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Associações entre características do ambiente familiar e níveis de coordenação motora grossa de crianças

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Academic year: 2021

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DENISE CORREA DA LUZ

ASSOCIAÇÕES ENTRE CARACTERÍSTICAS DO AMBIENTE FAMILIAR E NÍVEIS DE COORDENAÇÃO MOTORA GROSSA DE CRIANÇAS

DISSERTAÇÃO

CURITIBA 2020

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ASSOCIAÇÕES ENTRE CARACTERÍSTICAS DO AMBIENTE FAMILIAR E NÍVEIS DE COORDENAÇÃO MOTORA GROSSA DE CRIANÇAS

Dissertação apresentada como pré-requisito para a obtenção do título de Mestre em Educação Física. Programa de Pós-Graduação em Educação Física. Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Orientadora: Profa. Doutora Raquel Nichele de Chaves.

Coorientadora: Profa. Doutora Michele Caroline de Souza Ribas

CURITIBA 2020

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Luz, Denise Correa da

Associações entre características entre o ambiente familiar e níveis de coordenação motora grossa de crianças [recurso eletrônico] / Denise Correa da Luz. -- 2020.

1 arquivo texto (123 f.): PDF; 8,00 MB. Modo de acesso: World Wide Web

Título extraído da tela de título (visualizado em 17 jun. 2020) Texto em português com resumo em inglês

Dissertação (Mestrado) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Programa de Pós-graduação em Educação Física, Curitiba, 2020

Bibliografia: f. 79-95.

1. Educação física - Dissertações. 2. Crianças. 3. Aprendizagem percepto-motora. 4. Educação física para crianças. 5. Psicologia do movimento. 6. Pais e filhos. 7. Sociologia educacional. 8. Educação psicomotora. I. Chaves, Raquel Nichele. II. Ribas, Michele Caroline de Souza. III. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Programa de Pós-graduação em Educação Física. IV. Título.

CDD: Ed. 23 -- 796 Biblioteca Central da UTFPR, Campus Curitiba

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Diretoria de Pesquisa e Pós-Graduação

TERMO DE APROVAÇÃO DE DISSERTAÇÃO

A Dissertação de Mestrado intitulada ASSOCIAÇÕES ENTRE

CARACTERÍSTICAS ENTRE O AMBIENTE FAMILIAR E NÍVEIS DE

COORDENAÇÃO MOTORA GROSSA DE CRIANÇAS, defendida em sessão

pública (remota) pela candidata DENISE CORREA DA LUZ, no dia 26 de março de 2020 às 10 horas, foi julgada para a obtenção do título de Mestre em Educação Física, área de concentração Ciências do Movimento Humano, e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Física.

BANCA EXAMINADORA:

Profa. Dra. Raquel Nichele de Chaves

Profa. Dra. Michele Caroline de Souza Ribas - UFSC Profa. Dra. Cintia de Lourdes Nahhas Rodacki – UTFPR Profa. Dra. Thayse Natacha Queiroz Ferreira Gomes - UFS

A via original deste documento encontra-se arquivada na Secretaria do Programa, contendo a assinatura da Coordenação após a entrega de versão corrigida do trabalho.

Curitiba, 26 de março de 2020

Prof. Dr. Adriano Eduardo Lima da Silva Coordenador do PPGEF/UTFPR

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À minha querida mãe, Almezinda, que sempre me apoiou e me trouxe alegria nos momentos mais difíceis desta caminhada. Ao meu pai, Jair, que ensinou ser guerreira e trabalhadora, vencendo mais este desafio. Aos meus irmãos Janete e Fernando que pacientemente entenderam minha “distância” nestes anos. E cuidaram de tudo quando eu não pude. Aos meus sobrinhos amados que alegram meus dias, que mostram o sublime amor, Guilherme e Lucas.

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bênçãos.

Agradeço à minha família, em especial minha mãe Almezinda, uma fortaleza de mulher, quem mais esteve comigo nesta jornada, rezamos juntas, sabíamos que jornada ser longa, de ausências, mas conquistamos um sonho. Obrigada por que sempre soube me oferecer o melhor da vida, desde o café quentinho com bolo a seu colo de mãe. Ao meu pai, Jair que mesmo na ausência diária divide comigo minhas derrotas e vitórias, espero que se orgulhe de mim. Aos meus irmãos Janete e

Fernando, por me incentivarem, sempre desejando o melhor para mim, entendendo

minha ausência nestes dois anos, e me simplesmente me amarem de qualquer modo. Aos meus sobrinhos lindos Guilherme e Lucas que alegram meus dias, que fazem eu amar esta vida por tê-los tão pertinho, por que têm o abraço mais gostoso deste mundo e são motivo do meu maior sorriso. Sempre estarei aqui para vocês. Aos meus cunhados Eduardo e Agnes que dividem as angústias de nossa família mais somam no amor que nos envolve. Aos meus filhotes: Meg, Rock e Pretinha que tantos dias e noites, deitaram nos meus pés embaixo da mesa do computador me fazendo lembrar que estão comigo para o que der e vier. Amo vocês.

A minha paciente orientadora Professora Doutora Raquel Nichele de

Chaves, que não poupou esforços para me ensinar, me incentivar, me mostrar o

caminho mais correto desta jornada, que trará ao mundo, em breve, sua primeira filha, Theresa, o maior símbolo do amor que Deus pode nos mostrar, ser família! Obrigada por me aceitar ao seu lado!

A minha grande amiga de caminhada Polyana Nathaly Miqueletto que me fez rir, chorar, me ensinou, me orientou, pacientemente dividiu seu saber para ampliar o meu. Tomou a frente de tudo quando foi necessário, não me deixou desistir e me lembra sempre que “a felicidade está no caminho e não na chegada”. Obrigada por estar comigo sempre! Obrigada por cuidar de mim, obrigada por permitir ainda que o

Mayko também participasse disto com gentileza e sabedoria.

A minha amiga Alessandra Machado Suga a quem devo muita gratidão, foi a primeira da turma que me procurou quando passamos no mestrado e disse: vamos nos ajudar neste caminho! E estendeu sua mão, e nunca mais irei soltar. Que honra têm as crianças que na escola passam por suas mãos. Que privilégio te chamar amiga! Que encantador conhecer sua família. Te admiro muito!

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quem dividi sorrisos e lindas histórias. Sorte no caminho de vocês, sabedoria e luz! Aos professores que coordenam o grupo de Pesquisa em Ambiente, Atividade Física e Saúde – GPAAFS: Professor Doutor Ciro Romelio Rodriguez-Añez e Professor Doutor Rogério César Fermino, obrigada pela gentileza em compartilhar seus saberes e permitir que pudéssemos avançar em nossos conhecimentos. Aos amigos deste grupo, por toda ajuda, toda atenção e todos os momentos de descontração: Alana, André, Bruno, Davi, Eduardo, Elma, Iazana, Letícia, Lucas,

Rafael, Samara e Talita, muito obrigada. Em especial a Josieli e Ava Luana, duas

grandes professoras a amigas além do mestrado!!

Ao amigo e mestre Alexandre Augusto de Paula da Silva, sempre disposto, sempre preocupado, sempre sabendo tudo para me ajudar prontamente. Meu “estatístico” favorito muito obrigada!

Aos meus amigos de profissão e da vida: Ana Cristina Varjão, Cleyton

Comarella, Kerolin Pypcak, Priscila Rizzi, Gisele de Oliveira Selles, Raquel de Melo Boeira, Juliana Dagostini, gratidão imensa por estarem perto de mim nestes

anos, por me ouvirem, por entenderem que eu sempre precisava ir, por que a dissertação estava me esperando. Vocês são muito importantes para mim!

Aos colegas da Escola Municipal Prefeito Omar Sabbag: Carla, Daisy,

Franciele, Filipe, Jucélia, Luciana, Quézia, Renan, Rodolfo, Antônio, Camila, Roseli, Norma, Marta, Melissa, Josiane, que brilham na educação de Curitiba e

que juntos somos pra lá de divertidos, dentro e fora da escola!

Aos colegas da Escola Municipal Eny Caldeira, Eldrey, Lorena e Ane, obrigada por me abraçarem ao chegar neste mundo novo. Serei sempre grata!

