filme “Laranja Mecânica” ... 170

Quadro 77 - Filme Mad Max ... 171

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Quadro 79 - Filme “Matrix” ... 173

Quadro 80 - Filme “Menino Maluquinho – O Filme” ... 174

Quadro 81 – Variação sinal Filme "Menino Maluquinho – O Filme" ... 174

Quadro 82 - Filme “MIB: Homens de Preto” ... 175

Quadro 83 - Filme Missão Impossível ... 176

Quadro 84 - Filme Mulher Maravilha ... 176

Quadro 85 - Filme “O Chamado” ... 178

Quadro 86 - Variação sinal filme “O Chamado” ... 179

Quadro 87 - Filme "O Exterminador do Futuro" ... 179

Quadro 88 - Variação sinal filme "Exterminador do Futuro” .... 180

Quadro 89 - Filme “O Iluminado” ... 181

Quadro 90 - Filme O Labirinto do Fauno ... 181

Quadro 91 - Filme “O Massacre da Serra Elétrica” ... 183

Quadro 92 – Filme “O Pestinha” ... 184

Quadro 93 - Filme “O Predador” ... 186

Quadro 94 - Variação sinal filme “Filme O Predador” ... 187

Quadro 95 - Filme “O Procurado” ... 187

Quadro 96 - Filme “O Rei Leão” ... 188

Quadro 97 - Variação sinal filme “O Rei Leão” ... 189

Quadro 98 - Filme “O Senhor dos Anéis” ... 189

Quadro 99 - Filme “Os Caça-Fantasmas” ... 190

Quadro 100 - FIlme Os Incríveis ... 191

Quadro 101 - Filme Os Vingadores ... 191

Quadro 102 - Filme “Pânico” ... 193

Quadro 103 – Filme “Peter Pan” ... 194

Quadro 104 - Variação sinal filme "Peter Pan" ... 195

Quadro 105 - Filme “Pinóquio” ... 195

Quadro 106 - Variação sinal filme "Pinóquio" ... 196

Quadro 107 - Filme “Power Rangers, o Filme” ... 196

Quadro 108 - Filme “Psicose” ... 197

Quadro 109 - Filme Pulp Fiction: Tempo de Violência ... 198

Quadro 110 – Filme “Quarteto Fantástico” ... 200

Quadro 111 - Filme “Rambo: Programado para Matar” ... 201

Quadro 112 - Filme "[REC]" ... 202

Quadro 113 - Filme “Sexta-Feira 13” ... 203

Quadro 114 - Variações sinais filme "Sexta-Feira 13" ... 203

Quadro 115 - Filme “Shrek” ... 204

Quadro 116 - Filme “Superman: o Filme” ... 204

Quadro 117 - Variações sinais filme "Superman" ... 206

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Quadro 119 - Filme “Thor” ... 207 Quadro 120 - Variações sinal filme “Thor” ... 208 Quadro 121 - Filme “Titanic” ... 208 Quadro 122 – Filme “Transformers” ... 209 Quadro 123 - Filme “Tubarão”... 210 Quadro 124 – Filme Uma Babá Quase Perfeita ... 211 Quadro 125 - Filme “Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio” ... 212 Quadro 126 - Filme “V de Vingança” ... 213 Quadro 127 - Filme “Velozes e Furiosos” ... 214 Quadro 128 - Filme “Wolverine: Imortal” ... 214 Quadro 129 - Filme “X-Men, o Filme” ... 216 Quadro 130 - Variações sinal filme “X-Men” ... 217 Quadro 131 – Títulos iguais e diferentes (português/libras) .... 218 Quadro 132 - Títulos dos filmes e seus tipos ... 220 Quadro 133 – Títulos dos filmes e as estratégias ... 223 Quadro 134 - Títulos e o tipo identificado entre duas línguas . 226 Quadro 135 - Títulos com dois tipos diferentes em cada língua ... 227 Quadro 136 - Identificação dos subtipos ... 230 Quadro 137 – Títulos com tipo em português e Libras ... 230 Quadro 138 - Títulos traduzidos literalmente, parcialmente ou não ... 237

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ASL Língua Americana de Sinais

Auslan Língua Australiana de Sinais BSL Língua Britânica de Sinais

Código QR Quick Response (resposta rápida) Concine Conselho Nacional de Cinema DGA Directors Guild of America DVD Disco Digital de Vídeo

Embrafilme Empresa Brasileira de Filmes EUA Estados Unidos da América

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INES Instituto Nacional de Educação de Surdos LGP Língua Gestual Portuguesa

Libras Língua Brasileira de Sinais LIS Língua Italiana de Sinais LSB Língua de Sinais Brasileira

TV Televisão

UFSC Universidade Federal de Santa Catarina Unisul Universidade do Sul de Santa Catarina VHS Sistema Doméstico de Vídeo

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 27 1.1 PROBLEMA ... 29 1.2 HIPÓTESE DO TRABALHO ... 29 1.3 JUSTIFICATIVA ... 30 1.4 CONCLUSÃO ... 33 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 35 2.1. COMUNIDADE SURDA ... 35 2.1.1. Aquisição de Língua Portuguesa e Língua de Sinais como L1 e L2 ... 41 2.1.2. Experiências visuais ... 43 2.2. HISTÓRIA DE CINEMA ... 46 2.3. REVISÃO DE LITERATURA DAS PESQUISAS SOBRE LIBRAS/COMUNIDADE SURDA E CINEMA ... 53 2.4. LITERATURA SOBRE ESTUDOS DA TRADUÇÃO ... 57 2.5. TRADUÇÃO DOS TÍTULOS DE FILMES ... 63 3 METODOLOGIA ... 91 3.1. DADOS SOBRE CEM FILMES ... 95 3.2. DADOS ESTATÍSTICOS SOBRE OS CEM FILMES SELECIONADOS ... 102 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS... 109 4.1 ETAPA I: ANÁLISE CRÍTICA DE SINAIS EM TÍTULOS DE FILMES ... 109 4.2. ETAPA II: CATEGORIZAÇÃO DOS TÍTULOS DE FILMES...217 4.2.1. Discussão de resultados ... 217 5 RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 239 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 245

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1 INTRODUÇÃO

O objetivo geral da pesquisa é analisar os sinais dos títulos de filmes em Libras. Os objetivos específicos são coletar os dados dos filmes, categorizar os títulos de filmes em acordo de tipos, comparar os títulos lançados no Brasil entre português brasileiro e Libras, apresentar cada dado com título e seus sinais em Libras e examinar os motivos de diferenças. As principais etapas da pesquisa são: o espaço teórico, apresentando fundamentos abordados sobre comunidade surda, a tradução dos títulos de filmes, a metodologia de pesquisa baseada em Brito (2009), os com dados contendo a coleta em Libras de cem títulos de filmes, a análise crítica das estratégias de tradução dos títulos com base nas categorias propostas por Brito (2009) e os resultados da pesquisa, apresentando minhas discussões em relação dos fundamentos teóricos. O público-alvo é a comunidade surda, composta por pessoas surdas ou não-surdos que partilham a mesma língua de sinais e herança comum e os pesquisadores da área de tradução. Os acadêmicos do espaço cinematográfico até podem ser incluídos nessa lista, se tiverem afinidade em relação de tradução e língua de sinais.

Desde criança, sempre me apaixonei pelos filmes, com meus olhos colados na pequena tela da televisão de tubo. Ações, imagens visuais, cores, fotografia, personagens, tudo isso num filme me fascinava. Na época onde as fitas VHS eram uma febre, frequentava muito a locadora de filmes no meu bairro em Itajaí, uma cidade de Santa Catarina onde cresci, que fica no litoral norte do estado, alugava e assistia muitos filmes. Quando o aparelho de videocassete não funcionou mais, fiquei menos em contato do mundo de cinema, mas não afastado pois acompanhava os filmes que passavam nos canais abertos, era único jeito que tinha. Imagina que não tinha Internet em casa, apenas discada se usasse hoje vai sentir que é mais lenta, também era muito cara naqueles tempos, quase não tinha como assistir vídeos na Internet discada.

Na minha adolescência, chegou a nova tecnologia DVD – Digital Video Disc1, um formato digital que armazena mais dados, com melhor imagem e som, isso substituiu e causou a extinção de VHS para distribuir os filmes. Nesse momento, chegou o primeiro

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aparelho de DVD em minha casa, a minha paixão pelo cinema se acendeu mais forte. Fiquei viciado em assistir filmes, ia para locadora toda semana, sem falta, até deixei de estudar provas para assistir só porque não queria gastar dinheiro à toa por nada. Nesse tempo, a Internet foi evoluindo, eu pesquisava tudo sobre cinema, sua história, atores, atrizes e diretores renomados. Isso me fez deixar alguns preconceitos, por exemplo não dava valor aos filmes brasileiros, depois de conhecer e pesquisar, comecei a gostar e mudei a visão, por causa da minha identidade nacional. Também outro exemplo, antes só pensava e assistia filmes americanos, depois disso, comecei a assistir o cinema mundial, acabei conhecendo os filmes latino-americanos, europeus e asiáticos.

Os espaços de cinema têm uma questão complicada para resolver os problemas de acessibilidade para pessoas surdas e deficientes auditivos, onde passam filmes estrangeiros dublados e nacionais sem nenhuma legenda, as distribuidoras frequentemente não lembram que existem mais nove milhões de deficientes auditivos e surdos no Brasil, segundo IBGE (2010) e, as redes de cinemas que insistem passar os dublados porque “a maioria do público prefere isso e ganha muito”, o que demonstra que não respeitam a igualdade e o direito de acessibilidade das pessoas surdas. A Lei Brasileira de Inclusão, nº 13.146 de 6 de julho de 2015 (BRASIL, 2015), garante que a pessoa com deficiência, incluindo surdos, o direito à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. Na parte de cultura e lazer, a lei exemplifica programas de televisão, cinemas, teatros e outras atividades. No parágrafo 6º do Artigo 44 no Capítulo IX, diz que as salas de cinema devem oferecer, em todas as sessões, recursos de acessibilidade para pessoas com deficiência. Significa que os deficientes auditivos e surdos têm direito de escolher qualquer sessão em qualquer horário, que deve ter janela de intérprete de Libras e/ou legendagem. Nesse caso, não se vê muito na realidade brasileira, há cinemas que têm todas as sessões legendadas, normalmente nas grandes cidades, outras que tem legendas que impossibilitam de surdos fazerem uma escolha livre, e as demais que têm apenas as sessões com dublagem. A lei dá prazo para cumprir todos os requisitos em 48 meses, a partir de 2015. Isso quer dizer que até 2019 todas as exigências devem ser cumpridas, incluindo nos cinemas.

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1.1 PROBLEMA

Sempre fico curioso como pessoas surdas expressam os nomes de filmes em Libras. Às vezes segue o português sinalizado e outras vezes adaptam para sinais próprios. Por exemplo, o Homem Aranha, nunca vi algum surdo fazer os sinais seguintes “homem” e “aranha”, literalmente, vejo eles fazendo gestos de “lançar teias” com a mesma configuração do sinal “I love you”.

Quadro 1 - Sinal "Homem-Aranha"

Sinal literal em português Disponível em:

https://youtu.be/Bx6jQqQEdos

Sinal próprio em Libras Disponível em:

https://youtu.be/xNVf-eTccIc Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Isso demonstra meu interesse em pesquisar e entender como os títulos de filmes serão traduzidos de português para Libras, se há influência da língua portuguesa, quais as diferenças e semelhanças com títulos em duas línguas. Percebi que não conseguia achar muitos textos acadêmicos que falassem sobre tradução dos títulos de filmes para língua de sinais, por isso acho bom produzir novas pesquisas.

1.2 HIPÓTESE DO TRABALHO

Quero analisar e fazer comparação das estratégias de tradução dos títulos de 100 filmes estrangeiros (português para língua de sinais brasileira). Para isso, será utilizada a base teórica de Brito (2009), que apresenta oito tipos para identificar as estratégias dos títulos traduzidos, assim poderei aplicar em cada dado coletado e organizá-los em categorias e mostrar os resultados em quantidades maiores ou menores em cada tipo identificado.

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As perguntas da pesquisa são: quais estratégias de tradução são usadas para títulos de filmes em sua tradução para Libras? Em que diferem as categorias das estratégias de tradução dos títulos do português para língua de sinais brasileira? A principal hipótese da pesquisa é se os títulos de filmes em Libras seriam mais associados à visualidade do que à tradução literal de português.

1.3 JUSTIFICATIVA

Depois de formar no ensino médio, que tinha intérprete de Libras, queria fazer a graduação em cinema, porém em minha cidade não tinha esse curso. No primeiro semestre de 2008, abriram as inscrições para vestibular do curso da graduação em Letras-Libras, com modalidade à distância, oferecido pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Sem opção, me inscrevi, passei e virei graduando. No ano seguinte, consegui uma bolsa para trabalhar como tradutor de textos no ambiente virtual do curso de Letras-Libras em português para Libras em vídeo e assim mudei para Florianópolis. Lá eu aprendi e adquiri experiências como tradutor, tive consciência que português e Libras são línguas diferentes e suas estruturas próprias.