Aos meus atletas da Equipe Sabbag de Orientação, por me lembrarem que o mundo é feito de vitórias e desafios, que ser feliz pode ser tão simples.

Aos membros da banca, titulares e suplentes, e minha coorientadora

professora Doutora Michele Caroline de Souza Ribas, por toda colaboração e

disponibilidade para melhora deste estudo.

A Prefeitura Municipal de Curitiba, por acreditar e incentivar a formação de seus profissionais. Por fim, agradeço a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer e a Secretaria Municipal de Educação de São José dos Pinhais, pelo apoio ao desenvolvimento do projeto.

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“Atrás de cada criança que acredita em si mesma, está uma família que acreditou primeiro”. Matthew L. Jacobson

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desempenho das tarefas motoras e esportivas. A família, como agente primordial, conduz a criança a experimentações do ambiente que disponibilizam e promovem situações para o desenvolvimento da coordenação motora. Contudo, não está claro, ainda, quais preditores a nível do ambiente familiar estão associados à coordenação motora. O objetivo deste estudo foi investigar a magnitude das associações entre os níveis de coordenação motora grossa de crianças e variáveis a nível do indivíduo e do ambiente familiar. Caracteriza-se como um estudo observacional de associação de base escolar com delineamento transversal. A amostra foi constituída por 2.040 crianças de seis a 10 anos de idade, estudantes do 1º ao 5º ano do ensino fundamental de 25 escolas públicas municipais de São José dos Pinhais, sendo 20 da área urbana e cinco da área rural. As características a nível do indivíduo foram avaliadas, sendo variáveis demográficas (sexo e idade), crescimento físico (estatura, peso e IMC), e para avaliar a aptidão física cinco testes foram aplicados (salto horizontal, dinamometria manual, corrida vai-vém, corrida de 20 metros e corrida de seis minutos). A coordenação motora grossa foi avaliada por meio da bateria de testes KTK. O ambiente familiar foi avaliado por meio de questionário elaborado contendo perguntas sobre aspectos sociais, estruturais e contexto de atividade física. Para testar associação entre as variáveis do indivíduo (sexo, idade, IMC e aptidão física) e as variáveis a nível do ambiente familiar foi realizada uma regressão linear multinível. Todas as variáveis a nível do indivíduo foram associadas à coordenação motora grossa. Meninos (β= 4,056 ± 1,149 p<0,001), crianças mais

velhas (β= 19,804 ± 0,422, p<0,001), mais aptas (β= 6,159 ± 0,186, p<0,001) e com menores valores de IMC (β= -2,728 ± 0,184, p<0,001), tiveram maiores valores de coordenação motora grossa. A nível do ambiente familiar, destaca-se que crianças que a área ampla externa da residência (β=<0,001 ± 0,000, p<0,001), e também a disponibilidade de brinquedos para se pendurar foram associados positivamente ao desempenho coordenativo (β= 3,949 ± 2,075, p<0,05). Os achados confirmam que as variáveis a nível do indivíduo estão associadas à coordenação motora grossa. Ademais, sugerem que variáveis do ambiente familiar também desempenham um importante papel. Estes resultados podem ajudar na elaboração de estratégias entre família, escola e setor público para promover as recomendações de um ambiente saudável e positivo ao desenvolvimento dos níveis de coordenação motora grossa, por meio de oferta de atividades variadas, espaços organizados para jogos e brincadeiras, com o suporte da família.

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sports tasks. The family, as the primary agent, leads the child to experiment with the environment that provides and promotes situations for the development of motor coordination. However, it is not yet clear which predictors in the family environment are associated with motor coordination. The aim of this study was to investigate the magnitude of the associations between the levels of gross motor coordination in children and the variables at the level individual level and family environment. It is characterized as an observational study of school-based association with cross-sectional design. The sample consisted of 2,040 children aged six to 10 years old, students from the 1st to the 5th year of elementary school from 25 public schools in São José dos Pinhais, 20 of which are from the urban area and five from the rural area. The characteristics at the individual level were evaluated, the demographic variables (sex and age), physical growth (height, body mass and BMI) and to measure physical fitness five tests were used (horizontal jump, handgrip dynamometry, shuttle running, 20-meters running and six-minute running). Gross motor coordination was assessed using the KTK test scores. The family environment was assessed using an elaborated questionnaire with questions about social and structural aspects and the context of physical activity. To test the association between individual´s variables (sex, age, BMI and physical fitness) and the variables in the family environment, a multilevel linear regression was performed. All variables at the individual level were associated with gross motor coordination. Boys (β = 4,056 ± 1,149 p <0.001), older children (β = 19,804 ± 0.422, p <0.001), more able (β = 6,159 ± 0.186, p <0.001) and with lower BMI values (β = - 2,728 ± 0.184, p <0.001), had higher values of gross motor coordination. In terms of the family environment, it stands out that children who had the wide external area of the residence (β = <0.001 ± 0.000, p <0.001), as well as the availability of toys to climb, were positively associated with coordinative performance (β = 3.949 ± 2.075, p <0.05). The findings reinforce that the variables at the individual level are associated with gross motor coordination. Furthermore, they suggest that family environment variables also play an important role. These results can help in the elaboration of strategies between family, school and public sector to promote the recommendations of a healthy and positive environment for the development of the levels of gross motor coordination, through the offering of varied activities, organized spaces for games and games, with family support.

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Figura 1 - Conceitualização da Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano .. 28

Figura 2 - Fluxograma descritivo do número de artigos selecionados para Revisão Sistemática. ... 42

Figura 3 – Localização das escolas públicas municipais de SPJ ... 53

Figura 4 - Design do estudo ... 55

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Tabela 1 - Descrição dos estudos que investigaram competência motora e ambiente familiar ... 46 Tabela 2 - Localização dos NELs da Cidade de SJP selecionados para a pesquisa 54 Tabela 3 - Classes sociais e estimativa de renda domiciliar ... 62 Tabela 4 - Medidas descritivas de antropometria, testes de aptidão física e coordenação motora de meninas em função da idade ... 65 Tabela 5 - Medidas descritivas de antropometria, testes de aptidão física e coordenação motora de meninos em função da idade ... 66 Tabela 6 - Medidas descritivas de brincadeiras com outras crianças e área ampla externa para meninas e meninos em função da idade e sexo ... 67 Tabela 7 - Frequência de Pais que brincam com os filhos e Pais e filhos que fazem AF juntos, em função do sexo e da idade ... 68 Tabela 8 - Frequência de deslocamento casa-escola, NSE, Escolaridade Pai e Mãe, Tipo de residência, e Percepção Tamanho da Residência e brinquedos para se pendurar ... 70 Tabela 9 - Resultados de Regressão Múltipla Linear ... 72

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Quadro 1 - Instrumentos de Avaliação do Ambiente Familiar ... 37 Quadro 2 – Domínios e variáveis das características individuais ... 56 Quadro 3 – Domínios e variáveis do ambiente familiar ... 57

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ABEP Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa AF Atividade Física

AHEMD Affordances in the Home Environment for Motor Development AptF Aptidão Física

CACS Cidade Ativa, Cidade Saudável CMG Coordenação Motora Grossa CMF Coordenação Motora Fina EPMs Escolas Públicas Municipais

GPAAFS Grupo de Pesquisa em Ambiente, Atividade Física e Saúde HMF Habilidades Motoras Fundamentais

IMC Índice de Massa Corporal

KTK Körperkoordinationstest für Kinder (bateria de testes motores CMG) NELs Núcleos de Esporte e Lazer

NSE Nível Socioeconômico SJP São José dos Pinhais/PR

TALE Termo de Assentimento Livre e Esclarecido TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

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1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ... 15 1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ... 19 1.3 OBJETIVO GERAL ... 19 1.3.1 Objetivos Específicos ... 20 1.4 HIPÓTESES ANALÍTICAS ... 20 1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ... 20 2. REFERENCIAL TEÓRICO ... 21 2.1 COORDENAÇÃO MOTORA ... 21

2.2 ABORDAGEM ECOLÓGICA DE URIE BRONFENBRENNER ... 26

2.2.1 Teoria Bioecológica no entendimento da coordenação motora grossa ... 30

2.3 VARIÁVEIS INDIVIDUAIS QUE INFLUENCIAM OS NÍVEIS DE COORDENAÇÃO MOTORA GROSSA ... 32

2.4 FATORES AMBIENTAIS FAMILIARES E SUAS INFLUÊNCIAS NOS NÍVEIS COORDENATIVOS: IMPORTÂNCIA DO CONTEXTO FAMILIAR ... 34

2.4.1 Instrumentos de Avaliação do Ambiente Familiar ... 37

2.5 ASSOCIAÇÃO ENTRE OS FATORES DO AMBIENTE FAMILIAR E A COMPETÊNCIA MOTORA DE CRIANÇAS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA 39 3. METODOLOGIA ... 51

3.1 Projeto Crescer Ativo e Saudável em São José dos Pinhais (SJP) ... 51

3.2 Delineamento e tipo de Estudo ... 51

3.3 Recrutamento, Treinamento e seleção de pesquisadores ... 51

3.4 Procedimentos para coleta de dados ... 51

3.5 População e Amostragem ... 52 3.6 Critérios de Inclusão ... 55 3.7 Critérios de Exclusão ... 55 3.8 Aspectos Éticos ... 55 3.9 Variáveis do Estudo ... 56 3.9.1 Instrumentos e procedimentos ... 57

3.10 Controle de Qualidade da Informação ... 63

3.11 Análise Estatística ... 63

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REFERÊNCIAS ... 79 APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ... 97 APÊNDICE B – TERMO DE ASSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ... 99 APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO AMBIENTE FAMILIAR... 102

ANEXO A – LOGOMARCAS – PROGRAMA “CIDADE ATIVA, CIDADE

SAUDÁVEL” E PROJETO “CRESCER ATIVO E SAUDÁVEL” ... 108 ANEXO B – FLYER INFORMATIVO “CRESCER ATIVO E SAUDÁVEL” .... 109 ANEXO C – PARECER COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA - UTFPR ... 110 ANEXO D – TERMO DE ACEITE DA PREFEITURA MUNICIPAL DE SJP .. 122 ANEXO E - RELATÓRIO INDIVIDUAL DO PARTICIPANTE ... 123 ANEXO F – DIPLOMA DE PARTICIPAÇÃO ... 124

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1. INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

A coordenação motora, do ponto de vista pedagógico, pode ser entendida como sendo a interação complexa, harmoniosa e econômica entre os sistemas muscular, neural e sensorial, com intuito de produzir ações motoras eficientes e de respostas motoras rápidas (KIPHARD; SCHILLING, 1974). É, geralmente, explicada como proficiência em uma variedade de habilidades (por exemplo, correr, chutar e saltar), aprendidas durante os anos da pré-escola e início da escola. Essas habilidades fornecerão uma base de sequência de movimentos especializados, cuja exigência de ações motoras mais complexas aumentará ao longo da idade, exigindo, cada vez mais, maior nível de coordenação para que os movimentos sejam desempenhados de forma eficaz (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).

Ainda que a composição genética do indivíduo seja considerada representante potencial do seu crescimento e maturação biológica, é o ambiente que irá incrementar este potencial (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2009). Níveis adequados de coordenação motora são alcançados com práticas e experiências variadas de movimento em diferentes contextos ambientais e estão associados a características saudáveis em crianças e adolescentes, respondendo apropriadamente às tarefas motoras diárias, promovendo trajetórias positivas de saúde ao longo da vida (STODDEN et al., 2008; ROBINSON et al., 2015; HULTEEN et al., 2018).

Na primeira infância, os níveis de atividade física das crianças potencializam o enriquecimento motor, ou seja, quanto maior a exposição a atividades físicas variadas e de qualidade, provavelmente melhor se desenvolverá a sua competência motora. À medida que as crianças passam para a segunda infância, níveis mais altos de competência motora oferecerão um repertório motor maior para se envolver em várias atividades físicas, esportes e jogos. (STODDEN et al., 2008). Neste modelo conceitual os autores propõem a competência motora como caminho direto ou indireto, por meio de habilidades de movimento ao qual refletem a coordenação

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motora, para uma vida inteira de atividade física, podendo variar devido alguns fatores, como a cultura e localização geográfica da moradia, onde as habilidades poderão ser dificultadas ou aprimoradas através dos atributos físicos individuais, nomeadamente aptidão, status de peso, idade, gênero, e ambientais.

Revisões e estudos preliminares evidenciam a associação entre coordenação motora e variáveis individuais, tais como, a prática de atividade física, hipotetizando que crianças com melhores resultados em coordenação motora preveem maior participação na atividade física e vice-versa (LUBANS et al., 2010; IIVONEN; SÄÄKSLAHTI, 2014; LOGAN et al., 2015), aptidão física relacionada à saúde onde os resultados apontam que crianças mais aptas apresentam melhor desempenho coordenativo (CATTUZZO et al., 2016; DOS SANTOS et al., 2018), e status de peso, onde crianças com sobrepeso ou obesidade têm piores resultados para os níveis coordenativos (LUBANS et al., 2010; D'HONDT et al., 2013; SPESSATO et al., 2013; D'HONDT et al., 2014; ROBINSON et al., 2015).

Os aspectos do desenvolvimento da coordenação motora são afetados pela tarefa, por restrições biológicas e ambientais (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Desse modo, além dos aspectos relacionados ao indivíduo, há uma conexão entre o contexto ambiental e os níveis de coordenação motora (BARROS et al., 2010; VENETSANOU; KAMBAS, 2010; HUA et al., 2016; FLÔRES et al., 2019). O ambiente, portanto, é essencial para o desenvolvimento da coordenação motora da criança e sua exploração é influenciada pelas suas possibilidades de mover-se no mundo, adaptar-se de maneira satisfatória às diferentes condições impostas pelo meio e pela tarefa que estará desempenhando (DA FONSECA; BELTRAME; TKAC, 2008).

Cada um dos contextos onde a criança vive, sejam escolas, parques, e ambiente familiar, impõe demandas de movimentos para as crianças, tornando-se essenciais para o desenvolvimento de sua competência motora (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2009; FLÔRES et al., 2019). A teoria ecológica do desenvolvimento humano, formulada por Bronfenbrenner, salienta a complexidade das interrelações no ambiente imediato, sugerindo que estas interrelações entre a criança e os seus ambientes são responsáveis pelas mais variadas características

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individuais e que dependerá da existência e natureza das interconexões com outros ambientes complementares que permitirão contextualizar os fenômenos do desenvolvimento nos vários níveis (BRONFENBRENNER; CECI, 1994). Em resumo, essas características representam as condições, configurações e relações ambientais que a criança estabelece durante toda a vida (GABBARD, 2009) .

A teoria das affordances, estudadas por Gibson em meados de 1977, também investigou a interação pessoa-ambiente. Para Gibson, cada ambiente possui objetos, lugares, eventos, cenários imediatos os quais são capazes de oferecer a crianças diferentes oportunidades de ação e experiência (FLÔRES et al., 2019). O ambiente positivo estimula a criança naturalmente a ter apuração da sua competência, pois, ela explora o seu ambiente de forma saudável e com os estímulos apropriados a sua faixa etária, agindo como um facilitador, enquanto um ambiente desfavorável prejudica o ritmo de desenvolvimento e restringe as possibilidades de aprendizado da criança, qualquer que seja a sua estrutura, a família mantém-se como o meio relacional básico para as interações da criança com o mundo (DE BARROS et al., 2003).

Existe a necessidade de entender os fatores ambientais (como nível socioeconômico e região geográfica) que fazem interferência direta nos processos biológicos que acontecem nas etapas da vida (GUEDES; GUEDES, 1995). Desta forma, devem ser observadas características culturais de cada região, pois em um país como o Brasil, de grande extensão, encontramos peculiaridades (culturais, raciais, sociais) que devem ser consideradas como parâmetros da população brasileira, e que influenciam o modo de viver e se relacionar da família (SANTOS et al., 2014).