Cresci lendo gibis, livros e filmes legendados, que me ajudou a conhecer melhor a língua portuguesa. Uma tradutora surda me ensinou sobre como traduzir um texto em português para um texto estruturado em glosas2, para colocar no teleprompter e assim aprendi esse recurso para traduzir melhor, sem influência de estrutura da língua portuguesa.

Aprendi a traduzir em diferentes formatos, por exemplo: para hipermídia, DVDs e editais, que são muito diferentes. Na hipermídia, recebo os textos com textos longos e várias páginas de cada unidade, trabalho mais traduzindo esses textos para código. Nos roteiros de DVD, são mais fáceis de trabalhar, porque só decoro cada parte quando filmo, após pausa a pausa. Os roteiros da hipermídia têm linguagem culta, dependendo do professor da disciplina, e os de DVD têm linguagem leve e fácil de decorar. Os editais são mais técnicos, demora um pouco mais para estudar, pensar como traduzir e pesquisar os termos.

2 Forma de escrita em português que tem representação textual de um ou mais sinais em Língua Brasileira de Sinais.

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No final de 2009, soube que existe o curso de graduação de cinema na Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), em Palhoça, um município da região Grande Florianópolis. Como era graduando de Letras-Libras numa universidade pública, não é permitido cursar outro curso em mais de uma universidade pública. Então a Unisul é instituição particular, decidi matricular, ingressei através do processo seletivo e comecei a fazer duas graduações ao mesmo tempo, uma presencial e outra à distância. Lá tem intérprete de Libras e Programa de Promoção da Acessibilidade que é responsável de dar todos os deficientes para atender suas necessidades na universidade, aprendi muitas coisas, o currículo tem teorias, análise crítica do filme, produção, direção, roteiro, fotografia, direção de arte, som, edição e montagem. Como Unisul é particular, não tinha condições para pagar, então todo semestre inscrevia e recebia a bolsa de estudo do artigo 170, financiado pelo Governo do Estado de Santa Catarina. Para receber a bolsa, todo aluno deve realizar uma atividade, no mínimo, 20 horas semestrais de trabalhos em programas e projetos de extensão. Assim eu criei um projeto de glossário do cinema em Libras, estudando, pesquisando e discutindo, criei os termos cinematográficos em sinais e fiz a gravação de vídeo para registro. Mais tarde, o meu glossário do cinema foi adicionado para Glossário Libras da UFSC3, um projeto de pesquisa realizado e supervisionado por professora dra. Marianne Stumpf, que também participei nesse projeto. O glossário da área de cinema contém oitenta e seis sinais, apresentando suas definições, exemplos e variações, além de apresentar os sinais escritos baseados em sistema Sign Writing, as configurações de mão e a localização. Essa experiência me ajudou a chegar aqui minha pesquisa de mestrado relacionada dos sinais na área de cinema.

Um dia, eu estava com meus amigos surdos, sem fazer nada e tive uma ideia de fazer um filme caseiro para postar no Youtube, eles toparam e fizemos. Postei, divulguei orgulhosamente para meus amigos como meu primeiro curta metragem, mas muito amador. Continuei fazendo mais curtas com amigos.

Quando comecei a graduação de Letras-Libras, me ensinaram como gravar com webcam e usar o programa de edição

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muito básico (Windows Maker Movie), isso me deu uma ideia de fazer o meu próprio programa. Assim, surgiu ‘O Programa do Surdo”. Fazia um vídeo de humor por semana e divulgava para amigos e conhecidos na rede social Orkut, mandava uma mensagem para cada amigo/conhecido, muito trabalhoso! Tudo isso antes da febre de Youtubers. Depois de mais um ano com 32 vídeos produzidos, me afastei um pouco para focar no trabalho e estudo.

No final de 2015, comecei a pensar seriamente em voltar para Youtube, pois vejo muitos exemplos de sucesso desta plataforma de vídeo. Planejei, atualizei o formato do meu canal e criei minha marca atual ‘Surdo Cult’. Quis usar a palavra cult por dois significados: o primeiro é abreviação de cultura, pois sempre falo de filmes, séries, livros, HQs e cultura pop; e o segundo é um dos meus gêneros favoritos, que significa um termo para filmes que são reconhecidos pelos fãs seguidores por ter roteiro e personagens originais, que não seguem muito a fórmula de Hollywood, geralmente são enquadrados como filmes alternativos e filmes B. O melhor exemplo do filme cult é The Rocky Horror Picture Show. Então, o canal atual é voltado para amantes de cinema, televisão, quadrinhos, entretenimento e cultura pop. Claro que tem vídeos de humor ocasionais, a minha veia humorística não saiu nunca.

Preparo os temas para gravar cada semana e em cada tema, faço várias pesquisas para preparar o roteiro com partes para gravação. Depois edito com programa Adobe Premiere Pro, em muitas e muitas horas, e mais tarde faço as legendas em português para alcançar o maior público que não entende Libras. Muitas e muitas vezes, quando cito o nome de filme, série ou quadrinhos, primeiro soletro e depois faço o sinal. Alguns sinais já são feitos e usados por comunidade surda e outros sinais são criados por mim para economizar o tempo e evitar fazendo cada sinal em cada palavra do título, mas há muitos títulos nos vídeos do canal que já fiz tradução para Libras usando para cada sinal uma palavra. , os motivos são variáveis: um filme não ser muito conhecido por público maior, não ter tempo para criar o sinal, ter receio de receber a rejeição por causa da criação de sinal, etc. Mostrarei os exemplos de títulos em sinais dos meus vídeos no quarto capítulo da dissertação.

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1.4 CONCLUSÃO

Nesta dissertação, a introdução apresenta meu objetivo principal da pesquisa, que é analisar as estratégias da tradução dos títulos de filmes de português para língua brasileira de sinais. Narrei brevemente a história em relação à minha paixão por cinema, minha formação acadêmica e minha experiência como tradutor. Isso me motivou a pesquisar como os títulos de filmes serão traduzidos para sinais e usarei a base teórica do Brito (2009) com sua proposta de tipologia. Expliquei a minha justificativa por causa das minhas experiências em graduação de Letras-Libras e de cinema, meus trabalhos como tradutor e a criação do meu canal no Youtube relacionado ao cinema.