Em estudo realizado na Finlândia e Bielorrússia, em 2002, levanta-se a importância da discussão sobre a relação criança-ambiente para o desenvolvimento da criança, ressaltando aspectos do ambiente construído (cidades grandes e urbanas, cidades pequenas e rurais, e subúrbios) e sua influência sobre aspectos individuais na infância, como alterações os níveis de mobilidade, declínio na caminhada para escola, e aumento das taxas de obesidade; tais fatos acontecem juntamente com a intensificação urbana, buscando a expansão de ambientes

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construídos mais compactos, porém, aponta que pouco tem se levado em consideração as necessidades específicas das crianças (KYTTÄ, 2002).

Ambientes domésticos com diferentes graus de urbanização, em especial a vizinhança imediata, podem influenciar a mobilidade das crianças, consequentemente o comportamento motor (FLÔRES et al., 2019). As oportunidades de exploração da vizinhança tendem a ser mais escassas para crianças de grandes centros urbanos (CARROLL et al., 2015), soma-se aqui a preocupação crescente com a importância de preservar o tempo que as crianças passam brincando ao ar livre. (GRAY et al., 2015). A brincadeira ao ar livre com os vizinhos é uma importante interação pela qual as crianças podem se envolver em diferentes tipos de movimento, explorando diversas superfícies, objetos e lugares (FLÔRES et al., 2019).

Dentre a gama de fatores ambientais e a relação com desenvolvimento motor da criança, a família desempenha papel crucial de mediação entre a criança e a sociedade, sendo um sistema aberto que se desenvolve na troca de relações com outros sistemas (PAPALIA; FELDMAN, 2013). No ambiente familiar, as condições estáveis de vida, tanto socioeconômicas quanto psicossociais, são os fundamentais para o crescimento e desenvolvimento da criança (GIORDANI; ALMEIDA; PACHECO, 2013). Além disso, a disponibilidade de estímulos como brinquedos, livros e jogos são indicadores para a qualidade global da casa (DA SILVA et al., 2017).

Verifica-se que o ambiente familiar está diretamente relacionado com a coordenação motora na infância e que a variedade de estimulação, disponibilidade de materiais de coordenação motora grossa e fina, nível socioeconômico, nível de atividade física dos pais e escolaridade materna, desempenham um importante papel para melhorarem os níveis de desenvolvimento motor de crianças (BIM; DE MOURA FERREIRA; PEREIRA, 2012; BARNETT et al., 2013; VALADI; GABBARD, 2018).

Entender a variabilidade de níveis coordenativos pode ir além dos preditores a nível individual (aspectos biológicos e comportamentais) (LUBANS et al., 2010; BARNETT et al., 2016a), o que tem exigido uma aplicação de modelos explicativos

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mais robustos com o envolvimento de fatores ambientais, onde o ambiente familiar tem sido considerado o contexto imediato e mais importante nos primeiros anos de vida da criança (SACCANI et al., 2013). Desse modo, nossa pesquisa, para além do nível individual, foi direcionada para caracterizar o ambiente familiar e compreender quais os aspectos desse contexto mostram maior e mais estreita relação com o desenvolvimento da coordenação motora.

Na avalição dos preditores a nível individual destacamos neste estudo: sexo, idade, estatura, peso, IMC e aptidão física. Quanto as características do ambiente familiar avaliamos: aspectos sociais (escolaridade dos pais, nível socioeconômico familiar), aspectos estruturais (tipo de residência, percepção do tamanho da casa, área ampla externa e brinquedos para se pendurar) e atividade física no contexto familiar (deslocamento casa-escola, brincadeiras com outras crianças dias de semana e finais de semana, brincar juntos filhos, e atividade física juntos pais-filhos.

Expostas as variáveis e características do ambiente familiar, bem como sua a importância, e sabendo que poucos estudos investigaram estes correlatos, podemos supor que a associação entre estes fatores tem repercussões sobre o nível de coordenação motora grossa da criança. Assim, busca-se com este estudo, verificar as interrelações entre variáveis a nível do indivíduo e do ambiente familiar e a coordenação motora grossa de crianças de seis a 10 anos.

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA

Qual a magnitude das associações entre os níveis de coordenação motora grossa de crianças e as variáveis a nível do indivíduo e do ambiente familiar?

1.3 OBJETIVO GERAL

Investigar a magnitude das associações entre os níveis de coordenação motora grossa de crianças e variáveis a nível do indivíduo e do ambiente familiar.

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1.3.1 Objetivos Específicos

1) Avaliar as características de peso, estatura e composição corporal de acordo com sexo, faixa etária e estado ponderal;

2) Quantificar os níveis da aptidão física e coordenação motora grossa; 3) Identificar perfil do ambiente familiar das crianças;

4) Correlacionar fatores do ambiente familiar que podem estar associados ao desempenho coordenativo.

1.4 HIPÓTESES ANALÍTICAS

1) Crianças com mais idade, meninos e crianças com peso corporal normal apresentam melhores resultados nos níveis de coordenação motora grossa;

2) Crianças com melhores níveis de aptidão física apresentam melhores níveis de coordenação motora grossa;

3) Crianças com ambiente familiar rico em oportunidades apresentam melhores níveis de coordenação motora grossa;

4) As características do ambiente familiar influenciam significativamente os níveis de coordenação motora grossa de crianças

1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

Este estudo está delimitado a crianças do 1º ao 5º ano, com idade entre seis e 10 anos matriculadas em escolas públicas urbanas e rurais do município de São José dos Pinhais-PR.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 COORDENAÇÃO MOTORA

A coordenação motora é a interação e seleção adequada dos músculos que influenciam a condução e orientação do movimento e a capacidade rápida de alternar tensão e relaxamento muscular, para produzir ações motoras precisas e equilibradas e reações rápidas às situações que exigem medidas adequadas de força, que determinam a amplitude e velocidade do movimento (KIPHARD; SCHILLING, 1974). Quanto maior o nível de complexidade de uma tarefa motora, maior o nível de coordenação exigido para um desempenho eficiente (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; TAVARES; CARDOSO, 2016).

Outra definição apresentada é a coordenação motora como um elemento central nas habilidades básicas, definidas como a produção de movimentos relacionados entre si, utilizando várias partes do corpo, para execução de uma tarefa com ordem, amplitude e velocidade (PELLEGRINI et al., 2005). As exigências das tarefas motoras determinam o nível de coordenação necessário para um desempenho habilidoso, onde a coordenação motora não tem a ver, necessariamente, com força e resistência, mas se relaciona a elementos de aptidão física, equilíbrio, velocidade e agilidade (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).

A complexidade de uma tarefa motora está no número de elementos e rede de relações que precisam ser coordenados e estabelecidas entre estes elementos, envolvendo o corpo como um todo, mas principalmente os grandes grupos musculares, como as tarefas de saltar, chutar, arremessar, por exemplo (PELLEGRINI et al., 2005).

O fisiologista Nikolai Bernstein, entre 1926 e 1935, apresenta os primeiros trabalhos sobre coordenação e controle motor, ele considerava a coordenação como uma ordenação e organização de várias ações motoras em função de uma tarefa motora, levando em conta o contexto de sua realização, bem como a sintonização das estruturas coordenativas. O matemático Wiener, em meados de 1940, conclui que para controlar uma ação em função de um objetivo, será necessária uma

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retroalimentação, que permitirá avaliar as ações e adaptações de um comportamento devido as experiências passadas; autores contemporâneos como Fitch (1982), Meinel e Schnabel (1987), Turvey (1982), fundamentam seus trabalhos nas ideias de Bernstein (GOMES, 1996).

Outros autores que tiveram grande expressão com seus trabalhos sobre a coordenação motora são Kiphard e Schilling que, em meados de 1976, operacionalizaram a coordenação motora em crianças do ponto de vista pedagógico e clínico, e voltaram seus estudos para avaliação da coordenação motora em geral, construindo e validando a bateria que hoje é reconhecida na área como Teste de Coordenação Corporal para Crianças - Körperkoordinationstest für Kinder (GOMES,

1996).

Outros autores como Pimentel e Oliveira, na década de 90, também direcionaram seus estudos para conceituarem a coordenação motora, definindo eles como a capacidade de dominar ações motora de forma segura e econômica em situações previsíveis e imprevisíveis, e ainda Gallahue e Ozmun, nos anos 2000, que conceituaram a coordenação motora como habilidade motora de integrar padrões eficientes de movimento, sistemas motores separados, com modalidades sensoriais variadas (MELO, 2008).

Uma nova definição para coordenação motora foi proposta por um grupo de especialistas norte-americanos, liderados pelo Doutor Juan Tores Guerrero, reunidos no ano 2000, que seguindo com as contribuições de estudiosos desde a década de 70 até os anos 90, como os já citados aqui: Kiphard (1976), Meinel e Schnabel (1988), incluindo Grosser, Hermann, Tusker, Zintl (1991) e Castañer e Camerino (1996), definiram:

"Coordenação motora é o conjunto de capacidades que organizam e regulam com precisão todos os processos parciais de um ato motor com base em um objetivo motor pré-estabelecido. Essa organização deve ser abordada como um ajuste entre todas as forças produzidas, interna e externamente, considerando todos os graus de liberdade do aparato motor e as mudanças existentes na situação" (CAMINERO, 2006).

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O grupo sugere que o ajustes no desempenho de qualquer ação motora irá revelar o movimento com maior ou menor eficiência e poderá dizer sobre ser mais ou menos coordenado (BENJUMEA et al., 2015).

No modelo teórico de Stodden et al. (2008), o uso do termo “competência motora” foi conceitualmente apresentado para caracterizar a proficiência nas habilidades motoras fundamentais. Entretanto, o termo denota uma ampla gama de domínios, tais como coordenação motora (VALDIVIA et al., 2018), termo que assumimos neste trabalho; proficiência motora (LOPES et al., 2018); desempenho coordenativo e/ou motor (CHAVES et al., 2013); aptidão coordenativa e/ou motora (SARAIVA; RODRIGUES, 2010). Não obstante as diferentes facetas do termo, seu uso parece ser sempre aplicado para descrever uma forma de ação ou tarefa direcionada a objetivos que envolvam coordenação e controle de movimento (ROBINSON et al., 2015; CATTUZZO et al., 2016). As divergências do termo existem pelas perspectivas diferentes de abordagem do termo e classificação de acordo com a área de investigação: biomecânica, fisiológica e pedagógica (BENJUMEA et al., 2015).

Sobre o desenvolvimento da coordenação motora, esse irá seguir uma velocidade individual, de maneira e em momento diferentes, e é muito importante verificar os períodos que acontecem os maiores aumentos, com a estimulação adequada. Do nascimento aos quatro anos o repertório motor cresce com as possibilidades de estímulos que são oferecidos às crianças, entre os 4 e 7 anos, com início da fase escolar, ocorre o aumento do desempenho coordenativo, os impulsos e curiosidades refletem novas habilidades motoras e no início da puberdade as capacidades coordenativas têm maior intensidade (LORENZO CAMINERO, 2009; BENJUMEA et al., 2015) .

O período de 6 a 10 anos de idade é um momento propício para o desenvolvimento das capacidades coordenativas, pois é a fase em que são registrados os maiores progressos relativos à motricidade das crianças, e os hábitos motores de base são aperfeiçoados e os mais complexos são formados (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013)

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Dificuldades na coordenação motora na infância podem ir além da adolescência, pois os processos são difíceis em alguns casos, e algumas vezes não podem ser recuperados, e irão resultar em consequências psicológicas e sociais, como baixa percepção de competência motora e baixa autoestima, que podem influenciar também na vida adulta, levando a menor motivação para prática de atividade física e esportiva. Sendo assim, quanto maior as diversidades nas experiências parentais na primeira infância e dos escolares na segunda infância, maior a segurança motora na vida adulta (LORENZO CAMINERO, 2009; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).

Níveis adequados de coordenação são considerados fator de desenvolvimento geral de crianças, aspecto determinante para participação em atividades físicas, sobretudo posteriores padrões complexos de movimento e estilo de vida ativo (STODDEN et al., 2008; LUBANS et al., 2010). Esta possível “progressão motora” permite a criança usufruir do sucesso em seu desempenho motor, e mais ainda sua melhora na aptidão física, devido ao aumento da intensidade da prática de atividades físicas (SARAIVA; LOPES, 2019).

O aprimoramento da coordenação motora é imprescindível e tal relevância do tema se conecta à necessidade de aprofundamento de estudos e investigações que visem a melhoria da condução dos processos do comportamento motor e sua importância ao longo da vida (COLLET et al., 2008). Visto que, havendo o crescimento do indivíduo, há necessidade de acompanhar seu desenvolvimento (DEUS et al., 2008), diversos estudos demonstram preocupação com o desenvolvimento da coordenação motora e as implicações para saúde das crianças e dos adolescentes (LUZ et al., 2015).

Posto o papel fundamental da coordenação motora na aquisição de habilidades e aprendizagens na infância, o interesse pela avalição da coordenação motora foi aumentando ao longo dos anos e, consequentemente, o interesse nas publicações e pesquisas (MELO, 2008).

A escolha de uma bateria ou teste irá depender do contexto da aplicação e planejamento pois vários são os instrumentos para avaliação da coordenação motora (COOLS et al., 2009).

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Em uma revisão bibliográfica, Pérez (2013) trata de detalhes sobre testes de campo e as principais baterias de testes motores para avaliação da condição física de crianças e adolescentes com propósito de facilitar a aplicação e permitir encontrar o nível de competência do avaliado.

Cools et al. (2009) apresentam uma revisão de sete ferramentas de avaliação do desenvolvimento de aspectos motores, das quais destaca-se algumas baterias: o The Motoriktest für Vier-bis Sechsjährige Kinder (MOT 4-6) de origem alemã, desenvolvido para contribuir para a avaliação do desenvolvimento das habilidades fundamentais do movimento, as quais os autores acreditam que as crianças dos quatro aos 6 anos têm necessidades específicas e exigem uma abordagem pedagógica diferente. Este teste apresenta 18 itens diferentes, incluindo locomoção, estabilidade, controle de objetos e coordenação motora fina; o Test of Gross Motor Development, Second Edition (TGMD-2) mede o desempenho das habilidades motoras com base em aspectos qualitativos do movimento, pode ser usado para identificar crianças que estão significativamente atrás em relação a seus pares, planejar programas para melhorar as habilidades, a faixa etária destinada é três a 10 anos, os testes avaliam locomoção e controle de objetos com seis itens cada e requerem equipamentos comumente utilizados nas aulas de educação física. Uma grande vantagem do TGDM-2, além da avaliação de desempenho, é a incorporação de aspectos qualitativos na avaliação, uma desvantagem é a diferença cultural, por exemplo, do arremesso com bola de beisebol para controle de objetos, esporte não convencional em alguns países; o Bruininks_Oseretsky Test of Motor Proficiency (BOTMP) utilizado para avaliar o desenvolvimento de coordenação motora fina e grossa, utilizado para identificar indivíduos com leve a moderado déficits de coordenação motora, é adequado para indivíduos de quatro a 21 anos, composto por 53 itens dividido em oito subtestes; o Körperkoordinationtest für Kinder (KTK), bateria de teste apropriada para crianças com um padrão típico de desenvolvimento, avalia a coordenação motora grossa, principalmente habilidades de equilíbrio dinâmico, abrange uma faixa etária de cinco a 14 anos, leva aproximadamente 20 minutos.

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O KTK abrange componentes da coordenação motora grossa, compreendendo o equilíbrio, o ritmo, a força, a lateralidade, a velocidade e a agilidade. É constituída por quatro testes: equilíbrio à retaguarda, ou trave de equilíbrio, que verifica a estabilidade em marcha para trás; saltos monopedais, que avalia a coordenação dos membros inferiores; saltos laterais, testa a agilidade e velocidade em saltos alternados; e transposição lateral, que fornece a estruturação espaço-temporal da criança.

Devido a sua simplicidade e baixo custo operacional, o KTK tem sido utilizado em diversos estudos nacionais e internacionais (RIBEIRO et al., 2012). O teste leva cerca de 10 a 15 minutos para ser administrado a cada criança ou adolescente entre cinco e 14 anos de idade. A bateria de testes KTK é confiável e válida e frequentemente usada para avaliar a coordenação motora de crianças saudáveis (LUZ et al., 2015).