No segundo capítulo são apresentados os fundamentos teóricos para desenvolver a pesquisa, abordando sobre comunidade surda, aquisição de língua de sinais como primeira língua e segunda língua, experiências visuais, breve história de cinema, literatura sobre estudos da tradução, revisão de literatura das pesquisas acadêmicas sobre Libras e comunidade surda em relação ao cinema e tradução dos títulos de filmes.

No terceiro capítulo, focaliza a metodologia da pesquisa usando a base teórica do Brito (2009), apesar de ter apresentado outra base importante da Nord (1995) que enfoca mais em funções comunicativas. Contém cem títulos de filmes selecionados, seguindo os critérios mostrados no capítulo e apresenta os dados estatísticos sobre filmes escolhidos e os procedimentos da análise.

No quarto capítulo, envolve as etapas abrangendo análise crítica de sinais em títulos de filmes, apresentando cada título com informações, identificação e justificativas, e categorização dos títulos de filmes em base da tipologia de Brito (2009), mostrando os resultados em forma de gráficos.

No próximo capítulo, apresenta os resultados da análise com minhas discussões, revisando os fundamentos teóricos. E por fim, esta dissertação se finaliza com minhas considerações finais, refletindo as principais contribuições e limitações.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. COMUNIDADE SURDA

Primeiramente, apresento a definição de pessoa surda. Há várias visões de diversas áreas. A Lei de Libras – Lei nº 10.436/2002, reconhece a língua brasileira de sinais como língua nacional usada pelas comunidades surdas do Brasil. A legitimação dessa língua é também consolidada por meio das pesquisas desse bem imaterial, uma língua de sinais nacional (QUADROS; STUMPF; LEITE, 2013).

O conceito da comunidade surda pode ser novo para sociedade em geral. Primeiro vou apresentar o que é a comunidade. Strobel (2013) mostra o conceito seguindo com o Dicionário Houaiss da língua portuguesa, seria:

[...] conjunto de habitantes de um mesmo Estado ou qualquer grupo social cujos elementos vivam numa dada área, sob um governo comum e irmanados por um mesmo legado cultural e histórico. [...] conjunto de indivíduos que utilizam o mesmo idioma. [...] Agrupamento de pessoas que, num período específico do tempo, usam a mesma língua ou o mesmo dialeto; essa comunidade pode coincidir com uma nação, se esta for monolíngue, ou pode ser o conjunto de povos que tem uma língua em comum, ou grupos regionais, profissionais, etc. [...] conjunto de indivíduos que, em razão de fatores de natureza social - geográficos, históricos, culturais, raciais, etc. - têm em comum certas características que os distinguem de outros grupos no mesmo meio e na mesma ocasião (HOUAISS; VILLAR, 2001 apud STROBEL, 2013).

De acordo com Padden e Humphries (2000), uma comunidade surda é um grupo de pessoas que vivem num local determinado, compartilham os mesmos objetivos e trabalham para alcançar esses objetivos. Uma comunidade surda pode ter pessoas que não são surdas, mas apoiam os objetivos da

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comunidade e trabalham com pessoas surdas para conseguir a realizar os objetivos. Significa que as pessoas surdas e ouvintes, que podem ser familiares, amigos, intérpretes e outros, participam da mesma comunidade para compartilhar os mesmos interesses em um local, por exemplo associação de surdos, igrejas, clubes e outros.

A Libras é uma língua natural assim como as outras línguas faladas, que contém a sua própria estrutura linguística, embora de modalidade diferente (DINIZ, 2013). A autora expressa que

[...] toda língua tem a sua vida própria e “alimenta-se” a partir da comunicação dos falantes, quando entram em contato com seus pares. Quando alimentada, a língua é transformada naturalmente, seja por fatores internos à própria língua (e.g. a fisiologia da articulação), seja por fatores externos (e.g. o contato com outras línguas). Nessa transformação, a língua modifica as formas das palavras e seus significados ao longo do tempo, sem prejudicar a estrutura linguística, que é fundamental para a comunicação entre os falantes (DINIZ, 2013, p. 61)

Infelizmente, na visão da sociedade com senso comum, as línguas de sinais não são vistas como línguas naturais. Para eles são “instrumento” para pessoas surdas poderem se comunicar e professores usarem com seus alunos. A sociedade não vê que as línguas de sinais têm o mesmo valor das orais, como inglês, português, russo e japonês. Também pensam que a língua tem que ser necessariamente com voz e ouvidos, não estão cientes que também podem ter mãos e visão.

Sem muito conhecimento e muita informação, a população acredita que as línguas de sinais são primitivas e universais, que usam apenas conceitos concretos e tem uma estrutura “pobre”. Quadros e Karnopp (2004) desmistificam e comprovam que a produção da língua de sinais é a mesma da oral, tem sua própria estrutura com aspectos linguísticos, que pode expressar ideias abstratas, emoções e pensamentos e cada país tem sua própria língua de sinais, significando que não é universal, como por exemplo, no Estados Unidos tem ASL (American Sign Language),

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Portugal tem a LGP (Língua Gestual Portuguesa) e na Itália, a LIS (Lingua dei segni italiana).

Na década de 1960, William Stokoe apresentou seus trabalhos, descobrindo que as línguas de sinais são línguas naturais com o mesmo estatuto das orais. Assim, ajudou a revolucionar e aumentar os estudos científicos das línguas de sinais em mais de cinco décadas no mundo todo. Leite (2013) apresenta reflexão de qual motivo a língua de sinais ainda não é mais reconhecida devido “[...] a visão superficial e equivocada dessas línguas ainda permeia o senso-comum e persiste até mesmo em alguns setores da academia, como medicina e educação inclusiva.”

Leite (2013) narra historicamente e brevemente no campo científico que os trabalhos de Stokoe (1960) demonstram que as línguas de sinais tinham número infinitos de elementos, por exemplo: configurações, movimentos e locações das mãos na produção do sinal), permite que as pessoas surdas expressam da forma econômica e produtiva. Na década seguinte, Klima e Bellugi (1979) comprovam que os sinais eram convencionais e arbitrários e a gramática das línguas de sinais, de natureza visual e espacial, era tão sofistificada igual a das línguas orais.

A escrita é uma habilidade cognitiva que necessita esforço de todos (surdos, ouvintes, homens, mulheres, americanos, europeus, africanos, asiáticos, negros, brancos...) e geralmente é desenvolvida quando se recebe educação formal. A escrita tem uma relação fônica com a língua oral, então o surdo tem mais um desafio: reconhecer uma realidade fônica que não é muito habitual acusticamente para essa pessoa.

De acordo com Gesser (2009, p. 56), “na língua portuguesa, há também um fator emocional em jogo, que diz respeito a uma memória muito negativa retratada a partir da experiência de vários surdos alfabetizados”.