Observamos que existem fortes evidências que indicam que fatores do ambiente familiar estão associados positivamente a coordenação motora na infância, assim ao avaliar e pesquisar o desenvolvimento da criança devem ser considerados os diferentes contextos e cultura para descrever os fatores a níveis do indivíduo e familiar, mas também deve-se levar e consideração o ambiente e suas interrelações, e então fornecer informações para auxiliar no desenvolvimento de resultados satisfatórios na execução de tarefas diárias e, amplamente falando, na saúde da criança.

2.2 ABORDAGEM ECOLÓGICA DE URIE BRONFENBRENNER

Urie Bronfenbrenner tinha suas inquietações relacionadas a abordagens do estudo do desenvolvimento humano, onde o foco distanciava-se de análises individuais, ou seja, somente a criança, ou a família, ou a sociedade (BENETTI et al., 2013). De acordo com o psicólogo, o desenvolvimento humano poderia ser definido como o conjunto de processos por meio dos quais as particularidades da pessoa e do ambiente interagem para produzir constância e mudança nas características da pessoa no curso de sua vida, isto é, o resultado da interação entre

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o indivíduo e o contexto de múltiplos ambientes em que vive (BRONFENBRENNER; CECI, 1994) .

Bronfenbrenner defendeu que os indivíduos não se desenvolvem isoladamente, mas dentro de um sistema de relacionamentos como a família, a escola, a comunidade e a sociedade (SPESSATO et al., 2009). Sua teoria foi constantemente revisada e reformulada. Primeiro, delineou o modelo ecológico, destacando o ambiente como “ingrediente” fundamental para a compreensão de como o indivíduo desenvolve-se, sendo esse ambiente o que orienta o comportamento, nessa perspectiva, a evolução teórica enfatiza mais o indivíduo e suas interações, considerando a dimensão do tempo e espaço nos relacionamentos entre indivíduo-indivíduo e indivíduo-indivíduo-ambiente gerando novas denominações: “Modelo Bioecológico de Desenvolvimento Humano” e, atualmente, “Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano” (BENETTI et al., 2013).

Dentro desta Teoria de sistemas ecológicos existem os contextos ambientais, onde as pessoas “trocam” umas com as outras por meio do que fazem ou como vivem (BENETTI et al., 2013). Esses ambientes apresentam-se graficamente como uma série de sistemas aninhados em torno de um indivíduo focal, variam de configurações proximais e menores, nas quais o indíviduo interage, com distais e maiores que influenciam indiretamente o desenvolvimento (BRONFENBRENNER; CECI, 1994; BENETTI et al., 2013). Os cinco tipos inter-relacionados de sistemas ambientais no clássico de Bronfenbrenner são: os (1) micro-, (2) meso-, (3) exo-, e (4) macro e (5) cronosssitema (Figura 1).

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Figura 1 - Conceitualização da Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano

Fonte: Adaptado de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p.39).

Microssistema é definido como o ambiente onde a pessoa em desenvolvimento estabelece relações diretas estáveis e significativas (BRONFENBRENNER, 1979). Está relacionado ao ambiente mais imediato da criança, como por exemplo, casa, família, escola, bairro, grupo de amigos (SPESSATO et al., 2009; KREBS; CARNIEL; MACHADO, 2011)

Já o mesossistema, refere-se às interrelações entre os dois ou mais ambientes, nos quais a pessoa em desenvolvimento participa ativamente. São os microssistemas em interação, por exemplo, para uma criança, as relações entre grupo familiar, escolar e de bairro e, para um adulto, família, trabalho e vida social (BRONFENBRENNER, 1979).

O exossistema refere-se a ambientes que não envolvem a pessoa em desenvolvimento como um participante ativo, mas que é afetado por suas decisões

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ou ambientes sociais (BRONFENBRENNER, 1979). Ao tratar do macrossistema, Bronfenbrenner se refere aos sistemas de valores e crenças que permeiam as diversas culturas, é o contexto mais abrangente composto pelos padrões e valores culturais da criança, crenças e ideias bem como pelos sistemas político e econômico (SPESSATO et al., 2009; KREBS; CARNIEL; MACHADO, 2011).

O cronossistema, uma dimensão incorporada aos demais, é a estrutura que adiciona dimensões de tempo aos outros sistemas. Essa perspectiva enfatiza fatores contextuais do macrossistema, ao longo da vida do indivíduo, tais como mudanças sociopolíticas, eventos histórico-sociais, crises econômicas, divórcio e outros (BENETTI et al., 2013) .

Ao estudar os diferentes sistemas que influenciam simultaneamente uma criança, a Teoria Bioecológica de Bronfenbrenner é capaz de demonstrar a diversidade de influências inter-relacionadas no desenvolvimento da criança (MARTINS; SZYMANSKI, 2004). De acordo com Ré (2011), para compreender as aquisições motoras é essencial reconhecer a interação entre fatores biológicos e ambientais presentes na vida de uma criança.

As contribuições de Urie Bronfenbrenner estão pautadas no fato de que seus pressupostos conseguiram reformular o estudo do desenvolvimento, a criança é vista em uma interação dinâmica com diversos contextos nos quais estão inseridas, que podem afetar diretamente seu bem estar biopsicossocial (BENETTI et al., 2013).

Relatos recentes reconhecem a importância do desenvolvimento do indivíduo além da hereditariedade. Estas concepções têm por base ideias de coordenação e controle do movimento, onde através da auto-organização novas formas de comportamento são trazidas ao desenvolvimento sobre a ação do tempo real, chamada de Teoria dos Sistemas Dinâmicos, onde o processo de desenvolvimento é visto como não-estacionário e dinâmico, sendo afetados por diferentes subsistemas (GONÇALVES; GONÇALVES; JÚNIOR, 1995).

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2.2.1 Teoria Bioecológica no entendimento da coordenação motora grossa

O desenvolvimento da coordenação motora depende da interação criança-ambiente, onde as características do sujeito e do ambiente (como tipo de moradia, escola) podem ter muitas influências e possibilidades de estimulação motora para a criança (BIM; DE MOURA FERREIRA; PEREIRA, 2012). Crianças e adolescentes podem manifestar insuficiência de coordenação dependendo da qualidade e quantidade de experiências motoras vivenciadas, o que poderá levar a alterações dos movimentos e diminuição do rendimento motor (LOPES et al., 2003). As interações dos aspectos individuais e ambientais irão influenciar o comportamento motor fazendo com que as crianças se desenvolvam em ritmos e intensidades diferentes (KREBS; CARNIEL; MACHADO, 2011).

Algumas pesquisas preocupam-se em explicar a presença da forte variabilidade interindividual nas mais variadas características relacionadas à coordenação motora (MAIA; LOPES, 2007; CHAVES et al., 2012). Os resultados dos estudos, já sistematizados, incluem análises sobre a influência de preditores a nível individual, isto é, aspectos biológicos e comportamentais (LUBANS et al., 2010; BARNETT et al., 2016a) e sua associação com a coordenação motora. Entretanto, entender essa variabilidade exige estudos com abordagem ecológica que envolvam, também, fatores ambientais (FLÔRES et al., 2019). Em estudo de delineamento gemelar Chaves et al. (2012) observaram a influência genética de baixa magnitude na variabilidade interindividual do desempenho na coordenação motora, de modo que os efeitos ambientais, partilhados e do ambiente único, assumem a maior parcela na explicação das diferenças interindividuais do desempenho nos testes coordenativos.

Na perspectiva da Teoria Bioecológica, as relações criança-ambiente são determinantes no desenvolvimento de aspectos motores tornando-se evidente a influência do contexto imediato onde a família, como microssistema, oferece estímulos e cuidados necessários para esta promoção (NOBRE et al., 2009) e, caso contrário, a carência de estímulos ambientais pode prejudicar a construção da competência motora (NOBRE et al., 2012) . Segundo Bhering e Sarkis (2009) na

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teoria bioecológica há dois aspectos do ambiente que afetam o desenvolvimento os quais podem ser para lado positivo, sendo aqueles que convidam para manipulação e exploração, ou para o lado negativo, como a falta de estrutura e imprevisibilidade. Nesse contexto, a família leva a criança a importantes experimentações no ambiente e disponibiliza interações que promovam situações que contribuam para sua formação (BHERING; SARKIS, 2009). Um ambiente inadequado contribui contrariamente para interação entre indíviduo, ambiente e tarefa influenciando negativamente a coordenação motora infantil (SPESSATO et al., 2009; KREBS; CARNIEL; MACHADO, 2011).