No livro “Libras? Que língua é essa”, da autora Gesser, entende-se que os alunos ouvintes também têm algumas memórias negativas nas aulas de português e escrita, mas os surdos, no seu momento de escolarização, sentiram obrigação e pressão da língua portuguesa tem vários motivos. O mais grave é a negação da língua de sinais na alfabetização. Por isso essa experiência com ligação da escrita da língua portuguesa causa o sentimento de incapacidade, autoestima baixa e aversão ao idioma.

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Tanto o português escrito como o oral de que o surdo faz uso são estigmatizados, já que não atingem os ideais de língua impostos por uma maioria de ouvintes (Gesser, 2006). Mesmo assim que o surdo não falasse uma palavra da língua oral, ele poderia escrever bem o português como existe muitos casos dos falantes de outras línguas estrangeiras, por exemplo.

Os surdos não têm dificuldades de aprender a língua portuguesa escrita como dizem, sim pela falta de oportunidades. Concordo o que Gesser diz:

Seguindo o viés dessa mesma crença, há quem pregue que o surdo não aprende os conteúdos escolares porque tem mais dificuldades que os ouvintes. Também irmã gêmea da crença de que pobre tem mais dificuldades de aprender do que rico, de que os bonitos são mais inteligentes que os feios e tantos outros absurdos. Tenho que cair no lugar-comum para reforçar que não se trata de dificuldade intelectual e sim de oportunidade. Oportunidade de acesso a uma escola que reconheça as diferenças linguísticas; que promova acesso à língua padrão; que, no caso dos surdos, tenha professores proficientes na língua de sinais; que permita a alfabetização na língua primeira e natural dos surdos. (GESSER, 2009, p. 57-58)

Gesser (2009, p. 60) enfatiza que “a língua portuguesa tem um papel fundamental na escolarização e na vida cotidiana do surdo, da mesma forma que tem na vida de todas as crianças brasileiras”. Mas o problema são os discursos normalizantes e oralistas que sempre usam a fala que “a língua de sinais atrapalha a aprendizagem da língua majoritária oral para surdo”. Isso mostra a inferiorização da língua de sinais, que prestigiam a língua majoritária, geralmente oficial do seu país e não visibilizam a valorização da identidade e da cultura bi/multilíngue dos surdos. Ser bilíngue não significa apenas para aquele que domina duas línguas orais de prestígio, como inglês e português, por exemplo. A autora afirma que os surdos vivem uma situação sociolinguisticamente complexa e sua condição de indivíduos bilíngues lhes era negada por serem tratados como “deficientes”,

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expressando-se “em uma língua que não é reconhecida como língua (a língua de sinais) e em um português (escrito e oral) que não atinge as expectativas impostas e desejadas por uma maioria ouvinte” (Gesser, 2009, p. 51). Para conseguir a resolver as questões educacionais na formação do surdo, incluindo a aprendizagem da língua portuguesa escrita, é preciso inverter a função nos ambientes escolares: os professores ouvintes devem aprender a língua de sinais para educar os estudantes surdos.

Reichert (2006) vê que “a falta de acessibilidade pode criar um sujeito surdo dependente e sujeitado a um padrão inventado de normalidade”. Uma pessoa surda é vista pelo olhar da outra que a faz diferente, às vezes menor, porque sempre é comparada com o ouvinte. O autor cita Foucault (1995 apud REICHERT, 2006, p. 21) no seu texto “O sujeito e o poder” que “existem duas formas de nos tornarmos sujeitos - sujeito ao outro pelo controle e dependência e sujeito a si. Somos o que os outros dizem e nos possibilitam ser”.

Segundo Reichert (2006), principalmente durante a infância, a maioria de surdos acaba sendo marcada pela deficiência diagnosticada, dependem de seus familiares ouvintes para tomar decisões, é isso que deixam a marca nas pessoas surdas. Ele cita Silva (2000, p. 76) que “a identidade e a diferença são criações sociais e culturais, e são o resultado de criações linguísticas”. Significa que, historicamente, os discursos normalizantes e medicalizantes usam o sujeito surdo como falta de algo, ou seja, a falta de audição, e anormalidade. O campo médico-terapêutico é muito conhecido por ciência superestimada e formação respeitável, os ouvintes, principalmente familiares de surdos, geralmente acabam confiando logo, sem questionar outras possibilidades.

No lado oposto, as pessoas surdas e seus aliados, que significam que podem ser familiares, intérpretes, educadores, todos ouvintes, lutam e preparam movimento para ter reconhecimento e valorização da sua língua e cultura respeitadas quanto mais merecem, e direito de expressão livre em sua própria língua.

Concordo muito da parte que Reichert (2006) diz sobre surdos como telespectadores, que ele fez pesquisa do mestrado sobre como esses sujeitos assistem televisão sem som.

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A comunidade surda que proclama a diferença surda como uma questão cultural, que coloca a língua de sinais como uma das materialidades de tal diferença está silenciada na mídia. Os surdos não são pensados, na maioria dos casos, como telespectadores, porém mesmo sem serem pensados são constituídos também pelos programas televisivos. Movimento-me como surdo no espaço do silêncio da mídia. Um silêncio que diz muito para pessoas como eu que pensa a imagem que vê como um estruturante indispensável para a sua existência dentro de um grupo que se constitui a partir do visual (REICHERT, 2006, p. 27).

Os surdos sempre vivem experiências de ligação forte com as imagens, que podem ser fotos, figuras, programas da televisão, até filmes. Apresento a citação que Reichert (2006) explica sobre construção de informações através por imagens:

As informações, os conhecimentos, os pensamentos e a língua surda são constituídos por imagens. Imagens de mãos que se movimentam, imagens de pessoas e de corpos, imagens que trazem em si um universo de possibilidades de leitura. Dentro desse universo podemos ler uma infinidade de coisas em uma imagem, porém dentro dessa infinidade não podemos ler tudo. No entanto, a comunidade surda quando é privada de acompanhar o que é narrado verbalmente na televisão desconhece que possibilidades de leitura não podem ser atribuídas a determinados movimentos imagéticos (REICHERT, 2006, p. 27-28).

Isso referiu perfeitamente na minha vida, acredito que acontece o mesmo dos surdos. Agora tem mais tecnologias que ajudam melhor a acessar, por exemplo: legendas e janelas de intérprete, mas na época era diferente, muito escasso. Como Reichert disse sobre imagens na televisão, é o mesmo caso que passam filmes na TV, sem nenhuma acessibilidade. Crescemos

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captando com olhos e entendemos os significados através de um jeito próprio, às vezes pode não ser corretamente, por exemplo: quando criança, eu assistia o filme “A Lagoa Azul” na Sessão da Tarde da Rede Globo. Como na época não tinha legendas closed-caption, entendia que os dois personagens principais jovens eram irmãos, ficava espantado nas cenas amorosas e sensuais, era um choque para mim, porque sabia que os irmãos não se namoram, nem fazem ato sexual, a palavra ‘incesto’ não estava no meu vocabulário naquela época. Depois fui crescendo, soube por terceiros que não eram irmãos, sim primos. Por isso, como fui privado de uma informação, acabei criando ou imaginando uma outra informação diferente na mente.

Reichert explica que o sujeito surdo encontra uma comunidade que é composta por sujeitos que possuem elos que mantém ligados a uma mesma identidade, procuram se reconhecer nos espaços onde está, como vive e no que assiste, tendo referências identitárias que o ajude a ressignificar constantemente sua presença e sua diferença. O autor apresenta que tem dois sentidos da palavra ‘diferença’, um do outro ouvinte – historicamente se colocava como a única possibilidade normalidade aceita – e um do outro surdo – representa o movimento surdo que procura o reconhecimento da diferença e cultura surda e também uma virada radical no princípio de normalidade que direciona o olhar na sociedade moderna cientificista.

Silva (2005 apud REICHERT, 2006) afirma que a identidade e a diferença são intimamente relacionadas. Uma existe na relação com a outra. Então, se usar essa noção, significa que falo que sou surdo, é a mesma coisa que falo que não sou ouvinte. 2.1.1. Aquisição de Língua Portuguesa e Língua de Sinais como L1 e L2

A língua de sinais é um aspecto fundamental da vida de uma pessoa surda para poder ter acesso às informações, conhecimentos, e para construir sua identidade, é importante criar uma ligação com o povo surdo em qual língua em comum se usa, conforme Strobel (2013).

Quadros (1997) afirma que a língua portuguesa não será a língua que se liga naturalmente o dispositivo, porque a criança

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surda não tem audição. Pode até adquirir essa língua, mas de forma esforçada e treinada, nunca natural como ouvinte.

Reichert (2006) explica que o português escrito é uma ferramenta usada pela comunidade surda para conviver em espaços, seja do trabalho, sejam por sociabilidade ou da simples comunicação com os familiares. Portanto, saber ler e ter acesso a legendas representa ter acesso a uma ferramenta política que possibilita outros entraves culturais.

Na aquisição de linguagem, existem os estágios que os bebês e as crianças passam em seu desenvolvimento linguístico. No primeiro estágio, com seus primeiros meses da vida, o bebê surdo desenvolve as mesmas fases de linguagem que o bebê ouvinte, grita, chora, solta sons insignificantes. Mas quando chega à fase de balbucio, começa a diferenciar. O bebê ouvinte pode ouvir sons do ambiente, tentar se comunicar com os sons, enquanto o bebê surdo dos pais ouvintes, que desconhecem a língua de sinais, não ouve sons ambientais, e por isso ficam quietos, assim se cria a aquisição de linguagem atrasada e limitada por falta de continuidade e acesso aos conhecimentos e informações externas, de acordo com Strobel (2013).

Diferentemente do bebê surdo com pais surdos, onde a língua principal do ambiente familiar é de sinais, é melhor o desenvolvimento da linguagem do que o bebê surdo dos pais ouvintes, porque desde primeiros meses da vida, já estão se sinalizando mais cedo possível. As crianças surdas de pais surdos já têm maior segurança e participação da comunidade surda, autoestima melhor, com mais conhecimentos por causa do acesso à sua própria língua.

Por isso, é muito importante que os pais ouvintes de filhos surdos procurem mais informações, conhecimentos, analisem os vários caminhos possíveis, não apenas um caminho mais rápido, normalmente que é do médico-terapêutico por causa da sua formação superior e supervalorização da profissão. Não quis desmerecer a profissão do médico, tem meu reconhecimento respeitável, claro, estou dizendo que os professores, pedagogos, educadores e assistentes sociais não recebem a mesma confiança e valorização pelos pais e familiares que os médicos recebem.

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2.1.2. Experiências visuais

Strobel (2013) apresenta oito artefatos culturais do povo surdo4 no seu livro. Vou destacar um: experiências visuais. Segundo a autora, é a experiência visual em que os sujeitos surdos percebem o mundo de maneira diferente, a qual provoca as reflexões de suas subjetividades. Por falta de audição e do som, os sujeitos surdos veem o mundo através de seus olhos, de tudo o que acontece em torno deles. Ela apresenta a citação complementando:

Experiência visual significa a utilização da visão (em substituição total à audição), como meio de comunicação. Desta experiência visual surge a cultura surda representada pela língua de sinais, pelo modo diferente de ser, de se expressar, de conhecer o mundo, de entrar nas artes, no conhecimento científico e acadêmico. A cultura surda comporta a língua de sinais, a necessidade do intérprete, de tecnologia de leitura (PERLIN; MIRANDA, 2003, apud STROBEL, 2013, p. 39).

Apresento uma citação de Ellsworth (2001) que li na dissertação de Reichert (2006) sobre experiências dentro do cinema e definiu muito bem, principalmente sob olhares do surdo. Para que eles se tornem parte da estrutura de relações que compõem o sistema de olhares, de desejos, de expectativas, de tramas narrativas e de gratificações que compõem a experiência de ir ao cinema, eles têm que estar “lá”. Para que eles “completem” o filme tal como seus produtores imaginaram que eles o fariam (ELLSWORTH, 2001, apud REICHERT, 2006, p. 17).

4 Artefatos culturais do povo surdo: segundo Strobel (2013), são entendidos como instruções da cultura, não apenas de material, sim também para sujeito surdo se constitui as produções para sua forma de ver, entender e transformar o mundo. Existem oito artefatos culturais especificados: a experiência visual, o linguístico, o familiar, a literatura surda, as artes visuais, a vida social e esportiva, o político e os materiais.

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Viver com experiência pode significar muitas formas, porque depende da pessoa que guarda suas marcas profundas onde vive e cresce. Uma experiência do fulano pode não ser importante para beltrano, porque não passou ou aconteceu neste segundo, mas o primeiro sim. Mas muitas vezes podem acontecer algo em comum por causa de uma diferença. Por exemplo, o surdo assiste uma novela ou um noticiário, sem legenda nenhuma, fica sem entender, depende do familiar ouvinte para saber o que está havendo, o ouvinte explica o resumo, até às vezes omitindo algumas coisas. Esse momento já foi vivido por muitos surdos, inclusive eu.