Barnett et al (2013) afirmam que estudos que utilizam estruturas de sistemas ecológicos são importantes para a compreensão de quais fatores estão associados ao desenvolvimento da coordenação motora. Ainda, em estudo recente sobre as relações entre diferentes ambientes e aspectos motores de crianças, Flores et al. (2019) adotaram a Teoria Bioecológica de Bronfenbrenner para enfocar os diferentes tipos de microssistemas a fim de analisar dentro destes as oportunidades de desenvolvimento. Segundo os autores essa abordagem é favorável para compreender essas relações.

A começar na infância e durante toda vida adulta, os movimentos aprendidos, refinados e alterados são influenciados por três diferentes fatores que, sugeridos no modelo de restrições de Karl Newell em 1984, são produto da interação entre as características do indivíduo, do ambiente (no qual os movimentos ocorrem) e da tarefa a ser executada (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).

Os indivíduos diferem em aspectos individuais e nos contextos de suas vidas, algumas características individuais como a hereditariedade são inatas e herdadas dos pais biológicos como a capacidade de andar e falar e são previsíveis de acordo com a idade podendo variar no ritmo (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Outras características sofrem influência de fatores externos (ambiente), especialmente em contextos importantes como a família, escola, vizinhança, cultura, estimulação de outras pessoas, convivência com amigos, as experiências vividas e privações (PAPALIA; FELDMAN, 2013).

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2.3 VARIÁVEIS INDIVIDUAIS QUE INFLUENCIAM OS NÍVEIS DE COORDENAÇÃO MOTORA GROSSA

Alguns estudos preocuparam-se em compreender quais as características, preditores, a nível individual podem determinar os níveis coordenativos (STODDEN et al., 2008; CHAVES et al., 2015). Dentre os aspectos estudados, evidências têm mostrado associação entre coordenação motora na infância e idade, e sexo (BARNETT et al., 2016a), índice de massa corporal (MARTINS et al., 2010; LOPES et al., 2012b), níveis de aptidão física (CATTUZZO et al., 2016) e prática de atividades físicas (LUBANS et al., 2010; LOGAN et al., 2015; SILVA-SANTOS et al., 2019).

Achados indicam aumento dos níveis coordenativos em crianças mais velhas, com mais idade (CHAVES et al., 2015; BARNETT et al., 2016a; HENRIQUE et al., 2019). Valdívia et al. (2008) pesquisaram a influência de aspectos individuais nos níveis de coordenação motora em crianças de seis aos 11 anos e sugerem que a variável com maior efeito nos resultados da coordenação motora foi a idade. Outras investigações apontam diferenças entre sexos e níveis coordenativos, evidenciando meninos com níveis médios superiores comparativamente as meninas (LOPES et al., 2003; DEUS et al., 2008; REYES et al., 2019). Um dos correlatos mais encontrados entre fatores biológicos e competência motora, em metanálise realizada por Barnett et al. (2016a), foi o sexo, sendo os meninos mais habilidosos do que as meninas na coordenação motora. Já em estudo de modelação da coordenação motora Reyes et al. (2019) apontaram resultados em que os meninos alcançaram e superaram as meninas nos níveis de coordenação motora, porém, ao controlar demais variáveis, os resultados deixaram de ser estatisticamente significativos e meninos e meninas indicaram trajetórias paralelas favorecendo as meninas.

Quanto ao peso e índice de massa corporal estudos têm demonstrado que crianças com peso normal obtêm pontuação significativamente melhor do que seus pares obesos em testes de coordenação motora grossa (LOPES et al., 2012b; ANTUNES et al., 2015) e tem sido encontrada uma relação inversa entre níveis coordenativos e excesso de peso (CHAVES et al., 2015; CATTUZZO et al., 2016;

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ANTUNES et al., 2018). Martins et al. (2010) em estudo longitudinal com 285 crianças das Ilhas de Açores, apontam que, nas trajetórias, os níveis de coordenação motora grossa foram negativamente associados ao IMC.

De Souza et al. (2014) destacam em seu estudo a necessidade de considerar a aptidão física no desenvolvimento da coordenação motora grossa e promoção da saúde durante os anos do ensino fundamental. Evidências indicam que a coordenação motora está positivamente associada a aspectos da aptidão física e, durante a infância, serão significantes na construção de um repertório motor rico e diversificado que irá influenciar aspectos relativos à saude da criança (CATTUZZO et al., 2016). Crianças mais aptas tem apresentado melhores resultados nos testes coordenativos, apontando associações positivas entre aptidão física e testes coordenativos (ANTUNES et al., 2015; CHAVES et al., 2015; DOS SANTOS et al., 2018),

Em uma revisão sistemática (BARNETT et al., 2016a) com objetivo de identificar os possíveis correlatos da competência motora em crianças e adolescentes com desenvolvimento típico, identificaram que a atividade física é um correlato positivo da coordenação motora corroborando estudos de (LUBANS et al., 2010; VANDORPE et al., 2012; D'HONDT et al., 2013). O modelo sugerido por Stodden et al. (2008) sugerem que as crianças que praticam mais atividade física desenvolvem melhor competência e aptidão motora e que essa espiral positiva de engajamento acaba impactando no status do peso e saúde da criança.

Na associação entre a atividade física e coordenação motora outros fatores contextuais devem ser observados, como a participação em brincadeiras ou esportes, a disponibilidade de equipamentos em casa, o nível de atividade física dos pais, ou a interação familiar nas práticas ativas, essas influências podem impactar positivamente na coordenação motora da criança e para isto o contexto familiar deve ser observado (COOLS et al., 2011; BARNETT et al., 2013).

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2.4 FATORES AMBIENTAIS FAMILIARES E SUAS INFLUÊNCIAS NOS NÍVEIS COORDENATIVOS: IMPORTÂNCIA DO CONTEXTO FAMILIAR

Além de fatores individuais já citados, a inter-relação com fatores ambientais tem evidenciado mudanças na coordenação motora grossa, no entanto, pouco se sabe sobre até que ponto essa variação do coordenação motora grossa pode ser explicada (CHAVES et al., 2015). O ambiente onde a criança vive é fundamental para o desenvolvimento motor, cognitivo e psicossocial, pois a inter-relação das características do indivíduo com os ambientes e com o desempenho das tarefas são resultado de uma interação constante (FLÔRES et al., 2019). Assim, ambientes ricos em estímulos podem garantir que a criança tenha desenvolvimento satisfatório do seu repertório motor (CARMINATO, 2010).

O ambiente familiar é responsável pelas primeiras relações interpessoais da criança, suas características determinarão o contexto em que a criança estará inserida. Esse microssistema contribui para melhor desenvolvimento e exploração do meio, sendo, esse, adequado para suas necessidades de movimento (KREBS; CARNIEL; MACHADO, 2011). A família, como principal fornecedora de cuidados e estímulos ao crescimento e desenvolvimento da criança, pode ter dois segmentos: a família nuclear, sendo esta unidade doméstica que compreende laços de parentesco envolvendo pai e mãe ou apenas um destes e seus filhos, e família extensa, que representa a rede de parentesco que envolve as muitas gerações que formaram o pai e a mãe, às vezes morando no mesmo lar (PAPALIA; FELDMAN, 2013; HUA et al., 2016). Atualmente, verificam-se diferenças na constituição da família, como aquelas com diferentes contextos onde, por exemplo, as mães solteiras ou divorciadas, fazem escolhas que têm modificado a vida familiar (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Para Venetsanou e Kambas (2010), a composição do ambiente familiar em que uma criança é criada desempenha papel importante e influencia o desenvolvimento motor.

Para entender a criança na família é necessário estar consciente dos fatores externos que afetam o ambiente familiar. Desse modo, o ambiente familiar deve ser estudado compreendendo os fatos que ocorrem dentro e ao seu redor, incluindo os

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contextos de estrutura e composição familiar, trabalho dos pais, nível socioeconômico da família, do bairro, do país, o ambiente construído ao redor da casa, a religião, etnia, cultura local e nacional, influenciando o crescimento e desenvolvimento da criança (PAPALIA; FELDMAN, 2013).

Estudos que analisam a relação de aspectos motores com ambiente familiar revelam associação com diferentes fatores, nomeadamente, nível socioeconômico familiar (CHOWDHURY; WROTNIAK; GHOSH, 2010; ROSCOE et al., 2016; FERREIRA et al., 2018), disponibilidade de materiais e/ou espaço adequado para prática de atividades físicas (ROSENBLUM et al., 2000; GABBARD; CAÇOLA; RODRIGUES, 2008), número de irmãos (VENETSANOU; KAMBAS, 2010; MORI et al., 2013), escolaridade dos pais (COOLS et al., 2011; DEFILIPO et al., 2012) e área da residência (LUZ et al., 2018b).

O nível socioeconômico é um dos fatores do ambiente familiar que demonstram importante influência no desenvolvimento da coordenação motora na infância pois permite fazer análises de classes de indivíduos semelhantes e tem mostrado forte correlação com níveis de coordenação motora grossa, estando diretamente relacionada com o tipo de moradia, qualidade da alimentação, escolaridade dos indivíduos que dividem o mesmo ambiente familiar, oportunidade de conhecer outros lugares, oferta de brinquedos e jogos e a possibilidade de manter-se regularmente em uma atividade física (VENETSANOU; KAMBAS, 2010; DEFILIPO et al., 2012).

Um crescente aumento do entendimento de que o ambiente familiar pode ter influência significativamente positiva no desenvolvimento motor das crianças pequenas, parece estar relacionado a um ambiente doméstico favorável que fornece materiais, espaço e estímulo a todos os membros da família (VALADI; GABBARD, 2018). Segundo Da Silva et al. (2017) o ambiente domiciliar está diretamente relacionado com a coordenação motora na infância e a variedade de estimulação para as meninas e a disponibilidade de materiais de coordenação motora grossa e fina para meninos, melhoram o desenvolvimento de aspectos motores. A partir disso, pode-se concluir que o tipo de residência, o ambiente externo, os espaços físicos, quando bem estruturados promovem estímulos muito importantes para o desenvolvimento infantil.

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Famílias com três ou mais filhos, crianças com irmãos mais velhos, dispõem de ambientes domésticos que promovem melhores níveis coordenativos (KROMBHOLZ, 1997; MORI et al., 2013), essas relações podem ser significantes para criança que parece se beneficiar dos irmãos como modelos na execução de tarefas motoras.

Estudos evidenciam associação positiva entre alto nível de escolaridade dos pais com melhores resultados de coordenação e habilidades motoras (GIAGAZOGLOU et al., 2007; COOLS et al., 2011; FLÔRES et al., 2019), apontando que este fator melhora a qualidade e organização do ambiente familiar e a disponibilidade de materiais apropriados para a criança (DEFILIPO et al., 2012).

A área da residência tem sido outro fator preditor do desempenho motor quando investigada como variável significativa em estudos ecológicos, apontando melhores desempenho em níveis coordenativos em crianças moradoras de áreas rurais (GIAGAZOGLOU et al., 2007; ANTUNES et al., 2018). O local de moradia deve ser potencialmente rico para o desenvolvimento motor das crianças, através de brincadeiras ao ar livre, diferentes tipos de movimentos, diferentes superfícies, objetos e lugares (FLÔRES et al., 2019).

Cuidados que a família tem com a criança, tempo que os pais ficam em casa com seus filhos, o bem-estar e bom relacionamento dos pais e parentalidade, as famílias com diferentes estruturas nucleares, o divórcio, são outros fatores importantes a se observar sobre a criança na família e os níveis coordenativos (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Fatores ambientais, como o ambiente físico e o ambiente construído, devem ser considerados ao examinar a variabilidade interindividual na competência motora e na atividade física (LUZ et al., 2018b).

A experiência vivida (indivíduo) e as influências ambientais precisam interagir reciprocamente para promover trajetórias positivas de desenvolvimento da coordenação motora na infância e adolescência (STODDEN et al., 2008; BARNETT et al., 2016a). Pesquisas recentes indicam que o desenvolvimento motor adequado ocorre em ambientes estimulantes (COOLS et al., 2011; BARNETT et al., 2013; MORI et al., 2013).

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2.4.1 Instrumentos de Avaliação do Ambiente Familiar

Autores que investigam o ambiente familiar no Brasil encontram um desafio devido à falta de instrumentos adequados para avaliar os recursos do ambiente familiar (DIAS et al., 2017). Na infância os principais vínculos, cuidados e estímulos indispensáveis ao crescimento e desenvolvimento da criança são fornecidos pela família, que no Brasil sofre certa desigualdade onde as crianças não desfrutam das mesmas condições (ANDRADE et al., 2005). Abaixo são ilustrados os principais instrumentos validados utilizados para avaliar o ambiente familiar encontrados na literatura.

Quadro 1 - Instrumentos de Avaliação do Ambiente Familiar

Instrumento / autores / ano Idade (filhos/crianças) Descrição do Instrumento

RAF - Inventário de Recursos do Ambiente Familiar. (MARTURANO, 2006). Ensino Fundamental

Entrevista semi-estruturada. Baseado na concepção ecológica do desenvolvimento, o RAF avalia recursos do ambiente familiar que podem contribuir para o aprendizado acadêmico nos anos do ensino fundamental. Em três domínios: recursos que promovem processos proximais; atividades que sinalizam estabilidade na vida familiar; práticas parentais que promovem a ligação família-escola. HOME: Home Observation for Measurement of the Environment Inventory. (BRADLEY & CALDWELL, 1977, 1984, 1988, 2015) É dividido em quatro partes com base na idade da criança: (1) > 3 anos; (2) entre 3-5 anos; (3) entre 6-9 anos; (4) 10 anos ou mais.

Entrevista. Destina-se a medir a qualidade e a quantidade de estimulação e apoio disponíveis para uma criança no ambiente doméstico. A versão curta tem cerca de metade do tempo original, uma adaptação necessária devido ao tempo de pesquisa e às restrições de custo. Além do escore geral do HOME-SF, o arquivo inclui dois sub escores: um estímulo cognitivo e um escore de suporte emocional.

AHEMD – Affordances

in the Home

Environment for Motor Development (GABBARD, CAÇOLA, RODRIGUES, 2008, 2015) Versão 3 a 18 meses e versão 18 a 42 meses

Questionário semiestruturado. Com objetivo de proporcionar aos investigadores, educadores, e pais, uma ferramenta confiável de avaliação da qualidade e quantidade das oportunidades de estimulação motora infantil presente na casa familiar.

Fontes: (BRADLEY; CALDWELL, 1977; BRADLEY et al., 1988; MARTURANO, 2006; GABBARD; CAÇOLA; RODRIGUES, 2008; BRADLEY, 2015; CAÇOLA et al., 2015)

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Observações diretas realizadas através de questionários tem sido amplamente encontrado em pesquisas. O questionário previamente constituído por perguntas ordenadas é um instrumento de coleta de dados, que pode ser respondido por escrito, e atualmente por meios eletrônicos, sem a presença do entrevistador; em média o pesquisador alcança 25% de devolução dos questionários enviados, suas vantagens podem ser a economia de tempo e obtenção de grande número de dados, atingir maior número de pessoas simultaneamente, e ampla área de geográfica, dentre as desvantagens a percentagem pequena de retornos, perguntas sem respostas, dificuldade de compreensão das questões, não pode ser aplicado a pessoas analfabetas, não pode ser escolhido a pessoa que responde ao questionário (LAKATOS; MARCONI, 2017).

Dentre os instrumentos apresentados percebe-se que o levantamento de oportunidades oferecidas à criança, através do ambiente familiar, é relevante para associação com os aspectos motores. De certa forma, é possível hipotetizar que o ambiente familiar resulte em futuras diferenças no desempenho da coordenação motora de crianças.

Referências

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