Em tempos onde a imagem ocupa o centro de nossas atenções, em tempo onde “ser normal” significa ter condições de interpretar o que se vê e vive, em tempos onde o som também é um elemento constituidor dos sujeitos sociais, em tempos onde a diferença está sendo festejada, em tempos onde a tecnologia invade nossas casas através, entre outras coisas, da televisão, questiono-me como os sujeitos surdos estão sendo interpelados pelos programas da mídia televisiva, o que chama a sua atenção. (REICHERT, 2006)

Reichert relatou sobre sua infância que dava mais importância e sentia mais envolvido com alguns tipos de programas do que outros, por exemplo, programas onde aparecem os animais ou desenhos animados, ele não sentiu necessidade de alguma tradução, pois apenas demonstravam as ações, cenas dinâmicas e expressões faciais e corporais muito explícitas. A experiência dele é muito similar com minha, quando crescia nos anos 1990, meus olhos fixaram na TV passando Bananas de Pijama, TV Colosso ou desenhos da Disney, mesmo sem entender o que falavam, mas as caracterizações de personagens, imagens e cores me chamaram atenção.

Na primeira metade dos anos 2000, chegou o aparelho de DVD, fiquei surpreendido que existem opções de adicionar ou tirar legendas, em inglês ou em português. Depois de colocar a legenda, o filme acaba começando, aparecem as legendas, foi uma explosão à primeira vista, meu cérebro ficou a todo vapor, ficava admirado por entender o que os personagens diziam, apesar de não conhecer algumas palavras. Em comparação da minha infância e minha vida atual, se assistir algum desenho animado ou programa infantil sem nenhuma legenda hoje em dia,

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já sinto falta de legendas ou algo que possa me ajudar a entender o que estão falando e acabo desistindo de assistir ou mudando o canal.

O surdo Wayne Betts Jr. (2010) conta sua experiência muito interessante no canal de Youtube “TEDx Talks”, onde ele admite que sua memória não é seu ponto forte, não lembra muito bem da sua infância, criou um truque que ajuda a lembrar coisas, usa filmes para lembrar as coisas. Nas palavras dele, a linha de tempo da memória dele dependia quando viu filmes. Ele relatou um caso que a mãe dele tentou lembrar que ele teve intoxicação alimentar no restaurante quando tinha doze anos, mas ele não lembra esse momento, aí a mãe disse “lembra naquele dia que assistimos Indiana Jones 3 e gostamos muito?” E Betts lembrou daquele dia e disse “ah, aquele restaurante, sim!”. Achei muito interessante, porque podemos usar as coisas visuais, como filmes, para lembrar, construir o seu ser ou aprender como é o mundo.

Segundo Reichert (2006), os surdos preferem assistir programas televisivos por serem mais acessíveis e não exigem muito a leitura do português escrito, o autor imagina que a leitura, como jornais, revistas, livros e etc, não é algo tranquilo para o surdo, e até mesmo para ouvinte também que não tem hábito de ler com frequência, acha que o cinema seria uma boa alternativa, pois trabalha com imagens. Nas palavras dele, o cinema acaba sendo muito caro para os surdos irem com frequência. Entendo o que ele quis dizer, porque o ano onde ele escreveu foi em 2006. Naquela época não tinha muitas opções para assistir as imagens com legendas, a única possível alternativa é televisão. Mas atualmente, parece que estão invertendo, a televisão acaba perdendo atenção, estamos no momento da era Internet, que é possível assistir programas, séries e filmes via streaming5 e online, com legendas acessíveis, como Netflix e Amazon. Os canais de TV precisaram se adaptar na relação com seus clientes, criando seus próprios sites de streaming, como HBO GO e Globo Play. A maior plataforma de vídeos, Youtube, está ocupando o espaço online, os usuários postam seus vídeos e tem a possibilidade de

5 Streaming é uma forma de transmissão instantânea de dados de áudio e vídeo através de redes. Por meio do serviço, é possível assistir a filmes ou escutar música sem a necessidade de fazer download. Disponível em:

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criar legendas closed-caption ou ter legenda automática, apesar de não ser transmitida corretamente. A mudança da Internet facilitou para pessoas surdas que podem expressar sua língua em vídeos e postar nas suas redes sociais, discutindo, comentando, compartilhando e curtindo.

Reichert (2006, p. 60) afirma que “as pessoas surdas se constituem de uma maneira não auditiva, principalmente visual. É através desse visual que constroem suas ideias, seus conhecimentos, seu desejo, enfim, a si mesmos”.

De acordo com Skliar (2013, p. 28) “A surdez é uma experiência visual [...], e isso significa que todos os mecanismos de processamento da informação, e todas as formas de compreender o universo em seu entorno, se constroem como experiência visual”. Ainda sobre diferença, Reichert (2006) diz que tem uma das diferenças constitutivas da comunidade surda: a presença da visão e das imagens. Essa citação faz sentido para mim, porque a arte cinematográfica tem relação com imagens também, apesar de envolver junto com o som.

2.2. HISTÓRIA DE CINEMA

São um pouco mais de 120 anos da história da sétima arte6. Desde então, como qualquer arte, passam modas que vão e vem, avançam as inovações tecnológicas aparecendo a cada nova temporada e aparecem opiniões de críticos mudando ao longo de tempo.

Borgo, Forlani e Hessel (2009) apresentam uma linha cronológica da história de cinema mundial em um capítulo do seu livro e vou resumir as partes em cada década, desde o surgimento até hoje. No final do século XIX, estavam avançando as novas tecnologias como câmera que era capaz de registrar imagens, até chegar a celuloide, que mostra diversas poses fotográficas e que davam ilusão de continuidade. Os irmãos franceses Auguste e Louis Lumière praticaram fazendo pequenas tomadas usando o cinematográfico que contém três em um: câmera, revelador de filme e projetor.

6 O cinema é considerado uma arte, se deu nome como a sétima arte, na publicação Manifesto das Sete Artes (1923), do teórico Ricciotto Canudo.

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No dia 28 de dezembro de 1985, em Paris, ocorreu a primeira sessão pública, com entradas pagas, exibiu o primeiro filme e o primeiro “lançamento comercial” da história do cinema, com apenas 45 segundos, que mostra a saída dos funcionários da fábrica. O título é “A Saída da Fábrica Lumière em Lyon” (em francês La Sortie de L’usine Lumière à Lyon. Aos poucos, as sessões de cinema ficaram se tornando populares. Até 1901, já produziram quase mil filmes.

George Méliès, o mágico parisiense profissional, aproximou o cinema com a arte da imaginação, chamava os atores para atuar no estúdio com fundo pintado e aplicava técnicas básicas para dar a ilusão ótica, por exemplo a dupla exposição do negativo e a animação em stop motion7. Por causa disso, ele conquistou mais reconhecimento no seu clássico “Viagem à Lua” (título original Le Voyage dans la Lune), em 1902.

No início do século XX, na França, muitos aproveitaram o crescimento do cinema como uma indústria. Os irmãos Lumière exportavam cinemascópios para mundo todo, o estúdio Pathé Frères se tornou o maior produtor de filmes do mundo, ficou nessa posição até a Primeira Guerra Mundial. O inventor francês William Kennedy Dickson se mudou para Estados Unidos, para trabalhar no laboratório de Thomas Edison, o inventor de lâmpada elétrica. Depois de deixar a empresa de Edison, Dickson viu progredindo sua companhia (Mutoscope), se dedicando exclusivamente a produzir e exibir filmes.

A Mutoscope e a Kinetoscope (empresa de Edison), lideravam o mercado de cinemas nos Estados Unidos e se tornaram rivais e mais os franceses e ingleses concorrendo também, criavam os filmes documentais de atualidades com até dois minutos de duração e tentaram criar narrativas mais complexas com até vinte minutos.

7 Stop motion é uma técnica que utiliza a estrutura sequencial de fotografias diferentes no mesmo objeto inanimado simulando seu movimento. As fotografias são quadros, sendo tiradas normalmente no mesmo ponto, fazendo com o objeto ter mudança leve de lugar, isso dá a ideia do movimento: Disponível em:

https://www.tecmundo.com.br/player-de-video/2247-o-que-e-stop-motion-.htm.

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Antes os filmes continham planos únicos, com apenas um rolo de película, agora aumentaram mais cenas variadas com mais rolos, isso se criou o desenvolvimento da corte e montagem.

Nos anos 1910 e 1920, no país estadunidense, apareceram novas grandes produtoras, como Warner Bros, Universal, Paramount, Fox, MGM e Columbia, que aperfeiçoaram as técnicas, como flashback, fade-in/fade-out e close-ups e começaram a desenvolver novos gêneros e os estúdios se uniram para facilitar a produção e a distribuição de filmes. Assim surgiu o começo da era da “fábrica de sonhos”.

Na Primeira Guerra, o poder do cinema mundial inverteu os lugares. Até 1918, França e Inglaterra eram os maiores produtores mundiais de filmes, por causa do conflito que causou danos na iniciativa privada, perderam as posições para Estados Unidos que passaram a dominar, com a média de 800 longas por ano.

Em 1927, o filme “O Cantor de Jazz” (título original The Jazz Singer) se tornou primeiro longa-metragem sonoro, uma nova tecnologia que era possível aplicar o som de músicas, diálogos e ambientes na película, a inovação virou um sucesso e muitos países adotaram o som aos poucos.

Na década de 1930, o cinema enfrentava grandes problemas, como a Grande Depressão de 1929 e o Código Hays que censurava os filmes com padrões imorais, mas Hollywood soube se firmar artisticamente e exportar filmes para todo o mundo. Nos anos 1940, veio a ascensão do nazismo e a Segunda Guerra Mundial, a Inglaterra ressurgiu produzindo os filmes com a propaganda pró-aliada, dramas de guerra e de época e adaptações literárias. Nos Estados Unidos, fortaleceu o crescimento da propaganda antinazista, foi à moda romantizada de Hollywood, com seus filmes de guerra misturando aventura, melancolia e suspense, como “Casablanca” (1942). Mas nem todo mundo estava interessado na batalha de guerra, surgiram as animações da Disney, que se consolidaram como um dos principais gêneros cinematográficos, onde antes usavam os curtas animados na abertura dos filmes com atores reais nas sessões.

Na década de 1950, surgiu a tecnologia rival – a televisão, e o público migrou em sua própria casa para assistir. Também cresceu o interesse dos jovens em drive-ins, que são telas ao ar livre para assistir filmes dentro do carro num estacionamento. Por outro lado, com a Guerra Fria, período de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre Estados Unidos e União Soviética, em

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Hollywood os profissionais de cinema, atores e atrizes se transformaram em paranoicos, delatores e conspiradores, perseguindo as pessoas com características possíveis da esquerda, que se deu o nome de Macarthismo, por conta do senador republicano Joseph McCarthy que se dedicava a investigar potenciais comunistas no governo. Nas sessões, exibiam ficções científicas e filmes B8 que mostravam invasões alienígenas como metáfora para a ameaça comunista com o “sonho americano”.

Nos anos 60, a liderança de Hollywood como locação e divulgador de filmes estava entrando em crise. O gênero faroeste não resistiu mais, tudo por causa do incentivo moral no exterior. A revista francesa Cahiers du Cinéma, fundada em 1951, começou a defender que os filmes são reflexo da visão de mundo de seus diretores, os filmes produzidos em Hollywood eram, e ainda são, controlados por executivos e estúdios, sem dar muita liberdade artística aos diretores. Os principais críticos dessa revista se tornaram bons cineastas, produziram filmes que revolucionou a montagem de cortes inesperados e dessincronização de som. Assim, se criou o movimento cinematográfico chamado nouvelle vague, que influenciou aos outros países criar sua própria “nova onda”, como Grã-Bretanha, Índia, Japão e Brasil.

O ano 1968 é conhecido em Hollywood como “ano que não terminou”, pois, o Código Hays chegou ao fim. No lugar dele, passou a usar o sistema de classificação etária para controlar os limites de bons costumes, para quem quiser ousar e desafiar o sistema poderia perder o público. Desde 1967, o filme “Uma Rajada de Balas” (Bonnie & Clyde) testou os limites de violência explícita na tela e ainda romantizava a bandidagem, foi um dos fundadores de “Nova Hollywood”: jovens corajosos que comandam os estúdios e também as câmeras. Os estúdios

8 Os filmes B eram produzidos pela unidade secundária dos grandes estúdios, nas décadas de 1930 e 19440. A unidade A é formada por filmes produzidos de destaque com maiores astros e estrelas. Os filmes produzidos pela unidade B nem sempre tinham grandes atores e atrizes e às vezes recebem orçamento menor. Tudo começou por causa da crise de 1929 que causou a queda da Bolsa de Nova York, os cinemas tinham receio de perder espectadores, vieram a ideia que cobravam o ingresso para assistir dois filmes pelo preço de um. Os filmes B geralmente eram de faroeste, ficção científica ou de horror.

Referências

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